A Igreja
Apostólica nunca praticou o movimento celular
O
movimento da igreja em células, com toda a sua estrutura bem articulada e
planejada, consiste de um artifício moderno que nunca passou pela cabeça dos
apóstolos. O método de evangelização proposto por esse movimento também é
totalmente estranho à evangelização apostólica. Nos livros dos proponentes do
movimento, nada encontramos ali de significativo que prove a originalidade
apostólica do movimento em células. Os textos mais comuns usados pelo movimento
são At. 2.46 e At. 5.42.
Ainda que
Paulo e os demais apóstolos, esporadicamente tivessem usado reuniões em lares,
o método apostólico que fez a igreja se multiplicar estrondosamente no primeiro
século foi unicamente a pregação da Palavra no templo (na verdade no pátio do
templo) e na sinagoga, para grandes concentrações, e não reuniões em lares,
(Atos 3:1,11; 5:12,20,21;9:2,20; 11:26; 13:5,14,15,16; 13:42,43; 14:1; 17:1,4;
18:4,19,26; 19:8; 19:9; 19:31).Como o evangelho é poder (Rm 1:16;I Co 1:18,24;
2:4), ele não precisa de acomodações de locais e nem de circunstâncias, nem de
persuasão, pois é poderoso para salvar os pecadores onde eles estiverem e como
estiverem. Os apóstolos tinham essa visão (I Ts 2.5), e por isso preferiam
grandes conglomerados de gente para a pregação do evangelho. O evangelho da
igreja em células só funciona nas células porque é comprometido com a bajulação
de pecadores e persuasão de sabedoria humana, essa é razão porque eles
menosprezam o templo e os grandes conglomerados de gente. Possivelmente o
evangelho das células não tem poder para converter pecadores no meio das
multidões. O método da bajulação e persuasão é muito mais eficaz em pequenos
grupos, corpo a corpo, ou pessoalmente, porque só dessa maneira acontecem os
laços sociais que prendem seus fiéis muito mais rápido do que a verdadeira
conversão pelo poder da Palavra.
Durante
os dias apostólicos havia a necessidade das credenciais apostólicas serem
vivenciadas pelo maior número de pessoas que representassem nações e cidades;
este era o instrumento do primeiro século para expandir o evangelho por todas
as partes do mundo em pouco tempo. É por essa razão que o Pentecostes ocorreu
em Jerusalém, bem como essa cidade tornou-se o centro do Cristianismo para o
mundo: as multidões convergiam para Jerusalém. Depois das pregações apostólicas
em mega reuniões (o que nunca poderia ter ocorrido em lares) acompanhadas por
suas credenciais, cada pessoa voltava para seu país de origem com a mensagem do
evangelho. Mais tarde, quando os apóstolos chegam a esses lugares, já existe
uma base evangélica de poucos cristãos que tiveram contato com a mensagem
apostólica. Isto nunca seria possível se o método de evangelização fosse
igreja em células.
Pelos
dados bíblicos do Novo Testamento, o crescimento espantoso da igreja primitiva
nos dias apostólicos se deu exclusivamente pela pregação pública a grandes
auditórios, e não em pequeninas reuniões domésticas providas de articulações
pré-definidas e modelos enformados. Além do mais, o método apostólico de
evangelização pela pregação da Palavra era muito distinto do que o movimento
das células propõe. O método apostólico continha apenas a pregação, e nada
mais. No Novo Testamento nunca se ouve falar do método “quebra-gelo” antes da
pregação de Pedro, nem do método de se tomar refrescos depois da pregação de
Paulo, nem tampouco se ouve falar no livro de Atos que os apóstolos fizeram
reuniões em lares que consistiam de uma mistura de lazer somado a uma
caricatura de culto com participação de pagãos.
O
cristianismo primitivo foi incendiado em seus primeiros dias pela simples
pregação da Palavra no templo, e depois, continuamente, nas sinagogas. Esse era
o método apostólico de evangelização.
O texto
é do Rev. Moisés C. Bezerril e o artigo todo está no site www.monergismo.com
NMovimento Celular: O encontro com Deus
por Enviado por email - qua mai
07, 4:36 am
O que é o Encontro com Deus
O
Encontro com Deus é um retiro espiritual de três dias precedido pelo
pré-encontro – um período preparatório para o mesmo no qual alguns estudos
bíblicos são ministrados na igreja local – e sucedido pelo pós-encontro (também
um período de estudos bíblicos).
Terra
Nova define o encontro como três dias reservados para se estar a sós com Deus
“debaixo de uma organização que objetiva absorção máxima”. Diz, ainda, se
tratar “de um encontro espiritual 100% baseado nos princípios bíblicos”, cujos
efeitos podem ser verificados “na vida de cada encontrista”. Ele termina sua
definição com o jargão o encontro é “tremendo!”.[1]
Dentre
os objetivos desse retiro, pode-se destacar a introdução da visão dos 12. Para
o Apóstolo manauara, esse objetivo é importante porque “acelera o processo de
crescimento e manuseio da Palavra” para os novos convertidos e desperta o
desejo de ganhar almas. Não são apenas os novos convertidos que recebem
edificação, pois quem trabalha volta para a casa restaurado, com a vocação
despertada, a alegria recobrada e a vontade de ganhar vidas mais acesa.[2]
Renê
cita uma estatística própria dizendo que mais de “um milhão de pessoas já
passaram legalmente pelos Encontros em 24 meses, e outras milhares já fizeram
sua decisão ao lado de Cristo, através da Visão Celular”.[3] Ele só se esquece
de contar quantas pessoas de outras denominações foram “pescadas” nesses
encontros.
O Pré-Encontro
Conforme
já comentamos, o Pré-Encontro é um dos pontos do degrau consolidar. Consiste em
quatro reuniões de estudos bíblicos, os quais visam preparar o “encontrista”
para participar do evento que se diz tremendo.
Renê
define esses primeiros encontros como “um tempo de ministração específica e
direcionada para que o novo convertido entenda os processos espirituais nos
quais está envolvido”, além de um tempo de “aprender a ouvir a voz de Deus
através da Palavra ensinada”, no qual o candidato a encontrista poderá se “auto-avaliar”,
“pensar sobre sua conversão e seu interesse em prosseguir nos caminhos de
Jesus”.[4]
Pode até
acontecer do professor desses pré-encontros adiar a participação do candidato.
Caso este não esteja atendendo aos processos da visão dos 12, será aconselhado
a não participar.
Uma vez
por semana, então, os candidatos a encontristas se reúnem para estudar os
seguintes assuntos: 1) O pecado e suas consequências; 2) O primeiro Adão e o
último Adão; 3) Somos santos e filhos de Deus e 4) Quem somos em Cristo Jesus.
