O perigo do
evolucionismo teísta e “O Teste da Fé”
EVOLUCIONISMO
INTRODUÇÃO
O debate entre fé e ciência sempre foi acirrado e cheio de
momentos acalorados, e nem sempre positivos ou construtivos. Na verdade, o
início do debate envolvia a questão entre criacionismo e evolucionismo. Com o
passar do tempo a questão foi ampliada e surgiu o evolucionismo teísta, ou
teísmo evolucionista.
Na história recente da Igreja esse tem sido um tema recorrente e
cada vez mais corriqueiro e popular, especialmente com a frequência cada vez
maior de cristãos na Academia. Na verdade, Cristianismo e Academia sempre foram
aliados e suas histórias sempre estiveram interligadas, especialmente quando
nos damos conta que o surgimento das universidades no Ocidente ocorreu no seio
da igreja, a exemplo de Oxford, Cambridge, Yale, Harvard, Princeton, Salerno,
Bolonha, Universidade de Paris, Salamanca, Universidade de Genebra etc. Na
época da Reforma Protestante haviam trinta e três universidades no seio da
igreja.
No Brasil, este debate nunca foi muito popular, especialmente
porque criou-se uma dicotomia entre ambos. Se na Universidade o assunto Deus é
algo referente ao metafísico e se encontra no âmbito da religião tão somente,
sendo uma questão de especulação e fé, na igreja o assunto ciência foi tratado
durante muito tempo como sinônimo de apostasia e secularização. Mas, ambos os
pensamentos estão equivocados, e se por um lado esse pensamento distorcido que
busca retirar Deus do debate científico tem suas raízes no Iluminismo do século
XVIII, a retirada da ciência do seio do cristianismo é resultado da apatia da
igreja e da falta de manutenção de seu mandato cultural e social.
Temos visto, portanto, um desequilíbrio no desenrolar dessa
história.
Por outro lado, com o crescimento cada vez mais constante de
cristãos no meio científico o debate tem se tornado cada vez mais comum, e com
a facilidade de expansão da informação pela informática esse tema, Fé e
Ciência, se torna quase que global ao mesmo tempo. Porém, o debate atual não
envolve apenas Criacionismo e Evolucionismo, mas foi acrescido do Intelligent
Design (Design Inteligente). Também, o meio termo entre Criacionismo e
Evolucionismo tem ressurgido com maior frequência, e este é denominado de
Evolucionismo Teísta.
O QUE É O EVOLUCIONISMO TEÍSTA?
O apologista católico Roberto Cavalcanti dá a seguinte definição:
Os alunos
são ensinados que “o ser vivo é o resultado de evolução, em certas condições,
do ser inanimado” e que “vida é um passo superior respeito da qualidade na
evolução das formas de movimento”. Ensinam que a vida apareceu espontaneamente,
no meio aquático, por combinações químicas acidentais, na presença da luz do
sol, muito embora a abiogênese tenha malogrado com os experimentos de Pasteur.
É notório
que a tese do evolucionismo teísta provém de uma mistura de antigas teses
filosóficas e teológicas pagãs, e que voltou a ser acreditada na Era
Contemporânea em razão do triunfo do racionalismo ateu, que contesta milagres e
acha possível fazer ciência sem Deus. (CAVALCANTI, 2011, online)
Ainda, Wellington Rodrigues e Rosilene Motta afirmam o seguinte:
Um quarto
dos professores 24% adotaram a idéia predominante hoje nos meios religiosos e
científicos, isto é, o teísmo evolucionista, pois entendem que “a Bíblia pode
ser interpretada de forma compatível com a idéia de que, biologicamente, o
homem é o resultado de um processo evolutivo, desde que se creia que em algum
momento Deus lhe conferiu atributos espirituais especiais.” Esse posicionamento
exige uma leitura simbólica para os relatos da criação em Gênesis, aceita a
evolução insistindo na necessidade de uma criação especial para a alma humana.
Foi fazendo coro à essa opinião que o papa João Paulo II afirmou em 1996 que “a
teoria da evolução é mais que apenas uma hipótese. [...] a evolução é
compatível com a fé cristã”. (RODRIGUES; MOTTA, 2011, p. 11)
Contudo, o Dr. Marcos Eberlin (apud BORGES, 2013) afirma que “a
evolução é péssima ciência. O evolucionismo teísta é péssima ciência somada com
péssima teologia e filosofia. O criacionismo é ótima teologia com ótima
filosofia, que se apoia hoje em ótima Ciência, Ciência com C maiúsculo; a que é
livre das amarras do materialismo”.
Também, o Dr. Wayne Grudem, no prefácio do livro Should Christians
Embrace Evolution aponta oito razões pelas quais o cristianismo bíblico é
contrário a evolução teísta.
O ULTIMATO DO EVOLUCIONISMO TEÍSTA NO TESTE DA FÉ
Dentro desse contexto de debates e diálogos entre Fé e Ciência, a
Editora Ultimato tem patrocinado o lançamento do Projeto Teste da Fé no Brasil,
com a presença da Dra. Ruth Bancewicz, PhD em genética pela Universidade de
Edimburgo, pesquisadora associada ao Instituto Faraday para Ciência e Religião
e que trabalha na interação entre ciência e fé. A propaganda feita na
divulgação desse projeto gira em torno da comprovação da existência de Deus no
meio acadêmico e como a fé pode ser mantida por cientistas. Contudo, o que
pouco tem sido dito é que tal projeto visa implantar tanto na igreja quanto na
universidade o conceito de Evolucionismo Teísta.
O que muitos não sabem, ou fazem questão de ocultar, é a íntima
relação entre o evolucionismo e o liberalismo teológico. Sobre essa relação o
Dr. Augustus Nicodemus faz a seguinte afirmação:
Os
liberais acreditam que a Igreja Cristã se perdeu completamente na interpretação
da Bíblia através dos séculos e que somente com o advento do Iluminismo, do
racionalismo e das filosofias resultantes é que se começou a analisar
criticamente a Bíblia e a teologia cristã, expurgando-as dos alegados mitos,
fábulas, lendas, acréscimos, como, por exemplo, os mitos da criação e do
dilúvio e de personagens inventados como Adão e Moisés, etc. Por considerar os
relatos da criação, da formação de Adão e sua queda como mitos, os liberais
tratam o livro de Gênesis como uma produção da fé de Israel escrita com o
propósito de legitimar a posse e a permanência de Israel na terra. Acreditam
que Gênesis foi redigido em sua forma final no período do exílio babilônico,
por um editor que colecionou e colou juntos relatos díspares sobre a criação, a
história do dilúvio, etc. Por não considerarem histórico o relato da criação,
os liberais são, por via de regra, evolucionistas. Alguns acreditam que Deus
criou o mundo mediante o processo da evolução. Mas, no geral, descartam
completamente a idéia de uma criação do mundo e do homem ex nihilo, do nada,
pela palavra do seu poder. (apud PORTELA, 2007, Online)
Essa foi, em outras palavras, exatamente a defesa feita pela Dra.
