A Existência de
Deus
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1. Sua existência declarada.
Em parte alguma as Escrituras tratam de provar a existência de
Deus mediante provas formais. Reconhece-se como fato auto-evidente e como
crença natural do homem. As Escrituras em parte alguma propõem uma série de
provas da existência de Deus como preliminar à fé; declaram o fato de Deus e
chamam o homem a aventurar-se na fé. “O que se chega a Deus, creia que há
Deus”, é o ponto inicial na relação entre o homem e Deus.
A Bíblia, em verdade, fala de homens que dizem em seus
corações que não há Deus, mas esses são “tolos”, isto é, os
ímpios praticantes que expulsariam a Deus dos seus pensamentos porque já
o expulsaram das suas vidas. Esses pertencem ao grande número
de ateus praticantes, isto é, esses que procedem e falam como se
não existisse Deus. Seu número ultrapassa em muito o número de
ateus teóricos, isto é, esses que pretendem aderir à crença
intelectual que nega a existência de Deus. Note-se que a declaração ” não
há Deus” não implica dizer que Deus não exista, mas sim que Deus não se ocupa
com negócios do mundo. Contando com a sua ausência, os homens corrompem-se e se
comportam de maneira abominável. (Sal. 14.)
Assim escreve o Dr. A. B. Davidson: (a Bíblia) não tenta
demonstrar a existência de Deus, porque em todas as partes da Bíblia
subentende-se a sua existência. Parece não haver nenhuma passagem no Antigo
Testamento que represente os homens procurando conhecer a existência de
Deus por meio da natureza ou pelos eventos da providência, embora haja
algumas passagens que impliquem que as ideias falsas sobre a natureza de
Deus podem ser corrigidas pelo estudo da natureza e da vida… O Antigo
Testamento cogita tão pouco da possibilidade de conhecer a Deus quanto cogita
de provar a sua existência. Por que os homens argumentariam sobre o
conhecimento de Deus quando já estavam persuadidos de que o conheciam,
cônscios de estarem em comunhão com ele, estando seus pensamentos cheios e
iluminados por ele, sabendo que seu Espírito neles movia, e guiava-os em
toda a sua história?
A ideia de que o homem chega ao conhecimento ou à comunhão
com Deus por meio de seus próprios esforços é totalmente estranha
ao Antigo Testamento. Deus fala; ele aparece; o homem ouve e vê. Deus
aproxima-se dos homens; estabelece um concerto ou relação especial com eles; e
dá-lhes mandamentos. Eles o recebem quando ele se aproxima: aceitam a sua
vontade e obedecem aos seus preceitos. Moisés e os profetas em parte alguma são
representados como pensadores refletindo sobre o Invisível, formando
conclusões acerca dele, ou alcançando conceitos elevados da Divindade. O
Invisível manifesta-se-lhes, e eles o conhecem.
Quando um homem diz: “Eu conheço o presidente”, ele não quer
dizer: “Eu sei que o presidente existe,” porque isso se subentende na
sua declaração. Da mesma maneira os escritores bíblicos nos dizem que
conhecem a Deus e essas declarações significam a sua existência.
2. Sua existência provada.
Se as Escrituras não oferecem nenhuma demonstração racional
da existência de Deus, por que vamos nós fazer essa tentativa? Pelas
seguintes razões:
Primeiramente, para convencer os que genuinamente buscam a
Deus, isto é, pessoas cuja fé tem sido ofuscada por
alguma dificuldade, e que dizem: “Eu quero crer em Deus; mostra-me
que seja razoável crer nele.” Mas evidência nenhuma convencerá
a pessoa, que, por desejar continuar no pecado e no egoísmo, diz:
“Desafio-te a provar que Deus existe.” Afinal, a fé é questão moral e não
intelectual. Se a pessoa não está disposta a aceitar, ela porá de lado
todas e quaisquer evidências. (Luc. 6:31.)
Segundo, para fortalecer a fé daqueles que já creem.
Eles estudam as provas, não para crer, mas sim porque já creem. Esta
fé lhes é tão preciosa que aceitarão com alegria qualquer fato que a
faça aumentar ou enriquecer.
Finalmente, para poder enriquecer nosso conhecimento acerca
da natureza de Deus. Que maior objeto de pensamento e estudo existe
do que ele?
Onde acharemos evidências da existência de Deus? Na criação,
na natureza humana e na história humana. Dessas três
esferas deduzimos as cinco evidências da existência de Deus:
1) O universo deve ter uma Primeira Causa ou um Criador.
(Argumento cosmológico, da palavra grega “cosmos”, que significa “mundo”.)
2) O desígnio evidente no universo aponta para uma Mente Suprema.
