O movimento
celular e a teologia da prosperidade
Histórico do
movimento
O
movimento da Teologia da Prosperidade é também conhecido por outras terminologias,
tais como “Palavra da Fé”, “Ensino da Fé” ou “Confissão Positiva”. Embora tudo
isso seja parte de um único pacote abordarei as principais características
desse movimento oriundo do neo-pentecostalismo, bem como analisarei sua
influência no G-12.
O
principal ícone desse movimento é Kenneth Hagin. Ele nasceu em 1918 prematuro
de alguns meses, o que lhe rendeu uma lesão congênita no coração que nunca foi
exatamente diagnosticada. Passou por momentos mais difíceis na adolescência
recebendo inclusive um diagnóstico de poucos dias de vida. Nesse período, ele
alega ter recebido várias visões, além de ter sido levado ao céu e ao inferno.
Nesse bojo de experiências, ele afirma ainda, ter recebido a revelação do
“verdadeiro” significado de Marcos 11.23,24.
Conforme relata o Dr. Alan Pieratt , “a
essência dessa revelação era que, para obter resultados da parte de Deus, o
fiel deve confessar em voz alta seus pedidos e nunca duvidar de que tenham sido
respondidos, mesmo que as evidencias físicas não indiquem que a oração foi
atendida. Uma vez feita a oração, o fiel deve afirmar constantemente a
resposta, até que surja a prova. Essa é, por certo, a essência daquilo que é
hoje ensinado como ‘confissão positiva’”.[1]
Segundo
o pastor Esequias Soares, o movimento remonta os dias de Hagin, tendo sido uma
adaptação das ideias do hipnotizador e curandeiro Finéias Parkhurst Quimby,
conhecido como pai das ciências cristãs.[2] Suas ideias eram desconexas com as
Sagradas Escrituras e defendia que o pecado, a enfermidade e a perturbação só
existem na mente das pessoas. Seu movimento ficou conhecido como “ciência
cristã” desde 1863.
Essa adaptação se deu através de Essek William Kenyon, que foi
influenciado por Charles Emerson, diretor daEmerson School of oratory e adepto dos ensinos de Quimby.
Assim, Kenyon passou a pregar a salvação e a cura em Jesus dando
ênfase em textos bíblicos que falam de saúde e prosperidade além de ensinar
sobre o poder do pensamento positivo. De acordo com o Dicionário dos Movimentos
Pentecostais e Carismáticos, os escritos de Kenyon “tornaram-se,
também, embrionário para o ministério de Kenneth Hagin, Kenneth Copeland, Don
Gossett, Charles Capps, e outros nos movimentos Palavra da Fé e Confissão
Positiva”.[3]
Kenyon
faleceu no dia 19 de Março de 1948 com a idade de 80 anos. Antes de sua morte,
encarregou sua filha Rute de continuar seu ministério e publicar seus escritos,
o que ela cumpriu fielmente. Mais tarde, alguém utilizaria as idéias e os
escritos de Kenyon para dar forma ao que viria a ser um dos maiores e mais
controvertidos movimentos dentro do corpo de Cristo da atualidade. Essa pessoa
é Kenneth Erwin Hagin.
Hagin
conta várias experiências em seus livros e muitas delas são questionáveis do
ponto de vista bíblico. Seu ministério foi marcado por visões e em um de seus
livros ele relata uma em que afirma ter visto Jesus no ano de 1952, quando
ensinava-o por um período de uma hora e meia acerca do diabo, demônios e
possessões demoníacas. De repente apareceu um espírito maligno que se assemelhava
a um macaquinho ou um duende que espalhava algo semelhante a uma fumaça, a fim
de atrapalhar a conversa.
Ele continua relatando que não conseguia ouvir o que Jesus
ensinava e tentava entender o porquê dEle não fazer nada para impedir aquela
situação, até que resolveu ele mesmo repreender o tal espírito. Depois que o
espírito maligno saiu, Hagin conta que pensava:”Por que Ele não fez nada? Por
que permitiu isso?”. Até que Jesus o olhou e respondeu: “Se você não tivesse tomado uma atitude a respeito, eu não poderia
fazê-lo”. Hagin prossegue contando sua experiência: “Ao ouvir isso tomei um verdadeiro choque – fiquei pasmo. Respondi:
‘Senhor, acho que não O ouvi direito! O que o Senhor disse é que não faria, não
foi?’ Ele respondeu: ‘Não. Se você não tivesse tomado nenhuma atitude, eu
também não poderia fazê-lo’. Repeti tudo por quatro vezes. Ele era enfático ao
dizer: ‘não, não disse que não faria, disse que não poderia fazê-lo”.[4]
Certa
vez um pastor de uma denominação que apoia os ensinos de Kenneth E. Hagin me
ofereceu tal livro. Eu era ainda um novo convertido e como na época eu não
podia comprá-lo não levei. Na ocasião ele apenas comentou que algumas pessoas
não concordavam com este livro porque o autor narrava experiências de ter visto
e andado com Jesus, mas parece que não era apenas isso.
Como um
bom cristão familiarizado com as Escrituras, aceitaria um ensino em que Jesus
não expulsou um demônio não porque não quis, mas porque não pôde? Ou será que
Hagin teria mais autoridade que Jesus para tal ato?
Uma vez que Hagin é um dos precursores do movimento discutido
neste capítulo, é interessante comentar que ele não teve nenhum treinamento
teológico formal. Conforme relata o Dr. Alan B. Pieratt “ele nunca estudou os pais da igreja, nem os reformadores, nunca
teve de prestar um exame de teologia sistemática ou fazer uma lista das regras
básicas de hermenêutica. Pelo contrário, Hagin afirma ter superado a
necessidade de tal treinamento. À semelhança do apóstolo Paulo, ele diz que
nenhum homem lhe ensinou sua doutrina, uma vez que ele a recebeu diretamente de
Cristo. (Em contraste com isso, temos Paulo, que, antes de se converter, era um
rabino judeu altamente treinado)”.[5]
A
importância dessa informação se dá em função da justificação de seus ensinos.
Ora, se o que ele aprendeu veio diretamente de Jesus, então não se pode
discordar do que ele prega, pois é “revelação direta do Alto”.
Como disse Zibordi, “numa época em que
super-pregadores visitam o ‘céu’, e falam diretamente com ‘Deus Pai’, ‘Jesus’,
‘Paulo’, ‘Maria’, anjos, etc., ninguém precisa mais ler um livro tão
‘desatualizado’ como a Bíblia”.[6] Embora alguns cristãos achem tal
comentário um exagero, não podemos deixar de verificar o vislumbre de muitos em
favor da experiência em detrimento do que diz a Bíblia.