Ruth Bancewicz no lançamento do livro Teste da Fé no Recife, no dia 12 de
setembro de 2013, no auditório da Livraria Cultura no Shopping Riomar. Então,
algumas de suas afirmações, na palestra de lançamento, merecem ser comentadas
para “clarear” mais o nosso diálogo sobre o tema.
Ao falar sobre os cientistas e a comunidade acadêmica, Ruth
Bancewicz afirmou que:
Talvez
eles tenham sido ensinados que o Gênesis e a Evolução não são compatíveis.
Então, eles rejeitam o cristianismo. Ou talvez hajam várias outras razões, e a
mídia adora essa imagem de conflito, e eles não dão nenhum tempo, nenhum
espaço, para outras vozes. Então, o Teste da Fé é sobre cientistas que preparam
muito cuidadosamente sobre a fé e que consideraram coisas de diferentes
aspectos.
Ou seja, o Projeto Teste da Fé diz respeito a tentativa de
conciliação entre o Evolucionismo e o Cristianismo. Mas como disse o Dr.
Augustus, isso conduz ao liberalismo teológico, que é caracterizado pela
negação do caráter histórico da criação apresentado na narrativa de Gênesis.
Ainda, o Dr. Augustus Nicodemus explica a relação existente entre
o Teísmo Aberto (Teologia Relacional) e o Evolucionismo Teísta:
Eu nunca
havia atentado para o fato de que o teísmo aberto oferece o tipo de deus que
alguns evolucionistas teístas tanto precisavam para ser coerentes em sua
teoria. A idéia me estalou nesta segunda, conversando com os cientistas
cristãos do Discovery Institute em Seattle, que acabam de lançar um livro “God
and Evolution” que promete ser uma das críticas mais pertinentes e sérias ao
evolucionismo teísta.
Explico.
O
evolucionismo teísta acredita que Deus existe e que “criou” a vida na terra através
daquilo que a teoria evolucionista chama de processo não dirigido ou
intencional, em que mutações acidentais e aleatórias levaram gradativamente à
seleção natural e à sobrevivência das espécies mais aptas.
O grande
problema aqui com esta teoria são as palavras “não dirigido”, “aleatório” e
“acidental”. Este conceito é fundamental na teoria darwinista. Na verdade, é um
de seus pilares. O conceito da evolução repousa neste princípio de que as
mutações ocorreram de forma randômica, ao acaso. Como, então, integrar o
conceito de mudanças aleatórias com a supervisão do Deus cristão, que é
onisciente, onipresente e onipotente? Se Deus é onisciente, como poderia ter
inventado um processo natural que se desenrolaria de maneira totalmente
imprevisível, acidental e randômica, totalmente fora de seu controle ou
conhecimento?
A solução
é o deus do teísmo aberto. Esta “divindade”, de acordo com os teólogos
relacionais, desconhece o futuro e não sabe o que vai acontecer no universo nos
próximos minutos. Ou seja, ela serve perfeitamente como o deus do evolucionismo
teísta. (apud PORTELA, 2007, Idem)
A percepção que o Dr. Augustus teve sobre a relação existente
entre o Evolucionismo Teísta e o Teísmo Aberto explica claramente a direção da
linha teológica seguida pela Editora Ultimato, que continua publicando os
livros de Ricardo Gondim, que ensina o Teísmo Aberto; de Ed Rene Kivitz que
afirmou que Adão e Eva eram um mito, que a alma morre quando o ser humano morre
e que defende abertamente o universalismo[1]; Luiz Longuini, autor do livro
Novo Rosto da Missão, em que propõe uma aproximação do Conselho Latinoamericano
de Igrejas e da Fraternidade Teológica Latino Americana, que promovem a
Teologia da Libertação e o ecumenismo, entre outros.
Portanto, não é de admirar que ao seguir essa linha de distorções
teológicas, o resultado da Ultimato fosse o apoio e patrocínio do Evolucionismo
Teísta dentro e fora da igreja.
Por tudo isso, o Dr. Augustus afirma que “os evolucionistas
teístas deveriam mudar o nome para evolucionistas “deístas”, uma vez que estes
tais acreditam numa divindade remota que criou o mundo como um relógio, deu
corda e simplesmente afastou-se”, e continua ao afirmar que “O deus do
evolucionismo-deísta-aberto não tem a menor idéia onde tudo isto vai parar” (apud
PORTELA, 2007, idem).
Então, exatamente como já havia sido dito, essa é a conclusão
natural do pensamento daqueles que fazem parte do Teste da Fé. Devemos observar
o que a Dra. Ruth falou no lançamento do livro em Recife (12 set 2013):
Gênesis é
um livro antigo, mas os cristãos acreditam que ele é verdade. Que é sobre
eventos que realmente aconteceram. Mas, como uma estória sobre seis dias de
criação pode ser verdade quando a ciência moderna mostra para nós que o
universo na verdade tem bilhões de anos? Certamente essas duas estórias
são incompatíveis. Então, a questão resumida da resposta de Francis Collins à
essa pergunta é que a Bíblia não é um livro de ciências. É possível que uma
obra seja verdadeira e figurativa ao mesmo tempo. Os poemas de amor expressam
coisas que são profundamente importantes, mas usam uma linguagem simbólica. Por
exemplo, meu amor é como uma rosa vermelha, ou como o poema que diz que eu
vaguei como uma nuvem. É importante saber qual o estilo da literatura está
sendo usado e como lê-lo. Se você nunca leu nada além de prosa e viesse aqui na
livraria e comprasse um livro de poesia acharia bastante confuso. Mas se
aprendesse um pouco mais sobre o autor, escritor, sobre o estilo usado na
escrita e quais as simbologias e símbolos que o autor usou na época em que
escreveu esses poemas você poderia começar a entender o significado. Você
estaria respeitando a intenção do autor para aquele texto. Naturalmente o
Gênesis é mais importante que um poema de amor, mas o princípio em questão é similar.
E mais, ao final de sua palestra a Dra. Ruth ainda afirmou:
Há algumas
maneiras significativas de escrever na linguagem hebraica. Elas mostram que
Deus é um Deus e estas construções marcam o Gênesis como sendo algo bastante
único, diferente de vários outros relatos sobre mitos da criação. Também é
importante manter o Gênesis no contexto da Bíblia como um todo. Existem outras
histórias sobre criação na Bíblia. Você tem que olhar para os Salmos, para o
livro de Jó também.
