O Marxismo na
visão de um apologista cristão
ARTIGO ( Eguinaldo Hélio de Souza)
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“Tende cuidado para que ninguém vos
faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos
homens, segundo os rudimentos do mundo e não segundo Cristo” (Cl 2.8)
Começando com uma questão
Atualmente os países muçulmanos são o maior grupo de perseguição aos cristãos.
Do ranking criado pela organização missionária Portas Abertas, quase 90% dos
cinqüenta paises listados são muçulmanos. Eles estão presentes em todos os
níveis desde perseguição severa até problemas ocasionais com a Igreja.
Entretanto, o primeiro lugar não pertence a um país muçulmano. Pertence à
Coréia do Norte, um país governado pela ideologia marxista. A nota conferida
por Portas Abertas é de 82 pontos contra 68,5 do segundo colocado, a Arábia
Saudita. Uma diferença considerável. Se lembrarmos que o país já foi testemunha
de um grande avivamento, chegando Pyioniang, sua capital, a possuir 13% de
cristãos, nos perguntamos: O que aconteceu?
Podemos entender a oposição muçulmana-cristã por tratar-se de duas religiões
conflitantes em seus fundamentos, com uma inimizade histórica que vai desde os
seus primórdios. Mas como entender que os países onde o marxismo foi adotado
como ideologia o cristianismo foi perseguido de uma forma tão perversa, intensa
e diabólica? Como explicar que um homem educado como judeu e protestante
criasse uma ideologia tão inimiga do cristianismo? O que disse ou escreveu Karl
Marx que no fim resultou em 70 anos de perseguição serrada à Igreja e que
persiste até os dias de hoje?
O QUE NOS INTERESSA NO
MARXISMO
“Examinai tudo. Retendo o que for bom” (1 Ts 5.21)
Não é definitivamente o marxismo político que nos importa aqui,
mas o marxismo como ideologia, com seus conceitos sobre o homem, sobre Deus,
sobre o mundo, sobre o futuro. Quem o conhece profundamente sabe que não é a
questão de um mero partido político, de uma doutrina econômica, mas de uma
cosmologia que influência toda a maneira de ver a vida. Não queremos falar dos
aspectos econômicos ou políticos da doutrina de Marx. Queremos apenas analisar
os pontos que levaram os países que adotaram sua ideologia a perseguir,
torturar e odiar aos cristãos.
Somos cristãos e temos por base as Escrituras Sagradas como revelação única e
infalível dos propósitos de Deus. Ela é o crivo e o prumo com o qual medimos
qualquer afirmação, principalmente se estas se propõe a responder questões
vitais como aquelas com as quais o marxismo lida. Queremos expor um pouco de
Marx e sua doutrina, analisando-a à luz da Palavra de Deus
Para efeitos de compreensão estaremos usando os termos marxismo, comunismo e
socialismo como intercambiáveis, reconhecendo que em uma literatura política
eles possam apresentar nuances que os diferenciam.
O homem Karl Marx
O homem bom tira boas coisas do seu bom tesouro, e o homem mau do seu mau
tesouro tira coisas más. (Mateus 12.35)
(…)
aborreço as ações daqueles que se desviam; nada se me pegará. Um coração
perverso se apartará de mim; não conhecerei o homem mau. (Salmo 101.3,4)
Karl
Marx seguiu o sinistro caminho de Lúcifer, tendo sido criado nas Sagrada
Letras, primeiro como um judeu, depois como um protestante. Aos quinze anos ele
escreveria:
“Assim a
história da humanidade nos ensina a necessidade de união com Cristo. Também
quando consideramos a história dos indivíduos, e a natureza do homem, vemos
imediatamente a centelha do divino em seu peito (…) A união dos crentes com
Cristo pode vencer estes [desejos pecaminosos] e dar uma felicidade que um
epicureu em sua filosofia simples e o pensador mais profundo nas profundezas de
seu conhecimento procuram em vão, que somente alguém ligado incondicionalmente
e infantilmente em Cristo pode saber e dirige-se a uma vida mais bela e
elevada” (Karl Marx, Vida e Pensamento, Vozes)
E então
nos perguntamos: O que aconteceu com ele? Por que veio a tornar-se um ateu
militante, um inimigo da fé cristã e desenvolver um sistema de pensamento que
bania a Deus completamente? Em nome de suas teorias, sistemas políticos
mataram, torturaram e perseguiram cristãos no mundo inteiro. Difícil conceber
que todo este veneno tenha vertido de uma mente que um dia fora supostamente cristã.
Porém, muito do conteúdo dos escritos de Marx e mesmo do subseqüente
desenvolvimento de sua doutrina é um frasco contendo uma peçonha mortal para o
cristianismo (Rm 3.13).
Seria
muito bom lermos alguns trechos de alguns poemas escritos por Marx já durante o
tempo em que estudou na universidade de Berlim.
Com desdém jogarei minha luva
Bem na cara do mundo
E verei o colapso deste gigante pigmeu
Cuja queda não sufocará meu ardor
Então errarei divino e vitorioso
Pelas ruínas do mundo
E dando uma força ativa às minhas palavras
Me sentirei igual ao Criador (ver Isaías 14)
Eu sou
tão cru como um deus e me encubro em trevas como ele
Ensino
palavras que estão enredadas numa confusão diabólica e caótica
Há algo
mais forte porém. Uma estranha confissão, tirada de um poema seu intitulado “O
Violinista”, mas tarde declamado por ele e por seus seguidores, cujo tom
sinistro realmente espanta:
Os vapores infernais elevam-se e enchem o meu cérebro
Até que eu enlouqueça e meu coração seja totalmente ligado
Vê está espada?
O príncipe das trevas
Vendeu-a pra mim.
Entendemos
rebeldia adolescente. A perda da fé na idade adulta não é incomum. A
indiferença do adulto contrasta muitas vezes com a bela devoção infantil. Marx
porém, como Nietzche, fez da maturidade uma guerra à fé adolescente. O sistema
de pensamento por ele criado só poderia subsistir com a morte de Deus e de tudo
o que o Cristianismo ensinava.
Tendo
sido cativo por treze anos em prisões comunistas, o pastor Romeno Richard
Wumbrand escreveu sua famosa obra “Era Karl Marx um satanista?”. Ele lança a
pergunta como tese, não como afirmação indubitável. Mas ele propõe muitas
questões que procuram mostrar características estranhas de Marx, sua doutrina e
os efeitos dela decorrentes, que vai muito além daquilo que seria esperado de
uma filosofia.
