segunda-feira, 30 de março de 2015

MOVIMENTO CELULAR E A TEOLOGIA DA PROSPERIDADE


O movimento celular e a teologia da prosperidade


 

Histórico do movimento

O movimento da Teologia da Prosperidade é também conhecido por outras terminologias, tais como “Palavra da Fé”, “Ensino da Fé” ou “Confissão Positiva”. Embora tudo isso seja parte de um único pacote abordarei as principais características desse movimento oriundo do neo-pentecostalismo, bem como analisarei sua influência no G-12.
O principal ícone desse movimento é Kenneth Hagin. Ele nasceu em 1918 prematuro de alguns meses, o que lhe rendeu uma lesão congênita no coração que nunca foi exatamente diagnosticada. Passou por momentos mais difíceis na adolescência recebendo inclusive um diagnóstico de poucos dias de vida. Nesse período, ele alega ter recebido várias visões, além de ter sido levado ao céu e ao inferno. Nesse bojo de experiências, ele afirma ainda, ter recebido a revelação do “verdadeiro” significado de Marcos 11.23,24.
Conforme relata o Dr. Alan Pieratt , “a essência dessa revelação era que, para obter resultados da parte de Deus, o fiel deve confessar em voz alta seus pedidos e nunca duvidar de que tenham sido respondidos, mesmo que as evidencias físicas não indiquem que a oração foi atendida. Uma vez feita a oração, o fiel deve afirmar constantemente a resposta, até que surja a prova. Essa é, por certo, a essência daquilo que é hoje ensinado como ‘confissão positiva’”.[1]
Segundo o pastor Esequias Soares, o movimento remonta os dias de Hagin, tendo sido uma adaptação das ideias do hipnotizador e curandeiro Finéias Parkhurst Quimby, conhecido como pai das ciências cristãs.[2] Suas ideias eram desconexas com as Sagradas Escrituras e defendia que o pecado, a enfermidade e a perturbação só existem na mente das pessoas. Seu movimento ficou conhecido como “ciência cristã” desde 1863.
Essa adaptação se deu através de Essek William Kenyon, que foi influenciado por Charles Emerson, diretor daEmerson School of oratory e adepto dos ensinos de Quimby.
Assim, Kenyon passou a pregar a salvação e a cura em Jesus dando ênfase em textos bíblicos que falam de saúde e prosperidade além de ensinar sobre o poder do pensamento positivo. De acordo com o Dicionário dos Movimentos Pentecostais e Carismáticos, os escritos de Kenyon “tornaram-se, também, embrionário para o ministério de Kenneth Hagin, Kenneth Copeland, Don Gossett, Charles Capps, e outros nos movimentos Palavra da Fé e Confissão Positiva”.[3]
Kenyon faleceu no dia 19 de Março de 1948 com a idade de 80 anos. Antes de sua morte, encarregou sua filha Rute de continuar seu ministério e publicar seus escritos, o que ela cumpriu fielmente. Mais tarde, alguém utilizaria as idéias e os escritos de Kenyon para dar forma ao que viria a ser um dos maiores e mais controvertidos movimentos dentro do corpo de Cristo da atualidade. Essa pessoa é Kenneth Erwin Hagin.
Hagin conta várias experiências em seus livros e muitas delas são questionáveis do ponto de vista bíblico. Seu ministério foi marcado por visões e em um de seus livros ele relata uma em que afirma ter visto Jesus no ano de 1952, quando ensinava-o por um período de uma hora e meia acerca do diabo, demônios e possessões demoníacas. De repente apareceu um espírito maligno que se assemelhava a um macaquinho ou um duende que espalhava algo semelhante a uma fumaça, a fim de atrapalhar a conversa.
Ele continua relatando que não conseguia ouvir o que Jesus ensinava e tentava entender o porquê dEle não fazer nada para impedir aquela situação, até que resolveu ele mesmo repreender o tal espírito. Depois que o espírito maligno saiu, Hagin conta que pensava:”Por que Ele não fez nada? Por que permitiu isso?”. Até que Jesus o olhou e respondeu: “Se você não tivesse tomado uma atitude a respeito, eu não poderia fazê-lo”. Hagin prossegue contando sua experiência: “Ao ouvir isso tomei um verdadeiro choque – fiquei pasmo. Respondi: ‘Senhor, acho que não O ouvi direito! O que o Senhor disse é que não faria, não foi?’ Ele respondeu: ‘Não. Se você não tivesse tomado nenhuma atitude, eu também não poderia fazê-lo’. Repeti tudo por quatro vezes. Ele era enfático ao dizer: ‘não, não disse que não faria, disse que não poderia fazê-lo”.[4]
Certa vez um pastor de uma denominação que apoia os ensinos de Kenneth E. Hagin me ofereceu tal livro. Eu era ainda um novo convertido e como na época eu não podia comprá-lo não levei. Na ocasião ele apenas comentou que algumas pessoas não concordavam com este livro porque o autor narrava experiências de ter visto e andado com Jesus, mas parece que não era apenas isso.
Como um bom cristão familiarizado com as Escrituras, aceitaria um ensino em que Jesus não expulsou um demônio não porque não quis, mas porque não pôde? Ou será que Hagin teria mais autoridade que Jesus para tal ato?
Uma vez que Hagin é um dos precursores do movimento discutido neste capítulo, é interessante comentar que ele não teve nenhum treinamento teológico formal. Conforme relata o Dr. Alan B. Pieratt “ele nunca estudou os pais da igreja, nem os reformadores, nunca teve de prestar um exame de teologia sistemática ou fazer uma lista das regras básicas de herme­nêutica. Pelo contrário, Hagin afirma ter superado a necessidade de tal treinamento. À semelhança do apóstolo Paulo, ele diz que nenhum homem lhe ensinou sua doutrina, uma vez que ele a recebeu diretamente de Cristo. (Em contraste com isso, temos Paulo, que, antes de se converter, era um rabino judeu altamente treinado)”.[5]
A importância dessa informação se dá em função da justificação de seus ensinos. Ora, se o que ele aprendeu veio diretamente de Jesus, então não se pode discordar do que ele prega, pois é “revelação direta do Alto”.
Como disse Zibordi, “numa época em que super-pregadores visitam o ‘céu’, e falam diretamente com ‘Deus Pai’, ‘Jesus’, ‘Paulo’, ‘Maria’, anjos, etc., ninguém precisa mais ler um livro tão ‘desatualizado’ como a Bíblia”.[6] Embora alguns cristãos achem tal comentário um exagero, não podemos deixar de verificar o vislumbre de muitos em favor da experiência em detrimento do que diz a Bíblia.