Em primeiro lugar, já fica claro que a interpretação bíblica da
Dra. Ruth é guiada não por princípios hermenêuticos ou exegéticos, mas por
elementos externos, e esses são os elementos evolucionistas. Ela mesma disse:
“como uma estória sobre seis dias de criação pode ser verdade quando a ciência
moderna mostra para nós que o universo na verdade tem bilhões de anos?”. Isto
é, se a Bíblia diz algo e a ciência mostra outra conclusão, a opinião
cientifica deve prevalecer e guiar a interpretação bíblica. Portanto, vemos
claramente que não há uma seriedade teológica na interpretação da Escritura.
Em segundo lugar, o Teste da Fé já parte do pressuposto da
confiabilidade da datação evolucionista, que atribui bilhões de anos ao
universo. Mas como dar credibilidade a uma opinião científica que apesar de ser
apresentada como confiável muda constantemente? Dizemos isto porque na época em
que Darwin escreveu Sobre a Origem das Espécies por Meio da Seleção Natural
(Origem das Espécies), em 24 nov 1859, a idade da Terra era “cientificamente”
determinada em 100 milhões de anos; Setenta e seis anos depois, em 1932, passou
a ser estimada “cientificamente” em 1.6 bilhões de anos; Quinze anos depois, em
1947, passou a ser estimada “cientificamente” em 3.4 bilhões de anos; E vinte e
nove anos depois, em 1976, passou a ser estimada “cientificamente” em 4.6
bilhões de anos até hoje. Para piorar, já sabemos que alguns cientistas estão,
atualmente, estipulando outra idade para a Terra e o Universo.
Em terceiro lugar, o estilo literário do Gênesis é negado,
esquecido e ignorado, para que o texto seja identificado como um escrito
“figurativo”, a exemplo de um poema. Então, a classificação do gênero literário
de Gênesis 1 é mudado de narrativa para poético.
Para tratar da interpretação, segundo o gênero literário, Gordon Fee,
em seu livro “Entendes o que lês”, faz a seguinte afirmação:
A Bíblia
contém mais do tipo de literatura chamado “narrativa” do que qualquer outro
tipo literário. Por exemplo, mais de 40 por cento do Antigo Testamento é
narrativa [...] Os seguintes livros do Antigo Testamento são compostos, em
grande medida ou inteiramente, de matéria narrativa: Gênesis, Josué, Juízes,
Rute [...] (FEE, 2008, p.63)
Portanto, o livro de Gênesis não faz parte do gênero poesia, e sim
narrativa, e “as narrativas são histórias” (FEE, 2008, p.63). Por isso, a
argumentação da Dra. Ruth é falha, especialmente ao tratar o Gênesis como
poesia para lhe dar outra interpretação que não aquela que está clara e
implícita no próprio texto. Porém, a defesa dos Evolucionistas Teístas está em
afirmar que apesar de Gênesis ser uma “narrativa”, o capítulo 1 apresenta
elementos distintos que o assemelham à poesia. Contudo, isto não é verdade,
especialmente diante daquilo que Betty Bacon propõe em seu livro Estudos na
Bíblia Hebraica, sobre Gênesis 1:
Os motivos
de lermos este relato magnífico em hebraico são vários e de peso.
Primeiro,
é modelo de narrativa clássica, cheio de dignidade e beleza, sem enfeites
desnecessários ou repetições sem propósito. Aqui a grandiosidade dos fatos –
aparece num estilo e numa linguagem adequada, que se encontram à altura do tema
majestoso.
Além
disso, é registro que veio a ser a base de muita meditação posterior de
profetas e apóstolos, que nele iriam basear doutrinas importantes. Haja vista
como Isaías, Amós e Jonas se referem ao fato chave da criação, para demonstrar
a superioridade de Deus aos ídolos e Sua soberania total no mundo que Ele
criou. Veja Is 40.18-28; Am 4.13 e 5.8; Jn 1.9. Observe também os reflexos dos
primeiros capítulos de Gênesis nos escritos de Paulo, onde os fatos da criação
são o alicerce essencial de teologia chave. (BACON, 1997, p.59)
Bacon afirma, portanto, após estudo do texto em seu idioma
original, que o capítulo 1 de Gênesis não é do gênero poesia, e sim narrativa
do tipo clássica. Também, é observado que a literalidade de Gênesis serviu de
base para a formulação de “doutrinas importantes”, tanto por parte dos profetas
como dos apóstolos. Isso quer dizer que a distorção do texto de Gênesis ou a
sua interpretação de outra forma que não seja a literal (histórico-gramatical)
levará à modificação de diversas outras passagens e doutrinas da Escritura. Ou
seja, a aceitação do evolucionismo teísta, que rouba a literalidade do texto
bíblico, não é algo simples e sem consequências, mas uma ação que desencadeará
em uma série de desdobramentos na forma como a Escritura será vista e aceita.
Ainda, ao comentar Gênesis 1:2, Betty Bacon afirma que “alguns têm
sugerido aqui a influência de mitos de criação de fontes pagãs, mas o ato
divino da criação aconteceu antes de existirem os mitos” (idem, p.62).
Nesse mesmo sentido Walker Kaiser afirma que o gênero literário de
Gênesis, do capítulo 1 até o capítulo 11, indica a natureza intencional literal
da narrativa (KAISER, 1970, p.48-65); Franklin Ferreira e Alan Myatt afirmam
claramente que “A doutrina da criação ajuda a distinguir o cristianismo de
outras religiões e cosmovisões não-cristãs. Concordamos com Horrell, que diz
que: Genesis 1 é plenamente histórico, mas também é forte na sua polêmica
contra as religiões daquela época” (FERREIRA; MYATT, 2007, p.276). P. J.
Wiseman afirmou que muitos erros são cometidos por se ignorar o fato óbvio de
que Gênesis 1 é uma narrativa (WISEMAN, 1977, p.144). Os escritores do Novo
Testamento entendiam Gênesis 1-11 como um texto narrativo e literal: Mt 19:4-5;
24:37-39; Mc 10:6; Lc 3:38; 17:26-27; Rm 5:12; 1Co 6:16; 11:8-9,12;
15:21-22,45; 2Co 11:3; Ef 5:31; 1Tm 2:13,14; Hb 11:7; Tg 3:9; 1Pe 3:20; 2Pe
2:5; 3:4-6; 1Jo 3:12; Jd 11,14; Ap 14:7.
