terça-feira, 31 de março de 2015

A REENCARNAÇÃO NEGA A DIVINDADE DE JESUS

               
            Os primeiros cristãos e a reencarnação


Uma característica marcante do espiritismo brasileiro ou kardecismo é o seu desejo insistente de ser reconhecido como um movimento “cristão”. Mais ainda, essa religião pretende ter a verdadeira interpretação dos ensinamentos de Jesus Cristo. Tanto é que o chamado “codificador” da doutrina espírita, o francês Léon Hippolyte Dénizart Rivail (1804-1869), mais conhecido como Allan Kardec, escreveu, entre outras, uma obra intitulada O Evangelho segundo o Espiritismo. No intento de defender o alegado caráter cristão dos seus postulados, os autores espíritas costumam afirmar que as suas convicções mais básicas foram ensinadas por Cristo e amplamente aceitas pelos primeiros cristãos, apesar das flagrantes incompatibilidades que existem entre os dois sistemas religiosos.

Recentemente, causaram alguma sensação as declarações do excêntrico reverendo Nehemias Marien em defesa do espiritismo, declarações essas feitas em entrevista a uma revista espírita. Entre outras coisas, o pastor filokardecista afirmou que a reencarnação “fazia parte dos cânones da igreja” até que foi condenada pelo II Concílio de Constantinopla no ano 553 (Revista Visão Espírita, janeiro de 2001). Anteriormente, o mesmo líder religioso havia declarado ao jornal Diário Popular (26-02-1999) que “a ciência espírita sempre integrou os cânones da igreja” até ser indexada pelo referido concílio. Todavia, uma coisa é fazer afirmações ousadas como essas; outra coisa é substanciá-las por meio de evidências.

Mas, afinal, o que é a reencarnação? Trata-se da crença de que a alma, ou o elemento psíquico do ser humano, passa para um outro corpo depois da morte, fato esse que pode repetir-se muitas vezes com o mesmo indivíduo. Outros termos aplicados a esse fenômeno são metensomatose, transmigração, metempsicose, regeneração etc. Apesar de elementos comuns, existem também algumas distinções entre esses conceitos. Por exemplo, a reencarnação indica o renascimento em outro corpo da mesma espécie, especialmente humano, ao passo que a metempsicose aponta para a travessia de fronteiras mais diversificadas: plantas, animais e seres humanos, demoníacos e divinos.

O cristianismo majoritário nunca professou a tese da reencarnação, pois ela não somente está ausente das Escrituras, como também é contraditada por textos bíblicos como Hebreus 9.27 e Lucas 23.43. (É somente por uma interpretação altamente figurada e tendenciosa de certas passagens que os espíritas podem encontrar a reencarnação nas páginas da Bíblia.) Nos primeiros séculos, foram apenas alguns grupos cristãos periféricos, minoritários, que defenderam essa crença, como foi o caso dos gnósticos, com sua visão profundamente negativa do corpo e da matéria em geral.


O grande pensador cristão Orígenes (†254), de Alexandria, defendeu a pré-existência da alma, mas não a transmigração. A partir dele, surgiu uma corrente de monges que passaram a professar também a reencarnação e a salvação universal. Como o chamado “origenismo” se tornava fanático e tumultuava a Palestina, o patriarca de Jerusalém, no século 6, pediu ao imperador Justiniano (483-565) que interviesse. Justiniano, o maior dos imperadores bizantinos, escreveu um tratado contra Orígenes e levou o patriarca de Constantinopla a reunir um sínodo local em 543, que condenou teses relativas à pré-existência da alma e outras posições origenistas. Dez anos depois, em 553, o II Concílio de Constantinopla encerrou definitivamente a chamada “controvérsia origenista”.

Alguns dos mais destacados dentre os “pais da igreja” condenaram explicitamente a idéia da reencarnação. O apologista Justino Mártir (†165) opinou: “As almas não vêem a Deus nem transmigram para outros corpos”. Em sua famosa obra Contra as Heresias, Irineu de Lião (†c.200) declara: “Portanto, [os gnósticos] consideram necessário que, por meio da transmigração de corpo para corpo, as almas experimentem todo tipo de vida... Podemos subverter a doutrina [gnóstica] da transmigração de corpo para corpo por este fato: as almas nada lembram de eventos ocorridos em seus [supostos] estados anteriores de existência... Platão, o antigo ateniense, foi o primeiro a introduzir essa opinião.”

O notável Clemente de Alexandria (†c.220) observou em sua obra Stromata (Miscelâneas): “A hipótese de Basílides [um mestre gnóstico] diz que a alma, tendo pecado anteriormente em outra vida, experimenta punição nesta vida”. Tertuliano (†c.220), o primeiro autor cristão a escrever em latim, se expressa muitas vezes sobre o assunto, como nessa passagem: “Quão mais digno de aceitação é o nosso ensino de que as almas irão retornar aos mesmos corpos. E quão mais ridículo é o ensino herdado [pagão] de que o espírito humano deve reaparecer em um cão, cavalo ou pavão!” (Ad Nationes, Cap. 19).

Hipólito de Roma (†c.236), escrevendo contra Platão, observa que Deus “efetuará a ressurreição de todos — não pela transferência das almas para outros corpos — mas pela ressurreição dos próprios corpos”. O apologista e historiador Lactâncio (†c.320) expressa o pensamento dos seus contemporâneos cristãos: “Os pitagóricos e estóicos afirmavam que a alma não nasce com o corpo. Antes, eles dizem que ela foi introduzida no mesmo e que migra de um corpo para outro.” Em outro ponto de sua obra As Institutas Divinas, ele afirma: “Pitágoras insiste que as almas migram de corpos desgastados pela velhice e pela morte. Ele diz que elas são admitidas em corpos novos e recém-nascidos. Ele também diz que as mesmas almas são reproduzidas ora em um homem, ora em uma ovelha, ora em um animal selvagem, ora em um pássaro... Essa opinião de um homem insensato é ridícula. É mais digna de um ator de teatro que de uma escola de filosofia.”

É especialmente relevante a posição de Orígenes, o genial teólogo do terceiro século a quem se atribuem com freqüência noções reencarnacionistas. No Livro XIII do seu Comentário de Mateus, ele diz o seguinte, referindo-se a João Batista: “Neste lugar, não me parece que através do nome ‘Elias’ se esteja fazendo uma referência à alma. De outro modo, eu iria recair na doutrina da transmigração, que é estranha à igreja de Deus. Ela não foi transmitida pelos apóstolos, nem é apresentada em qualquer lugar das Escrituras.“

Um último testemunho importante vem do maior teólogo da igreja antiga, Agostinho (†430). Ele estava familiarizado com as teorias de reencarnação tanto maniqueístas quanto platônicas do seu tempo. Em um comentário sobre Gênesis, ele rejeitou como contrária à fé cristã a idéia de que as almas humanas retornavam em corpos de diferentes animais, de acordo com a sua conduta moral (transmigração). Em A Cidade de Deus (Livro X, Cap. 30), o bispo de Hipona observa que, embora o filósofo neoplatônico Porfírio tenha rejeitado esse conceito ensinado por Platão e Plotino, e não hesitasse em corrigir os seus mestres nesse ponto, ele achava que as almas humanas voltavam em outros corpos humanos (reencarnação). Agostinho sugere que Porfírio se sentia constrangido em afirmar que a alma de uma mãe pudesse voltar em uma mula a ser cavalgada por seu filho, mas não em afirmar que ela voltasse em uma mulher que se casaria com o seu filho. Ele conclui afirmando quão mais honrosa é a verdade ensinada pelos profetas, por Cristo e pelos apóstolos de que as almas retornam de uma vez por todas para os seus próprios corpos.

Em suma, a reencarnação é uma idéia anterior ao surgimento do cristianismo e achava-se amplamente difundida no ambiente cultural em que surgiu a fé cristã. No entanto, desde o início os cristãos rejeitaram firmemente essa concepção, e o fizeram porque tinham uma convicção diametralmente oposta — a ressurreição do corpo. Enquanto a teoria da reencarnação ensina o retorno da alma a um corpo diferente do anterior, os primeiros cristãos aprenderam a crer e a confessar, com base na experiência do próprio Senhor Jesus, que a alma retorna somente uma vez, para habitar o mesmo corpo, agora ressuscitado e glorificado. Tão radical era esse conceito, que com freqüência sua menção provocava reações de desprezo e contrariedade (cf. At 17.32; 26.23, 24). Hoje, nestes tempos da Nova Era, pode estar na moda crer na reencarnação, como acontecia entre os gregos e os romanos antigos. Mas os cristãos conscienciosos sabem que não devem seguir os modismos culturais e religiosos que agradam às pessoas, mas apegar-se à fé histórica originada em Cristo, transmitida por seus apóstolos e defendida pela igreja dos primeiros séculos.



