A
virgem finalmente intacta!
Ao estudar a Constituição Dogmática Lumen
Gentiun sobre a
Igreja, do Concílio Vaticano II, o teólogo luterano Peter Meinhold comentou
que, por ser formada de elementos humanos, “a Igreja precisa deconstante renovação e de penitência”. E, em
excelente entrevista concedida a Ultimato (julho/agosto de 2005), o historiador
Alderi Souza de Matos explica que há duas conhecidas versões que expressam essa
necessidade de renovação. Uma é Ecclesia reformata et semper reformanda est (a Igreja reformada está sempre se
reformando). A outra é Ecclesia reformata sed semper reformanda (a Igreja é reformada, mas está sempre
se reformando ou carecendo de reforma).
O bispo metodista John Fletcher (1729-1785), ordenado ministro na Inglaterra
aos 28 anos, há 250 anos (1757), afirmou que sua esposa era bem melhor para ele
do que a Noiva de Cristo (a Igreja) tem sido para o Noivo (Os Irmãos Wesley. p. 42).
Embora chocante, essa constatação confirma o desejo histórico de renovação,
reforma ou reavivamento da Igreja e pode levar o rebanho cristão e seus
pastores a abraçar repetidas vezes e cada vez com maior intensidade e coragem o
sonho de Paulo: “Tenho ciúmes de vós, ciúmes de Deus, pois vos prometi a um
único marido, para apresentar-vos a Cristo como virgem intacta” (2 Co 11.2,
BP).
Todavia, não podemos esconder o sol com a peneira. Sabemos pelas Epístolas aos
Coríntios, pela história eclesiástica e pela nossa vivência, que o sonho da
virgem intacta ainda não se concretizou.*
As bodas do Cordeiro vão acontecer na consumação dos séculos, imediatamente
após a volta gloriosa do Senhor e a ressurreição dos mortos e a súbita
transformação dos vivos (1 Co 15.51-53). A essa altura, graças ao novo corpo
(revestido de honra, poder e glória), a Noiva estará resplandecente,
esplêndida, toda bela, toda gloriosa, sem mancha ou qualquer outro defeito ou
deformação, santa, imaculada, perfeita e irrepreensível (Ef 5.25-27). Foi esta
noiva bonita e enfeitada, vestida de “linho fino, brilhante e puro”, que João
viu na visão de Apocalipse, no momento das bodas do Cordeiro (Ap 19.7-8).
Em benefício do nosso ânimo, é necessário lembrar que a salvação é um processo
já iniciado, mas não finalizado. Graças ao Noivo, já fomos salvos da culpa do pecado (salvação no passado) e
estamos sendo salvos do poder do pecado (salvação no presente).
Ainda falta sermos salvos da presença do pecado, dentro e ao redor de nós
(salvação no futuro). Aquele que começou a boa obra em nós, “vai completá-la
até o dia de Cristo Jesus” (Fp 1.6). Aquele que nos predestinou, nos chamou e
nos justificou, também vai nos glorificar (Rm 8.30). Quando o Noivo voltar, ele
“tomará estes nossos corpos mortais e os mudará em corpos gloriosos semelhantes
ao dele mesmo” (Fp 3.21, BV). Embora já façamos parte do Corpo de
Cristo, não sabemos por experiência o que vai acontecer “porém sabemos isto:
quando Cristo aparecer, ficaremos parecidos com ele” (1 Jo 3.2, NTLH). Glória a
Deus!
O
sonho da virgem intacta
"A
santidade progressiva da igreja deve ser ciosamente mantida no testemunho de
cada crente"
Basta ler cuidadosamente o que Paulo e Timóteo escreveram no ano 56 depois de
Cristo “à igreja de Deus que está na cidade de Corinto e também a todo o povo
de Deus espalhado por toda a província da Acaia”: “O mesmo zelo que Deus tem
por vocês eu também tenho. Porque vocês são como uma virgem pura que eu prometi
dar em casamento somente a um homem, que é Cristo” (2 Co 11.2, NTLH).
Paulo é um pastor que não se contenta de forma alguma com o status quo da igreja diferente do padrão original. A igreja
precisa ser como uma virgem intacta (na versão da Bíblia do Peregrino). O apóstolo
abraça entusiasticamente esse tipo de zelo espiritual que vem de Deus e assume
a responsabilidade de trabalhar com a Noiva (a Igreja) de tal forma a
apresentá-la ao Noivo (o Senhor Jesus) como uma virgem intacta!