Compreendendo a
Confissão Positiva
Embora
nosso objetivo nesta obra não seja esgotar o assunto da Confissão Positiva, até
porque já existem muitos materiais de excelente qualidade sobre o assunto,
faz-se importante compreender os ensinos propagados pelos principais líderes
desse movimento, pois é o que mais influencia as denominações evangélicas na
atualidade.
Igrejas
tradicionais e pentecostais às vezes sem perceber estão permitindo que temas
abarrotados de controvérsias permeiem as doutrinas e a liturgia de seus cultos.
Não obstante, os principais líderes do movimento G-12 no Brasil e no mundo
(Renê Terra Nova, Valnice Milhomens, Robson Rodovalho e Castellanos) são
influenciados e repassam ensinos caracterizados pela Confissão Positiva.
A
expressão confissão positiva pode ser entendida na crença de que quando alguém
confessa, libera, declara, expele ou pronuncia palavras ou promessas bíblicas
de forma positiva e exercendo a fé as coisas acontecem conforme o que se diz.
O
contrário também se faz verdade para tal movimento. Acredita-se que a palavra
negativa tem poder para amaldiçoar ou até mesmo paralisar a vida de alguém.
Assim
sendo, se uma pessoa que estiver ansiosa para que algo se concretize em sua
vida, disser que não vê a hora para que isso se realize, estará simplesmente
paralisando o andamento do que está buscando, pois está confessando uma palavra
negativa e que possui poder.
A
expressão confissão positiva, portanto, pode ser entendida na crença de que a
palavra liberada tem poder tanto para abençoar quanto para amaldiçoar.
Mas não
é só isso, há ainda outros aspectos que não podem deixar de ser abordados,
dentre os quais podemos destacar a prosperidade financeira, a saúde perfeita, o
triunfalismo, o movimento da fé e a supervalorização da revelação ou inspiração
de seus líderes, que chamaremos de autoridade espiritual. Isto posto,
seguiremos doravante analisando a cada um destes aspectos.
Autoridade
Espiritual
A
autoridade espiritual ligada ao movimento da Teologia da Prosperidade ou
Confissão Positiva pode ser entendida em dois aspectos. O primeiro diz respeito
às fontes de autoridade e o segundo a submissão à liderança.
Seus adeptos creem que a Bíblia é a inerrante e inspirada
Palavra de Deus, mas não a única fonte de autoridade. Aqui é que começam os
principais problemas do movimento, pois ao diferenciarem os vocábulos gregos logos e rhema, admitem que a revelação aos líderes possuem a
mesma autoridade.
Para eles, logos é a
Palavra de Deus escrita, ao passo que rhema é a
palavra falada por revelação ou inspiração. A diferenciação dos dois vocábulos
não encontra apoio na exegese bíblica. Para entender melhor o assunto, veja o
capítulo 6 no tópico “Pelos frutos os conhecereis”.
Crendo,
então, que a palavra “revelada” possui autoridade, não se aceita que haja
discordância com os ensinos desses propagadores. É como se quem conferisse na
Bíblia e detectasse que algum ensino está incoerente com as Sagradas
Escrituras, estivesse então se rebelando contra o próprio Deus, pois se tem em
estima e em maior valor a revelação extra-bíblica.
O perigo
de tal situação é principalmente a dependência de novos convertidos aos
escritos e mensagens apenas dos tais “profetas” da Confissão Positiva. Romeiro
comenta algo semelhante acerca de Ern Baxter, um preletor que conheceu e
conviveu com Kenyon:
Baxter estava engajado no Shepherding Movement, movimento que
ensinava a necessidade de cada novo membro no grupo ter um líder espiritual, um
discipulador, a quem contaria todos seus pecados, fantasias ou qualquer outro
problema do passado e do presente. Chegava-se ao cúmulo de o discipulador poder
decidir sobre a carreira, o curso na faculdade e até com quem o discípulo
deveria se casar, tolhendo, assim, a liberdade cristã do novo membro e
assumindo o papel do Espírito Santo em sua vida.[7]
Acredito
que os dons do Espírito Santo estão em vigor na atualidade e que o Senhor usa
pessoas para revelar e profetizar. Contudo, os dons espirituais são para
edificação e não para continuar a revelação doutrinária da Igreja. Aqui é que
muitas pessoas se confundem e acabam aceitando outros Evangelhos (Gl 1.8).
O estilo
de discipulado de Baxter era praticamente o que se ensina no G-12. O novo
convertido passa a ter um mentor, um discipulador, alguém a quem ele conta de
tudo em sua vida. Em muitos ministérios, os líderes acabam entrando demais na
vida de seus liderados. Conheci pessoas que contavam quantas relações sexuais
mantinham por semana com seus cônjuges, além de prestarem contas das coisas
mais absurdas. Já presenciei líderes impondo ao liderado não se casar com
determinada pessoa. Certa feita, um pastor afirmou ter tido uma “revelação” de
que deveria fechar todas as suas contas nas lojas, mantendo apenas conta
bancária e repassou a seus discípulos que fizessem o mesmo.
Muitos
seguiram tal exemplo sem realmente verificar se tal “revelação” possuía
fundamento, se era realmente de Deus. Diziam que se Deus falou, está falado.
Aqui se
manifesta o segundo aspecto da autoridade espiritual. Hagin tinha suas
experiências como infalíveis e já usou de ameaças para quem não acreditasse
nelas. Outro famoso conferencista internacional da Confissão Positiva, Benny
Himm, por várias vezes já ameaçou aqueles que discordavam de seus ensinos
controvertidos.
Não
obstante, temos exemplos brasileiros, de pastores e “apóstolos” que possuem
metralhadoras espirituais e que volta e meia disparam rajadas em suas orações.
Além das metralhadoras espirituais, houve um caso de um revólver de verdade,
através do qual um “apóstolo” deu tiro no diabo no meio do culto, como se fosse
um ato profético.
Com
revelações extra-bíblicas tidas com a mesma autoridade da Bíblia, muitas
pessoas não buscam mais a verdade, que é a Palavra de Deus (Jo 17.17). Deixando
de conhecê-la, tornam-se presas fáceis desses homens manipuladores e
entregam-se a uma submissão cega aos líderes que supostamente são cheios da
“autoridade espiritual”.
