O Engano da
Igreja de Toronto – por um ex-líder
Para aqueles que estão
acreditando que os “retetés” são manifestações do Espírito Santo, recomendo que
leiam este artigo até o fim.
Levei nove anos até criar coragem e escrever este relato.
Demorei porque não tinha convicção de que seria correto falar sobre as
fraquezas do corpo de Cristo publicamente. Em segundo, porque tinha que fazer
uma jornada espiritual de busca em minha alma e me convencer de que, o que
havia ocorrido na Igreja Aeroporto de Toronto foi ruim ou pelo menos pior
do que bom.
Durante alguns anos falei da experiência de Toronto como uma
bênção misturada. Penso que James A. Beverly o chamou assim em seu livro
“Risada Santa” e a “Bênção de Toronto 1994”. Hoje diria que foi uma mistura de
maldição, concluindo que qualquer coisa boa que alguém recebeu através desta
experiência pessoal é enormemente ultrapassada pela gravidade do mal e do
engano satânico. Aqui residia meu grande dilema.
Tento viver a vida cristã no temor do Senhor e Jesus exortou-nos
que um dos pecados sem perdão era a blasfêmia contra o Espírito Santo, isto é,
atribuir a Satanás o que é de fato uma obra de Deus. Não quero correr o risco
de admitir que a bênção de Toronto era de Deus ou de Satanás, mas creio que
Satanás usou esta experiência para cegar as pessoas sobre as doutrinas
históricas de Deus, em que o fruto cresce ao lado de uma vida de
arrependimento, pois as pessoas não puseram a prova aquelas manifestações para
saber se eram mesmo de Deus ou de espíritos enganadores, e não testaram para
saber se as profecias eram mesmo de Deus.
Depois de três anos fazendo
parte do núcleo da bênção de Toronto nossa Igreja Vineyard em Scarborough ao
leste de Toronto, praticamente
se auto-destruiu. Devoramo-nos uns aos outros com fofocas,
falando mal pelas costas, com divisões, partidarismo, criticas ferrenhas uns
dos outros, etc. Depois de três anos “inundados” orando por pessoas,
sacudindo-nos, rolando no chão, rindo, rugindo, rosnando, latindo, ministrando
na igreja Internacional do Aeroporto de Toronto, fazendo parte de
sua equipe de oração, liderando o louvor e a adoração naquele
local, praticamente vivendo ali, tornamo-nos os mais carnais, imaturos, e os
crentes mais enganados que conheci. Lembro-me de haver dito ao meu amigo e
pastor principal da igreja de Vineyard de Scaraborough em 1997 de que, desde
que a bênção de Toronto chegou, ficamos esfacelados. Ele concordou.
Minha experiência é de que as manifestações dos dons espirituais
de 1 Coríntios 12 eram mais comuns em nossas reuniões antes de Janeiro de 1994
(quando começou a bênção de Toronto) do que durante o período da suposta
visitação do Espírito Santo.
No período de 1992-1993 quando
orávamos pelas pessoas experimentávamos o que chamo de a verdadeira profecia,
libertação e graça vindas de nosso Senhor. Depois que se iniciou a bênção de
Toronto, os períodos de ministração mudaram, e as únicas orações que ouvíamos
eram: “Mais,
Senhor”; com gritos de “fogo!”, sacudidelas esquisitas do corpo, e expressões
de “oh! uuu! iehh”.
Em 20 de janeiro de 1994 quinze pessoas de nossa igreja foram
ouvir Randy Clark, pastor da Igreja Vineyard na Igreja do Aeroporto de Toronto.
John Arnot (pastor da igreja do aeroporto) convidou-nos para ir até lá. Ele nos
disse que Randy havia estado nas reuniões de Rodney Howard Browne e que a coisa
estourou em sua igreja nas semanas seguintes. John esperava que algo
acontecesse também entre nós. Ficamos felizes em nos dirigir até lá. Tínhamos
uma igreja noutra localidade que havia começado em 1992. Era uma igreja do
centro de Scaraborough, ligada ao grupo Vineyard, mas bem a leste da Igreja do
Aeroporto. Éramos uma família grande e alegre. E porque éramos poucos tínhamos
reuniões especiais, conferencias, etc.
