Corrupções da doutrina bíblica
(1ª parte)
Modismos teológicos de nossos dias e seus contrassensos à luz da
Bíblia
Doutrina bíblica é um ensino normativo, terminante, final,
extraído das Sagradas Escrituras e concernente à fé em Deus e à prática da vida
cristã. Esse ensino deve ser desdobrado em pormenores e embasado com a
apropriada referenciação bíblica. Ela é chamada de "a sã doutrina"
(Tt 2.1).
A falsificação da doutrina ocorre quando se formula doutrina antibíblica, se perverte a sã doutrina com falsa base em textos bíblicos mutilados e quase sempre isolados do seu contexto. Isso é distorção, aberração, adulteração, desvio, inovação e trucagem das verdadeiras doutrinas bíblicas.
O surgimento cada vez maior de doutrinas falsas é um sinal dos tempos (1Tm 4.1; 2Pe 2.1; 1Jo 4.1; Cl 2.22; Mt 24.11 e 15.9).
A distorção da doutrina bíblica vem em grande parte das igrejas neopentecostais e de outros grupos similares. Também vem das seitas falsas, como Ciência Cristã, Igreja Local, Igreja da Unificação, Igreja Messiânica, Testemunhas de Jeová, Mormonismo, Tabernáculo da Fé, Voz da Verdade, Igreja "Só Jesus" etc.
Grande parte dos falsos ensinos está relacionada às operações, ministérios e manifestações do Espírito Santo. Escrevendo a Timóteo, o apóstolo Paulo falou sobre os desviados da doutrina (2Tm 2.18; 4.4).
Vejamos as facetas da falsificação da doutrina
a) Falsos ensinos – São doutrinas bíblicas falsificadas, adulteradas.
b) Falsas doutrinas – São pseudo-doutrinas, doutrinas forjadas. Nunca foram doutrinas bíblicas. Isso está surgindo até dentro da Assembléia de Deus.
c) Falsas religiões – São religiões antibíblicas que vêm dos primórdios da humanidade. Às vezes mudam de nome, mas o conteúdo é o mesmo.
d) Falsas seitas – É um falso movimento religioso derivado de uma ou mais religiões, verdadeiras ou falsas.
e) Falsos princípios, ideias e crenças filosóficas – Uma ramificação de falsas idéias no campo religioso-filosófico.
Vejamos, a partir de agora, um exemplário parcial de corruções da doutrina bíblica.
"Amarrar o Inimigo"
Há pessoas que pensam que através de frases feitas, jargões, lemas, slogans e gritos podem "amarrar" Satanás e seus demônios. O Inimigo, na verdade, zomba de tal mecanicismo. Não é assim que se "amarra" o Inimigo, conforme podemos conferir em Marcos 3.27 e Mateus 12.29. Isso é divulgar os demônios e explorar a credulidade pública, levando o povo a uma maléfica crendice, uma forma de curandeirismo e pajelança.
“Amarra-se” realmente o Inimigo pela fé em Cristo, quando assumimos a nossa posição em Cristo e reivindicamos a Sua vitória e a Sua autoridade, que é suprema, sobre o Inimigo (Jo 14.20; Ef 1.3,20-22 e 2.6; Cl 2.15; 2Co 2.14 e 10.4-5; Mc 16.17; Fp 3.10 e 4.13).
Arrebatamento em grupo
Os casos de arrebatamento mencionados na Bíblia foram todos para fins específicos, conforme o propósito de Deus: (1) Paulo, duas vezes (At 22.17 e 2Co 12.2); (2) Pedro, uma vez (At 10.10); (3) João, uma vez (Ap 1.10).
Casos como o de Felipe, o evangelista, e os de Enoque, Elias e Ezequiel, não são de arrebatamento no sentido em que estamos tratando aqui. Os "arrebatados" em grupo, ao "retornarem", relatam visões fantasiosas, infantis, absurdas e, acima de tudo, antibíblicas.
Batismo no Espírito Santo sem a manifestação de línguas
As línguas "conforme o Espírito Santo concede" são a evidência física inicial desse glorioso batismo, conforme seu padrão em Atos 2.1-4; 10.44-47 e 19.1-7. É a lei da primeira referência, da Hermenêutica. Os promotores desse batismo sem línguas são algumas igrejas neopentecostais e o povo da renovação católico-carismática.
Batismo em águas só em nome de Jesus
É uma forma de unicismo herético. Consiste em negar o Deus Trino. "Em nome de Jesus" refere-se à autoridade divina dada pelo Senhor para a igreja batizar, como podemos ver em Atos 2.38; 8.16; 10.48 e 19.15. A fórmula bíblica para batizar é a dada pelo Senhor Jesus, como a temos em Mateus 28.19: "Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo".
Cair no Espírito
"Cair no Espírito" é cair e ficar inconsciente; cair não subjetivamente; cair à toda hora; cair em grupo; cair por manipulação de alguém esperto, e ainda mais citando textos bíblicos truncados. Há, por exemplo, uma má compreensão e interpretação de João 20.22, que relata o momento em que Jesus soprou sobre seus discípulos e disse: "Recebei o Espírito". Há quem acredite no poder do toque ou do sopro que derruba as pessoas de tal forma que o fenômeno passa a ser centro das atenções e do culto.
Elias tinha poder até na sua capa. Eliseu tinha poder até nos seus ossos. Pedro tinha poder até na sua sombra. Paulo tinha poder até nas suas vestes, mas nenhum deles jamais andou derrubando as pessoas no culto.
Daniel e Ezequiel caíram, sim, mas prostrados. É diferente. Não foram derrubados de modo ostensivo. João, o apóstolo, caiu prostrado ante a glória da majestade divina. Também é algo absolutamente diferente. "O Senhor levanta a todos os abatidos", Sl 145.14.
A falsificação da doutrina ocorre quando se formula doutrina antibíblica, se perverte a sã doutrina com falsa base em textos bíblicos mutilados e quase sempre isolados do seu contexto. Isso é distorção, aberração, adulteração, desvio, inovação e trucagem das verdadeiras doutrinas bíblicas.
O surgimento cada vez maior de doutrinas falsas é um sinal dos tempos (1Tm 4.1; 2Pe 2.1; 1Jo 4.1; Cl 2.22; Mt 24.11 e 15.9).
A distorção da doutrina bíblica vem em grande parte das igrejas neopentecostais e de outros grupos similares. Também vem das seitas falsas, como Ciência Cristã, Igreja Local, Igreja da Unificação, Igreja Messiânica, Testemunhas de Jeová, Mormonismo, Tabernáculo da Fé, Voz da Verdade, Igreja "Só Jesus" etc.
Grande parte dos falsos ensinos está relacionada às operações, ministérios e manifestações do Espírito Santo. Escrevendo a Timóteo, o apóstolo Paulo falou sobre os desviados da doutrina (2Tm 2.18; 4.4).
Vejamos as facetas da falsificação da doutrina
a) Falsos ensinos – São doutrinas bíblicas falsificadas, adulteradas.
b) Falsas doutrinas – São pseudo-doutrinas, doutrinas forjadas. Nunca foram doutrinas bíblicas. Isso está surgindo até dentro da Assembléia de Deus.
c) Falsas religiões – São religiões antibíblicas que vêm dos primórdios da humanidade. Às vezes mudam de nome, mas o conteúdo é o mesmo.
d) Falsas seitas – É um falso movimento religioso derivado de uma ou mais religiões, verdadeiras ou falsas.
e) Falsos princípios, ideias e crenças filosóficas – Uma ramificação de falsas idéias no campo religioso-filosófico.
Vejamos, a partir de agora, um exemplário parcial de corruções da doutrina bíblica.
"Amarrar o Inimigo"
Há pessoas que pensam que através de frases feitas, jargões, lemas, slogans e gritos podem "amarrar" Satanás e seus demônios. O Inimigo, na verdade, zomba de tal mecanicismo. Não é assim que se "amarra" o Inimigo, conforme podemos conferir em Marcos 3.27 e Mateus 12.29. Isso é divulgar os demônios e explorar a credulidade pública, levando o povo a uma maléfica crendice, uma forma de curandeirismo e pajelança.
“Amarra-se” realmente o Inimigo pela fé em Cristo, quando assumimos a nossa posição em Cristo e reivindicamos a Sua vitória e a Sua autoridade, que é suprema, sobre o Inimigo (Jo 14.20; Ef 1.3,20-22 e 2.6; Cl 2.15; 2Co 2.14 e 10.4-5; Mc 16.17; Fp 3.10 e 4.13).
Arrebatamento em grupo
Os casos de arrebatamento mencionados na Bíblia foram todos para fins específicos, conforme o propósito de Deus: (1) Paulo, duas vezes (At 22.17 e 2Co 12.2); (2) Pedro, uma vez (At 10.10); (3) João, uma vez (Ap 1.10).
Casos como o de Felipe, o evangelista, e os de Enoque, Elias e Ezequiel, não são de arrebatamento no sentido em que estamos tratando aqui. Os "arrebatados" em grupo, ao "retornarem", relatam visões fantasiosas, infantis, absurdas e, acima de tudo, antibíblicas.
Batismo no Espírito Santo sem a manifestação de línguas
As línguas "conforme o Espírito Santo concede" são a evidência física inicial desse glorioso batismo, conforme seu padrão em Atos 2.1-4; 10.44-47 e 19.1-7. É a lei da primeira referência, da Hermenêutica. Os promotores desse batismo sem línguas são algumas igrejas neopentecostais e o povo da renovação católico-carismática.
Batismo em águas só em nome de Jesus
É uma forma de unicismo herético. Consiste em negar o Deus Trino. "Em nome de Jesus" refere-se à autoridade divina dada pelo Senhor para a igreja batizar, como podemos ver em Atos 2.38; 8.16; 10.48 e 19.15. A fórmula bíblica para batizar é a dada pelo Senhor Jesus, como a temos em Mateus 28.19: "Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo".
Cair no Espírito
"Cair no Espírito" é cair e ficar inconsciente; cair não subjetivamente; cair à toda hora; cair em grupo; cair por manipulação de alguém esperto, e ainda mais citando textos bíblicos truncados. Há, por exemplo, uma má compreensão e interpretação de João 20.22, que relata o momento em que Jesus soprou sobre seus discípulos e disse: "Recebei o Espírito". Há quem acredite no poder do toque ou do sopro que derruba as pessoas de tal forma que o fenômeno passa a ser centro das atenções e do culto.
Elias tinha poder até na sua capa. Eliseu tinha poder até nos seus ossos. Pedro tinha poder até na sua sombra. Paulo tinha poder até nas suas vestes, mas nenhum deles jamais andou derrubando as pessoas no culto.
Daniel e Ezequiel caíram, sim, mas prostrados. É diferente. Não foram derrubados de modo ostensivo. João, o apóstolo, caiu prostrado ante a glória da majestade divina. Também é algo absolutamente diferente. "O Senhor levanta a todos os abatidos", Sl 145.14.
Corrupções da doutrina bíblica
(2ª parte)
Modismos teológicos de nossos dias e seus contrassensos à luz da
Bíblia
Como informamos na semana passada, daremos agora continuidade à
lista de corrupções doutrinárias mais comuns em nossos dias.
Ceia do Senhor
Há quem celebre a Ceia do Senhor somente com pães asmos. Alguns distribuem a Ceia para todos os presentes indistintamente, tanto para crentes como para não-crentes. Outros há que só a celebram com um pão único e gigante ou a servem com vinho embriagante, alegando que a palavra "vinho" está relacionada à Ceia na Bíblia.
Ainda temos outro grupo, que transforma a Ceia do Senhor em um "festival santo", sob a alegação de que ela equivale ao "ágape" dos cristãos primitivos. Tudo isso são inovações descabidas e antibíblicas.
Confissão positiva
Também conhecida como teologia da prosperidade, evangelho da prosperidade ou movimento da fé. Ensina que o crente que sofre doenças, revezes, contratempos, prejuízos, desastres, provações, tribulações e pobreza sofre tudo isso porque:
a) Ou está em pecado diante de Deus;
b) Ou não confia em Deus;
c) Ou é infiel a Deus;
d) Ou ainda não dá abundantemente das suas finanças, bens e tempo para Deus e Sua obra.
Esses pregadores são peritos em tomar versículos isolados dos seus contextos e ensiná-los erradamente (Sl 34.19; 91.15; 119.67,71,75; Jo 16.33; At 14.22; Rm 8.17-18; 1Pe 5.10; 2Tm 3.12; Dt 15.4-5,11 e Jo12.8).
Se em Marcos 10.30 encontramos a promessa "Que não receba cem vezes tanto já neste tempo", o mesmo texto acrescenta "com perseguições". Se em Hebreus 11.34 se diz que os heróis da fé "escaparam do fio da espada", no versículo 37 se diz que outros heróis foram "mortos ao fio da espada".
Além das distorções, há também os flagrantes e comprovações de fraudes, truques, falcatruas, trapaças e extorsões entre apologistas da confissão positiva.
Cura interior
No início, há algumas décadas, o assunto cura interior era abordado de forma biblicamente correta, mas hoje tem sido totalmente desvirtuado pelos inovadores, copiadores, neopentecostais, carismáticos e até por gente da Assembléia de Deus. Tudo por falta de estudo sério e honesto das Sagradas Escrituras.
Hoje, a cura interior, como ensinada em cruzadas, seminários, livros e vídeos, é antibíblica e falsa. É praticamente uma segunda experiência de conversão. Ela está levando à regressão interior e à maldição hereditária, tudo com base em falsas premissas que dizem ser existentes nas Escrituras.
A cura interior, como vista hoje, leva a um falso Evangelho, sem poder; a um Cristo incapaz de salvar, a uma falsa salvação.
Agora, por que muitos crentes, convertidos mesmo, padecem continuamente os alegados sofrimentos tão mencionados pelos pregoeiros da cura interior? Por vários motivos.
a) Porque são crentes que têm ligação com igrejas e grupos antibíblicos, como Maçonaria, Igreja Messiânica, Meninos de Deus, meditação transcendental, Nova Era, LBV etc.
b) Porque são crentes que continuam na prática de pecados conhecidos e deliberados, e ainda os defendem. Muitos praticam fornicação, adultério, aborto, roubo, jogo, homossexualismo, rebelião, negócios ilícitos e vivem em comunhão com os ímpios.
c) Porque são obreiros enquadrados em Malaquias 2.1-3,8-9.
d) Porque são crentes que não perdoam seus irmãos de coração e se perdoam (Dt 29.18; Pv 26.24-27; Ef 4.31-32; Hb 12.15 e Mt 18.32-35).
e) Porque são crentes que guardam coisas do Inimigo em seu poder, seja em suas casas ou em seus carros e bolsos. Lembremos de Jesus em João 14.30: "E ele nada tem em mim".
Muitos crentes, pelas razões mencionadas acima, têm feridas crônicas na alma, como mágoas permanentes, ressentimento, revolta, recalque, sentimento de culpa; sentimento de solidão, abandono e frustração; ira e ódio constantes; complexos de inferioridade, superioridade ou de derrota; amargura, rancor, trauma nervoso, medo doentio e tristeza crônica.
Precisamos examinar profundamente Deuteronômio 21.23, Números 23.23, Isaías 54.17, Salmos 121.7 e 91.10, Jeremias 20.11, João 8.36, Gálatas 3.13, 2 Coríntios 5.17 e 10.4-5, e Romanos 5.9.
Ceia do Senhor
Há quem celebre a Ceia do Senhor somente com pães asmos. Alguns distribuem a Ceia para todos os presentes indistintamente, tanto para crentes como para não-crentes. Outros há que só a celebram com um pão único e gigante ou a servem com vinho embriagante, alegando que a palavra "vinho" está relacionada à Ceia na Bíblia.
Ainda temos outro grupo, que transforma a Ceia do Senhor em um "festival santo", sob a alegação de que ela equivale ao "ágape" dos cristãos primitivos. Tudo isso são inovações descabidas e antibíblicas.
Confissão positiva
Também conhecida como teologia da prosperidade, evangelho da prosperidade ou movimento da fé. Ensina que o crente que sofre doenças, revezes, contratempos, prejuízos, desastres, provações, tribulações e pobreza sofre tudo isso porque:
a) Ou está em pecado diante de Deus;
b) Ou não confia em Deus;
c) Ou é infiel a Deus;
d) Ou ainda não dá abundantemente das suas finanças, bens e tempo para Deus e Sua obra.
Esses pregadores são peritos em tomar versículos isolados dos seus contextos e ensiná-los erradamente (Sl 34.19; 91.15; 119.67,71,75; Jo 16.33; At 14.22; Rm 8.17-18; 1Pe 5.10; 2Tm 3.12; Dt 15.4-5,11 e Jo12.8).
Se em Marcos 10.30 encontramos a promessa "Que não receba cem vezes tanto já neste tempo", o mesmo texto acrescenta "com perseguições". Se em Hebreus 11.34 se diz que os heróis da fé "escaparam do fio da espada", no versículo 37 se diz que outros heróis foram "mortos ao fio da espada".
Além das distorções, há também os flagrantes e comprovações de fraudes, truques, falcatruas, trapaças e extorsões entre apologistas da confissão positiva.
Cura interior
No início, há algumas décadas, o assunto cura interior era abordado de forma biblicamente correta, mas hoje tem sido totalmente desvirtuado pelos inovadores, copiadores, neopentecostais, carismáticos e até por gente da Assembléia de Deus. Tudo por falta de estudo sério e honesto das Sagradas Escrituras.
Hoje, a cura interior, como ensinada em cruzadas, seminários, livros e vídeos, é antibíblica e falsa. É praticamente uma segunda experiência de conversão. Ela está levando à regressão interior e à maldição hereditária, tudo com base em falsas premissas que dizem ser existentes nas Escrituras.
A cura interior, como vista hoje, leva a um falso Evangelho, sem poder; a um Cristo incapaz de salvar, a uma falsa salvação.