A
primeira lição aborda um tema de importância no cristianismo. Mostra que o
pecado entrou através de Adão e corrompeu toda a humanidade. A consequência do
pecado é a separação do homem com Deus que só pôde ser restituída em Cristo.
O
estudo, entretanto, é bem resumido e fica devendo na explicação de nossa culpa
em Adão e de nossa necessidade de justificação. Outra dívida é na explicação da
teoria da expiação. Renê até cita que “Jesus, o último Adão, é quem nos
resgata”,[5] mas não induz o discipulador-professor a explicar a quem Cristo
pagou o resgate. Isso é importante porque algumas pessoas acabam ressuscitando
a heresia origenista de que Cristo pagou este resgate a satanás.
A
segunda lição aborda a obra de Cristo na cruz e seu efeito para com os eleitos.
É o paradoxo entre o primeiro e o segundo Adão. Trata-se do benefício da
justificação e da santificação.
Fica por
conta do orientador explicar sobre a regeneração, pois nenhuma das duas lições
abordam o tema. Se na primeira a subjetividade em relação à expiação de Cristo
acontecia, na segunda, a sugestão de que Cristo pagou por nossa liberdade ao
diabo é ainda mais perigosa.
Terra
Nova compara a redenção de Cristo com o “ato de águem rico ir a uma feira de
escravos e pagar a carta de alforria de um escravo, dando-lhe a liberdade. Foi
exatamente o que Jesus fez por nós”, diz Renê.[6] Fica implícita em sua fala a
ideia de que Cristo pagou ao diabo por nossa liberdade.
A
terceira lição aborda o amor de Deus para conosco e a necessidade de lutarmos
pela santificação. Além disso, há a exortação para ganhar almas.
A última
lição preparatória para o Encontro aborda a filiação do crente e a necessidade
de mudança de vida. Uma dessas mudanças é a entrega total da vida a Deus,
deixando de confiar em si mesmo e confiando nEle.
Ainda no
Pré-Encontro, os candidatos deverão ser informados do dia, local e horário do
Encontro, bem como o que se deve ou não levar para o evento. Dentre os objetos
que não devem ser levados encontram-se “gravador, rádio, walkman, livros, materiais
extra de trabalho, telefones celulares, pager, etc”.[7]
O Encontro
Alguns
dias depois é iniciado o evento esperado. Normalmente o Encontro é feito num
final de semana, iniciando-se na Sexta à noite e terminando no Domingo após
servir o almoço. Se ele era secreto, deixará, doravante de ser.
Inicia-se
o encontro com algumas orientações sobre vestimentas, horários e outras coisas
necessárias para a organização do mesmo. Em seguida, abre-se com a primeira
ministração, cujo tema é “Peniel”.
Esta
primeira palestra é baseada na passagem em que Jacó tem um encontro teofânico
no vau de Jaboque (Gn 32). A definição da mensagem define como ela será
ministrada: “Peniel é um lugar de encontro com Deus, lugar de luta, de
arrependimento, de guerra, de choro, de pranto, de sentir profunda dor pelos
pecados, de confronto consigo mesmo e com Deus (…) Em Peniel, Deus mostrará
quem você é”.[8]
O
propósito dessa palestra é mostrar que durante o Encontro as pessoas estarão
num constante Peniel, ou seja, lutarão contra suas dificuldades, seus pecados e
o diabo. Os encontristas devem até mesmo lutar com Deus, para que assim como
Jacó, não saiam de lá sem que sejam abençoadas.
Peniel
propõe, ainda, uma mudança de estilo de vida. Assim como Jacó teve uma mudança
considerável após se tornar Israel, o encontrista deve abandonar o pecado.
Após a
palestra é passada uma lista com alguns nomes de pecado, na qual as pessoas
devem marcar o que já fizeram e confessa-los a Deus. Essa confissão deve conter
inclusive as épocas em que ocorreram.
Segundo
Terra Nova, este tempo em que os encontristas estiverem assinalando seus
pecados, “toma no mínimo 40 minutos, até que todos sejam convencidos pelo
Espírito Santo sobre seus pecados”.[9]
Após
essa ministração, as pessoas vão jantar e inicia-se o período de silêncio entre
os encontristas. Esse período varia de igreja para igreja, mas é estipulado no
manual até o dia seguinte na hora do almoço.
No
Sábado ocorrem 5 ministrações: 1) A importância do Encontro com Deus; 2)
Libertação; 3) No Encontro ampliamos nossa visão espiritual; 4) Cura Interior e
5) Indo à Cruz (esta foi fundida com a Cura Interior no último manual).
Na
primeira palestra o assunto a ser abordado é simples. Ela deve ocorrer bem
cedo, pois a ministração sobre libertação tomará maior parte do tempo matinal.
Esta
primeira palestra pode ser dividida em quatro tópicos: 1) Existem dois tipos de
encontro: com Deus e com o mundo; 2) As causas de um encontro: causal e
preparado. 3) A preparação que o encontrista deve se submeter para ter seu
encontro com Deus e 4) Os efeitos desse encontro: reconhecimento dos pecados,
restauração emocional, restauração espiritual, transformação e restituição.[10]
Após um
intervalo de 10 minutos, iniciar-se-á a palestra sobre libertação.[11] O tempo
que se demora para completar toda essa ministração, desde a mensagem até a
oração final, é em torno de três horas.
Esta
palestra inicia-se com a explicação do que é maldição: “é a permissão dada ao
diabo para causar danos à vida das pessoas”.[12] Ela pode ter origem de várias
formas: através de pecados pessoais e de palavras de maldição proferidas por
terceiros. Até mesmo crentes genuínos podem, segundo o manual do encontro,
estar sob madições.
As
maldições podem ser classificadas em: hereditárias, voluntárias, da nação,
involuntária, familiares e provenientes de traumas, palavras e pecados
ministeriais. Cada uma dessas classificações são expostas e explicadas na
palestra em questão.
Após
essa exposição, o palestrante sugere se as pessoas querem continuar sob a maldição
ou se querem ser libertas. As que querem, devem sentir a necessidade,
arrepender-se do pecado, não ter medo da libertação, lutar pela mesma e lembrar
e rejeitar os pactos demoníacos do passado.
Para
ajudar o encontrista a se lembrar desses pecados é passada uma lista com
centenas de práticas pecaminosas (anexo I), utilizada como um mapeamento
espiritual da pessoa. Esta lista, entretanto, fica com o próprio encontrista e
será queimada na última palestra do sábado.