Não
queremos fazer um ataque pessoal irresponsável, pois sabemos da importância
histórica de Marx. Existem testemunhos favoráveis a seu respeito. Mas este
testemunho pertenceu a alguém que o conheceu já na idade madura e nos dá um
quadro um tanto sinistro de sua pessoa:
“A
impressão que ele me causou foi de alguém que possuía uma rara superioridade
intelectual e ele era evidentemente um homem de uma personalidade excepcional.
Se seu coração se igualasse ao seu intelecto, se ele possuísse tanto amor
quanto possui ódio, eu atravessaria o fogo por ele (…) Mas é de se lamentar (…)
que este homem com seu intelecto esplêndido não tivesse nobreza de alma. Estou
convicto de que uma ambição pessoal perigosíssima consumiu todo o bem nele. Ele
ri dos tolos que papagueiam seu catecismo proletários como ele ri dos
comunistas e dos burgueses. As únicas pessoas que ele respeita são os
aristocratas genuínos (…) A fim de evitar que eles governem, ele precisa de sua
própria fonte de força que ele só pode encontrar no proletariado (…) Apesar de
todas as suas garantias em contrário, a dominação pessoal era o objetivos de
todos os seus esforços” (Testemunho pessoal de um tenente prussiano) (David
McLellan op. Cit)
O Marxismo hoje
A queda do muro de Berlim foi um símbolo histórico da queda do comunismo. A
dicotomia mundial capitalismo-socialismo representada de modo tão vivo na
divisão da cidade de Berlim chegava ao fim. O que viria depois era só
conseqüência. A história mundial não caminhou na direção apontada por Marx,
pois dizia que o socialismo e o comunismo faziam parte de um processo normal da
evolução histórica da humanidade. Foi um duro golpe para uma ideologia que em
setenta anos influenciara de forma ampla o pensamento de uma boa parte da comunidade
das nações.
A atual
declaração de um presidente “Pátria, socialismo ou morte” demonstra contudo que
o marxismo não é um defunto consumido pela terra. Sua força espalhou-se por
todo o mundo, mesmo nos lugares onde ele era condenado e criou raízes profundas
no pensamento e na vida prática das pessoas. Sofreu transformações como
qualquer outra ideologia, mas até mesmo o cristianismo foi por ele influenciado
como é patente na Teologia da Libertação e no CMI.
O
marxismo tem o vigor de um a religião e por isso ainda possui adeptos em várias
camadas da sociedade, de humildes camponeses até intelectuais acadêmicos, de
operários a estadistas. Assim como os que acreditam nas teorias da reencarnação
e karma não precisam estar ligados à alguma religião, os que acreditam nas
idéias marxistas não precisam estar em um partido político comunista ou afim.
O
marxismo é o que se pode chamar de uma cosmologia, um sistema que procurava
explicar totalmente a existência à sua volta, dando-lhe um sentido racional. E
esta cosmologia, em diversos pontos, entra em choque direto com as Escrituras
Sagradas. Reclama sua autoridade de supostas “leis de História” e exige uma
aceitação incondicional de seu credo.
Por causa disto, não se pode dizer que o marxismo está morto.
Suas idéias ainda são centrais para muitos partidos políticos, no mundo
acadêmico e sem dúvida alguma Marx é citado em discussões e debate sobre
diversos temas. Basta olhar na Web, em sites como vermelho.org / marxistas.org
e domínio público.gov.br e ver que seus livros são recomendados e seu
pensamento é claramente defendido. Quem acha que a devoção por Marx e suas
teoria chegou ao fim basta ainda olhar o site recém lançado Marxismo
Revolucionário Atual.(www.mra.org.br). Não será preciso dizer mais nada.
MARXISMO E ATEÍSMO
“Diz o
néscio no seu coração: Não há Deus” (Salmo 14.1)
Marx não
era apenas um ateu. Era inimigo do cristianismo. Ele não deixou a religião de
lado, colocou-se contra ela. Uma coisa é não acreditar que Deus exista. Outra
coisa é lutar por tirar do coração das pessoas a confiança nesse Deus. Ele
adquiriu todo seu arsenal anti Deus com o falso teólogo Bruno Bauer e o
filósofo Feuerbach. Deles se escreveu em seus tempos de estudante
“O
ateísmo de Marx certamente era de uma espécie extremamente militante. Ruge
escreveu a um amigo: “Bruno Bauer, Karl Marx, Christiansen e Feuerbach estão
formando uma nova “Montagne”(grupo mais radical da Revolução Francesa) e
fazendo do ateísmo o seu lema. Deus, religião, imortalidade são derrubados de
seu trono e o homem proclamado Deus. E George Jung, um jovem próspero advogado
de Colônia e partidário do movimento radical, escreveu a Ruge: “Se Marx, Bruno
Bauer e Feuerbach juntos fundarem uma revista teológico-filosófica, Deus faria
bem em cercar-se de todos os seus anjos e se entregar à autopiedade, pois estes
certamente o tirarão de seu céu…” (Karl Marx, Vida e Pensamento, David
McLellan, Vozes, p. 54).
Não são
as idéias políticas que nos preocupam, mas toda a ideologia acessória que a
acompanhou. Todos os governos estabelecidos com base no marxismo, tivessem eles
o nome de comunismo, socialismo ou outro qualquer, foram inimigos implacáveis
da religião. Em sua dissertação de doutorado ele escreveria que a filosofia
verdadeira tinha um ódio a todos os deuses que era “ seu próprio lema contra
todos os deuses do céu e da terra que não reconhecem a autoconsciência do homem
como a mais alta divindade. Não deverá haver nenhum outro deus além dela” (Karl
Marx, Vida e Pensamento, David McLellan, Vozes, p. 49). Sua famosa frase de que
a religião era o ópio do povo é suficiente para sintetizar sua posição sobre a
mesma e de todos que de alguma forma o seguiram. As cruéis mortes e torturas
sofridas pelos cristãos não passava de “guerra ao ópio”.
“Posso
entender”, escreveu um pastor que passou anos sendo torturado por sua fé,
“Posso entender que os comunistas prendam padres e pastores como
contra-revolucionários. Mas por que os padres foram forçados a dizer a missa
sobre excrementos e urina, na prisão romena de Piteshti ? Por que cristãos
foram torturados para tomarem a comunhão com esses mesmos elementos ? Por que a
obscena zombaria da religião ?” (Era Karl Marx um satanista ?, p. 47). Sim, por
quê?