                    Vida e morte, morte e vida
A vida é muito mais do que a conservação do corpo por meio de compensações do organismo. Na verdade, a vida é maravilhosa demais para ser plenamente entendida. A vida não termina com a morte, que é, de fato, “a cessação definitiva de todos os atos, cujo conjunto constitui a vida dos seres organizados”.

A primeira fase da vida processa-se no ventre materno. Essa etapa, limitada normalmente a nove meses, inclui a concepção e a gestação. A concepção marca o vigoroso início da vida e a gestação é o período em que o embrião se desenvolve no útero, desenvolvimento este descrito como “assombrosamente maravilhoso” pelo salmista, pois a substância, ainda informe, é tecida e entretecida gradativamente no seio da mãe (Sl 139.13-18).

A segunda fase começa com a remoção da criança do ventre materno para outro ambiente e termina com a desintegração somatopsíquica, que reduz o corpo inexoravelmente à putrefação, ao esqueleto e ao pó. Não há um período de tempo prefixado como na fase anterior. O desenlace pode ocorrer a qualquer momento. Mas não é difícil chegar aos 70 anos (Sl 90.10).

A terceira fase da vida começa quando rompe-se “o fio de prata”, despedaça-se “o copo de ouro”, quebra-se “o cântaro junto à fonte”, desfaz-se “a roda junto ao poço”, e o pó volta à terra, como era, e o espírito volta a Deus, que o deu (Ec 12.6-7). Quando esta tenda dentro da qual agora vivemos for assim desfeita, “temos da parte de Deus um edifício, casa não feita por mãos, eterna, nos céus” (2 Co 5.1). Se a criança, ao sair do útero, encontra ambiente e cuidados para continuar a viver e expandir sua própria vida, por que não encontraríamos nós outro ambiente e outros cuidados do outro lado da vida, embora experimentalmente desconhecido?

Chama-se de estado intermediário aquela situação em que se encontram os mortos e que se estende entre a morte e a ressurreição do corpo. A ressurreição não é privilégio exclusivo dos justos, pois Jesus declarou: “Os que fizeram o bem ressuscitarão para a vida, e os que fizeram o mal ressuscitarão para serem condenados” (Jo 5.29). Todos os que estiverem nos túmulos ressuscitarão, “uns para a vida eterna, e outros para vergonha e horror eterno” (Dn 12.2).

No caso dos justos, a ressurreição não é apenas a retomada do corpo, mas a tomada de um corpo novo, de biologia diferente. Porque, como enfatizam as Escrituras Sagradas, é necessário que o corpo atual seja ressuscitado em glória e poder, e se revista de incorruptibilidade e imortalidade (1 Co 15.35-38).

A passagem da morte para a vida, tanto para o salvo como para o não salvo, não se faz por meio de estágios progressivos, chamados de reencarnações, mas diretamente em virtude da ressurreição.

A vida eterna é garantida aqui e agora, quando o pecador reconhece que é pecador, arrepende-se e converte-se de seus pecados e apela para Jesus, com o qual se liga para sempre por meio da fé, pois Ele é o único mediador entre Deus e os homens (1 Tm 2.5).



A doutrina da reencarnação desconhece a graça de Deus
O que a reencarnação é 
A reencarnação é uma crença pagã e muito antiga sem o menor fundamento bíblico. Faz parte de muitas religiões tribais, do budismo, do hinduísmo, do espiritismo e da Nova Era. Ensina a pluralidade das existências, “em virtude da qual todas as criaturas humanas, em sucessivas encarnações, vão evoluindo gradativamente, quer no plano intelectual, quer no plano moral, enquanto que, ao mesmo passo, vão resgatando erros e crimes do passado”. O objetivo da reencarnação, diz o próprio Kardec, é a “expiação, o melhoramento progressivo da humanidade”. As novas encarnações podem se dar aqui na terra ou em outros corpos celestes, de nível moral superior ao nosso. O espírito de um homem pode encarnar no corpo de uma mulher e vice-versa.

Em que se baseia
A doutrina da reencarnação procura assentar suas bases na revelação dos espíritos. Detalhes fantásticos são aceitos e atribuídos a eles. Quando Jesus disse: “Tenho ainda muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora” (Jo 16.12), Ele estaria se referindo a outras revelações, inclusive à lei da reencarnação, que viriam a seu tempo por intermédio dos espíritos superiores com o concurso de diversos médiuns, o que chega a ser séria irreverência para quem conhece e preza a Palavra de Deus. Além disso, a reencarnação seria a explicação para o sofrimento humano e para uma série de fenômenos, tais como a existência de crianças-prodígio, as reminiscências, as faculdades supranormais de animais etc. A doutrina firma-se ainda na tentativa de afastar para longe e para sempre a idéia do juízo final, pois, por meio dela, quer queiram quer não, com menor ou maior demora, todos os homens chegarão ao estado de perfeição e pureza que Deus exige, por esforço e moto próprios.

Confrontando com a Bíblia
Ninguém se iluda: uma vez aceita a reencarnação, as principais doutrinas do cristianismo são reduzidas a nada. A atriz Eva Wilma estava tremendamente enganada quando declarou ao Jornal Espírita que não acha “o espiritismo conflitante com o catolicismo”.

Apesar de o espiritismo se gloriar de não ser materialista por acreditar, acertadamente, que o homem não é só corpo, o sistema deixa o homem sozinho em seus anseios de salvação. Não há lugar na doutrina espírita para a mais importante mensagem da Bíblia — Jesus “veio buscar e salvar o perdido” (Lc 19.10). Não se conta a expiação de nossos pecados “mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas” (Hb 10.10). O véu do templo não se rasgou em duas partes, de alto a baixo, naquela sexta-feira da Paixão (Mc 15.38) e nós não podemos entrar no Santo dos Santos pelo sangue de Jesus (Hb 10.19). Não é necessário confessar pecados, pois não há perdão; Cristo não é a propiciação pelos nossos pecados (1 Jo 1.9; 2.2). Deus não amou ao mundo de tal maneira a dar seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna (Jo 3.16). Paulo estava errado quando declarou: “Pela graça sois salvos, mediante a fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2.8-9). O escrito de dívida que era contra nós não foi removido nem encravado na cruz (Cl 2.14). O ladrão que se arrependeu e creu ali na cruz, junto a Jesus, não se salvou nem foi levado para o Paraíso (Lc 23.43). O castigo que nos traz a paz nunca esteve sobre Ele, Jesus (Is 53.5), mas repousa implacavelmente sobre nós, indefinidamente.

Aquele que crê na reencarnação obriga-se a rejeitar a doutrina das últimas coisas conforme apresentada na Bíblia. Para ele não haverá salvos e perdidos, não obstante as palavras de Jesus (Mt 13.41-42, 49-50; 25.46). O juízo final é algo meramente simbólico. Os injustos, contemporâneos a Noé e a Ló, não estão, sob castigo, reservados para o dia do juízo (2 Pe 2.4-11). A ressurreição dos mortos não deve ser entendida como Paulo ensinou: “Semeia-se o corpo na corrupção, ressuscita na incorrupção” (1 Co 15.42), pois entre a morte e a “ressurreição” se darão intermináveis novas encarnações. A destruição dos céus e da terra que agora existem (2 Pe 1.13) será um fenômeno natural, e quando isto suceder, daqui a milhões de anos, a terra já estará desabitada, pois os seres humanos “terão atingido um nível evolutivo em que o plano terreno não mais lhes servirá de morada”.

O que fazer 
A doutrina da reencarnação é tão oposta à Bíblia, que se impõe uma opção como aquela que Elias colocou diante de Israel: “Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-o; se é Baal, segui-o” (1 Rs 18.21). No caso das múltiplas existências, a primeira opção terá de ser entre o Espírito Santo de Deus e os espíritos de que falam os espíritas, entre a autoridade das Escrituras Sagradas e a codificação de Allan Kardec, entre o absolutamente certo dos Evangelhos (At 2.36) e a ficção reencarnacionista. Sobre uma coisa não haja dúvida: é inútil qualquer tentativa de harmonizar o verdadeiro cristianismo com o espiritismo.


Surpreendente graça 

Ultimato publica letra e música do hino Surpreendente graça, composto pelo pastor anglicano John Newton há 220 anos e traduzido para o português por J. Costa em 1969. É uma das músicas mais cantadas ao redor do mundo. A melodia é extremamente delicada e bonita. Aprenda a cantar este hino e ensine-o aos seus amigos. Vamos encher o Brasil da Surpreendente graça!

