Maldições
hereditárias e cura interior
Batalha Espiritual
Sabemos pela Palavra de Deus que há uma batalha espiritual. A
existência de anjos e demônios é uma realidade inegável. A Bíblia está repleta
de guerras e batalhas, sendo que encontramos a primeira em Ap 12.4, quando
satanás, descrito como um dragão vermelho de sete cabeças e dez chifres levava
com sua cauda “após si a terça parte das estrelas do céu”.
O nome satanás significa adversário e após ser expulso do céu,
este anjo caído passou a se opor a Deus e a Seu povo. Lemos em Zc 3.1 que, “Ele me mostrou o sumo sacerdote Josué, o qual estava diante do
anjo do Senhor, e Satanás estava à sua mão direita, para se lhe opor”.
Essa oposição pode ser vista também no livro de Jó, após o
Senhor elogiar a integridade e retidão desse homem, bem como seu temor a Deus.
Depois de ouvir a respeito das virtudes de Jó, o adversário opõe-se firmemente
respondendo ao Senhor: “Porventura Jó teme a Deus
debalde? Não o tens protegido de todo lado a ele, a sua casa e a tudo quanto
tem? Tens abençoado a obra de suas mãos, e os seus bens se multiplicam na
terra. Mas estende agora a tua mão, e toca-lhe em tudo quanto tem, e ele
blasfemará de ti na tua face!” (Jó
1.9-11).
Temos ainda o Apóstolo Paulo alertando aos efésios acerca da
realidade da luta, a qual não é travada com homens, “mas sim
contra os principados, contra as potestades, conta os príncipes do mundo destas
trevas, contra as hostes espirituais da iniqüidade nas regiões celestes” (Ef 6.12).
Dizendo
isso, Paulo estava na verdade mostrando que, embora homens perseguissem e
tentassem impedir a propagação do Evangelho, não era contra essas pessoas que
os efésios tinham que travar uma batalha. Não era necessário tomar espadas e
combater líderes religiosos, políticos, soldados ou pessoas que não criam na
mensagem e sim tomar a armadura de Deus, um arsenal de armas espirituais que o
Apóstolo ilustrou comparando com a armadura de um soldado romano.
Ele mesmo disse aos coríntios que, “as armas da nossa milícia não
são carnais, mas poderosas em Deus, para demolição de fortalezas”,
pois essas armas espirituais derrubam “raciocínios e todo baluarte que
se ergue contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à
obediência a Cristo” (2 Co 10.4,5).
Necessitamos dessas armas porque o diabo, o deus deste século e
pai da mentira (Jo 8.44), “cegou os entendimentos dos
incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de
Cristo, o qual é a imagem de Deus” (2 Co 4.3,4).
Como as
pessoas que ainda não nasceram de novo não receberam a verdade das Sagradas
Escrituras, estão recheadas de argumentos baseados no engano de satanás. Mas a
Palavra de Deus é que derruba essas fortalezas, isto é, os raciocínios e
baluartes que se erguem contra o conhecimento de Deus.
A
atuação de satanás é inegável, foi ele quem tentou a Jesus no deserto. Podemos
ver vários outros exemplos de pessoas que foram afligidas pelos demônios, como
o gadareno que estava possuído por uma legião deles (Mc 5.1-20), o jovem que
muitas vezes era jogado na água e no fogo (Mc 9:14-22), Maria Madalena, da qual
saíram sete demônios (Lc 8:2), uma mulher que por dezoito anos viveu curvada
devido a um espírito de enfermidade (Lc 13:1113) e Ananias e Safira que foram
enganados por satanás para que mentissem ao apóstolo Pedro sobre o preço de uma
propriedade vendida (At 5:1-10).
A Bíblia
afirma ainda que o adversário das nossas almas é astuto, isto é, possui uma
habilidade para enganar as pessoas de forma inteligente e usa de ciladas, armadilhas
bem elaboradas, como fez com Eva no jardim do Éden (Gn 3.1; Ef 6.11).
Todavia, o diabo não é invencível. Jesus riscou o escrito de
dívida que era contra nós, cravando-o na cruz, onde despojou os principados e
as potestades, exibiu-os publicamente e deles triunfou (Cl 2.14,15). Além
disso, aguardamos o cumprimento da promessa de que “o Deus de
paz em breve esmagará a Satanás debaixo dos nossos pés” (Rm 16.20 –
paráfrase de nossos em vossos).
Embora
tenhamos muitas referências bíblicas sobre batalha espiritual, alguns exageros
têm sido ensinados e formado crentes neuróticos sobre o mundo espiritual. Creio
na batalha porque creio na Bíblia, caso contrário teríamos que rasgar algumas
páginas do Texto Sagrado.
Porém,
neste capítulo desejo analisar alguns falsos ensinos que têm sido propagados em
meio ao povo de Deus. Faço minhas as palavras do Dr. Erickson: “Precisamos nos
guardar contra dois perigos extremos. Não podemos tratá-lo com muita
leviandade, para não subestimar seus perigos”. Em contrapartida, “também não
podemos nos interessar demais por ele”. [1]
Os excessos da
batalha espiritual
O movimento da batalha espiritual é cheio de ramificações. O Dr.
Augustus Nicodemus cita em seu livro “O Que Você Precisa Saber Sobre
Batalha Espiritual” um
estudo do Professor do Christian Counseling & Educational Foundation (CCEF), David Powlison, no qual são
citadas quatro linhas do movimento em questão:
1) Os
carismáticos, representado dentre várias personalidades por Benny Hinn;
2) Os
dispensacionalistas, de orientação não-carismática, com uma filosofia menos
fantástica e mais concentrada em aconselhamento pastoral e oração em favor
pelos oprimidos, cujos proponentes mais conhecidos são Mike Bubeck e Merril
Unger;
3) Uma
linha mais moderada com representantes como Neil Anderson, Timothy Warner e Ed
Murphy e
4) a que tem mais popularidade no Brasil, identificada com o
diretor de Escola de Missões Mundiais doSeminário Fuller, C.
Peter Wagner [2].
Peter
Wagner é um dos autores mais lidos no Brasil na categoria batalha espiritual e
seus ensinos compreendem práticas como “espíritos territoriais”, “mapeamento
espiritual” e “quebra de maldições”. É nessa doutrina de quebra de maldições
que se encontra a questão das maldições hereditárias, difundida por vários autores
estrangeiros como por exemplo, a Dra. Rebecca Brown, e que acabou por
influenciar líderes brasileiros como Valnice Milhomens, Neuza Itioka e Robson
Rodovalho, dentre outros.
Falar
sobre maldições hereditárias sem entender o contexto do movimento da batalha
espiritual é entender o assunto pela metade, por isso, abordarei nas páginas
seguintes os excessos do movimento e o que ele tem a ver com as práticas
gedozistas.
Como já dito anteriormente, a batalha espiritual é bíblica. A
Bíblia diz que “houve guerra no céu: Miguel e os seus anjos
batalhavam contra o dragão. E o dragão e os seus anjos batalhavam, mas não
prevaleceram, nem mais o seu lugar se achou no céu” (Ap 12.7,8). Não
podemos ignorar que o diabo, nosso adversário, “anda em derredor, rugindo como
leão, e procurando a quem possa tragar” (1 Pe 5.8).
Nicodemus diz que o problema com muitos defensores da ‘batalha
espiritual’ é que não dão ênfase suficiente no aspecto já realizado da obra de
Cristo, da sua vitória sobre Satanás, tendendo a diminuir o poder a eficácia da
suficiência de Cristo na vida do crente [3].
O
excesso da abordagem desta guerra metafísica em detrimento de outros
ensinamentos bíblicos tem gerado crentes neuróticos, que enxergam demônios
atrás das árvores, debaixo do tapete, dentro do lustre, na marca de um produto,
num microfone que deixa de funcionar, na corda de um violão que arrebenta, numa
foto que saiu com a resolução distorcida, no carro que não pega, no tropeção
que leva na rua, etc.
Para se
ter dimensão do que estou dizendo, Gary Greenwald afirma que é possível que
espíritos malignos sejam transferidos para crentes de 6 maneiras: 1) viver numa
cidade onde os espíritos dominantes seduzem os crentes, 2) viver em associação
com descrentes, 3) assistir fitas de cinema ou vídeo que expõem pornografia e
violência, 4) transferência de espíritos de antepassados ímpios, 5) imposição
de mãos por parte de pessoas erradas e 6) líderes espirituais que não são
realmente homens de Deus [4].