Por que
após a Revolução Russa de 1917 baseada no marxismo mulheres cristãs recebiam 10
anos de prisão por causa de sua fé e prostitutas recebiam apenas 3 anos? Isto
aconteceria se a doutrina marxista fosse apenas de ideologia política e
econômica?
É muito
fácil derivar o ódio ao cristianismo e às religiões em geral dos escritos de
Karl Marx e Friederich Engels. Não é à toa que a sua obra mais famosa,
verdadeiro texto-marco da história do comunismo contenha esta assustadora afirmação
“O que porém pretende o comunismo é suprimir estas verdades eternas e extirpar
a religião e a moral ao invés de lhe dar forma nova” (Manifesto do Partido
Comunista, Marx/Engels, Universidade Popular, Global Editora, 1986, 6ª edição,
p.35). A aplicação prática desse pensamento os mártires dos países comunistas e
suas famílias conhecem muito bem.
MARXISMO E A TEORIA DA
EVOLUÇÃO
“Após
Ter lido A Origem das Espécies, de Charles Darwin, Marx escreveu uma carta ao
seu amigo Lassalle na qual exulta porque Deus – ao menos nas ciências naturais
– recebeu o golpe de misericórdia” (Marx e Engels, Diltz publ. Berlim 1972, vol
30 p. 578). A criação era um empecilho para o pensamento marxista, uma vez que
o seu “materialismo dialético” não pode sobreviver diante de um Deus e uma
dimensão espiritual no universo.
Em sua
própria formulação da história, Marx estabelece uma espécie de “evolução dos
meios de produção”, seguindo uma ordem de Modo de produção da sociedade
primitiva (coletivista) – Asiático – Escravista – Feudalismo – Capitalismo –
Socialismo e Comunismo, sendo este último o grau mais avançado na escala de
evolução.
Frederick
Engels, que juntamente com Marx formulou toda a ideologia escreveu um livro
intitulado “Sobre o Papel do Trabalho na Transformação do macaco em homem”.
Este livro é uma aplicação direta das teorias de Darwin às teorias sobre o
trabalho desenvolvidas pelo Marxismo. No discurso da morte de Marx, Engels
diria que “assim como Darwin descobriu a lei da evolução da natureza orgânica,
Marx descobriu a lei da evolução da História humana”.
Mesmo
que Karl Marx tenha posteriormente criticado o darwinismo, este era um elemento
essencial na sua doutrina. O homem não precisava mais de um Criador. Bastava
milhões de anos para que compostos inorgânicos dessem origem ao ser humano. Os
que mais tarde abraçariam o comunismo como o destino glorioso do mundo não
hesitaria em assassinar milhares de pessoas que nada mais eram do que animais
sofisticados. Sacrificar uma geração em favor das gerações futuras soava como
algo altamente coerente.
MARXISMO E SEUS ATAQUES
AOS FUNDAMENTOS DO CRISTIANISMO
porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram
graças; antes, em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se
obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos. (Rm 1.21-22)
Sabemos
que o ataque do comunismo não é exclusivo ao cristianismo mas a qualquer forma
de religião, da mesma forma que se diz do “homem da iniqüidade” que ele se
levantaria “contra tudo o que se chama Deus ou se adora” (2 Ts 2.4). “O nazismo
odiava o Deus de Abraão; o comunismo odiava todo tipo de deus, principalmente
aquele Deus”, escreveu Alain Besançon. Por ter nascido no seio do cristianismo
e por ter se propagado em países onde este era maioria, os cristãos do mundo
inteiro foram vítimas dessa ideologia. É bom ressaltar que não houve na
História do século XX um único país que tenha adotado o marxismo e não tenha de
alguma forma perseguido a Igreja. Por quê?
Deus,
salvação, pecado, espírito eram conceitos negados por Marx e seus seguidores.
Só existe a matéria e tudo o mais além disso eram invenções das classes
dominantes para manter sua supremacia. Envenenado pelo ateísmo de seu tempo sua
doutrina não se ateve apenas às questões políticas e econômicas. Para chegar a
estas teve que formular uma concepção do mundo e da História que suplantasse o
próprio Cristianismo e a história da salvação. Sua teoria filosófica era
superior a tudo o que houve antes. O cristianismo não passava de uma ilusão
criada pelas condições econômicas, um inimigo a ser vencido.
E Marx
não aceitava concorrência. Assim escreveu Robert Heilbroner em sua História do
Pensamento Econômico. “Ele era o homem mais intolerante, mais briguento do
mundo e desde o começo demonstrou-se incapaz de pensar que alguém que não
seguisse sua linha de raciocínio poderia estar certo”. De uma certa forma os
conceitos cristãos negados foram de alguma forma substituídos filosófica ou
psicologicamente. Mas o sistema marxista nunca co-existiu pacificamente com o
Cristianismo. Ou ele tentou destruí-lo ou transformá-lo, como ocorreu com a
Teologia da Libertação, que nada mais foi do que um “Evangelho Segundo Marx”.
O
problema do homem não era o pecado e sim sua condição social. A redenção não
viria pela cruz, mas pela mudança da sociedade, pela do modo de produção do
capitalismo para o socialismo e depois pelo comunismo. O conceito de um Deus
pessoal que chegou até nós através da revelação judaico-cristã foi substituído
pelo termo vago “Natureza” e depois “História”. Havia sim um futuro
escatológico glorioso mas que não era o resultado de uma intervenção divina de
qualquer natureza e sim do próprio processo histórico sendo o estágio de
comunismo inevitável.
Para Marx, de qualquer forma, a religião cristã é uma das mais
imorais que existe” (Karl Marx, Vida e Pensamento, David McLellan, Vozes, p.
54). Como pois conciliar cristianismo e marxismo? Como pois acreditar em um
convivência pacífica entre ambos? Andarão dois juntos se não estiverem de
acordo (Am 3.3)? Eis a gênese pessoal daquilo que viria a se transformar em
ódio estatal !!
