terça-feira, 31 de março de 2015

O MISTERIO DA INIQUIDDE N.2



O anticristo aparecerá com o desaparecimento daquele que agora o detém
A verdade é que o mistério da iniqüidade já está em ação, restando apenas que seja afastado aquele que agora o detém (2Ts 2.7)

Alguém ou algo está tapando o pequeno buraco do dique para que a água do lado de lá não o derrube e passe para o lado de cá, inundando e destruindo tudo. O mistério da iniqüidade já está em ação, a megaapostasia já está a caminho e o “homem do pecado” poderá se manigestar a qulaquer hora. O desastre final, de grandes proporções, que antecede a vinda de Jesus em poder e muita glória, ainda não aconteceu porque alguém ou algo está detendo ou barrando a chegada do anticristo. Os tessalonicenses sabiam se era algo ou alguém e sabiam o seu nome: “E agora vocês sabem o que o está detendo, para que ele [o homem do pecado] seja revelado no seu devido tempo” (2Ts 2.6). Os leitores imediatos (de ontem) sabiam, mas os leitores distantes (de hoje) não sabemos.

Agora é a vez do impedidor, e não do homem do pecado. Mas a hora e o dia do impedidor ser afastado e deixar livre o caminho está chegando. “Então será revelado o perverso, a quem o Senhor Jesus matará”, garante o apóstolo Paulo (2Ts 2.8).

O homem do pecado está sendo retido por uma ação ou por uma pessoa. Há “alguma coisa” (NTLH) ou certo “poder limitativo” (na versão de Phillips) que não deixa que ele se manifeste agora. Não se sabe se o impedidor é um poder abstrato e impessoal (como sugere o “o que” de 2Ts 2.6) ou um poder pessoal (como sugere o “a quem” de 2Ts 2.8). Pode ser que sejam ambos ao mesmo tempo. O texto leva a um interessante trocadilho: o homem do pecado aparecerá com o desaparecimento do impedidor.

A curiosidade é enorme. Todos gostaríamos de saber de quem ou de que Paulo está falando. EmConcernente à Cidade de Deus, Agostinho (354-430), o maior teólogo da antiguidade, confessa francamente que mesmo com os melhores esforços não era capaz de descobrir o que o apóstolo queria dizer.

A sugestão de que o impedidor seria o Espírito Santo é simpática, mas não tem o apoio dos melhores intérpretes. Entre as muitas teorias, a que parece ter mais peso assegura que o famoso barrador do homem do pecado é “o poder do governo humano bem ordenado”, “o princípio da legalidade oposto ao da ilegalidade” (C. J. Ellicott).

Segundo este ponto de vista, diz William Hendriksen, “Paulo tinha em mente que, enquanto a lei e a ordem prevalecerem, o homem da iniqüidade está impossibilitado de aparecer no cenário da história com seu programa de injustiça, blasfêmia e perseguição sem precedentes” (Comentário de 1 e 2 Tessalonicenses. p. 268). O mesmo autor diz que essa interpretação é mais freqüente entre os pais da igreja. Um dos mais antigos deles, Tertuliano, nascido em Cartago por volta doano 155, declarou: “Que obstáculo há senão o Estado romano?”.

De fato, para impor e fazer prevalecer sua ditadura religiosa atéia e anticristã, o homem do pecado tem de encontrar um mundo desprovido de autoridade, lei e ordem. Além do mais, essa interpretação ajuda a entender por que Paulo se refere ao mesmo tempo a um poder abstrato e a um poder pessoal: este seria o chefe do governo e aquele seria o governo em si.

A vinda do homem do pecado e a vinda do Filho do homem

Em 2Tessalonicenses, Paulo fala abertamente sobre duas vindas. Mas não se trata das duas vindas de Cristo à terra, a primeira em fraqueza e muita humilhação, e a segunda em poder e muita glória. As duas vindas anunciadas pelo apóstolo nessa passagem são a vinda do homem do pecado e a vinda do Filho do homem, nessa ordem (2Ts 2.1-12). Prega-se muito mais a vinda gloriosa de Jesus e muito menos a vinda horrorosa do homem do pecado. Ainda assim, fala-se e escreve-se pouco sobre ambos os acontecimentos escatológicos. Eles estão interligados. Um precede o outro. Ambos são anunciados na mesma passagem, mas não são datados. Os dois eventos são absolutamente certos. Todavia, como ninguém sabe o dia nem a hora da volta de Jesus, nem os anjos do céu, nem o próprio Filho, “senão somente o Pai” (Mt 24.36), o mesmo acontece com o dia e a hora da revelação do homem do pecado. Ambos merecem a maior atenção possível. 