(Argumento teleológico, de “Teleos”, que significa “desígnio
ou propósito”.)
3) A natureza do homem, com seus impulsos e aspirações, assinala
a existência de um Governador pessoal. (Argumento antropológico, da
palavra grega “anthropos”, que significa “homem”.)
4) A história humana dá evidências duma providência que
governa sobre tudo. (Argumento histórico.)
5) A crença é universal. (Argumento do consenso comum.)
(a) O argumento da criação. A razão argumenta que o
universo deve ter tido um princípio. Todo efeito deve ter uma
causa suficiente. O universo, sendo o efeito, por conseguinte deve
ter uma causa. Consideremos a extensão do universo. Nas palavras
de Jorge W. Grey: “O universo, como o imaginamos, é um sistema
de milhares e milhões de galáxias. Cada uma delas se compõe
de milhares e milhões de estrelas. Perto da circunferência de
uma dessas galáxias — a Via Láctea — existe uma estrela de tamanho
médio e temperatura moderada, já amarelada pela velhice — que é o nosso Sol.” E
imaginem que o Sol é milhões de vezes maior que a nossa pequena Terra!
Prossegue o mesmo escritor: “O Sol está girando numa orbita vertiginosa em
direção à circunferência da Via Láctea a 19.300 metros por segundo,
levando consigo a Terra e todos os planetas, e ao mesmo tempo todo
o sistema solar está girando num gigantesco circuito à
velocidade incrível de 321 quilômetros por segundo, enquanto a própria
galáxia gira, qual colossal roda gigante estelar. Fotografando-se algumas
seções dos céus, é possível fazer a contagem das estrelas.
No observatório de Harvard College eu vi uma fotografia que
inclui as imagens de mais de 200 Vias Lácteas — todas
registradas numa chapa fotográfica de 35 x 42cm. Calcula-se que o
número de galáxias de que se compõe o universo é da ordem de 500
milhões de milhões.”
Consideremos nosso pequeno planeta e nele as várias formas de
vida existentes, as quais revelam inteligência e desígnio divinos.
Naturalmente surge a questão: “Como se originou tudo isso?”
A pergunta é natural, pois as nossas mentes são constituídas de tal
forma que esperam que todo efeito tenha uma causa. Logo, concluímos que o
universo deve ter tido uma Primeira Causa, ou um Criador. “No princípio —
Deus” (Gên. 1:1).
Dum modo singelo este argumento é exposto no seguinte incidente:
Disse um jovem cético a uma idosa senhora: — Outrora eu
cria em Deus, mas agora, desde que estudei filosofia e
matemática, estou convencido de que Deus não é mais do que uma palavra
oca.
— Bem — disse a senhora — é verdade que eu não
aprendi essas coisas, mas desde que você já aprendeu, pode me dizer
donde veio este ovo?
— Naturalmente duma galinha — foi a resposta.
— E donde veio a galinha?
— Naturalmente dum ovo.
Então indagou a senhora: — Permita-me perguntar: qual
existiu primeiro, a galinha ou o ovo?
— A galinha, por certo — respondeu o jovem.
— Oh, então, a galinha existia antes do ovo?
— Oh, não, devia dizer que o ovo existia primeiro.
— Então, eu suponho que você quer dizer que o ovo existia
antes da galinha.
O moço vacilou: — Bem, a senhora vê, isto é, naturalmente,
bem, a galinha existiu primeiro.
— Muito bem — disse ela —, quem criou a primeira galinha
de que vieram todos os sucessivos ovos e galinhas?
— Que é que a senhora quer dizer com tudo isto? —
perguntou ele.
— Simplesmente isto — replicou ela: — Digo que aquele que criou
o primeiro ovo ou a primeira galinha é aquele que criou o mundo. Você nem pode
explicar, sem Deus, a existência dum ovo ou duma galinha, e ainda quer que
eu creia que você pode explicar, sem Deus, a existência do mundo inteiro!
(b) O argumento do desígnio. O desígnio e a formosura
evidenciam-se no universo; mas o desígnio e a formosura implicam
um arquiteto; portanto, o universo é a obra dum Arquiteto dotado
de inteligência suficiente para explicar sua obra. O grande
relógio de Estrasburgo tem, além das funções normais dum relógio,
uma combinação de luas e planetas que se movem, mostrando dias e
meses com a exatidão dos corpos celestes, com seus grupos de figuras
que aparecem e desaparecem com regularidade igual ao soarem as horas
no grande cronômetro.
Declarar não ter havido um engenheiro que construiu o relógio,
e que este objeto “aconteceu”, seria insultar a inteligência e a razão
humana. É insensatez presumir que o universo “aconteceu”, ou, em linguagem
cientifica, que procedeu “do concurso fortuito dos átomos”!