Mesmo assim alguns veem o Gênesis como uma poesia – simplesmente.
Mesmo que esse seja o caso, e mesmo que a estrutura de Gênesis 1:1 à 2:4
estejam estruturados em uma forma semelhante à poesia hebraica, denominada de
paralelismo sintético, isso em hipótese alguma nega a historicidade do texto,
como também pode ser observado em Êxodo 15 e Daniel 7, bem como em cerca de 40%
do Antigo Testamento. Um fato histórico, preciso e literal pode ser escrito em
forma de poesia e ainda assim ser histórico e preciso, a exemplo do Salmo 22
que é uma poesia, e ao mesmo tempo preciso em sua descrição messiânica.
Mas, ainda assim os Evolucionistas Teístas insistem na leitura
alegórica do Gênesis porque só assim poderão dar-lhe o sentido que desejam, e
este sentido é guiado pelo evolucionismo. Grant Osborne, em seu livro A Espiral
Hermenêutica, comenta o seguinte:
A questão
do gênero é um importante elemento no debate sobre a possibilidade de recuperar
o significado pretendido pelo autor (Hirsch chama isso de “gênero intrínseco”).
Todos os escritores expressam sua mensagem dentro de um determinado gênero,
para que os leitores tenham regras suficientes pelas quais possam
decodificá-la. (OSBORNE, 2009, p.32).
O método alegórico de interpretação da Escritura, segundo
Pentecost (1998, p.33), é repleto de perigos que o tornam inaceitável. O seu
primeiro grande perigo é que ele não interpreta a Escritura, pois despreza o
significado comum das palavras para dar asas a todo tipo de especulação
fantasiosa. Por isso Pentecost afirma:
[...] os
grandes perigos inerentes a esse sistema são a eliminação da autoridade das
Escrituras, a falta de bases pelas quais averiguar as interpretações, a redução
das Escrituras ao que parece razoável ao intérprete e, por conseguinte, a
impossibilidade de uma interpretação verdadeira das Escrituras.
Ainda, Fritsch ao falar sobre a interpretação alegórica da
Escritura afirma que “de acordo com esse método, o sentido literal e histórico
das Escrituras é completamente desprezado, e cada palavra e acontecimento é
transformado em alegoria de algum tipo, já para escapar de dificuldades
teológicas, já para sustentar certas crenças religiosas estranhas” (apud
PENTECOST, 1998, p.32).
Por isso, ao pretender mudar o gênero literário do livro, ou pelo
menos do capítulo 1 de Gênesis, o que os evolucionistas teístas querem na
verdade é mudar as regras de interpretação daquela passagem para que ela diga
aquilo que eles desejam, aquilo que lhes é conveniente. Querem alegorizar o que
não é alegórico.
Em quarto lugar, o argumento para a interpretação alegórica do
Gênesis repousa na ideia do Sensus Plenior[2]. Com isso, o que importa para
tais pessoas não é o que o autor escreveu em si, mas qual a sua intenção ao
escrever aquilo. Então, a interpretação sai da análise histórico-gramatical do
próprio texto e vai para o campo da especulação, ao tentar descobrir o que o
autor queria realmente dizer e não disse. Para os evolucionistas teístas o
Gênesis seria uma espécie de mensagem codificada, e que não está clara. Um dos
problemas com esta defesa da busca por um sentido mais profundo, pela intenção
do autor ao escrever determinada passagem, na verdade, é que foi um ensino
criado no catolicismo do século XX, e que não existia do século I ao século
XIX. A ideia de Sensus Plenior não afirma tão somente que o autor tinha o
entendimento do significado completo de sua escrita, mas que há a possibilidade
de uma passagem do Antigo Testamento ter mais de um significado que era
conscientemente entendido pelo autor. Por isso, a ideia de Sensus Plenior,
apesar de defendida por autores evangélicos conceituados, não possui base
bíblica e sua origem é questionável por ter sido desenvolvida com o intuito de
conduzir o público ao pensamento de que o magistério católico pode atribuir
outro significado a passagem por serem, hipoteticamente, inspirados por Deus, a
exemplo da autoalegação do papa que se denomina o sucessor de Pedro, o líder da
igreja e infalível. Portanto, esses mesmos requisitos são pretendidos por
aqueles que buscam não o sentido do texto, mas o sentido oculto e mais profundo
que não se encontra na escrita do texto mas na intenção do autor.
Sobre o Sensus Plenior, Grant Osborne afirma que “o sentido mais
profundo está relacionado ao sentido literal, que proporciona uma extensão ou
desenvolvimento desse sentido, em vez de um significado completamente novo”
(OSBORNE, 2009, p.420). Ou seja, aquele sentido mais profundo, ou intenção do
autor ao escrever o texto, só será encontrado a partir do próprio texto em seu
sentido literal, que é visto por meio da análise histórico-gramatical do
próprio texto. Não existe um sentido oculto no texto que não seja o seu sentido
literal.
Vanhoozer (2005, p.322) também afirma que “os estudiosos modernos
da Bíblia continuam a se digladiar com a tensão entre “o que queria dizer” para
o autor original e “o que quer dizer” para a igreja de hoje”, e continua:
Minha tese
é a de que o “significado mais completo” das Escrituras – o significado
associado à autoria divina – emerge apenas no nível do cânone inteiro. Como
argumentou Wolfhart Pannenberg, o significado em geral – seja de palavras ou de
eventos – depende em grande medida da relação entre a parte e o todo.
(VANHOOZER, 2005, p.323)
Portanto, para Vanhoozer, o texto deve ser analisado em seu
contexto geral. Por isso, então, Gênesis 1 não deve ser visto à parte de
Gênesis 2, ou desconectado deste. Não estamos vendo nesses dois capítulos
visões diferentes ou divergentes, mas complementares, e ambas devem ser lidas e
entendidas em seu sentido literal.
Nesse sentido, a grande advertência que Kaiser e Silva (2009,
p.198) fazem é a de que “nenhuma doutrina deve ser fundamentada em uma única
passagem das Escrituras, parábola, alegoria, tipo, sensus plenior ou numa
leitura incerta do texto”. Mas é exatamente esse o segundo erro dos
evolucionistas teístas. Se seu primeiro erro é partir de uma fonte externa para
o entendimento da Escritura (evolucionismo), o seu segundo erro é buscar
fundamentar o ensino de dias-eras, bilhões de anos, evolucionismo etc a partir
do uso da alegoria, sensus plenior e passagens isoladas da Escritura que têm
sido vistas fora de seu contexto e com a descaracterização de seu gênero
literário. Por tudo isso a ideia de evolucionismo teísta é uma agressão ao
texto bíblico.