A vinda do homem do pecado 
Quem é o homem do pecado? O que ele pretende fazer, a sua missão, é muito mais importante do que o seu nome. Ele é o oposto de Jesus. Enquanto o Senhor, “embora Deus, não exigiu nem tampouco se apegou a seus direitos como Deus, mas pôs de lado seu imenso poder e sua glória, ocultando-se sob a forma de escravo e tornando-se como os homens” (Fp 2.6-7, BV), o homem do pecado, embora criatura, proclama-se Deus. Jesus desce dos céus e ele pretende subir aos céus. Jesus se humilha e ele se exalta. Jesus restaura a comunhão do ser humano com Deus, perdida originalmente na queda, e ele “se ergue contra tudo o que se chama Deus ou é objeto de culto, até sentar-se no templo de Deus, proclamando-se Deus” (2Ts 2.4, BP). Nesse sentido, o biólogo ultradarwinista Richard Dawkins, na tentativa de arrasar com todas as religiões do mundo através de seus livros — principalmente Deus, Um Delírio, recentemente lançado no Brasil — chega bem perto do homem do pecado.

Paulo usa outras duas expressões para se referir ao homem do pecado em 2 Tessalonicenses 2. Ele é o “filho da perdição” (v. 3) e “o perverso” (v. 8 e 9). A primeira expressão lembra a oração sacerdotal de Jesus no Cenáculo, quando o Senhor se refere a Judas: “Nenhum deles [dos discípulos] se perdeu, exceto o filho da perdição” (Jo 17.12). Como o apóstolo traidor, o homem do pecado é “o destinado à perdição” (BP) ou o “filho do inferno” (BV) ou “aquele cuja perda é certa” (EP). A segunda expressão pode ser traduzida como “o iníquo”, “o ímpio”, “o homem da rebelião”, “o homem da anomalia” ou “o pecado em figura de humana” (BP).

O nome mais popular e mais óbvio para o homem do pecado, Paulo não usa em nenhuma de suas cartas. É João quem o chama quatro vezes de “anticristo” (1Jo 2.18, 22; 4.3; 2 Jo 7).

Até o presente momento, o homem do pecado ainda não foi revelado, ainda não tirou a máscara, ainda não subiu ao palco nem ao altar. Talvez já esteja por aí, nos bastidores da mentira, nos camarins da vida, nas sacristias dos templos dos demônios ou nos subterrâneos do mal. Ele ainda não entrou em cena de modo visível, audível e palpável. Alguma coisa ou alguma pessoa o detém, de acordo com Paulo (2Ts 2.7). (.)

Mas no devido tempo o líder da apostasia, a incorporação da iniqüidade, a cristalização da ímpia oposição a Cristo, o anticristo, o adversário escatológico (isto é, dos tempos do fim) há de vir. Então, ele “se apresentará por força de Satanás, com todo o tipo de milagres, sinais e falsos prodígios” (2Ts 2.9, BP).

William Hendriksen afirma que o homem do pecado é uma pessoa e “não um poder abstrato ou um conceito coletivo”. Também não é Nero, aquele jovem de 17 anos que governou com despotismo o Império Romano (do ano 54 ao 68) e ordenou a primeira grande perseguição aos cristãos (64), trazido de volta à história. Nem o papa — tese defendida pelo reformador inglês João Wycliffe (1330-1384), por causa dos escândalos da Cúria Romana de então. Nem muito menos o diabo, já que é ele quem envia e empresta poder ao pavoroso personagem que chega “até a assentar-se no santuário de Deus, proclamando que ele mesmo é Deus” (Comentário de 1 e 2 Tessalonicenses. p. 251-265). 

A vinda do Filho do homem 
Várias vezes nos quatro Evangelhos e uma vez em Atos dos Apóstolos (7.56), Jesus é chamado “Filho do homem”. Enquanto a expressão “Filho de Deus” indica a natureza divina de Jesus, a expressão “Filho do homem” indica a sua natureza humana. Quando se refere à volta de Jesus, os Evangelhos preferem chamá-lo de “Filho do homem” (Mt 16.27; Mc 13.26; Lc 12.40).

Algum tempo depois da vinda horrorosa do homem do pecado, se dará a vinda gloriosa do Filho do homem. A Escritura não revela a extensão do tempo entre uma vinda e outra.