Deve ficar claro para os amados leitores, que a Bíblia já é
completa. Não precisamos acrescentar nada ao Texto Sagrado. Através dela, temos
revelações para viver em santidade e para qualquer área da nossa vida, afinal,
“toda a Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para
ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça; para que o
homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente preparado para toda boa obra”
(2 Tm 3.16,17).
Movimento da Fé
Outro
aspecto a ser destacado na Teologia da Prosperidade é como os líderes
influenciados pelos ensinos de Hagin extrapolam o significado de fé. Já me
deparei com alguns ministros que interpretavam Hb 10.38 de forma equivocada.
Um
deles, abandonou o trabalho secular, abriu um novo ministério, alugou um salão,
comprou móveis e uma moto e investiu muito dinheiro nesta empreitada. Quando
questionado sobre como pagar tantas contas, sua resposta foi que o justo viverá
pela fé. “Mas quem vai pagar as dívidas?” Perguntaram-lhe. E ele respondeu que
era o Senhor.
Infelizmente,
alguns meses depois ele estava super endividado e acabou perdendo a moto,
passando pela humilhação da concessionária buscá-la em sua própria casa.
Muitas
pessoas não conseguem compreender o que é fé e exageram no conceito. Se uma
pessoa tem os pés no chão e usa da inteligência que foi concedida pelo Pai
celestial para planejar-se com mais cautela, acaba sendo taxada como alguém que
não tem fé.
Jesus declarou algo interessante a respeito: “Pois qual de vós, querendo edificar uma torre, não se senta
primeiro a calcular as despesas, para ver se tem com que a acabar? Para não
acontecer que, depois de haver posto os alicerces, e não a podendo acabar,
todos os que a virem comecem a zombar dele, dizendo: Este homem começou a
edificar e não pode acabar. Ou qual é o rei que, indo entrar em guerra contra
outro rei, não se senta primeiro a consultar se com dez mil pode sair ao
encontro do que vem contra ele com vinte mil? No caso contrário, enquanto o
outro ainda está longe, manda embaixadores, e pede condições de paz”
(Lc 14.28-32).
A fé tem
sido constantemente mensurada em meio às igrejas que trabalham com os preceitos
da Confissão Positiva através da saúde, das posses materiais e da quantidade
que alguém oferta.
Primeiramente, entendamos o que é fé. Segundo o autor da
epístola aos hebreus a fé é “o firme fundamento das coisas
que se esperam e a convicção das coisas que não se vêem” (Hb 11.1).
Ele
complementa, ainda, que sem esta é impossível agradar a Deus (Hb 11.6). Para
explicar melhor esse conceito, gostaria de usar Abraão, o pai da fé, como
exemplo.
O
capítulo 11 de Hebreus foi divido em 40 versículos e 30% deste capítulo é
dedicado ao patriarca, através de 12 versículos que demonstram sua grandiosa
fé.
Lemos em
Gn 15.6 que Abrão creu no Senhor e que esta crença lhe fora imputada por
justiça. Mas em que creu Abrão? Qual foi o objeto de sua fé nessa ocasião? Ele
tinha cerca de 85 anos quando lhe veio a Palavra do Senhor em uma visão e Sarai
aproximadamente 76. Ambos já eram avançados em idade e não havia nenhuma
possibilidade de terem filhos, até porque Sarai era estéril.
Mesmo
assim, o Senhor chama Abrão até o lado de fora da tenda e diz para olhar para o
céu. Assim como as estrelas eram incontáveis, a descendência do patriarca
também seria. Abrão não ficou perguntando e nem duvidou do que o Senhor havia
lhe revelado.
Ele não
podia ver o filho da promessa ali em seus braços, mas ainda assim creu. De
acordo com o autor da carta aos hebreus, a fé é esta certeza, é essa crença de
que algo que não vemos é certeiro. Ademais, a fé possui outro requisito. Deve
passar pelo teste da esperança. O apóstolo Paulo diz que a esperança em algo
que se vê não é esperança, pois como alguém espera algo que vê? (Rm 8.24).
Repare
que Abrão não precisou provar sua fé através de grandes ofertas, de atos
insanos ou atitudes descontroladas, ele simplesmente creu naquilo que Deus
havia dito.
Acreditou
que mesmo vivendo em uma circunstância de impossibilidade, o Deus Todo-Poderoso
cumpriria Sua promessa e faria de um único homem idoso e de uma única mulher
estéril, pais de uma geração incontável e numerosa. Foi essa fé que o Senhor
imputou como justiça a Abrão.
O que
dizer do centurião de Cafarnaum? Primeiramente ele reconheceu que não era digno
de receber o Messias em sua casa, mostrando assim grande humildade, mas o que
deixou o Mestre maravilhado não foi isso, mas a crença do militar em que não
era necessária a presença de Jesus em sua casa para efetuar a cura.
Ele acreditou que apenas pela palavra de Cristo, o milagre
poderia acontecer. Ele não precisou levantar nenhuma oferta financeira alta e
nem doar nada em favor de seu servo. Apenas acreditou que Jesus tinha poder
para curar e pronto. Essa atitude rendeu-lhe os seguintes comentários: “(Jesus) disse aos que o seguiam: Em verdade vos digo que a ninguém
encontrei em Israel com tamanha fé” (Mt 8.10).
Não
podemos negar que seja positivo o exercício de nossa fé, até porque sem esta,
será impossível agradar a Deus. Todavia, não podemos confundir a fé na
existência de um Deus vivo, Todo-Poderoso, santo, amoroso, justo, benigno e
galardoador, com um negociante mercenário que coloca seus filhos a prova,
barganhando bênçãos espirituais através de ofertas financeiras.
A fé é
mensurada por Deus, mas não em função da quantidade que ofertamos em um culto.
A maior fé encontrada em Israel foi de um gentio que tão somente acreditou em
algo que não via, mas que tinha certeza que aconteceria, além de ter esperança
convicta no poder de Jesus sobre a enfermidade.
O Poder da palavra
Expressões
como “tome posse da bênção” são comuns nas igrejas, mas sua origem está no
movimento da fé, a confissão positiva. É comum ouvirmos pregadores conclamarem
os ouvintes a não duvidarem da mensagem profética e tomarem posse da sua
bênção.
Não há
problema em crermos na conquista de algo que aspiramos, não há mal algum em
apossar a bênção de Deus para nossas vidas. Deus disse a Moisés que quando o povo
atravessasse o Jordão, tomaria a terra em possessão (Nm 33.53).