Esse deve ser o compromisso de todo ministro cristão, chame-se padre ou pastor,
seja bispo ou arcebispo. Porque o Noivo é como um “cordeiro sem defeito e sem
mácula” (1 Pe 1.19), a Noiva também precisa ser gloriosa, sem mancha nem ruga
ou coisa semelhante, mas santa e inculpável” (Ef. 5.27).
E o próprio Noivo deseja uma virgem intacta e trabalha para alcançar esse
objetivo: “Cristo amou a igreja [a programada e esperada virgem intacta] e
entregou-se por ela para santificá-la, tendo-a purificado pelo lavar da água
mediante a palavra, e para apresentá-la a si mesmo como igreja gloriosa, sem
mancha nem ruga ou coisa semelhante, mas santa e inculpável” (Ef
5.25-27).
Em outras versões, lê-se que Cristo sacrificou-se pela igreja para limpá-la,
para colocá-la à parte, para torná-la igreja resplandescente, esplêndida, toda
bela, toda gloriosa, sem mancha ou qualquer outro defeito, outra deformação,
mas santa e imaculada, santa e perfeita, santa e irrepreensível. Esse é o
tremendo sonho da virgem intacta!
Em uma reunião realizada no Rio de Janeiro há 140 anos (julho de 1867), Ashbel
G. Simonton, o primeiro missionário presbiteriano a vir para o Brasil,
apresentou um projeto de cinco pontos em benefício da implantação do reino de
Deus no país. Ele fez questão de colocar em primeiro lugar o seguinte item: “A
santidade da igreja deve ser ciosamente mantida no testemunho de cada crente”.
Naturalmente, o que estava na cabeça e no coração de Simonton, que morreu de
febre amarela cinco meses depois, aos 34 anos, era o sonho da virgem intacta.
Naquela época, os protestantes eram uma minoria insignificante no país e quase
todos eram estrangeiros residindo temporariamente aqui ou imigrantes
procedentes da Alemanha.
Fala-se em sonho e não em realidade. Não se pode chamar de virgem intacta a
igreja militante, a igreja histórica, a igreja em sua contingência, a igreja
formada e pastoreada por pecadores mesmo arrancados das trevas e transportados
para a maravilhosa luz (1 Pe 2.9). Por enquanto somos santos só na promessa, na
intenção, no nome, no papel, porque fomos lavados, santificados e justificados
no nome do Senhor (1 Co 6.11). Por essa razão somos chamados de santos, embora
na prática ainda não o sejamos (At 9.13, 26.10). Ao mesmo tempo que Paulo chama
de santos os leitores de suas cartas, ele os convoca para serem santos (2 Co
1.1; Fp 1.1; Cl 1.2; Rm 1.7; 1 Co 1.2). Mas ninguém deve abrir mão do sonho da
virgem intacta. O alvo deve ser levado a sério e perseguido dia após dia.
Então, o sonho deixará de ser sonho para ser uma realidade. O processo
salvífico inclui a concretização absoluta desse sonho!
(Nos textos seguintes o leitor ficará por dentro da realidade histórica da
igreja militante e da transformação do sonho em realidade.)
A
história de Maria na simplicidade do Novo Testamento e na perspectiva
protestante
Da surpresa da
concepção à surpresa da ressurreição
De fato uma jovem da Galiléia, de família modesta, chamada Maria, prometida a
um carpinteiro descendente de Davi e Bate-Seba chamado José, foi a única mulher
do mundo e da história a engravidar sem o concurso de homem algum. Ela
participou da história da redenção de modo absolutamente original. Em seu
ventre, por obra do Espírito Santo, o Verbo se fez carne. A criança que nasceu
nove meses depois dessa concepção sobrenatural recebeu o nome de Emanuel, que
quer dizer Deus Conosco (Mt 1.23). É por isso que a oração da V Conferência do
Episcopado Latino-Americano e Caribenho lembra que Jesus é tanto o rosto humano
de Deus como o rosto divino do homem, repetindo o que John Stott diz em Cristianismo Básico:
“Jesus não é Deus disfarçado de homem nem homem disfarçado de Deus”. O que aconteceu
com Maria em Nazaré tornou Jesus ao mesmo tempo Filho de Deus e Filho do homem
e uniu magistralmente a perfeita divindade e a perfeita humanidade de
Jesus.
