terça-feira, 31 de março de 2015

EM DEFESA DO CRISTIANISMO

  
                         Em defesa do cristianismo
Nas últimas décadas, tem se tornado comum no mundo ocidental “malhar” o cristianismo. Intelectuais, acadêmicos, escritores e articulistas de renome costumam se referir à fé cristã de forma desairosa e depreciativa. Infelizmente, com freqüência muitos críticos estão dentro das fileiras do próprio cristianismo. É considerado politicamente incorreto falar mal de outras religiões, como o islamismo, o budismo e o hinduísmo, que estão muito em voga na Europa e nas Américas, mas não se vê nenhum problema em condenar o movimento cristão. Alguns pensadores ateus, autores de livros campeões de vendas, têm defendido explicitamente a extinção pura e simples do cristianismo. Segundo afirmam, seria desejável que todas as religiões deixassem de existir, mas na realidade eles têm em mente antes de tudo a fé cristã, a tradição religiosa predominante no Ocidente.

Além de preconceituosa, essa atitude é profundamente injusta do ponto de vista histórico. Os próprios cristãos reconhecem que sua trajetória ao longo dos séculos não está isenta de dolorosos problemas. As cruzadas, o anti-semitismo, a Inquisição, as guerras religiosas e a escravidão nas Américas são manchas tristes na experiência da igreja, falhas que os cristãos conscienciosos lamentam profundamente. É preciso lembrar esses fatos continuamente para que eles não voltem a se repetir. Todavia, as contribuições e os benefícios que o cristianismo legou ao mundo são muito mais marcantes e numerosos que os seus erros, como o estudo desapaixonado da história demonstra de maneira conclusiva. Alguns desses benefícios não foram generalizados nem contínuos, tendo ocorrido mais em algumas épocas e lugares do que em outras.
 

A influência histórica 
O cristianismo é a principal tradição cultural do mundo ocidental, o mais importante fator na formação histórica da Europa e das Américas. Assim sendo, a influência cristã permeia todos os aspectos da vida desses continentes e suas nações. Caso prevalecesse a tese dos autores que defendem a extinção do cristianismo, por uma questão de coerência vastas mudanças teriam de ser feitas na vida social desses povos. Por exemplo, o calendário teria de ser trocado por outro -- a semana de sete dias, os termos “sábado” e “domingo” (“dia do Senhor”) e a contagem dos anos (como 2008) não mais fariam sentido, porque todos têm origem cristã ou judaico-cristã. Algumas das celebrações e festividades mais apreciadas pelas pessoas (Natal, Páscoa, Dia de Ação de Graças) teriam de ser eliminadas. Milhões de pessoas teriam de mudar seus nomes de origem cristã, inclusive muitos ateus. O mesmo aconteceria com um imenso número de designações de cidades, logradouros e pontos geográficos. Os idiomas, a música, o folclore, as tradições e outros elementos seriam profundamente afetados.

Mas existem questões mais importantes. Olhando-se para a história antiga e recente, percebe-se o enorme impacto humanizador e civilizador do cristianismo. Desde o início da era cristã, houve uma grande preocupação com a dignidade da vida humana, que se traduziu no combate a práticas degradantes como o aborto, o infanticídio e as lutas de gladiadores. O cristianismo valorizou a criança, a mulher, o idoso, o casamento e a vida familiar. Embora no início os cristãos tenham mantido a escravidão que existia no Império Romano, a fé cristã continha valores que levaram à gradual extinção desse mal. Tem sido imenso, ao longo do tempo, o esforço dos cristãos em socorrer os pobres, doentes e desamparados de toda espécie, através de um sem-número de iniciativas e instituições humanitárias. Até hoje, tanto em tribos indígenas e populações carentes como entre povos adiantados, a contribuição cristã nessas áreas se faz notar de modo saliente.
 

O legado cultural 
Sem desprezar as magníficas contribuições das antigas civilizações grega e romana, foi principalmente o cristianismo que moldou a vida dos povos ocidentais como os conhecemos hoje, além de exercer grande influência positiva na África e na Ásia. À medida que a fé cristã se expandia, ela elevou o padrão de vida dos povos que deram origem às nações européias. A contribuição cristã na área da educação tem sido das mais destacadas. Durante séculos, as únicas escolas que existiam estavam ligadas à igreja. Muitos povos, ao serem evangelizados, receberam simultaneamente a escrita e a alfabetização, como ocorreu entre os eslavos, na Europa oriental, e em muitas nações africanas. A Bíblia, traduzida para as línguas desses povos, se tornou importante nesse processo. As primeiras universidades (Paris, Bolonha, Oxford) e muitas outras surgidas mais tarde (Harvard, Yale, Princeton etc.) foram criadas por cristãos.