Depois
que a lista é preenchida, o palestrante fará orações de libertação com os
encontristas e eles renunciarão a pecados de gerações posteriores (terceira,
quarta e em alguns casos até a décima).[13]
Depois
desse período, o silêncio é quebrado e as pessoas são liberadas para almoçar.
Vale lembrar que nem todas as igrejas que realizam o encontro finalizam o
silêncio aqui. Nos encontros que eu participava, quebrava-se na maioria das
vezes no sábado à noite. Em alguns poucos casos foi quebrado no Domingo de
manhã.
Após o
almoço começa uma nova palestra. Desta vez, o tema é “No Encontro Ampliamos
nossa Visão Espiritual”. Esta é uma mensagem simples. Consiste em contar a vida
de Paulo, desde o período em que perseguia a Igreja até sua conversão e
ministério.
O
propósito é mostrar que Paulo teve seu “encontro” com Deus e que após esse
encontro sua vida foi transformada. Assim sendo, o encontrista quando sair do
evento precisa ter uma nova vida. As obras da carne devem ser eliminadas e o
fruto do Espírito deve ser absorvido.[14]
Após
esta palestra, o encontrista é liberado para um café e depois volta para a
ministração sobre cura interior. Esta, novamente, é uma palestra longa e dura
cerca de três horas. Na última versão do Guia Oficial do Encontro, o intervalo
do almoço para a palestra seguinte é um pouco maior, sendo a comida servida às
13:00 h e a palestra sobre Paulo somente às 16:00 h. Sendo assim, a palestra
sobre Cura Interior começaria apenas às 18:00 h.
Todavia,
nem todos seguem essa sugestão. Normalmente, a maioria das igrejas dá menor
intervalo de descanso após o almoço e iniciam a palestra sobre Cura Interior
por vota das 17:00 h.
A
palestra sobre Cura Interior, portanto, tem o objetivo de trabalhar o processo
de “renovação da mente, ordenada por Deus em Romanos 12.1,2”.[15] A ideia é
trabalhar a cura da alma (sentimentos, emoções e lembranças desagradáveis).
Após
explicar o que é a Cura Interior aos encontristas, o palestrante agora
apresentará um passo a passo sobre como obter essa cura. As etapas são: 1) Dar
crédito à Palavra de Deus; 2) Perceber a dor das lembranças; 3) Perceber
comportamentos limitadores e 4) Entender o porquê de ter esses comportamentos
limitadores.
Uma
lista de rejeições são expostas verbalmente: a) família desestruturada; b) nome
próprio pejorativo; c) morte dos pais; d) gravidez indesejada; e) divórcio dos
pais; f) preferência dos pais; g) abandono dos pais; h) descaso do matrimônio;
i) adultério; j) palavras depreciativas, xingamentos e apelidos; l) carência
afetiva; m) desinteresse dos pais em relação aos filhos; n) vícios dos pais; o)
suicídio de um dos pais; p) falta de liderança dos pais; q) discriminações
racial, sexual e cultural.
Além
disso existe a auto-rejeição, causada por aspectos como deficiência física,
magreza, obesidade, culpas, etc. Outra possível porta de entrada para as
feridas da alma, seriam os abusos e desvios sexuais.
Para que
o encontrista receba a cura de suas feridas da alma, ele deve: 1) admitir que
precisa de cura; 2) acreditar que os comportamentos limitadores podem ser
modificados; 3) entrar em contato com as lembranças dolorosas e 4) externar
tanto as lembranças dolorosas como os comportamentos limitadores.
Após a
palestra, as cadeiras são retiradas a fim de que as pessoas fiquem mais a
vontade. A equipe de intercessão começa a orar e uma música é tocada no fundo
enquanto o palestrante profere palavras de cura psicológica.
A
sugestão do Guia Oficia do Encontro é que o palestrante faça regressão com os
encontristas:
Peça a cada um que:
1.
1. Tente visualizar o
encontro do espermatozoide do seu pai com o óvulo de sua mãe. Ali Deus já
planejava cada momento de sua vida. (Cite trechos do Salmo 139).
2.
2. Veja-se no útero materno
sendo formado…
3.
3. Veja-se em cada momento
da gestação…
4.
4. Tente lembrar os
sentimentos que recebeu: amor, ódio, rejeição, tentativa de aborto, perigo de
vida por conta de doenças, insegurança quanto ao nascimento…
5.
5. Veja-se nascendo, sendo
recebido por sua mãe. Saiba que nesses momentos Jesus também estava recebendo e
te amando (talvez seu pai não estivesse lá, mas Jesus estava). Jesus He recebeu
e lhe colocou no colo…
6.
6. Veja-se crescendo…
– com um
ano de idade…
– dois…
– três…
Obs.: em
cada faixa etária, desde a infância até a vida adulta, o ministrador deverá
instruir os encontristas a se lembrarem dos momentos difíceis, amargos,
traumatizantes, etc.[16]
Em
seguida o manual do encontro sugere que seja liberado perdão a pai, mãe, irmãos
e familiares. Na primeira edição do Guia Oficial do Encontro com Deus, havia
inclusive a orientação de liberar perdão a Deus. Após muitos questionamentos e
censuras, este trecho foi removido do material.
Na
versão mais antiga do manual do Encontro, haveria mais alguns momentos de
quebrantamento e de confissões de traumas do passado, uma oração final e o
término da palestra de Cura Interior.
Logo em
seguida, inicia-se a ministração sobre a cruz. Esta é também uma palestra
objetiva e mais curta. Seu propósito é mostrar que através da cruz Cristo pagou
as nossas dívidas, trouxe-nos reconhecimento de pecados, arrependimento
genuíno, anulou a maldição, deu-nos a remissão dos pecados pelo sangue e
concedeu a vida eterna com Deus.
Os
momentos de Jesus pela via dolorosa são recontados, Seu sofrimento nesse
trajeto e na cruz são narrados e enquanto se faz isso, uma música de fundo
ajuda na manipulação emocional.
Após
este período, as pessoas pegam suas folhas (aquelas que escreveram durante as
palestras Peniel e Libertação) e levam para uma cruz que foi confeccionada
enquanto os encontristas participavam das palestras. As folhas são afixadas lá.
Se alguém levou cigarros ou outros materiais indecentes ou pecaminosos, também
fixam naquela cruz e em seguida ateiam fogo, gritando “ESTÃO ANULADOS TODOS OS
ARGUMENTOS SOBRE MINHA VIDA”.[17]
Há, em
seguida, um momento de comunhão. Cânticos de vitória são tocados, as pessoas
pulam, se divertem, dançam, cantam e se abraçam. Vão jantar e descansar para o
Domingo e finalização do Encontro.