Maria abrigou Jesus em seu útero e o alimentou desde quando a substância ainda
era informe até adquirir o corpinho de uma criança. Ela o expulsou de lá quando
a sobrevivência do menino exigia outro espaço e outros cuidados. Por
circunstâncias especiais, o parto aconteceu numa modesta manjedoura em Belém da
Judéia, há mais de dois milênios.
A esposa de José deu seu seio ao menino Jesus. Quando um deles esvaziava, ela
oferecia o outro. Deu-lhe água, deu-lhe papinha, deu-lhe colo. Beijou vezes sem
conta suas bochechas e seus pezinhos. Limpou-o do xixi e do cocô feitos de dia
e de noite. Banhou-o num tacho qualquer de pedra ou de madeira. Tirou piolhos
de seus cabelos e bicho-de-pé de seus pés. Ajudou-o a dar os primeiros
passinhos. Deu-lhe brinquedos para brincar. Instruiu a criança na lei do
Senhor. Ensinou-o a juntar as palmas das mãos para orar, fez com que ele
decorasse os Dez Mandamentos, cantou para ele as canções do Senhor, levou-o à
sinagoga todos os sábados. De ano em ano, a zelosa mãe subia outra vez às
montanhas da Judéia, com o menino, outros parentes e outras pessoas, em romaria
a Jerusalém, para participar com ele das festas religiosas.
Ela esteve com Jesus tanto nas bodas de Caná como naquela sexta-feira escura.
Ela viu a água potável transformada em vinho em Caná e a água misturada com
sangue brotando do corpo já morto de seu Filho no Calvário. Ela esteve ao pé da
cruz das nove horas da manhã até às três horas da tarde (Jo 19.25). Ela sofreu
como ninguém ao ver tudo o que fizeram com o Filho de Deus e com o seu Filho
naquele período de seis horas. Ela ouviu as sete palavras proferidas por ele na
cruz e comoveu-se mais ainda quando ele lhe disse, como que apontando para
João: “Aí está o seu filho”, e quando disse a João, como que apontando para
ela: “Aí está a sua mãe” (Jo 19.26-27).
É bastante provável que Maria fizesse parte daquele grupo de mulheres da
Galiléia que foi duas vezes ao jardim da casa de José de Arimatéia (na tarde da
sexta-feira e na madrugada do primeiro dia da semana). Da primeira vez, elas
foram ver onde o corpo do Senhor havia sido colocado (Lc 23.55-56). Depois,
voltaram para embalsamar o seu corpo (Lc 24.1). Nessa segunda ida ao túmulo,
elas se surpreenderam com a pedra removida, com o túmulo vazio e com a
ressurreição do Senhor (Lc 24.2-8).
Das aflições às consolações
Maria quase perdeu o noivo. Quando descobriu que sua querida noiva, com quem
estava de casamento acertado, estava grávida, sem que ele tivesse participação
nisso, e sem conseguir acreditar que ela tivesse sido infiel a ele, o
desnorteado carpinteiro de Nazaré achou por bem desmarcar o casamento, mas sem
recorrer ao seu direito de denunciar a noiva às autoridades religiosas. Foi um
momento difícil para Maria, mas ela deixou o caso nas mãos de Deus. Como era de
se esperar, um anjo veio ao encontro do noivo e lhe disse: “José, filho de
Davi, não temas receber Maria como esposa, pois o que nela foi gerado procede
do Espírito Santo” (Mt 1.20). Com a revelação dos propósitos de Deus, José saiu
da confusão mental e “recebeu Maria como sua esposa”, tornando-se o pai adotivo
de Jesus (Lc 3.23).
Curiosamente Maria perdeu Jesus em duas ocasiões distintas, separadas entre si
por um período de pouco mais de 20 anos. Em ambos os eventos o sumiço de Jesus
durou três dias. A primeira vez aconteceu na viagem de volta de Jerusalém para
Nazaré, logo após a festa da páscoa, quando Jesus era um adolescente de 12
anos. Maria deve ter sentido uma aflição enorme quando descobriu que Jesus
havia desaparecido, depois de ter constatado que o garoto não estava com José
nem com qualquer outra pessoa da família. Ela gastou três dias até encontrá-lo
“no templo, sentado entre os mestres” (Lc 2.41-51). A segunda vez aconteceu em
Jerusalém, quando, na cruz, Jesus “curvou a cabeça e entregou o espírito” a
Deus (Jo 19.30). Maria teve que esperar três dias para ver a pedra removida, o
túmulo vazio e o Senhor ressuscitado.