Christopher Hall, em seu livro Lendo as Escrituras com os Pais da
Igreja, ao citar Deodoro, mesmo se referindo ao livro poético de Salmos,
afirma:
Quando
encerra seu prólogo aos salmos, Deodoro estabelece distinção entre história (a
substância histórica de um texto), lexis (o sentido literal puro), theoria (o sentido
elevado de um texto obtido mediante cuidadosa exegese do sentido literal) e
alegoria. Ele desejava evitar a alegoria, porque ela está divorciada do sentido
literal, histórico da Bíblia. Ela viola substância histórica do texto, à medida
que o exegeta inventa significado do nada. Aqueles que introduzem a alegoria
como instrumento hermenêutico, pois, “são descuidados acerca da substância
histórica ou simplesmente abusam dela”. Eles possuem uma “imaginação vã,
forçando o leitor a tomar uma coisa por outra”. (HALL, 2007, p. 181)
Ao citar Teodoro de Mopsuéstia, Christopher Hall relembra que o
fundamento da narrativa bíblica é muito importante, especialmente para Teodoro,
pois os alegoristas[3] agem “como se toda a narração histórica da Escritura
divina de nenhum modo diferisse de sonhos à noite”. Hall ainda afirma:
Por
exemplo, quando eles começam a interpretar a Escritura “espiritualmente”, como
tratarão uma figura como Adão? A realidade histórica, declara Teodoro,
desaparece totalmente quando Adão repentinamente “não é Adão, o paraíso não é
paraíso e a serpente não é serpente”.
Gostaria
de dizer-lhes isto: se eles fazem a história servir a seus próprios fins, eles
não terão deixado nenhuma história. Mas, se é isto o que fazem, deixemo-los
responder estas perguntas: Quem foi o primeiro ser humano a ser criado? Como
aconteceu sua desobediência? Como nossa sentença de morte foi introduzida? Se a
afirmativa deles é verdadeira, se os escritos bíblicos não preservam a
narrativa de eventos atuais, mas apontam para alguma outra coisa, algo profundo
que requeira compreensão especial – alguma coisa “espiritual”, como eles
gostariam de dizer, que eles descobriram por que eles próprios são tão
espirituais, então qual é a fonte do seu conhecimento? (HALL, idem, p.186,187)
Teodoro acertou no ponto. Parece que, mesmo vivendo em 428 aD,
estava prevendo o futuro debate que haveria 16 séculos depois. Isso porque é
exatamente essa a questão aqui tratada. Se artifícios são utilizados para fazer
parecer que o texto bíblico de Gênesis não é literal, o que acontecerá com o
restante da Escritura já que esta está interligada e já que doutrinas
fundamentais estão estabelecidas nessa narrativa? E mais, se o texto não diz o
que aparenta dizer, mas alegoricamente quer dizer outra coisa, de onde vem,
então, a fonte de informação para decodificar esse texto alegórico do Gênesis?
É exatamente esse o ponto tratado aqui: A hipótese evolucionista tem sido
utilizada como a chave decodificadora da Bíblia. Ou seja, a Bíblia só irá
significar aquilo que o evolucionismo determinar. Por isso, os evolucionistas
teístas não são intérpretes da Escritura, muito menos exegetas, mas sim aqueles
que distorcem o seu real sentido. Não são intérpretes, mas falsificadores. Não
fazem exegese[4], mas eisegese [5]. Não estão comprometidos com o real sentido
do texto, mas com os seus interesses evolucionistas.
Curiosamente a própria Ultimato foi quem publicou o excelente
livro de Christopher Hall (Lendo as Escrituras com os Pais da Igreja). Então,
nos colocamos a perguntar: O que está havendo com os responsáveis pela revisão
dos textos dessa editora, que ora publica um material de tão boa qualidade e
ora publicam material que refuta as suas próprias publicações?
Seria a ausência de uma linha editorial confessional, ortodoxa e
doutrinária clara a responsável por essa mudança brusca e contraditória na
Ultimato, ou haveria alguma outra razão para isso?
Ao tratar sobre a história do embate entre Fé e Ciência, a Dra.
Ruth utiliza um argumento teológico para a defesa do evolucionismo teísta,
afirmando:
Havia essa
ideia de que Deus havia estabelecido leis para os Israelitas. Então, nós
esperávamos que o universo, assim como Deus o criou, também operasse por meio
de leis que podiam ser descobertas por meios de experimentos e observação.
Porque Deus é um Deus de ordem. Também havia essa outra ideia de que Deus era
um criador independente, que criou o universo da maneira como Ele quis. Então
você não poderia predizer como as coisas aconteceriam.
A questão da Dra. Ruth, e de todos aqueles que se fundamentam na
visão evolucionista teísta, mais uma vez, está centralizada no agente externo:
a ciência. A ciência para tais pessoas tem sido tratada como o “espírito santo”
que guia à toda a verdade. Por isso afirmamos que para eles a ciência tem sido
divinizada, pois é o meio capaz de conduzir à uma suposta correta compreensão
do texto bíblico. O elemento de interpretação é externo, e por isso – mais uma
vez – fazem eisegese e não exegese.
Por isso as conclusões teológicas dos evolucionistas teístas são
baseadas nos pressupostos evolucionistas e não no entendimento Bíblico-textual
da própria Escritura. Para eles, as alianças e as leis estabelecidas por Deus
são entendidas à luz do evolucionismo. Aquilo que a teologia chama de Revelação
Geral é alcançada e compreendida por meio da deusa ciência, que é tida como o
instrumento para a correta compreensão bíblica.
Na verdade, na verdade, como diz Jesus, a ciência não é a senhora
da razão, e muito menos uma deusa. Também não é a lente hermenêutica. Nesse
momento lembro-me do Dr. Robert Jastrow, diretor do Observatório Mount Wilson e
membro fundador do Instituto para Estudos Espaciais Goddard da NASA, que em seu
livro God and the Astronomers afirmou:
Neste
momento parece que a ciência nunca poderá levantar a cortina que cobre o
mistério da criação. Para o cientista que teria vivido por sua fé no poder da
razão, a história termina como um pesadelo. Ele escalou as montanhas da
ignorância; está a ponto de conquistar o pico mais alto; ao alcançar finalmente
a última rocha, é saudado por um grupo de teólogos que aí se assentavam havia
séculos. (JASTROW, 1992)
Ruth Bancewicz afirmou que “os cientistas relatados no livro Teste
da Fé são extremamente bem sucedidos. Então eles são ótimos modelos e exemplos
para mim”. Na verdade a própria Dra. Ruth afirmou que Francis Collins é um dos
principais responsáveis pela forma como o seu pensamento é direcionado. Sobre o
Dr. Francis Collins e o Evolucionismo Teísta, o pastor Hernandes Dias Lopes
disse o seguinte:
Francis
Collins, o pai do projeto Genoma, um dos mais ilustres geneticistas da
atualidade, no seu livro LINGUAGEM DE DEUS, professa ser um cristão. Porém,
tenta conjugar o Cristianismo com o Darwinismo. O caminho que encontrou para
essa aliança espúria foi afirmar que Deus criou o universo através da evolução.