O cristianismo deu uma contribuição inigualável em outras áreas significativas, notadamente em séculos recentes. Alguns exemplos no âmbito político são o governo representativo, a separação dos poderes, a expansão da democracia e a ampliação dos direitos e liberdades civis. As convicções cristãs permitiram a ascensão econômica do homem comum, gerando prosperidade para famílias e povos. Outra área de atuação foi a ciência, não só pelo fato de que a maior parte dos cientistas ao longo da história têm sido cristãos, mas de que o cristianismo, com sua visão de um mundo ordenado e sujeito a leis fixas, porque criado por Deus, possibilitou o próprio surgimento da ciência. E que dizer das contribuições nos campos da literatura e da arte? Se não fosse o cristianismo, não teríamos obras como as “Confissões”, de Agostinho, a “Divina Comédia”, de Dante, o “Paraíso Perdido”, de Milton, e tantas outras. Não contemplaríamos as magníficas catedrais góticas, a Capela Sistina, bem como as esculturas e pinturas de Michelangelo, Leonardo da Vinci, Rembrandt e outros mais. Não poderíamos ouvir “O Messias” de Haendel nem as inspiradoras composições de Johann Sebastian Bach.
 

Valores religiosos e éticos 
Os legados mais valiosos do cristianismo ao mundo são a vida e os ensinos de seu fundador, registrados no Livro dos Livros. Jesus Cristo, o carpinteiro de Nazaré que os cristãos consideram o próprio Filho de Deus encarnado, proferiu algumas das palavras mais belas, sublimes e cativantes que se conhecem na história humana. Ele falou das coisas transcendentes e eternas de modo simples e acessível a qualquer indivíduo. Os valores que ensinou, como o amor, a compaixão, o altruísmo, a integridade, a veracidade e a justiça, têm trazido benefícios incalculáveis ao mundo. Todavia, ele não se limitou às palavras e conceitos, mas exemplificou em suas ações as verdades que buscava transmitir. Por fim, deu sua vida na cruz para cumprir cabalmente a missão de que estava incumbido. Desde então, seu ensino e exemplo têm inspirado e transformado milhões de pessoas em todos os recantos do mundo, além de ter induzido mudanças radicais nos mais diferentes aspectos da sociedade.

Sem Cristo e seu grandioso legado, o mundo certamente seria um lugar muito mais sombrio, triste e desesperançado. Essa é a tese de D. James Kennedy em seu livro “E se Jesus não Tivesse Nascido?” (Editora Vida, 2003). Não se pode negar que muitos não-cristãos têm dado contribuições relevantes à sociedade. Os cristãos não têm dificuldade com isso, porque entendem que Deus atua em toda a criação e que sua imagem, ainda que desfigurada, está presente em todos os seres humanos. Todavia, as alternativas de um mundo sem fé e sem cristianismo podem se tornar aterrorizantes. Basta lembrar que os homens mais cruéis, desumanos e sanguinários do século 20 -- indivíduos como Josef Stálin, Adolf Hitler, Mao Tsé Tung e Pol Pot -- além de não serem cristãos, eram inimigos do cristianismo. Mesmo sem apelar para casos extremos como esses, está claro que o crescente secularismo que avassala o mundo, com sua relativização do significado e da importância da vida, representa uma grande ameaça para o futuro da humanidade.
 

Conclusão 
Depois de afirmar todas essas realidades em defesa do cristianismo, destacando os elementos construtivos de sua herança milenar, é preciso acrescentar que os cristãos não têm motivos para se entregar ao ufanismo triunfalista. O cenário cristão contemporâneo tem dificuldades que deveriam produzir em seus fiéis um forte senso de humildade e contrição. As rivalidades, incoerências, mediocridades, extremismos e outras distorções existentes em muitas igrejas e grupos cristãos são amiúde as causas da atitude beligerante mencionada no início deste artigo. Daí a necessidade de se fazer uma distinção entre as estruturas de poder, as instituições humanas, a religiosidade meramente nominal e cultural, e o cristianismo genuíno ensinado por Cristo e seus apóstolos, exemplificado pelos elementos positivos da trajetória cristã. Somente se os cristãos retornarem continuamente aos fundamentos de sua fé, eles poderão continuar a proporcionar ao mundo e à sociedade os mesmos benefícios oferecidos por seus antecessores. 


