terça-feira, 31 de março de 2015

VIRGEM MARIA INTAQUITA

                     

                       A virgem finalmente intacta!


Ao estudar a Constituição Dogmática Lumen Gentiun sobre a Igreja, do Concílio Vaticano II, o teólogo luterano Peter Meinhold comentou que, por ser formada de elementos humanos, “a Igreja precisa deconstante renovação e de penitência”. E, em excelente entrevista concedida a Ultimato (julho/agosto de 2005), o historiador Alderi Souza de Matos explica que há duas conhecidas versões que expressam essa necessidade de renovação. Uma é Ecclesia reformata et semper reformanda est (a Igreja reformada está sempre se reformando). A outra é Ecclesia reformata sed semper reformanda (a Igreja é reformada, mas está sempre se reformando ou carecendo de reforma). 

O bispo metodista John Fletcher (1729-1785), ordenado ministro na Inglaterra aos 28 anos, há 250 anos (1757), afirmou que sua esposa era bem melhor para ele do que a Noiva de Cristo (a Igreja) tem sido para o Noivo (Os Irmãos Wesley. p. 42). 

Embora chocante, essa constatação confirma o desejo histórico de renovação, reforma ou reavivamento da Igreja e pode levar o rebanho cristão e seus pastores a abraçar repetidas vezes e cada vez com maior intensidade e coragem o sonho de Paulo: “Tenho ciúmes de vós, ciúmes de Deus, pois vos prometi a um único marido, para apresentar-vos a Cristo como virgem intacta” (2 Co 11.2, BP). 

Todavia, não podemos esconder o sol com a peneira. Sabemos pelas Epístolas aos Coríntios, pela história eclesiástica e pela nossa vivência, que o sonho da virgem intacta ainda não se concretizou.* 

As bodas do Cordeiro vão acontecer na consumação dos séculos, imediatamente após a volta gloriosa do Senhor e a ressurreição dos mortos e a súbita transformação dos vivos (1 Co 15.51-53). A essa altura, graças ao novo corpo (revestido de honra, poder e glória), a Noiva estará resplandecente, esplêndida, toda bela, toda gloriosa, sem mancha ou qualquer outro defeito ou deformação, santa, imaculada, perfeita e irrepreensível (Ef 5.25-27). Foi esta noiva bonita e enfeitada, vestida de “linho fino, brilhante e puro”, que João viu na visão de Apocalipse, no momento das bodas do Cordeiro (Ap 19.7-8). 

Em benefício do nosso ânimo, é necessário lembrar que a salvação é um processo já iniciado, mas não finalizado. Graças ao Noivo, já fomos salvos da culpa do pecado (salvação no passado) e estamos sendo salvos do poder do pecado (salvação no presente). Ainda falta sermos salvos da presença do pecado, dentro e ao redor de nós (salvação no futuro). Aquele que começou a boa obra em nós, “vai completá-la até o dia de Cristo Jesus” (Fp 1.6). Aquele que nos predestinou, nos chamou e nos justificou, também vai nos glorificar (Rm 8.30). Quando o Noivo voltar, ele “tomará estes nossos corpos mortais e os mudará em corpos gloriosos semelhantes ao dele mesmo” (Fp 3.21, BV). Embora já façamos parte do Corpo de Cristo, não sabemos por experiência o que vai acontecer “porém sabemos isto: quando Cristo aparecer, ficaremos parecidos com ele” (1 Jo 3.2, NTLH). Glória a Deus! 



 

O sonho da virgem intacta

"A santidade progressiva da igreja deve ser ciosamente mantida no testemunho de cada crente"

Basta ler cuidadosamente o que Paulo e Timóteo escreveram no ano 56 depois de Cristo “à igreja de Deus que está na cidade de Corinto e também a todo o povo de Deus espalhado por toda a província da Acaia”: “O mesmo zelo que Deus tem por vocês eu também tenho. Porque vocês são como uma virgem pura que eu prometi dar em casamento somente a um homem, que é Cristo” (2 Co 11.2, NTLH). 