MARXISMO E SUA DEVOÇÃO À
HISTÓRIA
Ele muda os tempos e as estações; Ele remove os reis e estabelece os reis; é
Ele quem dá a sabedoria aos sábios e o entendimento aos entendidos (Daniel
2.21)
Todo
homem tem um deus. Rejeitar o Deus da Bíblia levará o homem à busca de um
substituto. Friederich Nietzsche, o filósofo da morte de Deus, substituiu-o
pelo que ele chamou de “super-homem”. Alestier Crowley, revoltado com o
puritanismo de sua infância voltou-se para os deuses pagãos. O marxismo fez da
História o seu deus. Nela ele justificou muito dos seus crimes e fundamentou
suas opiniões. “A História estava a seu favor” diziam os comunistas.
Mesmo
ateus confessos como o jornalista Janer Cristaldo foi explícito em demonstrar
este aspecto “religioso da História” pertinente à doutrina marxista-comunista.
Ele escreveu em seu artigo “Nós,os imorais”
Não
poucos articulistas trabalham com a falsa hipótese de que os comunistas são
ateus. Nunca foram. Apenas trocaram o deus cristão por um outro. No caso, uma
deusa, a História. Essa deusa teve uma encarnação humana, Stalin. Tanto que, em
1953, havia comunistas que não acreditavam em sua morte, afinal um deus não
pode morrer. A fé absoluta na doutrina marxista era tal que um comunista sempre
olhava com piedade para quem quer que dele discordasse: o coitado nada entendia
do mundo. A Parusia proletária era dada como inelutável e a humanidade toda
caminhava rumo ao comunismo.
Ao dizer
que Marx havia descoberto “as leis de evolução da história humana” Engels
estava sancionando um dos elementos principais da ideologia por eles criada. Já
que não havia um Deus para sancionar suas opiniões e não podendo alegar algum
tipo de “revelação” transcendente, eles procuraram justificar sua autoridade
apelando para a História. Esta segundo eles possuía leis fixas e inexoráveis.
Por conhecerem estas leis eles podiam tranqüilamente proferir o que Karl Popper
chamou de “profecias históricas”, isto é, a previsão do futuro baseado nestas
supostas leis. Popper denunciou esta distorção em uma conferencia de filosofia
realizada em 1948
“A
revolução naturalista (…) contra Deus substituiu o nome de Deus pelo termo
Natureza (…) Hegel e Marx, por sua vez, substituíram a deusa Natura pela deusa
História (…) As ofensas contra Deus foram substituídas pelos atos de
‘criminosos que resistem em vão à marcha da História’ ”.
Ao invés
do Deus pessoal que “muda os tempos e as estações”; e “remove os reis e
estabelece os reis;” (Dn 2.21), Marx optou por conferir à História o domínio
sobre todos os acontecimentos. Em sua adolescência ele já havia descrito a
história como mestra das ciências. Ele agora se curvava perante ela e a tornava
senhora de todos os destinos do mundo, seja lá o que se pessoa definir como
História em seu pensamento.
Como
todo bom pensador do século XIX, o conhecimento científico era o crivo, era o
fundamento de todo conhecimento. Desdenhando os socialismos anteriores como
sendo utópicos, Engel classificou o seu como “científico”. Isto lhe dava um
certificado de verdade, como fizera o espiritismo e outras formas de
pensamento. Sua base eram as ciências sociais e históricas às quais ele queria
conferir uma precisão igual às das ciências exatas.
Embora a
“Miséria do Historicismo” de Karl Popper seja todo ele um estudo de grande
valor nesta questão, um trecho resume bem o pensamento que está por trás dessa
ideologia
A idéia
de que deveria ser possível prever revoluções como se podem prever eclipses (…)
é o fundamento do historicismo: o ponto de vista de que a evolução da
humanidade segue um enredo e que se conseguirmos descobri-lo, teremos uma chave
para nosso futuro.
O
impacto desta visão foi bastante forte. Funcionou para Marx quase como um
oráculo. Quando morou na Inglaterra ele passou vários anos prevendo uma crise
no capitalismo que nunca chegava. Marcou diversas datas, até que depois de
diversos logros de fato aconteceu. Seus seguidores conclamavam que o
capitalismo era um moribundo e que em breve a revolução proletária atingiria o
mundo todo. Tentar evitar isso era querer parar a roda da História, tal a
inevitabilidade do processo.
Ao invés de reconhecer um Deus em cuja mão estão todas as
coisas, Marx preferiu uma deusa que o frustrou completamente. Hoje, quase 200
anos depois, suas previsões soam como vã utopia. A classe operária está muito
longe de ser o grupo místico imaginado por ele e as condições históricas estão
longe de endossar suas previsões. Suas ácidas críticas talvez continuem em
alta. Mas suas esperanças não passaram de mera ilusão.
Prelúdio para a segunda parte
O comunismo não queria apenas extinguir o cristianismo. Queria substituí-lo,
tomar para si o papel de redentor da humanidade. Não poucos pensadores
perceberam essa proximidade entre marxismo e religião. Mais do que uma
filosofia, ele é uma crença baseada na capacidade do homem em resolver todos os
seus problemas e na História como uma lei inexorável que sanciona o comunismo
como sistema mundial.
Até aqui
pudemos ver sua tentativa de extinguir a fé teísta e cristã dos corações. Ainda
nos resta ver suas propostas ousadas, sua tentativa de colocar-se como a
panacéia universal que há de trazer felicidade eterna. Quem pensa que sabe o
que verdadeiramente o marxismo/comunismo deve continuar acompanhando a segunda
parte dessa matéria.
PROLETARIADO – A IGREJA
DE MARX
Eu, eu sou o Senhor, e fora de mim não há Salvador. (Isaías 43.11)
A luta
de classes era para Marx o ponto central da História. Senhores e escravos,
camponeses e nobres, burgueses e proletários. Para ele estes últimos eram mais
do que uma simples classe social. Eles eram a representação concreta de um
grupo especial que havia de ser o grande instrumento para redenção do mundo.
Assim como no Antigo Testamento Israel era o povo eleito para levar os
propósitos de Deus adiante e no Novo Testamento a Igreja era o “Corpo de
Cristo” que recebera dele sua missão, os proletários eram o grande fenômeno
histórico para efetivar as previsões do comunismo.