Suponhamos que o livro “O Peregrino” fosse descrito da seguinte
maneira: o autor tomou um vagão de tipos de imprensa e com pá os atirou ao ar.
Ao caírem no chão, natural e gradualmente se ajuntaram de maneira a formar a
famosa história de Bunyan. O homem mais incrédulo diria: que absurdo! E a
mesma coisa dizemos nós das suposições do ateísmo em relação à criação do
universo.
O exame dum relógio revela que ele leva os sinais de desígnio
porque as diversas peças são reunidas com um propósito prévio. Elas são
colocadas de tal modo que produzem movimentos e esses movimentos são
regulados de tal maneira que marcam as horas. Disso inferimos duas coisas:
primeiramente, que o relógio teve alguém que o fez, e em segundo lugar, que o
seu fabricante compreendeu a sua construção, e o projetou com o propósito
de marcar as horas. Da mesma maneira, observamos o desígnio e a operação
dum plano no mundo e, naturalmente, concluímos que houve alguém que o fez
e que sabiamente o preparou para o propósito ao qual está servindo.
O fato de nunca termos observado a fabricação dum relógio
não afetaria essas conclusões, mesmo que nunca conhecêssemos
um relojoeiro, ou que jamais tivéssemos ideia do processo desse trabalho.
Igualmente, a nossa convicção de que o universo teve um arquiteto, de
forma nenhuma sofre alteração pelo fato de nunca termos observado a sua
construção, ou de nunca termos visto o arquiteto.
Do mesmo modo a nossa conclusão não se alteraria se alguém
nos informasse que “o relógio é resultado da operação das leis
da mecânica e explica-se pelas propriedades da matéria”. Ainda
assim teremos que considerá-lo como obra dum hábil relojoeiro que
soube aproveitar essas leis da física e suas propriedades para
fazer funcionar o relógio. Da mesma forma, quando alguém nos
informa que o universo é simplesmente o resultado da operação das
leis da natureza, nós nos vemos constrangidos a perguntar: “Quem projetou,
estabeleceu e usou essas leis?” Isso, em razão de ser implícita a presença de
um legislador uma vez que existem leis.
Tomemos, para ilustrar, a vida dos insetos. Há uma espécie
de escaravelho chamado “Staghom” ou “Chifrudo”. O macho tem magníficos
chifres, duas vezes mais compridos do que o seu corpo; a fêmea não tem chifres.
No estágio larval, eles enterram-se a si mesmos na terra e,
silenciosamente, esperam na escuridão pela sua metamorfose. São naturalmente
meros insetos, sem nenhuma diferença aparente e, no entanto, um deles
escava para si um buraco duas vezes mais profundo do que o outro. Por quê?
Para que haja espaço para os chifres do macho se desenvolverem
com perfeição. Por que essas larvas, aparentemente iguais,
diferem assim em seus hábitos? Quem ensinou o macho a cavar seu buraco
duas vezes mais profundo do que o faz a fêmea? é o resultado
dum processo racional? Não, foi Deus, o Criador, quem pôs
naquelas criaturas a percepção instintiva que lhes seria útil.
De onde recebeu esse inseto a sua sabedoria? Alguém talvez
pense que a herdara de seus pais. Mas um cão ensinado, por
exemplo, transmite à sua descendência sua astúcia e agilidade? Não.
Mesmo que admitamos que o instinto fosse herdado, ainda
deparamos com o fato de que alguém havia instruído o primeiro
escaravelho chifrudo. A explicação do maravilhoso instinto dos animais
acha-se nas palavras do primeiro capítulo de Gênesis: “E disse Deus” —
isto é: a vontade de Deus. Quem observa o funcionamento dum relógio sabe que a
inteligência não está no relógio mas sim no relojoeiro. E quem observa o
instinto maravilhoso das menores criaturas, concluirá que a primeira
inteligência não era a delas, mas sim do seu Criador, e que existe uma
Mente controladora dos menores detalhes da vida.
O Dr. Whitney, ex-presidente da Sociedade Americana e membro
da Academia Americana de Artes e Ciências, certa vez disse que “um dia
repele o outro pela vontade de Deus e ninguém pode dar razão melhor.” “Que quer
o senhor dizer com a expressão: a vontade de Deus?” alguém lhe perguntou. O Dr.
Whitney replicou: “Como o senhor define a luz? …Existe a teoria corpuscular, a
teoria de ondas, e agora a teoria do quantum; e nenhuma das teorias
passa duma conjetura educada. Com uma explicação tão boa como
essas, podemos dizer que a luz caminha pela vontade de Deus…
A vontade de Deus, essa lei que descobrimos, sem a podermos explicar — é a
única palavra final.”