Agora, por que muitos crentes, convertidos mesmo, padecem continuamente os alegados sofrimentos tão mencionados pelos pregoeiros da cura interior? Por vários motivos.
a) Porque são crentes que têm ligação com igrejas e grupos antibíblicos, como Maçonaria, Igreja Messiânica, Meninos de Deus, meditação transcendental, Nova Era, LBV etc.
b) Porque são crentes que continuam na prática de pecados conhecidos e deliberados, e ainda os defendem. Muitos praticam fornicação, adultério, aborto, roubo, jogo, homossexualismo, rebelião, negócios ilícitos e vivem em comunhão com os ímpios.
c) Porque são obreiros enquadrados em Malaquias 2.1-3,8-9.
d) Porque são crentes que não perdoam seus irmãos de coração e se perdoam (Dt 29.18; Pv 26.24-27; Ef 4.31-32; Hb 12.15 e Mt 18.32-35).
e) Porque são crentes que guardam coisas do Inimigo em seu poder, seja em suas casas ou em seus carros e bolsos. Lembremos de Jesus em João 14.30: "E ele nada tem em mim".
Muitos crentes, pelas razões mencionadas acima, têm feridas crônicas na alma, como mágoas permanentes, ressentimento, revolta, recalque, sentimento de culpa; sentimento de solidão, abandono e frustração; ira e ódio constantes; complexos de inferioridade, superioridade ou de derrota; amargura, rancor, trauma nervoso, medo doentio e tristeza crônica.
Precisamos examinar profundamente Deuteronômio 21.23, Números 23.23, Isaías 54.17, Salmos 121.7 e 91.10, Jeremias 20.11, João 8.36, Gálatas 3.13, 2 Coríntios 5.17 e 10.4-5, e Romanos 5.9.
Corrupções da doutrina bíblica
(3ª parte)
Modismos teológicos de nossos dias e seus contrassensos à luz da
Bíblia
Hoje, dando seguimento ao nosso assunto, falaremos dos modismos
maldição hereditária, culto de libertação e dançar no Espírito.
Maldição hereditária
Também conhecida como maldição de família, é outro ensino falso advindo da atual e antibíblica ideia de cura interior.
A maldição hereditária, segundo seus pregoeiros, consiste em pactos de ascendentes da família feitos com demônios. Segundo eles, esses pactos, de que a pessoa pode estar ou não a par, trazem maldição para vida da pessoa. A maldição poder ser também pragas invocadas, rezas, patuás, "mau olhado" etc. Esse falso ensino decorre da má compreensão e interpretação de Êxodo 20.5 e 24.1-8; Levítico 26.39; Números 14.18 e Deuteronômio 30.19.
Contra esse ensino temos os textos claros de João 8.36; 2 Coríntios 5.17; Gálatas 3.13; Isaías 54.17 e todo o salmo 91.
Os adeptos desse ensino praticam a chamada "quebra de maldição". Ora, a maldição sem causa não virá. Praga sem motivo não funciona: "Como pássaro que foge, como a andorinha no seu vôo, assim a maldição sem causa não se cumpre", Pv 26.2. Às vezes, um verdadeiro crente que se envolve com esse tipo de ensino é uma "casa desocupada", e podemos ver o resultado disso em Mateus 12.43-44.
É sempre uma tragédia espiritual um filho de Deus viver vazio espiritualmente, isto é, vazio do Espírito Santo, da Palavra de Deus, da oração, da fé, enfim, da presença do Senhor em sua vida. Um tal crente pode facilmente cair nas mãos desses assaltantes da alma.
A maldição hereditária leva à regressão interior, que já é puro ocultismo. É a farsa diabólica da "bilocação" do indivíduo. É o que diz o Salmo 42.7: "Um abismo chama outro abismo".
Culto de libertação
Em todo culto genuíno a Deus, Jesus quer e pode libertar. Os grupos neopentecostais, contudo, criaram essa reunião "Culto de Libertação", e a Assembléia de Deus, infelizmente, hoje a copia.
Em Mateus 18.20, Jesus garante: "Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles". Em textos como Atos 11.15 e 1 Coríntios 14.26 vemos que não se precisa de cultos específicos para que o Senhor opere. Em Lucas 5.17, lemos: "E aconteceu que, num daqueles dias, estava ensinando, e estavam ali assentados fariseus e doutores da lei, que tinham vindo de todas as aldeias da Galiléia, e da Judéia, e de Jerusalém. E a virtude do Senhor estava com Ele para curar". Ora, tratava-se aqui de uma reunião de ensino da Palavra. Jesus estava ensinando. Não estava pregando ou orando.
Dança no Espírito
Nem no Antigo Testamento nem no Novo Testamento encontramos tal ensino. A dança em Israel, mencionada na Bíblia, fazia parte da cultura do povo e era patriótica. Consistia em ficar pulando e saltitando ritmicamente em volta de si mesmo ou de outras pessoas. Às vezes, os israelitas ficavam de mãos dadas, mas sempre homens e mulheres separadamente.
Miriã dançou de alegria uma vez pelo prodígio divino da travessia do Mar Vermelho a seco, quando Israel saiu do Egito. Em Lucas 15.25, numa parábola, o pai do pródigo é mencionado dançando de alegria por reaver o filho perdido.
O corinho que diz "Eu danço como Davi" não tem razão de ser, porque Davi dançou patrioticamente (2Sm 6.14-16), e os adeptos da dança hoje querem dançar no culto. Davi dançou na rua, no desfile do translado da Arca da Aliança (2Sm 6.16 e 1Cr 15.29), mas os que querem dançar hoje utilizam o local do culto.
"E o espírito volte a Deus"
"E o espírito volta a Deus, que o deu", Ec 12.7. Os universalistas, falsificadores de doutrina, partindo desse texto isolado, ensinam que Deus dará um jeito para, no fim, salvar pelo menos o espírito da pessoa. Dizem que os espíritos de todos os ímpios que morreram sem salvação serão recolhidos ao Céu.
Esse ensino é falso. Basta verificar a analogia geral das Escrituras no tocante a salvação dos perdidos. Além disso, "voltar a Deus", ali, tem o sentido de "após a morte, ficar sob o controle direto de Deus". Ao morrer alguém, seu espírito e alma não ficam perambulando à vontade de cada um, por onde quiserem, como viviam antes na Terra. Jesus é o Senhor dos mortos também (Rm 14.9). Em Atos 10.42, na pregação na casa de Cornélio, Pedro afirmou ter Jesus sido constituído juiz dos vivos e dos mortos.
A pessoa que é salva por Jesus, ao morrer, vai imediatamente para o Céu. Se uma pessoa sem Jesus morrer, vai diretamente para o Hades (um tipo de inferno, onde tal pessoa, já em sofrimento, aguardará o julgamento final).
Fé residente no homem
Os pregadores modernistas inventaram uma fé imanente, latente no homem. Lamentavelmente, há alguns pregadores assembleianos que inadvertidamente têm pregado a mesma coisa.
Romanos 10.17 diz: "A fé vem pelo ouvir; e o ouvir pela Palavra de Deus". Em Romanos 12.3, Paulo ensina que Deus repartiu a fé a cada um. Em Efésios 2.8, encontramos: "E isto não vem de vós; é Dom de Deus". No original grego, a expressão traduzida como "isto" está no plural. Isto é, a fé para crermos em Deus vem Dele mesmo, para que ninguém se glorie de ter ajudado a Deus.
Em Hebreus 12.2, a Palavra de Deus afirma que Jesus é "o autor e consumador da fé". Então, ficamos com a Bíblia ou com eles?
Maldição hereditária
Também conhecida como maldição de família, é outro ensino falso advindo da atual e antibíblica ideia de cura interior.
A maldição hereditária, segundo seus pregoeiros, consiste em pactos de ascendentes da família feitos com demônios. Segundo eles, esses pactos, de que a pessoa pode estar ou não a par, trazem maldição para vida da pessoa. A maldição poder ser também pragas invocadas, rezas, patuás, "mau olhado" etc. Esse falso ensino decorre da má compreensão e interpretação de Êxodo 20.5 e 24.1-8; Levítico 26.39; Números 14.18 e Deuteronômio 30.19.
Contra esse ensino temos os textos claros de João 8.36; 2 Coríntios 5.17; Gálatas 3.13; Isaías 54.17 e todo o salmo 91.
Os adeptos desse ensino praticam a chamada "quebra de maldição". Ora, a maldição sem causa não virá. Praga sem motivo não funciona: "Como pássaro que foge, como a andorinha no seu vôo, assim a maldição sem causa não se cumpre", Pv 26.2. Às vezes, um verdadeiro crente que se envolve com esse tipo de ensino é uma "casa desocupada", e podemos ver o resultado disso em Mateus 12.43-44.
É sempre uma tragédia espiritual um filho de Deus viver vazio espiritualmente, isto é, vazio do Espírito Santo, da Palavra de Deus, da oração, da fé, enfim, da presença do Senhor em sua vida. Um tal crente pode facilmente cair nas mãos desses assaltantes da alma.
A maldição hereditária leva à regressão interior, que já é puro ocultismo. É a farsa diabólica da "bilocação" do indivíduo. É o que diz o Salmo 42.7: "Um abismo chama outro abismo".
Culto de libertação
Em todo culto genuíno a Deus, Jesus quer e pode libertar. Os grupos neopentecostais, contudo, criaram essa reunião "Culto de Libertação", e a Assembléia de Deus, infelizmente, hoje a copia.
Em Mateus 18.20, Jesus garante: "Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles". Em textos como Atos 11.15 e 1 Coríntios 14.26 vemos que não se precisa de cultos específicos para que o Senhor opere. Em Lucas 5.17, lemos: "E aconteceu que, num daqueles dias, estava ensinando, e estavam ali assentados fariseus e doutores da lei, que tinham vindo de todas as aldeias da Galiléia, e da Judéia, e de Jerusalém. E a virtude do Senhor estava com Ele para curar". Ora, tratava-se aqui de uma reunião de ensino da Palavra. Jesus estava ensinando. Não estava pregando ou orando.
Dança no Espírito
Nem no Antigo Testamento nem no Novo Testamento encontramos tal ensino. A dança em Israel, mencionada na Bíblia, fazia parte da cultura do povo e era patriótica. Consistia em ficar pulando e saltitando ritmicamente em volta de si mesmo ou de outras pessoas. Às vezes, os israelitas ficavam de mãos dadas, mas sempre homens e mulheres separadamente.
Miriã dançou de alegria uma vez pelo prodígio divino da travessia do Mar Vermelho a seco, quando Israel saiu do Egito. Em Lucas 15.25, numa parábola, o pai do pródigo é mencionado dançando de alegria por reaver o filho perdido.
O corinho que diz "Eu danço como Davi" não tem razão de ser, porque Davi dançou patrioticamente (2Sm 6.14-16), e os adeptos da dança hoje querem dançar no culto. Davi dançou na rua, no desfile do translado da Arca da Aliança (2Sm 6.16 e 1Cr 15.29), mas os que querem dançar hoje utilizam o local do culto.
"E o espírito volte a Deus"
"E o espírito volta a Deus, que o deu", Ec 12.7. Os universalistas, falsificadores de doutrina, partindo desse texto isolado, ensinam que Deus dará um jeito para, no fim, salvar pelo menos o espírito da pessoa. Dizem que os espíritos de todos os ímpios que morreram sem salvação serão recolhidos ao Céu.
Esse ensino é falso. Basta verificar a analogia geral das Escrituras no tocante a salvação dos perdidos. Além disso, "voltar a Deus", ali, tem o sentido de "após a morte, ficar sob o controle direto de Deus". Ao morrer alguém, seu espírito e alma não ficam perambulando à vontade de cada um, por onde quiserem, como viviam antes na Terra. Jesus é o Senhor dos mortos também (Rm 14.9). Em Atos 10.42, na pregação na casa de Cornélio, Pedro afirmou ter Jesus sido constituído juiz dos vivos e dos mortos.
A pessoa que é salva por Jesus, ao morrer, vai imediatamente para o Céu. Se uma pessoa sem Jesus morrer, vai diretamente para o Hades (um tipo de inferno, onde tal pessoa, já em sofrimento, aguardará o julgamento final).
Fé residente no homem
Os pregadores modernistas inventaram uma fé imanente, latente no homem. Lamentavelmente, há alguns pregadores assembleianos que inadvertidamente têm pregado a mesma coisa.
Romanos 10.17 diz: "A fé vem pelo ouvir; e o ouvir pela Palavra de Deus". Em Romanos 12.3, Paulo ensina que Deus repartiu a fé a cada um. Em Efésios 2.8, encontramos: "E isto não vem de vós; é Dom de Deus". No original grego, a expressão traduzida como "isto" está no plural. Isto é, a fé para crermos em Deus vem Dele mesmo, para que ninguém se glorie de ter ajudado a Deus.
Em Hebreus 12.2, a Palavra de Deus afirma que Jesus é "o autor e consumador da fé". Então, ficamos com a Bíblia ou com eles?
Corrupções da doutrina bíblica
(4ª parte)
Modismos teológicos de nossos dias e seus contrassensos à luz da
Bíblia
Hoje, falaremos sobre os modismos da guerra espiritual, dos
jogos de azar na igreja, do monofisismo e das corrupções da música na igreja.
Guerra espiritual
Também é conhecida como "batalha espiritual". O que muitos estão chamando de guerra espiritual é um logro do inimigo, e não a verdadeira guerra ou luta espiritual de que fala Paulo em Efésios 6.10-18, e muitas outras passagens correlatas da Bíblia.
De nada adianta o uso de uniformes especiais, palavras de ordem (como “queimar” ou “pisar” Satanás e seus domônios), certos cânticos repetidos indefinidamente, jejuns encomendados, locais especiais de reuniões (como orar em montes etc), convidados especiais para falar, barulho ensurdecedor e gritos estridentes, se não estivermos biblicamente em Cristo, segundo a Palavra de Deus, e no poder do Espírito Santo (Jo 15.7).
Quanto aos demônios, o que os inovadores da doutrina estão a fazer é:
a) Impor as mãos sobre os endemoninhados (!?!)
b) Chamar endemoninhados à frente (!?!)
c) Dialogar com demônios em público (!?!)
O demônio pode até sair, mas volta; ou entra noutra pessoa, ou ainda entra em muitas outras pessoas.
Qual a razão desses inovadores quererem dialogar com demônios? Para ouvirem confissões tétricas de demônios (ou supostos demônios). Isso equivale a divulgar os demônios, e é isso o que eles querem.
Jesus mandou-nos chamar os pecadores e expulsar os demônios. Hoje estamos vendo certos pregadores chamando os demônios e expulsando os pecadores. Sim, porque estes saem das reuniões confusos, sem saber se estavam num culto legítimo ao Senhor ou numa sessão espírita.
A chamada guerra espiritual, como está no momento caracterizada, é uma falsa operação divina. Há libertação de demônios, profecias e milagres falsos.
Sobre falsas profecias, o Mestre já nos advertiu. Em Mateus 7.22-23, encontramos Jesus fazendo referência a pessoas que não serão aceitas pelo Senhor apesar de colocarem: “Não profetizamos nós em teu nome?” Isso também tem a ver com falsos pregadores. Sobre falsa libertação de demônios, no mesmo texto encontramos: “E em teu nome não expulsamos demônios?” A resposta do Senhor foi a mesma (Mt 7.23). O evangelista deve atentar para isso. Sobre falsos milagres, no mesma porção bíblica temos: “E em teu nome não fizemos muitas maravilhas?” A resposta foi idêntica (Mt 7.23). Sobre isso podemos também ver 2 Tessalonicenses 2.9-11 e Apocalipse 13.13-14.
Jogo de azar
Esse tipo de jogo é assim chamado porque depende do acaso, da sorte. Um só ganha e todos os demais perdem. Tal princípio, conceito ou procedimento não tem qualquer aval das Escrituras. É o caso da loteria, jogo do bicho, roleta, jogo de cartas, apostas, rifas e raspadinhas.
Os princípios bíblicos de meio de vida e de trabalho, em geral, conflitam abertamente com o jogo (Gn 3.19; Ex 20.9; Lv 19.13; Pv 10.22; Jr 22.13; 1Co 6.12 e 10.31; Mt 20.2; 2Ts 3.8-12 e 1Ts 5.22).
Um verdadeiro crente foge de qualquer tipo de jogo.
O monofisismo modificado da atualidade
Isso diz respeito a Jesus, sua divindade e humildade; a natureza divina e a humana perfeita do Senhor.
Falsas doutrinas nesse particular vêm dos primórdios do cristianismo: arianismo, eustaquianismo, nestorianismo etc.
Dizem os falsificadores da doutrina, inclusive alguns professores de seminários teológicos, que “quando Jesus tomou forma humana e encarnou-se, deixou sua natureza divina no céu; e quando Ele voltou para o céu, deixou aqui a sua natureza humana”.
Na sua encarnação, Cristo, sendo Deus, tornou-se “Filho do Homem” (como Ele costumava chamar-se a si mesmo). No glorioso e grandioso mistério da sua encarnação, Ele limitou-se voluntariamente de parte de seus atributos divinos, mas não da sua natureza divina, Nele imanente como Deus. Assim, Ele era (e continua a ser) o perfeito Filho de Deus e o perfeito “Filho do Homem” (Is 9.6; Mt 28.19; Jo 1.1,14; 3.13; 14.9 e 10.30; Lc 24.39-40; Rm 9.5; Cl 2.9; 1Tm 2.5; Hb 1.8 e Ap 1.13,18). É a kenosis de Jesus, conforme Filipenses 2.7-8, expressão grega traduzida em português por “aniquilou-se a si mesmo” e “humilhou-se a sim mesmo”.
A autolimitação voluntária de Jesus, ao tomar corpo humano na sua encarnação, é um dos grandes mistérios da revelação divina, que só compreendemos em parte (1Tm 3.16).
Corrupção da música na igreja
A oração e o ministério da Palavra foram praticamente substituídos hoje pelo cântico nas igrejas. O ministério da Palavra a que me refiro é a pregação e o ensino da Palavra.
Os neopentecostais e os “renovados” ensinam que “a mais elevada forma de oração é o louvor”. Isso é falsificação da doutrina. Como resultado, as antigas vigílias de oração da Assembléia de Deus foram transformadas em “vigílias de louvor”, que no final das contas nem é vigília e nem louvor, no sentido estrito destes termos.