A estranha graça de Jesus
Um infeliz salvou!
Eu cego estava, deu-me luz,
Perdido, e me buscou!

A graça, então, meu coração
Do medo libertou;
Oh! quão preciosa a salvação
Que a graça me ganhou!

Perigos mil atravessei,
E a graça me valeu;
Eu, são e salvo, agora irei
Ao santo lar do céu.

Promessas deu-me o Salvador
E nele eu posso crer;
É meu escudo e protetor
Em todo o meu viver!

Jesus sai da sepultura
Jesus ficou pouco tempo no túmulo de José de Arimatéia. Seu corpo não chegou a apodrecer nem cheirar mal como o corpo de seu amigo Lázaro. Cerca de 36 horas depois de morto, Jesus se pôs em pé dentro do túmulo. Ele não precisou levantar a pedra que tampava a entrada do túmulo. Do lado de fora já havia um anjo fazendo isso. Os anjos sempre estiveram a serviço de Jesus. Foram eles que lhe ofereceram comida depois de seu jejum de 40 dias e depois de Ele ser tentado pelo diabo. Foram eles que alegraram Jesus quando Ele estava tremendamente triste no Jardim do Getsêmani. Foram eles que avisaram Maria que ela seria a mãe de Jesus. Foram eles que avisaram José que Maria estava grávida por obra do Espírito Santo. Foram eles que fizeram aquela grande festa nos céus de Belém no dia do nascimento de Jesus.

Era de todo impossível que Jesus continuasse morto, pois Ele tinha todo o poder sobre a morte. Ele mostrou isso pelo menos em três ocasiões. Quando devolveu a vida à filha de Jairo, que havia acabado de morrer; quando devolveu a vida ao filho da viúva de Naim, cujo corpo estava sendo levado para o cemitério; e quando devolveu a vida ao irmão de Maria e Marta, cujo corpo já estava no cemitério. Agora, era a vez do próprio Jesus tornar a viver e sair do túmulo.

Várias vezes Jesus avisou que passaria pessoalmente pela experiência da morte. Mas todas as vezes que anunciava a própria morte, Ele anunciava também a sua ressurreição. Certa vez, Jesus fez uma comparação com a experiência de Jonas. Assim como esse profeta esteve três dias e três noites na barriga de um grande peixe e depois foi vomitado numa praia, assim Ele próprio estaria no interior da terra por três dias e três noites e depois sairia de lá.

O lugar dos mortos é o cemitério. Mas quando o morto torna a viver, o lugar dele já não é o cemitério. Foi isso que os anjos disseram às mulheres quando elas foram perfumar o corpo de Jesus naquele domingo bem cedo: “Por que vocês estão procurando entre os mortos quem está vivo?”

A partir daquele momento, Jesus se apresentou vivo com muitas e valiosas provas. Esse acontecimento mudou totalmente todos os discípulos por toda a vida.

Morte e ressurreição de Jesus

A morte e a ressurreição de Jesus Cristo são dois fatos inseparáveis e de importância igual. Tanto uma quanto a outra requerem muita reflexão. Os mais descrentes têm dificuldade de acreditar na ressurreição. Os mais crentes têm dificuldade de entender a morte de Jesus.

As dificuldades quanto à ressurreição de Jesus decorrem da alergia que os descrentes têm de tudo aquilo que não pode ser comprovado pela ciência, de tudo aquilo que é matéria de fé. Para eles, a morte é o fim da história individual. Depois da morte, dizem, não há mais nada.

As dificuldades quanto à morte de Jesus decorrem da alegria que os crentes têm na divindade do Filho de Deus. Se no princípio era o Verbo, se o Verbo estava com Deus, se o Verbo era Deus, e se todas as coisas foram feitas por intermédio dele e sem Ele nada do que foi feito se fez (Jo 1.1-3) — então, como acreditar na morte de Jesus? Que Verbo é esse cujo coração pára de bater e cujo corpo fica inerte, enrijecido e amarelado, no ponto de ser sepultado?

Sem o suficiente conhecimento das Escrituras, em especial da história da salvação, quase é mais fácil entender a ressurreição do que a morte de Jesus. Não obstante, Jesus morreu e ressuscitou.

Jesus não deixou de ser o Verbo quando morreu. Não encostou num canto qualquer a sua divindade para morrer. Ao entregar-se à morte, Jesus não molestou o seu poder nem a sua autoridade. Antes de sujeitar-se à morte, Jesus adiantou que ninguém teria a capacidade necessária para tirar-lhe a vida. A morte ocorreria por uma questão de doação: “Eu sou o bom pastor e o bom pastor dá a vida pelas ovelhas” (Jo 10.11). O Senhor deixou bem claro que Ele tinha autoridade para ambas as coisas: para entregar a sua vida e também para reavê-la; autoridade para morrer e para ressuscitar (Jo 10.18).

A história bíblica não deixa margem alguma para a idéia de martírio. Jesus não foi martirizado. O mártir sucumbe sob a pressão de seus algozes, como aconteceu com Estêvão (At 7.54-60), com Tiago (At 12.1-2) e com muitos outros cristãos através da história. Embora ameaçado de morte, Jesus jamais caiu nas mãos de seus inimigos. Herodes não conseguiu realizar o intento de matar o recém-nascido rei dos judeus, não obstante tenha sacrificado todos os meninos de dois anos para baixo de Belém e de todos os seus arredores (Mt 2.16-18). Mais de uma vez, a turba enfurecida pegou em pedras para atirar nele e Jesus se ocultou deles (Jo 8.59; 10.31). Outras vezes pretenderam prendê-lo, mas estranhamente ninguém lhe pôs as mãos (Jo 7.44; 8.20).

Se é assim, por que finalmente o prenderam e o mataram, por ocasião de sua última viagem a Jerusalém? É porque Jesus o permitiu. Num de seus desabafos, Jesus exclamou: “Agora meu coração está perturbado, e o que direi? Pai, salva-me desta hora? Não; Eu vim exatamente para isto, para esta hora” (Jo 12.27, NVI). No exato momento de seu aprisionamento no Jardim do Getsêmani, Jesus dispensou o auxílio de Pedro, ordenou-lhe que recolhesse a espada à bainha e lhe perguntou: “Você acha que Eu não posso pedir a meu Pai e Ele não colocaria imediatamente à minha disposição mais de doze legiões de anjos? Como, então, se cumpririam as Escrituras que dizem que as coisas deveriam acontecer desta forma?” (Mt 26.53-54, NVI). Quando Pilatos presunçosamente declarou a Jesus que tinha autoridade para libertá-lo e para crucificá-lo, o Mestre respondeu de pronto: “Não terias nenhuma autoridade sobre mim, se esta não te fosse dada de cima” (Jo 19.11).

A morte de Jesus só pode ser entendida mediante o cumprimento e a atualização da liturgia que apontava ano após ano para o seu sacrifício único, perfeito e suficiente. Jesus se ofereceu para vir ao mundo, para tomar forma humana, para entrar no tempo e, por último, para dar o seu próprio corpo uma vez por todas, removendo o ensaio para estabelecer a apresentação final, coroada de êxito. Por essa vontade férrea, já que sangue de touros e de bodes não pode remover pecados, temos perfeito acesso à presença de Deus, “por um novo e vivo caminho que Ele nos abriu por meio do véu, isto é, do seu corpo”, como claramente explica a Epístola aos Hebreus (10.1-25).

Uma vez entendida a morte de Jesus com profundidade teológica, a ressurreição do Senhor, ao terceiro dia, surge naturalmente, sem dificuldade alguma. É bom lembrar que Ele tinha autoridade para dar a sua vida e para retomá-la, uma autoridade indivisível, dada pelo Pai (Jo 10.18).

Todas as vezes que Jesus anunciava a sua morte, mencionava também a sua ressurreição logo a seguir: “Desde aquele momento, Jesus começou a explicar aos seus discípulos que era necessário que Ele fosse... morto e ressuscitasse ao terceiro dia” (Mt 16.21; 17.22-23; 20.17-19).

Para ser bem entendido, Jesus usava ilustrações para falar da sua ressurreição. Uma delas era o chamado sinal do profeta Jonas: “Assim como Jonas esteve três dias e três noites no ventre de um grande peixe, assim o Filho do homem ficará três dias e três noites no coração da terra” (Jo 12.40, NVI). A outra ilustração demonstra uma autoridade enorme: “Destruam este templo (o meu corpo) e Eu o levantarei em três dias” (Jo 2.19).

