segunda-feira, 30 de março de 2015

FALSOS ENSINOS NO PERIODO POS-MODERNIDADE

Perseverando no Caminho: uma advertência em relação aos falsos mestres


Sempre existiram falsos mestres. Sempre. O Novo Testamento está repleto de advertências sobre o assunto. As advertências – bíblicas e históricas – são tantas que preocupa como os cristãos de nossos dias ainda conseguem ser tão tolerantes com aquilo que a Bíblia condena. Seja por ignorância ou na conivência com o erro, os falsos mestres e seus falsos ensinos encontram morada na mente e coração de muitos nesta geração.
Mas e então? Como encarar e como se posicionar diante da necessidade de ser firme em tempos de frouxidão? Como tratar a Verdade numa era em que temos vários conceitos e várias ‘verdades’ diluídas na sopa do pluralismo pós-moderno? Acredito que nossa apologética e pregação devam ser humildes e gentis, mas sem perder a firmeza doutrinária que a Bíblia manda e que a história da igreja preservou e onde perseverou. Vejamos a advertência:
Assim como, no passado, surgiram falsos profetas entre o povo, da mesma forma, haverá entre vós falsos mestres, os quais introduzirão, dissimuladamente, heresias destruidoras, até ao cúmulo de negarem o Soberano que os resgatou, atraindo sobre si mesmos repentina destruição. Muitos seguirão seus falsos ensinos e práticas libertinas, e por causa dessas pessoas, haverá difamação contra o Caminho da Verdade. Movidos por sórdida ganância, tais mestres os explorarão com suas lendas e artimanhas. Todavia, sua condenação desde há muito tempo paira sobre eles, e a sua destruição já está em processo. 2Pe 2.1-3 – (Bíblia King James Atualizada – KJA)
Muito bem, a advertência é clara, no contexto o apóstolo Pedro fala que os falsos mestres viriam e o cumprimento profético mostra que eles vieram e estão por aí, queira você admitir ou não. Para melhor esclarecimento do contexto bíblico, leia também Judas 4-18.
Em sua primeira carta (leia 1 Pedro), Pedro trabalha no sentido de encorajamento espiritual, ensino doutrinário fundamental e muitos conselhos para o dia-a-dia do cristão. Ele tratou na primeira carta sobre orientações pastorais para que a igreja naquele momento pudesse enfrentar a perseguição que afligia os irmãos da igreja primitiva.
Já nesta segunda carta, também conhecida por “Epístola da Verdade”, Pedro trabalha sobre o problema dos falsos mestres e suas heresias e a necessidade de alerta e combate ao erro. A sabedoria e conhecimento de Deus tratada nesta carta nos leva a reflexão sobre a necessidade de termos uma práxis cristã sadia entrelaçada a uma teologia profundamente bíblica e ortodoxa. Diante deste cenário perigoso, o porto seguro é o conhecimento de Deus. Estar firme no conhecimento da Verdade é o que faz toda a diferença, como diz Hodge:
Os crentes são filhos da luz. Do povo diz-se que perece por falta de conhecimento. Nada é mais característico da Bíblia do que a importância que ela dá ao conhecimento da verdade. Diz-se que somos gerados por intermédio da verdade; que somos santificados pela verdade; e dos ministros e mestres afirma-se que todo o seu dever é manter a palavra da vida. É por essa crença dos protestantes no essencial do conhecimento para a fé que eles insistiam tão energicamente na circulação das Escrituras e na instrução do povo. [1]
Voltando ao foco da análise bíblica de 2Pe 2.1-3, percebe-se que a sagacidade dos falsos mestres e seu falso e destruidor ensino está caracterizado por diversos pontos expostos:
V. 1 – Assim como no passado os falsos profetas (AT) estavam presentes no meio do povo de Deus, a igreja também presenciaria (e presencia) a existência dos falsos ensinos. São traiçoeiros, pois agem de forma dissimulada, lobos com vestes de cordeiro que introduzem heresias destruidoras, assolando a si mesmos e trazendo a ruína espiritual a todos os que os seguem. O cúmulo deste processo é que ao agir dissimuladamente tais falsários negam o Soberano (neste texto aplicado a Jesus Cristo, assim como em Judas 4). Nas palavras de Lloyd-Jones:
As forças do mal mobilizadas contra nós nunca são tão perigosas como quando nos falam como falsos profetas, ou falsos mestres. As forças do mal têm uma quase interminável variedade de maneiras de lidar conosco; mas, de acordo com o Novo Testamento, elas nunca são tão sutis e perigosas como quando aparecem entre nós como profetas, falsos profetas, que se nos apresentam como fiéis e capazes de guiar-nos e de mostrar-nos o caminho do livramento e do escape. [2]
V. 2 – Oferta e procura religiosa. Eis o âmbito deste versículo, pois na mesma medida que os falsos mestres ampliam o alcance das suas heresias, a massa de incautos os segue e recebem tais ensinos como verdade absoluta, mesmo que tais ensinos entrem em choque com as Escrituras. Falando em massa humana, Lloyd-Jones comenta sobre “volumes” de pessoas como algo que “não se pode avaliar verdade espiritual pelos róis; contagem de cabeças não é um método bíblico de verificar se um ensino é certo ou errado”[3]. Por outro lado vemos alguns que encaram a graça como um artifício para mergulhar no pecado, confundindo liberdade com libertinagem e transformando a graça salvadora de Cristo numa “graça barata”. Caminho perigoso e espinhoso este, que além de flagelar o causador, escandaliza o Caminho (“Caminho”, nome antigo da fé cristã, veja Atos 9.2);
V. 3 – Hereges de seitas gerais e falsos mestres de grupos pseudocristãos tem em comum a sórdida ganância, o impulso por explorar seguidores e a ânsia por dinheiro sobre dinheiro. Se a tribuna, púlpito ou altar do local onde você busca a Deus oferece e dedica mais tempo a falar sobre dinheiro e as eventuais benções meramente terrenas e materiais, se o líder/pastor deste local procura mais enfatizar este aspecto que a proclamação do Evangelho e o ensino de uma vida voltada para glória de Deus, cuide-se! Você pode estar sendo tragado por heresias destruidoras, conduzido por uma pessoa gananciosa, exploradora, herege e que por maior que seja sua aparência de piedade tão somente nega a Cristo.