A vinda de Jesus ou, melhor, a sua segunda vinda (Hb 9.28) ao mesmo cenário da primeira vinda, é tão importante quanto o seu nascimento virginal, o seu sacrifício vicário, a sua ressurreição dentre os mortos, a sua ascensão aos céus e o seu solene assentar à direita do Pai para estender o seu reinado até o estabelecimento definitivo de sua soberania, derrubando todos os seus inimigos, isto é, toda estrutura que contenha o mal e agrida ou enfraqueça a beleza e a glória da criação em seu todo, inclusive a morte, a mais cruel e imbatível de todas as desgraças que acompanham de perto a queda do homem (1Co 15.20-28). Trata-se de uma história que tem início, meio e fim, um enredo que começa em Gênesis (no jardim do Éden), passa pelo Evangelho de Mateus (no jardim do Getsêmani) e termina no Apocalipse (no jardim da Cidade Santa). O bloco é um só e definitivamente inquebrável.

A vinda do Filho do homem é uma das maiores esperanças para todos os que são alcançados pela graça irresistível. Principalmente porque dela dependem outras esperanças de igual importância, como a ressurreição do corpo, o banimento do pecado, a morte da morte, a redenção da própria criação e o advento de novos céus e nova terra. Todo o conjunto pode ser descrito como a plenitude da salvação.

Jesus mesmo se refere à sua segunda vinda. Às vezes com uma notável simplicidade, como ao se dirigir a Pedro: “Se eu quiser que ele [João] permaneça vivo até que eu volte, o que lhe importa?” (Jo 21.22).

Outras vezes, chama a atenção para a solenidade do evento: “Então [imediatamente após a tribulação] aparecerá no céu o sinal do Filho do homem e todas as nações da terra se lamentarão e verão o Filho do homem vindo nas nuvens do céu com poder e grande glória” (Mt 24.30). No momento exato em que uma nuvem encobria da vista dos discípulos o corpo ressurrecto de Jesus, que estava sendo elevado às alturas, dois anjos surgiram diante deles e explicaram:“Galileus, por que vocês estão olhando para o céu? Este mesmo Jesus, que dentre vocês foi elevado aos céus, voltará da mesma forma como o viram subir” (At 1.11).

A vinda do Filho do homem será tão repentina e visível como o relâmpago, que “sai do Oriente e se mostra no Ocidente” (Mt 24.27). Ocorrerá de surpresa, sem que se saiba o dia e a hora, mesmo que haja sinais que antecedem o momento da sua vinda. Os sinais, na verdade, são processos contínuos que podem ser vistos desde os tempos dos apóstolos. Servem para deixar a igreja em permanente estado de alerta (Lc 21.25-36). Por ela ser absolutamente certa e imprevisível quanto à data, Paulo conclama “que todo o espírito, a alma e o corpo de vocês sejam preservados irrepreensíveis na vinda do nosso Senhor Jesus Cristo” (1Ts 5.23)!
O mistério da iniqüidade e os escritores “nefandos” dos séculos 18 e 19
Não é fácil desmascarar o mistério da iniqüidade, por ele ser como um segredo de Estado. Existe a persistente tentação de achar que o mal de hoje é mais escandaloso e globalizado do que o mal de ontem. E, por mais contraditório que possa parecer, por vezes enxergamos mal demais ou não enxergamos o mal todo. Qualquer falta de equilíbrio nessa questão será creditada ao “mistério da iniqüidade” (2Ts 2.7), em prejuízo do “mistério do evangelho” (Ef 6.19). Os maiores tropeços na construção do reino de Deus na terra são causados pelo fanatismo religioso, que enche as páginas da história da religião e gera muitos descrentes. Parte do sucesso do livro Deus, Um Delírio, de Richard Dawkins, o mais notável profeta do ateísmo na atualidade, deve ser atribuída ao grande mal-estar provocado pelos crimes de ontem e de hoje cometidos por culpa do fanatismo religioso, a maior fábrica de ateus do mundo. É o que afirmou The Times: “EmDeus, Um Delírio, a liberdade intelectual da crença religiosa é desnudada sem piedade, assim como os crimes cometidos em nome dela”.

Ao comentar o manual Literaturas Estrangeiras (FTD, 1931), o filósofo brasileiro Leandro Konder conta como a Igreja Católica entendeu certos escritores dos séculos 18 e 19.

Em Literaturas Estrangeiras o escritor francês Voltaire (1694-1778) é chamado de o “corifeu da impiedade no século 18”. E, por ter cometido “erros satânicos”, deve ser considerado pessoa “de memória execranda”, abominável. O filósofo alemão Friedrich Hegel (1770-1831) é acusado de ensinar “a identidade dos contrários e negar os princípios mais elementares da razão”. O poeta francês Charles Baudelaire (1821-1867) está “cheio de miasmas, pestilências, de sujidades físicas e morais”, e, além de ser nojento e desequilibrado, “dirige preces a Satanás”. O escritor francês Émile Zola (1840-1902) é “o mestre da pornografia”. O filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900) deve ser o Anticristo, pois “blasfema grosseiramente contra Cristo e sua igreja e acabou doido”. O escritor francês Anatole France (1844-1924) é um “corruptor diabólico, ímpio e imoral até o cinismo”. E o neurologista austríaco Sigmund Freud (1856-1939) é um “abridor de sarjetas da alma”. (Jornal do Brasil, “Idéias & Livros”, 25/08/07, p. 7).