Ao
lermos sua descrição sobre o proletariado é fácil perceber que ele lhe conferiu
um papel quase místico. Cercou-o de uma auréola de perfeição e atribuiu-lhe um
papel redentor que lembra em muito o servo sofredor do livro de Isaías, cuja
hermenêutica judaica sempre identificou com Israel:
“…na
formação de uma classe com vínculos radicais, uma classe na sociedade civil, a
formação de um grupo social que é a dissolução de todos os grupos sociais, a
formação de uma esfera que tem caráter universal por causa de seus sofrimentos
universais e não alega nenhum direito particular, porque é o objeto de nenhuma
injustiça particular mas de uma injustiça geral. Esta classe não pode mais
alegar um status histórico mas apenas humano. Ela não está em oposição
unilateral às conseqüências do regime político alemão; está em oposição total
aos seus pressupostos. É finalmente um esfera que não pode emancipar-se a si
mesma sem se emancipar de todas as outras esferas da sociedade e assim
emancipar estas mesmas outras esferas. Numa palavra, é a perda completa de
humanidade e isso só pode ser recuperado por uma redenção completa da
humanidade. Esta dissolução da sociedade, como uma classe particular, é o
proletariado” Karl Marx, Vida e Pensamento, David MacLellan, Vozes, p. 110).
O
teólogo católico Jacques Doyon que em seu livro “Cristologia para o nosso
tempo” percebeu esse atributo redentor atribuído por Marx à classe operária.
Ele escreveu
O agente
desta liberdade, o “Messias” libertador, sempre conforme Marx, é o trabalhador
mesmo, tornando-se consciente do seu estado de alienação e não contando senão
consigo mesmo para se libertar. E isso não se conseguirá a não ser pela ação
violenta, que rompe com uma ordem social desumana para a substituir por uma
sociedade comunista, onde não existe diferença entre as classes sociais, mas
onde todos serão uns para com os outros, irmãos e camaradas (…) em lugar do
Messias divino, o redentor, conforme Marx é o proletariado.
Ainda
Alain Besançon comenta sobre este fato:
Esta
ideologia propõe um mediador e um redentor. O “proletariado”, o “explorado”,
aquele que não tem nada, vai abrir ao mundo a porta da libertação. Ele é para
as outras classes o que Israel é para as nações, o que o “remanescente de
Israel” é para Israel. Ele é o servo do Senhor de Isaías que sofre e é o
Cristo. Ele é o fruto da história naturalizada como o outro é da sagrada.
Havendo rejeitado Deus, havendo rejeitado a Igreja e por fim,
havendo rejeitado a Cristo, Marx precisava de um outro redentor. Para ele “os
princípios sociais do cristianismo são encobertos e hipócritas enquanto o
proletariado é revolucionário” (David Mclellan, op. Cit). Sua esperança estava
neste grupo ou pelo menos assim ele dizia. Seu deus era uma classe social capaz
de transformar o mundo. Para ele valem as palavras de Jeremias “Assim diz o
Senhor: Maldito o homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço, e
aparta o seu coração do Senhor!” (Jr 17.5).
O MARXISMO E A REDENÇÃO DO
UNIVERSO
Os filósofos têm interpretado o mundo de várias maneiras. O que importa é
mudá-lo
Karl Marx
Porque,
eis que eu crio novos céus e nova terra; e não haverá mais lembrança das coisas
passadas, nem mais se recordarão. (Is 65.17)
A frase de
Karl Marx em epígrafe é sem dúvida muito bonita. Na verdade possui um conteúdo
ideológico tão grandioso que incendiou o mundo. Toda uma geração sacrificou
seus melhores anos por este “evangelho”. Os jovens queriam ser os
transformadores do seu tempo, pois agora conheciam a receita. Basta lembrar o
Exército Vermelho de Mao Tse Tung na revolução cultural de 1959 . Jovens
seguiam matando intelectuais e burgueses crendo que através disto estariam
destruindo a velha ordem e implantando a nova. No Camboja, onde não havia armas
de fogo suficiente, a carnificina era feita com facas, machados e porretes.
Não
entendiam isto como um crime, mas como o caminho mais curto e necessário para
“mudar o mundo”, que não aceitava as proposições de sua doutrina. Não estamos
falando de especulações e sim de História real e bem documentada.
A beleza
de uma frase nem sempre é proporcional à sua verdade. A retórica pode empolgar,
mas isto não significa que sempre conduzirá pelo caminho mais correto. Não há
nada errado em querer melhorar as condições de vidas das pessoas e lutar por
uma situação mais digna. O comunismo, porém falava em redenção em sentido mais
amplo, cosmológico em seu alcance.
A
pergunta é: Pode o comunismo/marxismo ou qualquer outra doutrina transformar o
mundo? Em que sentido? Até que ponto? As pretensões de Marx iam muito além de
meras pretensões políticas, econômicas ou sociais mas avançavam a um grau que
poderíamos descrever como religioso, redentor, salvador.
O
comunismo é a abolição positiva da propriedade privada e por conseguinte da
auto-alienação humana e, portanto, a reapropriação real da essência humana pelo
e para o homem… É a solução genuína do antagonismo entre homem e natureza e
entre homem e homem. Ele é a solução verdadeira da luta entre existência e
essência, entre objetivação e auto-afirmação, entre liberdade e necessidade,
entre indivíduo e espécie. É a solução do enigma da história e sabe que há de
ser esta solução” (Karl Marx, Vida e Pensamento, David MacLellan, Vozes, p.
133).
Em seu
famoso Manifesto Comunista, editado juntamente com Friederich Engels ele
afirmou utopicamente, sobre a implantação do Comunismo no mundo:
“Na
proporção em que a exploração de um indivíduo por outro termina, a exploração
de uma nação por outra também terminará. Na proporção em que o antagonismo
entre classes dentro da nação desaparece, a hostilidade de uma nação por outra
terminará”
Quem não
percebe nessa afirmação uma tentativa de concretizar a promessa bíblica de paz
universal profetizada em Isaías 2.4? “E ele julgará entre as nações, e
repreenderá a muitos povos; e estes converterão as suas espadas em relhas de
arado, e as suas lanças em foices; uma nação não levantará espada contra outra
nação, nem aprenderão mais a guerra”. O marxismo é a religião do homem, não apenas
se auto redimindo como nos sistemas religiosos em geral mas redimindo tudo: o
homem, as relações entre os homens, a relação entre o homem e a natureza.
Sim, o
universo precisa de uma transformação, de uma redenção. Sabemos que o pecado a
tudo contaminou, a tudo corrompeu e degenerou. Mas o caminho verdadeiro da
redenção não vem através de alguma filosofia, ideologia ou ação humana, mas
através da ação divina que passa pela cruz e irrompe na ressurreição. Em
Romanos 8.19 –23
Porque a
criação aguarda com ardente expectativa a revelação dos filhos de Deus.