O motivo da heresia é a ‘avareza’ – o ganho financeiro (2.3). Basta apenas analisar as palavras e a fé contidas nas teologias de várias seitas nos dias de hoje, para se entender a relevância e a urgência das advertências de Pedro. Os falsos mestres ganham os cristãos com histórias engenhosas (1.16), um padrão diretamente oposto à verdade que Pedro e os demais apóstolos testemunharam. [4]
E ainda em resumo:
Os falsos profetas são perigosos por três razões: (1) o seu método é traiçoeiro e conduz a meios vergonhosos, levando a fé a ser difamada, (2) o seu ensino é uma completa negação da verdade e (3) o seu destino é causar destruição tanto a si mesmos quanto aos seus seguidores. [5]
O campo de batalha: a vida, a família, o dia-a-dia
À medida que se aproxima o tempo do fim, cresce a apostasia. As advertências são severas quanto a isso. Como dito a pouco, seria possível citar muitos e muitos textos bíblicos sobre o assunto, mas vamos chamar atenção para esta pequena cadeia de versículos:
Jesus nos advertiu sobre o assunto de modo bem claro:
Então Jesus lhes revelou: “Cuidado, que ninguém vos seduza. Pois muitos são os que virão em meu nome, proclamando: ‘Eu sou o Cristo!’, e desencaminharão muitas pessoas… Então, numerosos falsos profetas surgirão e enganarão a muitos.  Mt 24.4,5,11 – KJA
Paulo alertou sobre o tema:
O Espírito Santo afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns se desviarão da fé e darão ouvidos a espíritos enganadores e à doutrina de demônios, sob a influência da hipocrisia de pessoas mentirosas, que têm a consciência cauterizada. São líderes que proíbem o casamento e ordenam a abstinência de alimentos que Deus criou para serem recebidos com ações de graças pelos que são fiéis e estão bem firmados na verdade. 1Tm 4.1-3 – KJA
João trata sobre movimentos que pervertem a Verdade:
Entretanto, muitos enganadores têm saído pelo mundo, os quais não confessam que Jesus Cristo veio em carne. Esse é o modo de ser do mentiroso e do anticristo. Acautelai-vos, para não destruirdes a obra que realizamos com zelo, mas para que, pelo contrário, sejais recompensados regiamente. Todo aquele que não permanece no ensino de Cristo, mas acredita estar indo além dele, não tem Deus; porquanto, quem permanece na sã doutrina tem o Pai e também o Filho. 2Jo 7-9 – KJA
Judas nos “convoca” para a defesa da Verdade:
Amados, enquanto me preparava com grande expectativa para vos escrever acerca da salvação que compartilhamos, senti que era necessário, antes de tudo, encorajar-vos a batalhar, dedicadamente, pela fé confiada aos santos de uma vez por todas. Porquanto, certos indivíduos, cuja condenação já estava sentenciada há muito tempo, infiltraram-se em vossa congregação com toda espécie de falsidades. Essas pessoas são ímpias e adulteraram a graça de nosso Deus em libertinagem e negam Jesus Cristo, nosso único Soberano e Senhor. A punição eterna dos ímpios. Jd 3-4 – KJA
É preciso admitir que o modo como a recente apologética foi promovida teve suas falhas. Talvez a pior de todas tenha sido apontar o erro e quase nunca apontar o caminho. Gritar e esbravejar sem apontar para Luz pouco ou nada ajuda quem está em trevas.
Nestes dias, onde pouco se lê e quase nada se medita nas Escrituras, não é de se estranhar que tantos cristãos tomem o texto da Bíblia a seu bel-prazer criando bizarrices icônicas! Por fim, acabam blindando a mente contra a teologia e contra a apologética, ignoram o contexto social e de decadência moral, não enxergam as mudanças no cenário cultural. Esta venda é cômoda ao passo que se sentem satisfeitos com suas vidas, com a prosperidade material (ou a busca desenfreada por tal), com a satisfação do ego, com as cócegas nos ouvidos (2Tm 4.3).
A firmeza em relação aos valores que Deus espera de seu povo é que faz toda a diferença. Olhando assim, ou estamos anunciando e proclamando o Evangelho de Cristo e sendo a sua igreja que o glorifica e adora, ou somos o contingente que está sendo levando “prá lá e prá cá” pelos ventos de doutrina (Ef 4.14).
A Graça é o caminho a ser sempre apontado e relembrado. Firmeza doutrinária, exposição bíblica, proclamar o Evangelho de Jesus e lembrar que o caminho do amor de Deus está escancarado, um caminho que Ele mesmo nos prepara a trilhar. Se apegue a Palavra. Se apegue a doutrina sadia. Confie em Deus e siga adiante, longe da sedução e engano destes falsos mestres.
Concluindo, pense no seguinte: os membros de sua casa, as pessoas a quem você ama: Cônjuge, filhos, netos, parentes. Estas pessoas precisam receber altas doses de esclarecimento bíblico e doutrinário. Deus conduzirá seu povo em caminho seguro, sua igreja não sucumbirá diante do inferno e seus falsos mestres, mas cabe a nós, embaixadores, proclamar, ensinar, viver para glória de Deus e defender a fé. E isso, como já foi dito, não é novidade, é a “velha verdade” ensinada pela Palavra de Deus.
Soli Deo gloria!
NOTAS
[1] HODGE, Charles. Teologia Sistemática. Hagnos. São Paulo, SP: 2001. p.1090-1091
[2] LLOYD-JONES, D.Martyn. 2 Pedro: Sermões Expositivos. PES. São Paulo, SP: 2009. p. 164-165
[3] LLOYD-JONES, D.Martyn. 2 Pedro: Sermões Expositivos. p. 168
[4] ARRINGTON, French L.; STRONSTAD, Roger.  Comentário Bíblico Pentecostal do NT, vol 2. CPAD. Rio de Janeiro, RJ: 2009. p. 936
[5] CARSON, D.A. (org). Comentário Bíblico Vida Nova. Vida Nova. São Paulo, SP: 2009. p. 2086