Curiosamente, dos sete nomes citados, quatro são franceses nascidos em Paris. Konder cita outros nomes e explica que o manual Literaturas Estrangeiras, de autoria coletiva e anônima, era adotado pelas escolas católicas do Rio de Janeiro.

Mesmo polêmico e demasiadamente contundente, o curioso livro mostra um lado da questão e explica como a literatura pode misturar a verdade com o erro e provocar ao mesmo tempo coisas positivas e negativas. Sem dúvida, a Europa pós-cristã e secular de hoje tem muito a ver com os autores citados pelo livro de quase oitenta anos e com outros, principalmente o naturalista britânico Charles Darwin (1809-1882) e o filósofo e economista alemão Karl Marx (1818-1883).

A pessoa comprometida com o “mistério do evangelho” não deve ser proibida de ler livros nem de ligar a televisão. Ao contrário, deve agir como o sábio: “Ele escutou [ou leu], examinou [ou pesquisou] e colecionou [ou selecionou] muitos provérbios” (Ec 12.9). É exatamente isso que Paulo aconselha aos tessalonicenses: “Examinem tudo, fiquem com o que é bom” (1Ts 5.21, NTLH).

 

O Mistério da Iniqüidade em Alta

O que se ouve, o que se lê e o que se comenta hoje dão a forte impressão de que o mistério da iniqüidade está em alta. O check-up do panorama em curso é de fato preocupante. Não há otimismo nem esperança frente à tensão provocada, em todas as frentes, pelo estranho e incontido comportamento humano. E não são os religiosos que estão declarando esta espécie de calamidade pública. Não estamos satisfeitos nem seguros nem tranqüilos. A palavra irreversível está no ar, está nos discursos, está nas notícias. 

A corrupção parece irreversível 
O médico Dioclécio Campos Júnior, professor da Universidade de Brasília e presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, faz uma análise em linguagem médica muito contundente: “A sociedade brasileira está gravemente enferma. Seus órgãos padecem de corrupção que a corrói com o poder devastador da gangrena. Suas funções estruturantes perverteram-se no caos das disputas de privilégios. A injustiça campeia como micróbio resistente que lhes contamina as entranhas. As discriminações sociais, raciais e econômicas aparecem em seu corpo deformado como chagas profundas, em incessante progressão. O país recusa-se a olhar no espelho. Rejeita o diagnóstico que emerge dos sintomas de sua própria realidade”.

A chaga da corrupção em todas as esferas do governo e da sociedade pode ser mais freqüente e menos punida aqui, mas não é problema exclusivamente brasileiro. Nações subdesenvolvidas da África, nações emergentes da América Latina e da Ásia e nações prósperas e poderosas da Ásia, da Europa e América do Norte têm sérios problemas de corrupção. O Projeto Milênio, da Federação Mundial das Associações das Nações Unidas, revela que os subornos são mais freqüentes nos países ricos. Calcula-se em um trilhão de dólares o dinheiro anualmente empregado na corrupção no mundo (Jornal do Brasil, 13/09/07, A2).

Foi-se o tempo em que se dizia, talvez com justiça, que o problema da corrupção era menor em países de tradição protestante e maior em países de tradição católica. É verdade que os países nórdicos (Dinamarca, Finlândia, Suécia, Noruega e Islândia), todos de tradição luterana, são um exemplo no que diz respeito à justiça social e à transparência política.

Há menos de três meses duas pessoas do mais alto escalão do Japão, um dos países mais ricos do mundo, envolveram-se em escândalos tais que um deles (o Ministro da Agricultura) se suicidou e outro (o Primeiro Ministro) renunciou.

Apesar da distância de 93 anos entre eles, vale a pena colocar lado a lado dois pronunciamentos sobre a corrupção brasileira: o célebre discurso de Ruy Barbosa em 1914 e a palavra de Luiz Fernando Corrêa, novo diretor da Polícia Federal, em setembro de 2007. O primeiro reclamou: “De tanto ver triunfar nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, e ter vergonha de ser honesto”. O segundo foi muito sucinto: “Se somarmos todos os furtos e roubos em um ano numa região, o prejuízo será menor que o causado pela corrupção” (Veja, 26/09/2007, p. 11). 

A licenciosidade parece irreversível 
Antes havia prostituição e algum adultério aqui e ali. Os poucos homossexuais estavam escondidos dentro do armário. O casamento era mantido a qualquer preço, mesmo apenas na aparência. Os mais ousados compravam e escondiam da família revistas pornográficas e viam filmes pornográficos.