Consequentemente,
o relato bíblico de Gênesis 1 e 2 não pode ser aceito como um registro
histórico literal. Sendo assim, Adão e Eva não existiram como relata a Bíblia.
O relato da criação deve ser entendido como uma passagem pictórica e
metafórica. O problema é que não podemos negar a literalidade de Gênesis 1 e 2
sem negar o restante das Escrituras.
Não
podemos aceitar a tese do “evolucionismo teísta” sem desconstruirmos toda a
Bíblia. O relato da criação está presente em todos os livros da Bíblia: lei,
históricos, poéticos, proféticos, evangelhos, epístolas e Apocalipse.
Para
subscrevermos a tese de Francis Collins precisaríamos negar a inerrância das
Escrituras. Com quem vamos ficar? Seja Deus verdadeiro e mentiroso todo homem!
Ficamos com Jesus, que disse: “E a Escritura não pode falhar”. Ficamos com o
apóstolo Paulo que disse: “Toda Escritura é inspirada por Deus”. (LOPES, 2013)
Ainda, em entrevista à revista Veja (24 jan 2008), Francis Collins
fez as seguintes afirmações:
Agostinho
já dizia que não há como saber exatamente o que significam os seis dias da
criação. Um exemplo de que uma interpretação unilateral da Bíblia é equivocada
é que há duas histórias sobre a criação no livro do Gênesis 1 e 2 – e elas são
discordantes. Isso deixa claro que esses textos não foram concebidos como um
livro científico, mas para nos ensinar sobre a natureza divina e nossa relação
com Ele. Muitas pessoas que crêem em Deus foram levadas a acreditar que, se não
levarmos ao pé da letra todas as passagens da Bíblia, perderemos nossa fé e
deixaremos de acreditar que Cristo morreu e ressuscitou. Mas ninguém pode
afirmar que a Terra tem menos de 10000 anos a não ser que se rejeitem todas as
descobertas fundamentais da geologia, da cosmologia, da física, da química e da
biologia.
Essas declarações do Dr. Collins demonstram o seu desconhecimento
exegético e hermenêutico do texto bíblico, demonstram que o mesmo desconhece
que Gênesis 1 e 2 são complementares e não contraditórios, demonstram que a sua
interpretação bíblica é realizada por influência dos fatores externos – como
ciência – ao invés de serem guiados pelas informações contidas no próprio
texto. Por isso, o Dr. Francis Collins sacrifica a exegese do texto de Gênesis
para abrir espaço para o evolucionismo, como já pudemos ver anteriormente. Além
do mais, apesar de ser cientista, o Dr. Collins ignora, consciente ou
inconscientemente – não sabemos – as pesquisas sobre as datações que apontam
para uma idade mais jovem da Terra, a exemplo dos experimentos do Dr. Russell
Humpreys (pesquisa oceanográfica), Dr. Robert V. Gentry (pesquisa em
radiohalos), Dr. Thomas G. Barnes (pesquisa do campo magnético da Terra), Dr.
John Whitcomb e Dr. Donald B. DeYoung (pesquisa sobre a lua), Dr. Louis B.
Slichter (pesquisa em geofísica), Dr. Keith L. McDonald e Dr. Robert H. Gunst
(pesquisa do campo magnético da Terra). Isso tudo sem falar que mais
recentemente já têm afirmado que uma nova “pesquisa indica que Terra é 70
milhões de anos mais jovem” (VEJA, Online, 17.07.2010).
É importante observar o que outros cientistas conceituados também
têm afirmado. O Dr. Hannes Alfven[6] afirmou: “o que é “geralmente aceito” na
teoria de formação estelar pode ser uma centena de dogmas insustentáveis que
constituem uma grande parte da astrofísica atual” (2004. p.480). O Dr. Joseph
Silk, professor de astronomia em Oxford, afirmou: “Ainda não podem ser
determinados muitos aspectos da evolução de galáxias com qualquer certeza”
(2001, p. 195). O Dr. Donald DeYoung, Ph.D em Física, afirmou: “A presença de
cometas pode ser evidência que o sistema solar não é tão velho quanto é
assumido frequentemente” (2000, p.49,50).
Acreditamos que toda a criação foi prejudicada pelo pecado e que
por isso, uma busca pela observação de Deus através de meios simplesmente
naturalistas conduzirá à erros de conclusões. Por isso o evolucionismo teísta
tem falhado, porque os seus pressupostos são naturalistas por essência e por
natureza. Por outro lado, a observação da natureza através da “lente” bíblica
fará com que enxerguemos com mais clareza e nitidez e cheguemos à uma
compreensão e entendimento de Deus mais corretos por meio da Revelação Geral,
expressa mediante as coisas que foram criadas.
Portanto, não é a ciência que conduzirá à uma melhor compreensão
da Escritura, mas é a Escritura quem conduz à uma melhor compreensão da
ciência.
No lançamento do Projeto Teste da Fé em Recife, a Dra. Ruth teceu
críticas ao Movimento do Design Intelligent (DI):
No centro
do Movimento do Design Intelligent eu me preocupo que haja a questão do Deus
das lacunas. Claro que não é o que eles estão visando fazer, mas isto é o que
eu tenho visto acontecer. Eu já tive várias discussões com pessoas envolvidas
nesse movimento, e agente não concorda simplesmente sobre ser algo que diz
respeito a essas lacunas.
Para Ruth Bancewicz, e os demais seguidores do evolucionismo
teísta, aquilo que eles chamam de “deus das lacunas” é visto como uma desculpa
dos seguidores do DI para aquilo que não pode ser explicado. Então, essa
evidência de design na natureza exposta através da complexidade irredutível[7],
por exemplo, seria apenas um pretexto para dizerem que houve um projetista que
criou aquele ser ou mecanismo.
Esse argumento da Dra. Ruth só reforça aquilo que o Dr. Augustus
Nicodemus já havia falado: “os evolucionistas teístas deveriam mudar o nome
para evolucionistas “deístas”, uma vez que estes tais acreditam numa divindade
remota que criou o mundo como um relógio, deu corda e simplesmente afastou-se”
(apud PORTELA, 2007, idem).