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Ensaios sobre a Igreja na pós-modernidade: introdução



Os tempos mudaram. O século XX foi marcado por tensões sociais que deflagraram mudanças profundas na cosmovisão de cada ser humano. As mudanças sociais nada mais são que a aplicação de filosofias que sucederam o período histórico denominado modernidade, gerando o que muitos chamam de pós-modernismo, e outros denominam hipermodernismo. Este tempo é marcado por superficialismo, relativismo, pluralismo e rejeição da verdade absoluta ou mesmo a completa aversão sobre o simples mencionar da verdade.
Para a cosmovisão cristã, de modo muito singular, o pós-modernismo tem sido um desafio, que para tantos é motivo de pavor, quanto para outros é uma boa oportunidade de mostrar que a reivindicação cristã da verdade – pois o próprio Cristo é a verdade – é um fato.
Entretanto, existe uma ala dentro da cristandade contemporânea, denominado Movimento da Igreja Emergente, que ao invés de sustentar a ortodoxia tradicional do Cristianismo, está procurando ajustar a cosmovisão cristã ao pluralismo relativista da pós-modernidade, criando uma religião híbrida e amigável ao extremo. Os emergentes possuem como mérito o despertar de aspectos cristãos que algumas denominações simplesmente esqueceram, como por exemplo, a prática do Evangelho, a comunicação do Reino de Deus fora das paredes da igreja, as boas obras para todo e qualquer ser humano, amando-o acima de dogmas e tradicionalismos religiosos, etc.
As boas obras devem ser prática cristã como fruto natural da recepção genuína do Evangelho por cada ser humano que se denomina cristão. É preciso ser um pouco mais prático, saindo do gueto e indo avante, entretanto, de modo algum a ortodoxia pode ser ajustada, se transformando por demais generosa, em função da ortopraxia. Em síntese, ortodoxia e ortopraxia devem andar juntas, como atestado mútuo da veracidade da fé cristã.
PARA COMEÇAR…
A pós-modernidade é o movimento da cultura que rejeita os valores da modernidade e vê com desconfiança os princípios racionais supostamente universais, desenvolvidos na época do Iluminismo. A filosofia de perfil irracionalista do final do século XIX preparou terreno para a pós-modernidade. Mas a pós-modernidade propriamente dita tem origem nas primeiras décadas do século XX, e seu impacto maior ocorreu nas últimas décadas.
O fenômeno teve início nas artes, inicialmente na arquitetura, e depois teve espaço ampliado na cultura geral. O impacto maior na sociedade se deu por influência da mídia. O cinema, a televisão e a internet são seus principais meios de disseminação, porém não os únicos. Esse novo modelo de ser já criou uma nova cultura que desafia o jeito tradicional de ser igreja.
Essa nova cultura manifesta algumas tendências tais como: culto ao ecossistema, desespero humanista, irracionalismo, misticismo, relativismo, existencialismo, pluralismo e predomínio do artístico. Tudo isso traça um perfil distinto de uma nova realidade que precisa ser mapeada, compreendida e enfrentada, pois o grande desafio para os cristãos é “ser igreja” em meio a essa nova cultura.
É realidade que nossa tradição evangélica histórica foi moldada pela mentalidade moderna, tanto na teologia, quando na eclesiologia. Essa igreja histórica, e um tanto quanto “sarcófaga”, sente em diversos aspectos o seu descompasso com esta nova geração pós-moderna. Urge tornar a mensagem bíblica relevante para esta nova geração. Todavia, a questão é muito melindrosa e complexa. O desafio é: como ser igreja em meio ao pós-modernismo? Como construir uma teologia desprendida da modernidade que não se atole no lamaçal do relativismo absoluto da pós-modernidade?
Na sede de criar modos de comunicar o Cristianismo neste horizonte, alguns estão optando por metodologias que estão muito contextualizadas ao gosto pós-moderno. Neste contexto se destaca o movimento denominado “Igreja Emergente”, que lança mão de artifícios que se distanciam de modo muito sutil do cristianismo ortodoxo.
O objetivo desta série de artigos é apresentar propostas de uma genuína ortopraxia, sem descuidar de modo algum da ortodoxia. Desta forma, será apresentada, além da definição do que é o pós-modernismo e dos desvios doutrinários causados pelos Emergentes, uma proposta de despertar os cristãos para enxergarem o “ser igreja” como algo mais amplo que um culto dominical entre as quatro paredes do templo.
Portanto, fique atento aos próximos artigos!
OUTROS TEXTOS DA SÉRIE

 