Paulo é um pastor que não se contenta de forma alguma com o status quo da igreja diferente do padrão original. A igreja precisa ser como uma virgem intacta (na versão da Bíblia do Peregrino). O apóstolo abraça entusiasticamente esse tipo de zelo espiritual que vem de Deus e assume a responsabilidade de trabalhar com a Noiva (a Igreja) de tal forma a apresentá-la ao Noivo (o Senhor Jesus) como uma virgem intacta! 

Esse deve ser o compromisso de todo ministro cristão, chame-se padre ou pastor, seja bispo ou arcebispo. Porque o Noivo é como um “cordeiro sem defeito e sem mácula” (1 Pe 1.19), a Noiva também precisa ser gloriosa, sem mancha nem ruga ou coisa semelhante, mas santa e inculpável” (Ef. 5.27). 

E o próprio Noivo deseja uma virgem intacta e trabalha para alcançar esse objetivo: “Cristo amou a igreja [a programada e esperada virgem intacta] e entregou-se por ela para santificá-la, tendo-a purificado pelo lavar da água mediante a palavra, e para apresentá-la a si mesmo como igreja gloriosa, sem mancha nem ruga ou coisa semelhante, mas santa e inculpável” (Ef 5.25-27). 

Em outras versões, lê-se que Cristo sacrificou-se pela igreja para limpá-la, para colocá-la à parte, para torná-la igreja resplandescente, esplêndida, toda bela, toda gloriosa, sem mancha ou qualquer outro defeito, outra deformação, mas santa e imaculada, santa e perfeita, santa e irrepreensível. Esse é o tremendo sonho da virgem intacta! 

Em uma reunião realizada no Rio de Janeiro há 140 anos (julho de 1867), Ashbel G. Simonton, o primeiro missionário presbiteriano a vir para o Brasil, apresentou um projeto de cinco pontos em benefício da implantação do reino de Deus no país. Ele fez questão de colocar em primeiro lugar o seguinte item: “A santidade da igreja deve ser ciosamente mantida no testemunho de cada crente”. Naturalmente, o que estava na cabeça e no coração de Simonton, que morreu de febre amarela cinco meses depois, aos 34 anos, era o sonho da virgem intacta. Naquela época, os protestantes eram uma minoria insignificante no país e quase todos eram estrangeiros residindo temporariamente aqui ou imigrantes procedentes da Alemanha. 

Fala-se em sonho e não em realidade. Não se pode chamar de virgem intacta a igreja militante, a igreja histórica, a igreja em sua contingência, a igreja formada e pastoreada por pecadores mesmo arrancados das trevas e transportados para a maravilhosa luz (1 Pe 2.9). Por enquanto somos santos só na promessa, na intenção, no nome, no papel, porque fomos lavados, santificados e justificados no nome do Senhor (1 Co 6.11). Por essa razão somos chamados de santos, embora na prática ainda não o sejamos (At 9.13, 26.10). Ao mesmo tempo que Paulo chama de santos os leitores de suas cartas, ele os convoca para serem santos (2 Co 1.1; Fp 1.1; Cl 1.2; Rm 1.7; 1 Co 1.2). Mas ninguém deve abrir mão do sonho da virgem intacta. O alvo deve ser levado a sério e perseguido dia após dia. Então, o sonho deixará de ser sonho para ser uma realidade. O processo salvífico inclui a concretização absoluta desse sonho! 

(Nos textos seguintes o leitor ficará por dentro da realidade histórica da igreja militante e da transformação do sonho em realidade.)

 

A história de Maria na simplicidade do Novo Testamento e na perspectiva protestante

Da surpresa da concepção à surpresa da ressurreição 
De fato uma jovem da Galiléia, de família modesta, chamada Maria, prometida a um carpinteiro descendente de Davi e Bate-Seba chamado José, foi a única mulher do mundo e da história a engravidar sem o concurso de homem algum. Ela participou da história da redenção de modo absolutamente original. Em seu ventre, por obra do Espírito Santo, o Verbo se fez carne. A criança que nasceu nove meses depois dessa concepção sobrenatural recebeu o nome de Emanuel, que quer dizer Deus Conosco (Mt 1.23). É por isso que a oração da V Conferência do Episcopado Latino-Americano e Caribenho lembra que Jesus é tanto o rosto humano de Deus como o rosto divino do homem, repetindo o que John Stott diz em Cristianismo Básico: “Jesus não é Deus disfarçado de homem nem homem disfarçado de Deus”. O que aconteceu com Maria em Nazaré tornou Jesus ao mesmo tempo Filho de Deus e Filho do homem e uniu magistralmente a perfeita divindade e a perfeita humanidade de Jesus. 