No
Domingo pela manhã a primeira palestra é “Oração como estilo de vida”. É uma
palestra rápida e simples que mostra a importância da oração e aborda os
principais pontos da oração do
“Pai Nosso”.[18]
A
segunda palestra acontece logo na sequencia. É um estudo sobre a visão celular
no modelo dos 12 e uma iniciação aos encontristas.[19]
São
apresentadas as etapas do G-12 (ganhar, consolidar, discipular e enviar) e uma
defesa “bíblica” do número 12.
Doze é o
número que fala da totalidade perfeita; na economia de Deus é a perfeição na
ciência, no conhecimento. Israel tinha 12 estandartes quando saiu do Egito (Nm
10:11-28). Jacó teve 12 filhos dos quais saíram as doze tribos de Israel (Ex
28:21). Josué separou 12 pedras, e nelas escreveu os nomes das 12 tribos (Js
4:1-10). Doze homens foram espiar a Terra Prometida. Davi tinha 12 chefes das
tribos de Israel (1 Cr 29:6), Salomão tinha 12 chefes, chamados príncipes (1 Rs
4:7) (…) Para formar uma comunidade legal em Israel, era necessário 12 homens
(dez homens além do oficiante e da autoridade rabínica).[20]
Termina-se
esta palestra mostrando que a Visão nasceu para conquistar a Terra. Os
encontristas são ungidos para receber a unção de multiplicação e cumprir os
processos da Visão Celular no Modelo dos 12.
Chegamos
à última palestra do Encontro: “Batismo no Espírito Santo. A ideia em questão
se difere da doutrina pentecostal clássica em que o batismo é evidenciado pelo
falar em línguas. À semelhança de outros grupos pentecostais, o “falar em
línguas” é uma das evidências.
Algumas manifestações estranhas que aconteciam durante a
ministração pelo Batismo no Espírito Santo foram duramente criticadas no
passado, tais como a unção do riso, o fenômeno cai-cai e imitação de animais
(embora esta última graças a Deus eu nunca tenha visto).[21] Essas
manifestações tiveram sua influência no movimento canadense da Toronto Airport Christian
Fellowship.
Apesar
de ser a última palestra, o Encontro ainda não termina aqui. Há mais um momento
de muita força emocional. Enquanto os encontristas estão participando do
evento, uma equipe, denominada “correio”, está do lado de fora buscando cartas
e mensagens dos familiares e amigos dos encontristas.
Depois
dos momentos de êxtase da palestra anterior, as pessoas são convocadas a se
assentarem e fecharem os olhos. Enquanto adoram a Deus, os membros do correio
entregam essas cartas e alguns presentes para os encontristas sem que estes
percebam.
Depois
que abrem os olhos e leem suas cartas, há um momento de muito choro misturado
com risadas e todo tipo de emoção. Este, bem como as palestras de libertação e
cura interior, é um dos momentos mais marcantes do Encontro, pois a carta de
alguns familiares que estavam brigados e de amigos que não viam há certo tempo
emocionam profundamente as pessoas neste momento final.
Eis o
desfecho. É feita uma oração final e o dirigente conclama todos a repetirem o
jargão que a partir de agora fará parte da vida deles: “O ENCONTRO É
TREMENDO!”. Em seguida, eles repetem um termo de compromisso: “eu me comprometo
a não mencionar nada do que aconteceu no Encontro. Terei a responsabilidade de
incentivar outros a fazerem o Encontro e a experimentar como o Encontro é
TREMENDO!”.[22]
O Pós-Encontro
Depois
que o encontrista passa pelo Encontro, ainda terá a fase final no culto à
noite. As famílias são convidadas a participarem da festa e o culto deixa seu
lugar tradicional para uma verdadeira celebração.
As
etapas seguintes são a matrícula na Escola de Líderes e a realização do
Pós-Encontro. Este, consiste em mais quatro encontros semanais, para à
semelhança do Pré-Encontro, estudar temas bíblicos.
As
lições a serem estudadas são as seguintes: 1) A Importância do Pós-Encontro; 2)
Conservando a Libertação e a Cura Interior; 3) As Áreas de Contra-Ataque e 4)
Como Posso deter satanás?
Como
podemos ver, as lições são completamente voltadas para os temas neopentecostais
de guerra espiritual. Já na primeira lição, o crente será advertido que satanás
criará muitas situações para tentar prendê-lo novamente.
A
aparente visão dualística permanece. “No Encontro, Deus realizou uma obra
maravilhosa e específica em sua vida. Isto foi um ataque ao reino das trevas,
pois o diabo perdeu mais uma batalha em sua vida; E, como estamos em meio a uma
guerra, o reino inimigo está preparando um contra-ataque”. [23]
A
segunda lição aborda Efésios 6, a fim de mostrar ao crente a necessidade de
tomar a armadura de Deus para guerrear de forma eficaz essa batalha espiritual.
Uma dessas armas é até mesmo a confissão positiva.[24]
A
terceira lição aborda a necessidade de uma nova rotina e de novos hábitos.
Amigos do passado que não edificam devem ser evitados. Todavia, satanás entrará
com toda sua “providência” para usar esses amigos do passado e pessoas da
família para desanimar o crente. Outras áreas que satanás contra atacará são a
saúde, as finanças e a mente.[25]
Já que
satanás atua de forma poderosa e providencial, a quarta lição promete explicar
como vencê-lo. Uma das formas é amarrar as forças do mal, a outra é usar a
autoridade do Nome de Jesus e a última é evitar as brechas. Além disso,
conhecer os inimigos (mundo, carne e diabo) e guerrear contra satanás, são
conselhos complementares para êxito nessa empreitada.[26]
O silêncio e o segredo
Conforme
vimos sucintamente, o Encontro trabalha com duas práticas que angariaram para
si muitos questionamentos e críticas. Tratam-se do pacto do silêncio e do
segredo sobre o que acontece lá.
Nosso
propósito nesta seção é apenas conceituar melhor essas práticas. O silêncio,
por exemplo, não se trata de uma doutrina, mas de uma “estratégia de reflexão”,
conforme assinala Terra Nova.[27]
Alguns
questionam esse método alegando que se trata de uma prática das religiões
orientais. Não podemos ser injustos e comparar a prática do silêncio dos
encontros com uma meditação transcendental ou ioga, por exemplo. São coisas bem
diferentes.
O alvo
das meditações orientais é o auto-esvaziamento, enquanto que nos encontros é
para reflexões e para evitar conversas vãs no decorrer da programação. Os
exageros dessa prática são igualmente dignas de nossa repreensão e repúdio.
Outra
coisa estranha é a maneira como Terra Nova usa a Bíblia para defender seu uso.
Ele recorre a passagens que não tem nenhum apelo ao uso do silêncio.