O Sr. A. J. Pace, desenhista do periódico evangélico
“Sunday School Times”, fala de sua entrevista com o finado Wilson J.
Bentley, perito em microfotografia (fotografar o que se vê através do
microscópio). Por mais de um terço de século esse senhor fotografou
cristais de neve. Depois de haver fotografado milhares desses cristais ele
observou três fatos principais: primeiro, que não havia dois flocos iguais;
segundo: todos eram de um padrão formoso; terceiro: todos eram
invariavelmente de forma sextavada. Quando lhe perguntaram como se
explicava essa simetria sextavada, ele respondeu: “Decerto, ninguém sabe
senão Deus, mas a minha teoria é a seguinte: Como todos sabem, os cristais
de neve são formados de vapor de água a temperaturas abaixo de zero,
e a água se compõe de três moléculas, duas de hidrogênio que se combinam
com uma de oxigênio. Cada molécula tem uma carga de eletricidade positiva
e negativa, a qual tem a tendência de polarizar-se nos lados opostos. O
algarismo três, portanto, figura no assunto desde o começo.”
“Como podemos explicar estes pontinhos tão interessantes, as
voltas e as curvas graciosas, e estas quinas chanfradas tão delicadamente
cinzeladas, todas elas dispostas com perfeita simetria ao redor do ponto
central?” perguntou o Sr. Pace.
Encolheu os ombros e disse: “Somente o Artista que os desenhou e
os modelou conhece o processo.”
Sua declaração acerca do “algarismo três que figura no assunto”
me pôs a pensar. não seria então que o triúno Deus, que modela toda a
formosura da criação, rubrica a própria trindade nestas frágeis estrelas de
cristal de gelo como quem assina seu nome em sua obra-prima? Ao examinar
os flocos de neve ao microscópio, vê-se instantaneamente que o princípio
básico da estrutura do floco de neve é o hexágono ou a figura de seis
lados, o único exemplo disso em todo o reino da geometria a este respeito.
O raio do circulo circunscrevente é exatamente igual ao comprimento de
cada um dos seis lados do hexágono. Portanto, resultam seis
triângulos equiláteros reunidos ao núcleo central, sendo todos os ângulos
de sessenta graus, a terça parte de toda a área num lado duma
linha reta. Que símbolo sugestivo do triúno Deus é o triângulo!
Aqui temos unidade: um triângulo, formado de três linhas, cada
parte indispensável à integridade do conjunto.
A curiosidade agora me impeliu a examinar as
referências bíblicas sobre a palavra “neve”, e descobri, com grande
prazer, este mesmo “triângulo” inerente na Bíblia. Por exemplo, há 21 (3 x
7) referências contendo o substantivo “neve” no Antigo Testamento, e 3 no
Novo Testamento, 24 ao todo. Então achei referencias, que falam da “lepra
tão branca como a neve”. Três vezes a purificação do pecado é comparada à neve.
Achei mais três que falam de roupas “tão brancas como a neve”. Três vezes
a aparência do Filho de Deus compara-se à neve. Mas a maior surpresa foi
ao descobrir que a palavra hebraica, “neve”, é composta inteiramente
de algarismos “três”! É fato, embora não seja geralmente
conhecido que, não tendo algarismos, tanto os hebreus como os gregos usavam as
letras do seu alfabeto como algarismos. Bastava um olhar casual de um
hebreu à palavra SHELEG (palavra hebraica que quer dizer “neve”) para ver
que ela significa o algarismo 333, bem como significa “neve”. No hebraico
a primeira letra, que corresponde à nossa “SH”, vale 3OO; a segunda
consoante “L” vale 30; e a consoante final, o nosso “G”, vale 3.
Somando-as, temos 333, três algarismos de três. Curioso, não é verdade?
Mas por que não esperar exatidão matemática dum livro plenamente
inspirado, tão maravilhoso quanto o mundo que Deus criou?
Acerca de Deus disse Jo: “Faz grandes coisas que não
podemos compreender. Pois diz à neve: Cai sobre a terra” (Jo 37.5, 6).
Eu já gastei dois dias inteiros para copiar com pena e tinta o
desenho de Deus de seis cristais de neve e fiquei muito fatigado. E
como é fácil para ele fazê-lo! “Ele diz à neve” — e com uma
palavra está feito.
Imaginem quantos milhões de bilhões de cristais de neve caem
sobre um hectare de terra durante uma hora, e imaginem, se puderem,
o fato surpreendente de que cada cristal tem sua
individualidade própria, um desenho e modelo sem duplicata nesta ou em
qualquer outra tempestade. “Tal conhecimento é maravilhoso demais para
mim; elevado é, não o posso atingir” (Sal. 139:6). Como pode uma pessoa
ajuizada, diante de tal evidência de desígnios, multiplicados por um
sem-número de variedades, duvidar da existência e da obra do Desenhista, cuja
capacidade é imensurável?! Um Deus capaz de fazer tantas belezas é capaz
de tudo, até mesmo de moldar as nossas vidas dando-lhes beleza e simetria.