Esses
ensinamentos se assemelham mais a filmes de terror ou a crenças animistas do
que o que ensina a Palavra de Deus e levanta questionamentos pertinentes: “como
vou trabalhar agora? Lá eu lido com ímpios pelo menos 9 horas do meu dia”. Alex
W. Ness, outro autor dessa corrente, contou o seguinte:
Descobriram
que um evangelista que dirigia reuniões especiais em uma igreja era
homossexual. A igreja o demitiu e a denominação revogou suas credenciais, mas
ele alugou um salão de baile de um hotel e anunciou seus próprios serviços. As
pessoas sabiam do problema, mas iam para suas reuniões. Um casal veio até ele e
disse: ‘sabemos sobre as acusações, mas não acreditamos neles. Ore por nós.’
Ele orou (presumivelmente com imposição de mãos), e pouco tempo depois, eles
também se tornaram escravizados pela homossexualidade. [5]
O
problema desse caso é que os defensores da batalha espiritual demonizam tudo,
passando a mistificar o que está ao nosso redor. Além disso, confundem a
atuação de demônios com obras da carne ou com emoção humana.
Segundo
Ness, citado acima, há demônios que ele chama de espíritos de tristeza (1 Sm
1.5), altivez (Pv 16.18), enfermidade (Pv 18.14) e angústia (Is 61.3), além de
afirmar que esses espíritos podem ser transferidos ou transmitidos para
terceiros [6]. Nicodemus explica essa confusão:
Os demônios
denominados pela ‘batalha espiritual’ como sendo demônios da lascívia, do ódio,
da ira, da vingança, da embriaguez, da inveja e assim por diante, não aparecem
no Novo Testamento. Essas coisas são, na verdade, as obras da carne mencionadas
por Paulo em Gálatas 5.19-21. A solução para esses pecados não é expulsar
demônios que supostamente os produzem, mas arrependimento, confissão e
santificação. [7]
Muitos
acabam não crescendo na fé porque ficam inventando desculpas espiritualizadas,
jogando a culpa de seus atos no nosso adversário. Claro que o diabo se
aproveita de situações, mas dizer que é ele o autor de todos os problemas é
superestimar sua atuação.
Certa vez houve um caso num determinado ministério em que alguém
aconselhado solicitou segredo à pessoa a quem abrira o coração. O próprio
pastor dessa denominação foi quem contou para alguns irmãos e o fato que fora
pedido sigilo espalhou-se como um tsunami pela
congregação.
A ovelha chateada com o ocorrido, foi conversar com o pastor
sobre como ele deixara a informação vazar. A resposta foi fácil: “o diabo é que armou tudo isso”. Infelizmente, muitas
pessoas simplesmente não assumem suas falhas e demonstram ser mais fácil culpar
o diabo de suas carnalidades.
Além
desse tipo de comportamento, atualmente há um grande acervo de materiais de
ex-satanistas ou de escatologia aterrorizante misturada com teoria da
conspiração. O resultado disso é absolutamente catastrófico.
Um dos principais autores que já fez parte de ocultismo é Daniel
Mastral. Autor da trilogia “Filho do Fogo”, “Guerreiros da Luz” e “Voz que Clama no Deserto”,
ele mesmo admite que seus livros deixaram muitos crentes neuróticos, achando
que há satanistas por toda parte, infiltrados nas igrejas, debaixo do tapete e
desconfiando até do chefe da empresa onde trabalham. Mastral conta que
era
fácil de ver que muita gente começou a viver verdadeiros delírios coletivos por
causa das revelações do livro. De repente, todo mundo estava sendo perseguido
pela Irmandade, ou alguém da família é que estava, ou havia suspeitos na
igreja, no serviço. Todo mundo estava debaixo de encantamentos. Todo mundo
tinha sido visitado em casa pelo próprio satanás, todo mundo precisava da minha
oração, da minha unção. [8]
Os
representantes das teorias da conspiração também têm contribuído para este tipo
de comportamento, encontrando integrantes da Illuminati por toda a parte. O
pastor Ciro Sanches Zibordi comenta algo bastante pertinente a esse assunto:
Os
teólogos do terror devem estar muito felizes e rindo à toa! Eles estão conseguindo
produzir crentes paranoicos que não estudam as Escrituras Sagradas, não
frequentam a Escola Dominical e preferem ser manipulados por DVDs em série.
Apresentando-se como os propagadores das ‘verdades ocultas’, aquelas que os
pastores não têm coragem de dizer, os aterrorizadores de plantão têm conseguido
convencer os incautos de que tudo à nossa volta é conspiração da Nova Ordem
Mundial. Eles ganham dinheiro para afastar os servos de Deus da Escatologia
Bíblica e transformá-los em neuróticos, ‘caçadores de bruxas’.[9]
Bem, a
temporada de caça às bruxas está em aberto. Os defensores da batalha espiritual
podem se inscrever para a peleja contra os mais variados demônios, desde os
malcheirosos até personagens mitológicos.
Outros exageros
sem fundamento
É até
interessante citar que, para Renê Terra Nova, não existem “mistérios,
ocultismos ou misticismos” nos encontros. Ele até sugere que, lendo o guia
oficial do Encontro, poderemos detectar essa verdade e afirma não haver nenhuma
transição da teologia tradicional para a neopentecostal. Todavia, é justamente
o oposto que encontramos nesse manual. Doutrinas como quebra de maldição e
misticismo em torno do número 12, dentre outras, são verificadas em seus
ensinos. Ele chega até a enquadrar “guerra espiritual” como sendo parte das
doutrinas básicas do cristianismo![10]
Não bastassem os excessos já citados nas seções anteriores, os
propagadores do movimento da batalha espiritual possuem ainda, outros desvios
um tanto quanto preocupantes. Já tive a oportunidade de ver líderes preocupados
em bocejar num culto, temendo estarem endemoninhados. Depois de lerem livros
que ensinam coisas sem pé e nem cabeça, preocupam-se com coisas sem fundamento
bíblico. Veja o que Frank e Ida Mae Hammond escreveram no livro “porcos na sala”:
Uma
outra faceta das manifestações demoníacas é a dos cheiros. Lembro-me de uma vez
em que estávamos ministrando numa casa pastoral. A casa ficou tomada por um
malcheiro parecido com o de repolho cozinhando que, para mim, é um cheiro ruim.
Numa outra ocasião, eu estava expulsando um demônio de câncer. Ele saiu
acompanhado por um cheiro distinto, igual ao que encontramos num hospital de
câncer. Quando os demônios são expulsos, normalmente saem pela boca ou pelo
nariz. Os espíritos estão associados à respiração. Sem dúvida, a manifestação
mais comum é tossir. A tosse pode ser seca, mas em geral é acompanhada de
catarro. Outras manifestações pela boca incluem: choro, grito, suspiro, arroto
e bocejo. [11]
Além de
demônios malcheirosos, ainda podem se manifestar através de choro, grito,
suspiro, arroto e bocejo?! Os ensinamentos não param por aí, existem alguns
ministros que afirmam ser necessário conhecer o nome do demônio para
expulsá-los com sucesso.
O Dr.
Paulo Romeiro explica essa prática dizendo que, se alguém expulsar Maria
Molambo (entidade do culto afro) e se não é ela quem está na pessoa, mas, sim,
Maria Padilha (outra entidade do culto afro), não funciona.
Ele
também refuta essa prática mostrando que isso é reconhecer um panteão
mitológico, pois à luz da Palavra de Deus, não existe Pomba-Gira, Maria
Padilha, Maria Mulambo, Iemanjá, Oxalá ou qualquer tipo de Exu. À luz da Bíblia
todos são demônios.