Maria abrigou Jesus em seu útero e o alimentou desde quando a substância ainda era informe até adquirir o corpinho de uma criança. Ela o expulsou de lá quando a sobrevivência do menino exigia outro espaço e outros cuidados. Por circunstâncias especiais, o parto aconteceu numa modesta manjedoura em Belém da Judéia, há mais de dois milênios. 

A esposa de José deu seu seio ao menino Jesus. Quando um deles esvaziava, ela oferecia o outro. Deu-lhe água, deu-lhe papinha, deu-lhe colo. Beijou vezes sem conta suas bochechas e seus pezinhos. Limpou-o do xixi e do cocô feitos de dia e de noite. Banhou-o num tacho qualquer de pedra ou de madeira. Tirou piolhos de seus cabelos e bicho-de-pé de seus pés. Ajudou-o a dar os primeiros passinhos. Deu-lhe brinquedos para brincar. Instruiu a criança na lei do Senhor. Ensinou-o a juntar as palmas das mãos para orar, fez com que ele decorasse os Dez Mandamentos, cantou para ele as canções do Senhor, levou-o à sinagoga todos os sábados. De ano em ano, a zelosa mãe subia outra vez às montanhas da Judéia, com o menino, outros parentes e outras pessoas, em romaria a Jerusalém, para participar com ele das festas religiosas. 

Ela esteve com Jesus tanto nas bodas de Caná como naquela sexta-feira escura. Ela viu a água potável transformada em vinho em Caná e a água misturada com sangue brotando do corpo já morto de seu Filho no Calvário. Ela esteve ao pé da cruz das nove horas da manhã até às três horas da tarde (Jo 19.25). Ela sofreu como ninguém ao ver tudo o que fizeram com o Filho de Deus e com o seu Filho naquele período de seis horas. Ela ouviu as sete palavras proferidas por ele na cruz e comoveu-se mais ainda quando ele lhe disse, como que apontando para João: “Aí está o seu filho”, e quando disse a João, como que apontando para ela: “Aí está a sua mãe” (Jo 19.26-27). 

É bastante provável que Maria fizesse parte daquele grupo de mulheres da Galiléia que foi duas vezes ao jardim da casa de José de Arimatéia (na tarde da sexta-feira e na madrugada do primeiro dia da semana). Da primeira vez, elas foram ver onde o corpo do Senhor havia sido colocado (Lc 23.55-56). Depois, voltaram para embalsamar o seu corpo (Lc 24.1). Nessa segunda ida ao túmulo, elas se surpreenderam com a pedra removida, com o túmulo vazio e com a ressurreição do Senhor (Lc 24.2-8). 

Das aflições às consolações 
Maria quase perdeu o noivo. Quando descobriu que sua querida noiva, com quem estava de casamento acertado, estava grávida, sem que ele tivesse participação nisso, e sem conseguir acreditar que ela tivesse sido infiel a ele, o desnorteado carpinteiro de Nazaré achou por bem desmarcar o casamento, mas sem recorrer ao seu direito de denunciar a noiva às autoridades religiosas. Foi um momento difícil para Maria, mas ela deixou o caso nas mãos de Deus. Como era de se esperar, um anjo veio ao encontro do noivo e lhe disse: “José, filho de Davi, não temas receber Maria como esposa, pois o que nela foi gerado procede do Espírito Santo” (Mt 1.20). Com a revelação dos propósitos de Deus, José saiu da confusão mental e “recebeu Maria como sua esposa”, tornando-se o pai adotivo de Jesus (Lc 3.23). 

Curiosamente Maria perdeu Jesus em duas ocasiões distintas, separadas entre si por um período de pouco mais de 20 anos. Em ambos os eventos o sumiço de Jesus durou três dias. A primeira vez aconteceu na viagem de volta de Jerusalém para Nazaré, logo após a festa da páscoa, quando Jesus era um adolescente de 12 anos. Maria deve ter sentido uma aflição enorme quando descobriu que Jesus havia desaparecido, depois de ter constatado que o garoto não estava com José nem com qualquer outra pessoa da família. Ela gastou três dias até encontrá-lo “no templo, sentado entre os mestres” (Lc 2.41-51). A segunda vez aconteceu em Jerusalém, quando, na cruz, Jesus “curvou a cabeça e entregou o espírito” a Deus (Jo 19.30). Maria teve que esperar três dias para ver a pedra removida, o túmulo vazio e o Senhor ressuscitado. 