Josué encorajou o povo a “tomar posse da terra”
(Js 1.11). O problema está em acreditar que pelo fato de declarar essas
palavras, como num “abracadabra” evangélico, confessando e determinando a
vitória, as bênçãos de Deus chegarão.
Dentre o arsenal de versículos isolados que os teólogos da
prosperidade utilizam, o mais comum para defender o poderio da palavra falada é
Pv 18.21: “A morte e a vida estão no poder da língua; e aquele que a ama comerá
do seu fruto”.
De fato,
o que falamos traz consequências. Quantas pessoas já desejaram voltar no tempo
e desfazer algumas palavras que disseram no ímpeto? Contudo, o que Salomão diz
no provérbio citado acima não é que tudo o que eu disser será profético e sim
que precisamos ser cautelosos com o que falamos, pois podemos ofender alguém ou
falar algo desnecessário.
A
maneira que me dirijo, por exemplo, ao meu filho para ensinar uma atividade
escolar, pode levá-lo a motivação ou desmotivação. Se ele não entender o
exercício e pacientemente ajudá-lo, encorajando-o a se esforçar, o resultado
será um.
Entretanto,
se xingá-lo e aos berros dizer palavras de ofensa, estarei criando um ambiente
de desconfiança e desestrutura familiar. As palavras não serão proféticas, mas
reflexo de dentes como lanças e flechas e de uma língua como espada afiada (Sl
57.4).
Participei
de um congresso da visão celular na cidade de Juiz de Fora no ano de 2006.
Naquela ocasião, um dos apóstolos do MIR foi o preletor e a mensagem foi
justamente sobre o poder da palavra.
Segundo
o pregador, quando dizemos que não vemos a hora de comprar um carro, por
exemplo, nunca compraremos, pois estamos fazendo uma “confissão negativa”,
liberando uma palavra profética com poder para amaldiçoar.
Outros
pregadores ensinam que quando vamos orar a Deus, devemos especificar
detalhadamente o que desejamos. O pastor Paul Yonggi Cho ensinou algo
semelhante em um de seus livros, após pedir em oração uma escrivaninha, uma
cadeira e uma bicicleta e não recebê-los. Segundo ele, o Senhor o respondeu
assim:
Sim, esse é o seu problema, o problema de todos os meus outros
filhos. Imploram exigindo todo o tipo de coisas, mas o fazem com termos tão
vagos que não posso responder. Será que você não sabe que há dezenas de tipos
de escrivaninhas, cadeiras e bicicletas? Mas você simplesmente pediu-me uma
escrivaninha, uma cadeira e uma bicicleta. Não pediu uma escrivaninha
específica, nem uma cadeira nem uma bicicleta específicas.[8]
Assim sendo, Cho pediu perdão pela oração sem detalhes
suficientes para Deus e orou novamente dizendo que queria uma escrivaninha
feita de mogno das Filipinas, uma cadeira de aço com rodinhas e uma bicicleta
fabricada nos Estados Unidos, com algumas marchas. Diz ainda que, encomendou
essas coisas em termos tão específicos que “Deus não poderia cometer erro
algum em entregá-las”.[9] Infelizmente, fica para alguns uma imagem
de um Deus mais semelhante ao “papai Noel” do que o Todo-Poderoso da Bíblia.
Um dos
precursores da confissão positiva, Keneth E. Hagin, fez uma interpretação um
tanto peculiar de Jo 14.13,14, a fim de mostrar que devemos pela nossa palavra,
tomar posse da bênção:
A palavra ‘pedir’ também significa ‘exigir’. ‘E tudo quanto
exigirdes em Meu nome, isso [Eu, Jesus] farei’. Um exemplo disto é registrado
no terceiro capítulo de Atos, quando Pedro e João estavam à Porta Formosa. Já
demonstramos que Pedro sabia que tinha algo para dar quando disse ao aleijado:
‘Não possuo nem prata nem ouro, mas o que tenho, isso te dou’. Então Pedro disse:
‘Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, anda!’ Pediu, ou exigiu, que o homem se
levantasse em nome de Jesus.[10]
Não vou
gastar muito para refutar esse ensino, o Dr. Paulo Romeiro fez uma explicação
brilhante em sua obra “Supercrentes”. Mas uma coisa vale a pena comentar:
alguém já viu algum mendigo pedindo, ou melhor exigindo, uma esmola, como
sugere Hagin na passagem de At 3? O Missionário R.R. Soares conta em um de seus
livros como foi influenciado por Hagin e repassa os ensinos importados da
seguinte forma:
Mas, quando aprendi o método correto de viver da fé, toda a minha
vida e o meu ministério mudaram da água para o vinho. Resumindo tudo o que
aprendi, eu descobri: Não precisamos mais pedir.Só determinar, exigir, ou seja:
Tomar Posse da Bênção (…) Agora, assuma a sua autoridade em Cristo e, em Nome
de Jesus, exija a sua bênção”[11].
Faz-se
necessário comentar que não tenho nada contra a pessoa do missionário, nosso
objetivo nesta obra é analisar os ensinos e não as pessoas. Outra coisa
importante é que, Hagin e Soares não são representantes do G-12 e sim do
movimento da Teologia da Prosperidade, o qual tem influenciado não apenas
denominações do sistema gedozista, mas várias igrejas no Brasil e no mundo.
Todavia,
não podemos descartar a necessidade de analisar como tais ensinos são
propagados pelos representantes do G-12, M-12 e simpatizantes. Assim sendo,
prosseguiremos observando outros aspectos da controvertida Teologia da
Prosperidade.
Triunfalismo
Desde os
primórdios da Igreja, os Apóstolos refutaram várias seitas e heresias que se
levantaram em meio ao arraial Primitivo. Dentre elas, podemos destacar os
legalistas, combatidos por Paulo em sua epístola aos gálatas e alvo do concílio
de Jerusalém (Gl 5.1-9; At 15.1-29); os nicolaítas seguidores de Nicolau
(alguns especulam ser um dos diáconos escolhidos em At 6.5, mas não se tem
certeza) os quais ensinavam não haver problemas em comer comidas sacrificadas a
ídolos e a viver em fornicação (At 2.6,14,15); semelhantemente, ensinos de uma
pseudo-profetisa, Jezabel, que seduzia alguns para a prostituição e para comer
comidas sacrificadas a ídolos (Ap 2.20,21); o gnosticismo, que pregava um
exclusivismo privilegiado de alguns para com um conhecimento secreto, além de
misturar fontes místicas e negar a natureza humana de Cristo (1 Jo 4.1-3); os
falsos Apóstolos, que se auto intitulavam para o ministério, mas foram achados
por mentirosos (Ap 2.2); e, ainda, mercadores da Palavra de Deus, homens sem
escrúpulos e que se aproveitavam da fé alheia, falsificando a verdadeira fé e
tendo a piedade como fonte de lucro (2 Pe 2.1-3; 1 Tm 6.3-10).