Ele cita
o caso de Zacarias, pai de João Batista, que ficou sem falar por nove meses (cf
Lc 1.5-25). Todavia, esta passagem é apenas descritiva e narra como Deus o puniu
por sua incredulidade. Não podemos tomar este trecho das Escrituras como algo
prescritivo.
Ele usa,
ainda, de passagens como Ap 8.1 (silêncio no céu por 30 minutos) e Mc 9.5-8 (na
transfiguração no monte quando Pedro foi infeliz em seus comentários).[28] Não
é porque a Bíblia cita determinado assunto que ela apoia esse mesmo assunto.
A
passagem que mais poderia ajuda-lo em sua tentativa de aprovar biblicamente o
silêncio nem sequer é mencionada: as voltas de Josué e os israelitas ao redor
das muralhas de Jericó (Js 6).
Sobre o
segredo ele usa a mesma tática e cita passagens sem o devido apoio. Uma delas é
quando Jesus diz a Pedro, Tiago e João para guardarem segredo sobre o que viram
no dia da transfiguração (Mc 9.2-9). Outra passagem é a de Jesus solicitando
aos discípulos que não contassem a ninguém sobre sua identidade messiânica (Mt
16.13-20). E uma última passagem é a da cura de um leproso, em que Cristo lhe
diz para não contar sobre esse milagre a ninguém (Mt 8.4).
O
propósito em manter segredo do Encontro não é com o intuito de criar algo
misterioso. Nisso também não podemos ser injustos com o movimento. O intuito é,
na verdade, gerar expectativa, curiosidade para que as pessoas queiram saber o
que tem de tão tremendo.[29]
Penso
que seria mais justo dizer isso diretamente, ao invés de tentar arrumar alguma
base bíblica para tal prática. Não obstante, Renê destaca que, se quem estiver
querendo adotar os Encontros, não necessariamente precisa seguir o segredo,
pois “cada um anda na luz que tem”.[30]
[1][1]
NOVA, Renê Terra. Guia Oficial do Encontro com Deus. Semente de Vida. São
Paulo, 2008, p. 8.
Movimento
Celular: O encontro com Deus
O que é o Encontro com Deus
O
Encontro com Deus é um retiro espiritual de três dias precedido pelo
pré-encontro – um período preparatório para o mesmo no qual alguns estudos
bíblicos são ministrados na igreja local – e sucedido pelo pós-encontro (também
um período de estudos bíblicos).
Terra
Nova define o encontro como três dias reservados para se estar a sós com Deus
“debaixo de uma organização que objetiva absorção máxima”. Diz, ainda, se
tratar “de um encontro espiritual 100% baseado nos princípios bíblicos”, cujos
efeitos podem ser verificados “na vida de cada encontrista”. Ele termina sua
definição com o jargão o encontro é “tremendo!”.[1]
Dentre
os objetivos desse retiro, pode-se destacar a introdução da visão dos 12. Para
o Apóstolo manauara, esse objetivo é importante porque “acelera o processo de
crescimento e manuseio da Palavra” para os novos convertidos e desperta o
desejo de ganhar almas. Não são apenas os novos convertidos que recebem
edificação, pois quem trabalha volta para a casa restaurado, com a vocação
despertada, a alegria recobrada e a vontade de ganhar vidas mais acesa.[2]
Renê
cita uma estatística própria dizendo que mais de “um milhão de pessoas já
passaram legalmente pelos Encontros em 24 meses, e outras milhares já fizeram
sua decisão ao lado de Cristo, através da Visão Celular”.[3] Ele só se esquece
de contar quantas pessoas de outras denominações foram “pescadas” nesses
encontros.
O Pré-Encontro
Conforme
já comentamos, o Pré-Encontro é um dos pontos do degrau consolidar. Consiste em
quatro reuniões de estudos bíblicos, os quais visam preparar o “encontrista”
para participar do evento que se diz tremendo.
Renê
define esses primeiros encontros como “um tempo de ministração específica e
direcionada para que o novo convertido entenda os processos espirituais nos
quais está envolvido”, além de um tempo de “aprender a ouvir a voz de Deus
através da Palavra ensinada”, no qual o candidato a encontrista poderá se
“auto-avaliar”, “pensar sobre sua conversão e seu interesse em prosseguir nos
caminhos de Jesus”.[4]
Pode até
acontecer do professor desses pré-encontros adiar a participação do candidato.
Caso este não esteja atendendo aos processos da visão dos 12, será aconselhado
a não participar.
Uma vez
por semana, então, os candidatos a encontristas se reúnem para estudar os
seguintes assuntos: 1) O pecado e suas consequências; 2) O primeiro Adão e o
último Adão; 3) Somos santos e filhos de Deus e 4) Quem somos em Cristo Jesus.
A
primeira lição aborda um tema de importância no cristianismo. Mostra que o
pecado entrou através de Adão e corrompeu toda a humanidade. A consequência do
pecado é a separação do homem com Deus que só pôde ser restituída em Cristo.
O
estudo, entretanto, é bem resumido e fica devendo na explicação de nossa culpa
em Adão e de nossa necessidade de justificação. Outra dívida é na explicação da
teoria da expiação. Renê até cita que “Jesus, o último Adão, é quem nos
resgata”,[5] mas não induz o discipulador-professor a explicar a quem Cristo pagou
o resgate. Isso é importante porque algumas pessoas acabam ressuscitando a
heresia origenista de que Cristo pagou este resgate a satanás.
A
segunda lição aborda a obra de Cristo na cruz e seu efeito para com os eleitos.
É o paradoxo entre o primeiro e o segundo Adão. Trata-se do benefício da
justificação e da santificação.
Fica por
conta do orientador explicar sobre a regeneração, pois nenhuma das duas lições
abordam o tema. Se na primeira a subjetividade em relação à expiação de Cristo
acontecia, na segunda, a sugestão de que Cristo pagou por nossa liberdade ao
diabo é ainda mais perigosa.
Terra
Nova compara a redenção de Cristo com o “ato de águem rico ir a uma feira de
escravos e pagar a carta de alforria de um escravo, dando-lhe a liberdade. Foi
exatamente o que Jesus fez por nós”, diz Renê.[6] Fica implícita em sua fala a
ideia de que Cristo pagou ao diabo por nossa liberdade.
A
terceira lição aborda o amor de Deus para conosco e a necessidade de lutarmos
pela santificação. Além disso, há a exortação para ganhar almas.
A última
lição preparatória para o Encontro aborda a filiação do crente e a necessidade
de mudança de vida. Uma dessas mudanças é a entrega total da vida a Deus,
deixando de confiar em si mesmo e confiando nEle.