A ressurreição de Jesus aconteceu como havia sido anunciada. São testemunhas dela não só as mulheres da Galiléia (Lc 24.1-12), Pedro e João (Jo 20.3-10), os discípulos (Jo 20.19-23), os caminhantes de Emaús (Lc 24.13-32), Tomé (Jo 20.26-29), mais de 500 irmãos “de uma só vez” (1 Co 15.6) e Paulo (1 Co 15.8), mas também a escolta fornecida por Pilatos a pedido dos principais sacerdotes (Mt 27.63-66, 28.4). Por meio dos guardas, a notícia da ressurreição de Jesus chegou no mesmo dia aos principais sacerdotes e aos anciãos (Mt 28.11-15).

Todavia a maior evidência da ressurreição de Jesus é a renovação de ânimo e o caráter incontido de seus primeiros discípulos. E também a mesma certeza, o mesmo entusiasmo e a mesma disposição dos discípulos posteriores de Jesus, a partir da segunda metade do primeiro século até a segunda metade do século XX, em quase todo o mundo, a despeito do tempo, do desgaste, das perseguições, das heresias, da apostasia, do mundanismo, dos escândalos, do secularismo, da libertinagem e das crises da igreja!

Túmulo vazio — versão de Lucas

Duas versões sobre o túmulo vazio 

Quando o sol se levantou no primeiro dia da semana depois da crucificação de Jesus Cristo, o túmulo de José de Arimatéia, onde o sepultaram, estava vazio. A notícia correu célere em toda a Jerusalém. Surgiram logo duas versões distintas sobre o acontecimento, uma oficial e outra particular: . A primeira é assinada por um certo Britus, porta-voz do governo de Pôncio Pilatos. A segunda é assinada por um médico e historiador chamado Lucas. É importante que o leitor tome uma posição inequívoca e responsável sobre a momentosa controvérsia. Os editores de Ultimato rejeitam a versão de Britus e abraçam a versão de Lucas, por razões que lhes parecem plenamente óbvias e satisfatórias. 


Jesus ressuscitou contra todas as expectativas 

A propósito do sumiço do corpo de Jesus Cristo do sepulcro de José de Arimatéia no primeiro dia da semana, devo esclarecer o seguinte: 

1. Não houve roubo algum. Jesus de fato ressuscitou de entre os mortos, sendo ainda escuro. Os guardas viram a remoção da pedra que fechava a entrada do túmulo, bem como viram o túmulo vazio. Encheram-se de pavor e desmaiaram. 

2. Pouco depois, alguns deles recobraram o ânimo e foram à cidade para relatar a ocorrência aos principais sacerdotes. Os demais permaneceram junto ao sepulcro. 

3. Os sacerdotes, depois de se reunirem com outros líderes, deram grande soma de dinheiro aos guardas obrigando-os a explicar o desaparecimento do corpo de Jesus, com a confissão de que dormiram em serviço e, enquanto isso, o corpo foi roubado por seus discípulos durante a noite. 

4. Os guardas nunca foram punidos por “não terem resistido ao sono”. Os sacerdotes se comprometeram a aliciar também o governador quando fosse necessário, garantindo assim a segurança da guarda. 

5. A desculpa apresentada pelos guardas é sem consistência e não resiste a uma análise cuidadosa. A guarda não dormiria em serviço por três razões muito simples. Primeiro, porque existe forte noção de disciplina entre militares. O centurião, cujo servo Jesus curou, deixou isto claro quando disse: “Eu também sou homem sujeito a autoridade, e tenho soldados às minhas ordens, e digo a este: Vai, e ele vai, e a outro, vem, e ele vem”. Segundo, porque os guardas estão acostumados a controlar o sono por força de sua profissão, assim como o médico é muito mais capaz de perder uma noite de sono do que um trabalhador braçal. Terceiro, porque era uma escolta e não dois ou três soldados. É muito mais fácil vencer o sono quando se trata de um grupo. Ademais, a escolta poderia se revezar na guarda do túmulo. 

6. Se a versão do roubo do corpo fosse verdadeira, duas perguntas permaneceriam sem resposta: a) Por que os guardas não acordaram quando os discípulos removeram a grande pedra colocada à entrada do túmulo? b) Por que os discípulos não levaram com o cadáver de Jesus os lençóis que o envolviam e o lenço que estava sobre sua cabeça? (Estas peças permaneceram no túmulo vazio.) 

7. Se o anúncio da ressurreição de Jesus se baseasse numa fraude — o roubo de seu corpo —, os discípulos jamais experimentariam a transformação que se verificou entre eles. Estes homens estão transtornando o mundo porque vivem a ressurreição do Senhor e a proclamam com profunda convicção. Embora não tivessem predisposição alguma para esperar a ressurreição e com muita relutância a aceitassem. 

8. Depois de ressuscitado, Jesus foi visto por centenas de pessoas, em lugares e circunstâncias diferentes. Numa ocasião Ele apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma só vez, dos quais a maioria ainda vive. Eu entrevistei dezenas deles no afã de colher dados e me certificar de tudo para escrever o Evangelho e osAtos dos Apóstolos. 

9. Duas das testemunhas da ressurreição contaram-me que só reconheceram que era Jesus o estranho que eles hospedavam, quando na hora da refeição Ele tomou a liderança, apanhou o pão, abençoou-o e o repartiu entre eles, repetindo nos gestos e no tom de voz o que fizera no cenáculo quatro dias antes. 

10. Depois de acurada investigação de tudo desde sua origem, posso declarar que Jesus se apresentou vivo com muitas provas incontestáveis, depois de morto e sepultado, e apareceu aos discípulos durante quarenta dias, até ser assunto aos céus, de onde há de vir em ocasião oportuna. Este testemunho é verdadeiro e leva minha assinatura: Lucas. 
  
O espiritismo retira de Jesus a sua divindade e o seu sacrifício vicário
Em seu livro A Bíblia para o Povo, o presidente mundial da brasileiríssima Legião da Boa Vontade, José Simões de Paiva Neto, explica: Jesus também começou como nós: na estaca zero. Ele não foi criado com uma perfeição sem jaça. Foi feito simples e ignorante como cada um de nós, claro que anteriormente à fundação do planeta Terra. Jesus evoluiu em outro mundo e foi desenvolvendo o seu espírito, de encarnação em encarnação, até chegar à unidade com o Pai, a ponto de poder dizer: “Eu e o Pai somos um.”

Muito antes de Paiva Neto, o reencarnacionista americano Edgar Cayce (1877-1945), fundador da Associação para Pesquisa e Iluminação (1931), dizia sem o menor constrangimento que Jesus é o resultado de uma longa cadeia de reencarnações.

Para o cristão convicto, essas palavras soam como blasfêmia, pois mexem com um dos maiores pilares do cristianismo, que é a divindade de Jesus. Os cristãos entendem que Jesus é aquele de quem fala o prólogo do Evangelho segundo João: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez. E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai.” (Jo 1.1, 3, 14.)

No cristianismo, Jesus é “Emanuel, que quer dizer Deus conosco” (Mt 1.23); Jesus é “a imagem do Deus invisível” (Cl 1.15); Jesus é “o resplendor da glória de Deus e a expressão exata do seu ser” (Hb 1.3); Jesus é “o Alfa e o Ômega, aquele que é, que era e que há de vir, o Todo-Poderoso” (Ap 1.8); Jesus é “o primeiro e o último, que esteve morto e tornou a viver” (Ap 2.8).

Além de negar a divindade, a santidade absoluta e a ressurreição de Jesus, o espiritismo nega outro grande alicerce do cristianismo, que é o sacrifício expiatório de Jesus. Segundo o espiritismo, todo mal cometido em qualquer existência será reparado com expiações pessoais em novas e sucessivas encarnações. O homem é o seu próprio salvador. É como no budismo: “o indivíduo faz o mal por si mesmo, sofre por si mesmo, deixa de fazer o mal por si mesmo e é purificado por si mesmo”. A salvação será obtida sem nenhuma ajuda externa. Nas religiões reencarnacionistas, não existe a maravilhosa graça que salva o pecador da culpa do pecado (justificação), do poder do pecado (santificação) e da presença do pecado (glorificação).