Um retorno aos fundamentos / O Evangelho é simples


Um retorno aos fundamentos 
A expressão norte-americana é “back to basics”, isto é, retornar aos fundamentos. Esta é a sensação que proporciona essa excelente ferramenta de trabalho, um estudo comparativo das principais confissões de fé e catecismos calvinistas. Recomendo o seu uso como referência, mas também sua leitura e seu emprego em cursos de teologia sistemática.

Para os que não se entendem como calvinistas, “Harmonia das Confissões Reformadas” é uma forma agradável de conhecer melhor a teologia calvinista em sua formulação mais difundida, a do período confessionalista da pós-reforma, ou neo-escolasticismo protestante, um período de conflitos políticos e culturais em que a definição e popularização da fé protestante eram questão de sobrevivência. As confissões de fé e os catecismos cumpriram esse papel, mesmo com uma simplificação e uma aproximação perigosa da subversão do caráter eminentemente literário e não-tractariano da Bíblia e de seu convite a uma transformação da vida e da sociedade humanas em vez de uma mera aceitação de noções teológicas.

Nada há de equivocado ou de inútil nesta ferramenta ou neste retorno aos fundamentos, ou no reconhecimento da existência dos fundamentos da teologia reformada. Toda crítica ou proposta de aperfeiçoamento deve partir de um conhecimento profundo dos fundamentos. O fundamentalismo estaria achar que esses documentos estão acima de qualquer análise crítica, ou que não representem uma expressão de fé e de teologia condicionada pelos fatores históricos, sociopolíticos e culturais dos séculos 16 e 17.

Após uma concisa e bem escrita introdução, encontramos em colunas paralelas, os temas comuns de três confissões de fé, Westminster (1647), Belga (1561) e 2ª Helvética (1566), e três catecismos, Heidelberg (1563), Breve (1647) e Maior (1648) de Westminster, e mais o controverso documento holandês do século 17 (produzido em resposta às teses defendidas por Jacó Armínio), os Cânones de Dordrecht (1619), de onde surgiram os chamados “cinco pontos” da soteriologia calvinista. Lamentamos que os autores não tenham incluído outras confissões: a Escocesa (1560), os artigos ingleses de 1563, a 1ª Helvética (1536) e mesmo o Catecismo de Calvino (1535). Os organizadores (ou os editores brasileiros) poderiam ter acrescentado referências aos textos de Calvino que tratam dos mesmos assuntos, notadamente nas diferentes versões das “Institutas”.

A principal contribuição da obra é paradoxalmente ressaltar a harmonia das confissões reformadas, e desfazer a noção enganosa de que a tradição calvinista é monolítica, ignorando sua diversidade histórico-cultural. Excelente contribuição para o estudo e a divulgação da teologia reformada no Brasil.
 


O Evangelho é simples 
Diziam os sábios da Antigüidade que ninguém pode se dizer plenamente feliz antes de morrer, pois a felicidade de alguém depende da completude de seus atos e de seu legado, isto é, a contribuição e a lembrança que deixa. Se isso é verdade, Deusdedit Ransan, morto no dia 15 de julho de 2008, foi um homem feliz, pois os que o conheceram testemunham que seu legado é rico, que a saudade que deixou é incontornável e que seu compromisso com o discipulado cristão foi exemplar. Presbítero da Igreja Presbiteriana Unida de São Paulo, incansável divulgador da revista
 Ultimato
, ele insistia na simplicidade do evangelho: é quando nós também nos tornamos simples que nos capacitamos para seguir a Cristo.

Deusdedit Ransan não era teólogo, mas suas devocionais, reunidas em “Você é Feliz?”, expressam a sua convicção de que a vida em Cristo traz felicidade para o ser humano aqui e agora, e não apenas na vida após a morte, pois a salvação em Cristo é também felicidade em Cristo. A obra, com sua realidade fundada na vivência, com suas imagens bucólicas e suas ilustrações entusiasmantes, espelha uma das características mais marcantes da personalidade de seu autor: a virtude bíblica da singeleza de coração. Não conheço um livro melhor para oferecer a alguém a quem queremos apresentar o evangelho sem complicações, em seu poder de trazer a qualquer um a paz, o amor e a felicidade. 

FONTE REV.ULTIMATO


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