Romeiro
prossegue explicando que, se alguém insiste em crer assim, logo vai querer
expulsar também o espírito de Papai Noel, gnomos, duendes, Afrodite, Vênus,
Zeus, Marte, Saturno, deuses mitológicos e figuras da superstição popular,
dentre outros, como Brumaus, Tremus, Aurius, Cumba, Ismaichia, Krion, Kruonos,
Sinfiris, etc. Ele comenta ainda:
Tem até
demônio com nome de Joaquim. Que ofensa para tantos homens de Deus com o mesmo
nome! O incrível é que esses nomes e informações foram obtidos através de
entrevistas e diálogos com os demônios no ato do exorcismo. Logo, tratam-se de
revelações demoníacas e não bíblicas, não tendo muita diferença com as obtidas
numa sessão espírita. [12]
Além de
se preocuparem em descobrir o nome desses demônios, outro problema é como
descobrem esses nomes. Peter Wagner relata em seu livro “Oração de Guerra” uma
pesquisa feita pela psicóloga americana Rita Cabezas, a qual exerce suas
atividades em San Jose, na Costa Rica. Ele dá crédito ao “modelo científico” de
Rita, dizendo o seguinte:
Ela
descobriu que diretamente sob Satanás estão seis principados mundiais chamados
Damian, Asmodeo, Menguelesh, Arios, Belzebu e Nosferasteus. Sob cada um, diz
ela, há seis governadores sobre cada nação. Por exemplo, os que estão sobre
Costa Rica são Shiebo, Quiebo, Ameneo, Mephistopheles, Nostradamus e Azazel. Os
que estão sobre os Estados Unidos são Ralphes, Anoritho, Manchester, Apolion,
Deviltook e um anônimo. A cada um desses governadores tem sido delegada uma
área do mal. Por exemplo, a lista sob Anoritho inclui abuso, adultério,
alcoolismo, fornicação, glutonaria, ganância homossexualismo, lesbianismo,
concupiscência, prostituição, sedução, sexo e vício; enquanto sob Apoliom
encontramos agressividade, morte, destruição, discórdia, desacordo, rancor,
ódio, homicídio, violência e guerra. Nenhum desses acima é considerado como
conclusão final, pois a pesquisa ainda está em processo. [13]
Conforme podemos ver no livro “Desmascarado” de
autoria de Rita Cabezas, o método que ela usa para “descobrir” os mistérios da
hierarquia satânica consiste em revelação de demônios. O Apóstolo Paulo disse a
Timóteo que “em tempos posteriores alguns apostatarão da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores,
e a doutrinas de demônios” (1 Tm 4.1 – Grifo meu).
Podemos
verificar em conformidade com as Sagradas Escrituras que Jesus nunca ficou
perguntando nome de demônio, a fim de expulsá-los. Nem mesmo os discípulos o
fizeram. Na verdade, os espíritos malignos se submetiam a eles em Nome de Jesus
(Lc 10.17).
No caso
do endemoninhado geraseno (Mc 5.1-20), a expressão Legião não se referia ao
nome de um demônio e sim à quantidade, isto é, porque eram muitos.
Rita Cabezas chega a dizer que teve a impressão de que um
demônio “entrevistado” por ela estava dizendo a verdade [14]. Justificando sua metodologia, ela declara que “existem pessoas que asseguram que tudo aquilo que os demônios
dizem é mentira” [15], mas depois de contar um caso que vivenciou ao
“obrigar” um demônio a dizer a verdade, ela declara que se ordenarmos em Nome
de Jesus ele falará apenas a verdade. Embasada nessa afirmativa, ela relata um
caso em que permitiu um amigo psicólogo entrevistar um demônio.
Acredita que ela chega a declarar que o demônio disse tanta
verdade que evangelizou o rapaz? Ora, não foi qualquer pessoa quem disse que os
demônios mentem. Jesus declarou que o diabo “é homicida desde o princípio, e
nunca se firmou na verdade, porque nele
não há verdade; quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio; porque é mentiroso, e pai da
mentira” (Jo 8.44 – Grifos meus).
Como
então dar crédito ao que os demônios dizem? Outra preletora da Batalha
Espiritual também diz ter recebido “revelações” e registrou algumas dessas
informações em uma apostila de libertação:
Recebemos
as revelações no dia 3-11-90, quando fomos fazer um trabalho de libertação na
casa de uma pessoa, e o Minotauro e o Centauro dominavam e controlavam outro
demônio de casta muito baixa, chamado ‘Amoran’ – tipo de uma lesma que atua nos
homossexuais. São destituídos de inteligência (…) Só pode ser exterminado
dividindo-se em dois ou queimando com o ‘Fogo do Espírito Santo’; não se
expulsa, pois ele não entende a linguagem dos humanos.[16]
Bill
Subritzky, outro representante do movimento também conta que obteve
“revelações” dos demônios, veja:
O umbigo
é muitas vezes um ponto de entrada para o poder demoníaco. Ele poderá usá-lo,
descendo pelo cordão umbilical antes ou durante o nascimento. Os espíritos
malignos já me disseram que entraram através de sêmen masculino na mulher, e
daí pelo cordão umbilical para dentro da pessoa a quem eu ministrava. [17]
Não
vemos na Palavra de Deus os Apóstolos entrevistando os demônios e nem sequer
dando crédito aos seres que Paulo chama de espíritos enganadores.
Infelizmente,
conforme podemos ler nas passagens dos livros citados, os autores confiam nas
supostas “revelações” que os demônios lhes dão. Será que não estamos
vivenciando um período na era da Igreja em que líderes estão pregando doutrinas
de demônios, como disse Paulo a Timóteo (1 Tm 4.1)?
Chamem o Van
Helsing
Mais precisamente “Van Helsing, o caçador de
monstros”, é o nome do filme estrelado por Hugh Jackman, que
interpreta o personagem Van Helsing, um caçador de monstros como Frankenstein,
vampiros e lobisomens. De acordo com o filme, ele é um especialista do século
XIX que foi contratado pela igreja católica para eliminar o Conde Drácula.
“O que isso tem a ver com Batalha Espiritual?” Você deve estar
se perguntando. Não deveria ter nada a ver, eu responderia, entretanto, alguns
relatos estão mais para esse tipo de filme do que para a realidade bíblica.
Para não ficar apenas nas minhas palavras veja um trecho do livro “Ele Veio Para Libertar os Cativos” de autoria da Dra.
Rebecca Brown:
Lobisomens,
zumbis, vampiros e outros animais repugnantes também existem, vi muitos deles e
Satã os mantêm muito bem guardados e vigiados. Ninguém pode controlá-los,
exceto Satanás e seus mais poderosos demônios. Ele os usa, principalmente, para
a disciplina. Nunca esquecerei um incidente em que um lobisomem foi enviado
contra um homem, durante uma reunião. Este saltou e correu com o lobisomem rosnando
atrás dele. Logo chegou à conclusão de que não conseguiria fugir do
animal-humano, assim, sacou de uma magnum 357 e atirou contra ele, este, por
sua vez, nem sequer vacilou. O que fez foi estraçalhar o homem todo. Ninguém na
congregação ousou mover-se ou fazer qualquer ruído, com medo de ser o próximo.
[18]
Além do
livro de se assemelhar aos filmes terror, figuras folclóricas são tidas como
existentes. Quando li esse livro, questionei biblicamente esse ponto de
lobisomens a alguns líderes. Segundo eles, o endemoninhado de geraseno era um
exemplo.
Infelizmente
há pessoas com a imaginação tão fértil e sem o mínimo de critério, que de
alimentam de qualquer coisa. Não há nenhuma base que faça ligação entre o
geraseno com um lobisomem! Veja como Rebecca tenta explicar o que é mito e o
que é verdade sobre os “lobisomens”:
Vejamos
um pouco do que se sabe sobre esses animais malignos especialmente os
lobisomens. Em primeiro lugar, é dito que se uma pessoa for mordida por um
lobisomem, ela se tornará um deles. Sinto que isso está completamente errado. A
Bíblia indica que, para uma pessoa ser afetada à esse nível, ela deve estar em
um relacionamento com os demônios que é proibido por Deus. Por outro lado, de
minha própria experiência e pela experiência de outros, é pouco provável que
uma pessoa seja mordida por um lobisomem. [19]
Não sei
se em sua mente passou a mesma pergunta que na minha, mas vou expor aqui meu
questionamento: onde em toda a Bíblia indica que uma pessoa pode se tornar um
lobisomem se for mordido por outro? Aliás, onde diz algo sobre lobisomem? Pela
experiência da Dra. há possibilidade, ainda que pouca, há possibilidade. Seu
argumento para essas criaturas não são baseados nas Sagradas Escrituras e sim
em mitos e lendas:
Essas
criaturas são pessoas possuídas por demônios poderosos capazes de fazer a
mudança física necessária nos corpos das mesmas. São bastante precisos os
relatos dos cristãos primitivos sobre esses animais malignos na época sombria
da Europa. Nunca encontrei nada a respeito, exceto, nas galerias da mansão
satânica nas montanhas da Califórnia. [20]
Embora
ela não tenha tentado mostrar biblicamente os lobisomens, ela o faz para
vampiros:
Acha-se
a minha alma entre leões, ávidos de devorar os filhos dos homens; lanças e
flechas são os seus dentes…’ (Salmo 57.4). Ao lembrar que a maioria dos
escritos de Davi, nos Salmos, dizem respeito à batalha espiritual e o fato de
que sua alma, e não o corpo, estava sendo atacada, fico me perguntando se ele
não estaria se referindo às pessoas habitadas pelos demônios do vampirismo.[21]
Dizer
que Davi estava sendo oprimido por pessoas habitadas por demônios do vampirismo
é abusar da exegese. Essas questões controvertidas são de conhecimento desses
escritores. Eles sabem que não dá para engolir suas “experiências” quando a
filtramos pela Bíblia Sagrada.