Qual é a procedência dessas músicas? A maioria esmagadora vem dos neopentecostais (alheios à doutrina bíblica). Também vêm do movimento espúrio “Voz da Verdade”, que, entre outras coisas, é unicista; dos mórmons, que são heréticos; dos carismáticos, que são “joio no meio do trigo”, e dos adventistas, que são exímios torcedores da Palavra de Deus.
A corrupção da música sacra em nosso meio ocorre por não haver seleção, critérios de aceitação e nem aferição com a Palavra de Deus, como fizeram os bereanos em Atos 17.11, “examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim”. Vejamos as manifestações dessa corrução:
a) Corrução na letra das canções: A letra, via de regra, não tem Bíblia nem mensagem para a alma. Também não tem métrica, e a letra é geralmente péssima.
b) Corrução na melodia da canção: Não tem seqüência melódica, frase musical e tema musical. São idênticas às melodias do mundo, sem nada de solene.
c) Corrupção no ritmo da canção: Ritmo irreverente, puramente secular, coisa que o mundo faz muito melhor do que a igreja quando esta o copia. Ritmo ou cadência é o movimento interativo dos sons.
d) Corrupção no andamento da canção: Andamento é a rapidez da execução dos sons na música. O andamento nessas músicas, via de regra, não tem nada de espiritual, nem solene, nem sacro.
e) Os autores dessas músicas: Devem ser adeptos desse evangelho frouxo que hoje surge por toda parte, que fala em “liberdade” quando eles mesmos são escravos, como diz a Bíblia em 2 Pedro 2.19. Se esses autores fossem realmente homens e mulheres de Deus vivendo e andando no seu temor, jamais fariam tantos desvios nas músicas que produzem.
f) O efeito dessas músicas: São espiritualmente negativas. Seu efeito é nulo. São músicas que, cantadas, tocadas e recitadas, não elevam a alma a Deus, não predispõem o espírito a adorar a Deus, não inspiram, não preparam espiritualmente o ambiente à manifestação divina, não levam o povo salvo a glorificar a Deus “em espírito e em verdade”.
Guerra espiritual
Também é conhecida como "batalha espiritual". O que muitos estão chamando de guerra espiritual é um logro do inimigo, e não a verdadeira guerra ou luta espiritual de que fala Paulo em Efésios 6.10-18, e muitas outras passagens correlatas da Bíblia.
De nada adianta o uso de uniformes especiais, palavras de ordem (como “queimar” ou “pisar” Satanás e seus domônios), certos cânticos repetidos indefinidamente, jejuns encomendados, locais especiais de reuniões (como orar em montes etc), convidados especiais para falar, barulho ensurdecedor e gritos estridentes, se não estivermos biblicamente em Cristo, segundo a Palavra de Deus, e no poder do Espírito Santo (Jo 15.7).
Quanto aos demônios, o que os inovadores da doutrina estão a fazer é:
a) Impor as mãos sobre os endemoninhados (!?!)
b) Chamar endemoninhados à frente (!?!)
c) Dialogar com demônios em público (!?!)
O demônio pode até sair, mas volta; ou entra noutra pessoa, ou ainda entra em muitas outras pessoas.
Qual a razão desses inovadores quererem dialogar com demônios? Para ouvirem confissões tétricas de demônios (ou supostos demônios). Isso equivale a divulgar os demônios, e é isso o que eles querem.
Jesus mandou-nos chamar os pecadores e expulsar os demônios. Hoje estamos vendo certos pregadores chamando os demônios e expulsando os pecadores. Sim, porque estes saem das reuniões confusos, sem saber se estavam num culto legítimo ao Senhor ou numa sessão espírita.
A chamada guerra espiritual, como está no momento caracterizada, é uma falsa operação divina. Há libertação de demônios, profecias e milagres falsos.
Sobre falsas profecias, o Mestre já nos advertiu. Em Mateus 7.22-23, encontramos Jesus fazendo referência a pessoas que não serão aceitas pelo Senhor apesar de colocarem: “Não profetizamos nós em teu nome?” Isso também tem a ver com falsos pregadores. Sobre falsa libertação de demônios, no mesmo texto encontramos: “E em teu nome não expulsamos demônios?” A resposta do Senhor foi a mesma (Mt 7.23). O evangelista deve atentar para isso. Sobre falsos milagres, no mesma porção bíblica temos: “E em teu nome não fizemos muitas maravilhas?” A resposta foi idêntica (Mt 7.23). Sobre isso podemos também ver 2 Tessalonicenses 2.9-11 e Apocalipse 13.13-14.
Jogo de azar
Esse tipo de jogo é assim chamado porque depende do acaso, da sorte. Um só ganha e todos os demais perdem. Tal princípio, conceito ou procedimento não tem qualquer aval das Escrituras. É o caso da loteria, jogo do bicho, roleta, jogo de cartas, apostas, rifas e raspadinhas.
Os princípios bíblicos de meio de vida e de trabalho, em geral, conflitam abertamente com o jogo (Gn 3.19; Ex 20.9; Lv 19.13; Pv 10.22; Jr 22.13; 1Co 6.12 e 10.31; Mt 20.2; 2Ts 3.8-12 e 1Ts 5.22).
Um verdadeiro crente foge de qualquer tipo de jogo.
O monofisismo modificado da atualidade
Isso diz respeito a Jesus, sua divindade e humildade; a natureza divina e a humana perfeita do Senhor.
Falsas doutrinas nesse particular vêm dos primórdios do cristianismo: arianismo, eustaquianismo, nestorianismo etc.
Dizem os falsificadores da doutrina, inclusive alguns professores de seminários teológicos, que “quando Jesus tomou forma humana e encarnou-se, deixou sua natureza divina no céu; e quando Ele voltou para o céu, deixou aqui a sua natureza humana”.
Na sua encarnação, Cristo, sendo Deus, tornou-se “Filho do Homem” (como Ele costumava chamar-se a si mesmo). No glorioso e grandioso mistério da sua encarnação, Ele limitou-se voluntariamente de parte de seus atributos divinos, mas não da sua natureza divina, Nele imanente como Deus. Assim, Ele era (e continua a ser) o perfeito Filho de Deus e o perfeito “Filho do Homem” (Is 9.6; Mt 28.19; Jo 1.1,14; 3.13; 14.9 e 10.30; Lc 24.39-40; Rm 9.5; Cl 2.9; 1Tm 2.5; Hb 1.8 e Ap 1.13,18). É a kenosis de Jesus, conforme Filipenses 2.7-8, expressão grega traduzida em português por “aniquilou-se a si mesmo” e “humilhou-se a sim mesmo”.
A autolimitação voluntária de Jesus, ao tomar corpo humano na sua encarnação, é um dos grandes mistérios da revelação divina, que só compreendemos em parte (1Tm 3.16).
Corrupção da música na igreja
A oração e o ministério da Palavra foram praticamente substituídos hoje pelo cântico nas igrejas. O ministério da Palavra a que me refiro é a pregação e o ensino da Palavra.
Os neopentecostais e os “renovados” ensinam que “a mais elevada forma de oração é o louvor”. Isso é falsificação da doutrina. Como resultado, as antigas vigílias de oração da Assembléia de Deus foram transformadas em “vigílias de louvor”, que no final das contas nem é vigília e nem louvor, no sentido estrito destes termos.
Qual é a procedência dessas músicas? A maioria esmagadora vem dos neopentecostais (alheios à doutrina bíblica). Também vêm do movimento espúrio “Voz da Verdade”, que, entre outras coisas, é unicista; dos mórmons, que são heréticos; dos carismáticos, que são “joio no meio do trigo”, e dos adventistas, que são exímios torcedores da Palavra de Deus.
A corrupção da música sacra em nosso meio ocorre por não haver seleção, critérios de aceitação e nem aferição com a Palavra de Deus, como fizeram os bereanos em Atos 17.11, “examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim”. Vejamos as manifestações dessa corrução:
a) Corrução na letra das canções: A letra, via de regra, não tem Bíblia nem mensagem para a alma. Também não tem métrica, e a letra é geralmente péssima.
b) Corrução na melodia da canção: Não tem seqüência melódica, frase musical e tema musical. São idênticas às melodias do mundo, sem nada de solene.
c) Corrupção no ritmo da canção: Ritmo irreverente, puramente secular, coisa que o mundo faz muito melhor do que a igreja quando esta o copia. Ritmo ou cadência é o movimento interativo dos sons.
d) Corrupção no andamento da canção: Andamento é a rapidez da execução dos sons na música. O andamento nessas músicas, via de regra, não tem nada de espiritual, nem solene, nem sacro.
e) Os autores dessas músicas: Devem ser adeptos desse evangelho frouxo que hoje surge por toda parte, que fala em “liberdade” quando eles mesmos são escravos, como diz a Bíblia em 2 Pedro 2.19. Se esses autores fossem realmente homens e mulheres de Deus vivendo e andando no seu temor, jamais fariam tantos desvios nas músicas que produzem.
f) O efeito dessas músicas: São espiritualmente negativas. Seu efeito é nulo. São músicas que, cantadas, tocadas e recitadas, não elevam a alma a Deus, não predispõem o espírito a adorar a Deus, não inspiram, não preparam espiritualmente o ambiente à manifestação divina, não levam o povo salvo a glorificar a Deus “em espírito e em verdade”.
Corrupções da doutrina bíblica
(5ª parte)
Modismos teológicos de nossos dias e seus contrassensos à luz da
Bíblia
Hoje, encerramos esta série sobre as corrupções da doutrina
bíblica. Hoje, falaremos de nova unção, salvação legalista, riso no Espírito e
outros mais.
“Nova unção”
Deus restaura, sim, a nossa unção recebida Dele, mas isso não significa “uma nova unção”, como estão propalando, inclusive figuras internacionais do movimento pentecostal.
A Bíblia fala da unção coletiva do Espírito Santo sobre os membros do Corpo de Cristo, composto por aqueles que são regenerados pelo Espírito (2Co 1.21 e 1Jo 2.20,27). É chamada a “unção do Santo” (1Jo 2.20). Ela nos separa do mal, nos santifica para Deus e para o seu uso. Nada de mistura com o mal, com as trevas com o pecado.
Essa unção, de que fala a Palavra de Deus, fica em nós: “Fica em vós”, 1Co 2.27. É unção que permanece e que ensina: “A sua unção vos ensina”, 1Jo 2.27. “Que vos ensina todas as coisas”, pois o Espírito sabe todas as coisas (1Jo 2.20).
As Escrituras ainda nos dizem que é unção que não mente: “E não é mentira” (1Jo 2.27). Ela não contém engano, logro, fraude, falsidade, truque, desonestidade.
O termo unção, na Bíblia, remete para óleo, azeite, símbolos do Espírito Santo.
Salvação legalista
Salvação legalista é inexistente. É a salvação mediante legalismo humano, um insulto a Deus (Is 64.6). É a pretensa salvação mediante obras humanas.
Essa "salvação" consiste na mera prática dos deveres de uma religião. Segundo essa falsa doutrina, a simples prática de boas obras e de bons hábitos são o suficiente para a salvação e para a conservação da salvação. Porém, o salvo deve praticar boas obras, porque já é salvo e santo, e não para ser salvo e santo (Ef 2.9; Rm 3.28; Gl 2.16; Fp 3.9 e Ap 14.13).
Sim, a nossa fé em Deus é demonstrada perante o mundo pelas nossas boas obras como salvos, nosso bom testemunho e boa conduta como povo santo do Senhor (Tg 2.17,24). Efésios 2.10 diz que as boas obras existem “para que andássemos nelas”.
Um cristianismo evangélico “fácil”, de superfície, de fachada, epidérmico, de brincadeira, sem renúncia ao mundanismo e ao pecado; sem preço, sem peso espiritual, sem santidade bíblica, sem um santo testemunho perante a igreja e o mundo é falso.
A igreja deve ter preceitos, sim. Em I Coríntios 11.2 e 2 Tessalonicenses 2.15 encontramos a palavra grega paradosis, que significa preceitos, e que devem ser observados.
Ordenação de mulheres ao ministério
Não há qualquer fundamento doutrinário para a ordenação de mulheres ao ministérios nas Sagradas Escrituras.
Os alegados casos de Febe (Rm 16.1), Júnia (Rm 16.7) e “as mulheres” (1Tm 3.11) não procedem, quando examinados a fundo e com isenção de ânimo.
Casos como o de Mirã, a profetiza; Débora, a juiza; Hulda, a profetiza; Ana, a profetiza; as filhas de Filipe “que profetizavam”; Priscila, mulher de Áquila; Febe, que servia em Cencréia; Cloe, de Corinto; e outras mais mulheres que se destacaram no serviço do Senhor, não vêm ao caso.
Palmas nos cânticos
As palmas nos cânticos são artificiais, pois são simplesmente rítmicas, sem motivação espiritual interior, e a nossa adoração deve ser "em espírito e em verdade" (Jo 4.24).
O sentido do texto de Salmos 47.1 não é o da explicação popular dos batedores de palmas. Para melhor entendermos essa passagem, vejamos os casos principais mencionados na Bíblia:
(1) Palmas expressando ira (Nm. 24.10; Jó 27.23 e 34.37).
(2) Palmas cívicas na coroação do rei; no caso, Salomão (2Rs 11.12).
(3) Palmas como prosopopéia (figura de linguagem), indicando alegria, regozijo (Sl. 98.8 e Is 55.12).
(4) Palmas relacionadas a julgamento, castigo (Ex 21.14.17; 25.6; Na 3.19 e Lm. 2.15).
“Riso no Espírito”
Também é conhecido como "fenômeno de Toronto". São prostrações, caídas ao chão, estremecimentos, gargalhadas histéricas e descontroladas, rolar no chão, urrar e coisas assim.
Benny Hinn está associado a esses estranhos fenômenos, bem como outros escritores, pregadores, articulistas e conferencistas.
Nas reuniões de “riso no Espírito”, há pouco ou nada de leitura bíblica, de pregação e ensino da Palavra de Deus. Durante essas reuniões, eles proferem repetidamente frases como:
– Não tente usar sua mente para entender isto
– Não ore agora
– Beba! Receba! Receba um pouco mais!
Ora, tudo isso é contrário aos ensinos da Palavra de Deus, pois a fé abrange a mente. Hebreus 11.3 afirma: “Pela fé entendemos”. Além disso, a nossa fé não pode depender de fenômenos deste tipo.
Unção de enfermos com óleo
Está atualmente em voga, mas sem base bíblica, a prática em certas igrejas de qualquer pessoa ungir enfermos. Há também a prática errada de ungirem objetos, roupas, lenços etc. A menção de acessórios do vestuário de Paulo, em Atos 19.12, não dá margem a isso. Ali, trata-se do registro de um fato acontecido em determinado tempo e local, e não a declaração de uma doutrina a ser seguida.
Na Bíblia, a unção de enfermos com óleo, não era efetuada por qualquer um:
(1) Sacerdotes ungiam (Ex 28.41)
(2) Profetas ungiam (1Rs 19.16)
(3) Apóstolos ungiam (Mc 6.7,13)
(4) Presbíteros ungiam (Tg 5.4)
“Nova unção”
Deus restaura, sim, a nossa unção recebida Dele, mas isso não significa “uma nova unção”, como estão propalando, inclusive figuras internacionais do movimento pentecostal.
A Bíblia fala da unção coletiva do Espírito Santo sobre os membros do Corpo de Cristo, composto por aqueles que são regenerados pelo Espírito (2Co 1.21 e 1Jo 2.20,27). É chamada a “unção do Santo” (1Jo 2.20). Ela nos separa do mal, nos santifica para Deus e para o seu uso. Nada de mistura com o mal, com as trevas com o pecado.
Essa unção, de que fala a Palavra de Deus, fica em nós: “Fica em vós”, 1Co 2.27. É unção que permanece e que ensina: “A sua unção vos ensina”, 1Jo 2.27. “Que vos ensina todas as coisas”, pois o Espírito sabe todas as coisas (1Jo 2.20).
As Escrituras ainda nos dizem que é unção que não mente: “E não é mentira” (1Jo 2.27). Ela não contém engano, logro, fraude, falsidade, truque, desonestidade.
O termo unção, na Bíblia, remete para óleo, azeite, símbolos do Espírito Santo.
Salvação legalista
Salvação legalista é inexistente. É a salvação mediante legalismo humano, um insulto a Deus (Is 64.6). É a pretensa salvação mediante obras humanas.
Essa "salvação" consiste na mera prática dos deveres de uma religião. Segundo essa falsa doutrina, a simples prática de boas obras e de bons hábitos são o suficiente para a salvação e para a conservação da salvação. Porém, o salvo deve praticar boas obras, porque já é salvo e santo, e não para ser salvo e santo (Ef 2.9; Rm 3.28; Gl 2.16; Fp 3.9 e Ap 14.13).
Sim, a nossa fé em Deus é demonstrada perante o mundo pelas nossas boas obras como salvos, nosso bom testemunho e boa conduta como povo santo do Senhor (Tg 2.17,24). Efésios 2.10 diz que as boas obras existem “para que andássemos nelas”.
Um cristianismo evangélico “fácil”, de superfície, de fachada, epidérmico, de brincadeira, sem renúncia ao mundanismo e ao pecado; sem preço, sem peso espiritual, sem santidade bíblica, sem um santo testemunho perante a igreja e o mundo é falso.
A igreja deve ter preceitos, sim. Em I Coríntios 11.2 e 2 Tessalonicenses 2.15 encontramos a palavra grega paradosis, que significa preceitos, e que devem ser observados.
Ordenação de mulheres ao ministério
Não há qualquer fundamento doutrinário para a ordenação de mulheres ao ministérios nas Sagradas Escrituras.
Os alegados casos de Febe (Rm 16.1), Júnia (Rm 16.7) e “as mulheres” (1Tm 3.11) não procedem, quando examinados a fundo e com isenção de ânimo.
Casos como o de Mirã, a profetiza; Débora, a juiza; Hulda, a profetiza; Ana, a profetiza; as filhas de Filipe “que profetizavam”; Priscila, mulher de Áquila; Febe, que servia em Cencréia; Cloe, de Corinto; e outras mais mulheres que se destacaram no serviço do Senhor, não vêm ao caso.