Hoje, meninos e meninas praticam o amor livre, se necessário, até mesmo na casa paterna, sob permissão (ou conselho?) do pai e da mãe. Homens casados ou solteiros procuram os muitos motéis nos arredores das cidades onde moram para se encontrarem com mulheres casadas ou solteiras. Separa-se e divorcia-se quantas vezes a relação anterior perder o sabor. Aborta-se a criança que está sendo gerada a contragosto, para esconder a relação extraconjugal ou para deixar o casal livre para viver a vida que desejam levar. (No Brasil 1,2 milhão de adolescentes abortam por ano.) Multidões de gays saem do armário e se encontram com os novos gays que não chegaram a entrar em armários, organizam marchas, compram agências de viagens, fazem turismo, gastam dinheiro a rodo e exigem respeito de todos em nome dos direitos humanos. Mais do que apenas fotos, qualquer pessoa, não importa a idade nem o gênero, pode ver crianças nuas ou cenas de sexos explícito na tela do computador e da televisão. Marido e mulher passam uma noite ou fim de semana a bordo de um navio para experimentar novas emoções sexuais com o marido da outra e com a mulher do outro. Para satisfazer todos os gostos, implementa-se cada vez mais o turismo sexual, do qual as maiores vítimas são menores de idade. (Estima-se que cerca de cem mil crianças e adolescentes são explorados sexualmente no Brasil hoje.)

Homossexuais e travestis se juntam às prostitutas para atrair clientes que passam de carro em certos pontos de quase toda cidade ao cair da noite. Pedófilos são presos, cumprem pena, saem da cadeia e voltam a cometer o mesmo crime. Escândalos sexuais cometidos por líderes religiosos desta e daquela denominação cristã, católica ou protestante, abalam a autoridade da igreja de Jesus Cristo. Jornalista de 39 anos que se diz recém-convertida ao protestantismo, depois de se envolver com político de renome, deixa-se fotografar nua em troca de algumas centenas de mil reais. Outro dia, o escritor Fausto Wolff queixou-se de que queria ir ao teatro e verificou que “das 20 peças em cartaz nove tratavam de homossexualismo, com homem vestido de mulher e tudo” (Jornal do Brasil, 26/08/2007, B2). Nossas novelas e canais de TV em geral são um prato cheio para alimentar o sexo livre.

Alguns governos estão modificando o seu Código Penal para deixar impune a prática de relações consentidas com menores acima de 14 anos. O presidente da França anda defendendo a castração química de pedófilos para reforçar a punição de pessoas que cometeram crimes de natureza sexual e para impedir novos delitos. Para tornar compreensível e natural a prática homossexual, certo cientista italiano, ex-ministro da saúde de seu país, está defendendo a teoria de que a humanidade deve caminhar para o bissexualismo “como resultado da evolução natural das espécies” (Jornal do Brasil, 21/08/07, A24).

Autores recentes estão afirmando que a poligamia é normal e a monogamia é anormal. Tendo em vista o capítulo da teologia que estuda a chamada queda do homem, fato que a ciência desconhece ou não leva em conta, não é de se estranhar que 80% das 1.100 sociedades pesquisadas pelo Ethnografic Atlasentendem que a monogamia seja um mito e a poligamia seja um fato real tido como ideal (Isto é, 29/08/07, p. 54). Não é a sociedade nem a ciência que têm a última palavra em questões de comportamento. Isso é muito perigoso. O padrão de conduta é da competência do Criador e está claramente exposta no Decálogo (Êx 20).

A chamada revolução sexual é recente. Teria começado nos anos 60 ou um pouco antes, com a publicação dos dois relatórios do biólogo americano Alfred Kinsey, o primeiro em 1948 (O Comportamento Sexual do Homem) e o segundo em 1953 (O Comportamento Sexual da Mulher). Daí surgiu a chamada permissive society, que continua em pleno vigor, expandindo-se cada vez mais. 

A paixão pelo dinheiro parece irreversível 
Três pesquisas realizadas recentemente entre jovens americanos mostram que o maior objetivo na vida da maioria deles é “ficar rico” (Folha de São Paulo, 19/08/07, p. 8). A persistente idéia de que o dinheiro gera sensação de segurança e bem-estar invade todas as mentes, mesmo depois de todos os estudos em contrário, elaborados por especialistas no assunto. Um deles é o conhecido economista brasileiro Eduardo Gianetti da Fonseca, autor do livro Felicidade: “A máxima de que dinheiro traz felicidade é falsa”. Gianetti cita uma pesquisa feita com ganhadores de prêmios acima de 500 mil dólares nos Estados Unidos, segundo a qual, “passado o nível de euforia, a sensação de bem-estar volta ao seu estado normal, e depois até cai” (Jornal do Brasil, 31/12/06, E2).