Não havia necessidade de Maria permanecer virgem a vida inteira. A perda da
virgindade no casamento não diminui a santidade e a devoção de ninguém. Depois
do casamento e depois do nascimento de Jesus, José passou a ter relações com a
esposa (Mt 1.25). Maria teve no mínimo outros seis filhos (quatro homens e duas
meninas). Com referência ao Pai, Jesus é o “Filho Unigênito de Deus” (Jo 3.16,18). Com referência
à mãe, Jesus é o filho primogênito de Maria (Lc 2.6-7). Os filhos homens
receberam nomes comuns: Tiago, José, Simão e Judas (Mt 13.55-56; Mc 6.3).
Mas o relacionamento de Jesus com seus irmãos era complicado. João registra que
“nem mesmo os seus irmãos criam nele” (Jo 7.5). Jesus tinha problemas fora e
dentro de casa. Se ele não era considerado quem dizia ser, então a situação
dele e de Maria era bastante embaraçosa. Assuntos delicados, como o nascimento
virginal, seriam contestados por seus irmãos. E se ele não era filho de Deus,
então de quem seria filho? De José, como conseqüência de um relacionamento
pré-conjugal? De algum outro homem? Para os irmãos de Jesus, seu propósito era
se tornar conhecido. Daí a crítica que lhe faziam: “Ninguém age às escondidas
quando quer manifestar o seu poder” (Jo 7.4, TEB). Jesus devia viajar para
Jerusalém e manifestar-se ao mundo, se era isso que pretendia. Talvez eles
desconfiassem da saúde mental de Jesus: E se ele tivesse algum desvio de
personalidade em direção à megalomania, algo como uma auto-imagem doentia de si
mesmo? Essa suposição é reforçada por outra passagem bíblica. Quando a multidão
cercava Jesus para obter dele algum benefício, era tanta gente à sua volta que
nem ele nem os discípulos tinham tempo para comer alguma coisa. “Quando seus
familiares ouviram falar disso, saíram para trazê-lo à força, pois diziam: ‘Ele
está fora de si’.” (Mc 3.21) (outras versões trazem: “ele está louco” ou “ele
perdeu o juízo”).
Todavia, depois da morte e da ressurreição de Jesus, seus irmãos passaram a
crer nele com tal intensidade que pelo menos dois deles — Tiago e Judas —
alcançaram alguma proeminência na história da igreja primitiva. O livro de Atos
registra que, logo após a ascensão de Jesus, todos os fiéis se reuniam sempre
em oração, “com as mulheres, estando entre elas Maria, mãe de Jesus, e com os
irmãos dele” (At 1.14). Tiago se tornou uma das colunas, um dos líderes da
igreja, ao lado de Pedro e João (Gl 2.9) e a ele o Senhor apareceu de modo
particular depois de ressurreto (1 Co 15.7). Foi com Tiago, “irmão do Senhor”,
que Paulo se reuniu em Jerusalém três anos depois de sua conversão (Gl 1.19).
Tudo indica que o autor da Epístola de Tiago e moderador do concílio de
Jerusalém era esse mesmo Tiago, irmão do Senhor (At 15.13; Tg 1.1). Se o autor
dessa Epístola é de fato um dos filhos convertidos de Maria e José, então Judas
também é, pois ele se apresenta como “irmão de Tiago” (Jd 1.1). O Novo
Testamento não contém nenhuma epístola assinada por Jesus. Em compensação, duas
das sete cartas dirigidas a todos os cristãos, de forma geral, e não a
determinadas igrejas ou pessoas, foram escritas pelos irmãos de Jesus.
Maria foi uma mulher extraordinariamente bem-aventurada. Não só por ter sido
eleita para trazer a este mundo o Verbo feito carne. Mas também porque seus
filhos com José — Tiago, José, Simão e Judas — inicialmente descrentes, vieram
a se converter e a se destacar no cenário do cristianismo primitivo!