Ainda no
Pré-Encontro, os candidatos deverão ser informados do dia, local e horário do
Encontro, bem como o que se deve ou não levar para o evento. Dentre os objetos
que não devem ser levados encontram-se “gravador, rádio, walkman, livros,
materiais extra de trabalho, telefones celulares, pager, etc”.[7]
O Encontro
Alguns
dias depois é iniciado o evento esperado. Normalmente o Encontro é feito num
final de semana, iniciando-se na Sexta à noite e terminando no Domingo após
servir o almoço. Se ele era secreto, deixará, doravante de ser.
Inicia-se
o encontro com algumas orientações sobre vestimentas, horários e outras coisas
necessárias para a organização do mesmo. Em seguida, abre-se com a primeira
ministração, cujo tema é “Peniel”.
Esta
primeira palestra é baseada na passagem em que Jacó tem um encontro teofânico
no vau de Jaboque (Gn 32). A definição da mensagem define como ela será
ministrada: “Peniel é um lugar de encontro com Deus, lugar de luta, de
arrependimento, de guerra, de choro, de pranto, de sentir profunda dor pelos pecados,
de confronto consigo mesmo e com Deus (…) Em Peniel, Deus mostrará quem você
é”.[8]
O
propósito dessa palestra é mostrar que durante o Encontro as pessoas estarão
num constante Peniel, ou seja, lutarão contra suas dificuldades, seus pecados e
o diabo. Os encontristas devem até mesmo lutar com Deus, para que assim como
Jacó, não saiam de lá sem que sejam abençoadas.
Peniel
propõe, ainda, uma mudança de estilo de vida. Assim como Jacó teve uma mudança
considerável após se tornar Israel, o encontrista deve abandonar o pecado.
Após a
palestra é passada uma lista com alguns nomes de pecado, na qual as pessoas
devem marcar o que já fizeram e confessa-los a Deus. Essa confissão deve conter
inclusive as épocas em que ocorreram.
Segundo
Terra Nova, este tempo em que os encontristas estiverem assinalando seus
pecados, “toma no mínimo 40 minutos, até que todos sejam convencidos pelo
Espírito Santo sobre seus pecados”.[9]
Após
essa ministração, as pessoas vão jantar e inicia-se o período de silêncio entre
os encontristas. Esse período varia de igreja para igreja, mas é estipulado no
manual até o dia seguinte na hora do almoço.
No
Sábado ocorrem 5 ministrações: 1) A importância do Encontro com Deus; 2)
Libertação; 3) No Encontro ampliamos nossa visão espiritual; 4) Cura Interior e
5) Indo à Cruz (esta foi fundida com a Cura Interior no último manual).
Na
primeira palestra o assunto a ser abordado é simples. Ela deve ocorrer bem
cedo, pois a ministração sobre libertação tomará maior parte do tempo matinal.
Esta
primeira palestra pode ser dividida em quatro tópicos: 1) Existem dois tipos de
encontro: com Deus e com o mundo; 2) As causas de um encontro: causal e
preparado. 3) A preparação que o encontrista deve se submeter para ter seu
encontro com Deus e 4) Os efeitos desse encontro: reconhecimento dos pecados,
restauração emocional, restauração espiritual, transformação e restituição.[10]
Após um
intervalo de 10 minutos, iniciar-se-á a palestra sobre libertação.[11] O tempo
que se demora para completar toda essa ministração, desde a mensagem até a
oração final, é em torno de três horas.
Esta
palestra inicia-se com a explicação do que é maldição: “é a permissão dada ao
diabo para causar danos à vida das pessoas”.[12] Ela pode ter origem de várias
formas: através de pecados pessoais e de palavras de maldição proferidas por
terceiros. Até mesmo crentes genuínos podem, segundo o manual do encontro,
estar sob madições.
As
maldições podem ser classificadas em: hereditárias, voluntárias, da nação,
involuntária, familiares e provenientes de traumas, palavras e pecados
ministeriais. Cada uma dessas classificações são expostas e explicadas na
palestra em questão.
Após
essa exposição, o palestrante sugere se as pessoas querem continuar sob a
maldição ou se querem ser libertas. As que querem, devem sentir a necessidade,
arrepender-se do pecado, não ter medo da libertação, lutar pela mesma e lembrar
e rejeitar os pactos demoníacos do passado.
Para
ajudar o encontrista a se lembrar desses pecados é passada uma lista com
centenas de práticas pecaminosas (anexo I), utilizada como um mapeamento
espiritual da pessoa. Esta lista, entretanto, fica com o próprio encontrista e
será queimada na última palestra do sábado.
Depois
que a lista é preenchida, o palestrante fará orações de libertação com os
encontristas e eles renunciarão a pecados de gerações posteriores (terceira,
quarta e em alguns casos até a décima).[13]
Depois
desse período, o silêncio é quebrado e as pessoas são liberadas para almoçar.
Vale lembrar que nem todas as igrejas que realizam o encontro finalizam o
silêncio aqui. Nos encontros que eu participava, quebrava-se na maioria das
vezes no sábado à noite. Em alguns poucos casos foi quebrado no Domingo de
manhã.
Após o
almoço começa uma nova palestra. Desta vez, o tema é “No Encontro Ampliamos
nossa Visão Espiritual”. Esta é uma mensagem simples. Consiste em contar a vida
de Paulo, desde o período em que perseguia a Igreja até sua conversão e
ministério.
O
propósito é mostrar que Paulo teve seu “encontro” com Deus e que após esse encontro
sua vida foi transformada. Assim sendo, o encontrista quando sair do evento
precisa ter uma nova vida. As obras da carne devem ser eliminadas e o fruto do
Espírito deve ser absorvido.[14]
Após
esta palestra, o encontrista é liberado para um café e depois volta para a
ministração sobre cura interior. Esta, novamente, é uma palestra longa e dura
cerca de três horas. Na última versão do Guia Oficial do Encontro, o intervalo
do almoço para a palestra seguinte é um pouco maior, sendo a comida servida às
13:00 h e a palestra sobre Paulo somente às 16:00 h. Sendo assim, a palestra
sobre Cura Interior começaria apenas às 18:00 h.
Todavia,
nem todos seguem essa sugestão. Normalmente, a maioria das igrejas dá menor
intervalo de descanso após o almoço e iniciam a palestra sobre Cura Interior
por vota das 17:00 h.
A
palestra sobre Cura Interior, portanto, tem o objetivo de trabalhar o processo
de “renovação da mente, ordenada por Deus em Romanos 12.1,2”.[15] A ideia é
trabalhar a cura da alma (sentimentos, emoções e lembranças desagradáveis).