Porquanto a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa
daquele que a sujeitou, na esperança de que também a própria criação há de ser
liberta do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de
Deus. Porque sabemos que toda a criação, conjuntamente, geme e está com dores
de parto até agora; e não só ela, mas até nós, que temos as primícias do
Espírito, também gememos em nós mesmos, aguardando a nossa adoração, a saber, a
redenção do nosso corpo.
O Novo
Testamento prega uma redenção aguardada, iniciada na cruz e concretizada no
Cristo ressuscitado e que se efetivará universalmente no futuro. Tudo isso
através do poder de Deus e não como fruto de qualquer ação humana. Karl Marx
queria rivalizar com a revelação bíblica através de sua cosmologia. Como um
deus ele desejava transformar o mundo sim, mas à imagem e semelhança daquilo
que foi idealizado por ele, à parte do Deus redentor.
Quem
acredita que os acontecimentos do final da década de 80 puseram um fim em todas
as pretensões comunistas se engana, pois sua força vai muita além do que
propostas políticas. O Curso Inicial de Comunismo Científico, foi editado em
1985, em Cuba, pelo Partido Comunista Cubano, através da “Editorial de Ciências
Sociales La Habana”. Um calhamaço de 369 páginas, cópia de um velho manual do
Partido Comunista da União Soviética.
Como
vemos foi utilizado não quando o comunismo/marxismo se encontrava no auge mas
quanto em todo o mundo a estrutura criada ao seu redor já apresentava graves
sinais de deterioração. Percebemos pelo texto abaixo não a força de uma
filosofia mas algo tão intenso quanto uma religião, inspirando em seus
seguidores uma fé de fazer inveja às grandes religiões mundiais e mesmo à
muitas religiões de cunho missionário:
“A
classe operária soviética em aliança com o campesinato e sob a direção do
Partido Comunista, construiu o socialismo desenvolvido e realiza atualmente a
construção do comunismo (…) Os ganhos do socialismo são grandes e reconhecidos
em todo o mundo. O comunismo abre perspectivas ainda maiores, pois é a fase
superior da nova sociedade. O comunismo garantirá aos povos da Terra a paz
eterna, e os homens serão libertados para sempre da intranqüilidade por seu
futuro e o de seus filhos. O comunismo confirmará o Reino do Trabalho na Terra,
fará o trabalho livre e criador para todos e o converterá na primeira
necessidade vital do homem e em fonte de sua alegria e inspiração. O comunismo
criará o verdadeiro Reino da Liberdade do homem como trabalhador, como ser
social, como criador e pensador, possuidor das poderosas forças sociais e da
natureza. O comunismo garantirá a Igualdade e Fraternidade entre todos os
homens, já que todos serão trabalhadores que se desempenharão plenamente de
acordo com suas capacidades, e na mesma medida serão satisfeitas suas
necessidades. O homem será outro, companheiro e irmão no mais elevado sentido
da palavra. O comunismo levará a todos os homens a verdadeira Felicidade, a
confiança no belo futuro e a trabalhar criativamente para que seja de grande
utilidade à humanidade e a si mesmo, e dará a possibilidade de aperfeiçoar
infinitamente suas qualidades físicas e intelectuais. O comunismo é o futuro
luminoso de toda a humanidade”.
É
difícil ler estas palavras sem reconhecer nelas um sentido religioso, redentor
e mesmo profético. Marx não as escreveu é verdade. Nem mesmo matou uma única
pessoa por causa daquilo que acreditava ser verdade. Este texto todavia não
está muito longe de outros textos de sua autoria já demonstrados. É fácil
traçar paralelos entre as proposições de Marx e aquelas originadas à parir de
seus escritos. Se “pelos seus frutos os conhecereis” como disse Jesus então
conhecemos muito bem o autor de O Capital.
“A
salvação marxista-leninista é otimista. Ela é comparável à salvação anunciada
pela profecia bíblica. Seu objetivo é superar a natureza como ela é, o homem
como ele é; chegar a um tempo messiânico de paz e justiça, em que o lobo
conviva com o cordeiro, em que as disciplinas e frustrações do casamento, da
família, da propriedade, do direito, da penúria sejam abolidas. Finalmente é a
própria morte que é vencida: houve devaneios sobre esse tema no começo da
revolução bolchevique, alimentados por certo Fedorov, um quimérico da
ressurreição científica dos corpos e da imortalidade. O “ homem novo”, produto
do socialismo, é um tipo de corpo gloriosos tal como a profecia bíblica
entrevê. E a sua salvação está nas mãos do homem. Ela é obtida por meios
políticos”. (A infelicidade do século, Alain Besançon, Bertrand Brasil, 2000,
RJ)
Produzir
o homem novo tem sido uma das propostas do socialismo. Che Guevara, o ícone do
comunismo mundial muitas vezes se utilizou desta expressão como o ideal a ser
alcançado. Fazer o resgate do homem que se encontra “perdido” em sua condição
social e torna-lo outro. Auto-redenção, mas não só ao nível pessoal e sim
global através da mudança da estrutura que rodeia o homem. É uma forma de
auto-salvação também “Nenhum deles de modo algum pode remir a seu irmão, ou dar
a Deus o resgate dele. (Pois a redenção da sua alma é caríssima, e cessará para
sempre), (Sl 49.7,8)
O
pensamento marxista (…) propõe o caminho para atingir uma verdadeira existência
humana e nesse sentido projeta a formação de um homem novo, um indivíduo
superior, plenamente antecipado e desenvolvido multifacetalmente em todos os
seus aspectos, isto é, aperfeiçoado espiritual, moral, físico e esteticamente.
(El marxismo y la formación del hombre nuevo, Dra. Yolanda Corujo Vallejo,
Profesora Titular. Universidad de Oriente. Santiago de Cuba)
Onde
quer o marxismo se manifeste este intenção de criar o novo homem está presente.
O que seria este “novo homem” é difícil de dizer, pois é uma noção muito
imprecisa dentro do conceito comunista.