Palmas nos cânticos
As palmas nos cânticos são artificiais, pois são simplesmente rítmicas, sem motivação espiritual interior, e a nossa adoração deve ser "em espírito e em verdade" (Jo 4.24).
O sentido do texto de Salmos 47.1 não é o da explicação popular dos batedores de palmas. Para melhor entendermos essa passagem, vejamos os casos principais mencionados na Bíblia:
(1) Palmas expressando ira (Nm. 24.10; Jó 27.23 e 34.37).
(2) Palmas cívicas na coroação do rei; no caso, Salomão (2Rs 11.12).
(3) Palmas como prosopopéia (figura de linguagem), indicando alegria, regozijo (Sl. 98.8 e Is 55.12).
(4) Palmas relacionadas a julgamento, castigo (Ex 21.14.17; 25.6; Na 3.19 e Lm. 2.15).
“Riso no Espírito”
Também é conhecido como "fenômeno de Toronto". São prostrações, caídas ao chão, estremecimentos, gargalhadas histéricas e descontroladas, rolar no chão, urrar e coisas assim.
Benny Hinn está associado a esses estranhos fenômenos, bem como outros escritores, pregadores, articulistas e conferencistas.
Nas reuniões de “riso no Espírito”, há pouco ou nada de leitura bíblica, de pregação e ensino da Palavra de Deus. Durante essas reuniões, eles proferem repetidamente frases como:
– Não tente usar sua mente para entender isto
– Não ore agora
– Beba! Receba! Receba um pouco mais!
Ora, tudo isso é contrário aos ensinos da Palavra de Deus, pois a fé abrange a mente. Hebreus 11.3 afirma: “Pela fé entendemos”. Além disso, a nossa fé não pode depender de fenômenos deste tipo.
Unção de enfermos com óleo
Está atualmente em voga, mas sem base bíblica, a prática em certas igrejas de qualquer pessoa ungir enfermos. Há também a prática errada de ungirem objetos, roupas, lenços etc. A menção de acessórios do vestuário de Paulo, em Atos 19.12, não dá margem a isso. Ali, trata-se do registro de um fato acontecido em determinado tempo e local, e não a declaração de uma doutrina a ser seguida.
Na Bíblia, a unção de enfermos com óleo, não era efetuada por qualquer um:
(1) Sacerdotes ungiam (Ex 28.41)
(2) Profetas ungiam (1Rs 19.16)
(3) Apóstolos ungiam (Mc 6.7,13)
(4) Presbíteros ungiam (Tg 5.4)
O verdadeiro sentido do Natal é Jesus
Envolvidos nas festas natalinas de final de ano, muitos se
esquecem do verdadeiro sentido do Natal e o que ele representa para nossas
vidas
Estamos vivendo a proximidade do final de mais um ano e, com ela,
a chegada das festas natalinas. Como sempre, o comércio está agitado: a maioria
das pessoas, envolvidas pelas campanhas publicitárias sobre as ofertas de
Natal, saem avidamente às compras, cumprindo cegamente o ritual consumista de
final de ano e esquecidas do verdadeiro sentido do Natal e o que ele representa
para nossas vidas.
Natal não tem nada a ver com Papai Noel, guirlandas, bengalinhas de açúcar etc. Também não tem nada a ver com troca de presentes, ainda que seja um gesto agradável. E muito menos ainda tem a ver com banquetes festivos regados a muita bebida alcoólica. Não! O Natal é Cristo.
É verdade que a data do nascimento de Cristo não é 25 de dezembro, já que Jesus deve ter nascido numa noite de primavera ou, mais provavelmente, numa noite de verão, já que o texto bíblico nos informa que, na noite de Seu nascimento, os pastores estavam com as ovelhas no campo (Lucas 2.8), o que não seria possível em dezembro, que é período de inverno no Oriente Médio. A data de 25 de dezembro para celebrar o Natal foi estabelecida pela Igreja Católica no quarto século d.C., com o objetivo de substituir as festas de final de ano pagãs do romanismo, que ocorriam em dezembro, por uma celebração cristã, voltada para Cristo.
Logo, surge a pergunta: “É correto, então, celebrarmos o Natal?”. Mesmo não sendo 25 de dezembro a data exata do nascimento de Cristo, comemorar o nascimento de Jesus de forma especial em uma data é válido. Alguns cristãos preferem não comemorar a data, não por considerarem o nascimento de Cristo algo importante, mas por frisarem o fato de que, à luz da Bíblia, todos os dias devem ser dias de celebrar Jesus. Já outros cristãos reconhecem o mesmo, mas, além de agradecerem a Deus todos os dias por ter enviado Seu Filho Jesus, também celebram o nascimento de Cristo de forma especial em uma data específica. Como disse o apóstolo Paulo, “um faz diferença entre dia e dia, mas outro julga iguais todos os dias; cada um esteja inteiramente convicto em sua própria mente” (Romanos 14.15).
O Natal é uma oportunidade de celebrarmos de forma especial este importante acontecimento, que foi a encarnação de Jesus, Deus que se fez carne por nós. É um culto de gratidão a Deus pela Vinda de Cristo. É também uma oportunidade de evangelização, isto é, de convidar as pessoas não-crentes a participarem de reuniões especiais onde ouvirão a mensagem da Palavra de Deus sobre as implicações e a importância do nascimento de Cristo. Inclusive, algumas igrejas, como já é de costume, preparam até cantatas natalinas e dramatizações para evangelizar de forma específica nesse período em que as pessoas estão mais sensíveis para a mensagem do Natal.
Fato é que se o Natal for celebrado, ele deve ser celebrado corretamente. Natal não tem nada a ver com Papai Noel, duendes, renas que voam, carruagens cheias de presentes, meias coloridas penduradas ou coisas parecidas. Papai Noel é uma invenção comercial, é a exploração da lenda de um monge medieval chamado Nicolau, que levantava ofertas durante o ano para comprar presentes para dar na noite de Natal às crianças de um orfanato. Em cima dessa lenda, a empresa de bebidas Coca-Cola criou, no início do século 20, o personagem Papai Noel e todos os outros personagens a ele associados, e que não têm absolutamente nada a ver com o Natal, mas que, infelizmente, acabam tomando o lugar de Jesus no coração, sobretudo, das crianças.
Natal é a celebração do maior presente de todos os tempos: “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a Sua glória” (João 1.14). Jesus é Deus encarnado, Deus feito homem, que encarnou para, além de nos dar o exemplo de como devemos viver, morrer na cruz em nosso lugar, para remissão de nossos pecados. Essa foi a principal razão de Sua Vinda.
A Bíblia diz que Deus nos ama muito, mas nossos pecados nos afastam de Deus: “Vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o Seu rosto de vós, para que vos não ouça” (Isaías 59.2).
Exatamente porque “todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Romanos 3.23), não somos merecedores da comunhão com Deus e da vida eterna. Porém, a Bíblia também afirma que porque Deus nos ama tanto que providenciou a nossa Salvação. “O salário do pecado é a morte” (Rm 6.23a), mas Deus deu o Seu único Filho, Jesus Cristo, para morrer em nosso lugar. Jesus levou sobre si mesmo o castigo pelos nossos pecados, a fim de que tivéssemos direito à comunhão com Deus e à vida eterna com Ele. A Bíblia declara que Jesus foi “ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele e pelas suas feridas fomos sarados” (Is 53.5). E o próprio Jesus declara que “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho Unigênito para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16).
Portanto, se você aceitar Jesus Cristo como o seu único e suficiente Salvador, aceitando o sacrifício dEle na cruz do Calvário em seu favor e entregando sua vida totalmente a Ele, a Bíblia afirma que os seus pecados serão imediatamente perdoados e você terá a certeza da presença de Deus em todos os momentos de sua vida aqui na Terra, conduzindo-o e ajudando-o em tudo, além da garantia de viver para sempre com Deus na eternidade. A Bíblia declara: “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 5.1). “O dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 6.23b).
Natal não tem nada a ver com Papai Noel, guirlandas, bengalinhas de açúcar etc. Também não tem nada a ver com troca de presentes, ainda que seja um gesto agradável. E muito menos ainda tem a ver com banquetes festivos regados a muita bebida alcoólica. Não! O Natal é Cristo.
É verdade que a data do nascimento de Cristo não é 25 de dezembro, já que Jesus deve ter nascido numa noite de primavera ou, mais provavelmente, numa noite de verão, já que o texto bíblico nos informa que, na noite de Seu nascimento, os pastores estavam com as ovelhas no campo (Lucas 2.8), o que não seria possível em dezembro, que é período de inverno no Oriente Médio. A data de 25 de dezembro para celebrar o Natal foi estabelecida pela Igreja Católica no quarto século d.C., com o objetivo de substituir as festas de final de ano pagãs do romanismo, que ocorriam em dezembro, por uma celebração cristã, voltada para Cristo.
Logo, surge a pergunta: “É correto, então, celebrarmos o Natal?”. Mesmo não sendo 25 de dezembro a data exata do nascimento de Cristo, comemorar o nascimento de Jesus de forma especial em uma data é válido. Alguns cristãos preferem não comemorar a data, não por considerarem o nascimento de Cristo algo importante, mas por frisarem o fato de que, à luz da Bíblia, todos os dias devem ser dias de celebrar Jesus. Já outros cristãos reconhecem o mesmo, mas, além de agradecerem a Deus todos os dias por ter enviado Seu Filho Jesus, também celebram o nascimento de Cristo de forma especial em uma data específica. Como disse o apóstolo Paulo, “um faz diferença entre dia e dia, mas outro julga iguais todos os dias; cada um esteja inteiramente convicto em sua própria mente” (Romanos 14.15).
O Natal é uma oportunidade de celebrarmos de forma especial este importante acontecimento, que foi a encarnação de Jesus, Deus que se fez carne por nós. É um culto de gratidão a Deus pela Vinda de Cristo. É também uma oportunidade de evangelização, isto é, de convidar as pessoas não-crentes a participarem de reuniões especiais onde ouvirão a mensagem da Palavra de Deus sobre as implicações e a importância do nascimento de Cristo. Inclusive, algumas igrejas, como já é de costume, preparam até cantatas natalinas e dramatizações para evangelizar de forma específica nesse período em que as pessoas estão mais sensíveis para a mensagem do Natal.
Fato é que se o Natal for celebrado, ele deve ser celebrado corretamente. Natal não tem nada a ver com Papai Noel, duendes, renas que voam, carruagens cheias de presentes, meias coloridas penduradas ou coisas parecidas. Papai Noel é uma invenção comercial, é a exploração da lenda de um monge medieval chamado Nicolau, que levantava ofertas durante o ano para comprar presentes para dar na noite de Natal às crianças de um orfanato. Em cima dessa lenda, a empresa de bebidas Coca-Cola criou, no início do século 20, o personagem Papai Noel e todos os outros personagens a ele associados, e que não têm absolutamente nada a ver com o Natal, mas que, infelizmente, acabam tomando o lugar de Jesus no coração, sobretudo, das crianças.
Natal é a celebração do maior presente de todos os tempos: “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a Sua glória” (João 1.14). Jesus é Deus encarnado, Deus feito homem, que encarnou para, além de nos dar o exemplo de como devemos viver, morrer na cruz em nosso lugar, para remissão de nossos pecados. Essa foi a principal razão de Sua Vinda.
A Bíblia diz que Deus nos ama muito, mas nossos pecados nos afastam de Deus: “Vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o Seu rosto de vós, para que vos não ouça” (Isaías 59.2).
Exatamente porque “todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Romanos 3.23), não somos merecedores da comunhão com Deus e da vida eterna. Porém, a Bíblia também afirma que porque Deus nos ama tanto que providenciou a nossa Salvação. “O salário do pecado é a morte” (Rm 6.23a), mas Deus deu o Seu único Filho, Jesus Cristo, para morrer em nosso lugar. Jesus levou sobre si mesmo o castigo pelos nossos pecados, a fim de que tivéssemos direito à comunhão com Deus e à vida eterna com Ele. A Bíblia declara que Jesus foi “ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele e pelas suas feridas fomos sarados” (Is 53.5). E o próprio Jesus declara que “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho Unigênito para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16).
Portanto, se você aceitar Jesus Cristo como o seu único e suficiente Salvador, aceitando o sacrifício dEle na cruz do Calvário em seu favor e entregando sua vida totalmente a Ele, a Bíblia afirma que os seus pecados serão imediatamente perdoados e você terá a certeza da presença de Deus em todos os momentos de sua vida aqui na Terra, conduzindo-o e ajudando-o em tudo, além da garantia de viver para sempre com Deus na eternidade. A Bíblia declara: “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 5.1). “O dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 6.23b).
Se você que nos lê ainda não aceitou Jesus, então o que está esperando? Aceite Jesus como seu Senhor e Salvador agora mesmo! Ele morreu na cruz do Calvário por causa dos seus pecados e ainda ressuscitou ao terceiro dia, vencendo a morte para garantir a vida eterna a você e dar um real significado à vida. Esta é a sua oportunidade! Não a desperdice! Cristo é a única esperança. NEle está o sentido da vida.
A praga do antinomianismo
Não somos salvos para viver licenciosamente, mas para viver uma
nova vida em Cristo
Uma das maiores pragas a grassar o meio evangélico em nossos
dias é o antinomianismo. O que vem a ser isso?
Antinomianismo é a negação da importância dos mandamentos divinos para a vida do cristão. É o extremo oposto do legalismo. É o que o apóstolo Judas denominou, na Epístola que leva o seu nome, de “transformar em libertinagem a graça de Deus” (Jd v4). O antinomianismo foi combatido por Jesus (Mt 7.15-27; Jo 14.15; 15.10,14) e pelos apóstolos – além de Judas, já mencionado, Paulo (Rm 3.31; Rm 6; Cl 3), Pedro (2Pe 2), Tiago (Tg 2.14-26) e João, em sua Primeira Epístola, combateram essa heresia. Aliás, João assevera explicitamente que escreveu sua primeira missiva para combater a influência de duas heresias gnósticas de seu tempo, a saber: a negação da divindade de Cristo e a prática do antinomianismo (1Jo 5.13).
Refletindo sobre o evangelicalismo de nossos dias no Ocidente, percebemos, infelizmente, que a influência da mentalidade pós-moderna sobre boa parte dos cristãos de hoje tem levado muitos a confundirem obediência aos mandamentos divinos com legalismo e graça com ausência de normas de conduta. Trata-se de uma torção absurda de significados.
Legalismo é, de forma geral e à luz da Bíblia, a idéia de justificação pelas obras, a fixação imprópria de regras de conduta como necessidades para Salvação e a negligência ou ignorância em relação à graça de Deus. Porém, para alguns cristãos pós-modernos, legalismo não é isso. Legalismo, imaginam, é qualquer tipo de exortação concernente à conduta moral. Por isso, para eles, “é proibido proibir”. Porém, o Novo Testamento está repleto de passagens que condenam contundentemente uma série de comportamentos (Mt 5.28-29; Sl 101.3; 1Jo 2.15-17; 2Tm 2.22; Tt 2.12; Tg 1.14; 1Pe 2.11). E se cristãos pós-modernos costumam generalizar dizendo que “tudo depende da consciência da pessoa”, a Bíblia demonstra que nem tudo é questão de consciência (Gl 5.19-25).
Olhando para o nosso país hoje, justamente por essa distorção, o vertiginoso crescimento evangélico brasileiro não é de todo alentador, já que em muitos lugares o que se vê é um cristianismo meramente nominal, influenciado pela cultura pós-moderna. São pessoas que se declaram de Deus, seguidoras de Jesus, mas cujo comportamento se choca frontalmente com os mandamentos divinos e não acham isso absolutamente nada demais. Dizem que são de Deus, mas não estão interessadas em nenhum compromisso com Seus mandamentos. Sua visão de Deus se dá apenas em termos utilitaristas ou na forma de uma “muleta” psicológica. No primeiro caso, objetivam de Deus somente bênçãos materiais e físicas (a bênção de Deus acima do Deus da bênção), fazendo de Deus o meio para um fim e não um fim em si mesmo; no segundo, tratam-nO apenas como um ser preocupado em estimular seus egos, que está disposto a diariamente ser usado por meio de palavras e gestos diários para inflar a auto-estima delas sem se “intrometer” na forma como desejam conduzir as suas vidas. Enfim, acham que Evangelho é sinônimo de auto-ajuda, nada mais.
Não nos iludamos: para ser verdadeiramente cristão, seguidor de Cristo, filho de Deus, alguém de Deus, não basta a pessoa ter apenas uma confissão de fé em Jesus. Aliás, mesmo que a pessoa tenha uma confissão de fé integralmente ortodoxa, não basta isso para ser considerada uma cristã verdadeira. Conforme o apóstolo João em sua Primeira Epístola, as evidências da verdadeira fé cristã, além de crer em Jesus como Filho de Deus (isto é, na deidade de Jesus; e crer nEle como o Cristo, isto é, o Messias – 5.1,5-12,20 –, pois aquele que não aceita Jesus como Filho de Deus não tem a vida – 5.12), são:
1) Viver segundo os mandamentos divinos (2.3-6).
2) Amar seu irmão e praticar esse amor (2.9; 3.10; 5.1).
3) Não viver na prática do pecado, mas buscar sempre e constantemente viver uma vida de santidade (3.2,3; 5.18).
4) Não amar o mundo e seu estilo de vida (2.15-17).
Segundo o crivo bíblico, quem não vive dessa forma não pode ser chamado de alguém “de Deus”.
A graça de Deus não nos libera da obrigação de obedecer às leis morais de Deus. A graça não é uma licença para a desobediência, mas a porta que Deus nos abre para a possibilidade de vivermos uma vida santa diante dEle.
A Nova Aliança inclui mandamentos, determinações, ou seja, a lei moral. Jesus, e não Moisés, disse: “Se me amardes, obedecereis os meus mandamentos” (Jo 14.15). E mais: “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele” (Jo 14.21).