No ano anterior a maioria de nossos líderes participou de uma
curta viagem missionária à Nicarágua. Na ocasião gozávamos de muita comunhão
uns com os outros. Desde que deixei de fazer parte das igrejas Vineyard li
muitos comentários e análises críticas. Alguns escreveram que a bênção de
Toronto era uma grande conspiração que trazia heresia ao corpo de Cristo. Minha
convicção é de que a heresia e a apostasia são apenas o resultado, mas nada do
que aconteceu ali era intencional. Estou convencido de que os líderes das igrejas
Vineyard são pessoas sérias que experimentaram um novo nascimento, amam o
Senhor, mas caíram no laço do engano. Não amou o Senhor o suficiente para
guardar os seus mandamentos. Fracassaram por não obedecer as escrituras e se
desviaram porque anelavam algo maior e grandioso, mais empolgante e dinâmico.
Eu também cometi este pecado. Preguei sobre esta renovação na Coréia, no Reino
Unido, nos Estados Unidos e aqui no Canadá, e estou profundamente arrependido
ao escrever este relato, e peço-lhes que vocês, a noiva e o corpo de Cristo me
perdoem. Especialmente os pentecostais e carismáticos, pois todos fazem parte
de minha família teológica.
Sou um crente “evangelical”, sempre o fui e jamais cri que os
dons espirituais cessaram no fim da era apostólica. Creio que minhas raízes
evangélicas (minha família é de Batistas e eu tive uma experiência de conversão
e novo nascimento na igreja Presbiteriana) começaram a abrir os meus olhos para
os problemas com a chamada renovação. Hoje, olhando pra trás fico me perguntando
como fiquei tão cego assim? Eu via as pessoas imitando cachorros, fazendo de
conta que urinavam nas colunas da Igreja do Aeroporto. Observava as pessoas
agirem como animais latindo, rugindo, cacarejando, fazendo de contas que
voavam, como se asas tivessem, comportando-se como bêbados, entoando cânticos
“sem pé nem cabeça”, isto é, sem sentido algum. Hoje fico perplexo em pensar
que eu aceitava tais coisas como manifestações do Espírito Santo. Era algo
irreverente e blasfemo ao Espírito Santo da Bíblia.
Naquele tempo pensava que, enquanto não ensinassem qualquer
coisa que violasse as escrituras, o que experimentávamos e víamos podia ser
encaixado no campo do que chamamos de exótico. É um zumbido de manifestações
que não encontram justificativas na perspectiva bíblica. Ensinaram-nos nas
pregações que tínhamos apenas duas opções: uma enfermaria pulsando a vida (de
bebês) em meio a fraldas sujas e crianças chorando ou o cemitério, onde tudo
está em ordem, mas só há mortos. Pastor jovem e inexperiente, optei pela vida
no caos. Não percebia que Deus quer que amadureçamos e que cresçamos nele.
Fiquei perturbado com a palavra profética que veio através de Carol Arnot
(esposa do líder em Toronto), relatando-nos que tivera uma experiência de noiva
ao ser conduzida à presença de Jesus. Ela afirmou que o que experimentou era
muito melhor que sexo! Aquilo me perturbou e comecei a me perguntar: como
alguém pode comparar o amor de Deus ao sexo?
Quando começamos a suspeitar de que os demônios estavam à
vontade em nossos cultos, John Arnot ensinava que devíamos nos perguntar se
eles estavam chegando ou saindo. Se estiver saindo deles, está bem! John
defendia o caos afirmando que não devíamos ter medo de sermos enganados, pois
se havíamos pedido ao Espírito Santo para nos encher; como Satanás poderia nos
enganar?
Isto deixaria o diabo muito forte e Deus muito fraco. Ele
afirmava que precisávamos ter mais fé num grande Deus que nos protegia do que
num grande diabo que nos enganaria.
Tais palavras eram convincentes, mas totalmente contrárias às
escrituras, pois Jesus, Paulo, Pedro e João alertaram-nos sobre o poder dos
espíritos enganadores, especialmente nos últimos dias. Mesmo assim, não
devotamos amor a Deus para lhe obedecer a palavra e, como conseqüência,
abrimo-nos a ação de espíritos mentirosos. Que Deus tenha misericórdia de nós!