Na
apresentação do livro de Rebecca, o pastor Ciro Otávio da Igreja Batista da
Floresta em Belo Horizonte elogia a coragem da Dra. Brown em escrever o livro
“mais pelo risco de se expor, como o fez, perante o povo evangélico, do que
pela possibilidade de reação hostil por parte dos demônios”.
Claro
que é arriscado expor uma doutrina sem fundamento bíblico, pois o povo
evangélico consciente, estudioso da Palavra de Deus (nem me refiro aos teólogos
e conhecidos apologistas), descartará tal ensinamento.
Na
apresentação de uma literatura de outra preletora brasileira lemos o seguinte
argumento: “É possível que você não concorde com todas as afirmações da Neuza
neste livrete”.[22] No mesmo material, Neuza afirma que os anjos das cartas de
Apocalipse (Ap 2-3) não são pastores, como tradicionalmente é interpretado e
sim anjos literais que incorporam e absorvem o estado espiritual da Igreja.
Quando a comunidade apresenta uma decadência espiritual, alguns desses anjos são
substituídos por demônios, segundo seu ensinamento.[23]
Mas como
sempre, as bases que são utilizadas não são a Bíblia e sim as experiências das
pessoas, conforme vimos em escritos de Wagner, Cabezas, Brown e Itioka. A esse
tipo de argumento chamamos de empirismo, isto é, o conhecimento fundamentado na
experiência.
O fato é
que, precisamos sim, analisar cautelosamente esses tipos de ensinos evitando
assim, os exageros que o movimento tem gerado no arraial evangélico.
Satanás é
onipotente?
O
movimento da batalha espiritual acaba por resgatar um tipo de heresia que já
foi combatida há séculos pela Igreja: o Maniqueísmo.
Esse foi
o movimento fundado por Mani, que foi considerado com o último dos gnósticos.
Ele nasceu por volta de 216 d.C. na Babilônia e ensinava que Deus usou diversos
servos, como Buda, Zoroastro, Jesus e, finalmente, ele mesmo, o profeta final
(paracleto, como ele afirmava). Dizia, ainda, que o universo é dualista, isto
é, existem duas linhas morais em existência, distintas, eternas e invictas: a
luz e as trevas. Segundo os maniqueístas, essas duas forças cósmicas eram
iguais, porém, opostas entre si [24].
As
idéias de Mani foram refutadas por Orígenes e Agostinho, sendo ainda rejeitadas
pela Igreja por contrariar a Soberania de Deus em controlar todas as coisas,
além de ser satanás uma mera criatura, diferentemente da forma como o
consideravam. O Dr. Augustus Nicodemus compara o pensamento maniqueísta com o
movimento da batalha espiritual e diz que
muito
embora o neguem em seus discursos, alguns da ‘batalha espiritual’ enfatizam e
descrevem o poder de satanás e seus demônios de tal modo que se tem a impressão
de que, na prática, eles acreditam terem esses espíritos poder quase igual ao
de Deus.[25]
Para
entendermos melhor essa visão dualista extremista, a qual acaba atribuindo um
poder ao diabo o qual ele não possui, basta dar uma passada pelas páginas do
livro já citado de Neuza Itioka.
Ela
desfecha um ataque à suficiência de Cristo, e qualifica a confiança do crente
na obra de Jesus como “ufanismo festivo” e “triunfalismo vazio”, além de dizer
que essa confiança é um empecilho ao progresso da igreja.[26] O Dr. Myer
Pearlman explica melhor acerca do poder que tem satanás:
Ao mesmo
tempo que reconhecemos que satanás é forte, devemos ter cuidado para não
exagerar seu poder. Para aqueles que crêem em Cristo, ele já é um inimigo
derrotado (Jo 12.31), forte apenas para aqueles que cedem à tentação. Apesar de
sua fúria violenta, ele é covarde, pois Tiago disse: ‘Resisti, pois ao diabo e
ele fugirá de vós’ (Tg 4.7). Ele tem poder, mas limitado. Não pode tentar (Mt
4.1), afligir (Jó 1.16), matar (Jó 2.6; Hb 2.14) nem tocar no crente sem a
permissão de Deus. [27]
É esse
tipo de ensino que Itioka classifica como “ufanismo festivo” e “triunfalismo
vazio”. Todavia, o sacrifício de Cristo é suficiente para que possamos empregar
nossa confiança de que nEle somos mais do que vencedores.
O Dr. MacArthur conta sobre uma declaração de C. Peter Wagner
registrada no Jornal Los Angeles Times de
que poucos têm a habilidade necessária para enfrentar satanás e que em função
desse despreparo correm o risco de serem devorados pelo inimigo de nossas almas
no café da manhã. Veja como MacArthur refuta a declaração de Wagner:
Causa-me
espanto o número de cristãos que são arrastados ao florescente movimento da
‘batalha espiritual’ estou convencido de que ele representa uma doentia
obsessão por satanás e pelos poderes demoníacos. A julgar pela influência,
milhares de cristãos realmente crêem que, se não comparecerem a um acampamento
de batalha espiritual e não aprenderem alguma estratégia para combater
demônios, satanás vai lhes devorar no café da manhã. Isso é verdade? Existe
alguma estratégia secreta para se aprender com os ‘peritos’ a arte da batalha
espiritual? Os cristãos precisam estudar técnicas místicas para confrontar e
dar ordens às forças malignas, ‘amarrando’ o diabo, ‘derrubando as fortalezas’
de demônios territoriais e outros complexos estratagemas do combate metafísico?
Estaremos sendo simplistas por pensar que a armadura, escrita em Efésios 6, é
suficiente para nos livrar de sermos devorados por satanás no café da manhã?
Absolutamente, não. Uma das gloriosas verdades a respeito de nossa suficiência
em Cristo é que já somos mais que vencedores na grande batalha espiritual
cósmica (Rm 8.37). Satanás já um inimigo derrotado (Cl 2.15; 1 Pe 3.22).[28]
A
declaração de MacArthur rebate o que Neuza Itioka questiona a respeito de nossa
confiança em Cristo Jesus. O problema é que, os adeptos do movimento da batalha
espiritual atribuem um poder a satanás que ele não possui, ao ponto de dizerem
que sem libertação não há salvação.[29]
Infelizmente,
a maioria dos cristãos que se deixa influenciar por esse movimento acaba dando
mais ênfase no diabo do que na pessoa de Deus. Ao abrir um culto expulsam
demônios o tempo todo. É como se a cada 10 minutos de oração, nove fossem
dedicados apenas a expulsar os espíritos malignos.
Há
alguns meses recebi uma ligação de uma irmã em Cristo que se mudou para a
região de Belo Horizonte. Lá, acabou se afiliando a um ministério o qual é
voltado para batalha espiritual e libertação.
Ela
contava que enquanto cooperava num culto, o pastor expulsava demônios e mais
demônios e que a atmosfera do ambiente ficou pesada, como que cheia de
opressão. Algumas pessoas ficaram endemoninhadas e quando ela foi para casa
estava ainda com a sensação de ter a cabeça pesada.
Ela
contava isso com tanta alegria, como se fosse algo bom e eu me perguntava:
“onde está a adoração a Deus num culto como esse?” Mas é assim que esses
ministérios trabalham, como se estivessem literalmente guerreando contra as
forças do inferno.