Em seu Sermão da Montanha, Jesus adverte-nos contra a ideia de que Ele estaria defendendo o antinomianismo. Cristo faz questão de esclarecer que nem negligenciava nem destruía a Lei, e nem tinha o intento de destruir a Lei posteriormente ao cumpri-la toda: “Não penseis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim destruir, mas cumprir. Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, de modo nenhum passará da lei um só i ou um só til, até que tudo seja cumprido. Qualquer, pois, que violar um desses mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no reino dos céus” (Mt 5.17-19).
O que, então, foi abolido da Lei por meio de Cristo? Quando Jesus cumpriu a Lei, foram abolidas as leis cerimoniais, que apontavam para o sacrifício de Cristo, e as leis regimentares. A lei moral, ou seja, o aspecto moral da Lei, permanece no Novo Testamento. E a questão da “maldição da Lei”, de que fala Paulo? Ela diz respeito às sanções punitivas a que estamos sujeitos por não podermos cumprir toda a Lei. Ao cumprir as exigências da Lei para nós, Cristo removeu a maldição da Lei para longe de nós, e não a Lei, isto é, os mandamentos morais de Deus para as nossas vidas. A graça de Deus não é chancela para a anarquia. Os mandamentos de Deus devem ser vividos, mas agora, como filhos de Deus, não mais como um peso.
Enfim, não somos salvos por obedecer aos mandamentos divinos, mas somos salvos para vivermos segundo os mandamentos divinos. Não somos salvos para viver licenciosamente, mas para viver uma nova vida em Cristo. Portanto, fora com o antinomianismo.
Antinomianismo é a negação da importância dos mandamentos divinos para a vida do cristão. É o extremo oposto do legalismo. É o que o apóstolo Judas denominou, na Epístola que leva o seu nome, de “transformar em libertinagem a graça de Deus” (Jd v4). O antinomianismo foi combatido por Jesus (Mt 7.15-27; Jo 14.15; 15.10,14) e pelos apóstolos – além de Judas, já mencionado, Paulo (Rm 3.31; Rm 6; Cl 3), Pedro (2Pe 2), Tiago (Tg 2.14-26) e João, em sua Primeira Epístola, combateram essa heresia. Aliás, João assevera explicitamente que escreveu sua primeira missiva para combater a influência de duas heresias gnósticas de seu tempo, a saber: a negação da divindade de Cristo e a prática do antinomianismo (1Jo 5.13).
Refletindo sobre o evangelicalismo de nossos dias no Ocidente, percebemos, infelizmente, que a influência da mentalidade pós-moderna sobre boa parte dos cristãos de hoje tem levado muitos a confundirem obediência aos mandamentos divinos com legalismo e graça com ausência de normas de conduta. Trata-se de uma torção absurda de significados.
Legalismo é, de forma geral e à luz da Bíblia, a idéia de justificação pelas obras, a fixação imprópria de regras de conduta como necessidades para Salvação e a negligência ou ignorância em relação à graça de Deus. Porém, para alguns cristãos pós-modernos, legalismo não é isso. Legalismo, imaginam, é qualquer tipo de exortação concernente à conduta moral. Por isso, para eles, “é proibido proibir”. Porém, o Novo Testamento está repleto de passagens que condenam contundentemente uma série de comportamentos (Mt 5.28-29; Sl 101.3; 1Jo 2.15-17; 2Tm 2.22; Tt 2.12; Tg 1.14; 1Pe 2.11). E se cristãos pós-modernos costumam generalizar dizendo que “tudo depende da consciência da pessoa”, a Bíblia demonstra que nem tudo é questão de consciência (Gl 5.19-25).
Olhando para o nosso país hoje, justamente por essa distorção, o vertiginoso crescimento evangélico brasileiro não é de todo alentador, já que em muitos lugares o que se vê é um cristianismo meramente nominal, influenciado pela cultura pós-moderna. São pessoas que se declaram de Deus, seguidoras de Jesus, mas cujo comportamento se choca frontalmente com os mandamentos divinos e não acham isso absolutamente nada demais. Dizem que são de Deus, mas não estão interessadas em nenhum compromisso com Seus mandamentos. Sua visão de Deus se dá apenas em termos utilitaristas ou na forma de uma “muleta” psicológica. No primeiro caso, objetivam de Deus somente bênçãos materiais e físicas (a bênção de Deus acima do Deus da bênção), fazendo de Deus o meio para um fim e não um fim em si mesmo; no segundo, tratam-nO apenas como um ser preocupado em estimular seus egos, que está disposto a diariamente ser usado por meio de palavras e gestos diários para inflar a auto-estima delas sem se “intrometer” na forma como desejam conduzir as suas vidas. Enfim, acham que Evangelho é sinônimo de auto-ajuda, nada mais.
Não nos iludamos: para ser verdadeiramente cristão, seguidor de Cristo, filho de Deus, alguém de Deus, não basta a pessoa ter apenas uma confissão de fé em Jesus. Aliás, mesmo que a pessoa tenha uma confissão de fé integralmente ortodoxa, não basta isso para ser considerada uma cristã verdadeira. Conforme o apóstolo João em sua Primeira Epístola, as evidências da verdadeira fé cristã, além de crer em Jesus como Filho de Deus (isto é, na deidade de Jesus; e crer nEle como o Cristo, isto é, o Messias – 5.1,5-12,20 –, pois aquele que não aceita Jesus como Filho de Deus não tem a vida – 5.12), são:
1) Viver segundo os mandamentos divinos (2.3-6).
2) Amar seu irmão e praticar esse amor (2.9; 3.10; 5.1).
3) Não viver na prática do pecado, mas buscar sempre e constantemente viver uma vida de santidade (3.2,3; 5.18).
4) Não amar o mundo e seu estilo de vida (2.15-17).
Segundo o crivo bíblico, quem não vive dessa forma não pode ser chamado de alguém “de Deus”.
A graça de Deus não nos libera da obrigação de obedecer às leis morais de Deus. A graça não é uma licença para a desobediência, mas a porta que Deus nos abre para a possibilidade de vivermos uma vida santa diante dEle.
A Nova Aliança inclui mandamentos, determinações, ou seja, a lei moral. Jesus, e não Moisés, disse: “Se me amardes, obedecereis os meus mandamentos” (Jo 14.15). E mais: “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele” (Jo 14.21).
Em seu Sermão da Montanha, Jesus adverte-nos contra a ideia de que Ele estaria defendendo o antinomianismo. Cristo faz questão de esclarecer que nem negligenciava nem destruía a Lei, e nem tinha o intento de destruir a Lei posteriormente ao cumpri-la toda: “Não penseis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim destruir, mas cumprir. Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, de modo nenhum passará da lei um só i ou um só til, até que tudo seja cumprido. Qualquer, pois, que violar um desses mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no reino dos céus” (Mt 5.17-19).
O que, então, foi abolido da Lei por meio de Cristo? Quando Jesus cumpriu a Lei, foram abolidas as leis cerimoniais, que apontavam para o sacrifício de Cristo, e as leis regimentares. A lei moral, ou seja, o aspecto moral da Lei, permanece no Novo Testamento. E a questão da “maldição da Lei”, de que fala Paulo? Ela diz respeito às sanções punitivas a que estamos sujeitos por não podermos cumprir toda a Lei. Ao cumprir as exigências da Lei para nós, Cristo removeu a maldição da Lei para longe de nós, e não a Lei, isto é, os mandamentos morais de Deus para as nossas vidas. A graça de Deus não é chancela para a anarquia. Os mandamentos de Deus devem ser vividos, mas agora, como filhos de Deus, não mais como um peso.
Enfim, não somos salvos por obedecer aos mandamentos divinos, mas somos salvos para vivermos segundo os mandamentos divinos. Não somos salvos para viver licenciosamente, mas para viver uma nova vida em Cristo. Portanto, fora com o antinomianismo.
fonte cpad news
A marcante racionalidade do Cristianismo
Atos proféticos?
A marcante racionalidade do Cristianismo
Diferentemente do que se prega por aí, fé cristã e ciência não
são incompatíveis
A história da humanidade é marcada pelo surgimento e extinção de
formas exóticas de expressão religiosa. Analisar a história geral e desta
delimitar a das religiões já é uma pretensão das mais ingentes, agora falar em
captar o fenômeno chamado religião dentro do fluxo da existência humana exige
do pesquisador a decência e a honestidade (consigo, com o objeto, com o método
e com as pessoas) de deixar claro que isso só é possível após assumir que, como
disse C. S. Lewis, “o resultado da pesquisa histórica depende do ponto de vista
filosófico que adotamos, antes mesmo de analisar as evidências. A questão
filosófica precisa, portanto, ser considerada em primeiro lugar”.
Esse pressuposto é crucial para a análise de qualquer fenômeno, pois os resultados serão, durante todo o processo, influenciados por esse fundamento inicial. Se a pesquisa parte do princípio de que tudo que existe é produto do acaso, da geração espontânea ou abiogênese, então, do ponto de vista puramente pragmático, é preciso explicar o porquê da existência de determinadas disposições que caracterizam o ser humano sem, no entanto, evidenciar qualquer necessidade biológica que as justifiquem. Em outros termos, à luz desse aspecto, não há uma razão plausível para explicar o fenômeno religioso. Em uma pesquisa séria, essa constatação levaria o estudioso a eliminar tal hipótese e aventar outra.
Perscrutando a religião (a disposição do ser humano em se relacionar com o transcendental) pelo viés da criação planejada – resultado final de um projeto inteligente, cujo Artífice criou todas as coisas com um propósito definido –, fica mais do que evidente que qualquer conclusão sobre sua origem, finalidade e desenvolvimento será totalmente marcada por essa cosmologia, concepção de mundo ou cosmovisão.
Assim, deixo clara minha posição (pela revelação bíblica, acima de tudo; pela experiência do dia a dia e até pela lógica do surgimento da religião, que confunde-se com a própria existência da humanidade e não é meramente uma construção social), de que acredito que Deus é a origem desse desejo inerente à natureza humana, e que foi Ele que insuflou-nos essa ânsia por buscar algo que transcenda a existência material e a percepção sensorial. Para citar um conhecido pensamento de Agostinho em Confissões, “Tu nos fizeste para ti mesmo, e nossos corações estão inquietos até que descansem em ti”.
Involução da religião
David Hume, um dos principais representante do racionalismo iluminista, afirmou em sua História natural da religião (1757), que parece “evidente que a primeira e mais antiga religião da humanidade foi o politeísmo”. Mas, isso não é verdade.
Muitos questionam: “Se o Deus da Bíblia realmente é o único que existe, por que não se encontra nenhum vestígio de inscrições ou figuras representativas dEle?
Qualquer leitor da Bíblia sabe muito bem que o Eterno condena qualquer tentativa de as pessoas o representarem (Êx 20.4). Pouca informação há sobre o período antediluviano, entretanto é sabido que por um tempo considerável uma geração de pessoas celebrava o culto ao Senhor, isto é, praticava o monoteísmo, o culto ao único e verdadeiro Deus (Gn 4.4,26; 5.22-24,29; 6.8,9). Sem considerar o período pré-Queda, uma época histórica imediatamente após a Criação (a qual não se sabe quanto tempo durou), que pela leitura do texto bíblico sabemos que nela o homem possuía uma interação muito próxima com o Divino e, portanto, “não havia” curiosidade acerca de Deus (Gn 3.8). Imagina-se que, após a Queda, a disposição humana em buscar o transcendental foi uma das primeiras atitudes do homem em que se percebe o seu equívoco em relação aos fenômenos da natureza e da própria existência do universo. Após o rompimento da relação com o divino, o ser humano “perde a memória”, se embrutece e, sem entender o que ocasionava trovões e relâmpagos, por exemplo, inventa uma explicação mitológica para dar conta de assimilá-los. Com isso, cria-se o politeísmo, a idéia de que existia um deus para cada necessidade básica do ser humano.
Considerando o período de existência de muitas outras civilizações, Israel pode ser considerado uma nação “jovem”. Uma das questões debatidas na teologia é justamente a experiência da revelação do Eterno a Abraão (pai da nação israelita). Como se deu a sua experiência com Deus? Em um mundo mergulhado na idolatria, seguir um Deus que se revelou, mas exigiu exclusividade, não é algo tão simples quanto erroneamente se presume. O teísmo é algo tão original e revolucionário, que na época em que a tribo nômade de Israel teve que definitivamente se decidir acerca de servir ou não a Javé, salta aos olhos a dificuldade que o povo enfrentou até se desvencilhar das práticas pagãs e politeístas adquiridas no Egito (na realidade, Israel somente se libertou da idolatria após a dura lição do exílio).
Apesar de se constituir em um simplismo o argumento do ateu Richard Dawkins (retomando obviamente o raciocínio do cético David Hume), de que o monoteísmo é uma evolução do politeísmo e que o próximo passo de “libertação” do pensamento religioso será o ateísmo, não deixa de ser interessante o reconhecimento de que a crença em um único Deus seja algo mais elaborado do que a credulidade em vários. Foi Abraão, o pai da fé e amigo de Deus, que resgatou o monoteísmo no mundo antigo.
Racionalidade do Cristianismo
Na linha do teísmo bíblico veterotestamentário, onde há milênios existia a promessa de um momento de restauração da possibilidade de o homem reatar o relacionamento com o seu Criador (Gn 3.15), é imprescindível atentar para o fato de que o advento de Cristo, em sua encarnação, demarca o apogeu de tais oráculos proféticos (Jo 1).
Conforme ilustra Alister McGrath, em Paixão pela verdade: a coerência intelectual do evangelicalismo, “dentro de nós há um relacionamento com Deus – relacionamento fraturado – e uma receptividade para com Deus – receptividade insatisfeita. A criação estabelece uma potencialidade, que o pecado frustra – contudo, a mágoa e a dor daquela frustração continuam vivas em nossa experiência. É esse mesmo senso de vazio que, em si, está por trás da idéia de um ponto de contato. Estamos apercebidos de que algo está faltando. Podemos não ser capazes de dar-lhe o nome. Podemos ser incapazes de fazer alguma coisa a respeito. O evangelho cristão, porém, é capaz de interpretar nosso desejo ardente, o sentimento de não nos sentir realizados, como uma percepção da falta de Deus – e assim prepara o caminho para a realização. Uma vez que reconhecemos que estamos incompletos, que nos falta algo, começamos a pensar se esse vazio espiritual poderia ser preenchido. É este impulso que está por trás da busca humana por realização religiosa – uma busca que o evangelho vira de ponta cabeça com sua declaração de que fomos buscados pela graça de Deus” (p.186).
Sem levar em conta o evangelho pragmático e individualista que existe na atualidade (as pessoas só buscam Jesus pensando em solucionar problemas pessoais), a fé cristã exige do indivíduo o perfeito entendimento da mensagem bíblica e atitudes muito bem refletidas (e não reflexas) e pensadas para que ele possa aceitá-la. À mulher samaritana, no poço de Jacó, Ele disse que os samaritanos adoravam o que não conheciam (Jo 4.22). Quando o apóstolo Paulo fala do culto racional (Rm 12.1), não há como fugir da verdade contida no texto: só pode adorar a Deus aqueles que possuem uma consciência de quem Ele é! O culto não pode ser algo mecânico e rotineiro, antes, para prestá-lo eficientemente, é imprescindível o uso da inteligência, da lucidez e principalmente do sentimento de gratidão e reconhecimento do “tamanho” da dívida que o sangue de Jesus pagou! Acima de tudo existe ainda o mais importante propósito: o ser humano – assim como todas as coisas – foi criado para a glória de Deus.
Diferentemente de outras religiões, o Cristianismo – em sua acepção mais essencial, e não banalizada institucionalmente com a multiplicidade de denominações – promove o ser humano e não exige a sua anulação ou rebaixamento (como se animal fosse), a fim de satisfazer algum capricho ascético ou extático de uma divindade narcisista. Distintamente das outras, ele não requer intelectualidade acima da média, mas também não aceita irracionalidade, pois para decidir-se por seguir a Jesus Cristo, é preciso estar plenamente cônscio da realidade do próprio pecado e reconhecer que só o sacrifício vicário e expiatório da cruz é que pode salvar.
O Senhor Jesus Cristo propôs um conceito de liberdade tão elevado para quem quiser segui-lo que, para as pessoas que acreditam que não é possível viver sem as amarras de uma tábua de proibições, composta de ritos e caprichos supostamente divinos, torna-se um perigoso estilo de vida, mas para os que experimentam o novo nascimento e recebem uma nova natureza, ser cristão é começar a viver plenamente sendo tudo aquilo que Deus nos projetou para sermos.
Esse pressuposto é crucial para a análise de qualquer fenômeno, pois os resultados serão, durante todo o processo, influenciados por esse fundamento inicial. Se a pesquisa parte do princípio de que tudo que existe é produto do acaso, da geração espontânea ou abiogênese, então, do ponto de vista puramente pragmático, é preciso explicar o porquê da existência de determinadas disposições que caracterizam o ser humano sem, no entanto, evidenciar qualquer necessidade biológica que as justifiquem. Em outros termos, à luz desse aspecto, não há uma razão plausível para explicar o fenômeno religioso. Em uma pesquisa séria, essa constatação levaria o estudioso a eliminar tal hipótese e aventar outra.
Perscrutando a religião (a disposição do ser humano em se relacionar com o transcendental) pelo viés da criação planejada – resultado final de um projeto inteligente, cujo Artífice criou todas as coisas com um propósito definido –, fica mais do que evidente que qualquer conclusão sobre sua origem, finalidade e desenvolvimento será totalmente marcada por essa cosmologia, concepção de mundo ou cosmovisão.
Assim, deixo clara minha posição (pela revelação bíblica, acima de tudo; pela experiência do dia a dia e até pela lógica do surgimento da religião, que confunde-se com a própria existência da humanidade e não é meramente uma construção social), de que acredito que Deus é a origem desse desejo inerente à natureza humana, e que foi Ele que insuflou-nos essa ânsia por buscar algo que transcenda a existência material e a percepção sensorial. Para citar um conhecido pensamento de Agostinho em Confissões, “Tu nos fizeste para ti mesmo, e nossos corações estão inquietos até que descansem em ti”.
Involução da religião
David Hume, um dos principais representante do racionalismo iluminista, afirmou em sua História natural da religião (1757), que parece “evidente que a primeira e mais antiga religião da humanidade foi o politeísmo”. Mas, isso não é verdade.