Compreendendo a Confissão Positiva

Embora nosso objetivo nesta obra não seja esgotar o assunto da Confissão Positiva, até porque já existem muitos materiais de excelente qualidade sobre o assunto, faz-se importante compreender os ensinos propagados pelos principais líderes desse movimento, pois é o que mais influencia as denominações evangélicas na atualidade.
Igrejas tradicionais e pentecostais às vezes sem perceber estão permitindo que temas abarrotados de controvérsias permeiem as doutrinas e a liturgia de seus cultos. Não obstante, os principais líderes do movimento G-12 no Brasil e no mundo (Renê Terra Nova, Valnice Milhomens, Robson Rodovalho e Castellanos) são influenciados e repassam ensinos caracterizados pela Confissão Positiva.
A expressão confissão positiva pode ser entendida na crença de que quando alguém confessa, libera, declara, expele ou pronuncia palavras ou promessas bíblicas de forma positiva e exercendo a fé as coisas acontecem conforme o que se diz.
O contrário também se faz verdade para tal movimento. Acredita-se que a palavra negativa tem poder para amaldiçoar ou até mesmo paralisar a vida de alguém.
Assim sendo, se uma pessoa que estiver ansiosa para que algo se concretize em sua vida, disser que não vê a hora para que isso se realize, estará simplesmente paralisando o andamento do que está buscando, pois está confessando uma palavra negativa e que possui poder.
A expressão confissão positiva, portanto, pode ser entendida na crença de que a palavra liberada tem poder tanto para abençoar quanto para amaldiçoar.
Mas não é só isso, há ainda outros aspectos que não podem deixar de ser abordados, dentre os quais podemos destacar a prosperidade financeira, a saúde perfeita, o triunfalismo, o movimento da fé e a supervalorização da revelação ou inspiração de seus líderes, que chamaremos de autoridade espiritual. Isto posto, seguiremos doravante analisando a cada um destes aspectos.

Autoridade Espiritual

A autoridade espiritual ligada ao movimento da Teologia da Prosperidade ou Confissão Positiva pode ser entendida em dois aspectos. O primeiro diz respeito às fontes de autoridade e o segundo a submissão à liderança.
Seus adeptos creem que a Bíblia é a inerrante e inspirada Palavra de Deus, mas não a única fonte de autoridade. Aqui é que começam os principais problemas do movimento, pois ao diferenciarem os vocábulos gregos logos e rhema, admitem que a revelação aos líderes possuem a mesma autoridade.
Para eles, logos é a Palavra de Deus escrita, ao passo que rhema é a palavra falada por revelação ou inspiração. A diferenciação dos dois vocábulos não encontra apoio na exegese bíblica. Para entender melhor o assunto, veja o capítulo 6 no tópico “Pelos frutos os conhecereis”.
Crendo, então, que a palavra “revelada” possui autoridade, não se aceita que haja discordância com os ensinos desses propagadores. É como se quem conferisse na Bíblia e detectasse que algum ensino está incoerente com as Sagradas Escrituras, estivesse então se rebelando contra o próprio Deus, pois se tem em estima e em maior valor a revelação extra-bíblica.
O perigo de tal situação é principalmente a dependência de novos convertidos aos escritos e mensagens apenas dos tais “profetas” da Confissão Positiva. Romeiro comenta algo semelhante acerca de Ern Baxter, um preletor que conheceu e conviveu com Kenyon:

Baxter estava engajado no Shepherding Movement, movimento que ensinava a necessidade de cada novo membro no grupo ter um líder espiritual, um discipulador, a quem contaria todos seus pecados, fantasias ou qualquer outro problema do passado e do presente. Chegava-se ao cúmulo de o discipulador poder decidir sobre a carreira, o curso na faculdade e até com quem o discípulo deveria se casar, tolhendo, assim, a liberdade cristã do novo membro e assumindo o papel do Espírito Santo em sua vida.[7]

Acredito que os dons do Espírito Santo estão em vigor na atualidade e que o Senhor usa pessoas para revelar e profetizar. Contudo, os dons espirituais são para edificação e não para continuar a revelação doutrinária da Igreja. Aqui é que muitas pessoas se confundem e acabam aceitando outros Evangelhos (Gl 1.8).
O estilo de discipulado de Baxter era praticamente o que se ensina no G-12. O novo convertido passa a ter um mentor, um discipulador, alguém a quem ele conta de tudo em sua vida. Em muitos ministérios, os líderes acabam entrando demais na vida de seus liderados. Conheci pessoas que contavam quantas relações sexuais mantinham por semana com seus cônjuges, além de prestarem contas das coisas mais absurdas. Já presenciei líderes impondo ao liderado não se casar com determinada pessoa. Certa feita, um pastor afirmou ter tido uma “revelação” de que deveria fechar todas as suas contas nas lojas, mantendo apenas conta bancária e repassou a seus discípulos que fizessem o mesmo.
Muitos seguiram tal exemplo sem realmente verificar se tal “revelação” possuía fundamento, se era realmente de Deus. Diziam que se Deus falou, está falado.
Aqui se manifesta o segundo aspecto da autoridade espiritual. Hagin tinha suas experiências como infalíveis e já usou de ameaças para quem não acreditasse nelas. Outro famoso conferencista internacional da Confissão Positiva, Benny Himm, por várias vezes já ameaçou aqueles que discordavam de seus ensinos controvertidos.
Não obstante, temos exemplos brasileiros, de pastores e “apóstolos” que possuem metralhadoras espirituais e que volta e meia disparam rajadas em suas orações. Além das metralhadoras espirituais, houve um caso de um revólver de verdade, através do qual um “apóstolo” deu tiro no diabo no meio do culto, como se fosse um ato profético.
Com revelações extra-bíblicas tidas com a mesma autoridade da Bíblia, muitas pessoas não buscam mais a verdade, que é a Palavra de Deus (Jo 17.17). Deixando de conhecê-la, tornam-se presas fáceis desses homens manipuladores e entregam-se a uma submissão cega aos líderes que supostamente são cheios da “autoridade espiritual”.
Deve ficar claro para os amados leitores, que a Bíblia já é completa. Não precisamos acrescentar nada ao Texto Sagrado. Através dela, temos revelações para viver em santidade e para qualquer área da nossa vida, afinal, “toda a Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente preparado para toda boa obra” (2 Tm 3.16,17).