O DI afirma que os mecanismos, ou sistemas, existentes possuem uma
complexidade tal que é impossível (improvável) que tenha surgido através de um
processo evolutivo. Já para os evolucionistas teístas, isso seria apenas uma
desculpa utilizada para não explicar o processo evolutivo. Dessa forma, esse
processo evolutivo seria aquilo que o Dr. Augustus afirmou, quando Deus teria
dado início ao processo e depois se afastado dele. Essa é uma consequência
natural do pensamento evolucionista teísta: o Deísmo.
O Deísmo é uma postura filosófica e religiosa que admite a
existência do Deus criador, mas que rejeita a Sua revelação. Exatamente como os
proponentes do evolucionismo teísta têm feito ao descaracterizar a Revelação
Geral, afirmando que esta Revelação Geral não é de todo clara e que só pode ser
alcançada por meio do conhecimento científico. O Deísmo, ainda, considera a
razão como a única via capaz de nos assegurar a existência de Deus, e por isso,
rejeita a formulação de um pensamento teológico preconcebido que contradiga
seus dogmas naturalistas. Isso é exatamente o que o evolucionismo teísta faz,
pois manipula a teologia através de suas ideias naturalistas.
Por essa razão, identificamos o evolucionismo teísta como uma
espécie de “Neoiluminismo”[8].
Ruth Bancewicz ainda afirmou:
Se você
ainda não sabe ou não escutou falar sobre o que significa esse movimento do
Design Intelligent, eu acho que a maior ideia central por trás desse movimento
é de que há evidências de que o mundo foi projetado. Não da maneira mais geral
em que agente chega e vê uma montanha e seus arredores e pensa: Caramba! Alguém
criou isso aqui tudo! Mas no sentido em que há coisas específicas, como por
exemplo: componentes de células que não poderiam existir decorrentes de uma
evolução. Teriam que ser criados ou projetados. E aí, eles usam isso como
evidência para esse Design Intelligent. E pela razão que EU ACREDITO QUE ESSAS COISAS NÃO
PODERIAM EXISTIR FORA DO PROCESSO DE EVOLUÇÃO eu discordo deles e eu fico achando
que é algo realmente pra preencher essas lacunas. O que eu quero dizer com esse
“Deus das lacunas” é que se em
algum momento você encontra evidências de que esses componentes poderiam ter
surgido decorrentes da evolução você perde toda a base para acreditar em Deus.
E se você usa essa falta de conhecimento, de evidência, sobre o por que que
algo existe como razão e evidência para acreditar em Deus você coloca Deus
somente preenchendo essas lacunas que você não consegue entender. E se você
está usando Deus apenas para preencher essas lacunas você O vai tornando menor.
Portanto, sob o pretexto de piedade e devoção à Deus, os
evolucionistas teístas, digo “deístas”, na verdade subtraem Deus do processo,
ou pelo menos o entendimento de Deus por meio de uma teologia ortodoxa. Com o
pretexto de não diminuir Deus, os evolucionistas teístas O retiram do processo,
substituindo o ensino ortodoxo de Deus na Escritura pelos pressupostos
naturalistas.
No final de sua preleção, ao ser perguntada sobre a sua posição,
se era criacionista ou evolucionista, a Dr. Ruth Bancewicz respondeu:
Eu
acredito que Deus pode ter criado o mundo da maneira como ele quis. E seja qual
for o seu ponto de vista, nós temos que nos certificar de que nós não moldamos
Deus à nossa própria imagem. Nós precisamos nos aproximar do livro de Gênesis
de maneira humilde e reverente. E eu não posso chegar aqui e fingir que eu
entendo todas as nuances e os ricos ensinamentos que estão ali naquele livro.
Mas o meu pensamento tem sido guiado por um número de teólogos e acadêmicos da
Bíblia como John Stott e Alister McGrath, e um professor de um seminário
batista que também é um bioquímico e que escreveu um livro que está publicado
em português, Ernest Lucas, Gênesis Hoje. Eu acredito que todos os cristãos
concordam sobre a principal mensagem que o livro de Genesis traz: que há um
Deus que criou tudo por contra própria, que não haveria limitação e o que Ele
criou era bom. Ele criou os seres humanos à sua imagem, e lhes deu
responsabilidade e nós nem sempre correspondemos a essas responsabilidades e
que o nosso egoísmo nos separa de Deus e afeta o nosso relacionamento, uns com
os outros e com o restante da criação. E eu acredito que essas são as questões
centrais do livro de Gênesis, e eu acho que essa é a coisa mais importante pra
gente pensar. O resto começa a ficar um pouco mais complicado.
Então, após não responder a pergunta que lhe foi feita, por uma
razão óbvia!, a Dra. Ruth busca respaldar o seu pensamento em nomes conhecidos
na Igreja, como John Stott e Alister McGrath.
Bem, o amado e saudoso irmão John Stott deixou um legado precioso
para a igreja, especialmente no que diz respeito ao Discipulado, porém, não era
perfeito em sua teologia, como certamente ninguém é. Diante do legado do “bom
velhinho” acreditamos que muitos ficaram surpresos ao saber que o mesmo
defendeu o aniquilacionismo e o evolucionismo teísta.
Da mesma forma o Alister McGrath, que surpreendeu alguns ao
declarar que “Na minha opinião, as duas coisas são compatíveis” (ÉPOCA, Online,
09.05.2008), ao se referir à existência de Deus e o evolucionismo. Também,
surpreendeu ao declarar não crer na inerrância bíblica (MCGRATH, 2007, p.21),
afirmando que a defesa da inerrância bíblica e da autoridade da Escritura, de
acordo com a Velha Princeton, do período dos Hodges e de Benjamin Warfield, têm
origem no Iluminismo. Por isso, o verdadeiro conceito de inerrância bíblica é
diferente. Portanto, afirma McGrath, esse conceito de inerrância bíblica
“deveria ser colocado de lado” desde que se mantivesse a ideia de autoridade da
Escritura Sagrada.