Ensaios sobre a Igreja na pós-modernidade: definições

Pós-modernidade. Eis um termo que significa muito, que possui muitas definições e literatura numa amplitude cada vez mais surpreendente. Muitos filósofos, sociólogos e estudiosos da área utilizam o termo pós-moderno, outros preferem o uso do termo hipermoderno. Justamente por estarmos vivendo neste tempo, tão carente de absolutos, não é de se estranhar a dificuldade de utilização do mesmo termo bem como o estado de desespero que muitas vezes toma conta das pessoas pela simples menção da expressão “pós-moderno”.
Pós-modernismo é tanto uma noção histórica e cronológica quanto uma idéia filosófica. Analisando sob a ótica histórica, pós-modernismo se refere à modernidade, devido este tempo preceder o outro bem como a rejeição do pós-modernismo por alguns conceitos modernos. Sob o aspecto cronológico, muitos definem que o pós-modernismo é o retrato de uma era que já começou, e sob alguns aspectos já substituiu a modernidade. Por fim, na concepção filosófica e psicológica trata-se de um tempo de grande “relativismo cultural sobre coisas tais como realidade, verdade, razão, valor, significado lingüístico, o eu e outras idéias” (MORELAND & CRAIG, 2005, p.186).
Para a igreja, o pós-modernismo representa um desafio. Um bom desafio conforme as palavras de Ferreira e Myatt (2007, p.4):
Para muitos, a situação pós-moderna é uma ocasião de desespero. Mas é exatamente nos momentos históricos que se mostram mais difíceis que a fé cristã se levanta, trazendo nova esperança. E, nestes momentos, a tarefa teológica se torna crítica para proclamar e defender a fé, e para nortear o povo de Deus na travessia dos campos de batalha que permanecem à frente. Nosso desafio é fazer uma teologia que coloque toda a riqueza da fé evangélica histórica desde a igreja antiga até a atual, em contato com os problemas de um mundo pós-moderno e globalizado, trazendo luz, vida e esperança para um povo cuja existência carece do significado que somente se encontra no Senhor.
Para os estudiosos da área, fica o desafio de definir o que significa este tempo. Esperandio (2007, p.41) lança uma opinião sobre este tempo que confere com o pensar de muitos:
Vê-se, pois, que as teorizações sobre pós-modernidade/pós-modernismo vão se construindo simultaneamente ao próprio aparecimento dessa nova configuração do social, que os teóricos têm dificuldade em definir: seria então uma nova forma de ser, de pensar e viver, mas ainda dentro da modernidade, ou poderia esse novo modo de existência (com implicações visíveis nos mais variados campos do saber) ser categorizado como um outro período histórico, o pós-moderno?
Por ser uma época em processo de definição, existe certa controvérsia no meio acadêmico quanto ao emprego correto de “rótulo” que melhor determine este tempo. Um filósofo muito influente que afirma que o pós-modernismo já “passou” é Gilles Lipovetsky. Na verdade, Lipovetsky defende que o pós-modernismo sequer existiu; este filósofo francês defende que:
O neologismo pós-moderno tinha um mérito: salientar uma mudança de direção, uma reorganização em profundidade do modo de funcionamento social e cultural das sociedades democráticas avançadas. Rápida expansão do consumo e da comunicação de massa; enfraquecimento das normas autoritárias e disciplinares; surto de individualização; consagração do hedonismo e do psicologismo; perda da fé no futuro revolucionário; descontentamento com as paixões políticas e as militâncias – era mesmo preciso dar um nome à enorme transformação que se desenrolava no palco das sociedades abastadas, livres do peso das grandes utopias futuristas da primeira modernidade. (LIPOVETSKY, 2004, p.52).
Dando a explicação do porque do uso do termo “pós”, ele afirma que que o que vivemos é na verdade o tempo do “hiper”:
A cultura hipermoderna se caracteriza pelo enfraquecimento do poder regulador das instituições coletivas e pela autonomização correlativa dos atores sociais em face das imposições de grupo, sejam da família, sejam da religião, sejam dos partidos políticos, sejam das culturas de classe. (…). Testemunho disso é a maré montante de sintomas psicossomáticos, de distúrbios compulsivos, de depressões, de ansiedades, de tentativas de suicídio, para nem falar do crescente sentimento de insuficiência e autodepreciação. (…). À desregulação institucional generalizada correspondem as perturbações do estado de ânimo, a crescente desorganização das personalidades, a multiplicação de distúrbios psicológicos e de discursos queixosos. (LIPOVETSKY, 2004, p.83-84).
Doutra forma, renomados filósofos cristãos como Norman L. Geisler, William Lane Craig, J.P. Moreland e Peter Kreeft defendem que o que vigora ainda é o pós-modernismo.
Partindo deste pressuposto, é preciso estabelecer meios de comunicar e praticar o cristianismo neste horizonte, e para que a proclamação do Evangelho seja eficaz é preciso conhecer esta cosmovisão, não fugir dela, mas de modo algum criar alianças e contextualizações. Morley (2005, p.200) disse:
Quanto mais compreendermos as idéias das pessoas, melhor poderemos comunicar a verdade das Escrituras e do Evangelho para elas. Por isso é que estudamos sobre cultos e religiões, e daí a grande importância de que os missionários estejam muito bem preparados entenderem as culturas nas quais vivem. Mas poucos cristãos do ocidente se esforçam o suficiente para compreender a cultura onde eles mesmos vivem!
Outro fato importante a se destacar é que não existe consonância quanto ao inicio da era pós-moderna; o que existe é o consenso que alguns nomes influenciaram muito a forma de pensar do homem, que mudou sua atitude severamente moldando assim a sociedade atual. Existem fatores e nomes que acenderam o “estopim” do pós-modernismo.