Movimento da Fé

Outro aspecto a ser destacado na Teologia da Prosperidade é como os líderes influenciados pelos ensinos de Hagin extrapolam o significado de fé. Já me deparei com alguns ministros que interpretavam Hb 10.38 de forma equivocada.
Um deles, abandonou o trabalho secular, abriu um novo ministério, alugou um salão, comprou móveis e uma moto e investiu muito dinheiro nesta empreitada. Quando questionado sobre como pagar tantas contas, sua resposta foi que o justo viverá pela fé. “Mas quem vai pagar as dívidas?” Perguntaram-lhe. E ele respondeu que era o Senhor.
Infelizmente, alguns meses depois ele estava super endividado e acabou perdendo a moto, passando pela humilhação da concessionária buscá-la em sua própria casa.
Muitas pessoas não conseguem compreender o que é fé e exageram no conceito. Se uma pessoa tem os pés no chão e usa da inteligência que foi concedida pelo Pai celestial para planejar-se com mais cautela, acaba sendo taxada como alguém que não tem fé.
Jesus declarou algo interessante a respeito: “Pois qual de vós, querendo edificar uma torre, não se senta primeiro a calcular as despesas, para ver se tem com que a acabar? Para não acontecer que, depois de haver posto os alicerces, e não a podendo acabar, todos os que a virem comecem a zombar dele, dizendo: Este homem começou a edificar e não pode acabar. Ou qual é o rei que, indo entrar em guerra contra outro rei, não se senta primeiro a consultar se com dez mil pode sair ao encontro do que vem contra ele com vinte mil? No caso contrário, enquanto o outro ainda está longe, manda embaixadores, e pede condições de paz” (Lc 14.28-32).
A fé tem sido constantemente mensurada em meio às igrejas que trabalham com os preceitos da Confissão Positiva através da saúde, das posses materiais e da quantidade que alguém oferta.
Primeiramente, entendamos o que é fé. Segundo o autor da epístola aos hebreus a fé é “o firme fundamento das coisas que se esperam e a convicção das coisas que não se vêem” (Hb 11.1).
Ele complementa, ainda, que sem esta é impossível agradar a Deus (Hb 11.6). Para explicar melhor esse conceito, gostaria de usar Abraão, o pai da fé, como exemplo.
O capítulo 11 de Hebreus foi divido em 40 versículos e 30% deste capítulo é dedicado ao patriarca, através de 12 versículos que demonstram sua grandiosa fé.
Lemos em Gn 15.6 que Abrão creu no Senhor e que esta crença lhe fora imputada por justiça. Mas em que creu Abrão? Qual foi o objeto de sua fé nessa ocasião? Ele tinha cerca de 85 anos quando lhe veio a Palavra do Senhor em uma visão e Sarai aproximadamente 76. Ambos já eram avançados em idade e não havia nenhuma possibilidade de terem filhos, até porque Sarai era estéril.
Mesmo assim, o Senhor chama Abrão até o lado de fora da tenda e diz para olhar para o céu. Assim como as estrelas eram incontáveis, a descendência do patriarca também seria. Abrão não ficou perguntando e nem duvidou do que o Senhor havia lhe revelado.
Ele não podia ver o filho da promessa ali em seus braços, mas ainda assim creu. De acordo com o autor da carta aos hebreus, a fé é esta certeza, é essa crença de que algo que não vemos é certeiro. Ademais, a fé possui outro requisito. Deve passar pelo teste da esperança. O apóstolo Paulo diz que a esperança em algo que se vê não é esperança, pois como alguém espera algo que vê? (Rm 8.24).
Repare que Abrão não precisou provar sua fé através de grandes ofertas, de atos insanos ou atitudes descontroladas, ele simplesmente creu naquilo que Deus havia dito.
Acreditou que mesmo vivendo em uma circunstância de impossibilidade, o Deus Todo-Poderoso cumpriria Sua promessa e faria de um único homem idoso e de uma única mulher estéril, pais de uma geração incontável e numerosa. Foi essa fé que o Senhor imputou como justiça a Abrão.
O que dizer do centurião de Cafarnaum? Primeiramente ele reconheceu que não era digno de receber o Messias em sua casa, mostrando assim grande humildade, mas o que deixou o Mestre maravilhado não foi isso, mas a crença do militar em que não era necessária a presença de Jesus em sua casa para efetuar a cura.
Ele acreditou que apenas pela palavra de Cristo, o milagre poderia acontecer. Ele não precisou levantar nenhuma oferta financeira alta e nem doar nada em favor de seu servo. Apenas acreditou que Jesus tinha poder para curar e pronto. Essa atitude rendeu-lhe os seguintes comentários: “(Jesus) disse aos que o seguiam: Em verdade vos digo que a ninguém encontrei em Israel com tamanha fé” (Mt 8.10).
Não podemos negar que seja positivo o exercício de nossa fé, até porque sem esta, será impossível agradar a Deus. Todavia, não podemos confundir a fé na existência de um Deus vivo, Todo-Poderoso, santo, amoroso, justo, benigno e galardoador, com um negociante mercenário que coloca seus filhos a prova, barganhando bênçãos espirituais através de ofertas financeiras.
A fé é mensurada por Deus, mas não em função da quantidade que ofertamos em um culto. A maior fé encontrada em Israel foi de um gentio que tão somente acreditou em algo que não via, mas que tinha certeza que aconteceria, além de ter esperança convicta no poder de Jesus sobre a enfermidade.