Essa
comercialização da fé já existia, mas evoluiu na mesma proporção que a
tecnologia e a ciência humana. Criticar a ICAR pelas indulgências já não
adianta mais. Hoje, muitos tele-evangelistas e mega igrejas “evangélicas” estão
praticando o mesmo através das campanhas triunfalistas, baseadas em atos
heroicos de bravos homens do Antigo Testamento.
Já ouviu
falar de campanhas do tipo “derrubando as muralhas de Jericó”, “saindo do
ventre do peixe”, “derrotando gigantes”, “semana do sopro ungido”, “campanha
dos trocentos pastores”, “caravanas especiais a Israel”, etc, etc, etc? Não me
refiro a campanhas sérias de oração, promovidas por ministério sérios e sim a
grupos em que a simonia é evidente.
Há
alguns dias fiquei sabendo de uma campanha em que foram feitos alguns bonecos
de três metros de altura, simbolizando Golias. Esse boneco tinha um buraco no
meio do peito e a pessoa que queria derrubar o gigante que perturbava sua vida
deveria comprar uma pedra em valores variados e arremessar nesse buraco, a fim
de vencer a adversidade que vivia.
Imagine só, você entra na igreja e escuta o pastor dizendo algo
mais ou menos assim: “Deus não precisa do seu dinheiro, o valor
dessa pedra não é simplesmente para doar a Deus, mas um ato de fé. Pela fé é
que os antigos alcançaram testemunhos. Sem fé é impossível agradar a Deus.
Aquele que recua a minha alma não tem prazer nele. Quem é que pode comprar
aqui? São apenas R$ 1.000. Vamos lá, pela fé. Vamos derrubar o gigante que está
assolando sua vida…”.
Bem,
pode ser que alguns termos não lhe sejam familiares. Então para facilitar seu
entendimento, vamos compreendê-los. O que é triunfalismo e o que é simonia?
O
primeiro é uma atitude de confiança absoluta ou excessiva no sucesso. Os
evangelistas triunfalistas são aqueles que sugerem através de técnicas
psicológicas a doação de ofertas gordas através da fé, induzindo as ovelhas
despreparadas a barganhar uma vitória, ou até mesmo a aquisição de objetos
místicos para conceder a bênção pelo o que se busca (copos com água, anéis,
flores, lenços, pedras ou areia da terra santa, meias, canetas, dentre vários
itens supostamente “ungidos”).
Já o
segundo termo, procede do nome Simão, o mágico de Samaria que intentou comprar
o dom do Espírito Santo (At 8.18-21). Ele achou que poderia comprar coisas
espirituais com coisas naturais. Os profetas e evangelistas do triunfalismo
lançam mão de técnicas da psicologia para tocar a emoção das pessoas e também
de interpretações descontextualizadas da Bíblia, com uma péssima hermenêutica
(ciência da Teologia que ensina os métodos de interpretação da Bíblia).
Uma das ferramentas para a interpretação bíblica é a chamada exegese. O vocábulo exegese significa “exposição, explicação”.
É uma ferramenta de interpretação de dentro para fora. Na era hodierna da
Igreja, os líderes triunfalistas são especialistas em fazer o contrário da exegese, o que é
chamado de eisegese, uma interpretação peculiar e tendenciosa de
um texto bíblico vem de fora para dentro.
A serpente, no Éden, argumentou com Eva algo que Deus não havia
falado: “É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim?”
(cf Gn 2.16,17; 3.1). Da mesma forma satanás citou fora do contexto o salmo
91.11 (Mt 4.5,6) quando tentou a Cristo no deserto. Isso é o que se denomina de eisegese. Segundo
Esdras Bentho,[12] o intérprete que pratica a eisegese, a faz das seguintes formas:
1)
Quando força o texto a dizer o que não diz. O intérprete está cônscio de que a
interpretação por ele asseverada não está condizente com o texto, ou então está
inconsciente quanto aos objetivos do autor ou do propósito da obra. Entretanto,
voluntária ou involuntariamente, manipula o texto a fim de que sua loquacidade
possa ser aceita como princípio escriturístico.
2)
Quando ignora o contexto, sob pretexto ideológico. Ignorar o contexto é
rejeitar deliberadamente o processo histórico e lingüístico que deu margem ao
texto. O intérprete, neste caso, não examina com a devida atenção os parágrafos
pré e pós-texto, e não vincula um versículo ou passagem a um contexto remoto ou
imediato. Uma interpretação que ignora e contraria o contexto não deve ser
admitida como exegese confiável.
3) Quando não esclarece um texto à luz de outro. Os textos
obscuros devem ser entendidos à luz de outros e segundo o propósito e a
mensagem do livro. Recorrer a outros textos é reconhecer a unidade das
Escrituras na correlação de idéias. Por vezes, pratica-se eisegese por ignorar a capacidade que as
Escrituras têm de interpretar a si mesmo.
4)
Quando põe a ‘revelação’ acima da mensagem revelada. Muitos intérpretes colocam
a pseudo-revelação acima da mensagem revelada. Quando assim asseveram, procuram
afirmar infalibilidade à sua interpretação, pois Deus, que ‘revelou’, autor principal
das Escrituras, não pode errar. Devemos ter o cuidado de não associar o nome de
Deus a mentira.
5) Quando está comprometido com um sistema ou ideologia. Não são
poucos os obstáculos que o exegeta encontra quando a interpretação das
Escrituras afeta os cânones doutrinários e as tradições de sua denominação. Por
outro lado, até as ímpias religiões e seitas encontram falsas justificativas
bíblicas para ratificar as suas heresias. Kardec citava a Bíblia para defender
a reencarnação! Muitos movimentos sectários torcem as Escrituras. Utilizar as
Escrituras para apologizar um sistema ou ideologia pode passar de uma eisegese para uma heresia aplicada.
Saúde Perfeita
Outra
característica muito comum dos profetas da Teologia da Prosperidade, é a crença
de que temos direito a gozar de saúde perfeita. Comumente Is 53.4,5 é usado
para defender essa tese.