Após o fracasso da crença numa “perfeição humana” e na sua eventual bondade, vendo o século XX ser manchado de sangue, mancha esta das duas grandes guerras mundiais, uma guerra fria, estados governados por regimes cruéis, ditadores e totalitaristas, inúmeras guerras civis, o vergonhoso Holocausto efetuado pelos nazistas (como uma flecha no coração modernista europeu), tensões na frança sob o regime do presidente Charles de Gaulle em 1968 (onde os jovens bradaram nas ruas o termo “é proibido proibir”) e profundas mudanças no regime marxista, mudanças no pensamento quanto a perfeição do modernismo foram minando tal época.
Nomes como Michel Foucalt, Jacques Derrida, Richard Rorty e Jean-François Lyotard passaram a por em xeque a concepção modernista.
Foucault rejeitava a idéia que o conhecimento é algo intrinsecamente neutro. Para ele a ciência e conhecimento são instrumentos de opressão usados pelos que os possuem cuja finalidade é obter poder e domínio sobre as massas. Em síntese, no pensamento de Foucault, toda afirmação de conhecimento é na verdade um ato de poder.
Derrida apregoa que os dicionários, por exemplo, dão a falsa impressão que as palavras possuem definições e significados absolutos, inalteráveis. Para ele o significado das coisas/palavras está ligado às experiências pessoais de cada indivíduo, e como tais experiências mudam de forma constante, os significados também mudam. Agindo assim, Derrira continuou a “desconstruir” conceitos tradicionais firmados no pensamento humano. De certa forma, a conseqüência macro do seu pensamento em nossos dias é o relativismo, ou seja, tudo é relativizado por cada ser e a verdade e o absoluto não passam de meros conceitos individuais. Sobre Derrida, Geisler diz (2002, p. 248):
É considerado um “filósofo” francês contemporâneo, apesar de alguns questionarem se ele é um verdadeiro filósofo. É pai de um movimento conhecido como “desconstrutivismo”, ainda que pessoalmente ele rejeite o significado popular do termo. O movimento também é chamado “pós-modernismo”, apesar de Derrida também não usar o termo para descrever sua visão.
Rorty por sua vez, com seu pensamento neo-pragmático afirma que a idéia da verdade é apenas um mito. Em seu modo de pensar a “verdade” é aquilo que sobrevive às objeções dentro do contexto cultural ao que é apresentado, assim, o que é verdade continua sendo relativizado, não pelo individuo, mas pelo ambiente sócio-cultural. Para Rorty, devemos abandonar a busca pela verdade e nos contentarmos simplesmente com a interpretação.
Por fim, Lyotard apregoa um pensamento em favor da diversidade e de considerações meramente pragmáticas.
Tal ambiente cria uma aparente sensação de que tudo está mais belo e livre e que o homem pós-moderno é de fato o mais realizado de todos os tempos. Poucos são francos em admitir seu verdadeiro sentimento de vazio e confusão. Nas palavras de Miranda (2006, p.264):
[as pessoas] sentem-se diariamente rodeadas pelo diferente, pelo desconhecido, pelo estranho. Ninguém está completamente à vontade na sociedade pós-moderna. Estamos todos contaminados por uma epidemia silenciosa de insegurança e de angústia. A oferta generosa e abundante de “definições da realidade”, à semelhança de umshopping bem sortido, garante ao individuo maior espaço para sua liberdade, mas, simultaneamente, descarrega sobre ele o difícil ônus de construir sua própria identidade sem lhe oferecer referências sólidas, objetivos comprovados, ideais aceitos pela sociedade que, outrora, lhes garantia honorabilidade e, sobretudo, credibilidade.
Por mais que a análise do pensamento desses pensadores tenha sido superficial, é possível identificar que os conceitos relativistas e pluralistas que permeiam o pensamento do homem pós-moderno têm como fonte tais filosofias. Relativismo, pluralismo e a rejeição da verdade são marcas deste tempo, as quais McGrath refuta (2007, p.168):
Contudo, a lenta saída da modernidade, ainda que inexorável, não significa que o evangelicalismo precise assumir a ordem pós-moderna. Com efeito, o evangelicalismo provê um ponto de observação fundamental de onde criticar aspectos da visão de mundo pós-moderna, não menos sua aparente reação exagerada à ênfase do Iluminismo na verdade. A verdade permanece um assunto de importância apaixonante para o evangelicalismo, mesmo que exista uma pressão cultural bastante forte na sociedade ocidental para conformar com sua ótica prevalecente de “meu ponto de vista é tão bom quanto o seu”.
Mas afinal, o que significa para a humanidade o passar da era moderna para a pós-moderna. Conforme Lipovetsky (2007, p.23) disse:
A pós-modernidade representa um momento histórico preciso em que todos os freios institucionais que se opunham à emancipação individual se esboaram e desapareceram, dando lugar à manifestação dos desejos subjetivos da realização individual, do amor-próprio. As grandes estruturas socializantes perdem a autoridade, as grandes ideologias já não estão mais em expansão, os projetos históricos não mobilizam mais, o âmbito social não é mais que o prolongamento do privado – instala-se a era do vazio, mas “sem tragédia e sem apocalipse”.
Eis o cenário armado para a introdução de linhas teológico-filosóficas no cristianismo histórico que são verdadeiros cavalos-de-tróia. Na ansiedade por ter um cristianismo mais amigável ao pensamento pós-moderno, o movimento da Igreja Emergente adentrou o cristianismo hodierno como tal cavalo-de-tróia.
OUTROS TEXTOS DA SÉRIE
BIBLIOGRAFIA
ESPERANDIO, Mary Rute Gomes. Para entender pós-modernidade. São Leopoldo: Sinodal, 2007.
FERREIRA, Franklin & MYATT, Alan. Teologia sistemática: uma análise histórica, bíblica e apologética para o contexto atual. São Paulo: Edições Vida Nova, 2007.
MORELAND, J.P. & CRAIG, William Lane. Filosofia e cosmovisão cristã. São Paulo: Edições Vida Nova, 2005.
LIPOVETSKY, Gilles. Tempos hipermodernos. São Paulo: Editora Barcarolla, 2004.
MORLEY, Brian K. in MACARTHUR, John. Pense biblicamente: recuperando a visão cristã de mundo. São Paulo: Hagnos, 2005.
GEISLER, Norman. Enciclopédia de apologética: respostas aos críticos da fé cristã. São Paulo: Editora Vida, 2002.
MIRANDA, Mário de França. A igreja numa sociedade fragmentada. São Paulo: Edições Loyola, 2006.
MCGRATH, Alister. Paixão pela verdade: a coerência intelectual do evangelicalismo. São Paulo: Shedd Edições, 2007.