O Poder da palavra

Expressões como “tome posse da bênção” são comuns nas igrejas, mas sua origem está no movimento da fé, a confissão positiva. É comum ouvirmos pregadores conclamarem os ouvintes a não duvidarem da mensagem profética e tomarem posse da sua bênção.
Não há problema em crermos na conquista de algo que aspiramos, não há mal algum em apossar a bênção de Deus para nossas vidas. Deus disse a Moisés que quando o povo atravessasse o Jordão, tomaria a terra em possessão (Nm 33.53).
Josué encorajou o povo a “tomar posse da terra” (Js 1.11). O problema está em acreditar que pelo fato de declarar essas palavras, como num “abracadabra” evangélico, confessando e determinando a vitória, as bênçãos de Deus chegarão.
Dentre o arsenal de versículos isolados que os teólogos da prosperidade utilizam, o mais comum para defender o poderio da palavra falada é Pv 18.21: “A morte e a vida estão no poder da língua; e aquele que a ama comerá do seu fruto”.
De fato, o que falamos traz consequências. Quantas pessoas já desejaram voltar no tempo e desfazer algumas palavras que disseram no ímpeto? Contudo, o que Salomão diz no provérbio citado acima não é que tudo o que eu disser será profético e sim que precisamos ser cautelosos com o que falamos, pois podemos ofender alguém ou falar algo desnecessário.
A maneira que me dirijo, por exemplo, ao meu filho para ensinar uma atividade escolar, pode levá-lo a motivação ou desmotivação. Se ele não entender o exercício e pacientemente ajudá-lo, encorajando-o a se esforçar, o resultado será um.
Entretanto, se xingá-lo e aos berros dizer palavras de ofensa, estarei criando um ambiente de desconfiança e desestrutura familiar. As palavras não serão proféticas, mas reflexo de dentes como lanças e flechas e de uma língua como espada afiada (Sl 57.4).
Participei de um congresso da visão celular na cidade de Juiz de Fora no ano de 2006. Naquela ocasião, um dos apóstolos do MIR foi o preletor e a mensagem foi justamente sobre o poder da palavra.
Segundo o pregador, quando dizemos que não vemos a hora de comprar um carro, por exemplo, nunca compraremos, pois estamos fazendo uma “confissão negativa”, liberando uma palavra profética com poder para amaldiçoar.
Outros pregadores ensinam que quando vamos orar a Deus, devemos especificar detalhadamente o que desejamos. O pastor Paul Yonggi Cho ensinou algo semelhante em um de seus livros, após pedir em oração uma escrivaninha, uma cadeira e uma bicicleta e não recebê-los. Segundo ele, o Senhor o respondeu assim:
Sim, esse é o seu problema, o problema de todos os meus outros filhos. Imploram exigindo todo o tipo de coisas, mas o fazem com termos tão vagos que não posso responder. Será que você não sabe que há dezenas de tipos de escrivaninhas, cadeiras e bicicletas? Mas você simplesmente pediu-me uma escrivaninha, uma cadeira e uma bicicleta. Não pediu uma escrivaninha específica, nem uma cadeira nem uma bicicleta específicas.[8]
Assim sendo, Cho pediu perdão pela oração sem detalhes suficientes para Deus e orou novamente dizendo que queria uma escrivaninha feita de mogno das Filipinas, uma cadeira de aço com rodinhas e uma bicicleta fabricada nos Estados Unidos, com algumas marchas. Diz ainda que, encomendou essas coisas em termos tão específicos que “Deus não poderia cometer erro algum em entregá-las”.[9] Infelizmente, fica para alguns uma imagem de um Deus mais semelhante ao “papai Noel” do que o Todo-Poderoso da Bíblia.
Um dos precursores da confissão positiva, Keneth E. Hagin, fez uma interpretação um tanto peculiar de Jo 14.13,14, a fim de mostrar que devemos pela nossa palavra, tomar posse da bênção:
A palavra ‘pedir’ também significa ‘exigir’. ‘E tudo quanto exigirdes em Meu nome, isso [Eu, Jesus] farei’. Um exemplo disto é registrado no terceiro capítulo de Atos, quando Pedro e João estavam à Porta Formosa. Já demonstramos que Pedro sabia que tinha algo para dar quando disse ao aleijado: ‘Não possuo nem prata nem ouro, mas o que tenho, isso te dou’. Então Pedro disse: ‘Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, anda!’ Pediu, ou exigiu, que o homem se levantasse em nome de Jesus.[10]
Não vou gastar muito para refutar esse ensino, o Dr. Paulo Romeiro fez uma explicação brilhante em sua obra “Supercrentes”. Mas uma coisa vale a pena comentar: alguém já viu algum mendigo pedindo, ou melhor exigindo, uma esmola, como sugere Hagin na passagem de At 3? O Missionário R.R. Soares conta em um de seus livros como foi influenciado por Hagin e repassa os ensinos importados da seguinte forma:
Mas, quando aprendi o método correto de viver da fé, toda a minha vida e o meu ministé­rio mudaram da água para o vinho. Resumindo tudo o que aprendi, eu descobri: Não precisamos mais pedir.Só determinar, exigir, ou seja: Tomar Posse da Bênção (…) Agora, assuma a sua autoridade em Cristo e, em Nome de Jesus, exija a sua bênção”[11].
Faz-se necessário comentar que não tenho nada contra a pessoa do missionário, nosso objetivo nesta obra é analisar os ensinos e não as pessoas. Outra coisa importante é que, Hagin e Soares não são representantes do G-12 e sim do movimento da Teologia da Prosperidade, o qual tem influenciado não apenas denominações do sistema gedozista, mas várias igrejas no Brasil e no mundo.
Todavia, não podemos descartar a necessidade de analisar como tais ensinos são propagados pelos representantes do G-12, M-12 e simpatizantes. Assim sendo, prosseguiremos observando outros aspectos da controvertida Teologia da Prosperidade.