(c) O argumento da natureza do homem. O homem dispõe de
natureza moral, isto é, a sua vida é regulada por conceitos do bem e
do mal. Ele reconhece que há um caminho reto de ação que deve seguir
e um caminho errado que deve evitar. Esse conhecimento chama-se “consciência”.
Ao fazer ele o bem, a consciência o aprova; ao fazer ele o mal, ela o condena.
A consciência, seja obedecida ou não, fala com autoridade. Assim disse
Butier acerca da consciência: “Se ela tivesse poder na mesma proporção de
sua autoridade manifesta, governaria o mundo, isto é, se a consciência
tivesse a força de pôr em ação o que ordena, ela revolucionaria o mundo.” Mas
acontece que o homem é dotado de livre arbítrio e, portanto, pode desobedecer
àquela voz íntima. Mesmo estando mal orientada, sem esclarecimento, a
consciência ainda fala com autoridade, e faz o homem sentir sua
responsabilidade.
“Duas coisas me impressionam”, declarou Kant, o grande
filosofo alemão, “o alto céu estrelado e a lei moral em meu interior.”
Qual a conclusão que se tira deste conhecimento universal do bem
e do mal? Que há um Legislador que idealizou uma norma de conduta para o
homem e fez a natureza humana capaz de compreender esse ideal. A
consciência não cria o ideal; ela simplesmente testifica acerca dele,
registrando a sua conformidade ou não-conformidade.
Quem originalmente criou esses dois poderosos conceitos do bem
e do mal? Deus, o Justo Legislador! O pecado ofuscou a consciência e
quase anulou a lei do ser humano; mas no Monte Sinai Deus gravou essa lei
em pedras para que o homem tivesse a lei perfeita para dirigir a sua vida.
O fato de que o homem compreende esta lei, e sente a sua responsabilidade
para com ela, manifesta a existência dum Legislador que criou o homem com essa
capacidade.
Qual é a conclusão que podemos tirar desse sentimento
de responsabilidade? Que o Legislador é também um Juiz que recompensar os
bons e castigar os maus. Aquele que impôs a lei finalmente defenderá essa
lei.
Não somente a natureza moral do homem, como também todos
os aspectos da sua natureza testificam da existência de Deus. Até as
religiões mais degradadas demonstram o fato de que o homem, qual cego,
tateando, procura algo que sua alma anela. A fome física indica a existência de
algo que a possa satisfazer. Quando o homem tem fome, essa fome indica que
há alguém ou algo que o possa satisfazer. A exclamação, “a minha alma tem
sede de Deus” (Sal. 42:2), é um argumento a favor da existência de Deus, pois
a alma não enganaria o homem com sede daquilo que não existisse. Assim
disse certa vez um erudito da igreja primitiva: “Para ti nos fizeste, e nosso
coração estará inquieto enquanto não encontrar descanso em ti.”
(d) O argumento da história. A marcha dos eventos da
história universal fornece evidência de um poder e duma
providência dominantes. Toda a história bíblica foi escrita para
revelar Deus na história, isto é, para ilustrar a obra de Deus nos
negócios humanos. “Os princípios do divino governo moral encontram-se
na história das nações tanto quanto na experiência dos
homens”, escreve D. S. Clarke. (Sal. 75:7; Dan. 2:21; 5:21.)
“O protestantismo inglês vê a derrota da Armada Espanhola como
uma intervenção divina. A colonização dos Estados Unidos por
imigrantes protestantes salvou-os da sorte da América do Sul, e
desta maneira salvou a democracia. Quem negaria que a mão de
Deus estivesse nesses acontecimentos?” A história da humanidade,
o surgimento e declínio de nações, como Babilônia e Roma, mostram que
o progresso acompanha o uso das faculdades dadas por Deus e a obediência à
sua lei, e que o declínio nacional e a podridão moral seguem a
desobediência” (D. L. Pierson). A. T. Pierson, em seu livro, “Os Novos
Atos dos Apóstolos”, expõe as evidências da dominante providência de Deus
nas missões evangélicas modernas.
Especialmente o modo de Deus tratar com os indivíduos
fornece provas de sua ativa presença nos negócios humanos.
Charles Bradiaugh, que foi em certo tempo o ateu mais notável
na Inglaterra, desafiou o pastor Charles Hughá Price, para um debate.
