Perseverando no Caminho: uma
advertência em relação aos falsos mestres
Sempre
existiram falsos mestres. Sempre. O Novo Testamento está repleto de
advertências sobre o assunto. As advertências – bíblicas e históricas – são
tantas que preocupa como os cristãos de nossos dias ainda conseguem ser tão
tolerantes com aquilo que a Bíblia condena. Seja por ignorância ou na
conivência com o erro, os falsos mestres e seus falsos ensinos encontram morada
na mente e coração de muitos nesta geração.
Mas e então? Como encarar e como se posicionar diante da
necessidade de ser firme em tempos de frouxidão? Como tratar a Verdade numa era
em que temos vários conceitos e várias ‘verdades’ diluídas na sopa do
pluralismo pós-moderno? Acredito que nossa apologética e pregação devam ser
humildes e gentis, mas sem perder a firmeza doutrinária que a Bíblia manda e
que a história da igreja preservou e onde perseverou. Vejamos a advertência:
Assim
como, no passado, surgiram falsos profetas entre o povo, da mesma forma, haverá
entre vós falsos mestres, os quais introduzirão, dissimuladamente, heresias
destruidoras, até ao cúmulo de negarem o Soberano que os resgatou, atraindo
sobre si mesmos repentina destruição. Muitos seguirão seus falsos ensinos e
práticas libertinas, e por causa dessas pessoas, haverá difamação contra o
Caminho da Verdade. Movidos por sórdida ganância, tais mestres os explorarão
com suas lendas e artimanhas. Todavia, sua condenação desde há muito tempo
paira sobre eles, e a sua destruição já está em processo. 2Pe 2.1-3 – (Bíblia
King James Atualizada – KJA)
Muito
bem, a advertência é clara, no contexto o apóstolo Pedro fala que os falsos
mestres viriam e o cumprimento profético mostra que eles vieram e estão por aí,
queira você admitir ou não. Para melhor esclarecimento do contexto bíblico,
leia também Judas 4-18.
Em sua
primeira carta (leia 1 Pedro), Pedro trabalha no sentido de encorajamento
espiritual, ensino doutrinário fundamental e muitos conselhos para o dia-a-dia
do cristão. Ele tratou na primeira carta sobre orientações pastorais para que a
igreja naquele momento pudesse enfrentar a perseguição que afligia os irmãos da
igreja primitiva.
Já nesta
segunda carta, também conhecida por “Epístola da Verdade”, Pedro trabalha sobre
o problema dos falsos mestres e suas heresias e a necessidade de alerta e
combate ao erro. A sabedoria e conhecimento de Deus tratada nesta carta nos
leva a reflexão sobre a necessidade de termos uma práxis cristã sadia
entrelaçada a uma teologia profundamente bíblica e ortodoxa. Diante deste
cenário perigoso, o porto seguro é o conhecimento de Deus. Estar firme no
conhecimento da Verdade é o que faz toda a diferença, como diz Hodge:
Os crentes são filhos da luz. Do
povo diz-se que perece por falta de conhecimento. Nada é mais característico da
Bíblia do que a importância que ela dá ao conhecimento da verdade. Diz-se que
somos gerados por intermédio da verdade; que somos santificados pela verdade; e
dos ministros e mestres afirma-se que todo o seu dever é manter a palavra da
vida. É por essa crença dos protestantes no essencial do conhecimento para a fé
que eles insistiam tão energicamente na circulação das Escrituras e na
instrução do povo. [1]
Voltando
ao foco da análise bíblica de 2Pe 2.1-3, percebe-se que a sagacidade dos falsos
mestres e seu falso e destruidor ensino está caracterizado por diversos pontos
expostos:
V. 1 –
Assim como no passado os falsos profetas (AT) estavam presentes no meio do povo
de Deus, a igreja também presenciaria (e presencia) a existência dos falsos
ensinos. São traiçoeiros, pois agem de forma dissimulada, lobos com vestes de
cordeiro que introduzem heresias destruidoras, assolando a si mesmos e trazendo
a ruína espiritual a todos os que os seguem. O cúmulo deste processo é que ao
agir dissimuladamente tais falsários negam o Soberano (neste texto aplicado a
Jesus Cristo, assim como em Judas 4). Nas palavras de Lloyd-Jones:
As forças
do mal mobilizadas contra nós nunca são tão perigosas como quando nos falam
como falsos profetas, ou falsos mestres. As forças do mal têm
uma quase interminável variedade de maneiras de lidar conosco; mas, de acordo
com o Novo Testamento, elas nunca são tão sutis e perigosas como quando
aparecem entre nós como profetas, falsos profetas, que se nos apresentam como
fiéis e capazes de guiar-nos e de mostrar-nos o caminho do livramento e do
escape. [2]
V. 2 – Oferta e procura religiosa. Eis o âmbito deste versículo,
pois na mesma medida que os falsos mestres ampliam o alcance das suas heresias,
a massa de incautos os segue e recebem tais ensinos como verdade absoluta,
mesmo que tais ensinos entrem em choque com as Escrituras. Falando em massa
humana, Lloyd-Jones comenta sobre “volumes” de pessoas como algo que “não se pode avaliar verdade espiritual
pelos róis; contagem de cabeças não é um método bíblico de verificar se um
ensino é certo ou errado”[3]. Por outro lado vemos alguns que
encaram a graça como um artifício para mergulhar no pecado, confundindo
liberdade com libertinagem e transformando a graça salvadora de Cristo numa
“graça barata”. Caminho perigoso e espinhoso este, que além de flagelar o
causador, escandaliza o Caminho (“Caminho”, nome antigo da fé cristã, veja Atos
9.2);
V. 3 –
Hereges de seitas gerais e falsos mestres de grupos pseudocristãos tem em comum
a sórdida ganância, o impulso por explorar seguidores e a ânsia por dinheiro
sobre dinheiro. Se a tribuna, púlpito ou altar do local onde você busca a Deus
oferece e dedica mais tempo a falar sobre dinheiro e as eventuais benções
meramente terrenas e materiais, se o líder/pastor deste local procura mais
enfatizar este aspecto que a proclamação do Evangelho e o ensino de uma vida
voltada para glória de Deus, cuide-se! Você pode estar sendo tragado por
heresias destruidoras, conduzido por uma pessoa gananciosa, exploradora, herege
e que por maior que seja sua aparência de piedade tão somente nega a Cristo.