Não havia necessidade de Maria permanecer virgem a vida inteira. A perda da virgindade no casamento não diminui a santidade e a devoção de ninguém. Depois do casamento e depois do nascimento de Jesus, José passou a ter relações com a esposa (Mt 1.25). Maria teve no mínimo outros seis filhos (quatro homens e duas meninas). Com referência ao Pai, Jesus é o “Filho Unigênito de Deus” (Jo 3.16,18). Com referência à mãe, Jesus é o filho primogênito de Maria (Lc 2.6-7). Os filhos homens receberam nomes comuns: Tiago, José, Simão e Judas (Mt 13.55-56; Mc 6.3). 

Mas o relacionamento de Jesus com seus irmãos era complicado. João registra que “nem mesmo os seus irmãos criam nele” (Jo 7.5). Jesus tinha problemas fora e dentro de casa. Se ele não era considerado quem dizia ser, então a situação dele e de Maria era bastante embaraçosa. Assuntos delicados, como o nascimento virginal, seriam contestados por seus irmãos. E se ele não era filho de Deus, então de quem seria filho? De José, como conseqüência de um relacionamento pré-conjugal? De algum outro homem? Para os irmãos de Jesus, seu propósito era se tornar conhecido. Daí a crítica que lhe faziam: “Ninguém age às escondidas quando quer manifestar o seu poder” (Jo 7.4, TEB). Jesus devia viajar para Jerusalém e manifestar-se ao mundo, se era isso que pretendia. Talvez eles desconfiassem da saúde mental de Jesus: E se ele tivesse algum desvio de personalidade em direção à megalomania, algo como uma auto-imagem doentia de si mesmo? Essa suposição é reforçada por outra passagem bíblica. Quando a multidão cercava Jesus para obter dele algum benefício, era tanta gente à sua volta que nem ele nem os discípulos tinham tempo para comer alguma coisa. “Quando seus familiares ouviram falar disso, saíram para trazê-lo à força, pois diziam: ‘Ele está fora de si’.” (Mc 3.21) (outras versões trazem: “ele está louco” ou “ele perdeu o juízo”). 

Todavia, depois da morte e da ressurreição de Jesus, seus irmãos passaram a crer nele com tal intensidade que pelo menos dois deles — Tiago e Judas — alcançaram alguma proeminência na história da igreja primitiva. O livro de Atos registra que, logo após a ascensão de Jesus, todos os fiéis se reuniam sempre em oração, “com as mulheres, estando entre elas Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos dele” (At 1.14). Tiago se tornou uma das colunas, um dos líderes da igreja, ao lado de Pedro e João (Gl 2.9) e a ele o Senhor apareceu de modo particular depois de ressurreto (1 Co 15.7). Foi com Tiago, “irmão do Senhor”, que Paulo se reuniu em Jerusalém três anos depois de sua conversão (Gl 1.19). Tudo indica que o autor da Epístola de Tiago e moderador do concílio de Jerusalém era esse mesmo Tiago, irmão do Senhor (At 15.13; Tg 1.1). Se o autor dessa Epístola é de fato um dos filhos convertidos de Maria e José, então Judas também é, pois ele se apresenta como “irmão de Tiago” (Jd 1.1). O Novo Testamento não contém nenhuma epístola assinada por Jesus. Em compensação, duas das sete cartas dirigidas a todos os cristãos, de forma geral, e não a determinadas igrejas ou pessoas, foram escritas pelos irmãos de Jesus. 

Maria foi uma mulher extraordinariamente bem-aventurada. Não só por ter sido eleita para trazer a este mundo o Verbo feito carne. Mas também porque seus filhos com José — Tiago, José, Simão e Judas — inicialmente descrentes, vieram a se converter e a se destacar no cenário do cristianismo primitivo!