Muitos questionam: “Se o Deus da Bíblia realmente é o único que existe, por que não se encontra nenhum vestígio de inscrições ou figuras representativas dEle?
Qualquer leitor da Bíblia sabe muito bem que o Eterno condena qualquer tentativa de as pessoas o representarem (Êx 20.4). Pouca informação há sobre o período antediluviano, entretanto é sabido que por um tempo considerável uma geração de pessoas celebrava o culto ao Senhor, isto é, praticava o monoteísmo, o culto ao único e verdadeiro Deus (Gn 4.4,26; 5.22-24,29; 6.8,9). Sem considerar o período pré-Queda, uma época histórica imediatamente após a Criação (a qual não se sabe quanto tempo durou), que pela leitura do texto bíblico sabemos que nela o homem possuía uma interação muito próxima com o Divino e, portanto, “não havia” curiosidade acerca de Deus (Gn 3.8). Imagina-se que, após a Queda, a disposição humana em buscar o transcendental foi uma das primeiras atitudes do homem em que se percebe o seu equívoco em relação aos fenômenos da natureza e da própria existência do universo. Após o rompimento da relação com o divino, o ser humano “perde a memória”, se embrutece e, sem entender o que ocasionava trovões e relâmpagos, por exemplo, inventa uma explicação mitológica para dar conta de assimilá-los. Com isso, cria-se o politeísmo, a idéia de que existia um deus para cada necessidade básica do ser humano.
Considerando o período de existência de muitas outras civilizações, Israel pode ser considerado uma nação “jovem”. Uma das questões debatidas na teologia é justamente a experiência da revelação do Eterno a Abraão (pai da nação israelita). Como se deu a sua experiência com Deus? Em um mundo mergulhado na idolatria, seguir um Deus que se revelou, mas exigiu exclusividade, não é algo tão simples quanto erroneamente se presume. O teísmo é algo tão original e revolucionário, que na época em que a tribo nômade de Israel teve que definitivamente se decidir acerca de servir ou não a Javé, salta aos olhos a dificuldade que o povo enfrentou até se desvencilhar das práticas pagãs e politeístas adquiridas no Egito (na realidade, Israel somente se libertou da idolatria após a dura lição do exílio).
Apesar de se constituir em um simplismo o argumento do ateu Richard Dawkins (retomando obviamente o raciocínio do cético David Hume), de que o monoteísmo é uma evolução do politeísmo e que o próximo passo de “libertação” do pensamento religioso será o ateísmo, não deixa de ser interessante o reconhecimento de que a crença em um único Deus seja algo mais elaborado do que a credulidade em vários. Foi Abraão, o pai da fé e amigo de Deus, que resgatou o monoteísmo no mundo antigo.
Racionalidade do Cristianismo
Na linha do teísmo bíblico veterotestamentário, onde há milênios existia a promessa de um momento de restauração da possibilidade de o homem reatar o relacionamento com o seu Criador (Gn 3.15), é imprescindível atentar para o fato de que o advento de Cristo, em sua encarnação, demarca o apogeu de tais oráculos proféticos (Jo 1).
Conforme ilustra Alister McGrath, em Paixão pela verdade: a coerência intelectual do evangelicalismo, “dentro de nós há um relacionamento com Deus – relacionamento fraturado – e uma receptividade para com Deus – receptividade insatisfeita. A criação estabelece uma potencialidade, que o pecado frustra – contudo, a mágoa e a dor daquela frustração continuam vivas em nossa experiência. É esse mesmo senso de vazio que, em si, está por trás da idéia de um ponto de contato. Estamos apercebidos de que algo está faltando. Podemos não ser capazes de dar-lhe o nome. Podemos ser incapazes de fazer alguma coisa a respeito. O evangelho cristão, porém, é capaz de interpretar nosso desejo ardente, o sentimento de não nos sentir realizados, como uma percepção da falta de Deus – e assim prepara o caminho para a realização. Uma vez que reconhecemos que estamos incompletos, que nos falta algo, começamos a pensar se esse vazio espiritual poderia ser preenchido. É este impulso que está por trás da busca humana por realização religiosa – uma busca que o evangelho vira de ponta cabeça com sua declaração de que fomos buscados pela graça de Deus” (p.186).
Sem levar em conta o evangelho pragmático e individualista que existe na atualidade (as pessoas só buscam Jesus pensando em solucionar problemas pessoais), a fé cristã exige do indivíduo o perfeito entendimento da mensagem bíblica e atitudes muito bem refletidas (e não reflexas) e pensadas para que ele possa aceitá-la. À mulher samaritana, no poço de Jacó, Ele disse que os samaritanos adoravam o que não conheciam (Jo 4.22). Quando o apóstolo Paulo fala do culto racional (Rm 12.1), não há como fugir da verdade contida no texto: só pode adorar a Deus aqueles que possuem uma consciência de quem Ele é! O culto não pode ser algo mecânico e rotineiro, antes, para prestá-lo eficientemente, é imprescindível o uso da inteligência, da lucidez e principalmente do sentimento de gratidão e reconhecimento do “tamanho” da dívida que o sangue de Jesus pagou! Acima de tudo existe ainda o mais importante propósito: o ser humano – assim como todas as coisas – foi criado para a glória de Deus.
Diferentemente de outras religiões, o Cristianismo – em sua acepção mais essencial, e não banalizada institucionalmente com a multiplicidade de denominações – promove o ser humano e não exige a sua anulação ou rebaixamento (como se animal fosse), a fim de satisfazer algum capricho ascético ou extático de uma divindade narcisista. Distintamente das outras, ele não requer intelectualidade acima da média, mas também não aceita irracionalidade, pois para decidir-se por seguir a Jesus Cristo, é preciso estar plenamente cônscio da realidade do próprio pecado e reconhecer que só o sacrifício vicário e expiatório da cruz é que pode salvar.
O Senhor Jesus Cristo propôs um conceito de liberdade tão elevado para quem quiser segui-lo que, para as pessoas que acreditam que não é possível viver sem as amarras de uma tábua de proibições, composta de ritos e caprichos supostamente divinos, torna-se um perigoso estilo de vida, mas para os que experimentam o novo nascimento e recebem uma nova natureza, ser cristão é começar a viver plenamente sendo tudo aquilo que Deus nos projetou para sermos.
Atos proféticos?
Esse modismo pseudopentecostal tem conquistado até pastores da
Assembleia de Deus que se esqueceram dos Atos dos Apóstolos
Há algum tempo, uma celebridade
gospel andou “profeticamente” como um animal quadrúpede em cima de um palco,
como se fosse uma leoa. Depois, em outro “ato profético”, ela “pisoteou” um
rapaz que representava o Diabo. E, recentemente, a mesma “adoradora” comprou
uma bota de cowboy para esmagar “profeticamente” os principados que
supostamente dominam as cidades de Dallas (Estados Unidos), Madrid (Espanha) e
Barretos-SP (Brasil).
Num dia desses, assistindo a um programa assembleiano que vai ao ar no sábado
pela manhã, fiquei pasmo. Vários “atos proféticos” foram apresentados com a
maior naturalidade, como se fizessem parte da liturgia do Movimento
Pentecostal. Sinceramente, é triste ver igrejas ditas cristãs, evangélicas ou
pentecostais voltadas ao misticismo.
Os “atos proféticos” estão na moda, inclusive em algumas igrejas tradicionais,
como a Assembleia de Deus. E eles estão ficando cada vez mais exóticos. Certo
pregador (pregador?) assembleiano (assembleiano?) — não me pergunte o nome dele
— anda dizendo por aí que, ao ter chegado a uma cidade, e percebendo que havia
uma nuvem negra sobre ela, resolveu, num “ato profético”, percorrer a cidade
inteira de carro, rua por rua, derramando azeite por onde ia passando! Já
pensou se a moda “pega”, e alguém resolva ungir megalópoles como Nova York, São
Francisco, Londres, Paris, Johanesburgo, Rio de Janeiro e São Paulo?! Haja
azeite!
Recentemente, fui convidado para ministrar a Palavra em uma Assembleia de Deus
— não me pergunte onde —, mas acabei não pregando. Quer saber por quê? Era um
dia de eleições, e o pastor resolveu fazer um “ato profético”. Enrolou-se na bandeira
do Brasil, “profetizou” vitória sobre a nossa nação, ungiu a bandeira e depois
pediu para todos os presentes, um a um, “profetizarem” bênçãos para o Brasil,
representado pela bandeira estendida...
Resultado: como o tal ato pretensamente profético durou mais de uma hora, não
houve exposição da Palavra de Deus nem manifestação do Espírito Santo (1 Co
14.26). Ocorreu também uso indevido da unção, pois à igreja neotestamentária,
nesse tempo da Graça, a única unção com óleo (literalmente, falando) que se
aplica é a que se ministra no momento da oração pelos enfermos (Mc 6.13; Tg
5.14).
O que está acontecendo com a quase-centenária Assembleia de Deus e com outras
igrejas tradicionais, que sempre valorizaram o estudo da Palavra de Deus, a
oração e a evangelização? É necessário mesmo adotar práticas místicas para o
recebimento das bênçãos do Senhor? A adoração pura e simples, o louvor e a
intercessão perderam a eficácia? E a pregação expositiva ungida, não funciona
mais?
É preciso mesmo que empreguemos no culto toda a parafernália mística de
falaciosos movimentos que supervalorizam as experiências exóticas, em
detrimento da obediência aos princípios, mandamentos e doutrinas da Palavra de
Deus? O Evangelho de Cristo é simples (2 Co 11.3,4). Temos de orar e jejuar,
amar e estudar as Escrituras, bem como sair das quatro paredes, levando a
mensagem da cruz ao mundo perdido (1 Co 1.18,22,23; 2.1-5).
Portanto, digamos “não” aos “atos proféticos” — que infelizmente têm
conquistado até pastores da Assembleia de Deus que se esqueceram dos Atos dos
Apóstolos —, os quais só servem para afastar o povo de Deus da Palavra e da
simplicidade do Evangelho, gerando falsa espiritualidade e pseudo-avivamento.
FONTE CPAD NEWS
QUEM FOI O PRIMEIRO PAPA?
Paulo Cristiano, do CACP
Todos sabem que o título “papa” é empregado para o supremo
chefe da igreja católica apostólica romana. Este termo vem do grego e significa
“pai”. Já em latim, é formado pela junção da primeira sílaba de duas palavras:
pater patrum, que quer dizer “pai dos pais”. Mas o significado que os católicos
mais gostam de conferir é: Petri apostoli potestatem accipiens, isto é, “aquele
que recebe autoridade do apóstolo Pedro”.
Segundo a doutrina católica, o papa é o sucessor de São
Pedro no governo da Igreja Universal e o vigário de Cristo na terra. Tem
autoridade sobre todos os fiéis e sobre toda a hierarquia da igreja. Além da
autoridade espiritual, exerce uma territorial (interrompida de 1870 a 1929),
que, a partir de 1929, foi limitada ao Estado da cidade do Vaticano. É
infalível quando fala em assuntos de fé e moral (ex-cathedra). Alguns títulos
que o papa ostenta dão uma amostra deste exagero, a saber: Bispo de Roma,
Primaz da Itália, Patriarca do Ocidente, Vigário de Jesus Cristo, Servo dos
Servos de Deus, Sumo Pontífice da Igreja Universal, Sucessor do Príncipe dos
Apóstolos, Soberano do Estado da Cidade do Vaticano, Arcebispo e Metropolita da
Província Romana e Santo Padre.
Durante a história de sua existência, o papado teve seus
altos e baixos. Recentemente, o atual papa teve de pedir desculpas aos judeus
por seu antecessor, o papa Pio XII, e se vê em dificuldades com a questão do
celibato. Apesar de toda esta imponência de chefe de Estado, líder espiritual
da maior parcela de cristãos do mundo (1 bilhão) e administrador de um império
financeiro que a cada ano acumula bilhões de dólares, algumas perguntas
precisam ser feitas. Existem provas bíblicas e históricas que indiquem que o
papa é o sucessor do apóstolo Pedro? Pedro foi o primeiro papa e gozou de supremacia
sobre os demais apóstolos? Teria Pedro fundado a igreja de Roma e transformado
essa igreja na sede de seu trono episcopal?
O alvo de nossa matéria é apresentar respostas adequadas a
perguntas cruciais como essas, visto que a Internet está repleta de sites de
cunho apologético católico com o intuito de refutar as verdades das Escrituras
Sagradas apresentadas pelos evangélicos.
Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja
Tu es Petrus et super hanc petram aedificabo ecclesiam meam
Esse trecho de Mateus 16.18 é tão especial para os
fundamentos papais que foi escrito em enormes letras douradas na cúpula da
Basílica de São Pedro, em Roma. Destarte, ele é a fonte mais importante de toda
a dogmática1 católica. A expressão Tu es Petrus, carrega atrás de si uma
procissão de outras heresias erigidas em cima das interpretações de textos
deslocados de seus respectivos contextos, interpretados de modo arbitrário
pelos teólogos e doutores católicos romanos. É ele o genitor da infalibilidade
papal, do poder temporal e dos demais desvios teológicos, contradições e
distorções dessa igreja. Portanto, esclarecer à luz da Bíblia todo esse
equívoco teológico é desestruturar a base em que se firma a eclesiologia2
católica.
Os pilares do papado
A tese católica se firma em três questionáveis pressupostos
principais, a saber:
Cristo edificou a Igreja sobre Pedro, numa interpretação
totalmente tendenciosa e arbitrária de Mateus 16.18,19.
Pedro fundou e dirigiu a Igreja de Roma, sendo martirizado
nessa cidade.
A sucessão apostólica numa cadeia ininterrupta até nossos
dias: de Pedro a Karol Wojtyla (João Paulo II).
Outrossim, há ainda outros argumentos apresentados pelos
católicos romanos que se firmam nessa trilogia, mas, neste momento,
analisaremos apenas os já mencionados.
Em que pedra a igreja está edificada?
O endereço eletrônico católico www.lepanto.org.br, da Frente
Universitária Lepanto, é um site antiprotestante e, na página sobre a Igreja
Católica, que interpreta Mateus 16.18, traz a seguinte declaração: “Esse ponto
é muito importante, pois a interpretação truncada dos protestantes quer admitir
o absurdo de que Nosso Senhor não sabia se exprimir corretamente. Eles dizem
que Cristo queria dizer: Simão, tu és pedra, mas não edificarei sobre ti a
minha Igreja, por que não és pedra, senão sobre mim. Ora, é uma contradição,
pois Nosso Senhor alterou o nome de Simão para Kephas, deixando claro quem
seria a pedra visível de sua Igreja”.
Entendemos que essa declaração nada mais representa do que o
ecoar das suposições romanas na tentativa de harmonizar o que não pode ser
harmonizado. A princípio pode até impressionar, mas carece totalmente de
fundamentos. Leiamos o versículo: “Pois também eu te digo que tu és Pedro
(Petrus), e sobre esta pedra (petra) edificarei a minha igreja, e as portas do
inferno não prevalecerão contra ela; e eu te darei as chaves do reino dos céus;
e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na
terra será desligado nos céus” (Mt 16.18,19).
Jesus, ao proferir essa declaração, estava realmente
afirmando que Ele próprio era a “pedra” sobre a qual sua Igreja seria
edificada. Temos diversos motivos para esta interpretação. Vejamos:
Petra versus Petros
Ao referir-se a Pedro, Jesus emprega o termo grego Petros,
que significa um seixo, pedregulho. Ao referir-se à edificação da Igreja, diz
que ela seria edificada não sobre o Petros (Pedro), mas sobre a petra, um
rochedo inabalável. Ora, Jesus fez nítida diferença semasiológica3 entre petra
e Petros. Um é substantivo feminino singular e está na terceira pessoa; o
outro, masculino plural, e se encontra na segunda pessoa. Além disso, o termo
petra nunca é usado na Bíblia em relação a homem algum, somente em relação a
Deus. Logo, tal verso nem de longe insinua alguma coisa sobre Roma, sucessão
apostólica ou algo similar. Os católicos conseguem ver o que não existe no
texto.
Edificação sobre quem?
A declaração “Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo” é a
chave para entendermos toda a problemática. Jesus perguntou a “todos”, e não
somente a Pedro, “quem Ele era”. “Disse-lhes ele [Jesus]: E vós, quem dizeis
que eu sou?” (Mt 16.15). A ele — Pedro — foi revelado, em sua confissão, que
Cristo era o Messias, o Filho de Deus, daí a frase: “Bem-aventurado és tu,
Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelou, mas meu Pai, que
está nos céus. Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra
edificarei a minha igreja...”, ou seja, a igreja está edificada sobre a
confissão de que Ele (Jesus) era o Filho de Deus.
A bem da verdade, a Igreja jamais poderia ser solidamente
edificada sobre homem algum, nem mesmo Pedro, que, embora tenha sido um grande
apóstolo, foi, no entanto, falível e passível de erros, como demonstra, de
maneira sobeja, o contexto imediato: “Ele [Jesus], porém, voltando-se, disse a
Pedro: Para trás de mim, Satanás, que me serves de escândalo; porque não
compreendes as coisas que são de Deus, mas só as que são dos homens” (Mt 16.23),
além de outros escritos do Novo Testamento em que podemos perceber a
inconstância de Pedro (Mt 26.69-75).
Quem é a pedra?
O significado de Petros e petra está em perfeita
concordância com o contexto doutrinário e teológico neotestamentário. Sendo Petros
um fragmento tirado da grande rocha, há de se ver uma conotação de todos os
cristãos como Petros, e isto é descrito posteriormente pelo próprio Pedro: “Vós
também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo,
para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo” (1Pe
2.5).
Por sua vez, todas as “pedras vivas” estão edificadas sobre
a grande Petra, que é Jesus: “Assim que já não sois estrangeiros, nem
forasteiros, mas concidadãos dos santos, e da família de Deus; edificados sobre
o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal
pedra da esquina; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo
santo no Senhor” (Ef 2.19-21).
Agora, comparemos o texto de Mateus 16.18 com o texto
seguinte:
“Diz-lhes Jesus: Nunca lestes nas Escrituras: A pedra, que
os edificadores rejeitaram, essa foi posta por cabeça do ângulo; pelo Senhor
foi feito isto, e é maravilhoso aos nossos olhos? Portanto, eu vos digo que o
reino de Deus vos será tirado, e será dado a uma nação que dê os seus frutos.