Vejamos o que está escrito na passagem citada: “Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e
carregou com as nossas dores; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e
oprimido. Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e esmagado por
causa das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e
pelas suas pisaduras fomos sarados”.
A
passagem é normalmente interpretada como uma conquista de Jesus para todo
cristão. Dizem os “teólogos da prosperidade” que Ele já nos curou, por isso,
não podemos em hipótese alguma aceitar enfermidade em nossa vida. Se Cristo já
nos deu a cura, não precisamos mendigar o que já é nosso por direito, devemos
exigir, determinar e assim tomar posse da cura que já é nossa.
Essa
crença já trouxe muitos problemas no passado, pois alguns líderes chegaram a
pregar contra consultas médicas e uso de remédios. Romeiro relata em seu livro
“Supercrentes” alguns ensinos problemáticos. Dentre eles, um pastor pregou que
Deus promete dar partos normais às mulheres baseado em Êxodo 23.26 e
Deuteronômio 28.4-22. Esse mesmo pastor declarou que toda enfermidade
procede do diabo. Romeiro conta, ainda, algumas tragédias:
…esta doutrina tem causado muitos danos. Trata-se também de um
ensino que tem levado até pessoas à morte, como veremos a seguir. Há nos
Estados Unidos um livro intitulado We Let Our Son Die (Deixamos Nosso Filho
Morrer, publicado pela Harvest House, 1980), que relata o drama de Wesley
Parker, diabético, dependendo assim da insulina para sobreviver. Depois de
receber oração para ser curado, seus pais não permitiram mais que tomasse a
insulina, o que provocou a sua morte em 23 de agosto de 1973. Com isso, seus
pais tiveram que responder à justiça norte-americana (…) O ministério das
igrejas Maná, liderado pelo pastor Jorge Tadeu, não tem escapado das críticas
da imprensa em Portugal. O jornal Tal & Qual, na edição de 30 de agosto a 5
de setembro de 1991, faz uma séria denúncia, na primeira página, sobre as
circunstâncias que levaram ao falecimento do pequeno Nelson Marta, de oito
anos, ocorrido em 13 de maio de 1991 (…) O jornal conta que ‘o garoto era
paralítico de nascença e sofria de problemas respiratórios e pulmonares. A mãe,
Margarida Maria Pita Marta, aproveitou a ausência do marido, emigrado na Suíça,
para se converter à Igreja Maná, esperançada em que o filho iria ficar melhor.
Os medicamentos foram retirados à criança — que acabaria por sucumbir algum
tempo depois no Hospital Distrital de Beja.[13]
A
pesquisadora de religiões, Mary Schultz, mostra a incoerência de tais ensinos
através da própria morte dos homens mais famosos da teologia da prosperidade:
1.
W. Kennyon faleceu vitima de um tumor maligno.
2.
John Wimber e seu filho Chris morreram de câncer.
3.
A . A. Allen morreu de alcoolismo.
4.
John Lake morreu de um colapso.
5.
Gordon Lindsey morreu do coração.
6.
O cunhado de Kenneth Hagin morreu de câncer.
7.
O mesmo aconteceu à sua irmã
8.
Sua esposa foi operada e o próprio Haigin usou óculos até
morrer.
9.
Kathryn Khulmann morreu do coração.
10.
Daisy Osborne morreu de câncer, jurando que havia sido
curada.
11.
Jamie Buckingham morreu de câncer.
12.
Fred Price conseguiu uma quimioterapia para a sua esposa.
13.
John Osteen procurou ajuda médica para curar o câncer da
esposa.
14.
A esposa de Charles Capps fez tratamento médico de câncer.
15.
Mack Timberlake está se tratando de um câncer na garganta.
16.
R. W. Shambach fez quatro pontes safenas.
17.
O Profeta Keith Greyton morreu de AIDS. [14]
Estar
enfermo tornou-se sinônimo de pecado ou falta de fé. Precisamos tomar cuidado
com ensinos desse tipo. Temos exemplos bíblicos de pessoas que estiveram
enfermas e nem por isso estavam vivendo em pecado ou em falta de fé.
O que
dizer de Jó? O que dizer do rei Ezequias? A orientação para a cura de sua
úlcera era um tratamento médico, por uma pomada, isto é, uma pasta de figo (2
Rs 20.7). O que dizer de Timóteo, que tinha algum problema estomacal? Enfim,
precisamos estar mais atentos ao que a Bíblia diz e embasar nossa fé na sã
doutrina.
Prosperidade
Financeira
Semelhantemente à interpretação de Isaías 53.4.,5, os teólogos
da prosperidade usam do mesmo raciocínio para interpretar 2 Co 8.9: “pois conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo
rico, por amor de vós se fez pobre, para que pela sua pobreza fôsseis
enriquecidos”.
Partindo desse pressuposto, a prosperidade financeira seria
então um direito a todo cristão, algo já conquistado na obra expiatória e que
podemos não apenas pedir, mas exigir, determinar. Rhodes e Geisler explicam
esse versículo (2 Co 8.9) na obra “Resposta às Seitas”:
Se Paulo pretendesse dizer que a prosperidade está incluída na
expiação, estaria oferecendo aos coríntios algo que ele mesmo não possuía naquela
ocasião. Na verdade, em 1 Coríntios 4.11, Paulo informou a esses mesmos
indivíduos que ele sofria ‘fome e sede’, ‘nudez’ e que ‘não possuía morada
certa’. Ele também exortou os coríntios a que fossem imitadores de sua vida e
ensino (1 Co 4.16). Em 2 Coríntios 8.9, parece claro que Paulo estava se
referindo à prosperidade espiritual, e não à financeira. Isso está em
conformidade tanto com o contexto imediato de 2 Coríntios, como também com o
contexto mais amplo dos outros escritos de Paulo. Se a prosperidade financeira
estivesse incluída na expiação, por exemplo, deveríamos imaginar porque Paulo
informou aos cristãos filipenses que ele havia aprendido a estar contente mesmo
tendo fome (Fp 4.11,12). Alguém poderia pensar que ele pudesse , ao invés
disso, reivindicar a prosperidade prometida na expiação para satisfazer todas
as suas necessidades.[15]
Antes de prosseguir, gostaria de analisar alguns ensinos.
Kenneth Copeland, baseado em Mc 10.21, afirma que, recebera de Deus uma
revelação acerca de uma promessa monetária. Segundo ele, “esta foi a maior oportunidade de negócio já oferecida ao jovem,
mas ele a recusou por desconhecer o sistema financeiro divino”.