Tradicional, conservador e ortodoxo
Ricardo Barbosa de Sousa

Houve um tempo, quando eu era jovem, que rejeitava qualquer coisa que me identificasse como tradicional. Naquela época, ser tradicional significava não ser pentecostal. Os tradicionais eram solenes, reservados. Já os pentecostais eram alegres, empolgados com a fé, espontâneos, exuberantes. Eu não me considerava pentecostal — não no sentido clássico do termo —, mas também não era tradicional.

Hoje confesso que sou tradicional. Não perdi a alegria e o entusiasmo que aprendi com os pentecostais, mas agora não ser tradicional é ser moderno, que significa romper com a história, não ter raízes, nem tradição. Gosto do meu passado, gosto de cantar os velhos hinos como “Rude Cruz”, de ouvir pregações com conteúdo teológico, centradas nas Escrituras e que dispensam o personalismo narcisista dos pregadores modernos. Chego a gostar de uma certa solenidade e reverência no culto. Gosto de saber que a fé que professo foi professada por muitos que viveram antes de mim e que a proclamaram sob muito sofrimento. Não gosto das inovações que vejo por aí, da agitação nos cultos, das coreografias com tules esvoaçantes que não dizem nada; músicas que não inspiram, apenas agitam; pregações de auto-ajuda.

Na minha juventude, ser conservador era comprometer-se com a direita, apoiar ditaduras totalitárias, resistir às mudanças, apoiar o machismo decadente. Não ser conservador era ser revolucionário, e era isto que eu queria ser. Naquele tempo participei dos movimentos pela volta da democracia, do envolvimento da igreja nos temas políticos e sociais, abracei a teologia da missão integral e vi, com alegria, a igreja e o país mudando. Ainda guardo comigo este espírito revolucionário.

Mas hoje o oposto ao conservador é o liberal que abriu mão dos valores morais, das verdades teológicas e do temor a Deus. A vulgarização e a banalização do corpo e do sexo, a desvalorização da família e essa imensa e indefinida “abertura” que vivemos em nada têm contribuído para a sociedade. Toda a luta das mulheres contra a opressão e a exploração do corpo como objeto sexual acabouem um grande mercado erótico de ofertas bizarras. A disciplina e a educação dos filhos foi abandonada pelos pais, delegada para as escolas e depois para as clínicas psicológicas. A intensificação do individualismo requer, cada vez mais, o direito a toda forma de promiscuidade. Sou hoje um conservador. Ainda luto contra as injustiças, mas não me identifico com o espírito liberal dos tempos modernos. Continuo crendo na sacralidade do corpo como templo do Espírito Santo, no sexo como expressão sublime do amor na aliança conjugal. Permaneço convencido de que a família é o espaço criado pela providência divina onde aprendemos a viver comunitariamente. Creio na contemporaneidade de todos os mandamentos de Deus e no seu poder de preservar a sociedade da autodestruição. 

Por fim, vejo também que hoje sou ortodoxo na minha fé e teologia. Nunca fui liberal, nem fundamentalista; sempre me considerei um evangelical. Porém, diante da nova onda de fundamentalismo, não apenas o religioso, mas, principalmente, o fundamentalismo totalitário neoliberal, que, em nome de uma pseudo-abertura, impõe sua agenda moral e religiosa que não aceita questionamentos, preciso dizer que sou hoje um evangelical ortodoxo. Minha fé continua alicerçada na autoridade das Escrituras Sagradas, no Credo Apostólico, nas confissões históricas e na longa tradição cristã. Creio na morte e ressurreição de Cristo, na sua mediação entre Deus e os homens e que fora dele não há salvação. Creio na autoridade da Bíblia como revelação de Deus e dos seus propósitos. Creio na absoluta soberania divina, e me silencio diante do seu mistério. E creio na igreja, apesar das suas crises e conflitos. É assim que me vejo hoje. Tradicional, conservador e ortodoxo. 

A recomendação de Paulo aos crentes de Tessalônica é muito apropriada para estes dias confusos que vivemos: “Portanto, irmãos, permaneçam firmes e apeguem-se às tradições que lhes foram ensinadas, quer de viva voz, quer por carta nossa” (2 Ts 2.15). 


FONTE  REV.ULTIMATO 


 


 

Nenhum comentário:

Postar um comentário