Foi aceito o desafio e o pregador, por sua vez, desafiou o
ateu da seguinte maneira: Como todos sabemos, Sr. Bradiaugh, “o
homem convencido contra a própria vontade mantém sempre seu ponto
de vista”, e, visto que o debate, como ginástica mental que é, provavelmente
não converterá a ninguém, proponho-lhe que apresentemos algumas evidências
concretas da validade das reivindicações do cristianismo na forma de
homens e mulheres redimidos da vida mundana e vergonhosa pela influência
do cristianismo e pela do ateísmo. Eu trarei cem desses homens
e mulheres, e desafio-o a fazer o mesmo.
Se o Sr. Bradiaughá não puder apresentar cem, contra os meus
cem, ficarei satisfeito se trouxer cinquenta homens e mulheres que
se levantem e testifiquem que foram transformados duma
vida vergonhosa pela influência dos seus ensinos ateus. Se não
puder apresentar cinquenta, desafio-o a apresentar vinte pessoas
que testifiquem com rostos radiantes, como o farão os meus cem,
que tenham um grande e novo gozo na sua vida elevada, em resultado
dos ensinos ateus. Se não puder apresentar vinte, ficarei satisfeito
se apresentar dez. Não, Sr. Bradiaugh, desafio-o a trazer um só
homem ou uma só mulher que dê tal testemunho acerca da
influência enobrecedora dos seus ensinos. Minhas pessoas redimidas
trarão prova irrefutável quanto ao poder salvador de Jesus Cristo sobre
as suas vidas redimidas da escravidão do pecado e da vergonha.
Talvez, senhor Bradiaugh, essa será a verdadeira demonstração
da validade das reivindicações do cristianismo. O Sr. Bradiaughá retirou o
seu desafio!
(e) O argumento da crença universal. A crença na existência
de Deus é praticamente tão difundida quanto a própria raça
humana, embora muitas vezes se manifeste em forma pervertida ou grotesca
e revestida de idéias supersticiosas. Esta opinião tem
sido contestada por alguns que argumentam existirem raças que não têm
a menor concepção de Deus. Mas o Sr. Jevons, autoridade no assunto
de raças e religiões comparadas, diz que esta opinião, “Como é
do conhecimento de todos os antropólogos, já foi para o limbo das
controvérsias mortas… todos concordam que não existem raças, por mais
primitivas que sejam, totalmente destituídas de concepção religiosa! Embora
alguém cite exceções, sabemos que a exceção não inutiliza a regra. Por
exemplo, se fossem encontrados alguns seres humanos inteiramente destituídos de
todo sentimento humano e compaixão, isso não serviria de base para
dizer que o homem é essencialmente uma criatura destituída
de sentimentos. A presença de cegos no mundo não prova que todos
os homens são cegos.” Como disse William Evans: “o fato de certas nações
não conhecerem a tabuada de multiplicação não afeta a aritmética.”
Como se originou esta crença universal? A maior parte dos ateus
parece imaginar que um grupo de teólogos se tenha reunido em sessão secreta na
qual inventaram a ideia de Deus, a qual depois apresentaram ao povo. Mas
os teólogos não inventaram Deus como também os astrônomos não inventaram as
estrelas, nem os botânicos as flores. É certo que os antigos mantinham ideias
erradas acerca dos corpos celestes, mas esse fato não nega a existência
dos corpos celestes. E visto que a humanidade já teve ideias defeituosas acerca
de Deus, isso implica que existe um Deus acerca do qual podiam ter noções
errôneas.
Este conhecimento universal não se originou necessariamente
pelo raciocínio, porque há homens de grande capacidade de raciocínio que
também negam a existência de Deus. Mas é evidente que o mesmo Deus que fez
a natureza, com suas belezas e maravilhas, fez também o homem dotado de
capacidade para observar, através da natureza, o seu Criador. “Porquanto,
o que se pode conhecer de Deus, neles está manifesto; pois Deus lho
manifestou. As perfeições invisíveis dele, o seu poder eterno, e a sua
divindade, claramente se veem desde a criação do mundo, sendo percebidas pelas
suas obras” (Rom. 1:19, 20). Deus não fez o mundo sem deixar certos sinais,
sugestões e evidências claras, que falam das obras das suas mãos. “Mas os
homens conhecendo a Deus, não o glorificaram como Deus, nem deram graças,
antes se enfatuaram nas suas especulações e ficou em trevas o seu coração
insensato” (Rom. 1:21). O pecado fez embaçar a sua visão; perderam de vista
a Deus e, em vez de ver a Deus através da criatura,
desprezaram-no pela ignorância e adoraram a criatura. Foi desta maneira
que começou a idolatria. Mas até isto prova que o homem é
criatura adoradora e que forçosamente procura um objeto de culto.