Outro estudo, feito pela rede MTV quase na mesma ocasião, mostra que os jovens de países em desenvolvimento são mais felizes do que os de países ricos. A pesquisa reuniu 5.400 jovens de 14 países. Apenas 43% das pessoas entre 16 e 34 anos disseram ser felizes. A taxa seria muito mais baixa se a entrevista tivesse sido feita exclusivamente com países ricos: apenas 8% dos jovens nipônicos e 30% dos americanos declaram ser felizes.

No início de 2007, o empresário brasileiro Benjamin Steinbruch, diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, depois de lembrar que a renda per capita mundial cresce em média 3,4% ao ano desde 2000, fez uma solene pergunta: “Apesar disso, seria possível dizer que as pessoas estão mais felizes no mundo?”. Ele mesmo responde: “É difícil responder sim. Basta olhar para a insegurança mundial, os conflitos bélicos e os focos de pobreza extrema, fome e miséria” (Folha de São Paulo, 02/01/07, B2).

Geração após geração, todas desprezam as experiências e os conselhos de Salomão, em cerca de 950 a.C.: “Quem ama o dinheiro jamais terá o suficiente; quem ama as riquezas jamais ficará satisfeito com os seus rendimentos” (Ec 5.10). “Tudo é ilusão, tudo é como correr atrás do vento” (ou “vão e frustrante”, como traduz a Bíblia Hebraica), na opinião do sábio (Ec 2.26, NTLH). O grande e eterno problema é que “o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males” (1Tm 6.10). 

O narcotráfico parece irreversível 
O fabrico, o tráfico e o consumo de drogas que geram dependência química continuam a desafiar qualquer providência governamental de âmbito nacional ou internacional. É uma porta aberta para uma série quase sem fim de crimes: furtos, roubos, assaltos, seqüestros, corrupção e assassinatos. Os confrontos quase diários entre a polícia e os narcotraficantes deixam uma enorme quantidade de mortos de ambos os lados. Na repressão ao narcotráfico, aviões são abatidos como se fosse tempo de guerra. O tráfico controla favelas inteiras no Brasil e algumas regiões da Colômbia. Na guerra urbana, muitos inocentes — homens, mulheres e crianças — são vítimas de alguma bala perdida. As penitenciárias estão superlotadas de traficantes, alguns dos quais continuam a comandar de lá mesmo as suas gangues. Além de matarem a sangue frio algum possível delator ou informante, os próprios traficantes matam uns aos outros para garantir o território de cada um. Para manter o vício, os usuários de drogas se entregam à prostituição e são capazes de roubar ou assassinar os próprios pais.

É impossível calcular a quantidade de dinheiro lavado e a fortuna pessoal dos mais bem-sucedidos traficantes. Na residência de um deles, o colombiano Juan Carlos Ramirez Abadia, de 44 anos, em Barueri, SP, a Polícia Federal apreendeu em agosto de 2007, 554 mil dólares, 250 mil euros e 55 mil reais, no valor total de quase 1,8 milhão de reais. O traficante está entre os dez mais ricos do Brasil. Estima-se que ele tenha uma fortuna de 3,6 bilhões de reais, logo depois de Abílio Diniz, do Grupo Pão de Acúcar, e de Júlio Bozano, do Banco Bozano Simonsen, ambos com 3,8 bilhões. Abadia é acusado de ter ordenado o assassinato de 315 pessoas na Colômbia e nos Estados Unidos (mais de sete mortes para cada ano da sua vida).

Com tanto dinheiro, o narcotráfico consegue corromper muita gente. O próprio Abadia confessa ter dado 800 mil dólares à Polícia para evitar que três pessoas do seu grupo fossem presas. Outro colombiano, diz a reportagem da Folha de São Paulo, estabeleceu-se no Brasil em 1994 e nunca foi importunado oficialmente pela polícia nesses 13 anos, graças às propinas pagas. Gustavo Bautista tinha meia dúzia de empresas que exportavam frutas para a Europa e tinha cerca de 2 mil empregados. Junto com as frutas ele enviava cocaína para a Holanda. A volúpia do dinheiro e o medo de ser morto por saber demais, dificulta ou mesmo impede que alguém abandone o narcotráfico. E o negócio floresce cada vez mais. Os Estados Unidos garantem que só o cartel Norte del Valle teria exportado mais de 500 toneladas de cocaína, no valor acima de 10 bilhões de dólares, da Colômbia para o México e posteriormente para o território americano.

Não há evidências de que essa estranha e monstruosa página da história vai virar. 

