terça-feira, 31 de março de 2015

MISTERIO DA INIQUIDADE


                          O mistério da iniqüidade


Está chegando o Natal. Não sei explicar por que essa época me deixa nostálgico. Um sentimento ao mesmo tempo doce e dolorido. Parecido com a saudade, que dói porque é lembrança boa. Mas dói. Porque já não é.

Parece que faz tanto tempo que ele veio! Um menino destinado a virar o mundo de cabeça para baixo. Um homem obstinadamente decidido a morrer. Mas não uma morte qualquer. Nem mesmo martírio. Ele só se entregaria aos seus algozes para consumar o que dele diziam as Escrituras. E assim foi. Sua figura, naquela cruz infame, avultou e agigantou-se como a conjugação, inconcebível, da justiça com a misericórdia de Deus. Nele se realizava o que até então fora somente esperança. E pelas suas pisaduras fomos sarados.

Parece que faz tanto tempo que cremos nele. Como se a magia do Natal tivesse cedido seu brilho para osshoppings reluzentes, para a compra dos presentes, para a preparação das festas, dos cultos; para o ensaio do coral, da encenação a ser apresentada no dia 24 de dezembro. Como se “o verdadeiro sentido do Natal” tivesse ficado nos melosos filmes da Disney a que assistimos tantas vezes na televisão, nessa época. Com direito a trenó, renas e duendes. Como se o Natal fosse coisa da nossa infância.

Eu acho o Natal um tempo bom. Nostálgico. Tempo de introspecção, também. Parece que já não conseguimos nos relacionar tão afetiva e pessoalmente com aquele Jesus com quem tivemos um encontro íntimo, pessoal, profundo, transformador, insofismável, inesquecível. Aquele que recebemos exultantes em nosso coração e que se transformou em nascente de rio, em fonte de energia, em razão de viver, em segurança emocional, em ministério pessoal etc., a contaminar tudo e todos à nossa volta. Aquele que nos levou para o exílio e nos fez estrangeiros em nossa própria terra, mas que nos trouxe para perto, para sua família.

O que terá acontecido? Por que esse sentimento de solidão nostálgica? Por que me sinto como o último ingênuo, que ainda não percebeu que “Papai Noel não existe”?

Será que, por pena, ninguém me contou que crescemos como civilização e que essas coisas pueris já não cabem em nossa madura cultura tecnológica? Que a pós-modernidade é também pós-cristã? Que o Natal não deve ligar-se ao Jesus bíblico, para não discriminar os (consumidores) que não crêem nele? Que, por isso, devemos usar a expressão Christmas Seasons (festas de fim de ano, entre nós), politicamente mais correta?

Ou será que estou sentindo uma presença nova no mundo, prestes a ser manifestada? Um novo avatar que encerrará a era de Peixes para inaugurar a regência de Aquário? Um usurpador, decidido a transformar em saudosas lembranças nossas mais sólidas convicções? Estaria pressentindo o “homem da iniqüidade” já entre nós? Aquele que “se opõe e se levanta contra tudo que se chama Deus ou é objeto de culto, a ponto de assentar-se no santuário de Deus, ostentando-se como se fosse o próprio Deus” (2Ts 2.3-4)? Tenha Deus misericórdia de nós. Em especial, de nossos filhos e netos. Que a eles seja dada a unção necessária para enfrentar a besta e sustentar o testemunho de Jesus.

 

 

                                               A resposta cristã ao "mistério da iniqüidade"


A revista Época trouxe uma pequena entrevista com o americano Alvin Toffler, considerado uma espécie de profeta da modernidade. Seus livros O Choque do Futuro e A Terceira Onda, anteciparam as grandes mudanças do final do século 20. Nessa entrevista sobre seu novo livro, a Riqueza Revolucionária, ele fala da importância de se investir em infra-estrutura e considera o investimento em educação prioritário. 

Bem, todos sabemos do valor fundamental da educação apesar da falta de vontade política e das verbas precárias do governo; mas sabemos também que investir em educação hoje não é o mesmo que investir na formação da pessoa ou na construção de um caráter. Grande parte dos escândalos que temos presenciado tem como protagonistas gente instruída, com passagem pelas melhores escolas e universidades. O que leva juízes, políticos e empresários com bons salários e boa formação acadêmica a cometer atos de corrupção? O que leva jovens de classe média ao consumo de drogas e álcool e a atos de violência e vandalismo? Por que ainda existe tanta violência doméstica e abuso sexual nas classes mais altas? Neste contexto o problema certamente não está na falta de escolas ou da educação como instrução acadêmica, mas na ausência de uma formação integral do ser humano. 

Ao falar sobre o “mistério da iniqüidade”, Paulo descreve a apostasia como uma rebelião “a tudo que se chama Deus, ou objeto de culto” (2Ts 2.4). Um investimento em educação ou mesmo em infra-estrutura não será suficiente para conter o avanço do “mistério da iniqüidade”. O que está por trás das graves crises que a humanidade vem sofrendo não é fruto apenas da falta de escolas ou de investimentos em infra-estrutura, mas de um processo de exclusão de Deus e de sua verdade, bem como da irrelevância e do silêncio da igreja diante dos grandes temas que envolvem o ser humano. 

Em suas Confissões, Agostinho declara que “fizeste-nos para ti, ó Deus, e nossa alma não encontrará repouso enquanto não descansar em ti”. Talvez um dos mistérios centrais de nossa humanidade esteja no fato de que fomos criados por Deus e para Deus, e que somente Deus, por meio da humanidade do seu Filho Jesus Cristo e da presença do seu reino, pode nos devolver o significado de sermos verdadeiramente humanos. 

A resposta dos cristãos ao mistério da iniqüidade ou da apostasia é o seu compromisso radical com o chamado de Jesus Cristo. Dietrich Bonhoeffer, pouco antes de sua morte em 1945 num campo de concentração, prevendo os rumos da igreja na Europa, escreveu a um amigo: “Durante estes anos, a igreja vem lutando pela sua autopreservação, como se isto fosse um fim em si mesmo e, conseqüentemente perdeu a oportunidade de pronunciar uma palavra de reconciliação para a humanidade e para o mundo como um todo. Por isso, nossa linguagem tradicional se tornará inevitavelmente impotente e condenada ao silêncio; o cristianismo ficará confinado às orações e à prática de boas obras em relação a nossos irmãos e irmãs. O pensamento cristão, sua palavra e sua organização, precisam renascer a partir dessa oração e dessas obras… Será uma nova linguagem… a linguagem de uma nova justiça e verdade que proclama a paz de Deus com os homens e a chegada do seu reino”. 

O reconhecimento de que o ser humano, por mais que negue e rejeite o evangelho de Cristo, depende dele para sua redenção e o resgate de sua dignidade, deve nos levar a priorizar sua proclamação como afirmação da verdade e nos conscientizar de que a educação requer, em última instância, um encontro com Deus. 

O mistério da iniqüidade é hoje a reação da mentalidade secularizada, que se opõe a Deus e a tudo o que se refere a Deus, numa clara rebelião aos propósitos do Criador, levando as pessoas a dar mais crédito à mentira do que à verdade. O chamado de Cristo nos leva a acolher a verdade em amor e a proclamá-la com clareza e firmeza. A recomendação de Paulo aos cristãos diante da apostasia é para que permaneçam firmes na fé e na salvação em Cristo, guardando as tradições que foram ensinadas pelos apóstolos, certos de que Deus, em seu eterno amor, nos consola e nos confirma em toda boa obra e palavra. 

FONTE REV.ULTIMATO


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