E, quem cair sobre esta pedra, despedaçar-se-á; mas aquele sobre quem ela cair
será reduzido a pó” (Mt 21.42-44).
Indubitavelmente, tanto em Mateus 16.18 quanto em 21.44,
Jesus é a pedra. Desde a época dos salmistas, passando pelo profeta Isaías, a
palavra profética já anunciava o Messias como a pedra da esquina (Cf. Sl
118.22, Is 28.16).
Igualmente, é bom lembrar que na narrativa apresentada pelo
evangelista Marcos é omitida a frase de Cristo: “Tu és Pedro, e sobre esta
pedra edificarei a minha igreja” (Mc 8.27-30). Isto não é de pouca relevância,
pois Marcos, por muito tempo, foi companheiro de Pedro (1Pe 5.13) e, segundo
Eusébio4 , foi de Pedro que Marcos coletou informações para redigir seu evangelho.
Pedro, em nenhum momento, disse de si mesmo que era a rocha ou pedra da igreja,
caso contrário, Marcos teria confirmado o fato de modo enfático. Se porventura
o dogma da superioridade de Pedro é verdadeiro e de tamanha importância, como
ensina a Igreja Católica, não parece praticamente inconcebível que os registros
de Marcos e de Lucas silenciem a respeito?
O que significa Kephas?
Kephas significa pedra ou Pedro? João nos dá a resposta:
“... Jesus, fixando nele o olhar, disse: Tu és Simão, filho de João, tu serás
chamado Cefas (que quer dizer Pedro)” (Jo 1.42). Fica claro que Cefas ou Kephas
significa Pedro e não pedra. Para fazer jus à coerência e à lógica católica,
Jesus deveria ter dito mais ou menos assim: “Tu és Kephas e sobre esta kephas
edificarei...”, ou: “Tu és Pedro e sobre este Pedro edificarei...”, caso não
houvesse nenhuma diferença.
Um acréscimo ao nome de Pedro
Teria Jesus mudado o nome de Simão Barjonas para Pedro ou
apenas feito um acréscimo?
Ora, quando se muda um nome faz-se necessariamente uma
substituição. O nome anterior não é mais mencionado, como nos casos de Abrão
para Abraão (Gn 17.5) e de Sarai para Sara (Gn 17.15). Já no caso de Pedro,
houve apenas um acréscimo, como bem atesta Lucas: “Agora, pois, envia homens a
Jope e manda chamar a Simão, que tem por sobrenome Pedro” (At 10.5,18,32;
11.13). Podemos ver que se trata de um acréscimo no nome e não a mudança do
mesmo, como querem os teólogos do Vaticano. Além disso, Pedro continuou sendo
chamado de Simão (At 15.14) ou Simão Pedro (Jo 21.2-3,7), algo que, no mínimo,
seria estranho se o antigo nome tivesse sido trocado. Querer ver nisto uma
ligação da suposta supremacia de Pedro com relação ao papado, certamente, é ir
além dos limites admissíveis.
A quem pertencem as chaves?
Os católicos insistem em alardear que a simbologia das
chaves (v. 19) significa supremacia jurisdicional sobre todo o cristianismo.
Conquanto, sabemos que a chave foi realmente outorgada a Pedro para “abrir e
fechar”. Todavia, devemos salientar que foram as chaves do “reino dos céus” e
não da Igreja que lhe foram concedidas. O reino dos céus não é a Igreja.
Antes, as “chaves” estavam nas mãos dos fariseus, como
lemos: “Ai de vós, doutores da lei, que tirastes a chave da ciência; vós mesmos
não entrastes, e impedistes os que entravam” (Lc 11.52).
Essas chaves representam a propagação do evangelho de
arrependimento de pecados, pelo qual todos os cristãos, e não Pedro apenas,
podem abrir as portas dos céus para os pecadores que desejam ser salvos. Tanto
é que, em Mateus 18.18, Jesus confia as chaves também aos demais apóstolos: “Em
verdade vos digo [digo a vocês e não somente a Pedro] que tudo o que ligares na
terra será ligado no céu, e tudo o que desligares na terra será desligado no
céu”.
Pedro, portanto, foi o primeiro a usá-la por ocasião da
festa de Pentecostes, quando quase três mil almas foram salvas (At 2.14-41).
Depois, a usou para pregar ao primeiro gentio, Cornélio (At 10.1-48). É esta a
chave que abre a porta, e ela não é prerrogativa exclusiva do hierarca católico
romano. Ninguém tem o poder (ou direito) de monopolizá-la, como querem os
católicos romanos.
Certo site ortodoxo5 , comentando sobre o assunto em
questão, disse com muita propriedade: “Para a Igreja una e indivisa, a
interpretação desta passagem do evangelho é toda outra. Como disse Orígenes
(fonte comum da Tradição patrística da exegese), Jesus responde com estas palavras
à confissão de Pedro: este se torna a pedra sobre a qual será fundada a Igreja
porque exprimiu a fé verdadeira na divindade de Cristo. E Orígenes comenta: Se
nós dissermos também: Tu és o Cristo, Filho de Deus Vivo, então tornamo-nos
também em um Pedro [...] porque quem quer que seja que se una a Cristo torna-se
pedra. Cristo daria as chaves do reino apenas a Pedro, enquanto as outras
pessoas abençoadas não as poderiam receber? Pedro é, então, o primeiro
‘crente’, e se os outros o quiserem seguir podem ‘imitá-lo’ e receber também as
mesmas chaves.
“Jesus, com as suas palavras relatadas no evangelho,
sublinha o sentido da fé como fundamento da Igreja, mais do que funda a Igreja
sobre Pedro, como a Igreja Romana pretende. Tudo se resume, portanto, em saber
se a fé depende de Pedro, ou se Pedro depende da fé [...] Por isso mesmo, São
Cipriano de Cartago pôde afirmar que a fé de Pedro pertencia ao bispo de cada
Igreja local, enquanto São Gregório de Nissa escreveu que Jesus ‘deu aos
bispos, por intermédio de Pedro, as chaves das honras do céu’. A sucessão de
Pedro existe onde a fé justa e ortodoxa é preservada e não pode, então, ser
localizada geograficamente, nem monopolizada por uma só Igreja e tampouco por
um só indivíduo. Levando a teoria da primazia de Roma às últimas conseqüências,
seríamos obrigados a concluir que somente Roma possui essa fé de Pedro e, neste
caso, teríamos o fim da Igreja una, santa, católica e apostólica que
proclamamos no Credo: atributos dados por Deus a todas as comunidades sacramentais
centradas sobre a Eucaristia.
“Além disso, afirma a Igreja de Roma que é ela a Igreja
fundada por Pedro e que essa fundação apostólica especial lhe dá direito a um
lugar soberano sobre todo o Universo. Ora, a verdade é que, para além do fato
de não sabermos realmente se São Pedro foi o fundador dessa Igreja Local e o
seu primeiro papa, temos conhecimento de que outras cidades ou outras
localidades menores podiam, igualmente, atribuir a si mesmas essa distinção,
por terem sido fundadas por Pedro, Paulo, João, André ou outros apóstolos.
Assim, o Cânone do 6º Concílio de Nicéia reconhece um prestígio excepcional às
Igrejas de Alexandria, Antioquia e Roma, não pelo fato de terem sido fundadas
por apóstolos, mas porque eram na altura as cidades mais importantes do Império
Romano e, sendo assim, deram origem a importantes igrejas locais...”
Onde está a primazia de Pedro?
A lógica vaticana, insaciável em sua disposição em favorecer
Pedro em detrimento dos demais apóstolos, esquiva-se em seus conceitos teológicos.
Os católicos procuram, a qualquer preço, encontrar nas Sagradas Escrituras um
elo de ligação entre a primazia de Pedro e a alegada supremacia do papa. Os
argumentos apresentados são quase sempre furtados de seus contextos a fim de
fortalecer essa cadeia de fantasia teológica. A pessoa que analisar o assunto
pela ótica papista tende a ficar impressionada com a avalanche de textos que
colocam Pedro no topo da lista de exclusividade. À primeira vista, a abundância
de uma aparente primazia tende a sustentar essa corrente. No entanto,
confrontaremos os textos citados e veremos que não são tão pujantes quanto
parecem.
A Pedro foi conferida com exclusividade a chave dos céus
(Mt 16.19)
Este argumento foi satisfatoriamente respondido
anteriormente.
A Pedro foi dado, por duas vezes, cuidar com exclusividade
do rebanho de Cristo
(Lc 22.31,32; Jo 21.15,17)
Os católicos frisam nesses textos as palavras “confirmar” e
“apascentar” e vêem nelas uma suposta primazia jurisdicional de Pedro. O engano
deste argumento está em não mostrar que o apóstolo Paulo também “confirmava” as
igrejas (Cf. At 14.22; 15.32,41).
Quanto ao “apascentar”, esta também não era uma
exclusividade de Pedro, pois todos os bispos deveriam ter esta incumbência (At.
20.28). Para sermos coerentes, deveríamos dar este status de primazia aos
demais, pois não só apascentavam como confirmavam as igrejas.
Pedro foi o primeiro a pregar um sermão no dia de
Pentecostes
(At 2.14)
Ora, Pedro, ao pregar na festa de Pentecostes, estava apenas
fazendo uso das chaves para abrir a porta da salvação. Demais disso, alguém
tinha de tomar a palavra e coube a Pedro, que era o mais velho e intrépido.
Mas, ao terminar a mensagem, ninguém o teve por especial, antes se dirigiram a
todos com a expressão: “Que faremos varões irmãos?”. Dirigiram-se a toda a
igreja e não apenas a Pedro (At 2.37).
Pedro foi o primeiro a evangelizar um gentio
(At 10.25)
Ao contrário do que pensam os católicos, o caso de Cornélio
é um contragolpe no argumento romanista, pois Pedro teve de dar explicações
perante a Igreja por ter se misturado e comido com um gentio. Raciocinemos,
onde está a primazia de Pedro nesse episódio? Se a tivesse, porventura daria
explicações perante seus supostos comandados? Certamente que não! Mas Pedro
teve de se explicar, porque não possuía nenhum governo sobre os demais.
No catálogo dos apóstolos, o nome de Pedro sempre é colocado
em primeiro lugar
(Mt 10.2-4, Mc 3.16-19, Lc 6.13-16, At 1.13)
É bom frisarmos que este primeiro lugar na lista de nomes é
apenas de caráter cronológico e não funcional. Percebe-se que os quatro
primeiros nomes da lista dos sinópticos são: Simão, André, João e Tiago, os
primeiros a serem chamados para seguir o Mestre e, dentre eles, coube a Pedro
ter uma prioridade cronológica. Todavia, em outros textos, como, por exemplo,
Gálatas 2.9, seu nome não aparece em tal posição: “E conhecendo Tiago, Cefas e
João, que eram considerados como as colunas...”.
Pedro escolhe Matias para suceder Judas Iscariotes
(At 1.15)
Lendo cuidadosamente Atos 1.15-26, vemos que Pedro apenas
expôs o problema, qual seja, a falta de um sucessor para o cargo de Judas. No
entanto, Matias foi eleito pela igreja por voto comum e não por decisão de
Pedro: “E, lançando-lhes sortes, caiu a sorte sobre Matias. E por voto comum
foi contado com os onze apóstolos” (v. 26).
O veredicto de Jesus
O fator agravante quanto à intenção de tornar Pedro soberano
entre os demais apóstolos está nas palavras taxativas de Cristo — o ÚNICO Sumo
Pastor, Chefe Supremo, Cabeça e Fundamento da Igreja — em não titubear e
corrigir algumas precoces ambições de supremacia entre eles.
Certa feita, tal idéia foi sugerida ao Mestre que, no mesmo
instante, a rechaçou dizendo: “... Sabeis que os governadores dos gentios os dominam,
e os seus grandes exercem autoridades sobre eles. Não será assim entre vós;
antes, qualquer que entre vós quiser tornar-se grande, será esse o que vos
sirva; e qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, será vosso servo...” (Mt
20.18-27).
O próprio Pedro desfaz essa lenda ao dizer: “ninguém tenha
domínio sobre o rebanho...” (1Pe 5.1-3). Não se pode ver aí nenhum vestígio de
superioridade, supremacia ou destaque sobre os demais, pois ele mesmo se
igualava aos outros dizendo: “... que sou também presbítero com eles...” Pedro
jamais mandou. Pelo contrário, foi mandado e obedeceu: “Os apóstolos, pois, que
estavam em Jerusalém, ouvindo que Samaria recebera a palavra de Deus, enviaram
para lá Pedro e João” (At 8.14). E tudo isso faz jus às palavras de Jesus, que
disse: “Não é o servo maior do que o seu senhor, nem o enviado maior do que
aquele que o enviou” (Jo 13.16).
Pedro esteve em Roma?
Embora a Bíblia não diga nada a respeito, os católicos
insistem em dizer que o fato de o apóstolo Pedro ter sido o fundador da igreja
de Roma é incontestável. Atribuem, ainda, ao apóstolo Pedro, um pontificado de
25 anos na capital do Império. E, conseqüente (deduzem), ele tenha morrido ali.
É claro que estas ligações, em princípio, são de valor
inestimável, pois, entrelaçadas, robustecem a tese vaticana da primazia do
papado. Contudo, há de se frisar que somente a chamada tradição vem em socorro
das causas romanistas nestas horas e, mesmo assim, de maneira dúbia.
Pedro não pode ter sido papa durante 25 anos, pois foi
martirizado no reinado do imperador Nero, por volta do ano 67 ou 68 d.C.
Subtraindo 25 anos, retrocederemos ao ano 42 ou 43. Nessa época, ainda não
havia sido realizado o Concílio de Jerusalém (At 15), que ocorreu por volta do
ano 48 ou 49 d.C., quando Pedro participou (mas não deveria, porque, segundo a
tradição, nessa época o apóstolo estava em Roma). No entanto, ainda que Pedro,
segundo a opinião católica, tivesse participado do Concílio de Jerusalém, a
assembléia fora presidida por Tiago (At 15.13-21).
No ano 58 d.C., Paulo escreveu a epístola aos Romanos e, no
capítulo 16, mandou uma saudação para muitos irmãos daquela cidade, mas Pedro
sequer é mencionado. Em 62 d.C., o apóstolo Paulo chegou em Roma e foi visitado
por muitos irmãos (At 28.30,31), todavia, nesse período, não há nenhuma menção
de Pedro.
O apóstolo Paulo escreveu quatro cartas de Roma: Efésios,
Colossenses, Filemom (62 d.C.) e Filipenses (entre 67/68 d.C.), mas Pedro não é
mencionado em nenhuma delas. Se Pedro estava em Roma no ano 60 d.C., como se
deve entender a revelação referida no livro de Atos, em que Jesus disse a
Paulo: “Importa que dês testemunho de mim também em Roma?” (At 23.11). Se Pedro
estava em Roma, não caberia a ele estar cumprindo esta função? Onde se
encontrava o suposto papa de Roma nessa ocasião?
É por estas e outras razões que não acreditamos que Pedro
tenha fundado ou presidido a Igreja de Roma, como afirmam os católicos.
O insustentável suporte da tradição
A tradição é um dos pilares nos quais se assenta a teologia
romanista. O principal órgão da tradição é a Patrística, os escritos dos pais
da Igreja. Essa tradição é de relevante valor à causa católica, pois dela advém
toda a “lógica” da “sucessão apostólica”. É dela que é extraída a má
interpretação de Mateus 16.18, da primazia de Roma, da corrente sucessória de
São Pedro, etc. Na verdade, as coisas são bem diferentes quando analisadas de
maneira criteriosa.
Dos inúmeros pais da Igreja, somente 77 opinaram a respeito
do assunto de Mateus 16.18, sendo que 44 reconheceram ser a fé de Pedro a
rocha. Os outros 16 julgaram ser o próprio Cristo e somente 17 concordaram com
a tese vaticana. Nenhum deles afirmou a infalibilidade de Pedro e tampouco o
tinham como papa. Exemplo disso é Santo Agostinho que, em uma de suas obras,13
expressamente afirma que sempre, salvo uma vez, ele havia explicado as palavras
sobre esta pedra — não como se referissem à pessoa de Pedro, mas sim a Cristo,
cuja divindade Pedro havia reconhecido e proclamado.
Diz certa fonte católica14 que: “Se a corrente da sucessão
apostólica por alguma razão encontra-se interrompida, então as ordenações
seguintes não são consideradas válidas, e as missas e os mistérios, realizados
por pessoas ilegalmente ordenadas, estão desprovidos da graça divina. Essa
condição é tão séria que a ausência de sucessão dos bispos em uma ou outra
denominação cristã despoja-a da qualidade de Igreja verdadeira, mesmo que o ensino
dogmático presente nela não esteja deturpado. Esse foi o entendimento da Igreja
desde o seu início”.
Finalizando...
Procuramos não ser prolixos ao historiar sobre esta questão.
Todos sabemos que o trono dos papas teve seus momentos de vacância. Muitos
papas conquistaram este título por dinheiro; outros, considerados legítimos,
foram condenados como hereges; e quantos, pela ganância do cargo, foram
envenenados por seus rivais. Houve também os nomeados por imperadores e, quando
não, havia três ou mais papas se excomungando mutuamente pela disputa da
cadeira de São Pedro. Sem falar, é claro, da época negra da pornocracia
(influência das cortesãs no governo).
Não é debalde que a obra literária clássica Divina comédia,
de Dante Alighieri, coloca vários papas no inferno. Há, ainda, uma tremenda
contradição nas muitas listas dos pontífices romanos expostos por historiadores
católicos, nas quais os nomes de tais sucessores aparecem trocados ou ausentes,
sem consenso algum. Não cremos que estes homens sejam os verdadeiros sucessores
da cátedra de Pedro.
A bem da verdade, essa tal sucessão ininterrupta e contínua
dos papas é totalmente arrebentada e falsa. É por demais ultrajante, mesmo para
uma mente mediana suportar tamanha incongruência.