Noutra
oportunidade, um pastor contava que foi orar no monte. Naquela ocasião, havia
muitas moscas no lugar em que foi orar e ele então se lembrou de que belzebu
significa senhor das moscas. Foi quando ele travou uma batalha contra esse
demônio até que os insetos saíssem de lá.
Enquanto
muitos exageram no poder de satanás, outros exageram na autoridade que foi
concedida ao cristão. Valnice Milhomens disse que a oração de guerra deve ser
baseada na autoridade que Jesus deu para prender e soltar e pisar todo poder do
maligno.[30]
Deve ser
por isso que estamos ainda em “guerra espiritual”, pois alguns devem estar
prendendo as hostes malignas e outros devem estar soltando. Aliás, que
fundamento tem em um cristão soltar demônios? Isso está mais para bruxaria e
cultos afro.
O
exagero é tão evidente que Milhomens declara que a carta de Paulo aos efésios
foi escrita em um contexto de batalha espiritual.[31] Todavia, ler apenas um
trecho do capítulo 6 para tirar tal conclusão é abusivo, e é a prova concisa de
que esse movimento é reprodutor de crentes neuróticos, os quais vivem em uma
espécie de jornada nas estrelas espiritual, desconsiderando a hermenêutica e a
exegese bíblica.
Ah,
respondendo à pergunta “satanás é onipotente”? Claro que não. Esse é um
atributo incomunicável, isto é, exclusivo de Deus. Mais ninguém pode ser
detentor de todo poder.
Para
exemplificar biblicamente, basta olharmos para encantadores que tentaram imitar
os sinais de Deus. Eles copiaram a transformação da vara de Arão em serpente,
imitaram a primeira praga na qual as águas se tornaram em sangue e o último
plágio foi o da proliferação das rãs. Quando se iniciou a terceira praga, a dos
piolhos, os encantadores não conseguiram reproduzir e declararam eles mesmos
que era o dedo de Deus (Êx 8.18,19).
Mapeamento Espiritual & Espíritos Territoriais
A crença
em espíritos territoriais nada mais é do que um ensino de que há demônios
específicos que comandam determinada área geográfica, dificultando assim a
propagação do Evangelho. Baseados nisso, seus defensores acham necessário
conhecer o nome dos demônios que governam tal local a fim de guerrear contra
eles, expulsando-os e abrindo o espaço para que a igreja avance em sua missão.
Esse
pensamento os leva a entender que o governo e os órgãos liderados por pessoas
não convertidas estão demonizados, havendo a necessidade de expulsar esses
espíritos das trevas.
Colin Dye, um representante internacional do G-12 comenta em seu
livro “satan unmasked” que as forças de satanás dominam as
artes, o comercio, a religião, as políticas, todos os exércitos do mundo, além
de incitá-los para a guerra e destruição. Seu conselho é que o crente
use a
espada da Palavra de Deus para lutar contra as tentações da ambição e da
soberba – como Cristo fez no deserto. Esta espada é a Rhema de Deus: não está
limitada à Bíblia; Pode incluir uma palavra falada ou uma expressão
profética.[32]
Para
expulsar satanás dos órgãos públicos e privados, utilizam algumas ferramentas
como o mapeamento espiritual, acompanhados de atos proféticos (expressões
proféticas) e estratégias de espionagem. Este mapeamento consiste em separar as
áreas geográficas, como por exemplo, pegar o mapa da cidade e dividi-lo em
bairros, distritos, etc.
Normalmente
são marcados pontos onde há igrejas católicas, centros espíritas, lojas
maçônicas, cemitérios, terreiros, casas de prostituição, dentre outras.
O
próximo passo seria responder a um questionário, como ensina o Apóstolo
Francisco Nicolau, líder e fundador da Igreja Batista das Nações, baseado em um
livro de Cindy Jacobs, o qual contempla as seguintes perguntas:
1) Por
que (como) sua cidade (Nação) foi fundada? 2) Quem foram os fundadores? 3) O
que eles planejavam para esta(s) cidade(s)? 4) O que as pessoas dizem a
respeito delas mesmas (Orgulho)? 5) Que tipos de músicas as pessoas gostam? 6)
Que tipo de arte há na cidade e onde está sendo exibida? 7) Onde foram
construídos os edifícios? Alguns tem estátuas na frente (sensualidade, etc.)?
8) Como é a arquitetura e o local dos prédios? 9) Como foi introduzido o
evangelho na região? 10) Ensinaram apenas tradição? Ou coisas que amarram? 11)
Que organizações secretas há na cidade? 12) Atributos da cidade? O que a cidade
celebra? O nome da cidade? Cremos que esta lista pode ser aumentada: 13) A quem
a cidade foi dedicada? (Santo/padroeiro)? 14) Comércio que predomina? 15) Há
algum tipo de exploração? (profissional, sexual, no solo, etc.) 16) Há algum
tipo de proteção ilegal? (jogatina, corrupção, plantação, extração ou venda de
drogas, etc…) 17) Há muitos pobres, menores abandonados, viúvas, bêbados,
prostitutas, homossexuais? 18) É cidade turística? Que tipo de turismo? O que
atrai?[33]
Sobre as
entidades demonizadas, ele ensina que:
Jesus
não salva jumentos, mas usa jumentos para servi-Lo. Jesus libertou jumentos
para servi-Lo; as Companhias, as Empresas, os Bancos, não se podem salvar, mas
podem servir aos filhos de Deus. A Bíblia diz que se o jumento não fosse
redimido teria o seu pescoço quebrado, assim as empresas, se não servirem ao
Senhor, terão seus pescoços quebrados (falência). Há vários testemunhos desta
realidade, muitas empresas brasileiras serviram o inimigo fornecendo armas e
máquinas de guerra para serem usadas contra Israel e hoje estão falidas.
Poderemos ainda citar um determinado canal de televisão que não abria as portas
para o Evangelho e entrou numa situação muito crítica enquanto o povo de Deus
orava. Hoje é um dos que mais favorece ao povo de Deus; há um número muito
grande de programas evangélicos em sua programação diária.[34]
Além
disso, ele defende que no exército de Cristo, “é preciso de espiões, para saber
informações sobre o inimigo”,[35] e conta que muitas igrejas têm enviado
crentes preparados para participarem de encontros como da Nova Era, por
exemplo, e que já foi muito abençoado com as informações trazidas por irmãos
que enviou para esse trabalho de espionagem. Tudo isso baseado nos espias que
Moisés enviou a Canaã.
O fato é
que não vemos Paulo preocupado em saber nome de demônios a fim de expulsá-los.
Esteve em diversas cidades pagãs, como em Éfeso e nem por isso se dirigiu ao
“espírito” de Diana, ou espíritos de feitiçaria, de homossexualismo, de
adultério, de morte, etc.
Em
Atenas ele nem sequer se preocupou com os vários ídolos que eles tinham. Seu
foco foi apresentar-lhes o Deus desconhecido que não habita em templos feitos
por mãos de homens (At 17.15-33).
O Dr.
Paulo Romeiro comenta o ensino do casal Lourenço e Estefânea Kraft sobre o mapeamento
da cidade de Parati, no Rio de Janeiro, a qual foi fundada como uma plataforma
para aventureiros gananciosos em busca de ouro e pedras preciosas em Minas
Gerais.
Segundo
eles, o fato de traficantes de escravos e comerciantes de tabaco e pinga se hospedarem
na cidade deixou o local conhecido como “capital da cachaça”, o que rende a
satanás a oportunidade de trabalhar nesta comunidade. Veja o que diz Romeiro
sobre o assunto:
Se
aplicássemos o exemplo de Parati em Paris, poderíamos dizer que a capital da
França e os seus moradores vão muito bem espiritualmente, pois Paris é
conhecida como a “Cidade Luz”. Poderíamos dizer o mesmo também do Rio de
Janeiro, que a cidade não tem os problemas ou os pecados que lhe são
atribuídos, pois o Rio é conhecido como a “Cidade Maravilhosa”. Salvador, um
nome tão bíblico e com um significado espiritualmente fantástico, deveria fazer
da capital da Bahia o centro evangélico do Brasil. Entretanto, a cidade
tornou-se o centro do culto afro da nação. E o que dizer do Estado do Espírito
Santo, cuja capital é Vitória. Com esses nomes, não deveria ser um paraíso de
santidade? No entanto, não é o que acontece. Há muitos outros exemplos
assim.[36]
Embora
esses assuntos despertem mais interesse nas pessoas do que estudar sistematicamente
a Palavra de Deus ou participar de uma Escola Bíblica Dominical, eles não
encontram o devido apoio bíblico.