 

Ensaios sobre a Igreja na pós-modernidade: a “Igreja Emergente”



Infelizmente, são poucos os cristãos que conseguem conciliar a ortodoxia cristã com a propagação da mensagem do Evangelho para a sociedade pós-moderna. Sob a alegação que a mensagem apregoada pela igreja do horizonte moderno é muito intolerante e “fundamentalista”, passamos a encarar uma era de extremos no contexto eclesiástico. Em um dos lados da corda está o movimento da Igreja Emergente, que enfatiza sobremodo o pragmatismo, deixando de lado a teologia cristã e ajustando-a ao pensamento pós-moderno, criando assim a “Ortodoxia Generosa”[1]. A leitura do livro “Ortodoxia Generosa” de McLaren deixa muito claro ao leitor que o autor é (ou deseja ser) extremamente generosocom todo e qualquer credo existente no mundo[2], menos com o cristianismo tradicional, taxado pelo autor de exclusivista, fundamentalista e intolerante.
A origem deste movimento é recente, conforme Daniel (2007, p.29), a Igreja Emergente:
Nasceu no final do século XX, mas floresceu no início do século XXI. Trata-se de um movimento que prega a necessidade de uma nova compreensão do Evangelho e da Espiritualidade, e de uma nova teologia com uma nova abordagem da Bíblia. Um de seus mais famosos proponentes é o pastor americano Dan Kimball, que lançou em 2003 o livro The Emerging Church: Vintage Christianity for New Generations (Zondervan).[3]
E continua esclarecendo o início do movimento bem como indicando os principais divulgadores:
Apesar de Dan Kimball ter sido o primeiro a lançar um livro apresentando claramente a proposta da Igreja Emergente, não foi ele o criador do termo para designar o movimento. O título “emergente” surgiu dois anos antes do livro de Kimball e é invenção dos pastores Doug Pagitt e Brian McLaren, como este mesmo conta em seu livro Uma Ortodoxia Generosa – a Igreja em tempos de Pós-modernidade (Zondervan, EUA, 2004 e Editora Palavra, 2007).
Acaudilhados principalmente por Brian McLaren, os emergentes crescem a largos passos acusando o cristianismo “tradicional” de ser institucionalizado demais, rígido demais, ultrapassado, exclusivista ao extremo e fechado.
Dentre as características marcantes do Movimento Emergente, é possível destacar o seu espírito de protesto contra o cristianismo institucionalizado ou denominacional. Os Emergentes acreditam que o modelo de igreja comum está ultrapassado e não consegue atender as demandas do pós-modernismo. Interessante é notar que esta aversão é justamente pelo cristianismo tradicional defender a verdade absoluta, elemento que os pós-modernos têm aferro. Abominam também o conceito de hierarquia nas igrejas, julgando-os anti-bíblicos; nas Igrejas Emergentes, a figura de pastores, bispos, presbíteros praticamente não se encontram.
No aspecto teológico, os Emergentes têm verdadeira repulsa às Teologias Sistemáticas (livros ou disciplina em si) e apologética tradicional. Acreditam que as Sistemática nada mais fizeram que bitolar os crentes, sendo apenas um amontoado de textos bíblicos organizados de modo sistemático em torno das opiniões pessoais dos autores das mesmas; da mesma forma, julgam que a apologética cristã está atrasada e não deve permanecer defendendo a fé como vem fazendo no decorrer da história. Defender a fé nos dias de hoje (pós-modernismo), é ofensivo na mentalidade dos emergentes, tão pluralistas e inclusivistas[4].
O capítulo 6 do livro de Kimball (2008, p.87-100), intitulado “Nascido (Budista-Cristão-Wiccaniano-Muçulmano-Hétero-Gay) nos Estados Unidos”, mostra como os Emergente consideram os cristãos como errados em sua forma de pensar e como os emergentes são ultra-receptivos para com frentes de pensamento que divergem da verdadeira ortodoxia bíblica. Ao final do capítulo, Kimball praticamente tece – utilizando um fato real – uma apologia ao homossexualismo. Muito estranho para um cristão “clássico”, como menciona a capa da referida obra[5].
Os Emergentes julgam ser a melhor opção eclesiástica no atual contexto por defenderem que a sociedade atual é pós-cristã. Muitos que estão frequentando alguma igreja que tenha a filosofia emergente ou são pessoas “desingrejadas”, os quais outrora estiveram arrolados como membros de outra denominação, mas dada decepção de qualquer ordem migraram para este movimento, ou são pessoas das mais variadas índoles, que tem em comum a repulsa pelo modelo convencional de igreja e que se adaptam facilmente no meio Emergente, justamente por ser um meio já encharcado com o pós-modernismo.
Para o cristianismo verdadeiramente sóbrio e ortodoxo, a invasão da generosidade dos emergentes é um alerta a introdução do pós-modernismo no seio do cristianismo evangélico: “Não é de se admirar: a Igreja Emergente surgiu como um esforço deliberado para tornar o cristianismo mais apropriado a uma cultura pós-moderna (MACARTHUR, 2007, p.46).
Como dito anteriormente, além de Brian McLaren, outro expoente do Movimento Emergente é Dan Kimball. É fácil notar que a obra-prima de Kimball quanto a este movimento, intitulada “A Igreja Emergente: cristianismo clássico para as novas gerações” é dúbia, confusa e generosa demais. Já no prefácio da referida obra é possível encontrar variações de pensamento muito profundas, entre Rick Warren e Brian McLaren. As opiniões de ambos são ambíguas característica do movimento (MEISTER, 2006, p.99).
Um livro cheio de figuras, ilustrações, sugestões de modelo de culto. Chama atenção a seguinte definição, em modo de diagrama, que traz a proposta pós-moderna para que a igreja seja bem sucedida num futuro breve (KIMBALL, 2008, p.19-20):
Primeira parte deste livro: Situa-se o contexto histórico para a compreensão da necessidade de mudança. Sem compreender a primeira parte, a segunda será apenas superficial (desconstruindo). Segunda parte deste livro:Idéias práticas para eventual implementação em sua igreja e ministérios. (reconstruindo).
Enquanto  muitos estão preparando sermões e se mantendo ocupados com questões internas das igrejas, algo alarmante está acontecendo do lado de fora. O que antes era uma nação com uma cosmovisão judeu-cristã está rapidamente se tornando uma nação pós-cristã, não alcançada e sem experiência nem vínculo com a igreja. Gerações estão surgindo ao nosso redor sem nenhuma influência cristã. Então devemos repensar tudo o que estamos fazendo em nossos ministérios (destaque do autor).
Desconstruir, eis o caminho Emergente. É como se tudo que o Cristianismo Histórico fez seja anátema aos Emergentes. Posando de movimento “mente-aberta”, tornam-se exclusivistas no seu modo de pensar, levando os seus seguidores a pensar que de fato trata-se enfim da aurora da verdade.
Basta uma breve análise daquilo que o próprio McLaren afirma para perceber que o movimento é nocivo à saúde da igreja cristã. Fazendo menção em todo livro “Uma Ortodoxia Generosa” a uma gama variada de credos – e como os cristãos tradicionais são “bitolados” – McLaren se mostra bastante entusiasmado e receptivo com o pluralismo religioso que rege a pós-modernidade. Provavelmente, o maior atestado deste pluralismo irrestrito de McLaren seja o capítulo 15, intitulado “Por que sou católico”, onde o autor relata um insólito episódio (MCLAREN, 2007, p.243-244):