FAR-SE-Á intensa difusão da teoria socialista firmada no
materialismo dialético, a fim de enraizar a cultura avançada entre as massas e
consolidar o sistema do socialismo científico. A luta constante contra a
ideologia burguesa, individualista e mesquinha, é fundamental para forjar
culturalmente o novo homem e tornar definitivamente vitoriosos os ideais do
proletariado revolucionário. (Programa de um partido comunista)
(http://www.vermelho.org.br/pcdob/programa/default.asp)
Contudo,
sabemos muito bem que ela foi tomada do próprio Novo Testamento, uma expressão
cristã a qual o comunismo sempre procurou roubar. Isto porque o novo homem,
seja no sentido individual, seja no sentido coletivo já foi criado, quando
Cristo morreu na cruz e formou uma nova humanidade a partir da união de judeus
e gentios que crêem em Nele.
Porque
ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derrubando a parede de
separação que estava no meio, Na sua carne desfez a inimizade, isto é, a lei
dos mandamentos, que consistia em ordenanças, para criar em si mesmo dos dois
um novo homem, fazendo a paz, E pela cruz reconciliar ambos com Deus em um
corpo, matando com ela as inimizades.(Ef 2.14-16)
Ou ainda
podemos citar 2 Coríntios 5.17
Assim
que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram;
eis que tudo se fez novo.
O MILENARISMO
O que é
milenarismo? Não falamos aqui simplesmente da crença de um reinado literal de
Cristo sobre a terra por mil anos, conforme descrito em Apocalipse 20.1-6. Esta
fundamenta-se em uma ação divina trazendo o Reino de Deus para os homens.
Falamos do milenarismo como um sistema humano perfeito, implantado na terra
pelo desejo e ação humanos. Hitler dizia que o Terceiro Reich iria durar mil
anos. O comunismo, como vimos, mantinha esta mesma esperança. O problema é
quando o homem se acha capaz de fazer o que só Deus pode fazer.
O
milenarismo está para a Vinda do Reino de Deus, assim como a auto-salvação está
para a graça. No primeiro caso o homem é seu próprio salvador enquanto no
segundo caso é Deus o agente. No caso do marxismo Deus foi completamente
expulso de qualquer participação do mundo vindouro. No seu lugar o agente de
transformação é o proletariado, é a História, é o próprio homem. Ao invés da
salvação de Deus, uma salvação humana é pregada e ações são tomadas contra
aqueles que se opõe.
A idéia
do futuro, Marx a toma do passado. Ele ensinava que o relacionamento dos homens
entre si e dos homens com a natureza fora perfeito algum dia. Era o que ele
chamava de “comuna primitiva”. Este era o seu Éden, seu paraíso perdido que
fora perdido pela maior pecado que existe, segundo o marxismo – a propriedade
privada. “Por que a infância da sociedade humana, onde ela atingiu o seu mais
belo desenvolvimento, não exerceria um atrativo eterno como uma idade que nunca
voltará?” (David MacLellan, op. Cit. ) Era este estágio inicial a base para o
glorioso futuro do mundo sob o comunismo. Como disse Besançon No momento
inicial era a comuna primitiva; no momento final será o comunismo, e hoje é o
momento de luta entre os dois princípios. (Op. Cit.). Uma imitação humana das
bases da Teologia Bíblica.
Alguém
resumiu a salvação messiânica-marxista em quatro pontos, que fornecem uma boa
compreensão do que seja o milenarismo comunista: (I) a humanidade pecadora não
será salva por Nosso Senhor Jesus Cristo, mas por ela mesma; (II) o método para
alcançar a redenção consiste em matar ou pelo menos subjugar todos os maus,
isto é, os ricos; (III) os pobres são inocentes e puros, mas não entendem seu
lugar no projeto da salvação e por isso têm de colocar-se sob as ordens de uma
elite dirigente, os “santos”; (IV) o morticínio redentor gerará não somente a
melhor distribuição das riquezas, mas a eliminação do mal e do pecado, o
advento de uma nova humanidade
Todavia,
a salvação, seja a nível pessoal, coletivo ou cósmico, é e será um ato do Deus
Criador. É esta redenção que aguardamos.
Arrependei-vos,
pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham
assim os tempos do refrigério pela presença do Senhor, E envie ele a Jesus
Cristo, que já dantes vos foi pregado. O qual convém que o céu contenha até aos
tempos da restauração de tudo, dos quais Deus falou pela boca de todos os seus
santos profetas, desde o princípio.(At 3,19-21)
Não
podemos de modo algum acreditar que algum tipo de “Reino de Deus” possa ser
levado a efeito pelo homem, por mais belas que possam parecer estas aspirações.
Desejamos sim a redenção. Nossa e do universo. Mas esta só será possível pela
graça e poder de Deus.
O
conceito de progresso, entendido no sentido de uma transformação em
profundidade do ser humano, sob a ação da história ou de uma vontade
político-histórica, não pode ser aceito, pois ele faz depender da ação política
uma transformação que , segundo a Bíblia, só se deve a graça divina. Quando o
que só é possível pela graça divina se torna o objetivo da ação humana, esta
visa realizar o impossível. (Alain Besançon, Op. Cit)
MARXISMO E DEVOÇÃO
RELIGIOSA
O meu Santo dos Santos foi feito em pedaços e novos deuses
tiveram que ser instalados
Karl Marx, 10 de Novembro de 1837
Porque o
meu povo fez duas maldades: a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e
cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm águas (Jr 2.13)
Entre outros autores, Vilfredo Pareto há muito tempo, em uma de
suas mais desconhecidas e importantes obras, Les Systemes Socialistes (Giard,
1926, principalmente vol II, p. 332 em diante), revelou de maneira enérgica o
caráter religiosos do marxismo. Pareto, depois de mostrar as contradições e as
inanidades de O Capital, argumenta que o Marxismo prospera não como filosofia
da história, nem como sociologia, nem como teoria econômica, e sim como forma de
religião. (MARXISMO E RELIGIÃO – HEREALDO BARBUY – DOMINUS EDITORA 1963 )
Talvez isto espante a muitos. Imaginar que um sistema político de caráter
ateísta possa ter algo haver com religião parece demasiadamente absurdo, um
paradoxo. Mas não é assim. Diversos foram os aqueles que perceberam essa
afinidade, essa característica religiosa do marxismo. Pensadores e teólogos
como Arnold Toynbee, Jacques Maritain e Rodolfo Bultmann entre outros
descreveram o marxismo como um messianismo e uma heresia cristã.