O motivo da heresia é a ‘avareza’
– o ganho financeiro (2.3). Basta apenas analisar as palavras e a fé contidas
nas teologias de várias seitas nos dias de hoje, para se entender a relevância
e a urgência das advertências de Pedro. Os falsos mestres ganham os cristãos
com histórias engenhosas (1.16), um padrão diretamente oposto à verdade que
Pedro e os demais apóstolos testemunharam. [4]
E ainda
em resumo:
Os falsos profetas são perigosos
por três razões: (1) o seu método é traiçoeiro e conduz a meios vergonhosos,
levando a fé a ser difamada, (2) o seu ensino é uma completa negação da verdade
e (3) o seu destino é causar destruição tanto a si mesmos quanto aos seus
seguidores. [5]
O campo de batalha: a vida, a família, o dia-a-dia
À medida
que se aproxima o tempo do fim, cresce a apostasia. As advertências são severas
quanto a isso. Como dito a pouco, seria possível citar muitos e muitos textos bíblicos
sobre o assunto, mas vamos chamar atenção para esta pequena cadeia de
versículos:
Jesus
nos advertiu sobre o assunto de modo bem claro:
Então
Jesus lhes revelou: “Cuidado, que ninguém vos seduza. Pois muitos são os que
virão em meu nome, proclamando: ‘Eu sou o Cristo!’, e desencaminharão muitas
pessoas… Então, numerosos falsos profetas surgirão e enganarão a muitos.
Mt 24.4,5,11 – KJA
Paulo
alertou sobre o tema:
O
Espírito Santo afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns se
desviarão da fé e darão ouvidos a espíritos enganadores e à doutrina de
demônios, sob a influência da hipocrisia de pessoas mentirosas, que têm a
consciência cauterizada. São líderes que proíbem o casamento e ordenam a
abstinência de alimentos que Deus criou para serem recebidos com ações de
graças pelos que são fiéis e estão bem firmados na verdade. 1Tm 4.1-3 – KJA
João
trata sobre movimentos que pervertem a Verdade:
Entretanto,
muitos enganadores têm saído pelo mundo, os quais não confessam que Jesus
Cristo veio em carne. Esse é o modo de ser do mentiroso e do anticristo.
Acautelai-vos, para não destruirdes a obra que realizamos com zelo, mas para
que, pelo contrário, sejais recompensados regiamente. Todo aquele que não
permanece no ensino de Cristo, mas acredita estar indo além dele, não tem Deus;
porquanto, quem permanece na sã doutrina tem o Pai e também o Filho. 2Jo 7-9 –
KJA
Judas
nos “convoca” para a defesa da Verdade:
Amados,
enquanto me preparava com grande expectativa para vos escrever acerca da
salvação que compartilhamos, senti que era necessário, antes de tudo,
encorajar-vos a batalhar, dedicadamente, pela fé confiada aos santos de uma vez
por todas. Porquanto, certos indivíduos, cuja condenação já estava sentenciada
há muito tempo, infiltraram-se em vossa congregação com toda espécie de
falsidades. Essas pessoas são ímpias e adulteraram a graça de nosso Deus em
libertinagem e negam Jesus Cristo, nosso único Soberano e Senhor. A punição
eterna dos ímpios. Jd 3-4 – KJA
É
preciso admitir que o modo como a recente apologética foi promovida teve suas
falhas. Talvez a pior de todas tenha sido apontar o erro e quase nunca apontar
o caminho. Gritar e esbravejar sem apontar para Luz pouco ou nada ajuda quem
está em trevas.
Nestes
dias, onde pouco se lê e quase nada se medita nas Escrituras, não é de se
estranhar que tantos cristãos tomem o texto da Bíblia a seu bel-prazer criando
bizarrices icônicas! Por fim, acabam blindando a mente contra a teologia e
contra a apologética, ignoram o contexto social e de decadência moral, não
enxergam as mudanças no cenário cultural. Esta venda é cômoda ao passo que se
sentem satisfeitos com suas vidas, com a prosperidade material (ou a busca
desenfreada por tal), com a satisfação do ego, com as cócegas nos ouvidos (2Tm
4.3).
A
firmeza em relação aos valores que Deus espera de seu povo é que faz toda a
diferença. Olhando assim, ou estamos anunciando e proclamando o Evangelho de
Cristo e sendo a sua igreja que o glorifica e adora, ou somos o contingente que
está sendo levando “prá lá e prá cá” pelos ventos de doutrina (Ef 4.14).
A Graça
é o caminho a ser sempre apontado e relembrado. Firmeza doutrinária, exposição
bíblica, proclamar o Evangelho de Jesus e lembrar que o caminho do amor de Deus
está escancarado, um caminho que Ele mesmo nos prepara a trilhar. Se apegue a
Palavra. Se apegue a doutrina sadia. Confie em Deus e siga adiante, longe da
sedução e engano destes falsos mestres.
Concluindo,
pense no seguinte: os membros de sua casa, as pessoas a quem você ama: Cônjuge,
filhos, netos, parentes. Estas pessoas precisam receber altas doses de
esclarecimento bíblico e doutrinário. Deus conduzirá seu povo em caminho
seguro, sua igreja não sucumbirá diante do inferno e seus falsos mestres, mas
cabe a nós, embaixadores, proclamar, ensinar, viver para glória de Deus e
defender a fé. E isso, como já foi dito, não é novidade, é a “velha verdade”
ensinada pela Palavra de Deus.
Soli Deo
gloria!
NOTAS
[1] HODGE, Charles. Teologia
Sistemática. Hagnos. São Paulo, SP: 2001. p.1090-1091
[2] LLOYD-JONES, D.Martyn. 2
Pedro: Sermões Expositivos. PES. São Paulo, SP: 2009. p. 164-165
[3] LLOYD-JONES, D.Martyn. 2
Pedro: Sermões Expositivos. p. 168
[4]
ARRINGTON, French L.; STRONSTAD, Roger. Comentário Bíblico
Pentecostal do NT, vol 2. CPAD. Rio de Janeiro, RJ: 2009. p. 936
[5] CARSON, D.A. (org).