Segundo Copeland, se o jovem tivesse semeado sua fortuna, teria
uma colheita sem precedentes. Vejamos o que está escrito na passagem do jovem
rico, citada acima: “E Jesus, olhando para ele, o amou e lhe disse: Uma coisa te
falta; vai vende tudo quanto tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu;
e vem, segue-me”.
Somente o fato de Jesus dizer ao jovem que o tesouro que ele
receberia não era terreno e sim celestial, já derruba tal pensamento. De fato,
essa foi a melhor oportunidade, mas não de negócio, pois não era um
investimento da bolsa de valores, que rende determinada porcentagem. O jovem
rico entendeu muito bem o que o Mestre queria dizer, por isso entristeceu-se, “porque possuía muitos bens” (Mc 10.22b). Ele sabia que
a proposta de Jesus era abrir mão de suas posses, de sua riqueza e segui-Lo e
não dar uma sementinha de fé.
Em concordância com esse ensino, Jesus também disse em Mt
6.19-21: “Não ajunteis para vós tesouros na terra; onde a traça e a ferrugem
os consomem, e onde os ladrões minam e roubam. mas ajuntai para vós tesouros no
céu, onde nem a traça nem a ferrugem os consumem, e onde os ladrões não minam
nem roubam. Porque onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração”.
Já ouvi pregadores defenderem que o cristão tem direito a
receber cem vezes mais ainda nesta vida. De fato, Jesus disse isso, mas não
dessa forma. Essa frase foi dita após a retirada do jovem rico, com o intuito
de encorajar os discípulos, pois como o jovem se entristeceu pela proposta, o
Mestre disse aos seus discípulos: “Quão dificilmente entrarão no
reino de Deus os que têm riquezas! É mais fácil um camelo passar pelo fundo de
uma agulha, do que entrar um rico no reino de Deus” (Mc 10.23,25b).
Ouvindo isso, eles ficaram perplexos e perguntavam-se entre si
quem poderia, afinal, ser salvo. Mas Jesus mostrou que “ninguém há, que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou mãe,
ou pai, ou filhos, ou campos, por amor de mim e do evangelho, que não receba
cem vezes tanto, já neste tempo, em casas, e irmãos, e irmãs, e mães, e filhos,
e campos, com perseguições; e no mundo vindouro a vida eterna” (Mc
10.29,30).
Assim sendo,
receber cem vezes mais nesta vida não diz respeito a posses e bens materiais,
mas a uma grande família de cristãos, de pessoas que fazem a vontade de Cristo,
que passam a serem esses sim, nosso pai, nossa mãe, nosso irmão e nossa irmã
(Mt 12.47-50)
Está
cada vez mais comum campanhas e mais campanhas sobre prosperidade, cultos para
empresários, etc. Sem contar a moda dos “grandes evangelistas” possuírem
jatinhos. Certa vez ouvi um pregador dizer que Jesus não andou em carro de
segunda mão e sim em carro zero, referindo-se ao jumentinho da entrada
triunfal.
O que os
teólogos da prosperidade se esquecem é que o jumentinho era um meio de
transporte humilde para aquela época. Se Jesus quisesse “aparecer”, entraria
com uma bela carruagem dourada, com motorista particular e toda pompa.
Para encerrar este capítulo, gostaria de comentar uma mensagem
do “paipóstolo” Renê Terra Nova. Sob o tema “O Leão Rugiu” e com
bastante carisma, o “patriarca” pregou na Assembléia de Deus em Newark mais uma
de suas façanhas da prosperidade. O vídeo está no youtube e vou transcrever aqui um trecho:
A Bíblia diz que quem vai a Jerusalém, traz uma nuvem de
prosperidade.Você sabe o que é alguém voltar pra casa com uma nuvem de
prosperidade na cabeça? Quem queria essa nuvem aí sobre a sua cabeça? Aí você
pode dizer assim, ‘mas eu não fui não em Jerusalém’. Aí, a Bíblia também diz:
‘se você enviou alguém que foi por você, você tem direito à mesma chuva e à
mesma prosperidade dessa pessoa.[16]
Sinceramente
não sei o que é pior nessa mensagem, se o Terra Nova dizendo que a Bíblia diz
algo que não diz ou se os irmãos da AD em Newark dando glória a Deus depois do
“patriarca” dizer isso. Onde estaria escrita essa passagem? Será que não está
na segunda carta do Apóstolo Renê aos manauaras? Segundo algumas fontes, o
texto em que se apoia tal ensino está em Zc 14.17-19. Vejamos o que está
escrito:
Zc 14.17-19 – “E se alguma das famílias da terra não subir a Jerusalém, para
adorar o Rei, o Senhor dos exércitos, não cairá sobre ela a chuva. E, se a
família do Egito não subir, nem vier, não virá sobre ela a chuva; virá a praga
com que o Senhor ferirá as nações que não subirem a celebrar a festa dos
tabernáculos. Esse será o castigo do Egito, e o castigo de todas as nações que
não subirem a celebrar a festa dos tabernáculos”.
Zacarias
era da tribo sacerdotal (Ne 12.4,6), e veio da Babilônia ainda jovem com
Zorobabel e Josué. Ele principiou a sua missão de profeta dois meses depois de
Ageu (Ed 5.1 e 6.14 – Ag 1.1), mais ou menos no segundo ano de Dario e
continuou a profetizar durante dois anos (Zc 7.1). Ao seu zelo e ao de Ageu se
deve, em grande parte, a reedificação do templo (Ed 5.1 – 6.14).
O
objetivo imediato de Zacarias era animar os judeus na restauração do culto
público. Suas profecias alcançam “o tempo dos gentios”, mas a história do povo
escolhido ocupa em Zacarias o centro das suas predições.
O livro
pode ser dividido em três seções: 1) Do capítulo 1 ao 6, contém uma série de
oito visões que teve o profeta no segundo ano de Dario, e eram reveladoras das
dispensações da Providência com respeito aos judeus e às nações que os tinham
oprimido; 2) os capítulos 7 e 8 encerram profecias sobre a prosperidade futura
dos judeus, no engrandecimento de Jerusalém, entremeadas de avisos e
exortações; 3) Os seis capítulos restantes (9 ao 14) contêm uma série de
predições, revelando a futura história do povo de Deus desde esse período até
ao fim do mundo.