Tradicional, conservador e ortodoxo
Ricardo Barbosa de Sousa
Houve um tempo, quando eu era jovem, que rejeitava qualquer coisa que me
identificasse como tradicional. Naquela época, ser tradicional significava não
ser pentecostal. Os tradicionais eram solenes, reservados. Já os pentecostais
eram alegres, empolgados com a fé, espontâneos, exuberantes. Eu não me considerava
pentecostal — não no sentido clássico do termo —, mas também não era
tradicional.
Hoje confesso que sou tradicional. Não perdi a alegria e o entusiasmo que
aprendi com os pentecostais, mas agora não ser tradicional é ser moderno, que
significa romper com a história, não ter raízes, nem tradição. Gosto do meu
passado, gosto de cantar os velhos hinos como “Rude Cruz”, de ouvir pregações
com conteúdo teológico, centradas nas Escrituras e que dispensam o personalismo
narcisista dos pregadores modernos. Chego a gostar de uma certa solenidade e
reverência no culto. Gosto de saber que a fé que professo foi professada por
muitos que viveram antes de mim e que a proclamaram sob muito sofrimento. Não
gosto das inovações que vejo por aí, da agitação nos cultos, das coreografias
com tules esvoaçantes que não dizem nada; músicas que não inspiram, apenas
agitam; pregações de auto-ajuda.
Na minha juventude, ser conservador era comprometer-se com a direita, apoiar
ditaduras totalitárias, resistir às mudanças, apoiar o machismo decadente. Não
ser conservador era ser revolucionário, e era isto que eu queria ser. Naquele
tempo participei dos movimentos pela volta da democracia, do envolvimento da
igreja nos temas políticos e sociais, abracei a teologia da missão integral e vi,
com alegria, a igreja e o país mudando. Ainda guardo comigo este espírito
revolucionário.
Mas hoje o oposto ao conservador é o liberal que abriu mão dos valores morais,
das verdades teológicas e do temor a Deus. A vulgarização e a banalização do
corpo e do sexo, a desvalorização da família e essa imensa e indefinida
“abertura” que vivemos em nada têm contribuído para a sociedade. Toda a luta
das mulheres contra a opressão e a exploração do corpo como objeto sexual
acabouem um grande mercado erótico de ofertas bizarras. A disciplina e a
educação dos filhos foi abandonada pelos pais, delegada para as escolas e
depois para as clínicas psicológicas. A intensificação do individualismo
requer, cada vez mais, o direito a toda forma de promiscuidade. Sou hoje um
conservador. Ainda luto contra as injustiças, mas não me identifico com o
espírito liberal dos tempos modernos. Continuo crendo na sacralidade do corpo
como templo do Espírito Santo, no sexo como expressão sublime do amor na
aliança conjugal. Permaneço convencido de que a família é o espaço criado pela
providência divina onde aprendemos a viver comunitariamente. Creio na
contemporaneidade de todos os mandamentos de Deus e no seu poder de preservar a
sociedade da autodestruição.
Por fim, vejo também que hoje sou ortodoxo na minha fé e teologia. Nunca fui
liberal, nem fundamentalista; sempre me considerei um evangelical. Porém,
diante da nova onda de fundamentalismo, não apenas o religioso, mas,
principalmente, o fundamentalismo totalitário neoliberal, que, em nome de uma
pseudo-abertura, impõe sua agenda moral e religiosa que não aceita
questionamentos, preciso dizer que sou hoje um evangelical ortodoxo. Minha fé
continua alicerçada na autoridade das Escrituras Sagradas, no Credo Apostólico,
nas confissões históricas e na longa tradição cristã. Creio na morte e
ressurreição de Cristo, na sua mediação entre Deus e os homens e que fora dele
não há salvação. Creio na autoridade da Bíblia como revelação de Deus e dos
seus propósitos. Creio na absoluta soberania divina, e me silencio diante do
seu mistério. E creio na igreja, apesar das suas crises e conflitos. É assim
que me vejo hoje. Tradicional, conservador e ortodoxo.
A recomendação de Paulo aos crentes de Tessalônica é muito apropriada para
estes dias confusos que vivemos: “Portanto, irmãos, permaneçam firmes e
apeguem-se às tradições que lhes foram ensinadas, quer de viva voz, quer por
carta nossa” (2 Ts 2.15).
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FONTE REV.ULTIMATO
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