Triunfalismo

Desde os primórdios da Igreja, os Apóstolos refutaram várias seitas e heresias que se levantaram em meio ao arraial Primitivo. Dentre elas, podemos destacar os legalistas, combatidos por Paulo em sua epístola aos gálatas e alvo do concílio de Jerusalém (Gl 5.1-9; At 15.1-29); os nicolaítas seguidores de Nicolau (alguns especulam ser um dos diáconos escolhidos em At 6.5, mas não se tem certeza) os quais ensinavam não haver problemas em comer comidas sacrificadas a ídolos e a viver em fornicação (At 2.6,14,15); semelhantemente, ensinos de uma pseudo-profetisa, Jezabel, que seduzia alguns para a prostituição e para comer comidas sacrificadas a ídolos (Ap 2.20,21); o gnosticismo, que pregava um exclusivismo privilegiado de alguns para com um conhecimento secreto, além de misturar fontes místicas e negar a natureza humana de Cristo (1 Jo 4.1-3); os falsos Apóstolos, que se auto intitulavam para o ministério, mas foram achados por mentirosos (Ap 2.2); e, ainda, mercadores da Palavra de Deus, homens sem escrúpulos e que se aproveitavam da fé alheia, falsificando a verdadeira fé e tendo a piedade como fonte de lucro (2 Pe 2.1-3; 1 Tm 6.3-10).
Essa comercialização da fé já existia, mas evoluiu na mesma proporção que a tecnologia e a ciência humana. Criticar a ICAR pelas indulgências já não adianta mais. Hoje, muitos tele-evangelistas e mega igrejas “evangélicas” estão praticando o mesmo através das campanhas triunfalistas, baseadas em atos heroicos de bravos homens do Antigo Testamento.
Já ouviu falar de campanhas do tipo “derrubando as muralhas de Jericó”, “saindo do ventre do peixe”, “derrotando gigantes”, “semana do sopro ungido”, “campanha dos trocentos pastores”, “caravanas especiais a Israel”, etc, etc, etc? Não me refiro a campanhas sérias de oração, promovidas por ministério sérios e sim a grupos em que a simonia é evidente.
Há alguns dias fiquei sabendo de uma campanha em que foram feitos alguns bonecos de três metros de altura, simbolizando Golias. Esse boneco tinha um buraco no meio do peito e a pessoa que queria derrubar o gigante que perturbava sua vida deveria comprar uma pedra em valores variados e arremessar nesse buraco, a fim de vencer a adversidade que vivia.
Imagine só, você entra na igreja e escuta o pastor dizendo algo mais ou menos assim: “Deus não precisa do seu dinheiro, o valor dessa pedra não é simplesmente para doar a Deus, mas um ato de fé. Pela fé é que os antigos alcançaram testemunhos. Sem fé é impossível agradar a Deus. Aquele que recua a minha alma não tem prazer nele. Quem é que pode comprar aqui? São apenas R$ 1.000. Vamos lá, pela fé. Vamos derrubar o gigante que está assolando sua vida…”.
Bem, pode ser que alguns termos não lhe sejam familiares. Então para facilitar seu entendimento, vamos compreendê-los. O que é triunfalismo e o que é simonia?
O primeiro é uma atitude de confiança absoluta ou excessiva no sucesso. Os evangelistas triunfalistas são aqueles que sugerem através de técnicas psicológicas a doação de ofertas gordas através da fé, induzindo as ovelhas despreparadas a barganhar uma vitória, ou até mesmo a aquisição de objetos místicos para conceder a bênção pelo o que se busca (copos com água, anéis, flores, lenços, pedras ou areia da terra santa, meias, canetas, dentre vários itens supostamente “ungidos”).
Já o segundo termo, procede do nome Simão, o mágico de Samaria que intentou comprar o dom do Espírito Santo (At 8.18-21). Ele achou que poderia comprar coisas espirituais com coisas naturais. Os profetas e evangelistas do triunfalismo lançam mão de técnicas da psicologia para tocar a emoção das pessoas e também de interpretações descontextualizadas da Bíblia, com uma péssima hermenêutica (ciência da Teologia que ensina os métodos de interpretação da Bíblia).
Uma das ferramentas para a interpretação bíblica é a chamada exegese. O vocábulo exegese significa “exposição, explicação”.  É uma ferramenta de interpretação de dentro para fora. Na era hodierna da Igreja, os líderes triunfalistas são especialistas em fazer o contrário da exegese, o que é chamado de eisegese, uma interpretação peculiar e tendenciosa de um texto bíblico vem de fora para dentro.
A ser­pente, no Éden, argumentou com Eva algo que Deus não havia falado: “É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim?” (cf Gn 2.16,17; 3.1). Da mesma forma satanás citou fora do contexto o salmo 91.11 (Mt 4.5,6) quando tentou a Cristo no deserto. Isso é o que se denomina de eisegese. Segundo Esdras Bentho,[12] o intérprete que pratica a eisegese, a faz das seguintes formas:
1) Quando força o texto a dizer o que não diz. O intérprete está cônscio de que a interpretação por ele asseverada não está condizente com o texto, ou então está inconsciente quanto aos objetivos do autor ou do propósito da obra. Entretanto, voluntária ou involuntariamente, manipula o texto a fim de que sua loquacidade possa ser aceita como princípio escriturístico.
2) Quando ignora o contexto, sob pretexto ideológico. Ignorar o contexto é rejeitar deliberadamente o processo histórico e lingüístico que deu margem ao texto. O intérprete, neste caso, não examina com a devida atenção os parágrafos pré e pós-texto, e não vincula um versículo ou passagem a um contexto remoto ou imediato. Uma interpretação que ignora e contraria o contexto não deve ser admitida como exegese confiável.
3) Quando não esclarece um texto à luz de outro. Os textos obscuros devem ser entendidos à luz de outros e segundo o propósito e a mensagem do livro. Recorrer a outros textos é reconhecer a unidade das Escrituras na correlação de idéias. Por vezes, pratica-se eisegese por ignorar a capacidade que as Escrituras têm de interpretar a si mesmo.
4) Quando põe a ‘revelação’ acima da mensagem revelada. Muitos intérpretes colocam a pseudo-revelação acima da mensagem revelada. Quando assim asseveram, procuram afirmar infalibilidade à sua interpretação, pois Deus, que ‘revelou’, autor principal das Escrituras, não pode errar. Devemos ter o cuidado de não associar o nome de Deus a mentira.
5) Quando está comprometido com um sistema ou ideologia. Não são poucos os obstáculos que o exegeta encontra quando a interpretação das Escrituras afeta os cânones doutrinários e as tradições de sua denominação. Por outro lado, até as ímpias religiões e seitas encontram falsas justificativas bíblicas para ratificar as suas heresias. Kardec citava a Bíblia para defender a reencarnação! Muitos movimentos sectários torcem as Escrituras. Utilizar as Escrituras para apologizar um sistema ou ideologia pode passar de uma eisegese para uma heresia aplicada.