Um dia, minha caminhada matinal me levou até a Igreja Católica Romana Nossa Senhora da Paz, perto do meu hotel. Atrás da igreja havia uma enorme estátua de Maria cercada por um lindo jardim, que por sua vez estava cercado de pistas abarrotadas. Atraído por esse pequeno jardim de paz no meio do trânsito matinal caótico da área da baía, me vi sentado sobre um banco com a imagem de Maria me fazendo sombra, me olhando com um olhar gentil e seus braços estendidos em minha direção. (…) Que irônico, pensei, para um menino criado em família protestante estar sentado ali com lágrimas nos olhos, emocionado com Nossa Senhora da Paz (…). Naquele dia também me tornei, em certo sentido, um pouco mais católico.
É de se supor que McLaren tenha postura semelhante ao se deparar com a imagem de Buda, Shiva ou Osíris? Se a igreja migrar para este tipo de conduta ecumênica e irrestrita, poderemos jogar no lixo 500 anos de Reforma Protestante.
Outro livro de importância para a Igreja Emergente, de autoria de Brian McLaren é “A Igreja do outro lado”[6]. Tal livro mostra a aversão da Igreja Emergente pela Teologia Sistemática, Apologética Tradicional e organização eclesiástica.
Por fim, outro autor que influencia o modelo Emergente é Stanley J. Grenz, com seu livro “Pós Modernismo: um guia para entender a filosofia de nosso tempo”[7].
CRÍTICA À IGREJA EMERGENTE
Se o Movimento Emergente está crescendo a largos passos, o volume de páginas na internet, seja sites ou blogs, artigos e livros com as devidas criticas ao liberalismo extrapolado dos emergentes cresce praticamente na mesma proporção.
O problema não pode ser ignorado, pois o movimento emergente, carregado com a filosofia pós-moderna, avança com muita força, misturando algumas verdades com muitos sofismas. Vejamos as palavras a seguir (MACARTHUR, 2008, p.11) numa advertência sobre o risco deste movimento:
Hoje em dia, esse tipo de coisa [Igreja Emergente] goza de muita popularidade. McLaren foi o autor ou o co-autor de cerca de uma dúzia de livros, e seu total desprezo pela certeza é um tema ao qual ele volta repetidas vezes. Em 2003, a editora Zondervan e a organização Especialidades da Juventude trabalharam em conjunto para iniciar uma linha de produtos chamada Emergente/EJ. Publicam livros, DVDs e produtos de áudio num ritmo intenso e em abundância.
Os críticos do movimento apontam os erros mais evidentes dos Emergentes, alguns deles já apresentados de modo simples anteriormente. Enquanto alguns críticos são mais “amigáveis”, outros são mais explícitos nas palavras. Vejamos a seguinte declaração (LAHAYE, 2007):
Entre os falsos ensinos que brotam da Igreja Emergente encontra-se uma forma não tão sutil de ataque à autoridade da Bíblia – um claro sinal de apostasia. Eles não mais afirmam: “Assim diz o Senhor” (apesar do uso dessa expressão por mais de duas mil vezes na Bíblia), por temerem que isso ofenda aquelas pessoas que apregoam a igualdade de todas as opiniões quanto ao seu valor. A Palavra de Deus não é mais interpretada por aquilo que realmente diz; em vez disso, é interpretada por aquilo que diz para você, desconsiderando, assim, o fato de que a formação educacional e a experiência de vida de uma pessoa podem influenciar a maneira pela qual ela interpreta as Escrituras, a ponto de levá-la irrefletidamente a um significado nunca planejado por Deus para aquele texto.
E continua expressando sua reprovação e opinião particular sobre a Igreja Emergente:
Eu, particularmente, creio que eles [defensores do pós-modernismo emergente], na verdade, são hereges, apóstatas e lobos “disfarçados em ovelhas”. Devido ao fato do cristianismo liberal ter caído no vácuo do descrédito e das igrejas liberais terem ficado vazias, eles agora fazem uma tentativa de re-empacotar sua teologia sob a forma de pós-modernismo. Na realidade, a maior parte desses conceitos não passa daquilo que costuma ser chamado de modernismo ou liberalismo, ainda que expressos com uma terminologia pós-moderna.
Muitos se assustam ao ler opiniões como a citada acima, mas nunca se deve esquecer que, na história cristã, em praticamente 2.000 anos, inúmeras investidas contra a ortodoxia surgiram, muitas delas explicitamente contrárias aos padrões bíblicos e outras um pouco mais “amigáveis” e “agradáveis”.
No Movimento Emergente, outra característica muito marcante é a ênfase dada ao pragmatismo (ou ortopraxia); levando sempre em consideração o conceito popular de que se algo está crescendo, fazendo e acontecendo, por inferência esse algo é bom. Será? Por isso é sempre necessário avaliar os mais finos conceitos que regem um movimento (ainda mais quando tal reivindica ser cristão). Vejamos a opinião de um cristão bíblico que tem lutado muito contra as investidas emergentes (MACARTHUR, 2008, p.66):
Mas o que deve ser notado aqui é que, no sistema de McLaren, a ortodoxia realmente é uma questão de prática e não de crenças verdadeiras. Embora reconheça que esta idéia é “escandalosa”, apesar disso, ele a afirma como a mensagem central do seu livro [Uma Ortodoxia Generosa]. Francamente, é difícil ver essa perspectiva como outra coisa, senão como a velha e familiar incredulidade, arraigada numa rejeição dos ensinos claros das Escrituras. McLaren elevou as boas obras do próprio pecador acima da importância da fé fundamentada na verdade do Evangelho. Não devemos admirar que ele sinta grande afinidade com budistas e hinduístas. No campo final, muitas das idéias dele a respeito do papel da retidão e das boas obras no cristianismo não diferem fundamentalmente das idéias dessas religiões.
Por fim, vale lembrar que a Igreja Emergente no Brasil segue passos um pouco diferentes da igreja americana. Os Emergentes no Brasil estão aparecendo cada vez mais inseridos em igrejas novas ou velhas, mas que abriram as portas para a filosofia relativista da pós-modernidade. Como praticamente tudo que vem de fora encontra solo fértil na mentalidade espiritualista consumista do brasileiro, não é de se estranhar que esta moda ainda venha a se manifestar de modo intenso nos próximos anos.[8]
Focalizando a problemática que este movimento representa para os brasileiros, já é possível localizar boas obras cristãs escritas originalmente no contexto brasileiro contra modismos como a teologia da Igreja Emergente.
Para uma compreensão mais profunda sobre o perigo que este movimento representa para a igreja, a leitura do livro “A Sedução das Novas Teologias”, de Silas Daniel é muito proveitosa.[9]
No entanto, é preciso reconhecer que o Movimento Emergente está “chacoalhando” a igreja cristã tradicional, levando-a a repensar sobre sua verdadeira missão. É um fato que a grande maioria dos cristãos está muito satisfeita com a presença apenas nos cultos dominicais, levando a vida simplesmente amparada por uma mera religiosidade sem os frutos que Jesus espera da Sua igreja.
O aspecto prático do cristianismo e a missão no mundo precisam ser restauradas. O grande problema que a igreja terá que resolver é como levar a mensagem cristã para os pós-modernos sem ser influenciado pelo seu pensamento relativista. De fato é um grande desafio que não poderá ser enfrentado (e vencido) enquanto a igreja permanecer lacrada entre quatro paredes, dormindo em sua inércia. Levando em conta que tanto os Emergentes como as pessoas moldadas pela filosofia pós-moderna anseiam por algo mais prático, urge a necessidade de relembrar a necessidade do aspecto prático do cristianismo.
OUTROS TEXTOS DA SÉRIE
1. Ensaios sobre a Igreja na pós-modernidade: introdução
2. Ensaios sobre a Igreja na pós-modernidade: definições
NOTAS