Sei que
várias são as personalidades renomadas e respeitadas que ensinam essas
doutrinas, mas o próprio Apóstolo Paulo deixou claro que mesmo que fosse ele a
pessoa a ensinar algo que ultrapassasse o verdadeiro evangelho, este
ensinamento deveria ser repudiado e considerado maldito (Gl 1.8).
Maldições
hereditárias
De
acordo com o movimento de batalha espiritual, as pessoas podem estar sob
influência de demônios em função de maldições que não foram quebradas. Essas
maldições não necessariamente dizem respeito às práticas pecaminosas cometidas
por alguém depois que nasceu de novo.
Podem
ser de familiares de gerações antigas, que se não forem confessadas e quebradas
dão direito de atuação demoníaca. A isso chamam de maldições hereditárias.
Esse
ensino é bastante difundido entre os gedozistas e normalmente é no “Encontro”
que a pessoa terá o primeiro contato com a doutrina. Quando o ministério
enfatiza mais os trabalhos de libertação, as maldições hereditárias não serão
nenhuma novidade.
Segundo
seus propagadores, as maldições são resultado do pecado, seja pessoal ou de
algum familiar mais distante, não importando o tempo de conversão da pessoa,
pois enquanto tal maldição não for quebrada, os demônios têm direito de agir
sobre aquela vida.
Para
isso, muitos fazem até mesmo árvores genealógicas, com o intuito de descobrir o
que seus ancestrais praticaram e através de oração de renúncia, quebrar todas
essas maldições que estão passando de geração a geração. Veja um caso narrado
por Itioka:
Uma
outra senhora, apesar de ter tido um envolvimento profundo com o candomblé e
ter até sido “mulher de Belzebu”, quando se converteu, não quebrou os vínculos
com os demônios (…) Chegou a se casar com um obreiro que logo tornou-se pastor.
O marido, pastor que nunca tinha tido problema com o espiritismo, começou a
mostrar sinais estranhos de envolvimento com as pombas-giras e começou a se
prostituir. Ele enfrentava tentações sobrenaturais na área de sedução sexual,
caindo em adultério devido ao envolvimento pesado de sua esposa com diversas
entidades (…) Quando finalmente conseguiu ser ministrada pessoalmente, teve de
renunciar a mais de sessenta entidades com quem se envolvera nas suas consultas
e conversas, oferecendo sacrifícios, fazendo trabalhos e até tornando-se
‘cavalo’ de muitos deles. Ela quebrou as maldições hereditárias.[37]
De acordo com o entendimento dela, o marido recebeu demônios
devido ao “envolvimento pesado de sua esposa com diversas entidades”. Sua
análise, entretanto, vai de encontro ao ensino paulino: “Porque o marido incrédulo é santificado pela mulher, e a mulher
incrédula é santificada pelo marido crente; de outro modo, os vossos filhos seriam
imundos; mas agora são santos” (1 Co 7.14).
Milhomens
relata uma série de casos de maldições que precisavam ser quebradas e explica
que o pecado não tem tempo, espaço e nem passado, estando vivo há 4.000, 1.000
ou 1 ano. Diz isso para defender que estávamos em nossos antepassados, que
somos sua extensão e herdamos tanto as bênçãos quanto as maldições.[38]
Dentre
esses casos vale destacar um que ela se arrependeu juntamente com mais um grupo
de pessoas, pelo sangue derramado dos índios em nossa terra e que clamava por
vingança. Ela relata, ainda, outro caso em que Peter Wagner chamou um guia
muçulmano à parte durante uma viagem, tomou sua folha de pedido de perdão pelas
atrocidades dos cruzados, escrito em turco, e pediu-lhe perdão pelos pecados
cometidos contra seu povo.[39]
Veja
como Robson Rodovalho, líder e fundador da Comunidade Sara Nossa Terra e um dos
primeiros representantes do movimento G-12 no Brasil pensa acerca das maldições
hereditárias:
Quando
percebemos existir maldições hereditárias nas pessoas, pedimos para que ela
faça uma gráfico da árvore genealógica, até a Quarta ou Quinta geração ou até
onde tem informações. E tentem escrever como foram aqueles antepassados. Como
foram suas práticas, vícios e a história da vida deles. A partir dali, tentamos
discernir se existem maldições que entraram na família, e em oração os quebrar.
Temos que até interceder, pedir perdão por pecados que aqueles antepassados
tiveram, e quebrar os pactos que fizeram.[40]
No
Manual do Encontro, Renê Terra Nova diz que “a maldição hereditária vem por
níveis diferentes e, através das gerações, ela manifesta-se no mal corrente da
época”.[41] Até mesmo doenças que são transmitidas por herança genética são
consideradas como maldições hereditárias, veja abaixo:
Será que
você já observou uma família na qual todos os membros usam óculos? Desde o pai
e a mãe até a criança menor, todos estão usando óculos, e geralmente os do tipo
de lentes grossas. Essas pobres criaturas estão debaixo de uma maldição, e
precisam ser libertas.[42]
O versículo mais utilizado para defender as maldições
hereditárias se encontra em Êx 20.5b: “porque eu, o Senhor teu Deus,
sou Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos até a terceira e
quarta geração daqueles que me odeiam”.
Primeiramente,
o contexto diz respeito ao zelo de Deus quanto à adoração, isto é, Ele não
divide Sua Glória com ninguém (Is 42.8). Não diz nada a respeito de “espíritos”
de alcoolismo, adultério, pornografia, prostituição, etc. Não podemos concluir
com a passagem supracitada que o Senhor amaldiçoa ou amaldiçoará os filhos de
pais idólatras. O contrário também não é verdade. Não é porque o pai é servo
piedoso que o filho terá a mesma bênção do pai.
O que
está em questão no texto de Êxodo 20 é uma figura de linguagem, usada na forma
de uma hipérbole. O que são três ou quatro gerações se comparadas às milhares
que Deus tem misericórdia?
Nós
usamos essa figura de linguagem em frases como “já lhe disse trezentas vezes”,
“tenho um milhão de coisas para fazer”, etc. Meu filho, recentemente, disse que
me ama “infinito”, a fim de expressar seus sentimentos.
Se
interpretarmos tal passagem literalmente, Deus ainda não foi misericordioso com
a humanidade, visto que não há um justo sequer (Sl 53.3; Rm 3.23; Rm 6.23).
Outro
problema com a literalidade da passagem se dá na quantidade de gerações desde
Adão até Jesus: segundo Lucas foi um total de 77 gerações.
Além disso, a Bíblia traz inúmeras passagens que contestam tal
ensinamento. Depois de verem um homem cego de nascença, os discípulos
perguntaram: “Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?
Respondeu Jesus: Nem ele pecou
nem seus pais; mas foi para que nele se manifestem as obras de Deus”
(Jo 9.2,3 – Grifo meu).
Enquanto
não há conversão, até entendemos que uma família viva debaixo da idolatria, ou
com práticas depreciativas. É uma herança cultural e religiosa e não uma
maldição hereditária.
Enquanto
meu pai ainda não havia se convertido, por exemplo, ele me ensinava que eu
deveria sempre andar com preservativo na carteira, mas nem por isso herdei uma
maldição de promiscuidade. Pessoas sem Cristo não possuem os valores do Reino
de Deus e por isso repassam para seus descendentes o que acham certo.
Todavia, quando alguém conhece a Cristo e se arrepende de sua
vida antiga, os velhos hábitos são substituídos e a pessoa dá lugar a uma nova
natureza. Nas palavras do Apóstolo Paulo, “se alguém está em Cristo, nova
criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo”
(2 Co 5.17).
Além disso, o profeta Ezequiel recebeu uma mensagem divina
rejeitando esse tipo de ensino: “De novo veio a mim a palavra do
Senhor, dizendo: Que quereis vós dizer, citando na terra de Israel este
provérbio: Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos se embotaram?
Vivo eu, diz e Senhor Deus, não se vos permite mais usar deste provérbio em
Israel. Eis que todas as almas são minhas; como o é a alma do pai, assim também
a alma do filho é minha: a alma que pecar, essa morrerá” (Ez
18.1-4).