Saúde Perfeita

Outra característica muito comum dos profetas da Teologia da Prosperidade, é a crença de que temos direito a gozar de saúde perfeita. Comumente Is 53.4,5 é usado para defender essa tese.
Vejamos o que está escrito na passagem citada: “Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e carregou com as nossas dores; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e esmagado por causa das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados”.
A passagem é normalmente interpretada como uma conquista de Jesus para todo cristão. Dizem os “teólogos da prosperidade” que Ele já nos curou, por isso, não podemos em hipótese alguma aceitar enfermidade em nossa vida. Se Cristo já nos deu a cura, não precisamos mendigar o que já é nosso por direito, devemos exigir, determinar e assim tomar posse da cura que já é nossa.
Essa crença já trouxe muitos problemas no passado, pois alguns líderes chegaram a pregar contra consultas médicas e uso de remédios. Romeiro relata em seu livro “Supercrentes” alguns ensinos problemáticos. Dentre eles, um pastor pregou que Deus promete dar partos normais às mulheres baseado em Êxodo 23.26 e Deuteronômio 28.4-22.  Esse mesmo pastor declarou que toda enfermidade procede do diabo. Romeiro conta, ainda, algumas tragédias:
…esta doutrina tem causado muitos danos. Trata-se também de um ensino que tem levado até pessoas à morte, como veremos a seguir. Há nos Estados Unidos um livro intitulado We Let Our Son Die (Deixamos Nosso Filho Morrer, publicado pela Harvest House, 1980), que relata o drama de Wesley Parker, diabético, dependendo assim da insulina para sobreviver. Depois de receber oração para ser curado, seus pais não permitiram mais que tomasse a insulina, o que provocou a sua morte em 23 de agosto de 1973. Com isso, seus pais tiveram que responder à justiça norte-americana (…) O ministério das igrejas Maná, liderado pelo pastor Jorge Tadeu, não tem escapado das críticas da imprensa em Portugal. O jornal Tal & Qual, na edição de 30 de agosto a 5 de setembro de 1991, faz uma séria denúncia, na primeira página, sobre as circunstâncias que levaram ao falecimento do pequeno Nelson Marta, de oito anos, ocorrido em 13 de maio de 1991 (…) O jornal conta que ‘o garoto era paralítico de nascença e sofria de problemas respiratórios e pulmonares. A mãe, Margarida Maria Pita Marta, aproveitou a ausência do marido, emigrado na Suíça, para se converter à Igreja Maná, esperançada em que o filho iria ficar melhor. Os medicamentos foram retirados à criança — que acabaria por sucumbir algum tempo depois no Hospital Distrital de Beja.[13]
A pesquisadora de religiões, Mary Schultz, mostra a incoerência de tais ensinos através da própria morte dos homens mais famosos da teologia da prosperidade:
1.       W. Kennyon faleceu vitima de um tumor maligno.
2.       John Wimber e seu filho Chris morreram de câncer.
3.       A . A. Allen morreu de alcoolismo.
4.       John Lake morreu de um colapso.
5.       Gordon Lindsey morreu do coração.
6.       O cunhado de Kenneth Hagin morreu de câncer.
7.       O mesmo aconteceu à sua irmã
8.       Sua esposa foi operada e o próprio Haigin usou óculos até morrer.
9.       Kathryn Khulmann morreu do coração.
10.     Daisy Osborne morreu de câncer, jurando que havia sido curada.
11.     Jamie Buckingham morreu de câncer.
12.     Fred Price conseguiu uma quimioterapia para a sua esposa.
13.     John Osteen procurou ajuda médica para curar o câncer da esposa.
14.     A esposa de Charles Capps fez tratamento médico de câncer.
15.     Mack Timberlake está se tratando de um câncer na garganta.
16.     R. W. Shambach fez quatro pontes safenas.
17.     O Profeta Keith Greyton morreu de AIDS. [14]
Estar enfermo tornou-se sinônimo de pecado ou falta de fé. Precisamos tomar cuidado com ensinos desse tipo. Temos exemplos bíblicos de pessoas que estiveram enfermas e nem por isso estavam vivendo em pecado ou em falta de fé.
O que dizer de Jó? O que dizer do rei Ezequias? A orientação para a cura de sua úlcera era um tratamento médico, por uma pomada, isto é, uma pasta de figo (2 Rs 20.7). O que dizer de Timóteo, que tinha algum problema estomacal? Enfim, precisamos estar mais atentos ao que a Bíblia diz e embasar nossa fé na sã doutrina.

Prosperidade Financeira

Semelhantemente à interpretação de Isaías 53.4.,5, os teólogos da prosperidade usam do mesmo raciocínio para interpretar 2 Co 8.9: “pois conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, por amor de vós se fez pobre, para que pela sua pobreza fôsseis enriquecidos”.
Partindo desse pressuposto, a prosperidade financeira seria então um direito a todo cristão, algo já conquistado na obra expiatória e que podemos não apenas pedir, mas exigir, determinar. Rhodes e Geisler explicam esse versículo (2 Co 8.9) na obra “Resposta às Seitas”:

Se Paulo pretendesse dizer que a prosperidade está incluída na expiação, estaria oferecendo aos coríntios algo que ele mesmo não possuía naquela ocasião. Na verdade, em 1 Coríntios 4.11, Paulo informou a esses mesmos indivíduos que ele sofria ‘fome e sede’, ‘nudez’ e que ‘não possuía morada certa’. Ele também exortou os coríntios a que fossem imitadores de sua vida e ensino (1 Co 4.16). Em 2 Coríntios 8.9, parece claro que Paulo estava se referindo à prosperidade espiritual, e não à financeira. Isso está em conformidade tanto com o contexto imediato de 2 Coríntios, como também com o contexto mais amplo dos outros escritos de Paulo. Se a prosperidade financeira estivesse incluída na expiação, por exemplo, deveríamos imaginar porque Paulo informou aos cristãos filipenses que ele havia aprendido a estar contente mesmo tendo fome (Fp 4.11,12). Alguém poderia pensar que ele pudesse , ao invés disso, reivindicar a prosperidade prometida na expiação para satisfazer todas as suas necessidades.[15]
Antes de prosseguir, gostaria de analisar alguns ensinos. Kenneth Copeland, baseado em Mc 10.21, afirma que, recebera de Deus uma revelação acerca de uma promessa monetária. Segundo ele, “esta foi a maior oportunidade de negócio já oferecida ao jovem, mas ele a recusou por desconhecer o sistema financeiro divino”.
Segundo Copeland, se o jovem tivesse semeado sua fortuna, teria uma colheita sem precedentes. Vejamos o que está escrito na passagem do jovem rico, citada acima: “E Jesus, olhando para ele, o amou e lhe disse: Uma coisa te falta; vai vende tudo quanto tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, segue-me”.
Somente o fato de Jesus dizer ao jovem que o tesouro que ele receberia não era terreno e sim celestial, já derruba tal pensamento. De fato, essa foi a melhor oportunidade, mas não de negócio, pois não era um investimento da bolsa de valores, que rende determinada porcentagem. O jovem rico entendeu muito bem o que o Mestre queria dizer, por isso entristeceu-se, “porque possuía muitos bens” (Mc 10.22b). Ele sabia que a proposta de Jesus era abrir mão de suas posses, de sua riqueza e segui-Lo e não dar uma sementinha de fé.
Em concordância com esse ensino, Jesus também disse em Mt 6.19-21: “Não ajunteis para vós tesouros na terra; onde a traça e a ferrugem os consomem, e onde os ladrões minam e roubam. mas ajuntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem os consumem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração”.
Já ouvi pregadores defenderem que o cristão tem direito a receber cem vezes mais ainda nesta vida. De fato, Jesus disse isso, mas não dessa forma. Essa frase foi dita após a retirada do jovem rico, com o intuito de encorajar os discípulos, pois como o jovem se entristeceu pela proposta, o Mestre disse aos seus discípulos: “Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas! É mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico no reino de Deus” (Mc 10.23,25b).
Ouvindo isso, eles ficaram perplexos e perguntavam-se entre si quem poderia, afinal, ser salvo. Mas Jesus mostrou que “ninguém há, que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou mãe, ou pai, ou filhos, ou campos, por amor de mim e do evangelho, que não receba cem vezes tanto, já neste tempo, em casas, e irmãos, e irmãs, e mães, e filhos, e campos, com perseguições; e no mundo vindouro a vida eterna” (Mc 10.29,30).
Assim sendo, receber cem vezes mais nesta vida não diz respeito a posses e bens materiais, mas a uma grande família de cristãos, de pessoas que fazem a vontade de Cristo, que passam a serem esses sim, nosso pai, nossa mãe, nosso irmão e nossa irmã (Mt 12.47-50)
Está cada vez mais comum campanhas e mais campanhas sobre prosperidade, cultos para empresários, etc. Sem contar a moda dos “grandes evangelistas” possuírem jatinhos. Certa vez ouvi um pregador dizer que Jesus não andou em carro de segunda mão e sim em carro zero, referindo-se ao jumentinho da entrada triunfal.
O que os teólogos da prosperidade se esquecem é que o jumentinho era um meio de transporte humilde para aquela época. Se Jesus quisesse “aparecer”, entraria com uma bela carruagem dourada, com motorista particular e toda pompa.
Para encerrar este capítulo, gostaria de comentar uma mensagem do “paipóstolo” Renê Terra Nova. Sob o tema “O Leão Rugiu” e com bastante carisma, o “patriarca” pregou na Assembléia de Deus em Newark mais uma de suas façanhas da prosperidade. O vídeo está no youtube e vou transcrever aqui um trecho:
A Bíblia diz que quem vai a Jerusalém, traz uma nuvem de prosperidade.Você sabe o que é alguém voltar pra casa com uma nuvem de prosperidade na cabeça? Quem queria essa nuvem aí sobre a sua cabeça? Aí você pode dizer assim, ‘mas eu não fui não em Jerusalém’. Aí, a Bíblia também diz: ‘se você enviou alguém que foi por você, você tem direito à mesma chuva e à mesma prosperidade dessa pessoa.[16]
Sinceramente não sei o que é pior nessa mensagem, se o Terra Nova dizendo que a Bíblia diz algo que não diz ou se os irmãos da AD em Newark dando glória a Deus depois do “patriarca” dizer isso. Onde estaria escrita essa passagem? Será que não está na segunda carta do Apóstolo Renê aos manauaras? Segundo algumas fontes, o texto em que se apoia tal ensino está em Zc 14.17-19. Vejamos o que está escrito:
Zc 14.17-19 – “E se alguma das famílias da terra não subir a Jerusalém, para adorar o Rei, o Senhor dos exércitos, não cairá sobre ela a chuva. E, se a família do Egito não subir, nem vier, não virá sobre ela a chuva; virá a praga com que o Senhor ferirá as nações que não subirem a celebrar a festa dos tabernáculos. Esse será o castigo do Egito, e o castigo de todas as nações que não subirem a celebrar a festa dos tabernáculos”.
Zacarias era da tribo sacerdotal (Ne 12.4,6), e veio da Babilônia ainda jovem com Zorobabel e Josué. Ele principiou a sua missão de profeta dois meses depois de Ageu (Ed 5.1 e 6.14 – Ag 1.1), mais ou menos no segundo ano de Dario e continuou a profetizar durante dois anos (Zc 7.1). Ao seu zelo e ao de Ageu se deve, em grande parte, a reedificação do templo (Ed 5.1 – 6.14).
