Heresias
Primitivas
Durante os anos que vão de 70 a 140, ou seja, I e II século
d.C., foram de expansão e crise interna, para o judeu-cristianismo (pensamento
cristão sem vínculo com a comunidade judaica), se expressava através de equemas
do judaísmo. Os judeus-cristãos foram superados pelos gentios-cristãos. Desse
judaísmo cheio de idéias cristãs e não-cristãs, trazidas por pagãos que se
convertiam, que iria surgir as mais antigas heresias, conhecidas como heresias
judaicas.
Ebionismo:
Os
ebionitas (pobres), judeus-cristaos que seguiam a lei de Moisés, mas
acreditavam que Jesus Cristo era o Messias, porém achavam que Ele não era o
Filho de Deus (apenas um profeta anunciado por Moisés), Os ebionitas
subsistiram até o século V, nesse período, dividiu-se em numerosas seitas. O
apóstolo João escreveu seu evangelho, refutando essas heresias.
Elcasaísmo:
Fundador
Elxai, recebeu revelação por meio de um livro dado por um anjo, lembrando Maomé
(Alcorão) e Joseph Smith (Livro de Mórmon). Aceitavam apenas partes do A.T.
Nicolaísmo:
Fundador
Nicolau (Balaão), era diácono da igreja, seita gnostico-libertina que apareceu
em Éfeso e Pérgamo (Ásia Menor), condenava o Deus da criação.
Cerintianismo:
Fundador
Cerinto, acreditava que Cristo não nasceu Deus, mas tornou-se Deus no batismo,
quando morreu Deus o abandonou, para recebê-lo na sua 2ª vinda, no final dos
tempos.
Gnosticismo:
Heresia
complexa, de elementos filosófico-religiosos orientais e cristãos. O
Gnosticismo era composto por vários movimentos sincréticos de tradições
religiosas da sua época: o helenismo, o dualismo, cultos de mistério, judaísmo
e o cristianismo; enquanto as heresias judaicas estavam apegadas às tradições
mosaicas, os gnósticos, pagãos que aceitaram a fé cristã, tentavam introduzir
nela, concepções pessoais e teorias filosóficas.
Sempre
em contínua evolução, mas com um ponto em comum, de que entre Deus e a matéria
há uma série de seres que intermediam um contato do homem com a divindade.
Gnose
(grego) significa “conhecimento ou ciência”, pretensiosamente se denominava
como ciência de Deus, revelando assim seus mistérios a seus adeptos, herdeiros
da ciência mística, base de todas as religiões, assim sendo, a gnose dá o
segredo do universo e o segredo da evolução.
Seus
ensinos são uma verdadeira rebelião contra Javé, o Deus de Israel, sua criação
e a sua lei; diziam que Javé era um demiurgo (pequeno deus) inferior, que criou
um mundo fracassado. Gnose revelação do Deus autêntico, possibilitando um
retorno através de um rompimento com o mundo e a lei divina.
Os pontos fundamentais da heresia:
a)- Deus, uno e separado
(longe), da matéria (seres);
b)- A matéria eterna é o princípio do mal;
c)- Eões, seres entre Deus e a matéria, juntos formavam o pleroma,
afastados de Deus se tornavam imperfeitos. Um deles foi excluído do pleroma :
Demiurgo, que criou o mundo e o homem da matéria já existente, produzindo
também eões inimigos de Deus.
d)- O mal provém da união das almas, mas o homem não é totalmente
mal, porque o Demiurgo tirou do mundo espiritual uma centelha divina e
colocou-a na matéria, assim sendo, os homens se dividem em três classes:
espirituais (espírito-superior-matéria); gnósticos
(psíquicos-espírito=matéria); os cristãos (materiais/hílicos-matéria, superior,
espírito) – os pagãos.
e)-
Cristo como espírito emanado, ensina aos espíritos como se libertarem dos seus
corpos; uns deixam os seus corpos fazerem o que quiser e outros o mortificam
através de penitências. A redenção realiza-se no interior de cada alma, numa
identificação com Deus, ou seja, o conhecimento e compreensão do próprio eu. Os
relacionamentos Deus-cosmos se dão por antíteses : luz-treva, vida-morte,
alma-psiquismo, “divindade como negação do mundo”.