Esta crença universal em Deus é prova de quê? É prova de que
a natureza do homem é de tal maneira constituída que é capaz
de compreender e apreciar essa idéia, como o expressou
certo escritor: “O homem é incuravelmente religioso”, que no sentido mais
amplo inclui: (1) A aceitação do fato da existência dum ser acima das
forças da natureza. (2) Um sentimento de dependência de Deus como quem domina o
destino do homem; este sentimento é despertado pelo pensamento de sua própria
debilidade e pequenez e pela magnitude do universo. (3) A convicção de que
se pode efetuar uma união amistosa e que nesta união ele, o
homem, achará segurança e felicidade. Desta maneira vemos que o
homem, por natureza, é constituído para crer na existência de
Deus, para confiar na sua bondade, e para adorar em sua presença.
Este “sentimento religioso” não se encontra nas criaturas inferiores.
Por exemplo, perderia seu tempo quem procurasse ensinar religião ao mais
elevado dos tipos de símios. Mas o mais inferior dos homens pode ser
instruído nas coisas de Deus. Por quê? Falta ao animal a natureza
religiosa — não é feito à imagem de Deus; o homem possui natureza religiosa e
procura um objeto de adoração.
3. Sua existência negada.
O ateísmo consiste na negação absoluta da ideia de Deus.
Alguns duvidam que haja verdadeiros ateus; mas se os houver, é impossível
provar que estejam sinceramente buscando a Deus ou que sejam logicamente
coerentes.
Visto que são os ateus que se opõem às convicções mais
profundas e mais fundamentais da raça humana, a responsabilidade de
provar a não-existência de Deus recai sobre eles. não podem sincera
e logicamente dizer-se ateus enquanto não apresentarem
provas irrefutáveis de que de fato Deus não existe. Inegavelmente,
a evidência da existência de Deus ultrapassa de muito a evidência contra a
sua existência. Nesta conexão, D. S. Clarke escreve: Uma pequena prova
demonstrará que há Deus, porquanto nenhuma prova, por maior que seja, pode
atestar a sua não-existência. As pegadas de uma ave sobre uma rocha junto
ao mar provariam que em algum tempo um pássaro visitou as terras adjacentes ao
Atlântico. Mas antes que se declarasse que pássaro nenhum jamais estivera por
ali, seria necessário conhecer a história inteira dessa costa desde o começo da
vida no globo terrestre. Um pouco de evidência demonstrará que existe Deus.
Antes que se diga que não há Deus, devem-se analisar todos os elementos do
universo; devem-se investigar todas as forças mecânicas, elétricas, biológicas,
mentais e espirituais — deve-se ter conhecimento de todos os seres e
compreendê-los completamente; deve-se estar em todos os pontos do espaço a
um só tempo, para que possivelmente Deus não esteja em alguma outra parte
e assim escape à sua atenção. Essa pessoa deve ser onipotente, onipresente,
eterna; de fato, essa mesma pessoa deve ser Deus antes que ela afirme
dogmaticamente que não há Deus. Por muito estranho que pareça, somente
Deus, cuja existência o ateu nega, teria essa capacidade de provar que
não há Deus!
Outrossim, mesmo a mais remota possibilidade de que existe um
Soberano moral põe sobre o homem imensa responsabilidade, e a conclusão ateísta
é inaceitável enquanto a inexistência de Deus não for demonstrada de maneira
irrefutável.
A posição contraditória ateísta demonstra-se no fato de
que muitos ateus, ao se encontrarem em perigo ou em dificuldades, têm
orado. Quantas vezes, tempestades e lutas da vida têm varrido seu refúgio
teórico, revelando os alicerces espirituais, e demonstrando comportamento
humano. Dizemos “humano” porque aquele que nega a existência de Deus abala
e suprime os instintos e impulsos mais profundos e nobres da alma. Como
disse Pascal: “O ateísmo é uma enfermidade.” Quando o homem perde a fé em
Deus não é devido aos argumentos ( não importa a lógica aparente com que se
apresente a sua negação), mas “a algum desastre, traição, ou negligência
íntimos ou algum ácido corrosivo destilado em sua alma que dissolveu a
pérola de grande preço”.
O seguinte incidente, contado por um fidalgo russo, esclarecer
este assunto:
Foi em novembro de 1917, quando os bolcheviques venceram o
governo de Kerensky e iniciaram um reinado de terror. O fidalgo estava
na casa de sua mãe, tomado de constante medo de ser preso. A
campainha da porta tocou e o criado que atendeu trouxe um cartão de
visita com o nome do Príncipe Kropotkin — o próprio pai
do anarquismo. Ele entrou e pediu permissão para examinar o apartamento.