O objetivo imediato de Zacarias era animar os judeus na restauração do culto público. Suas profecias alcançam “o tempo dos gentios”, mas a história do povo escolhido ocupa em Zacarias o centro das suas predições.
O livro pode ser dividido em três seções: 1) Do capítulo 1 ao 6, contém uma série de oito visões que teve o profeta no segundo ano de Dario, e eram reveladoras das dispensações da Providência com respeito aos judeus e às nações que os tinham oprimido; 2) os capítulos 7 e 8 encerram profecias sobre a prosperidade futura dos judeus, no engrandecimento de Jerusalém, entremeadas de avisos e exortações; 3) Os seis capítulos restantes (9 ao 14) contêm uma série de predições, revelando a futura história do povo de Deus desde esse período até ao fim do mundo.
Nessas profecias acham-se intercaladas muitas outras referentes à pessoa, caráter, e obra do Messias, à promulgação do Evangelho, à chamada dos gentios, e à glória final e bem-aventurança da igreja de Deus, unindo judeus e gentios numa santa comunidade, debaixo da direção do grande Sumo-Sacerdote e Rei.
Poderíamos dizer que nos 8 primeiros capítulos o profeta se preocupa principalmente com os acontecimentos contemporâneos, particularmente a reconstrução do templo, enquanto que, nos seis últimos (9-14), ele trata de eventos futuros, tais como a vinda do Messias e a glória de Seu reino. Naturalmente, portanto, a primeira divisão segue o estilo histórico, ao passo que a última é apocalíptica.
Tal passagem não faz nenhuma alusão ao pensamento de Terra Nova. Se isso fosse verdade, teríamos a solução mundial no combate à fome e à pobreza. Que tal fazermos uma vaquinha e levarmos alguns povos a Jerusalém? Que tal levarmos pessoas do Vale do Jequitinhonha, do nordeste brasileiro, de nações africanas, da Índia e de outros lugares?
Em outra mensagem, o “apóstolo” prega sobre uma tal de Unção de Riqueza e Prosperidade e defende que os judeus possuem tal unção. Como exemplo de pessoas que tinham essa bênção celestial, ele cita os filósofos Aristoteles, Platão e Socrátes, o matemático René Descartes e o inventor Thomas Edison. Segundo Renê todos esses homens eram judeus.[17] É estranho como as pessoas entram em êxtase de glórias a Deus com informações como essas, pois nenhum desses homens eram judeus. Os filósofos eram gregos, Descartes é francês e Edison, Norte-Americano.
Nesta mesma mensagem, Renê fala a mesma coisa sobre ir a Jerusalém para prosperar, mas no final da pregação ele conclama os ouvintes a se prepararem para a maior caravana que já fez a Israel, saindo do Acre e de Rondônia. Acredito que com uma motivada dessa fica mais fácil encher a viagem, afinal, quem vai a Jerusalém traz uma nuvem de prosperidade. Não estaria aí, a solução para fome e a miséria do planeta? Vamos enviar as pessoas à Terra Santa!!
Os bens materiais não são proibidos aos cristãos, muitos homens de Deus na Bíblia Sagrada foram donos de grandes posses. Quando Jesus aborda o jovem rico e diz aos discípulos que é difícil um rico entrar no Reino de Deus, é porque a confiança dessas pessoas muitas das vezes, acaba se dirigindo às riquezas e não a Deus. Precisamos estar atentos aos ensinos paulinos, os quais seguem abaixo para nossa meditação:
1 Tm 6.3-12 – “Se alguém ensina alguma doutrina diversa, e não se conforma com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, e com a doutrina que é segundo a piedade, é soberbo, e nada sabe, mas delira acerca de questões e contendas de palavras, das quais nascem invejas, porfias, injúrias, suspeitas maliciosas, disputas de homens corruptos de entendimento, e privados da verdade, cuidando que a piedade é fonte de lucro; e, de fato, é grande fonte de lucro a piedade com o contentamento. Porque nada trouxe para este mundo, e nada podemos daqui levar; tendo, porém, alimento e vestuário, estaremos com isso contentes. Mas os que querem tornar-se ricos caem em tentação e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, as quais submergem os homens na ruína e na perdição. Porque o amor ao dinheiro é raiz de todos os males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores. Mas tu, ó homem de Deus, foge destas coisas, e segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a constância, a mansidão. Peleja a boa peleja da fé, apodera-te da vida eterna, para a qual foste chamado, tendo já feito boa confissão diante de muitas testemunhas
[1] PIERATT, Alan. O Evangelho da Prosperidade. Edições Vida Nova. São Paulo, 1993, p. 21.
[2] SOARES, Esequias. Heresias e Modismos. CPAD. Rio de Janeiro, 2010, p. 306.
[3] ROMEIRO, Paulo. Supercrentes. Mundo Cristão. São Paulo, 1996, p. 10.
[4] HAGIN, Kenneth E. A Autoridade do Crente. Graça Ediorial. Rio de Janeiro, 1987, p. 37, 38.
[5] PIERATT, Alan. O Evangelho da Prosperidade. Edições Vida Nova. São Paulo, 1993, p. 23.
[6] ZIBORDI, Ciro Sanches. Mais Erros que os Pregadores Devem Evitar. CPAD. Rio de Janeiro, 2007, p. 149, 150.
[7] ROMEIRO, Paulo. Supercrentes. Mundo Cristão. São Paulo, 1996, p. 8.
[8] CHO, Paul Yonggi. A Quarta Dimensão. Vida. São Paulo. 1980, p. 19.
[9] Ibid., p. 20.
[10] Kenneth E. Hagin, O Nome de Jesus. Graça Editorial. Rio de Janeiro, 1988, p. 70.
[11] SOARES, R.R. Como Tomar Posse da Bênção. Graça Editorial. Rio de Janeiro. 2004, p. 11,12.
[12] BENTHO, Esdras Costa. Hermenêutica fácil e descomplicada. CPAD. Rio de Janeiro, 2005, p. 69-72.

[13] ROMEIRO, Paulo. Supercrentes. Mundo Cristão. São Paulo, 1996, p. 34,35.
[14] SCHULTZE, Mary. O final Infeliz dos Líderes da Prosperidade. Disponível em: http://www.maryschultze.com/articles.php?article_id=133. Acesso em 20 de Setembro de 2011.
[15] RHODES, Ron; GEISLER, Norman. Resposta às Seitas. CPAD. Rio de Janeiro. 1997, p. 399.

[16] NOVA, Renê Terra. O Leão Rugiu. Pregação na Assembléia de Deus em Newark. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=LQ1hFJCpqpY. Acesso em 21 de Setembro de 2011.
[17] NOVA, Renê terra. Mensagem postada no youtube. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=4rXf8lzbsv8&feature=related. Acesso em 21 de Setembro de 2011.
Extraído do livro “A Verdade Sobre o G12″, Couto

 

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