Após
explicar o que é a Cura Interior aos encontristas, o palestrante agora
apresentará um passo a passo sobre como obter essa cura. As etapas são: 1) Dar
crédito à Palavra de Deus; 2) Perceber a dor das lembranças; 3) Perceber
comportamentos limitadores e 4) Entender o porquê de ter esses comportamentos
limitadores.
Uma
lista de rejeições são expostas verbalmente: a) família desestruturada; b) nome
próprio pejorativo; c) morte dos pais; d) gravidez indesejada; e) divórcio dos pais;
f) preferência dos pais; g) abandono dos pais; h) descaso do matrimônio; i)
adultério; j) palavras depreciativas, xingamentos e apelidos; l) carência
afetiva; m) desinteresse dos pais em relação aos filhos; n) vícios dos pais; o)
suicídio de um dos pais; p) falta de liderança dos pais; q) discriminações
racial, sexual e cultural.
Além
disso existe a auto-rejeição, causada por aspectos como deficiência física,
magreza, obesidade, culpas, etc. Outra possível porta de entrada para as
feridas da alma, seriam os abusos e desvios sexuais.
Para que
o encontrista receba a cura de suas feridas da alma, ele deve: 1) admitir que
precisa de cura; 2) acreditar que os comportamentos limitadores podem ser
modificados; 3) entrar em contato com as lembranças dolorosas e 4) externar
tanto as lembranças dolorosas como os comportamentos limitadores.
Após a
palestra, as cadeiras são retiradas a fim de que as pessoas fiquem mais a
vontade. A equipe de intercessão começa a orar e uma música é tocada no fundo
enquanto o palestrante profere palavras de cura psicológica.
A
sugestão do Guia Oficia do Encontro é que o palestrante faça regressão com os
encontristas:
Peça a cada um que:
1.
1. Tente visualizar o
encontro do espermatozoide do seu pai com o óvulo de sua mãe. Ali Deus já planejava
cada momento de sua vida. (Cite trechos do Salmo 139).
2.
2. Veja-se no útero materno
sendo formado…
3.
3. Veja-se em cada momento
da gestação…
4.
4. Tente lembrar os
sentimentos que recebeu: amor, ódio, rejeição, tentativa de aborto, perigo de
vida por conta de doenças, insegurança quanto ao nascimento…
5.
5. Veja-se nascendo, sendo
recebido por sua mãe. Saiba que nesses momentos Jesus também estava recebendo e
te amando (talvez seu pai não estivesse lá, mas Jesus estava). Jesus He recebeu
e lhe colocou no colo…
6.
6. Veja-se crescendo…
– com um
ano de idade…
– dois…
– três…
Obs.: em
cada faixa etária, desde a infância até a vida adulta, o ministrador deverá
instruir os encontristas a se lembrarem dos momentos difíceis, amargos,
traumatizantes, etc.[16]
Em
seguida o manual do encontro sugere que seja liberado perdão a pai, mãe, irmãos
e familiares. Na primeira edição do Guia Oficial do Encontro com Deus, havia
inclusive a orientação de liberar perdão a Deus. Após muitos questionamentos e
censuras, este trecho foi removido do material.
Na
versão mais antiga do manual do Encontro, haveria mais alguns momentos de
quebrantamento e de confissões de traumas do passado, uma oração final e o
término da palestra de Cura Interior.
Logo em
seguida, inicia-se a ministração sobre a cruz. Esta é também uma palestra
objetiva e mais curta. Seu propósito é mostrar que através da cruz Cristo pagou
as nossas dívidas, trouxe-nos reconhecimento de pecados, arrependimento
genuíno, anulou a maldição, deu-nos a remissão dos pecados pelo sangue e
concedeu a vida eterna com Deus.
Os
momentos de Jesus pela via dolorosa são recontados, Seu sofrimento nesse
trajeto e na cruz são narrados e enquanto se faz isso, uma música de fundo
ajuda na manipulação emocional.
Após
este período, as pessoas pegam suas folhas (aquelas que escreveram durante as
palestras Peniel e Libertação) e levam para uma cruz que foi confeccionada
enquanto os encontristas participavam das palestras. As folhas são afixadas lá.
Se alguém levou cigarros ou outros materiais indecentes ou pecaminosos, também
fixam naquela cruz e em seguida ateiam fogo, gritando “ESTÃO ANULADOS TODOS OS
ARGUMENTOS SOBRE MINHA VIDA”.[17]
Há, em
seguida, um momento de comunhão. Cânticos de vitória são tocados, as pessoas
pulam, se divertem, dançam, cantam e se abraçam. Vão jantar e descansar para o
Domingo e finalização do Encontro.
No
Domingo pela manhã a primeira palestra é “Oração como estilo de vida”. É uma
palestra rápida e simples que mostra a importância da oração e aborda os
principais pontos da oração do
“Pai Nosso”.[18]
A
segunda palestra acontece logo na sequencia. É um estudo sobre a visão celular
no modelo dos 12 e uma iniciação aos encontristas.[19]
São
apresentadas as etapas do G-12 (ganhar, consolidar, discipular e enviar) e uma
defesa “bíblica” do número 12.
Doze é o
número que fala da totalidade perfeita; na economia de Deus é a perfeição na
ciência, no conhecimento. Israel tinha 12 estandartes quando saiu do Egito (Nm
10:11-28). Jacó teve 12 filhos dos quais saíram as doze tribos de Israel (Ex
28:21). Josué separou 12 pedras, e nelas escreveu os nomes das 12 tribos (Js
4:1-10). Doze homens foram espiar a Terra Prometida. Davi tinha 12 chefes das
tribos de Israel (1 Cr 29:6), Salomão tinha 12 chefes, chamados príncipes (1 Rs
4:7) (…) Para formar uma comunidade legal em Israel, era necessário 12 homens
(dez homens além do oficiante e da autoridade rabínica).[20]
Termina-se
esta palestra mostrando que a Visão nasceu para conquistar a Terra. Os
encontristas são ungidos para receber a unção de multiplicação e cumprir os
processos da Visão Celular no Modelo dos 12.
Chegamos
à última palestra do Encontro: “Batismo no Espírito Santo. A ideia em questão
se difere da doutrina pentecostal clássica em que o batismo é evidenciado pelo
falar em línguas. À semelhança de outros grupos pentecostais, o “falar em
línguas” é uma das evidências.
Algumas manifestações estranhas que aconteciam durante a
ministração pelo Batismo no Espírito Santo foram duramente criticadas no
passado, tais como a unção do riso, o fenômeno cai-cai e imitação de animais
(embora esta última graças a Deus eu nunca tenha visto).[21] Essas
manifestações tiveram sua influência no movimento canadense da Toronto Airport Christian
Fellowship.