Nessas
profecias acham-se intercaladas muitas outras referentes à pessoa, caráter, e
obra do Messias, à promulgação do Evangelho, à chamada dos gentios, e à glória
final e bem-aventurança da igreja de Deus, unindo judeus e gentios numa santa
comunidade, debaixo da direção do grande Sumo-Sacerdote e Rei.
Poderíamos
dizer que nos 8 primeiros capítulos o profeta se preocupa principalmente com os
acontecimentos contemporâneos, particularmente a reconstrução do templo,
enquanto que, nos seis últimos (9-14), ele trata de eventos futuros, tais como
a vinda do Messias e a glória de Seu reino. Naturalmente, portanto, a primeira
divisão segue o estilo histórico, ao passo que a última é apocalíptica.
Tal
passagem não faz nenhuma alusão ao pensamento de Terra Nova. Se isso fosse
verdade, teríamos a solução mundial no combate à fome e à pobreza. Que tal
fazermos uma vaquinha e levarmos alguns povos a Jerusalém? Que tal levarmos
pessoas do Vale do Jequitinhonha, do nordeste brasileiro, de nações africanas,
da Índia e de outros lugares?
Em outra
mensagem, o “apóstolo” prega sobre uma tal de Unção de Riqueza e Prosperidade e
defende que os judeus possuem tal unção. Como exemplo de pessoas que tinham
essa bênção celestial, ele cita os filósofos Aristoteles, Platão e Socrátes, o
matemático René Descartes e o inventor Thomas Edison. Segundo Renê todos esses
homens eram judeus.[17] É estranho como as pessoas entram em êxtase de glórias
a Deus com informações como essas, pois nenhum desses homens eram judeus. Os
filósofos eram gregos, Descartes é francês e Edison, Norte-Americano.
Nesta
mesma mensagem, Renê fala a mesma coisa sobre ir a Jerusalém para prosperar,
mas no final da pregação ele conclama os ouvintes a se prepararem para a maior
caravana que já fez a Israel, saindo do Acre e de Rondônia. Acredito que com
uma motivada dessa fica mais fácil encher a viagem, afinal, quem vai a Jerusalém
traz uma nuvem de prosperidade. Não estaria aí, a solução para fome e a miséria
do planeta? Vamos enviar as pessoas à Terra Santa!!
Os bens
materiais não são proibidos aos cristãos, muitos homens de Deus na Bíblia
Sagrada foram donos de grandes posses. Quando Jesus aborda o jovem rico e diz
aos discípulos que é difícil um rico entrar no Reino de Deus, é porque a
confiança dessas pessoas muitas das vezes, acaba se dirigindo às riquezas e não
a Deus. Precisamos estar atentos aos ensinos paulinos, os quais seguem abaixo
para nossa meditação:
1 Tm 6.3-12 – “Se alguém ensina alguma doutrina diversa, e não se conforma com as
sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, e com a doutrina que é segundo a
piedade, é soberbo, e nada sabe, mas delira acerca de questões e contendas de
palavras, das quais nascem invejas, porfias, injúrias, suspeitas maliciosas,
disputas de homens corruptos de entendimento, e privados da verdade, cuidando
que a piedade é fonte de lucro; e, de fato, é grande fonte de lucro a piedade com
o contentamento. Porque nada trouxe para este mundo, e nada podemos daqui
levar; tendo, porém, alimento e vestuário, estaremos com isso contentes. Mas os
que querem tornar-se ricos caem em tentação e em laço, e em muitas
concupiscências loucas e nocivas, as quais submergem os homens na ruína e na
perdição. Porque o amor ao dinheiro é raiz de todos os males; e nessa cobiça
alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores. Mas
tu, ó homem de Deus, foge destas coisas, e segue a justiça, a piedade, a fé, o
amor, a constância, a mansidão. Peleja a boa peleja da fé, apodera-te da vida
eterna, para a qual foste chamado, tendo já feito boa confissão diante de
muitas testemunhas”
[1]
PIERATT, Alan. O Evangelho da Prosperidade. Edições Vida Nova. São Paulo, 1993,
p. 21.
[2]
SOARES, Esequias. Heresias e Modismos. CPAD. Rio de Janeiro, 2010, p. 306.
[3]
ROMEIRO, Paulo. Supercrentes. Mundo Cristão. São Paulo, 1996, p. 10.
[4]
HAGIN, Kenneth E. A Autoridade do Crente. Graça Ediorial. Rio de Janeiro, 1987,
p. 37, 38.
[5]
PIERATT, Alan. O Evangelho da Prosperidade. Edições Vida Nova. São Paulo, 1993,
p. 23.
[6]
ZIBORDI, Ciro Sanches. Mais Erros que os Pregadores Devem Evitar. CPAD. Rio de
Janeiro, 2007, p. 149, 150.
[7]
ROMEIRO, Paulo. Supercrentes. Mundo Cristão. São Paulo, 1996, p. 8.
[8] CHO,
Paul Yonggi. A Quarta Dimensão. Vida. São Paulo. 1980, p. 19.
[9]
Ibid., p. 20.
[10]
Kenneth E. Hagin, O Nome de Jesus. Graça Editorial. Rio de Janeiro, 1988, p.
70.
[11]
SOARES, R.R. Como Tomar Posse da Bênção. Graça Editorial. Rio de Janeiro. 2004,
p. 11,12.
[12]
BENTHO, Esdras Costa. Hermenêutica fácil e descomplicada. CPAD. Rio de Janeiro,
2005, p. 69-72.
[13]
ROMEIRO, Paulo. Supercrentes. Mundo Cristão. São Paulo, 1996, p. 34,35.
[14]
SCHULTZE, Mary. O final Infeliz dos Líderes da Prosperidade. Disponível em:
http://www.maryschultze.com/articles.php?article_id=133. Acesso em 20 de
Setembro de 2011.
[15]
RHODES, Ron; GEISLER, Norman. Resposta às Seitas. CPAD. Rio de Janeiro. 1997,
p. 399.
[16]
NOVA, Renê Terra. O Leão Rugiu. Pregação na Assembléia de Deus em Newark.
Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=LQ1hFJCpqpY. Acesso em 21 de
Setembro de 2011.
[17]
NOVA, Renê terra. Mensagem postada no youtube. Disponível em:
http://www.youtube.com/watch?v=4rXf8lzbsv8&feature=related. Acesso em 21 de
Setembro de 2011.
Extraído
do livro “A Verdade Sobre o G12″, Couto
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