Comentário Bíblico Vida Nova. Vida Nova. São Paulo, SP: 2009. p. 2086
M
Ensaios sobre a Igreja na
pós-modernidade: introdução
Os
tempos mudaram. O século XX foi marcado por tensões sociais que deflagraram
mudanças profundas na cosmovisão de cada ser humano. As mudanças sociais nada
mais são que a aplicação de filosofias que sucederam o período histórico
denominado modernidade, gerando o que muitos chamam de pós-modernismo, e outros
denominam hipermodernismo. Este tempo é marcado por superficialismo,
relativismo, pluralismo e rejeição da verdade absoluta ou mesmo a completa
aversão sobre o simples mencionar da verdade.
Para a cosmovisão cristã, de modo muito singular, o
pós-modernismo tem sido um desafio, que para tantos é motivo de pavor, quanto
para outros é uma boa oportunidade de mostrar que a reivindicação cristã da
verdade – pois o próprio Cristo é a verdade – é um fato.
Entretanto,
existe uma ala dentro da cristandade contemporânea, denominado Movimento da
Igreja Emergente, que ao invés de sustentar a ortodoxia tradicional do
Cristianismo, está procurando ajustar a cosmovisão cristã ao pluralismo
relativista da pós-modernidade, criando uma religião híbrida e amigável ao
extremo. Os emergentes possuem como mérito o despertar de aspectos cristãos que
algumas denominações simplesmente esqueceram, como por exemplo, a prática do
Evangelho, a comunicação do Reino de Deus fora das paredes da igreja, as boas
obras para todo e qualquer ser humano, amando-o acima de dogmas e
tradicionalismos religiosos, etc.
As boas
obras devem ser prática cristã como fruto natural da recepção genuína do
Evangelho por cada ser humano que se denomina cristão. É preciso ser um pouco
mais prático, saindo do gueto e indo avante, entretanto, de modo algum a
ortodoxia pode ser ajustada, se transformando por demais generosa, em função da
ortopraxia. Em síntese, ortodoxia e ortopraxia devem andar juntas, como
atestado mútuo da veracidade da fé cristã.
PARA COMEÇAR…
A pós-modernidade é o movimento da cultura que rejeita os
valores da modernidade e vê com desconfiança os princípios racionais
supostamente universais, desenvolvidos na época do Iluminismo. A filosofia de
perfil irracionalista do final do século XIX preparou terreno para a
pós-modernidade. Mas a pós-modernidade propriamente dita tem origem nas
primeiras décadas do século XX, e seu impacto maior ocorreu nas últimas
décadas.
O
fenômeno teve início nas artes, inicialmente na arquitetura, e depois teve
espaço ampliado na cultura geral. O impacto maior na sociedade se deu por
influência da mídia. O cinema, a televisão e a internet são seus principais
meios de disseminação, porém não os únicos. Esse novo modelo de ser já criou
uma nova cultura que desafia o jeito tradicional de ser igreja.
Essa nova
cultura manifesta algumas tendências tais como: culto ao ecossistema, desespero
humanista, irracionalismo, misticismo, relativismo, existencialismo, pluralismo
e predomínio do artístico. Tudo isso traça um perfil distinto de uma nova
realidade que precisa ser mapeada, compreendida e enfrentada, pois o grande
desafio para os cristãos é “ser igreja” em meio a essa nova cultura.
É
realidade que nossa tradição evangélica histórica foi moldada pela mentalidade
moderna, tanto na teologia, quando na eclesiologia. Essa igreja histórica, e um
tanto quanto “sarcófaga”, sente em diversos aspectos o seu descompasso com esta
nova geração pós-moderna. Urge tornar a mensagem bíblica relevante para esta
nova geração. Todavia, a questão é muito melindrosa e complexa. O desafio é:
como ser igreja em meio ao pós-modernismo? Como construir uma teologia
desprendida da modernidade que não se atole no lamaçal do relativismo absoluto
da pós-modernidade?
Na sede
de criar modos de comunicar o Cristianismo neste horizonte, alguns estão
optando por metodologias que estão muito contextualizadas ao gosto pós-moderno.
Neste contexto se destaca o movimento denominado “Igreja Emergente”, que lança
mão de artifícios que se distanciam de modo muito sutil do cristianismo
ortodoxo.
O
objetivo desta série de artigos é apresentar propostas de uma genuína
ortopraxia, sem descuidar de modo algum da ortodoxia. Desta forma, será
apresentada, além da definição do que é o pós-modernismo e dos desvios
doutrinários causados pelos Emergentes, uma proposta de despertar os cristãos
para enxergarem o “ser igreja” como algo mais amplo que um culto dominical
entre as quatro paredes do templo.
Portanto,
fique atento aos próximos artigos!
OUTROS
TEXTOS DA SÉRIE
Ensaios sobre a Igreja na
pós-modernidade: definições
Pós-modernidade.
Eis um termo que significa muito, que possui muitas definições e literatura
numa amplitude cada vez mais surpreendente. Muitos filósofos, sociólogos e
estudiosos da área utilizam o termo pós-moderno, outros preferem o uso do termo
hipermoderno. Justamente por estarmos vivendo neste tempo, tão carente de
absolutos, não é de se estranhar a dificuldade de utilização do mesmo termo bem
como o estado de desespero que muitas vezes toma conta das pessoas pela simples
menção da expressão “pós-moderno”.
Pós-modernismo é tanto uma noção histórica e cronológica quanto
uma idéia filosófica. Analisando sob a ótica histórica, pós-modernismo se
refere à modernidade, devido este tempo preceder o outro bem como a rejeição do
pós-modernismo por alguns conceitos modernos. Sob o aspecto cronológico, muitos
definem que o pós-modernismo é o retrato de uma era que já começou, e sob
alguns aspectos já substituiu a modernidade. Por fim, na concepção filosófica e
psicológica trata-se de um tempo de grande “relativismo cultural sobre coisas
tais como realidade, verdade, razão, valor, significado lingüístico, o eu e
outras idéias” (MORELAND & CRAIG, 2005, p.186).