Apesar
de ser a última palestra, o Encontro ainda não termina aqui. Há mais um momento
de muita força emocional. Enquanto os encontristas estão participando do
evento, uma equipe, denominada “correio”, está do lado de fora buscando cartas
e mensagens dos familiares e amigos dos encontristas.
Depois
dos momentos de êxtase da palestra anterior, as pessoas são convocadas a se
assentarem e fecharem os olhos. Enquanto adoram a Deus, os membros do correio
entregam essas cartas e alguns presentes para os encontristas sem que estes
percebam.
Depois
que abrem os olhos e leem suas cartas, há um momento de muito choro misturado
com risadas e todo tipo de emoção. Este, bem como as palestras de libertação e
cura interior, é um dos momentos mais marcantes do Encontro, pois a carta de
alguns familiares que estavam brigados e de amigos que não viam há certo tempo
emocionam profundamente as pessoas neste momento final.
Eis o
desfecho. É feita uma oração final e o dirigente conclama todos a repetirem o
jargão que a partir de agora fará parte da vida deles: “O ENCONTRO É
TREMENDO!”. Em seguida, eles repetem um termo de compromisso: “eu me comprometo
a não mencionar nada do que aconteceu no Encontro. Terei a responsabilidade de
incentivar outros a fazerem o Encontro e a experimentar como o Encontro é TREMENDO!”.[22]
O Pós-Encontro
Depois
que o encontrista passa pelo Encontro, ainda terá a fase final no culto à
noite. As famílias são convidadas a participarem da festa e o culto deixa seu
lugar tradicional para uma verdadeira celebração.
As
etapas seguintes são a matrícula na Escola de Líderes e a realização do
Pós-Encontro. Este, consiste em mais quatro encontros semanais, para à
semelhança do Pré-Encontro, estudar temas bíblicos.
As
lições a serem estudadas são as seguintes: 1) A Importância do Pós-Encontro; 2)
Conservando a Libertação e a Cura Interior; 3) As Áreas de Contra-Ataque e 4)
Como Posso deter satanás?
Como
podemos ver, as lições são completamente voltadas para os temas neopentecostais
de guerra espiritual. Já na primeira lição, o crente será advertido que satanás
criará muitas situações para tentar prendê-lo novamente.
A
aparente visão dualística permanece. “No Encontro, Deus realizou uma obra
maravilhosa e específica em sua vida. Isto foi um ataque ao reino das trevas,
pois o diabo perdeu mais uma batalha em sua vida; E, como estamos em meio a uma
guerra, o reino inimigo está preparando um contra-ataque”. [23]
A
segunda lição aborda Efésios 6, a fim de mostrar ao crente a necessidade de
tomar a armadura de Deus para guerrear de forma eficaz essa batalha espiritual.
Uma dessas armas é até mesmo a confissão positiva.[24]
A
terceira lição aborda a necessidade de uma nova rotina e de novos hábitos.
Amigos do passado que não edificam devem ser evitados. Todavia, satanás entrará
com toda sua “providência” para usar esses amigos do passado e pessoas da
família para desanimar o crente. Outras áreas que satanás contra atacará são a
saúde, as finanças e a mente.[25]
Já que
satanás atua de forma poderosa e providencial, a quarta lição promete explicar
como vencê-lo. Uma das formas é amarrar as forças do mal, a outra é usar a
autoridade do Nome de Jesus e a última é evitar as brechas. Além disso,
conhecer os inimigos (mundo, carne e diabo) e guerrear contra satanás, são
conselhos complementares para êxito nessa empreitada.[26]
O silêncio e o segredo
Conforme
vimos sucintamente, o Encontro trabalha com duas práticas que angariaram para
si muitos questionamentos e críticas. Tratam-se do pacto do silêncio e do
segredo sobre o que acontece lá.
Nosso
propósito nesta seção é apenas conceituar melhor essas práticas. O silêncio,
por exemplo, não se trata de uma doutrina, mas de uma “estratégia de reflexão”,
conforme assinala Terra Nova.[27]
Alguns
questionam esse método alegando que se trata de uma prática das religiões
orientais. Não podemos ser injustos e comparar a prática do silêncio dos
encontros com uma meditação transcendental ou ioga, por exemplo. São coisas bem
diferentes.
O alvo
das meditações orientais é o auto-esvaziamento, enquanto que nos encontros é
para reflexões e para evitar conversas vãs no decorrer da programação. Os
exageros dessa prática são igualmente dignas de nossa repreensão e repúdio.
Outra
coisa estranha é a maneira como Terra Nova usa a Bíblia para defender seu uso.
Ele recorre a passagens que não tem nenhum apelo ao uso do silêncio.
Ele cita
o caso de Zacarias, pai de João Batista, que ficou sem falar por nove meses (cf
Lc 1.5-25). Todavia, esta passagem é apenas descritiva e narra como Deus o
puniu por sua incredulidade. Não podemos tomar este trecho das Escrituras como
algo prescritivo.
Ele usa,
ainda, de passagens como Ap 8.1 (silêncio no céu por 30 minutos) e Mc 9.5-8 (na
transfiguração no monte quando Pedro foi infeliz em seus comentários).[28] Não
é porque a Bíblia cita determinado assunto que ela apoia esse mesmo assunto.
A
passagem que mais poderia ajuda-lo em sua tentativa de aprovar biblicamente o
silêncio nem sequer é mencionada: as voltas de Josué e os israelitas ao redor
das muralhas de Jericó (Js 6).
Sobre o
segredo ele usa a mesma tática e cita passagens sem o devido apoio. Uma delas é
quando Jesus diz a Pedro, Tiago e João para guardarem segredo sobre o que viram
no dia da transfiguração (Mc 9.2-9). Outra passagem é a de Jesus solicitando
aos discípulos que não contassem a ninguém sobre sua identidade messiânica (Mt
16.13-20). E uma última passagem é a da cura de um leproso, em que Cristo lhe
diz para não contar sobre esse milagre a ninguém (Mt 8.4).
O
propósito em manter segredo do Encontro não é com o intuito de criar algo
misterioso. Nisso também não podemos ser injustos com o movimento. O intuito é,
na verdade, gerar expectativa, curiosidade para que as pessoas queiram saber o
que tem de tão tremendo.[29]
Penso
que seria mais justo dizer isso diretamente, ao invés de tentar arrumar alguma
base bíblica para tal prática. Não obstante, Renê destaca que, se quem estiver
querendo adotar os Encontros, não necessariamente precisa seguir o segredo,
pois “cada um anda na luz que tem”.[30]
[1][1]
NOVA, Renê Terra. Guia Oficial do Encontro com Deus. Semente de Vida. São
Paulo, 2008, p. 8.
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