No cristianismo, tudo é diferente. Jesus é o Agnus Dei (o Cordeiro de Deus) que tira o pecado do mundo, como muito bem se expressou João Batista (Jo 1.29). Ele é o Servo do Senhor que toma sobre si “a iniqüidade de nós todos” (Is 53.6). Ele se faz pecado por nós e carrega em seu próprio corpo os nossos pecados (1 Pe 2.24). Ele paga a dívida que o pecador não pode pagar (Cl 2.14). Ele é duramente castigado como se fosse culpado de todas as mazelas do homem (Is 53.5; Rm 8.32). Ele é dado como oferta pelo pecado, Ele derrama a sua alma na morte, Ele é vitimado por causa de nossa transgressão, Ele é cortado da terra dos viventes, Ele é o bom pastor que dá a sua vida pelas ovelhas (Jo 10.11). Jesus não é a reencarnação de alguém; é o Verbo que se secularizou, isto é, entrou dentro do tempo, e tornou-se visível, palpável e audível, para tornar possível a salvação daqueles que crêem.

É muito significativo lembrar que um dos apóstolos de Jesus (Tomé), o último a acreditar em sua ressurreição, tenha ido, como missionário, para a Índia, o berço da teoria da reencarnação, então dominada pelo hinduísmo, jainismo e budismo. Como é bom recordar ainda que outro missionário (Paulo) foi enviado ao mundo greco-romano, onde prevalecia o platonismo, em cujo bojo estava também a reencarnação. O cristianismo cresceu mais do que todas as religiões de então.

Ainda é a maior religião do mundo, não obstante a ignorância doutrinária e a decadência moral da maior parte de seus seguidores.

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O sacrifício de Jesus
Chama-se de sacrifício a morte de Jesus. É preciso ficar bem claro que o Filho de Deus não morreu porque o Sinédrio (o tribunal religioso dos judeus) e o governador romano (Pôncio Pilatos) o condenaram à morte. A morte de Jesus não foi um acidente de percurso, nem um mero assassinato, nem um final trágico, nem uma derrota vergonhosa. A morte de Jesus não está envolta em mistério, não é algo inexplicável à vista de seu poder e de seus recursos. Os quatro Evangelhos deixam bem claro que Jesus era “imprendível” e “imatável”, isto é, ninguém tinha o direito nem o poder de lhe pôr as mãos nem de lhe tirar a vida. Jesus mesmo declarou isso enfaticamente: “Ninguém tira a minha vida de mim, mas eu a dou por minha própria vontade. Tenho o direito de dá-la e de tornar a recebê-la, pois foi isso o que o meu Pai me mandou fazer”. (Jo 10.18, NTLH.) A morte de Jesus foi voluntária, premeditada e anunciada. Embora molhada em sangue, suor e lágrimas, embora árdua e sofrida, embora extremamente dolorosa e humilhante — a morte de Jesus foi a mais cara e mais espetacular vitória de que se tem notícia. Ela tornou viável o perdão de pecados e possível a salvação de todos os que crêem.

Jesus não morreu simplesmente porque estava escrito que Ele morreria. De fato, o seu sofrimento começou a ser anunciado desde o Éden, quando Deus prenunciou: “Porei inimizade entre você [a serpente] e a mulher, entre a sua descendência e a descendência dela; este [Jesus Cristo] lhe ferirá a cabeça, e você [a serpente] lhe ferirá o calcanhar” Gn 3.15, NVI). As passagens que mais abertamente falam sobre o sofrimento e a morte de Jesus estão nos Salmos e nas profecias de Isaías. A primeira menciona até mesmo detalhes, como a distribuição das vestes de Jesus e o sorteio de sua túnica entre os soldados (Sl 22.18; cf. Jo 19.23, 24). A segunda narra com incrível profundidade o aspecto salvífico da morte de Jesus: “Ele foi traspassado por causa das nossas transgressões, foi esmagado por causa de nossas iniqüidades” (Is 53.5, NVI). A morte vicária de Jesus era constantemente anunciada por meio dos rituais e das cerimônias religiosas dos judeus. Todavia, Ele não morreu para cumprir as profecias. Jesus morreu porque “é impossível que o sangue de touros e bodes tire pecados” (Hb 10.4).

Várias tentativas de prisão e morte foram feitas contra Jesus, porém todas foram frustradas. A primeira foi quando o rei Herodes mandou matar todas as crianças do sexo masculino de dois anos para baixo de Belém e seus arredores (Mt 2.16). Quando do cumprimento dessa ordem, o menino Jesus já estava em toda a segurança no Egito. A última foi quando os judeus “apanharam pedras para apedrejá-lo, mas Jesus escondeu-se e saiu do templo” (Jo 8.58). Entre esta e aquela, está a tentativa do pessoal da sinagoga de Nazaré, quando “o levaram até o topo da colina sobre a qual fora construída a cidade, a fim de atirá-lo precipício abaixo”, mas Jesus, não se sabe como, passou “por entre eles e retirou-se” (Lc 4.28, 29).

À vista desse constante e repetido fracasso da parte dos opositores, só se pode entender a prisão e a morte de Jesus ocorridas no ano 30 d.C., durante a comemoração da Páscoa dos judeus em Jerusalém, à luz do que Ele mesmo explicou: “Ninguém tira a minha vida de mim, mas eu a dou por minha própria vontade” (Jo 10.18). Quando Jesus fez essa declaração, Ele explicou também: “Eu sou o bom pastor” e “o bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas” (Jo 10.11). Naquela sexta-feira, o “imprendível” e “imatável” deixou-se prender e matar.

O evangelista João registra que, poucos dias antes da sexta-feira da paixão, Jesus exclamou: “Agora estou sentindo uma grande aflição. O que é que vou dizer? Será que vou dizer: Pai, livra-me desta hora de sofrimento? Não! Pois fora para passar por esta hora que eu vim”. (Jo 12.27, NTLH.) No Jardim do Getsêmani, na noite de quinta para sexta, quando foi agarrado pelos guardas do templo, Jesus reafirmou essa mesma privação voluntária de livramento. Ele perguntou a Pedro: “Você não sabe que, se eu pedisse ajuda ao meu Pai, Ele me mandaria agora mesmo doze exércitos de anjos?” (Mt 26.53, NTLH). Além de não haver solicitado a intervenção divina, Jesus não usou de seu poder pessoal para escapar da prisão e da morte, como acontecera antes. O Senhor fazia inteira questão de deixar bem claro que sua morte era voluntária. Quando o governador Pôncio Pilatos, presunçosamente, disse-lhe que tinha autoridade tanto para libertá-lo como para crucificá-lo, Jesus o corrigiu de modo corajoso: “Não terias nenhuma autoridade sobre mim, se esta não te fosse dada de cima” (Jo 19.11, NVI).

Jesus só foi preso e crucificado porque “o Senhor fez cair sobre Ele a iniqüidade de todos nós” (Is 53.6). Daí a explicação de Paulo: “Em Cristo não havia pecado. Mas Deus colocou sobre Cristo a culpa dos nossos pecados para que nós, em união com Ele, vivamos de acordo com a vontade de Deus.” (2 Co 5.21, NTLH.) Daí a explicação de Pedro: “Ele mesmo levou em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro, a fim de que morrêssemos para os pecados e vivêssemos para a justiça; por suas feridas vocês foram curados” (1 Pe 2.24, NVI). Daí também a explicação de João: “O sangue de Jesus nos purifica de todo pecado” (1 Jo 1.7).

No momento exato em que Jesus entregou o espírito, por volta das 3 horas da tarde daquela sexta-feira, “o véu do santuário rasgou-se em duas partes, de alto a baixo” (Mt 27.51). Essa cortina espessa e tricolor que separava o santuário do lugar santíssimo, também chamado Santo dos Santos, simbolizava a impossibilidade de o homem, absolutamente pecador, se aproximar de Deus, absolutamente santo. A morte de Jesus foi o sacrifício que abriu o caminho até Deus. Desde então, “temos plena confiança para entrar no Santo dos Santos [na presença de Deus] por um novo e vivo caminho que Ele nos abriu por meio de véu, isto é, de seu corpo” (Hb 10.19, 20, NVI)!

 

A divindade e a humanidade de Jesus

Quando aqui na terra, Jesus se apresentava como Filho de Deus e como Filho do homem. Ele não era ora Filho de Deus e ora Filho do homem. Era ao mesmo tempo Filho de Deus e Filho do homem.

Quando se dizia Filho de Deus, Jesus estava se referindo à sua divindade. Quando se dizia Filho do homem, Ele estava se referindo à sua humanidade.

Apenas como Deus, Jesus não poderia ser visto por olhos humanos, nem ser tocado por mãos humanas. Apenas como homem, Ele não poderia transformar água em vinho, nem andar sobre a água do mar, nem ressuscitar mortos. Porém, como Deus e como homem, Jesus podia fazer todas essas coisas e muito mais.