Finalmente a ficha caiu quando eu rolava pelo chão, certa noite,
“bêbado no Espírito”, como costumávamos dizer, e ali, cantando e rolando no
chão, comecei a cantar uma canção de ninar: “Maria tinha um cordeiro e seu pelo
era mais alvo que a neve”. Cantei esta música infantil de maneira debochada e
imediatamente alguma coisa em meu coração sussurrou que aquilo era um demônio
[1]. Imediatamente me arrependi e fiquei chocado com aquela experiência. Como
um demônio entrou em mim? Eu amava a Deus? Não era zeloso pelas coisas de Deus?
Não era totalmente louco por Jesus? Percebi que um espírito imundo acabara de
se manifestar através de minha vida e era culpado de um grande pecado. Depois
disto me afastei da Igreja do Aeroporto (TACF). Não tinha convicção de que
deveria denunciar aquelas experiências, mas senti que tínhamos fracassado em
pastorear a bênção.
Depois que parei de freqüentar o TACF – Toronto Airport Church –
tive que pastorear as conseqüências ou os frutos dali. Exemplo disto foi quando
algumas pessoas voltaram de uma reunião e nos perguntaram se havíamos recebido
a espada dourada do Senhor. Perguntei-lhes de que se tratava, imaginando que
alguma palavra profética tivesse sido liberada em relação as escrituras, mas me
responderam: “Não, não é a Bíblia; é uma espada invisível que somente os
verdadeiramente puros poderão receber. Se for tomada de maneira errada, então
será morto pelo Senhor. Mas, se você for santo o suficiente para recebê-la, então
você poderá desembainhá-la pois ela cura Aids, câncer, etc. e produz salvação.
A pessoa deve fazer gestos de ataque, imaginando ter em suas mãos esta espada
invisível, avançando sobre as pessoas enquanto está em oração! Pensei: além do
engano, a Igreja Aeroporto passou a fazer parte dos desenhos animados!
Esta “revelação” foi recebida pela Carol Arnott e depois
repassada aos que eram mais santos. O mesmo aconteceu com as obturações de
ouro. Pessoas de nossa congregação abriam a boca umas para as outras procurando
os dentes de ouro que Deus colocara ali, para provar o quanto nos amava.
Durante os anos que ali fiquei só ouvi uma vez uma mensagem de arrependimento
pregada por um conferencista de Hong Kong, Jack Pullinger. A mensagem passou
alto, bem acima de nossas cabeças, como um balão de gás; não estávamos ali para
nos arrepender, e sim para fazer festa ao Senhor!
Depois de um ano na “bênção” preguei num encontro de pastores e
falei: “Amigos, temos nos sacudido, nos arrastado pelo chão, rolamos por terra,
rimos, choramos e adquirimos as camisetas da igreja. Mas não temos avivamento,
nem salvação, nem frutos, nem aumento de evangelização, por isso, qual é a
graça?”. Fui repreendido – afinal, quem era eu para anelar frutos quando o
Senhor estava curando seu atribulado povo? Durante anos éramos legalistas, e
Deus agora estava restaurando as feridas libertando-nos do legalismo.
Aconselharam-me a não forçar o Senhor que os resultados apareceriam no temo
certo.
Eu sabia que isto estava errado, pois o Senhor ordenou fazer
discípulos de todas as nações. O argumento era: temos direito a um ano
sabático, pois, quem sabe por quanto tempo Deus fará coisas novas e diferentes!
Por fim, não comentei a controvertida questão da ordenação de
mulheres. Pessoalmente acredito, pelas escrituras, que as mulheres não devem
ser pastoras ou presbíteras numa assembléia local. Eu poderia estar errado
quanto a isto e existe muito debate na igreja a este respeito, e esta era minha
convicção, mas as igrejas Vineyard estavam ordenando todas as esposas de
pastores para serem co-pastoras com eles. Sou a favor de mulheres no
ministério, mas creio que o papel do ancião/presbítero/pastor local foi
reservado aos homens. Não fui eu quem escreveu a Bíblia, mas pela graça de Deus
quero obedecer-lha daqui em diante.