Nos anos
de 105 a 170 da nossa era, a Igreja reuniu vários concílios em combate ao gnosticismo,
em nossos dias, as idéias gnósticas ressurgem entre a teosofia e o espiritismo.
Primeiras
ações gnósticas, surgem na Palestina e na Síria, com o judeu-cristão Cerinto,
materialista, que considerava Jesus Cristo um simples homem nascido de José e Maria.
Simão Samaritano, o Mago, e Menandro são considerados os fundadores do
gnosticismo.
Simão,
taumaturgo do tempo de Nero, hábil na magia, originou várias lendas; em Atos
8:5-52, ele propôs a Pedro a compra do poder de fazer milagres, desafiou os
apóstolos numa demonstração de poder, voando em torno de uma torre, ensinava
que o mundo não foi criado por Deus e sim por anjos, para os samaritanos ele
era o primeiro Demiurgo.
Menandro,
discípulo de Simão, era mágico (comum nos gnósticos de Samaria), dizia que os
que o seguissem jamais morreriam, se julgava o Salvador.
Saturnino,
viveu entre 100 e 130 d.C., grande figura do gnosticismo, conferiu a forma
definitiva a esta doutrina, achava que o homem foi criado por sete arcanjos.
Os
barbelognósticos (do siríaco barbá eló, que significa “Deus em quatro”, ou
seja, contém em si próprio : pensamento, pré-conhecimento, incorruptibilidade e
vida eterna) e os sethianos-ofitas.
A
heresia passou para o Egito (Alexandria), Valentiano e Carpócrates foram seus
maiores defensores (tudo que se realiza na matéria é insignificante, do ponto
de vista da alma).
Basílides
organizou a doutrina de Simão o Mago, sintetizando-a (os anjos criadores do
mundo, que dividem o domínio do mesmo), um deles é Javé, o deus dos judeus, que
submete a si os demais.
Os
ofitas cultuavam a serpente do paraíso: a serpente que se revelou contra o
Demiurgo, e propôs a libertação através do conhecimento (gnóse) e da “ciência
do bem e do mal”.
O marcionismo, do líder cristão Marcião, nascido em 85 d.C., em
Sínope, costa do Mar Negro, criou uma nova forma de cristianismo (oposição
entre a lei e o evangelho, entre a justiça e o amor), obra : Antítese
(perdida), opunha o A.T. ao N.T., (como Lutero iria fazer mais tarde), suas
igrejas eram poderosas na mesopotâmia, seu principal opositor, o teólogo
Tertuliano, que escreveu o tratado Adversus Marcionem.
Principais obras gnósticas, achadas em Nag Hammadi, alto Egito, em 1945,
originais em copta, copiadas em grego no século IV, entre os 51 livros achados
estão: o Evangelho de Tomé, o Evangelho de Felipe, o Evangelho da verdade, o
Apocalipse de Adão, o Livro do Grande Seth e o Apócrifo de João, onde no
Gênesis, o Criador (Deus), se apresenta como ignorante e malévolo. Além, é
claro, do polêmico Evangelho de Judas. O Bispo Irineu refutou essas heresias,
em sua obra “Contra as Heresias”.
O Montanismo:
Apareceu
na Frígia (Ásia Menor), de 150 a 157, movimento intelectualista, organizou-se
em comunidades; na Ásia Menor, em Roma e na África do Norte, fundador Montano
(sacerdote de Cibele), converteu-se ao cristianismo, julgava-se o instrumento
do Espírito Santo prometido por Cristo e precursor de uma nova era, Prisca e
Maximila suas profetizas. Chamavam a si mesmos de pneumáticos (inspirados pelo
sopro do Espírito). Esta seita, anti-romana, se constituía numa ameaça para a
paz entre a cristandade e o estado, foi excomungada pela Igreja, mas subsistiu
no Oriente até o século VIII.