A guerra nuclear parece irreversível 
O físico brasileiro Marcelo Gleiser, professor no Dartmouth College, em Hanover, nos Estados Unidos, e autor de A Harmonia do Mundo, lembra que “a tradição guerreira, que faz parte da história da humanidade, começou com pedras e hoje chegou às bombas de hidrogênio. Ela teve início em disputas de pequenos pedaços de terra e hoje envolve o mundo inteiro. E não mudou”. Gleiser não vê esperança no desarmamento e indaga: “Como as potências nucleares, agarradas às suas bombas cada vez mais sofisticadas, esperam que países como a Coréia do Norte, a Índia, o Paquistão e, mais recentemente, o Irã, abandonem seus sonhos de poder nuclear?” O físico garante que “existe algo de muito patológico numa espécie que se diz inteligente, mas que só é capaz de garantir sua sobrevivência pelo acúmulo de armas de destruição em massa”.

A última observação de Gleiser é também contundente: “Vivemos todos com uma corda apertada no pescoço que fingimos não ver” (Folha de São Paulo, “Mais.”, 26/08/07, p. 9). O sociólogo Frédéric Gros acrescenta que “a introdução da bomba nuclear tornou, há mais de cinqüenta anos, improvável um conflito clássico entre as grandes potências”. Hoje “nós entramos na idade dos estados de violência” e precisamos de quem “invente novas esperanças” (Jornal do Brasil, “Idéias & Livros”, de 18/08/07, p. 3). 

A descristianização do Ocidente parece irreversível 
Um século depois da “invasão” do cristianismo no Oriente, começou a “invasão” do hinduísmo no Ocidente. É curioso observar que o primeiro missionário protestante das missões modernas, o inglês William Carey, chegou à Índia em 1793, aos 32 anos de idade. E o professor hindu Swami Vivekananda chegou aos Estados Unidos exatamente cem anos depois, em 1893, e também aos 32 anos. Aquele pregava o perdão de pecados mediante o sacrifício vicário de Jesus Cristo e este pregava o contrário: todo mal cometido será reparado por meio de expiações pessoais nesta e em novas e difíceis reencarnações. Desde então, o Ocidente passou a ser “campo missionário” dos outrora chamados “gentios” (os não-judeus) e “pagãos” (os não-cristãos).

O nome mais amplo e mais apropriado para indicar hoje os adeptos de várias religiões e movimentos da linha esotérica é Nova Era (New Age), que já não designa uma seita, mas uma constelação delas, como salienta Hélio Damante.

Além desse guarda-chuva quase do tamanho da camada de ozônio, sob o qual se abrigam velhas e novas religiões, inclusive, a Seicho-No-Ie, a Igreja Messiânica Mundial, a brasileira Legião da Boa Vontade, o Hare Krishma e outros, o islamismo tem presença atuante no Ocidente.

Apesar da “reenvagelização” (no vocabulário protestante) e da “nova evangelização” (no vocabulário católico), tanto a Europa como a América, e também parte da Oceania (Austrália e Nova Zelândia), são continentes cada vez mais pós-cristãos. Todavia o problema não é apenas a presença, a propaganda e o proselitismo das religiões asiáticas. Existe também a pregação aberta da secularização teórica (através da imprensa falada, escrita e televisiva, de peças de teatro, música etc.) e prática (através da corrida ao dinheiro e do consumismo) e da pregação também aberta do ateísmo (através de livros que colocam em dúvida os alicerces do cristianismo, como o nascimento virginal e a ressurreição de Jesus e até a existência de Deus).

Acaba de ser lançado no Brasil pela Companhia das Letras o livro Deus, Um Delírio, do biólogo britânico Richard Dawkins. A propaganda de meia página publicada na Folha de São Paulo diz que o livro estava na 32ª semana dos mais vendidos nos Estados Unidos e cita a recomendação da revista Veja: “Deus, Um Delírio é tudo o que o título provocador promete: um destaque ao fanatismo e à irracionalidade que, segundo o autor, estão na base da crença em um ser divino”.

Certo jornal de Chicago conta que nos Estados Unidos já há acampamentos de veraneio para crianças atéias. Faz parte do programa um passeio de avião, durante o qual, após ter alcançado uma boa altura, o piloto explica às crianças: “Pelo menos até aqui não há nenhuma evidência de um Deus no céu”. Há menos de cinqüenta anos esse tipo de propaganda do ateísmo era feita na antiga União Soviética sob os protestos dos americanos (um professor comunista derramou um pó de cor avermelhada num copo cheio de água para mostrar aos seus alunos que Jesus não fez nenhum milagre ao transformar água em vinho). (Outra coisa que parece irreversível é a degradação do meio ambiente, que foi matéria de capa da edição de março/abril de 2006 de Ultimato).