Para ser Filho do homem, Jesus não poderia fingir que era homem. Ele precisava ter um corpo igual ao corpo humano — um corpo que precisasse de água, de comida e de sono; um corpo que fosse formado e entretecido no ventre de uma mulher e só viesse à luz do sol nove meses depois, na forma de um bebê. A isso dá-se o nome de encarnação (Jo 1.14). Para chegar a esse ponto, Jesus precisou descer dos céus, se esvaziar da plenitude de sua glória, se humilhar e assumir a forma humana (Fp 2.5-8). Uma vez Filho do homem, Jesus aceitou a obrigação da circuncisão, da apresentação, do batismo, da tentação e, até mesmo, do pagamento de impostos.

A história da humanidade de Jesus começou em Nazaré da Galiléia, com a visita do arcanjo Gabriel a Maria. Logo depois disso, ainda solteira e virgem, essa jovem ficou grávida de Jesus. O nascimento da criança aconteceu em Belém da Judéia, pertinho de Jerusalém. Naquela noite, uma multidão de anjos apareceu no céu para louvar a Deus pelo que estava acontecendo. Eles disseram: “Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens aos quais Ele concede o seu favor”. Quando se tornou Filho do homem, Jesus não deixou de ser Filho de Deus.

Como Filho do homem, Jesus nasceu depois de João Batista; mas, como Filho de Deus, Ele era mais velho do que João. Como Filho do homem, Ele era filho de Maria; mas, como Filho de Deus, era mais velho que ela. Jesus viveu 700 anos depois do profeta Isaías, 1.000 anos depois do rei Davi, 1.500 anos depois de Moisés e 2.000 anos depois do patriarca Abraão. Mas, como Filho de Deus, Jesus era mais velho do que todos eles (Jo 8.58).

Como Filho do Homem, Jesus nasceu em Belém no ano 6 a.C. Mas, como Filho de Deus, Jesus é antes de todos e de tudo (Jo 1.1-5). Como Filho do homem, é possível mencionar as idades de Jesus: ao oitavo dia foi circuncidado, ao quadragésimo dia foi apresentado no templo, aos 12 anos assentou-se com os mestres judaicos e aos 30 iniciou o seu ministério público. Mas, como Filho de Deus, essa cronometragem é impossível e sem sentido porque Jesus está fora do tempo.

Por ser, ao mesmo tempo, Filho de Deus e Filho do homem, Jesus é a pessoa mais importante do mundo. Antes e depois dele ninguém foi tão importante.



O rosto de Jesus

Causou surpresa a divulgação do possível novo rosto de Jesus feita pelo documentário Jesus: o Filho de Deus, apresentado pela BBC, a rede britânica de televisão, no início de abril. Segundo a reconstrução realizada por um artista forense da Universidade de Manchester, a partir de crânios de judeus do primeiro século exumados em Jerusalém, Jesus teria um rosto largo, pele escura e cabelos e barba pouco sedosos. Essa imagem não corresponde à aparência física até hoje difundida de um Jesus de pele clara, olhos azuis e cabelos compridos.

Já havia desconfiança quanto ao modelo tradicional. Em 1992, ao publicar o livro Who is this Jesus?, o conhecido pastor anglicano Michael Green, residente em Oxford, na Inglaterra, escreveu: “Jesus era um judeu palestino e, por isso, a cor de sua pele deveria ser azeitonada, seus olhos, castanhos, e seu nariz, adunco. Os judeus palestinos tinham cabelos negros e geralmente os usavam cuidadosamente aparados. Gostavam de barbas fartas, e isso pode ser visto em muitas moedas da época.”


 A longa história da reencarnação

A reencarnação surgiu no norte da Índia entre os anos 1.000 e 600 antes de Cristo, exatamente na época em que Davi e seus descendentes governavam Israel até a queda de Jerusalém.

A primeira referência à idéia de reencarnação tem no mínimo 2.600 anos. Aparece nas Upanichades, as escrituras sagradas do hinduísmo, até hoje a maior religião da Índia.

Como o hinduísmo é o grande progenitor das chamadas religiões orientais e de outras nascidas no Ocidente, essas religiões se incumbiram de repassar por todo o mundo a teoria de que a alma habita diversos e diferentes corpos através dos séculos e em vários mundos.

No século 6 antes de Cristo, duas novas religiões foram organizadas na Índia, ambas egressas do hinduísmo e ainda existentes. A primeira é o jainismo, fundado pelo príncipe indiano Nataputa Vardamana (cerca de 599 a 537 a.C.). A segunda é o budismo, fundado por Siddharta Gautama, mais conhecido como o Buda (563-483 a.C.). A maior preocupação de Vardamana e de Gautama, mais ou menos contemporâneos dos profetas bíblicos Ageu, Zacarias e Malaquias, era como atravessar o “rio” que separa a samsara (o ciclo interminável de renascimentos) do moksha (a soltura ou a libertação final).

Neste mesmo século, o filósofo e matemático grego Pitágoras, nascido por volta do ano 580 a.C., dizia que a alma era imortal e, depois da morte do corpo, ela ocupava outro corpo, às vezes, de um animal. Daí a palavra metempsicose, de origem grega, que significa transmigração. O quanto se saiba, é a primeira vez que a teoria da reencarnação foi mencionada no Ocidente.

No século seguinte (5), Platão, outro filósofo grego, nascido lá pelo ano 427 a.C., ensinava que a alma nasce muitas vezes, até mesmo durante 10 mil anos, e, depois, parte para a bem-aventurança celestial.

Mais de 600 anos depois da morte de Platão (347 a.C.), alguns monges começaram a pregar a restauração final de todos os seres, até mesmo o diabo e seus anjos, por meio de um processo de purificação, que incluía a reencarnação. Essa corrente teológica, conhecida como origenismo, foi progressivamente refutada, condenada e eliminada na primeira metade do sexto século.

Foram necessários mais de 1.600 anos para a reencarnação receber dois de seus maiores impulsos modernos. O primeiro se deu na França por meio de um médico de excelente formação acadêmica chamado Hippolyte Léon Denizad Rivail (1804-1869), que adotou o nome de Allan Kardec, de quem se dizia reencarnação. Com a publicação do primeiro de seus sete livros (O Livro dos Espíritos), em abril de 1857, Kardec deu início a uma nova religião, conhecida como espiritismo (mais preciso que o espiritualismo, nascido um pouco antes nos Estados Unidos) ou kardecismo, que se desenvolveu muito mais no Brasil do que na Europa. O segundo grande impulso nasceu nos Estados Unidos 18 anos depois, em 1875, graças ao esforço conjunto da ucraniana Helena Petrovna Blavatsky (1831-1891) e do americano Henry Steel Olcott (1832-1907). Os dois fundaram em Nova York a Sociedade Teosófica, mais tarde transferida para Adyar, na Índia. Em seu livro A Doutrina Secreta, Blavatsky afirma que “a doutrina básica da filosofia esotérica não admite privilégios ou dons especiais no homem, exceto os conquistados pelo seu ego, através do esforço pessoal e mérito, mediante uma longa série de metempsicoses e reencarnações”. Especialmente com Kardec, a doutrina da reencarnação passou a ser difundida com grande ímpeto.

No final do século 19, aportou nos Estados Unidos a primeira seita hindu, por instrumentalidade do eloqüente professor indiano Swami Vivekananda (1863-1902). Depois de ter feito uma calorosa conferência no Parlamento das Religiões Mundiais, realizado em Chicago, Vivekananda fundou em Nova York, no ano de 1895, a Sociedade Vedana, cuja ênfase naturalmente era a reencarnação.

Um século depois da “invasão” do cristianismo no Oriente, começou a “invasão” das religiões orientais no Ocidente. É curioso observar que o primeiro missionário protestante das missões modernas, o inglês William Carey, chegou à Índia em 1793, com a idade de 32 anos. O professor indiano que fundou a Sociedade Vedana chegou aos Estados Unidos exatamente 100 anos depois, em 1893, com a mesma idade de Carey (32 anos). Carey pregava o perdão de pecados mediante o sacrifício vicário de Jesus Cristo e Vivekananda pregava o contrário: todo mal cometido será reparado com expiações pessoais nesta e em novas e difíceis encarnações.

Além do hinduísmo (não se sabe quando começou), do jainismo e do budismo (século sexto antes de Cristo), do rosacrucianismo (século 14), do sikhismo (século 15), do espiritismo e do teosofismo (século 19) — religiões que pregam a doutrina da pluralidade de existências — o século 20 marcou o surgimento e a expansão de várias outras religiões reencarnacionistas, que pretendem fechar o cerco contra as boas novas (significado de evangelho) de que nos nasceu “o Salvador, que é Cristo, o Senhor” (Lc 2.11).