Tudo isso deveria nos servir de lição, ao atentarmos para o fato
que não devemos alinhar nossos pensamentos completamente por aquilo que os
teólogos dizem, já que não cremos no dogma da infalibilidade humana, como os
católicos acerca do papa. Por outro lado, não deveríamos rejeitá-los tão
rapidamente. Deveríamos alinhar nosso pensamento por aquilo que a Escritura
determina, e se algum teólogo está de acordo com a Escritura, que seja bem
vindo. Por isso, o Dr. Augustus Nicodemus afirma enfaticamente:
O
fundamentalismo histórico nasceu em defesa da fé cristã, ameaçada, na época,
pelo liberalismo teológico. Portanto, o fudamentalismo foi um movimento
apologético de defesa da fé, porque entendia que a tarefa da Igreja cristã era
defender a fé que uma vez por todas foi entregue aos santos. Nesse aspecto, é
positiva a disposição de se lutar em favor da fé bíblica, identificando
inimigos potenciais do cristianismo, como o liberalismo teológico, o humanismo,
o evolucionismo e o “evangelicalismo”, que tem, gradualmente, abandonado a
doutrina da infalibilidade da Escritura e adotado o ecumenismo e o
evolucionismo teísta. (apud PORTELA, 2007, Online)
Dessa forma, podemos ver claramente que o evolucionismo teísta
nada mais é que – nas palavras do Dr. Augustus – um “inimigo potencial do
cristianismo”. Pudemos perceber que a sua consequência natural, com o tempo, é
simplesmente a adoção da negação da inerrância bíblica, adoção do deísmo,
influência iluminista, aceitação do método alegórico de interpretação e por
tudo isso é um dos meios que pode facilmente conduzir a Igreja ao Liberalismo
Teológico.
Portanto, por todas essas razões o Dr. Marcos Eberlin afirmou que
“Há duas coisas que detesto e combato, mas com respeito: o naturalismo e a
evolução: uma que eu abomino, o evolucionismo teísta! E os lobos disfarçados de
cordeiros” (apud FERNANDES, Online, 19 set 2013). Ainda, Enézio Almeida,
coordenador do Núcleo Brasileiro de Design Inteligente, afirmou:
Darwin
disse que se precisasse de ajuda externa (leia-se Deus) sua teoria da evolução
seria bullshit. Estou denunciando aqui como heresia o evento Teste da Fé por
promover justamente o que Darwin abominou – teísmo evolucionista. Péssima
teologia porque Deus não é Todo-poderoso neste processo estocástico. Péssima
ciência porque injeta o Deus das lacunas numa teoria científica. Cristãos
liberais estão chocados com a minha denúncia deste Cavalo de Tróia. (FILHO,
Facebook, 9 set 2013)
CONCLUSÃO
Diante de tudo o que foi exposto, precisamos entender que a
solução não está no abandono do estudo da ciência. Muito pelo contrário. Muitos
cientistas têm prestado um grande serviço à humanidade com suas descobertas.
Ainda, o estudo da Teologia não pode ser visto como algo irrelevante ou
secundário, já que a Teologia é o estudo de Deus e de Sua Revelação e como
aplicar tal conhecimento à vida humana.
Já que nós, ortodoxos, cremos que a Escritura Sagrada é Inspirada,
Inerrante, Infalível e Suficiente, devemos mantê-La como guia de nossas vidas.
Dessa forma, não é a ciência quem deve guiar a interpretação bíblica, pois isso
seria eisegese, mas a Bíblia quem deve apontar a direção na qual devemos seguir
e a forma como devemos interpretar o mundo e a ciência. E se em algum momento a
ciência diz algo e a Escritura Sagrada diz outra coisa diferente, que fiquemos
com a Escritura, pois é Ela quem jamais passará (Mc 13:31).
Por último, precisamos entender que muitos teólogos foram, e ainda
são, grandemente usados por Deus para nos orientar, mas isso não lhes
condiciona à posição de infalíveis nem inerrantes. A história mostra que muitos
grandes homens de Deus falharam e se equivocaram em certos momentos. Portanto,
sabemos dos benefícios legados à Igreja por B. B. Warfield, Augustus Hopkins
Strong, C. S. Lewis, Alister McGrath, John Stott e tantos outros, mas isso não
quer dizer que seus ensinos devam ser recebidos como inquestionáveis ou
infalíveis, assim como os de Agostinho de Hipona e outros Pais da Igreja também
não.
A grande chave de toda essa questão é que devemos ser como os
bereanos, que mesmo diante da pregação do apóstolo Paulo verificavam se o seu
ensino estava em conformidade com a Escritura, pois como disseram Franklin
Ferreira e Alan Myatt: “qualquer tentativa de decidir entre as várias opções
deve dar prioridade ao texto bíblico e não se deixar guiar pelo que está na
moda entre os cientistas” (FERREIRA;MYATT, 2007, p.283).
A nossa oração é para que o Senhor Deus abra os olhos daqueles que
têm abraçado o teísmo evolucionista para que enxerguem o mundo e a ciência
através da lente da Escritura, e não o contrário, e para que a Editora Ultimato
se lembre de onde e de como caiu, se arrependa, e volte a praticar as primeiras
obras, antes que o seu castiçal seja tirado do lugar.
Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.
Que o Senhor Deus, Criador Soberano de todas as coisas, nos ajude
e guie nossos passos!
NOTAS
[1]. Universalismo é uma heresia que afirma que ao final de tudo
todos serão salvos.
[2]. Em exegese bíblica, a expressão SENSUS PLENIOR (do latim
“sentido mais pleno”) é usada para descrever “um sentido mais profundo do
texto”.
[3]. Alegoristas são aqueles que utilizam o método alegórico de
interpretação da Escritura, para que Ela não seja vista de forma literal.
[4]. Exegese é um termo grego (exegeomai, exegesis) e significa:
retirar, derivar, extrair, expor. É o ato de extrair o real significado do
texto através da análise do próprio texto, por meio de uma interpretação que
leve em conta a história da passagem e seus aspectos gramaticais. Daí o termo
histórico-gramatical.
[5]. Eisegese é o ato de introduzir, injetar, no texto alguma
coisa que o interprete deseja que esteja ali, mas que na verdade não faz parte
do mesmo. Por isso, quem faz eisegese força o texto, através de manipulações,
para que ele diga o que na verdade não está lá.
[6]. O Dr. Hannes Alfven foi laureado com o prêmio Nobel de Física
em 1970, por trabalhos fundamentais e descobertas na magnetohidrodinâmica e
suas várias aplicações na física de plasma.
[7]. Complexidade irredutível é um conceito usado pelos
proponentes do Design Inteligente segundo o qual certos sistemas biológicos
possuem uma complexidade segundo a qual é altamente improvável que tenha
surgido de forma evolutiva a partir de predecessores mais simples, ou “menos
completos”, através de mutações aleatórias vantajosas e seleção natural
ocorridas naturalmente, i.e. sem a interferência de inteligência, pois tais
sistemas biológicos só poderiam ser funcionais se todas as suas partes
estivessem presentes e montadas na ordem certa.
[8]. Neoiluminismo é um termo cunhado por este autor para se
referir a pensadores modernos que mantém as bases do Iluminismo em seu
pensamento.
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FONTE NAPEC.ORG
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