O próprio Deus prossegue dizendo: “Sendo pois o homem justo, e
procedendo com retidão e justiça, andando nos meus estatutos, e guardando as
minhas ordenanças, para proceder segundo a verdade; esse é justo, certamente
viverá, diz o Senhor Deus, e se ele gerar um filho que se torne salteador, que
derrame sangue, que faça a seu irmão qualquer dessas coisas, porventura viverá
ele? Não viverá! Todas estas abominações, ele as praticou; certamente morrerá;
o seu sangue será sobre ele. Eis que também, se este por sua vez gerar um filho
que veja todos os pecados que seu pai fez, tema, e não cometa coisas
semelhantes, que aparte da iniqüidade a sua mão, que não receba usura nem mais
do que emprestou, que observe as minhas ordenanças e ande nos meus estatutos;
esse não morrerá por causa da iniqüidade de seu pai; certamente viverá. Contudo dizeis: Por que não levará
o filho a iniqüidade do pai? Ora, se o filho proceder com retidão e
justiça, e guardar todos os meus estatutos, e os cumprir, certamente viverá. A
alma que pecar, essa morrerá; o
filho não levará a iniqüidade do pai, nem o pai levará a iniqüidade do filho,
a justiça do justo ficará sobre ele, e a impiedade do ímpio cairá sobre ele”
(Ez 18.5,9,10,13,14,17,19,20 – Grifos meus).
Temos
ainda, o exemplo de Asa, o terceiro rei de Judá, que reinou 41 anos (911 – 870
a.C.), depois de Abias, seu pai. A Bíblia nos informa que Asa removeu os
altares estranhos, quebrou as colunas, cortou os aserins e mandou que Judá
buscasse ao Senhor (2 Cr 14.2-5).
Outra
informação importante é que seu pai andou em todos os pecados que seu avô
(Roboão) tinha cometido antes dele, não sendo o seu coração perfeito para com o
Senhor (1 Rs 15.3). Roboão foi um rei áspero, deixou a lei do Senhor, e com ele
todo o Israel (2 Cr 12.1).
Para
piorar, Maacá, sua mãe, fez um abominável ídolo para servir de Asera, o qual
Asa derrubou e, despedaçando-o, o queimou junto ao ribeiro de Cedrom. Não
obstante, ele depôs sua mãe para que não fosse mais rainha em função da
idolatria (2 Cr 15.16).
Repare
que Asa não foi influenciado por seu pai (Abias), avô (Roboão) e nem mesmo
bisavô (Salomão). Não trouxe consigo maldições hereditárias e nenhum profeta
lhe orientou a orar fazendo quebra de maldições e nem mesmo a pedir perdão e se
arrepender pelos pecados de seus antepassados.
Não precisou fazer árvores genealógicas e mapeamento espiritual.
Ele decidiu viver em harmonia com a Lei do Senhor e recebeu o testemunho
bíblico de que “fez o que era bom e reto aos olhos do Senhor
seu Deus” (2 Cr 14.2).
Está
mais do que claro na Palavra de Deus que maldições hereditárias já foram
rejeitadas e não encontram apoio doutrinário nas Sagradas Escrituras.
Não há fundamento pedirmos perdão por algo que algum familiar
cometeu. Como foi registrado pelo profeta Ezequiel, o pecado e a
responsabilidade sobre o mesmo é individual, pois “a alma que pecar, essa morrerá;
o filho não levará a iniquidade do pai, nem o pai levará a iniquidade do filho”
(Ez 18.20).
Se fosse
realmente bíblico, estaria aí a solução para a queda do homem: por que não
confessamos o pecado de Adão? O primeiro pecado da raça humana veio por
intermédio dele. Quebrando essa maldição, estaríamos livres de uma vez por
todas. Por isso é que as maldições hereditárias não possuem fundamento bíblico
e quando cremos nelas, estamos negando a suficiência que temos em Cristo,
afinal, é através dEle que somos livres, não havendo nenhuma condenação para os
que estão em Cristo Jesus (Rm 8.1).
Cura Interior
A Cura
Interior ainda é um tema que divide bastante a opinião no meio evangélico. Mas
se faz necessário entender o que realmente é a cura interior e procurarei
ajudar na compreensão do tema à luz da Bíblia.
Antes de
analisarmos evidências nas Sagradas Escrituras, gostaria de expor alguns
comentários do pastor e psicólogo Silas Malafaia. Uma vez que ele tenha a formação
acadêmica nesta área, pode trazer para nós alguns conceitos importantes.
Segundo o pastor Silas,
cura
interior é a cura da alma do homem, assim conhecida tanto na sociedade, como no
meio evangélico. É buscar a causa da enfermidade e tentar ajudar a pessoa a se
livrar dela.[43]
A Bíblia
ensina-nos a importância de vivermos em santidade e sabemos através do autor da
epístola dirigida aos hebreus que sem esta ninguém verá o Senhor (Hb 12.14). O
Apóstolo Paulo exorta os tessalonicenses a praticarem a santidade em três
níveis: espírito, alma e corpo (1 Ts 5.23).
Muitas
pessoas procuram psicólogos ou psiquiatras para se tratarem na faculdade da
alma, isto é, na área emocional e mental, passam horas expondo seus problemas,
traumas e limitações enquanto a Bíblia nos ensina a melhor maneira para
trazer esse alívio à nossa alma: deitar no divã do Senhor através da oração. É
neste momento que temos a condição de dizer o que nos incomoda, lançando sobre
Ele toda a nossa ansiedade, além de sabermos que estamos sendo cuidados por Ele
(1 Pe 5.7).
Os
problemas da alma aparecem em virtude de traumas emocionais, rejeições,
invejas, ciúmes, dentre vários outros. O pastor Silas comenta um pouco sobre
isso:
Na
linguagem bíblica, na maioria das vezes a palavra alma é traduzida por coração,
a sede da inteligência, dos sentimentos, da vontade e das emoções do homem, e
nela ficam localizadas as lembranças boas ou más. As mensagens negativas,
resultantes de um passado sofrido, de más lembranças, a corrida do dia-a-dia, a
violência nas ruas, a luta pela sobrevivência de um modo geral, o medo, a
vingança, o ódio, o orgulho, os traumas de infância, as comparações, a
humilhação, o abuso, a inconstância, a mentira, a brutalidade, a grosseria, a
vaidade, a ansiedade, a malícia, a injustiça, as perdas em geral, as
indecisões, os relacionamentos, o abandono psicológico, a rejeição – tudo isso
fica escondido e, com o passar do tempo, aparece provocando atitudes e
comportamentos inexplicáveis, fazendo a alma adoecer.[44]
De fato,
podemos encontrar na Bíblia exemplos de pessoas que estavam com problemas
emocionais e que desfrutaram da cura divina.
O
profeta Elias mesmo passou por um momento de depressão e chegou a desejar a
morte (1 Rs 19.4). Naamã, o chefe do exército da Síria, demonstrava seus
problemas emocionais manifestando seu orgulho, mas Deus tratou com ele não
apenas curando-o fisicamente, mas principalmente em seu interior.
É
surpreendente o que aconteceu com este homem. Ele foi até Samaria em busca de
sua cura, bateu à porta do profeta Eliseu, o qual nem mesmo o atendeu e recebeu
a direção através de um mensageiro para mergulhar no rio Jordão. Depois de
esperar ao menos ser atendido e receber tratamento V.I.P. irou-se a tal ponto
de questionar o que o profeta lhe dissera.
Mas o
propósito de Deus era maior, Ele não queria um ex-leproso arrogante e por isso
o enviou para se humilhar num rio cujo significado é “aquele que desce”
(Jordão). Depois da restauração intrínseca, Naamã pôde reconhecer que não há
outro Deus, senão o Deus de Israel (1 Rs 5.15).
A cura
interior faz parte da doutrina da santificação, um processo de separação do
pecado. Algo de extrema importância na cura interior é a respeito do perdão.
Quando alguém guarda amargura e deixa de liberar perdão para quem lhe prejudicou,
passa a nutrir dentro de si sentimentos ruins. A Bíblia nos ensina sobre esse
assunto.
Em 2 Co 2.10,11 o Apóstolo Paulo diz: “E a quem perdoardes alguma coisa, também eu; pois, o que eu também
perdoei, se é que alguma coisa tenho perdoado, por causa de vós o fiz na
presença de Cristo, para que Satanás não leve vantagem sobre nós. Porque não
ignoramos as suas maquinações”. Quando não perdoamos, o diabo se
aproveita da situação para trazer divisão, contendas e inimizades. Malafaia
comenta sobre esse assunto, mostrando que pelo fato de “não saberem lidar com o
perdão de Deus, as pessoas não conseguem perdoar a quem lhes fez mal”.