Começou com o racionalismo cristão, fundado aqui no Brasil em 1910, pelo português Luiz de Mattos (1860-1926), para quem o perdão de pecados significa comodismo.

Depois vieram a antroposofia, uma dissidência alemã da teosofia (1913); a conhecida Seicho-no-ie, fundada no Japão em 1930 por Masaharu Taniguchi (1893-1985); a Igreja Messiânica Mundial, fundada também no Japão em 1935 por Mokiti Okada (1882-1955); a brasileira Legião da Boa Vontade, fundada no Rio de Janeiro em 1950, por Alziro Elias David Abraão Zarur (1914-1979), que se dizia reencarnação de Allan Kardec; a cientologia, fundada em Washington em 1955, por Lafayette Ron Hubbard (1911-1986); a meditação transcendental, uma ramificação do hinduísmo, fundada pelo indiano Maharish Mahesh Yogi, hoje com 90 anos, e trazida para a América em 1958; a Igreja Internacional da Sabedoria Eterna, fundada pela ex-pastora episcopal Beth R. Hand (1903-1977) em 1962 na Filadélfia; e o Hare Krishna (Sociedade Internacional para Consciência de Krishna), levada para os Estados Unidos em 1965 pelo indiano Blaktivedanta Swami Prabhupada (1896-1977).

Unindo e cobrindo essas religiões todas e outros movimentos esotéricos que misturam cultos, crenças e superstições, existe um guarda-chuva quase do tamanho da camada de ozônio. É a propalada Nova Era (New Age), também chamada de Nova Consciência Cósmica. A Nova Era não é mais uma seita, mas uma constelação delas, como avisa Hélio Damante. Fazem parte desse conjunto a astrologia, a numerologia, o tarô e o I Ching (técnica chinesa do século 12 antes de Cristo que promete revelar ao homem modelos de comportamento reto e bem-sucedido), bem como as viagens cósmicas, as viagens mentais ao passado e os contatos com extraterrestres. A Nova Era começou a tomar forma na década de 1970. É uma espécie de meta-rede de organizações autônomas, embora unidas. Compete abertamente com a herança judaico-cristã. Na verdade, a Nova Era nada mais é do que velhas idéias apresentadas com um vocabulário atualizado e mais sofisticado, como explica Larry Nichols. Entre essas velhas idéias está, é claro, a doutrina originalmente hindu da reencarnação.

O Brasil é o berço não só do racionalismo cristão e da Legião da Boa Vontade, mas também do chamado Vale do Amanhecer, fundado pela sergipana Neiva Chaves Zelaya (1925-1985), mais conhecida como Tia Neiva, em 1957, perto de Brasília. Embora se declare ciência pura, alegadamente recebida via mediunidade, o Vale do Amanhecer é, como quase todas as religiões reencarnacionistas, uma mescla de cristianismo, espiritismo, ufologia, esoterismo e ocultismo.

Dos cultos afro-brasileiros, a umbanda é o que mais reflete a influência do espiritismo kardecista. Ela acredita no carma e na reencarnação.

Os pesquisadores americanos George Mather e Larry Nichols afirmam que as seitas Meninos de Deus e Templo do Povo, fundadas respectivamente por Moisés David (1919-1995) e Jim Jones (1931-1978), ambas nos Estados Unidos, adotam a doutrina da reencarnação. (Talvez isso tenha facilitado o suicídio coletivo de 913 seguidores de Jim Jones, na Guiana, em 1978.)

O mais grave, porém, é que, além dos espíritas assumidos, há milhões de brasileiros que se declaram católicos e espíritas ao mesmo tempo, quando na teoria e na prática, isso é impossível porque são doutrinas antagônicas. Tal aberração levou a 3ª Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, reunida em Puebla de los Angeles, no México, de 28 de janeiro a 13 de fevereiro de 1979, a recomendar que se inclua nos catecismos “um capítulo especial sobre espiritismo e o mandamento divino que proíbe as superstições, a magia e a invocação dos mortos e dos espíritos”. Além disso, a mesma conferência sugeriu que “nas paróquias particularmente infestadas pelo espiritismo”, os sacerdotes “falem dele [do espiritismo] aos fiéis, com caridade mas claramente, explicando a impossibilidade de continuar sendo católicos aderindo-se ao espiritismo”.

Porque cada crente possui uma Bíblia, é estimulado a lê-la e costuma freqüentar a Escola Dominical, onde se estuda a Palavra de Deus, e os cultos, esse problema é bem menor entre os evangélicos. Todavia, com o relaxamento doutrinário atual, com a preocupação demasiada em quantidade de membros e não na qualidade, e com o anúncio de um evangelho fácil sem porta estreita e com muitas promessas de bênçãos temporais e seculares — é certo que os evangélicos vão enfrentar sérios problemas de doutrina e de comportamento. Já há protestantes ditos espíritas. Um deles é Nehemias Marien, ex-pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil.



A impiedade da reencarnação

A reencarnação é uma tremenda maldade. Ela transfere a solução de um problema crucial para um futuro longínquo e impreciso. A realização final depende de um número desconhecido de renascimentos. Fala-se em “muitas vidas”, em “inúmeras reencarnações” e até em “milhões de renascimentos”. A palavra milhão indica um número altíssimo e, além disso, está no plural. Cada reencarnação traz novo sofrimento e mais uma experiência dolorosa de doença e morte. Daí a palavra do próprio Buda: “Eu passei pelo curso de muitos nascimentos procurando o construtor dessa morada e não o encontrei; dor é renascer uma vez após outra”.1

Sofre-se sem saber precisamente o porquê. Pagam-se os erros das encarnações anteriores sem saber quais foram.

A maldade da reencarnação está contida nesta canção popular indiana:

“Quantos nascimentos já passaram, não posso contar/ Quantos ainda estão para vir, nenhum homem pode dizer/ Mas sei somente isto e o sei muito bem:/ Que a dor e a tristeza amargam todo o caminho”.2



1 Citado por John Bowker, em Para Entender as Religiões, p. 61 (Editora Ática, 1997).

2 Citado por Larry A. Nichols, em Dicionário de Religiões, Crenças e Ocultismo, p. 186 (Editora Vida, 2000) 
Reencarnação e ressurreição
Franklin Ferreira

“Creio... na ressurreição do corpo” — assim afirma o credo dos apóstolos e assim cristãos de tradições tão diversas, como católicos, ortodoxos e protestantes, têm unanimemente confessado sua fé através dos séculos.1A ressurreição é o alicerce da esperança do crente diante da morte.



A reencarnação

Dentre todas as idéias que se opõem à doutrina cristã da ressurreição, talvez a reencarnação seja a alternativa mais conhecida. Existem variações sobre a noção de reencarnação, mas a idéia básica é que a nossa vida atual neste mundo é uma repetição de outras existências vividas em outros corpos — a alma da mesma pessoa continua reencarnando, esquecendo as vidas passadas. As vidas futuras das pessoas são determinadas pela lei do carma, que afirma que os maus atos passados estão relacionados com a vida presente, e que as ações atuais da pessoa têm implicações para as vidas futuras. O estado (social e físico) no qual a pessoa nascerá no futuro é assim determinado. Alguns hindus e budistas acreditam que a essência que é reencarnada é uma essência impessoal, o que significa dizer que a pessoa em si realmente não existe mais. Diferente do ensino oriental, a idéia ocidental ressalta um conceito mais otimista da vida, sendo que o objetivo de múltiplas reencarnações é finalmente unir-se à divindade, tornando-se divino. Em síntese, “todos os ensinos reencarnacionistas baseiam-se numa cosmovisão monista, mística e ocultista, que promove a divindade essencial da humanidade, nega a noção de um Deus pessoal soberano e oferece a promessa de sabedoria esotérica” (R. M. Enroth).