Os Antitrinitários:
Teófilo
de Antioquia, escritor cristão, em 180 a.C., começa aparecer em seus escritos a
palavra “tríade” ou “trindade” (um só Deus em três pessoas), que serviu para
explicar o dogma cristão da Santíssima Trindade.
Logo
surgem os opositores, como o adocionismo, de Teodoto de Bizâncio (rejeitava a
Trindade, negava a divindade de Cristo e a encarnação do Verbo), foi condenado
pelo papa Vítor I (189-199); em 190 d.C. surgiu outra heresia, iniciada por
Noet, que Praxéias e Sabélio, desenvolveram, recebendo o nome de sabelianismo
ou monarquismo ou modalistas (para eles o Pai, o Filho e o Espírito Santo, eram
apenas três títulos diferentes e não pessoas); assim sendo, o Pai se encarnou
na virgem, nascido tomou o nome de Filho, sem deixar de ser o Pai, logo foi o
Pai quem morreu na cruz.
O Maniqueísmo:
Tipo de
gnosticismo que começou na Pérsia, na 1ª metade do século III, fundador; Manés
(Manion Maniqueu – 215/276), da Babilônia, morreu esfolado porque não curou um
filho do rei Behram.
Para
Manés, que seguia os ensinos de Zoroastro (Zaratustra), há dois reinos eternos
: o da luz, em que domina Deus (Ormuzde ou Ahura Mazda), e o das trevas,
domínio de Satã (Ahrimã ou Anrô Mainiu). O homem preso por Satã, luta para se
libertar das trevas e ir para a luz, liberdade que se alcança por meio de uma
vida austera, compreendendo três selos, (mortificações) : o selo da boca
(jejum), o selo da mão (abstenção do trabalho) e o selo do ventre (castidade).
Existia
duas classes : os eleitos (monges) e os ouvintes ou auditores (fiéis); com uma
hierarquia de doutores, administradores, presbíteros, diáconos e missionários,
rejeitaram o A.T. e expurgaram do N.T. as interpolações judaicas, para adaptar
a Escritura aos fins de sua seita.
Santo
Agostinho, foi conquistado por essa seita, um famoso discípulo de Manés foi
Madek (século VI d.C.), que acreditava que o mal do mundo tinha sua causa no
desejo de posse da fortuna e das mulheres.
Combatida
pela Igreja e pelo estado, estendeu-se da África do Norte à China, até a idade
média (século XII), surgindo então como doutrina albigense (catarismo).
O Priscilianismo:
Na Espanha,
Prisciliano, bispo de Ávila, divulga os ensinos gnósticos e maniqueus,
introduzidos pelo monge egípcio Marcos. Em 380, Prisciliano e os seus, foram
expulsos e executados pelo imperador Máximo. Porém somente no Concílio de
Braga, em 565, é que essa heresia foi condenada.
O Pelagianismo:
Em
reação aos gnósticos e maniqueus, surge o pelagianismo que se tornou uma grave
heresia, divulgador Pelágio nasceu em 354 na Inglaterra, moralista e
intransigente, dizia que não se precisava da graça para salvação, bastando
somente a vontade individual, não existia o pecado original, era contra o
batismo, contra a remissão dos pecados, acreditava que se não há pecado
original, não há necessidade de redenção, logo Jesus Cristo é inútil.
Santo
Agostinho, dizia : todos os homens pecaram em Adão, nascem com o pecado
original e estão enfraquecidos por ele, mas conservam o livre-arbítrio,
portanto é necessário o batismo para reaver a graça.
Concílio
de Cartago, em 411, condenou o pelagianismo, no Oriente foi declarado ortodoxo,
nos concílios de Jerusalém e de Diospolis em 415. Em 431, no Concílio Ecumênico
de Éfeso, foi condenado.
As
questões do pelagianismo são graves do ponto de vista teológico, dando origem a
grandes controvérsias que talvez nunca tenham fim.
FONTE CACP
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