Crescendo em estatura, sabedoria e graça"
Como terá sido a infância de Jesus? A Bíblia não diz muito sobre isso. Um dos
poucos episódios é aquele em que o menino, com 12 anos de idade, vai com a
família à festa da Páscoa em Jerusalém e acaba ficando por lá. O desespero dos
pais em sua procura contrasta com a tranqüila presença de Jesus no templo,
onde, conforme o relato de Lucas, todos “ficavam maravilhados com o seu
entendimento e com as suas respostas” (Lc 2.47). No final, ele faz um resumo
significativo sobre o crescimento desse adolescente: “Jesus ia crescendo em
sabedoria, estatura e graça diante de Deus e dos homens” (Lc 2.52).
O evangelista junta diferentes dimensões da adolescência de Jesus e fala do seu
crescimento diante
de Deuse diante dos olhos humanos. Assim, sobre ele se poderiam ouvir comentários
comuns à vida de qualquer criança ou adolescente: “Como você está adiantado
para sua idade!”; “Nossa! Como esse menino cresceu!”... Mas também haveria
comentários sobre uma “estranha intimidade” dele com Deus, na qual se começava
a discernir um caminho de vocação que enriquece a vida e co-constrói a
sociedade. É muito bonito perceber esse crescimento harmônico e integrado na
vida do jovem Jesus.
A fé cristã é assim. Ela envolve a pessoa por inteiro e afeta todas as áreas da
vida. Ela é significativa, tanto para crianças como para idosos, tanto para o
indivíduo como para a comunidade. Ela abrange tudo o que somos: nosso coração,
envolvendo nossos sentimentos; nossos pés, determinando nossos caminhos de
vida; nossas mãos, numa expressão de nossas habilidades artesanais e
construtoras; nossos braços, expressando-se em acolhimento e abraço; e nosso
conhecimento, como expressão da nossa capacidade de entendimento.
Na história das missões modernas, por exemplo, vê-se bem como isso se
corporificou. Apesar de todos os intentos civilizatórios que caracterizaram
essa história, acontece a mobilização não somente do evangelista, mas também do
médico, do enfermeiro, do agrônomo e do educador. Junto com a decisão de
traduzir a Bíblia havia também o empenho por promover o crescimento integral
das pessoas. Assim, na estação missionária, havia não somente uma igreja, mas
também uma escola e um hospital.
Hoje, como ontem, se vê a importância do crescimento integral. Um conhecimento
que integre as diferentes dimensões da vida e que passe pela veia da educação,
seja ela formal ou informal. Uma educação que ensine as letras, que ajude a
descobrir o mundo, o outro e a si mesmo, e que se torne um instrumento central
na construção da sociedade. O que aconteceu com Jesus — educado nas letras do
Antigo Testamento* e aprendendo a ler, a conhecer a história do seu povo e a
projetar a vivência da sua fé para dentro da sua realidade — precisa acontecer
com os filhos do nosso tempo.
Meta do Milênio 2
Ao abordarmos a segunda Meta do Milênio — Educação básica e de qualidade para todos — nos sentimos absolutamente em casa, pois é
exatamente para isso que a fé cristã nos empurra. É porque a fé busca o
entendimento que queremos que todos conheçam o caminho das letras, entendam e
participem da sociedade e encontrem nela caminhos dignos de vida, trabalho e
construção social.
O objetivo desta meta é que até o ano 2015 todos os meninos e meninas tenham
acesso à educação básica e a completem. Neste particular o Brasil vai bem, e os
dados do IBGE indicam que no final do século passado 96,9% das crianças de 7 a
14 anos estavam na escola. Nosso grande desafio é que, além de achar o caminho
da escola, as crianças permaneçam lá e sejam alfabetizadas. O fato é que, de
cada dez alunos que concluem a primeira série, apenas três estão alfabetizados
de forma satisfatória. A não-alfabetização é a maior causa do abandono e da
reprovação escolar nos primeiros anos do ensino fundamental. Alunos não
alfabetizados são estigmatizados, têm a auto-estima comprometida e acabam
abandonando a escola.
Investir na educação é uma tarefa básica de governo; e ele precisa passar de 4%
a 8% do PIB até 2011, para que até 2015 esse objetivo do milênio seja
alcançado. Outras instituições, como a Visão Mundial, também precisam e
investem na educação. Assim, para quem trabalha com crianças, a ida e
permanência delas na escola é um indicador não só de um trabalho bem feito, mas
de uma criança que se encaminha para uma vida digna e com sentido.
As igrejas têm responsabilidade com a educação. Além de manter bons programas
de “culto infantil” para os nossos filhos, devem expressar essa responsabilidade
também num posicionamento na sociedade que busque proporcionar educação para
todos. Não raro, isso passa pela criação de programas de educação,
principalmente na periferia das cidades e nas áreas esquecidas da nossa
sociedade.
Além disso, é responsabilidade da nossa empresa missionária colocar o objetivo
da educação no seu “kit ministerial”. Assim, o despertamento de educadores para
o campo missionário nunca será esquecido e a educação será priorizada onde quer
que formos.
Alcançar esta “meta do milênio” é, pois, também a meta daqueles que abraçam a
fé e são convidados e desafiados a crescer em sabedoria, estatura e graça.
Nota
* Em Deuteronômio 4.9, por exemplo,
está escrito: “Apenas tenham muito cuidado! Tenham muito cuidado para que vocês
nunca se esqueçam das coisas que os seus olhos viram; conservem-nas por toda a
sua vida na memória. Contem-nas a seus filhos e a seus netos”.
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