Para a
igreja, o pós-modernismo representa um desafio. Um bom desafio conforme as
palavras de Ferreira e Myatt (2007, p.4):
Para muitos, a situação
pós-moderna é uma ocasião de desespero. Mas é exatamente nos momentos
históricos que se mostram mais difíceis que a fé cristã se levanta, trazendo
nova esperança. E, nestes momentos, a tarefa teológica se torna crítica para
proclamar e defender a fé, e para nortear o povo de Deus na travessia dos
campos de batalha que permanecem à frente. Nosso desafio é fazer uma teologia
que coloque toda a riqueza da fé evangélica histórica desde a igreja antiga até
a atual, em contato com os problemas de um mundo pós-moderno e globalizado,
trazendo luz, vida e esperança para um povo cuja existência carece do
significado que somente se encontra no Senhor.
Para os
estudiosos da área, fica o desafio de definir o que significa este tempo.
Esperandio (2007, p.41) lança uma opinião sobre este tempo que confere com o
pensar de muitos:
Vê-se, pois, que as teorizações
sobre pós-modernidade/pós-modernismo vão se construindo simultaneamente ao
próprio aparecimento dessa nova configuração do social, que os teóricos têm
dificuldade em definir: seria então uma nova forma de ser, de pensar e viver,
mas ainda dentro da modernidade, ou poderia esse novo modo de existência (com
implicações visíveis nos mais variados campos do saber) ser categorizado como
um outro período histórico, o pós-moderno?
Por ser
uma época em processo de definição, existe certa controvérsia no meio acadêmico
quanto ao emprego correto de “rótulo” que melhor determine este tempo. Um
filósofo muito influente que afirma que o pós-modernismo já “passou” é Gilles
Lipovetsky. Na verdade, Lipovetsky defende que o pós-modernismo sequer existiu;
este filósofo francês defende que:
O
neologismo pós-moderno tinha um mérito: salientar uma mudança
de direção, uma reorganização em profundidade do modo de funcionamento social e
cultural das sociedades democráticas avançadas. Rápida expansão do consumo e da
comunicação de massa; enfraquecimento das normas autoritárias e disciplinares;
surto de individualização; consagração do hedonismo e do psicologismo; perda da
fé no futuro revolucionário; descontentamento com as paixões políticas e as
militâncias – era mesmo preciso dar um nome à enorme transformação que se
desenrolava no palco das sociedades abastadas, livres do peso das grandes utopias
futuristas da primeira modernidade. (LIPOVETSKY, 2004, p.52).
Dando a explicação do porque do uso do termo “pós”, ele afirma
que que o que vivemos é na verdade o tempo do “hiper”:
A cultura hipermoderna se
caracteriza pelo enfraquecimento do poder regulador das instituições coletivas
e pela autonomização correlativa dos atores sociais em face das imposições de
grupo, sejam da família, sejam da religião, sejam dos partidos políticos, sejam
das culturas de classe. (…). Testemunho disso é a maré montante de sintomas
psicossomáticos, de distúrbios compulsivos, de depressões, de ansiedades, de
tentativas de suicídio, para nem falar do crescente sentimento de insuficiência
e autodepreciação. (…). À desregulação institucional generalizada correspondem
as perturbações do estado de ânimo, a crescente desorganização das
personalidades, a multiplicação de distúrbios psicológicos e de discursos
queixosos. (LIPOVETSKY, 2004, p.83-84).
Doutra
forma, renomados filósofos cristãos como Norman L. Geisler, William Lane Craig,
J.P. Moreland e Peter Kreeft defendem que o que vigora ainda é o
pós-modernismo.
Partindo
deste pressuposto, é preciso estabelecer meios de comunicar e praticar o
cristianismo neste horizonte, e para que a proclamação do Evangelho seja eficaz
é preciso conhecer esta cosmovisão, não fugir dela, mas de modo algum criar
alianças e contextualizações. Morley (2005, p.200) disse:
Quanto mais compreendermos as
idéias das pessoas, melhor poderemos comunicar a verdade das Escrituras e do
Evangelho para elas. Por isso é que estudamos sobre cultos e religiões, e daí a
grande importância de que os missionários estejam muito bem preparados
entenderem as culturas nas quais vivem. Mas poucos cristãos do ocidente se
esforçam o suficiente para compreender a cultura onde eles mesmos vivem!
Outro
fato importante a se destacar é que não existe consonância quanto ao inicio da
era pós-moderna; o que existe é o consenso que alguns nomes influenciaram muito
a forma de pensar do homem, que mudou sua atitude severamente moldando assim a
sociedade atual. Existem fatores e nomes que acenderam o “estopim” do
pós-modernismo.
Após o
fracasso da crença numa “perfeição humana” e na sua eventual bondade, vendo o
século XX ser manchado de sangue, mancha esta das duas grandes guerras
mundiais, uma guerra fria, estados governados por regimes cruéis, ditadores e
totalitaristas, inúmeras guerras civis, o vergonhoso Holocausto efetuado pelos
nazistas (como uma flecha no coração modernista europeu), tensões na frança sob
o regime do presidente Charles de Gaulle em 1968 (onde os jovens bradaram nas
ruas o termo “é proibido proibir”) e profundas mudanças no regime marxista,
mudanças no pensamento quanto a perfeição do modernismo foram minando tal
época.
Nomes
como Michel Foucalt, Jacques Derrida, Richard Rorty e Jean-François Lyotard
passaram a por em xeque a concepção modernista.
Foucault
rejeitava a idéia que o conhecimento é algo intrinsecamente neutro. Para ele a
ciência e conhecimento são instrumentos de opressão usados pelos que os possuem
cuja finalidade é obter poder e domínio sobre as massas. Em síntese, no
pensamento de Foucault, toda afirmação de conhecimento é na verdade um ato de
poder.