[1] “Ortodoxia Generosa” é também o nome de um livro de Brian McLaren, importante divulgador e defensor do movimento Emergente. Publicado no Brasil pela Editora Palavra (Brasília, 2007). O tom confuso do livro – adaptado ao contexto pós-moderno relativista e pluralista pode ser facilmente identificado na capa do mesmo, onde o autor diz “Por que sou um cristão missional, evangélico, pós-protestante, liberal/conservador, místico/poético, bíblico, carismático/contemplativo, fundamentalista/calvinista, anabatista/anglicano, metodista, católico, verde, encarnacional, deprimido-mas-esperançoso, emergente e inacabado”.
[2] Não afirmo que o diálogo entre as religiões não deve ocorrer, mas que adentrar no ecumenismo irrestrito que o pluralismo da pós-modernidade propõe pode levar o cristão à apostasia.
[3] Livro já publicado no Brasil com o título “A Igreja Emergente: Cristianismo clássico para as novas gerações”, São Paulo: Vida, 2008.
[4] Este pensamento não generoso de Brian McLaren para com a Teologia Sistemática e Apologética está muito explícito nas linhas dos livros “Uma Ortodoxia Generosa” e “A Igreja do Outro Lado”.
[5] O Homossexualismo é um fato na sociedade contemporânea. O homossexual deve ser respeitado como ser humano, sendo repulsiva toda e qualquer forma de violência contra o cidadão seja por palavras ou ações. Os homossexuais, assim como todo e qualquer cidadão, diante da lei têm seus direitos e deveres. Entretanto, perante as premissas bíblicas, tais práticas são consideradas pecaminosas, e a cultura secular não deve se infiltrar na igreja a ponto do cristianismo passar a encarar esta prática como normal e aceitável. Uma ditadura gay tenta ser implantada no mundo, sob o falso pressuposto de homofobia, onde o que de fato se observa é o levantar da bandeira heterofóbica por parte das militâncias homossexuais.
[6] Editora Palavra, Brasília, 2008.
[7] Edições Vida Nova, São Paulo, 2008.
[8] Recentemente alguns modelos de igreja foram importados para o Brasil (efeitos da globalização religiosa); uns ficaram, outros aos poucos caem no esquecimento (embora as feridas ainda marquem a igreja). Modas como “A Benção de Toronto”; “Avivamento de Pensacola” e “Igreja em Células no Governo dos 12 – G12” bagunçaram muito a eclesiologia brasileira.
[9] CPAD, Rio de Janeiro, 2007. Ler em especial os capítulos 2 e 5.
BIBLIOGRAFIA

DANIEL, Silas. A sedução das novas teologias. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.
MACARTHUR, John. A guerra pela verdade. São José dos Campos: Editora Fiel, 2008.
MEISTER, Mauro. Igreja Emergente, a igreja do pós-modernismo? Uma avaliação provisória. in Revista Fides Reformata XI, n.º 1 (p.95-112). São Paulo, 2006
KIMBALL, Dan. A igreja emergente: cristianismo clássico para as novas gerações. São Paulo: Editora Vida, 2008.
MCLAREN, Brian D. Uma ortodoxia generosa. Brasília: Editora Palavra, 2007.
_____________. A Igreja do outro lado. Brasília: Editora Palavra, 2008.

GRENZ, Stanley J. Pós-modernismo: um guia para entender a filosofia de nosso tempo. São Paulo: Edições Vida Nova, 2008.

FONTE NAPEC.ORG




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