Albert
Camus, que muito pouco tinha de cristão, foi um desses pensadores. Ele
escreveria em O Homem Revoltado:
O
ateísmo marxista é absoluto. No entanto, ele restabelece o ser supremo ao nível
do homem. A crítica da religião chega a esta doutrina na qual o homem é para o
homem o ser supremo. Sob este ângulo, o socialismo é um empreendimento de
divinização do homem e adquiriu certas características das religiões
tradicionais”.
Ainda um
outro autor, escrevendo sobre economia faria um paralelo entre Marx e Engels
com os líderes religiosso.
Caso
tivéssemos que julgar sob a luz da devoção de conceitos religiosos, diríamos
que Marx poderia ser considerado um líder religioso do mesmo nível de Cristo ou
Maomé, e Engels como uma espécie de São Paulo ou São João. No Instituto
Marx-Engels, em Moscou, eruditos debruçam-se sobre seus trabalhos com a mesma
idolatria que ridicularizam nos museus anti-religiosos que há por lá; mas
enquanto Marx e Engels eram canonizados na Rússia, eram crucificados na maior
parte do mundo
E ele
continua ainda de forma mais contundente
Dirigindo-se
ao operário abstrato, internacional, independentemente de sua língua, raça,
religião, família, e de si mesmo, Marx aboliu a realidade da Nação mas por
outro lado substancializou a idéia de Humanidade.O marxismo tornou-se desde
então como todas as heresias e contrafacções do Cristianismo, um credo
religioso de salvação internacional. Não se trata de um sistema científico mas
duma religião que quer salvar o homem como gênero abstrato.
É
secundária portanto a verdade ou mentira científica do marxismo, como
filosofia, como sociologia, economia ou método. (…) Se o marxismo vivesse como
doutrina científica, como viveu por exemplo a teoria da geração espontânea, não
poderia sobreviver a contestação os fatos e das novas perspectivas das
ciências. Mas vive como esperança e como fé.
Na
medida em que a civilização ocidental se propaga, nivelando e sepultando por
toda parte as culturas autoctones e levando consigo os dados do cristianismo,
na mesma forma o marxismo também se propaga como a versão herética e revoltada
dos ideais cristãos
.(Robert
Heilbroner, História do Pensamento Econômico, Nova Cultural)
Encarar o marxismo como uma forma de religião não foi algo
realizado somente por não-comunistas. Alguns teóricos marxistas também
perceberam esse elemento religioso presente na ideologia comunista. Assim
escreve José Carlos Mariátegui:
A burguesia entretém-se numa crítica racionalista do método, da teoria, da
técnica dos revolucionários. Que incompreensão! A força dos revolucionários não
reside na sua ciência e sim na sua fé, na sua paixão, na sua vontade. É uma
força religiosa, mística, espiritual.
Gonzáles
Prada se iludia (…) ao nos pregar anti-religiosidade. Hoje conhecemos muito
mais do que na sua época sobre religião. (…) Sabemos que uma revolução é sempre
religiosa. A palavra religião tem um novo valor, um novo sentido. Serve para
designar alguma coisa além de um rito ou uma igreja. Não importa que os
soviéticos escrevam nos seus panfletos propagandísticos que “a religião é o
ópio dos povos”. O comunismo é essencialmente religioso. (José Carlos
Mariátegui, Sete ensaios sobre a realidade peruana (1928), Lima, Amauta, 1976)
O terrível perigo das
idéias erradas
Reiteramos que nosso alvo não é fazer qualquer crítica política.
Se em algum momento nos utilizamos de alguma citação que esteja relacionada a
isto, foi apenas incidental. Estamos plenamente cientes de que os crimes
cometidos contra cristãos e pessoas inocentes não podem generalizadamente ser
atribuído a qualquer um que simpatize com as idéias de Marx.
Apenas queremos mostrar que os conceitos marxistas apresentam inúmeros pontos
de divergência com o cristianismo. Essas divergências são muito patentes, pois
onde quer que o marxismo tenha sido semeado, ele buscou destruir o cristianismo
em sua prática ou em sua essência. Qualquer tentativa de unir as ideologias
será um logro. As divergências são muitas e são essenciais. Deixemos que o
próprio Marx fale.
Por
causa desta divergência devemos levar as obras teóricas o mais possível a
sério. Estamos firmemente convencidos de que não é o esforço prático, mas antes
a explicação teórica das idéias comunistas que é o perigo real. Tentativas
práticas perigosas, mesmo aquelas em larga escala, podem ser respondidas com
canhão. Mas as idéias conseguidas por nossa inteligência, incorporadas ao nosso
modo de ver, e forjadas em nossa consciência, são correntes que nós mesmos não
podemos romper sem partir nossos corações; elas são demônios que não podemos
vencer sem nos submetermos a eles. (David MacLellan, op. Cit.)
Se um
pouco de fermento leveda toda a massa (1 Co 5.6), imagine muito fermento o que
não fará? Deus nos conceda sabedoria e graça para discernimos as sutilezas
enganadoras, as propostas ilusórias. Sabemos que muitos tomaram o caminho do
marxismo idealizando ajudar e servir ao próximo. Porém, de nada vale o ímpeto
quando se corre pela estrada errada. Não basta o zelo. É preciso também o
entendimento.
Eguinaldo
Hélio de Souza
BIBLIOGRAFIA
BESANÇON, Alain. A Infelicidade
do Século. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000.
DOYON, Jacques. Cristologia
para o nosso tempo. São Paulol: Edições Paulinas, 1970
MACLELLAN, David. Karl Marx –
Vida e Pensamento. Petrópolis: Vozes, 1990.
HEILBRONER, ROBERT. História do
Pensamento Econômico. São Paulo: Nova Cultural, 1992
.
HEILBRONER, ROBERT. O Futuro
Como História. Rio de Janeiro: Zahar, 1963
BARBUY, Heraldo. Marxismo e
Religião. Rio de Janeiro: Dominus Editora, 1963.
WUMBRAND, Richard. Era Karl
Marx um Satanista? Rio de Janeiro: Voz dos Mártires, 1980
MARX, Karl e ENGELS, Friederich. O
Manifesto do Partido Comunista, Rio de Janeiro: Global Editora, 1986.
POPPER, Karl. A Miséria do
Historicismo. São Paulo: Cultrix, EDUSP, 1980
VEJAM MAIS WWW.AVIVAMENTONOSUL21.COMUNIDADES.NET
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