Derrida
apregoa que os dicionários, por exemplo, dão a falsa impressão que as palavras
possuem definições e significados absolutos, inalteráveis. Para ele o
significado das coisas/palavras está ligado às experiências pessoais de cada
indivíduo, e como tais experiências mudam de forma constante, os significados
também mudam. Agindo assim, Derrira continuou a “desconstruir” conceitos
tradicionais firmados no pensamento humano. De certa forma, a conseqüência
macro do seu pensamento em nossos dias é o relativismo, ou seja, tudo é
relativizado por cada ser e a verdade e o absoluto não passam de meros
conceitos individuais. Sobre Derrida, Geisler diz (2002, p. 248):
É considerado um “filósofo”
francês contemporâneo, apesar de alguns questionarem se ele é um verdadeiro
filósofo. É pai de um movimento conhecido como “desconstrutivismo”, ainda que
pessoalmente ele rejeite o significado popular do termo. O movimento também é
chamado “pós-modernismo”, apesar de Derrida também não usar o termo para
descrever sua visão.
Rorty
por sua vez, com seu pensamento neo-pragmático afirma que a idéia da verdade é
apenas um mito. Em seu modo de pensar a “verdade” é aquilo que sobrevive às
objeções dentro do contexto cultural ao que é apresentado, assim, o que é
verdade continua sendo relativizado, não pelo individuo, mas pelo ambiente
sócio-cultural. Para Rorty, devemos abandonar a busca pela verdade e nos
contentarmos simplesmente com a interpretação.
Por fim,
Lyotard apregoa um pensamento em favor da diversidade e de considerações
meramente pragmáticas.
Tal
ambiente cria uma aparente sensação de que tudo está mais belo e livre e que o homem
pós-moderno é de fato o mais realizado de todos os tempos. Poucos são francos
em admitir seu verdadeiro sentimento de vazio e confusão. Nas palavras de
Miranda (2006, p.264):
[as
pessoas] sentem-se diariamente rodeadas pelo diferente, pelo desconhecido, pelo
estranho. Ninguém está completamente à vontade na sociedade pós-moderna.
Estamos todos contaminados por uma epidemia silenciosa de insegurança e de
angústia. A oferta generosa e abundante de “definições da realidade”, à
semelhança de umshopping bem
sortido, garante ao individuo maior espaço para sua liberdade, mas,
simultaneamente, descarrega sobre ele o difícil ônus de construir sua própria
identidade sem lhe oferecer referências sólidas, objetivos comprovados, ideais
aceitos pela sociedade que, outrora, lhes garantia honorabilidade e, sobretudo,
credibilidade.
Por mais
que a análise do pensamento desses pensadores tenha sido superficial, é
possível identificar que os conceitos relativistas e pluralistas que permeiam o
pensamento do homem pós-moderno têm como fonte tais filosofias. Relativismo,
pluralismo e a rejeição da verdade são marcas deste tempo, as quais McGrath
refuta (2007, p.168):
Contudo, a lenta saída da
modernidade, ainda que inexorável, não significa que o evangelicalismo precise
assumir a ordem pós-moderna. Com efeito, o evangelicalismo provê um ponto de
observação fundamental de onde criticar aspectos da visão de mundo pós-moderna,
não menos sua aparente reação exagerada à ênfase do Iluminismo na verdade. A
verdade permanece um assunto de importância apaixonante para o evangelicalismo,
mesmo que exista uma pressão cultural bastante forte na sociedade ocidental
para conformar com sua ótica prevalecente de “meu ponto de vista é tão bom
quanto o seu”.
Mas
afinal, o que significa para a humanidade o passar da era moderna para a
pós-moderna. Conforme Lipovetsky (2007, p.23) disse:
A pós-modernidade representa um
momento histórico preciso em que todos os freios institucionais que se opunham
à emancipação individual se esboaram e desapareceram, dando lugar à
manifestação dos desejos subjetivos da realização individual, do amor-próprio.
As grandes estruturas socializantes perdem a autoridade, as grandes ideologias
já não estão mais em expansão, os projetos históricos não mobilizam mais, o
âmbito social não é mais que o prolongamento do privado – instala-se a era do
vazio, mas “sem tragédia e sem apocalipse”.
Eis o
cenário armado para a introdução de linhas teológico-filosóficas no
cristianismo histórico que são verdadeiros cavalos-de-tróia. Na ansiedade por
ter um cristianismo mais amigável ao pensamento pós-moderno, o movimento da
Igreja Emergente adentrou o cristianismo hodierno como tal cavalo-de-tróia.
OUTROS
TEXTOS DA SÉRIE
BIBLIOGRAFIA
ESPERANDIO, Mary Rute Gomes. Para
entender pós-modernidade. São Leopoldo: Sinodal, 2007.
FERREIRA, Franklin & MYATT, Alan. Teologia sistemática: uma análise histórica, bíblica e
apologética para o contexto atual. São Paulo: Edições Vida Nova, 2007.
MORELAND, J.P. & CRAIG, William Lane. Filosofia e cosmovisão cristã.
São Paulo: Edições Vida Nova, 2005.
LIPOVETSKY, Gilles. Tempos
hipermodernos. São Paulo: Editora Barcarolla, 2004.
MORLEY, Brian K. in MACARTHUR, John. Pense biblicamente: recuperando a visão cristã de mundo. São
Paulo: Hagnos, 2005.
GEISLER, Norman. Enciclopédia
de apologética: respostas aos
críticos da fé cristã. São Paulo: Editora Vida, 2002.
MIRANDA, Mário de França. A
igreja numa sociedade fragmentada. São Paulo: Edições Loyola, 2006.
MCGRATH, Alister. Paixão
pela verdade: a coerência
intelectual do evangelicalismo. São Paulo: Shedd Edições, 2007.
Ensaios sobre a Igreja na
pós-modernidade: a “Igreja Emergente”
Infelizmente, são poucos os cristãos que conseguem conciliar a
ortodoxia cristã com a propagação da mensagem do Evangelho para a sociedade
pós-moderna. Sob a alegação que a mensagem apregoada pela igreja do horizonte
moderno é muito intolerante e “fundamentalista”, passamos a encarar uma era de
extremos no contexto eclesiástico. Em um dos lados da corda está o movimento da
Igreja Emergente, que enfatiza sobremodo o pragmatismo, deixando de lado a
teologia cristã e ajustando-a ao pensamento pós-moderno, criando assim a
“Ortodoxia Generosa”[1]. A leitura do livro “Ortodoxia Generosa” de McLaren
deixa muito claro ao leitor que o autor é (ou deseja ser) extremamente generosocom todo e qualquer
credo existente no mundo[2], menos com o cristianismo tradicional, taxado pelo
autor de exclusivista, fundamentalista e intolerante.