E como
consequência, “esse tipo de pessoa vive amargurado, complexado, com o coração
ferido, com sentimentos maus em relação àqueles que, na sua história de vida, o
machucou”.[45]
O pastor
Paulo César Lima faz uma importante consideração acerca do que representa a
cura interior:
Conquanto
a nossa análise procure trilhar pelos meandros do equilíbrio, não podemos
deixar de dizer que a ‘cura interior’ – tiradas as excrescências – restaurou a
visão ‘de dentro’ no momento em que o discurso evangélico só se preocupava com
os aspectos externos da salvação, quando ser liberto do fumo e da bebida
tornou-se mais importante do que a restauração da interioridades viciadas e dos
psiquismos corrompidos pelo pecado. Não estou dizendo – entenda-me o leitor –
que a libertação do vício, do fumo e do álcool não seja importante, só que a
libertação em Cristo não é só isso, uma vez que ela vai além do comportamental
e chega às partes mais profundas das emoções e dos sentimentos humano (…) Ao
contrário do que estão apregoando os adeptos da ‘cura interior’ (ou libertação
interior) instantânea, ela acontece ao longo da vida cristã e não com efeito
mágico milagroso através de uma simples oração.[46]
Além da
falsa esperança de uma solução instantânea, a cura interior foi mais criticada
pela prática anti-bíblica de realizar regressão nos encontros gedozistas. Paulo
César Lima comenta que um dos principais riscos da regressão é que a pessoa
regredida pode ficar presa ao passado como aconteceu com uma senhora que
participou do encontro em Brasília e que precisou ser internada.[47]
A
regressão é registrada no manual do encontro para a ministração de cura
interior. Sei que muitos líderes não o fazem em seus encontros, mas quero
ressaltar aqui a importância de não fazê-lo.
O pastor
Esequias Soares comenta que a regressão psicológica é uma forma de hipnose,
pois é um tipo de transe por meio do poder da sugestão.[48] Realmente segundo
está no manual do encontro, a pessoa tem seus pensamentos manipulados por quem
está ministrando a palestra.
Elas são
direcionadas a se imaginarem como um espermatozóide, um feto, a se lembrarem na
infância e outras fases da vida até o momento atual. Obviamente tal prática não
possui apoio bíblico e deve ser descartado, pois a obra redentora de Cristo é
suficiente para nós e Sua palavra para nos santificar (Jo 17.17).
O perdão
é importante, Jesus mesmo disse que se tivermos alguma coisa contra nosso
irmão, primeiro precisamos nos conciliar com ele para depois apresentarmos a
nossa oferta (Mt 5.23, 24). O que passou dos limites, foi a indução registrada
na primeira edição do manual do Encontro a perdoar a Deus. Tal ensino chega a
ser uma blasfêmia contra Deus.
Gostaria
de concluir esta seção dizendo que a cura interior é importante para o cristão,
pois precisamos a cada dia ser santos, como o Senhor nosso Deus é santo (Lv
11.44).
No entanto, não há necessidade alguma de ajudarmos a Deus e
tampouco de levar pessoas a regressões. Tanto para a batalha espiritual e suas
variáveis, quanto para a cura interior, deixo aqui o escrito de Paulo: “para que em nós aprendais a não ir além do que está escrito”
(1 Co 4.6).
[1]
ERICKSON, Millard J. Introdução a Teologia Sistemática. Vida Nova. São
Paulo. 1992, p. 200
[2]
NICODEMUS, Augustus. O Que Você Precisa Saber Sobre Batalha Espiritual. Cultura Cristã. São Paulo. 2006, p. 30,31.
[3] Ibid. p. 64.
[4] GREENWALD, Gary. The Dangerous Transference Of
Spirits. Charisma & Christian Life. 1990, p. 110-120.
[5] NESS, Alex W. The Impact of Spirits: Yesterday and
Today. Charisma & Christian Life. 1990, p. 122.
[6] Ibid. p. 121.
[7] NICODEMUS, Augustus. Op. cit., p. 86,87.
[8] MASTRAL, Daniel. Voz que Clama no Deserto,
Volume I. Naós. São Paulo, 2006. p. 43.
[9]
ZIBORDI, Ciro Sanches. Escatologia aterrorizante — A Nova Ordem Mundial. Artigo
postado em cirozibordi.blogspot.com.
[10]
NOVA, Renê Terra. Guia Oficial do Encontro com Deus. Semente de Vida. São
Paulo, 2008, p.9.
[11] HAMMOND, Frank; HAMMOND, Ida Mae. Porcos
na Sala. Unilit. Mogi das Cruzes. 1973, p. 53.
[12]
ROMEIRO, Paulo. Evangélicos em Crise. São Paulo: Mundo Cristão, 1.999, p. 146,
147.
[13]
WAGNER, C. Peter. Oração de Guerra. Unilit. Mogi das Cruzes. 1992, p. 31.
[14]
CABEZAS, Rita. Desmascarado. Renascer. São Paulo. 1996, p. 216.
[15]
Ibid. p. 138.
[16]
YAMASHITA, Matiko. Batalha Espiritual – apostila – Ministério de Libertação El
Shadai, p. 36, 37, 39.
[17]
SUBRITZKY, Bill. Demônios Derrotados. Adhonep. Rio de Janeiro. 1992, p. 134,
186.
[18]
BROWN, Rebecca. Ele Veio Para Libertar os Cativos. Dynamus. Belo Horizonte. 2000, p. 50.
[19] Ibid. p. 183.
[20]Ibid. p. 50.
[21] Ibid. p. 185.
[22] ITIOKA, Neuza. A Igreja e a Batalha
Espiritual: Você Está em Guerra! Sepal. São Paulo. 1994, p. 5.
[23]
Ibid. p. 40,41
[24]
Heresias Primitivas. Artigo da Edição Especial Defesa da Fé – ICP, CD-Rom,
26/07/10.
[25] NICODEMUS, Augustus. Op. cit., p. 70.
[26] ITIOKA, Neuza. Op. cit., p. 17.
[27] PERALMAN, Myer. Conhecendo as Doutrinas
da Bíblia. Vida. São Paulo. 2009, p. 96.
[28]
MACARTHUR, John F. Nossa Suficiência em Cristo. Fiel. São José dos Campos.
2007, p. 200.
[29]
Apostila Estabelecendo Um Ministério Local de Libertação. São Paulo. Missão
Evangélica Shekinah, p. 6.
[30]
MILHOMENS, Valnice. Op. cit., 1999, p. 22.
[31]
Ibid. p. 81.
[32] DYE, Colin. Satan unmasked. Dovewell
Publications. London. 2000, p. 79, 159.
[33]
NICOLAU, Francisco. Conquistando cidades para Cristo. Campinas. 1995, p. 46.
[34]
Ibid. p. 73.
[35] Ibid.
p. 88,89.
[36]
ROMEIRO, Paulo. Op.cit., p. 140.
[37]
ITIOKA, Neuza. Fechando as Brechas. Sepal. São Paulo. 1994, p. 62,63.
[38]
MILHOMENS, Valnice. Op. cit., p. 28,29.
[39] Ibid. p. 21, 33.
[40]
RODOVALHO, Robson. Quebrando as Maldições Hereditárias. Koinonia. Brasília.
1994, p. 29.
[41]
NOVA, Renê Terra. Guia Oficial do Encontro com Deus. Semente de vida. São
Paulo, 2008, p. 59.
[42]
HICKEY, Marilyn. Quebre a Cadeia da Maldição Hereditária. Adhonep. Rio de
Janeiro. 1993, p. 60.
[43]
MALAFAIA, Silas. Cura Interior à Luz da Bíblia. Central Gospel. Rio de Janeiro.
2003, p. 7.
[44]
Ibid. p.16.
[45]
Ibid. p. 27.
[46]
LIMA, Paulo César. O que está por trás do G-12. CPAD. Rio de Janeiro. 2000, p.
83, 84.
[47]
Ibid. p. 47.
[48]
SOARES, Esequias. Heresias e Modismos. CPAD. Rio de Janeiro. 2010, p. 251.
Extraído
do livro “A Verdade Sobre o G12″, Couto
FONTE CACP
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