Cristo ressuscitou

Segundo C. S. Lewis (1898-1963), “Jesus abriu à força a porta que estava fechada desde a morte do primeiro homem. Ele encontrou, enfrentou e derrotou o Rei da Morte. Tudo é diferente porque Ele fez isso”. Por isso, a ressurreição de Cristo faz parte essencial da pregação da Igreja em todos os tempos. A esperança da futura ressurreição dos crentes depende da ressurreição de nosso Senhor (1 Co 15.1-19). Em sua ressurreição, Cristo venceu a morte para podermos participar da justiça que em sua morte adquiriu para todos nós (1 Co 15.17, 54-55; Rm 4.25; 1 Pe 1.3, 21). À luz dos métodos historiográficos, a ressurreição de Jesus é o fato melhor atestado em toda a história. Algumas evidências históricas da ressurreição podem ser resumidas assim:

1. O medo do poder de Roma foi totalmente ignorado quando o selo romano posto sobre o túmulo foi quebrado;

2. Tanto judeus quanto romanos admitiram que o túmulo estava vazio. Ninguém podia encontrar ou mostrar o corpo. Por isso, o silêncio dos judeus é tão significativo quanto o falar dos cristãos;

3. De alguma maneira, diante da guarda romana, a pedra de quase duas toneladas foi removida da entrada do túmulo;

4. Uma guarda militar romana, altamente disciplinada, deixou seu posto e precisou ser subornada pelas autoridades para mentir sobre o que realmente aconteceu. Foi justamente para evitar o roubo do corpo que a guarda foi exigida (Mt 27.64s);

5. A mortalha, intacta, não continha o corpo. João Crisóstomo (344-407), bispo de Constantinopla, observou que ladrões não poderiam roubar o corpo nu, porque demora-se muito para tirar o linho: “ele [o corpo] foi enterrado com muita mirra, que cola o linho ao corpo assim como o chumbo” (Hom. 54, sobre João 4);

6. Mais tarde, Cristo apareceu a mais de 500 testemunhas em diferentes situações e a maioria ainda estava viva quando Paulo escreveu 1 Coríntios, entre 55 e 56 d.C. — cerca de 25 anos após a ressurreição;

7. Flavio Josefo, historiador judeu do final do primeiro século, disse: “Das mulheres, nenhuma evidência será aceita, por causa da frivolidade e temeridade do seu sexo” (Antigüidades iv.8.15). Por causa da desconsideração do judaísmo antigo em relação à confiabilidade das mulheres, se a história da ressurreição fosse realmente uma manipulação, elas nunca teriam sido escolhidas para ser as primeiras testemunhas do fato;

8. A evidência conclusiva contra a possibilidade de que os discípulos roubaram o corpo é a disponibilidade dos discípulos de sofrer e até morrer por sua fé, crendo que realmente houve a ressurreição do Senhor. E isto depois de terem fugido e se escondido durante a crucificação;

9. É importante perceber que não existe evidência para qualquer tentativa de refutação da ressurreição de Cristo por parte de seus adversários, nos primeiros séculos do cristianismo. A igreja foi construída sobre este fato: que Jesus Cristo, uma vez crucificado, ressuscitou dentre os mortos;

10. No fim, há uma ausência total de outras explicações satisfatórias para o fenômeno da ressurreição de Cristo; qualquer outra teoria não responde a toda a evidência.



Nossa ressurreição

As Escrituras são claras em prometer ressurreição aos que crêem. Ela é ensinada no Antigo Testamento explicitamente no Salmo 16.10, em Oséias 6.2, Ezequiel 37.1-14, Isaías 26.13-19, Daniel 12.2 e implicitamente no Salmo 49.14, 15, além de outros textos. É significativo que Jesus e os autores do Novo Testamento sustentaram que o Antigo Testamento ensina a ressurreição (Mc 12.24-27; At 2.24-32; 13.32-37; Hb 11.9). No Novo Testamento, esta foi uma das doutrinas mais elaboradas, principalmente nos escritos de Paulo (1 Co 15.1-58; 2 Co 5.15-17; 1 Ts 4.16s), sendo mencionada em quase todos os escritos (At 1.22; 2.24, 32; 3.15; 13.29s; Hb 6.1s; 11.19, 35; 1 Pe 1.3, 4; 3.19s; Ap 1.5; 5.9, 10; 20.5-15). O Novo Testamento afirma unanimemente que Deus vai ressuscitar os mortos e que isso não é considerado algo difícil demais para Ele fazer (At 26.8).

A realidade de nossa ressurreição é ensinada por dois fatos. O primeiro é que Jesus foi ressuscitado no mesmo corpo no qual Ele morreu. Em Lucas 23.39, vemos que Jesus não ressuscitou apenas na forma do espírito, mas fisicamente. O segundo é que nós teremos corpos iguais ao corpo de Cristo. Ele é “as primícias dos que dormem” (1 Co 15.21). A ressurreição implica uma continuidade entre o corpo físico que temos agora e o corpo que teremos no futuro. Os próprios santos martirizados serão incluídos na ressurreição (Ap 20.5) e haverá mútuo reconhecimento (Mt 8.11; Lc 13.28). Quanto a outros benefícios que os crentes recebem de Cristo na ressurreição, o Breve Catecismo de Westminster (1647) afirma: “Na ressurreição, os crentes, sendo ressuscitados em glória, serão publicamente reconhecidos e absolvidos no dia do juízo, e tornados perfeitamente felizes no pleno deleite de Deus, por toda a eternidade”.

A continuidade entre o corpo presente e o futuro é também marcada por algumas mudanças. Mateus 22.30 diz que no céu seremos como os anjos, não casados. É discutível se isso quer dizer que não existirá macho e fêmea no céu, mas as relações sexuais não continuarão. O corpo ressuscitado de Cristo tinha o poder de aparecer de repente entre os discípulos (Lc 24.36), mas era ainda um corpo físico (Jo 20.24-28). O corpo no estado futuro terá capacidades além daquelas que tem agora. O corpo será próprio para a existência celestial que teremos. Serão corpos perfeitos, sem corrupção, poderosos e gloriosos (1 Co 15.35-58). Estaremos livres das imperfeições e das necessidades que temos na terra. Em 1 Coríntios 15.50, Paulo diz que carne e sangue não podem herdar o reino de Deus, mas isso não elimina a possibilidade de uma ressurreição física. O corpo pode ser diferente do que é agora e ainda ser composto de matéria física. Como o erudito puritano Richard Sibbes (1577-1635) disse, “Deus prepara nossa alma aqui para possuir um corpo glorioso no porvir; e preparará o corpo para receber uma alma gloriosa”.



Ressurreição: obra do Deus triúno

Todos os membros da Trindade estão envolvidos na ressurreição dos crentes. Em alguns casos, se diz simplesmente que Deus ressuscita os mortos, sem especificar nenhuma pessoa (Mt 22.29; 2 Co 1.9). Mas a ressurreição é também mencionada como obra do Pai por meio do Espírito Santo (Rm 8.11). Mais particularmente, porém, a obra da ressurreição é atribuída ao Filho (Jo 5.21, 25, 28, 29; 6.38-40, 44, 54; 1 Ts 4.16), sendo destacado que há uma ligação especial entre a ressurreição de Cristo e a nossa ressurreição (1 Co 15.12-14).

Em conclusão, os cristãos crêem com convicção que “aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo” (Hb 9.27). Por isso, têm repudiado o ensino da reencarnação como uma séria e mortífera distorção da fé evangélica.



1 Este ponto precisa ser bem enfatizado, pois em anos recentes alguns têm suposto erroneamente que a Igreja cria na reencarnação, em seu início. A Igreja cristã nunca ensinou ou creu na reencarnação. Isso pode ser facilmente refutado com uma consulta ao Didaquê 16.6 e às obras de Inácio de Antioquia (Trall. 9.2), Clemente de Roma (1 Clem. 24-26), Justino (1 apol. 18s.), Irineu de Lião (Adv. haer. 1.6.2; 1.27.3; 5.1.2) e Tertuliano (De ressurr. carn.). A reencarnação foi ainda repetidamente rejeitada pelos Concílios de Lião (1274) e Florença (1439), bem como pelo do Vaticano II (1965, Lumen Gentium, 48). Em anos mais recentes, Rudolf Bultmann pretendeu negar a historicidade da ressurreição, tentando reinterpretá-la em termos de linguagem mitológica, sendo refutado pelos trabalhos de Oscar Culmann (Christ and time; Immortality of the soul or resurrection of the body?) e Herman Ridderbos (Bultmann, a ser lançado pela Editora Cultura Cristã), entre outros. A importância da doutrina da ressurreição na pregação e ensino cristãos pode ser facilmente comprovada a partir do estudo das obras de cristãos com métodos teológicos tão diferentes como Agostinho de Hipona (Enchir. 84-87; De civ. dei 22.20.1; 22.19), Tomás de Aquino (Expositio super Symbolo Apostolorum), João Calvino (Inst. 3.25) e Karl Barth (Church Dogmatics 3.2.47; 4.1.59), ou com uma consulta aos principais catecismos e confissões de fé da Igreja cristã.



FONTE REV.ULTIMATO



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