A origem deste movimento é recente, conforme Daniel (2007,
p.29), a Igreja Emergente:
Nasceu no
final do século XX, mas floresceu no início do século XXI. Trata-se de um
movimento que prega a necessidade de uma nova compreensão do Evangelho e da
Espiritualidade, e de uma nova teologia com uma nova abordagem da Bíblia. Um de
seus mais famosos proponentes é o pastor americano Dan Kimball, que lançou em
2003 o livro The Emerging Church:
Vintage Christianity for New Generations (Zondervan).[3]
E
continua esclarecendo o início do movimento bem como indicando os principais divulgadores:
Apesar de
Dan Kimball ter sido o primeiro a lançar um livro apresentando claramente a
proposta da Igreja Emergente, não foi ele o criador do termo para designar o
movimento. O título “emergente” surgiu dois anos antes do livro de Kimball e é
invenção dos pastores Doug Pagitt e Brian McLaren, como este mesmo conta em seu
livro Uma Ortodoxia Generosa – a Igreja em tempos de
Pós-modernidade (Zondervan, EUA,
2004 e Editora Palavra, 2007).
Acaudilhados principalmente por Brian McLaren, os emergentes crescem
a largos passos acusando o cristianismo “tradicional” de ser institucionalizado
demais, rígido demais, ultrapassado, exclusivista ao extremo e fechado.
Dentre as características marcantes do Movimento Emergente, é
possível destacar o seu espírito de protesto contra o cristianismo
institucionalizado ou denominacional. Os Emergentes acreditam que o modelo de
igreja comum está ultrapassado e não consegue
atender as demandas do pós-modernismo. Interessante é notar que esta aversão é
justamente pelo cristianismo tradicional defender a verdade absoluta,
elemento que os pós-modernos têm aferro. Abominam também o conceito de
hierarquia nas igrejas, julgando-os anti-bíblicos; nas Igrejas Emergentes, a
figura de pastores, bispos, presbíteros praticamente não se encontram.
No
aspecto teológico, os Emergentes têm verdadeira repulsa às Teologias
Sistemáticas (livros ou disciplina em si) e apologética tradicional. Acreditam
que as Sistemática nada mais fizeram que bitolar os crentes, sendo apenas um
amontoado de textos bíblicos organizados de modo sistemático em torno das
opiniões pessoais dos autores das mesmas; da mesma forma, julgam que a
apologética cristã está atrasada e não deve permanecer defendendo a fé como vem
fazendo no decorrer da história. Defender a fé nos dias de hoje
(pós-modernismo), é ofensivo na mentalidade dos emergentes, tão pluralistas e
inclusivistas[4].
O capítulo 6 do livro de Kimball (2008, p.87-100), intitulado
“Nascido (Budista-Cristão-Wiccaniano-Muçulmano-Hétero-Gay) nos Estados
Unidos”, mostra como os Emergente consideram os cristãos como errados em sua forma de pensar e como os
emergentes são ultra-receptivos para com frentes de pensamento que divergem da
verdadeira ortodoxia bíblica. Ao final do capítulo, Kimball praticamente tece –
utilizando um fato real – uma apologia ao homossexualismo. Muito estranho para
um cristão “clássico”, como menciona a capa da referida obra[5].
Os
Emergentes julgam ser a melhor opção eclesiástica no atual contexto por
defenderem que a sociedade atual é pós-cristã. Muitos que estão frequentando
alguma igreja que tenha a filosofia emergente ou são pessoas “desingrejadas”,
os quais outrora estiveram arrolados como membros de outra denominação, mas
dada decepção de qualquer ordem migraram para este movimento, ou são pessoas
das mais variadas índoles, que tem em comum a repulsa pelo modelo convencional
de igreja e que se adaptam facilmente no meio Emergente, justamente por ser um
meio já encharcado com o pós-modernismo.
Para o
cristianismo verdadeiramente sóbrio e ortodoxo, a invasão da generosidade dos
emergentes é um alerta a introdução do pós-modernismo no seio do cristianismo
evangélico: “Não é de se admirar: a Igreja Emergente surgiu como um esforço
deliberado para tornar o cristianismo mais apropriado a uma cultura pós-moderna
(MACARTHUR, 2007, p.46).
Como dito anteriormente, além de Brian McLaren, outro expoente
do Movimento Emergente é Dan Kimball. É fácil notar que a obra-prima de Kimball
quanto a este movimento, intitulada “A Igreja Emergente: cristianismo clássico
para as novas gerações” é dúbia, confusa e generosa demais. Já no prefácio da referida
obra é possível encontrar variações de pensamento muito profundas, entre Rick
Warren e Brian McLaren. As opiniões de ambos são ambíguas característica do movimento
(MEISTER, 2006, p.99).
Um livro
cheio de figuras, ilustrações, sugestões de modelo de culto. Chama atenção a
seguinte definição, em modo de diagrama, que traz a proposta pós-moderna para
que a igreja seja bem sucedida num futuro breve (KIMBALL, 2008, p.19-20):
Primeira
parte deste livro: Situa-se o
contexto histórico para a compreensão da necessidade de mudança. Sem
compreender a primeira parte, a segunda será apenas superficial
(desconstruindo). Segunda
parte deste livro:Idéias práticas para eventual implementação em sua igreja
e ministérios. (reconstruindo).
Enquanto muitos estão
preparando sermões e se mantendo ocupados com questões internas das igrejas,
algo alarmante está acontecendo do lado de fora. O que antes era uma nação com
uma cosmovisão judeu-cristã está rapidamente se tornando uma nação pós-cristã,
não alcançada e sem experiência nem vínculo com a igreja. Gerações estão
surgindo ao nosso redor sem nenhuma influência cristã. Então devemos repensar
tudo o que estamos fazendo em nossos ministérios (destaque do autor).
Desconstruir,
eis o caminho Emergente. É como se tudo que o Cristianismo Histórico fez seja
anátema aos Emergentes. Posando de movimento “mente-aberta”, tornam-se
exclusivistas no seu modo de pensar, levando os seus seguidores a pensar que de
fato trata-se enfim da aurora da verdade.