Esta é minha história. Poderia continuar apresentando farta
documentação dos excessos, loucuras, extravagâncias e pecados. Cantamos sobre o
exército de Joel e o avivamento de bilhões como se fossem os dez mandamentos; e
como sempre, parece que o avivamento já está chegando dobrando a esquina. No
próximo mês, no próximo ano, etc. Jesus falou que, quando o Filho do homem
voltar, encontrará fé na terra? Esta é a mensagem dominadora que tem sido
ensinada em todo movimento profético, espiritual, especialmente do Vineyard. Às
vezes imagino que eles pensam que vão dominar o mundo todo! Mas foi lá no
Vineyard que aprendi uma frase de Paulo de que não devemos ir além da palavra
escrita.
Concluindo, quero lamentar o dano, que eu pessoalmente perpetrei
ensinando coisas que não são bíblicas. Eu me arrependo diante de vocês e diante
de Deus. Eu não testei os espíritos quando a palavra ordena que assim seja
feito. Todos os que estavam ali quando estas coisas começaram a acontecer sabem
que o que escrevo é a verdade. Podem ter conclusões diferentes, especialmente
se ainda promovem o “rio”.
Aos que estão no “rio” eu exorto; nadem para fora, existem
coisas vivas na água que irão lhe atacar! Amo as pessoas da Igreja Aeroporto e
o movimento Vineyard, mas penso que temos muitas contas a prestar; o Senhor
lhes abrirá os olhos qualquer dia desses. Imagino que quando esta carta for
publicada serei bombardeado por cartas de ambos os lados, alguns me condenando
por ainda crer no ministério do Espírito Santo e andando no engano e alguns
amigos antigos condenando-me por expor a sujeira ou por ser negativo com
respeito a unção do Senhor. Bem, o Senhor conhece meu coração e por sua graça
haverá de me guiar a toda verdade, pois quero conhecer a Jesus Cristo o
crucificado.
Se você acha que estou no erro ore por mim para que o Senhor me
abra os olhos, pois quero estudar a palavra e me tornar varão aprovado. Peço a
todos os que lerem esta carta que orem para que o Senhor abra os olhos daqueles
que estão sendo enganados. Quer sejamos líderes ou seguidores, somos amados de
Deus e ele é um Deus perdoador. Ele afirma que se confessarmos nossos pecados
ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda
injustiça.
Creio que somos como a igreja de Laodicéia. Pensamos que somos
ricos, prósperos e sem necessidade alguma, e, no entanto não percebemos que
estamos cegos e nus. Precisamos levar a sério o conselho de Jesus comprando
ouro refinado no fogo (que fala do sofrimento e não de espíritos enganadores),
vestiduras brancas para cobrir nossa nudez e colírio para os olhos para poder
ver outra vez.
O Senhor nos chama ao arrependimento, e graças ao Senhor pelo
que ele é, pois nos conduzirá e nos restaurará ao Pai. Se Deus me perdoou e
abriu os meus olhos então poderá agir a favor de todos os que estão no engano.
Termino com o alerta de Paulo que permaneçamos firmes para não
tropeçarmos em coisa alguma.
Sinceramente,
Paul Gowdy
Esta carta foi traduzida e
publicada com a autorização de Paul Gowdy e pode ser lida na integra nos
sites: www.revivalschool.com ou www.discernment-ministries.org/TheTorontoDeception.htm (site
de Paul Gowdy).
Nota:
[1] Ele se refere a canções de Jardim da Infância, ou Nursery Rhyme, em que, nos contos de fada as crianças aprendem a falar cantando linguagens infantis, e refere-se especialmente a Mary had a little Lamb, uma das mais conhecidas.
[1] Ele se refere a canções de Jardim da Infância, ou Nursery Rhyme, em que, nos contos de fada as crianças aprendem a falar cantando linguagens infantis, e refere-se especialmente a Mary had a little Lamb, uma das mais conhecidas.
Paul Gowdy – Ex-pastor da Vineyard em Toronto – Tradução: João
A. de Souza filho
Extraído do blog http://restauracaodapalavra.blogspot.com.br em
22/09/2013
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