Aumento das despesas militares nos últimos dez anos por região e no mundo (em bilhões de dólares)
 REGIÃO
 1997
 2006
 % do aumento
 África
 10,3
15,5 
51% 
 América
 375
575 
53% 
 Ásia e Oceania
 131
 185
 41%
 Europa
 283
 310
 10%
 Oriente Médio
 46,1
 72,5
 57%
 Mundo
 844
 1.158
 37%

Os cinco países com maiores gastos militares em 2006
 País
 Gastos (em bilhões de dólares)
Gasto per capita (em dólares) 
 EUA
 528,7
1.756 
 Reino Unido
 59,2
990 
 França
 53,1
 875
 China
 49,5
 37
 Japão
 43,7
 341

 

O mistério da iniqüidade -- um processo histórico
“A verdade é que o mistério da iniqüidade já está em ação” (2Ts 2.7) 

Não era novidade na época de Paulo. Não deve ser novidade em nosso tempo. Mas alguns custam a enxergar ou a entender “o mistério da iniqüidade” a que Paulo se refere. E quando o descobrem, pensam que a questão é atual e não um processo histórico. Daí a tentação de dizer que os dias de hoje nunca foram tão difíceis e nunca houve tanta apostasia, tanto pecado, tanta maldade. À igreja dos tessalonicenses, o apóstolo dá a seguinte explicação: “A verdade é que o mistério da iniqüidade já está em ação” (2Ts 2.7).

Para entender sem dificuldade o que é o mistério da iniqüidade ou o mistério da impiedade, também chamado de “a força oculta da iniqüidade” (Bíblia do Peregrino) e de “a Misteriosa Maldade” (NTLH), é preciso contrastar esse mistério com outro, o “mistério do evangelho” (Ef 6.19).

Ambas as expressões são da lavra do apóstolo Paulo. O mistério do evangelho diz respeito ao plano de Deus de “unir, no tempo certo, debaixo da autoridade de Cristo, tudo o que existe no céu e na terra” (Ef 1.10, NTLH). Já o mistério da iniqüidade diz respeito ao plano diabólico de não fazer convergir em Cristo toda a longa e sofrida história humana. Chamam-se mistérios ou segredos porque ambos são gerados e geridos à margem da sociedade e à margem da história, de forma não plenamente visíveis.

O mistério do evangelho e o mistério da iniqüidade são opostos entre si e estão permanentemente em conflito aberto. Pois um deles se baseia na verdade e o outro, na mentira. Enquanto Jesus é a encarnação da verdade — “a graça e a verdade vieram por intermédio de Cristo” (Jo 1.17) —, o diabo é a encarnação da mentira — “Quando [ele] mente, fala a sua própria língua, pois é mentiroso e pai da mentira” (Jo 8.44). Os dois mistérios usam o advérbio “certamente” em seus discursos. Deus afirma de maneira categórica: “Não coma a fruta dessa árvore [a árvore do conhecimento do bem e do mal]; pois, no dia em que você a comer, certamente morrerá” (Gn 2.17, NTLH). E a “a antiga serpente, que é o diabo” (Ap 20.2), afirma categoricamente o contrário: “Certamente 
[você e seu marido] não morrerão” (Gn 3.4).

A declaração de guerra entre o mistério do evangelho e o mistério da iniqüidade aconteceu logo após a queda: “Porei inimizade entre ti [a serpente] e a mulher, e entre a tua descendência e sua descendência; ele [a semente da mulher] te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3.15, BH).

Só o mistério do evangelho pode nos libertar do mistério da iniqüidade (Jo 8.32). A graça irresistível de Deus pode nos resgatar do poder aparentemente irresistível das trevas e nos transportar para o Reino do seu Filho amado (Cl 1.13). 

A noção do mistério da iniqüidade tem de penetrar em nosso cotidiano, exatamente porque é uma presença constante e clandestina, que lida com forças ocultas, com sinais e prodígios de mentira e com falsos mestres, falsos apóstolos e falsos cristos (Mt 24.1-35; 2Ts 2.9; Ap 13.1-18). 

É preciso ter sempre em mente aquela explicação dada por Jesus na Parábola do Joio: depois da semeadura da boa semente, “enquanto todos dormiam, veio o inimigo e semeou o joio no meio do trigo ese foi” (Mt 13.25). Nesse e em muitos outros discursos, Jesus se refere aos bastidores da iniqüidade — o lado encoberto da maldade. O mistério da iniqüidade serve-se de homens e mulheres que são como “belos túmulos — cheios de ossos de pessoas mortas, de podridão e sujeira” (Mt 23.27, BV).

FONTE REV.ULTIMATO 


 

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