Basta
uma breve análise daquilo que o próprio McLaren afirma para perceber que o
movimento é nocivo à saúde da igreja cristã. Fazendo menção em todo livro “Uma
Ortodoxia Generosa” a uma gama variada de credos – e como os cristãos
tradicionais são “bitolados” – McLaren se mostra bastante entusiasmado e
receptivo com o pluralismo religioso que rege a pós-modernidade. Provavelmente,
o maior atestado deste pluralismo irrestrito de McLaren seja o capítulo 15,
intitulado “Por que sou católico”, onde o autor relata um insólito episódio
(MCLAREN, 2007, p.243-244):
Um dia, minha caminhada matinal
me levou até a Igreja Católica Romana Nossa Senhora da Paz, perto do meu hotel.
Atrás da igreja havia uma enorme estátua de Maria cercada por um lindo jardim,
que por sua vez estava cercado de pistas abarrotadas. Atraído por esse pequeno
jardim de paz no meio do trânsito matinal caótico da área da baía, me vi
sentado sobre um banco com a imagem de Maria me fazendo sombra, me olhando com
um olhar gentil e seus braços estendidos em minha direção. (…) Que irônico,
pensei, para um menino criado em família protestante estar sentado ali com
lágrimas nos olhos, emocionado com Nossa Senhora da Paz (…). Naquele dia também
me tornei, em certo sentido, um pouco mais católico.
É de se
supor que McLaren tenha postura semelhante ao se deparar com a imagem de Buda,
Shiva ou Osíris? Se a igreja migrar para este tipo de conduta ecumênica e
irrestrita, poderemos jogar no lixo 500 anos de Reforma Protestante.
Outro
livro de importância para a Igreja Emergente, de autoria de Brian McLaren é “A
Igreja do outro lado”[6]. Tal livro mostra a aversão da Igreja Emergente pela
Teologia Sistemática, Apologética Tradicional e organização eclesiástica.
Por fim,
outro autor que influencia o modelo Emergente é Stanley J. Grenz, com seu livro
“Pós Modernismo: um guia para entender a filosofia de nosso tempo”[7].
CRÍTICA À IGREJA EMERGENTE
Se o Movimento Emergente está crescendo a largos passos, o volume
de páginas na internet, seja sites ou blogs, artigos e livros com as
devidas criticas ao liberalismo extrapolado dos emergentes cresce praticamente
na mesma proporção.
O
problema não pode ser ignorado, pois o movimento emergente, carregado com a filosofia
pós-moderna, avança com muita força, misturando algumas verdades com muitos
sofismas. Vejamos as palavras a seguir (MACARTHUR, 2008, p.11) numa advertência
sobre o risco deste movimento:
Hoje em
dia, esse tipo de coisa [Igreja Emergente] goza de muita popularidade. McLaren
foi o autor ou o co-autor de cerca de uma dúzia de livros, e seu total desprezo
pela certeza é um tema ao qual ele volta repetidas vezes. Em 2003, a editora
Zondervan e a organização Especialidades
da Juventude trabalharam em conjunto
para iniciar uma linha de produtos chamada Emergente/EJ.
Publicam livros, DVDs e produtos de áudio num ritmo intenso e em abundância.
Os
críticos do movimento apontam os erros mais evidentes dos Emergentes, alguns
deles já apresentados de modo simples anteriormente. Enquanto alguns críticos
são mais “amigáveis”, outros são mais explícitos nas palavras. Vejamos a
seguinte declaração (LAHAYE, 2007):
Entre os falsos ensinos que
brotam da Igreja Emergente encontra-se uma forma não tão sutil de ataque à autoridade
da Bíblia – um claro sinal de apostasia. Eles não mais afirmam: “Assim diz o
Senhor” (apesar do uso dessa expressão por mais de duas mil vezes na Bíblia),
por temerem que isso ofenda aquelas pessoas que apregoam a igualdade de todas
as opiniões quanto ao seu valor. A Palavra de Deus não é mais interpretada por
aquilo que realmente diz; em vez disso, é interpretada por aquilo que diz para
você, desconsiderando, assim, o fato de que a formação educacional e a
experiência de vida de uma pessoa podem influenciar a maneira pela qual ela
interpreta as Escrituras, a ponto de levá-la irrefletidamente a um significado
nunca planejado por Deus para aquele texto.
E
continua expressando sua reprovação e opinião particular sobre a Igreja
Emergente:
Eu, particularmente, creio que
eles [defensores do pós-modernismo emergente], na verdade, são hereges,
apóstatas e lobos “disfarçados em ovelhas”. Devido ao fato do cristianismo
liberal ter caído no vácuo do descrédito e das igrejas liberais terem ficado
vazias, eles agora fazem uma tentativa de re-empacotar sua teologia sob a forma
de pós-modernismo. Na realidade, a maior parte desses conceitos não passa
daquilo que costuma ser chamado de modernismo ou liberalismo, ainda que
expressos com uma terminologia pós-moderna.
Muitos
se assustam ao ler opiniões como a citada acima, mas nunca se deve esquecer
que, na história cristã, em praticamente 2.000 anos, inúmeras investidas contra
a ortodoxia surgiram, muitas delas explicitamente contrárias aos padrões
bíblicos e outras um pouco mais “amigáveis” e “agradáveis”.
No Movimento Emergente, outra característica muito marcante é a
ênfase dada ao pragmatismo (ou ortopraxia); levando sempre em consideração o
conceito popular de que se algo está crescendo, fazendo e acontecendo, por
inferência esse algo é bom.
Será? Por isso é sempre necessário avaliar os mais finos conceitos que regem um
movimento (ainda mais quando tal reivindica ser cristão). Vejamos a opinião de
um cristão bíblico que tem lutado muito contra as investidas emergentes
(MACARTHUR, 2008, p.66):
Mas o que deve ser notado aqui é
que, no sistema de McLaren, a ortodoxia realmente é uma questão de prática e
não de crenças verdadeiras. Embora reconheça que esta idéia é “escandalosa”,
apesar disso, ele a afirma como a mensagem central do seu livro [Uma Ortodoxia
Generosa]. Francamente, é difícil ver essa perspectiva como outra coisa, senão
como a velha e familiar incredulidade, arraigada numa rejeição dos ensinos
claros das Escrituras. McLaren elevou as boas obras do próprio pecador acima da
importância da fé fundamentada na verdade do Evangelho. Não devemos admirar que
ele sinta grande afinidade com budistas e hinduístas. No campo final, muitas
das idéias dele a respeito do papel da retidão e das boas obras no cristianismo
não diferem fundamentalmente das idéias dessas religiões.