Não havia outra coisa a fazer a não ser permitir-lhe entrar, porque
evidentemente estava autorizado a dar busca e até mesmo a requisitar a
casa.
“A minha mãe permitiu-lhe passar adiante”, diz o narrador.
“Entrou num quarto e depois em outro, sem parar, como se tivesse morado
ali antes e conhecesse a ordem dos cômodos. Entrou na sala de jantar;
olhou em redor e, de repente, dirigiu-se ao quarto ocupado por minha mãe.
— Oh! me perdoe — disse minha mãe, quando o Príncipe ia
abrir a. porta — ; é meu quarto de dormir.
Ele parou por um instante diante da porta, olhou para a minha
mãe então, como se estivesse envergonhado, e com voz trêmula, disse
rapidamente:
— Sim, sim, eu sei. Perdoe-me, mas preciso entrar neste quarto!
Pôs a mão na maçaneta e lentamente começou a abrir a porta, e
então repentinamente fechou-a atrás de si depois de entrar. “Fiquei
tão agitado diante da conduta do Príncipe que me vi tentado a olhar. O
Príncipe Kropotkin estava ajoelhado orando ante o oratório no quarto de
minha mãe. Eu o vi ajoelhado fazer o sinal da cruz; não vi seu rosto nem
seus olhos, pois o via por trás. Sua figura ajoelhada e sua oração
fervorosa, fizeram-no parecer tão humilde enquanto sussurrava
vagarosamente a reza. Estava tão ocupado que nem notou a minha presença.”
“De repente toda a minha ira e meu ódio contra esse homem tinham-se
evaporado, qual cerração ante os raios do sol. Tão comovido fiquei que
cuidadosamente cerrei a porta.”O Príncipe Kropotkin permaneceu no quarto
de minha mãe talvez vinte minutos. Finalmente saiu com o ar dum menino
que tivesse cometido uma falta, e nem levantou os olhos, como
que reconhecendo o seu erro. Entretanto, havia um sorriso no seu rosto.
Chegou perto da minha mãe, tomou-lhe a mão, beijou-a e logo disse em voz
muito baixinha: — Agradeço-lhe muito por haver-me permitido esta visita à
sua casa. Não fique nervosa comigo… a Sra. vê, foi neste quarto que morreu
a minha mãe. Foi grande consolação para mim, estar outra vez no seu quarto.
Obrigado, muito obrigado.” A sua voz tremia, e seus olhos estavam
umedecidos. Logo se despediu e desapareceu. “Esse homem, apesar de ser anarquista,
revolucionário, e ateu — ainda orou!
Não é evidente que ele ficou ateu porque esmagou os sentimentos
mais profundos de sua alma? O ateísmo é um crime contra a
sociedade, pois destrói o único fundamento da moral e da justiça — um
Deus pessoal que põe sobre o homem a responsabilidade de guardar
as suas leis. Se não há Deus, então não há lei divina, e todas
as leis são do homem. Mas por que se deve proceder legalmente? Por
que um homem, ou grupo de homens o ordenam? É possível que haja pessoas
dotadas de relativa nobreza de espírito, e que essas façam o bem e sejam
direitas, sem, contudo, possuírem crença em Deus, mas para a grande massa
da humanidade existe somente uma sanção para fazer o que é reto e isso é —
“Assim diz o Senhor”, o Juiz dos vivos e dos mortos, o poderoso Governador
do destino eterno.
Remover isso é destruir os fundamentos da sociedade humana.
Comenta James M. Gillis: O ateu é como um ébrio cambaleante
que entra num laboratório de pesquisas e começa a ajuntar
certas substâncias químicas que o podem destruir, bem como a tudo
ao seu derredor. Na verdade, o ateu está facilitando com forças mais
misteriosas e mais poderosas que qualquer coisa que existe nos tubos de
ensaios; mais misteriosas do que o muito falado raio da morte. Nem se pode
imaginar qual seria o resultado se um ateu realmente extinguisse a fé em
Deus; toda a trágica história deste planeta não registra um só evento que
ilustre tal cataclismo universal que se verificaria.
O ateísmo é crime contra o homem. Ele procura arrancar do
coração do homem o anelo pelas coisas espirituais, sua fome e sede
do infinito. Os ateus protestam contra os crimes que se praticaram em
nome da religião; reconhecemos que a religião tom sido pervertida pelo
sacerdotalismo e eclesiasticismo. Mas procurar apagar a ideia de Deus por
ter havido abusos é tão absurdo quanto tentar arrancar o amor do coração
humano porque em alguns casos esse amor se desvirtuou.
Retirado do Livro: Conhecendo as Doutrinas da Bíblia – Myer
Pearlman – Editora Vida, 2006
veja mais www.avivamentonosul21.comunidades.net
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