Por fim, vale lembrar que a Igreja Emergente no Brasil segue
passos um pouco diferentes da igreja americana. Os Emergentes no Brasil estão
aparecendo cada vez mais inseridos em igrejas novas ou velhas, mas
que abriram as portas para a filosofia relativista da pós-modernidade. Como
praticamente tudo que vem de fora encontra solo fértil na mentalidade
espiritualista consumista do brasileiro, não é de se estranhar que esta moda
ainda venha a se manifestar de modo intenso nos próximos anos.[8]
Focalizando
a problemática que este movimento representa para os brasileiros, já é possível
localizar boas obras cristãs escritas originalmente no contexto brasileiro
contra modismos como a teologia da Igreja Emergente.
Para uma
compreensão mais profunda sobre o perigo que este movimento representa para a
igreja, a leitura do livro “A Sedução das Novas Teologias”, de Silas Daniel é
muito proveitosa.[9]
No
entanto, é preciso reconhecer que o Movimento Emergente está “chacoalhando” a
igreja cristã tradicional, levando-a a repensar sobre sua verdadeira missão. É
um fato que a grande maioria dos cristãos está muito satisfeita com a presença
apenas nos cultos dominicais, levando a vida simplesmente amparada por uma mera
religiosidade sem os frutos que Jesus espera da Sua igreja.
O aspecto prático do cristianismo e a missão no mundo precisam
ser restauradas. O grande problema que a igreja terá que resolver é como levar
a mensagem cristã para os pós-modernos sem ser influenciado pelo seu pensamento
relativista. De fato é um grande desafio que não poderá ser enfrentado (e
vencido) enquanto a igreja permanecer lacrada entre quatro paredes, dormindo em
sua inércia. Levando em conta que tanto os Emergentes como as pessoas moldadas
pela filosofia pós-moderna anseiam por algo mais prático, urge a
necessidade de relembrar a necessidade do aspecto prático do cristianismo.
OUTROS
TEXTOS DA SÉRIE
1. Ensaios sobre a Igreja na pós-modernidade: introdução
2. Ensaios sobre a Igreja na pós-modernidade: definições
NOTAS
[1]
“Ortodoxia Generosa” é também o nome de um livro de Brian McLaren, importante
divulgador e defensor do movimento Emergente. Publicado no Brasil pela Editora
Palavra (Brasília, 2007). O tom confuso do livro – adaptado ao contexto
pós-moderno relativista e pluralista pode ser facilmente identificado na capa
do mesmo, onde o autor diz “Por que sou um cristão missional, evangélico,
pós-protestante, liberal/conservador, místico/poético, bíblico,
carismático/contemplativo, fundamentalista/calvinista, anabatista/anglicano,
metodista, católico, verde, encarnacional, deprimido-mas-esperançoso, emergente
e inacabado”.
[2] Não afirmo que
o diálogo entre as religiões não deve ocorrer, mas que adentrar no ecumenismo
irrestrito que o pluralismo da pós-modernidade propõe pode levar o cristão à
apostasia.
[3] Livro já publicado no Brasil com o título “A Igreja
Emergente: Cristianismo clássico para as novas gerações”, São Paulo: Vida,
2008.
[4] Este pensamento não
generoso de Brian McLaren
para com a Teologia Sistemática e Apologética está muito explícito nas linhas
dos livros “Uma Ortodoxia Generosa” e “A Igreja do Outro Lado”.
[5] O
Homossexualismo é um fato na sociedade contemporânea. O homossexual deve ser
respeitado como ser humano, sendo repulsiva toda e qualquer forma de violência
contra o cidadão seja por palavras ou ações. Os homossexuais, assim como todo e
qualquer cidadão, diante da lei têm seus direitos e deveres. Entretanto,
perante as premissas bíblicas, tais práticas são consideradas pecaminosas, e a
cultura secular não deve se infiltrar na igreja a ponto do cristianismo passar
a encarar esta prática como normal e aceitável. Uma ditadura gay tenta ser
implantada no mundo, sob o falso pressuposto de homofobia, onde o que de fato
se observa é o levantar da bandeira heterofóbica por parte das militâncias
homossexuais.
[6]
Editora Palavra, Brasília, 2008.
[7] Edições Vida
Nova, São Paulo, 2008.
[8]
Recentemente alguns modelos de igreja foram importados para o Brasil (efeitos
da globalização religiosa); uns ficaram, outros aos poucos caem no esquecimento
(embora as feridas ainda marquem a igreja). Modas como “A Benção de Toronto”;
“Avivamento de Pensacola” e “Igreja em Células no Governo dos 12 – G12”
bagunçaram muito a eclesiologia brasileira.
[9]
CPAD, Rio de Janeiro, 2007. Ler em especial os capítulos 2 e 5.
BIBLIOGRAFIA
DANIEL,
Silas. A sedução das novas
teologias. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.
MACARTHUR, John. A
guerra pela verdade. São José dos Campos: Editora Fiel, 2008.
MEISTER, Mauro. Igreja
Emergente, a igreja do pós-modernismo? Uma avaliação provisória. in Revista Fides Reformata XI, n.º 1
(p.95-112). São Paulo, 2006
KIMBALL, Dan. A
igreja emergente: cristianismo
clássico para as novas gerações. São Paulo: Editora Vida, 2008.
MCLAREN, Brian D. Uma
ortodoxia generosa. Brasília:
Editora Palavra, 2007.
_____________. A
Igreja do outro lado. Brasília:
Editora Palavra, 2008.
GRENZ, Stanley J. Pós-modernismo: um guia para entender a filosofia de
nosso tempo. São Paulo: Edições Vida Nova, 2008.
FONTE NAPEC.ORG
Nenhum comentário:
Postar um comentário