Pelo que foi exposto, podemos considerar serenamente que
“Pedro nunca foi papa e tampouco o papa é o vigário de Cristo”.
Biografia de Pedro
• Cidade natal: nasceu em Betsaida, Galiléia.
• Filiação: filho de Jonas e irmão do apóstolo André, seu
primeiro nome era Simão.
• Moradia: na época de seu encontro com Cristo, morava em
Cafarnaum, com a família da sua mulher (Lc 4,31-38).
• Profissão: pescador, trabalhava com o irmão e o pai.
• Qualidades: dinâmico (Mt 17.4), fiel (Mt 26.33), sincero
(Jo 21.17), ousado (Mt 14.28), humilde (Lc 5.8), entre tantas outras.
• Defeitos: ansioso (Mt 19.27), inconstante (Mt 14.30),
precipitado (Mt 16.22), duvidoso (Mt 26.75)
• Fontes: Os quatro evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e
João), Atos dos Apóstolos e as epístolas de Paulo.
• Ministério: destacou-se entre os doze apóstolos e foi a
ele que Cristo apareceu pela primeira vez depois de ressuscitar.
• Cartas escritas: 1 e 2 epístolas que levam o seu nome.
•Viagens ministeriais:
- Primeira viagem: de Jerusalém a Samaria (At 8.14-25).
- Segunda viagem: de Jerusalém, através de Lida e Jope, até
Cesaréia (At 9.32; 11.2).
- Terceira viagem: de Jerusalém a Antioquia (At 15.1-14; Gl
2.11).
• Pedro e Jesus:
- Perto do mar da Galiléia, é chamado para seguir a Jesus
(Mt 4.18,19).
- Perto da Galiléia, encontra a moeda do tributo na boca do
peixe (Mt 17.24-27).
- Na Galiléia, anda sobre as águas do mar (Mt 14.28,29).
- Em Jerusalém, na última Ceia, Jesus lava seus pés (Jo
13.6,7).
- No Jardim do Getsêmani, corta a orelha de Malco (Jo
18.10,11).
- Em Jerusalém, no palácio do sumo sacerdote, nega o seu
Senhor (Jo 18.25,27).
- Em Jerusalém, sente remorso (Mt 26.75).
- João e ele correm, apressados, para o túmulo vazio (Jo
20.3-8).
- Junto ao mar da Galiléia, após a ressurreição, vê o mestre
e é consolado (Jo 21.3-17).
• Momentos ministeriais marcantes:
Em Jerusalém, profere seu maior discurso, quando ocorrem
quase três mil conversões (At 2.41).
- Em Jerusalém, cura um paralítico (At 3.6).
- Em Jerusalém, profere dura sentença sobre Ananias e Safira
(At 5. 1-11).
- Em Lida, cura Enéias de paralisia (At 9.34,35).
- Em Jope, ressuscita Tabita, também chamada de Dorcas (At
9.36-41).
- Em Jope, tem a visão do lençol descendo do céu (At
10.9-16).
- Em Cesaréia, prega na casa de Cornélio (At 10.23-48).
- Em Jerusalém, é libertado da prisão por um anjo (At
12.3-10).
Pedro em Roma, segundo a tradição católica romana
Todos os anos, milhares de peregrinos cristãos vão para o
Vaticano, o centro da cristandade católica, para visitar a basílica que possui
o nome do apóstolo Pedro. É dito aos visitantes que o túmulo de Pedro
encontra-se nessa igreja.
De acordo com uma antiga tradição, Pedro tornou-se mártir em
Roma durante as perseguições aos cristãos por parte do imperador Nero, nos anos
60 A.D. Contudo, não temos a mínima idéia de como ou quando ele chegou lá e as
evidências, arqueológicas e textuais, deste período em Roma são poucas –
datadas do segundo século A.D., tão-somente.
Clemente é o primeiro a escrever sobre o sofrimento e o
martírio de Pedro6, mas não nos dá nenhum indicativo de que Pedro tenha
trabalhado ou morrido em Roma. O bispo Inácio de Antioquia, enviado a Roma e
martirizado entre os anos 110 e 130 A.D., também não faz menção a Pedro como
líder (bispo) da igreja em Roma.
Os teólogos católicos romanos entendem que o texto de 1Pedro
5.12,13 o situa em Roma — mas de maneira críptica; isto é, descrevem o
remetente da carta como “o eleito na Babilônia”, um código do século 1º para
Roma, o império opressor daqueles dias. Mas embora esta carta contenha o nome
de Pedro, alguns acreditam que não tenha sido escrita por ele. Além disso, a
carta é endereçada aos cristãos das províncias da Ásia menor romana,
confirmando o relato de Paulo das atividades de Pedro no extremo Leste.
No final do século 2º, contudo, Pedro se junta a Paulo, de
forma regular, como um dos fundadores da igreja em Roma. A inspiração para essa
tradição parece vir do livro de Atos, que divide, de forma organizada, a
descrição sobre como o evangelho foi espalhado de Jerusalém (o cenário de Atos
1) até Roma (o cenário do capítulo final, Atos 28): uma seção de Pedro (Atos
1-12) seguida por uma seção de Paulo (Atos 13-28). Na mesma época, o pai da
igreja, Irineu (c. 185 A.D.), descreveu a igreja de Roma como “a igreja maior,
mais antiga e igreja universalmente conhecida, fundada e organizada em Roma
pelos apóstolos mais gloriosos: Pedro e Paulo”.7 O presbítero (ancião da
igreja) Gaio menciona dois monumentos em Roma dedicados a esses “fundadores da
igreja”. Segundo Gaio, o monumento de Pedro encontra-se no Vaticano e o de
Paulo, no Caminho de Ostiense (região Sul de Roma, onde se encontra a Basílica
de São Paulo fora dos muros)8. O termo usado por Gaio para monumento foi
tropaion, que significa “troféu” — pode referir-se também a um túmulo ou a um
memorial erguido no local do sofrimento9. Assim, Gaio é o escritor mais recente
a situar o martírio de Pedro em Roma.
No início do século 3º, o escritor cristão Tertuliano supõe
que os leitores saibam que Pedro foi crucificado e Paulo executado
(provavelmente decapitado) durante as perseguições do imperador romano Nero10.
Tertuliano interpreta a morte de Pedro como o cumprimento de João 21.18,19, no
qual Jesus prediz: “Quando for velho [Pedro], estenderá as mãos e outra pessoa
o vestirá e o levará para onde você não deseja ir. Jesus disse isso para
indicar o tipo de morte com a qual Pedro iria glorificar a Deus”.
A tradição, comum no meio cristão, de que Pedro fora crucificado
de cabeça para baixo vem de uma obra de 231 A.D: “E, por fim, vindo a Roma, ele
foi crucificado de cabeça para baixo; pois havia pedido que sofresse daquela
maneira”.11 Jerônimo, no século 4º, acrescenta os motivos que levaram Pedro a
fazer tal pedido: “Ele recebeu em suas mãos a coroa do martírio ao ser pregado
na cruz com a cabeça voltada para o chão e seus pés levantados para o alto,
afirmando que ele era indigno de ser crucificado da mesma maneira que seu
Senhor”.12
Segundo a pregação romana, o túmulo de Pedro encontra-se
exatamente embaixo do altar consagrado da basílica e atrás do Nicho dos Pálios,
local onde as estolas litúrgicas (pálios) são deixadas durante a noite antes de
serem entregues aos novos bispos. Escavadores modernos encontraram um nicho
escondido nessa parede contendo os ossos de um homem envolvidos em um pano de
púrpura cara que, “acreditam”, possuía cerca de 60 anos quando morreu. Em 1968,
a igreja declarou que tais ossos eram os restos de São Pedro.
É importante esclarecer que todas estas informações são
contestadas por vários estudiosos, devido à ausência de evidências
satisfatórias e suspeita de manipulação de informações por parte da igreja
romana. Todo o esforço de Roma em autenticar a presença de Pedro por lá visa
aglutinar argumentos que corroborariam para aceitação de seu papado em Roma,
pois como poderia sê-lo se jamais estivera lá? Entretanto, ainda que houvesse
consenso de que Pedro esteve em Roma e que lá foi martirizado, isso ainda não
seria o suficiente para alterar a avalanche de argumentos bíblicos que se opõe
ao estabelecimento de seu papado. A dogmática católica depende da presença de
Pedro em Roma, porém, esta suposta presença, se fosse confirmada, não tem a
capacidade em si mesma de evidenciar que Pedro tenha iniciado a linha de
sucessão apostólica, como quer a igreja romana.
FONTE NOTAS ICP +Bibliografia:
Noites com os romanistas, M.H. Seymour, Edições Cristãs.
Doze homens, uma missão, Aramis C. de Barros, Ed. Luz e
Vida.
O cristianismo através dos séculos, Earle E. Cairns, Ed.
Vida Nova.
Pedro nunca foi papa nem o papa é vigário de Cristo. Aníbal
P. Reis. Ed. Caminho de Damasco.
Quem fundou sua Igreja, padre Alberto Luiz Gambarini, Ed.
Ágape.
Os papas, Aquiles Pintonello, Ed. Paulinas.
A hierarquia, padre José Comblin, Ed. Paulus.
Bible Review, fevereiro de 2004, artigo “Peter in Rome”
Notas:
1 Doutrina que afirma a existência de certas verdades que se
podem provar indiscutíveis (Não é este o caso da dogmática católica, passível
de contestação).
2 Eclesiologia: estudo pertencente ou relativo à Igreja,
eclesial.
3 Semasiologia: estudo do sentido das palavras, que parte do
significante para estudar o significado.
4 Eusébio de Cesaréia (265-339). Incentivado por
Constantino, fez a narração da primeira história do cristianismo, coroando-a
com sua imperial adesão a Cristo.
5 Publicado no site: clique aqui
6 Clemente 5.4.
7 Irineu, Against Heresies [Contra Heresias] 3.3,2.
8 Citado em Eusebius, History of the Church [A história da
Igreja] 2.25.
9 Veja Hans Georg Thümmel, Die Momorien fúr Petrus und
Paulus im Rom, Arbeiten zur Kirchengeschichte 76 [As memórias de Pedro e Paulo
em Roma, uma obra sobre a história da Igreja (Berlin: Wlater de Gruyter, 1999),
p. 6,7.
10 Tertuliano, Scopiace 15.3.
11 Origen, Commentary on Genisis [Comentário sobre Gênesis],
relatado em History of Church [História da Igreja] de Eusébio 3.1.2.
12 Jerônimo, Lives of
Illustrious Men 1.
13 Livro 1, das Retratações, cap 21 (Livro escrito no fim da
sua vida, para retratar-se de seus escritos anteriores).
Prega o Evangelho! (2 Tm 4.1-8)
Este capítulo contém parte das últimas palavras proferidas ou escritas
pelo apóstolo Paulo. São, certamente, as últimas que foram preservadas. Foram
escritas a semanas, talvez não mais do que poucos dias antes do seu martírio.
De acordo com antiga tradição fidedigna, Paulo foi decapitado na Via Ápia. Por
trinta anos ininterruptos trabalhara como apóstolo e evangelista itinerante.
Fez, na verdade, o que ele mesmo escreve aqui: combateu o bom combate,
completou a carreira e guardou a fé (v.7). Agora ele aspira por seu
prêmio, "a coroa da justiça", que já lhe
estava reservada no céu (v.8). Estas palavras constituem-se no legado
de Paulo à Igreja. Elas estão impregnadas de uma atmosfera de
grande solenidade. É impossível lê-las sem uma profunda emoção. A primeira
parte do capítulo toma a forma de uma comovente incumbência. "Conjuro-te,
perante Deus", assim começa. O verbo diamartyromai tem
conotações legais e pode significar "testificar sob juramento"
numa corte de justiça, ou "adjurar" uma testemunha a assim
proceder. No Novo Testamento refere-se a qualquer
"elocução solene e enfática". A exortação de Paulo é
endereçada, em primeiro lugar, a Timóteo, seu delegado apostólico e representante
em Éfeso. É aplicada, também, a cada homem chamado a um
ministério evangelístico ou pastoral, ou mesmo a todos os cristãos.
Há três aspectos da exortação a serem estudados, os quais são: sua
natureza (o que Paulo de fato está comissionando a Timóteo), sua base (os
argumentos sobre os quais Paulo baseia a sua exortação) e uma ilustração
pessoal dela, do exemplo do próprio Paulo em Roma.
1. A natureza da exortação (v.2)
Prega a
palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com
toda a longanimidade e doutrina.
Omitindo o versículo 1, por um momento, e passando ao versículo 2,
encontramos a essência dessa exortação em três palavras: "prega a
palavra". Observamos imediatamente que a mensagem que Timóteo deve
comunicar é chamada de "palavra", algo que foi proferido por alguém.
Mas é a palavra, a palavra de Deus, que Deus mesmo proferiu. Paulo não precisa
especificar melhor o que ele quer dizer, já que Timóteo saberá de imediato que
se trata do corpo de doutrina, que ouvira de Paulo, e que o mesmo Paulo lhe
comissiona a passar adiante a outros. É idêntica ao "depósito" do
capítulo 1, e neste quarto capítulo é equivalente à "sã doutrina"
(v.3), "à verdade" (v.4) e "à fé"' (v.7). São as Escrituras
do Velho Testamento, inspiradas por Deus e proveitosas, que Timóteo sabe desde
a sua infância, junto com o ensino do apóstolo, que Timóteo "tem
seguido", "aprendido" e de que tem sido "inteirado"
(3: 10-14). O mesmo comissionamento é dado à Igreja de cada época. Não temos
nenhuma liberdade para inventar a nossa mensagem, mas somente para comunicar
"a palavra" proferida por Deus e agora entregue à Igreja, em sagrada
custódia.
Timóteo deve "pregar" esta palavra; ele deve falar o que Deus
falou. Sua responsabilidade não é somente ouvir essa palavra, crer nela e
obedecê-la, nem somente guardá-la de toda falsidade; nem somente sofrer por ela
e permanecer nela; mas, sim, pregá-la a outros.
São as boas novas de salvação para os pecadores. Assim ele deve proclamá-la
como um arauto em praça pública. Para fazê-la conhecida, deverá levantar a sua
voz para todos, sem temor.
Paulo prossegue mostrando quatro sinais que deverão caracterizar a
proclamação a ser feita por Timóteo.
a. Uma proclamação urgente
O verbo ephistëmi, "instar", significa
literalmente "assistir", e assim "estar de prontidão",
"estar disponível". Aqui, contudo, parece ter o sentido não somente
de alerta e zelo mas de insistência e urgência. "Nunca perca o
teu sentido de urgência" (CIN). Numa forma lânguida e indiferente,
certamente não se faz uma boa pregação. Toda boa pregação transmite um sentido
de urgência e de importância do que está sendo pregado. O arauto cristão sabe
que está tratando de assunto de vida ou morte. Anuncia a situação do pecador
sob os olhos de Deus, e a ação salvadora de Deus, através da morte e
ressurreição de Cristo, e o convida ao arrependimento e à fé. Como poderia
tratar tais temas com fria indiferença? "Em tudo o que você fizer",
escreveu RichardBaxter, "deixe transparecer a sua absoluta seriedade.
. . Você não conseguirá quebrantar o coração de ninguém com gracejos, nem
contando histórias agradáveis ao ouvido, nem compondo um discurso pomposo.
Ninguém abandonará as coisas de que mais gosta, mediante uma solicitação sem
profundidade feita por alguém que parece não falar com convicção, ou que pouco
se incomode se a sua solicitação é aceita ou não".
Esta urgente pregação, Paulo acrescenta, deve continuar "a tempo e
fora de tempo". "Prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer
não." Tal regra de procedimento não deve ser tomada como desculpa para a
falta de tato com as pessoas, o que muitas vezes tem caracterizado a
evangelização, e que em decorrência tem dado uma má reputação ao evangelho.
Não nos é dada a liberdade de entrarmos sem cerimônia na vida privada de outras
pessoas ou lhes pisarmos grosseiramente nos calos. Não, as ocasiões a que Paulo
se refere como sendo "quer seja oportuno, quer não", aplicam-se não
tanto aos ouvintes como a quem fala. A BLH enfatiza isso: "pregue a
mensagem e insista em anunciá-la, no tempo certo ou não". Assim é o
verbo ephistëmi,em seu sentido alternativo, como é às vezes
encontrado nos manuscritos. Assim, o que temos aqui não é uma base bíblica para
a grosseria, mas sim um apelo bíblico contra a preguiça.
b. Uma proclamação contextual
O arauto que anuncia a Palavra deve corrigir, repreender e
exortar. Isso sugere que há três diferentes maneiras de anunciar, pois que a
Palavra de Deus é "útil" para uma variedade de ministérios, como
Paulo já disse (3: 16). Ela fala a homens diferentes, em situações diferentes.
O pregador deve lembrar-se disso e ser hábil no uso da Palavra. Ele deve usar
"argumentos, repreensão e apelo", o que vem a ser quase uma
classificação de três abordagens: a intelectual, a moral e a emocional. Porque
muitas pessoas acham-se atormentadas por dúvidas e precisam ser repreendidas;
outras, ainda, são perseguidas pelas dúvidas e precisam ser encorajadas. A
Palavra de Deus faz tudo isso e muito mais. É nosso dever aplicá-la
contextualmente.
c. Uma proclamação paciente
Mesmo devendo instar (esperando obter das pessoas
rápidas decisões em resposta à Palavra), devemos ter "toda a
longanimidade na espera por essa resposta". Nunca devemos nos valer do uso
de técnicas humanas de pressão ou tentar forçar uma "decisão". A
nossa responsabilidade é ser fiel na pregação da Palavra; os resultados da
proclamação são de responsabilidade do Espírito Santo e, quanto a nós, só nos
compete esperar pacientemente por sua obra. Também devemos ser pacientes em
toda a nossa maneira de ser, porque "é necessário que o servo do Senhor
não viva a contender, e, sim, deve ser brando para com todos, apto para
instruir, paciente ; disciplinando com mansidão os que se
opõem" (2: 24-25). Mesmo sendo solene o nosso comissionamento, e urgente
a nossa mensagem, não se justifica uma conduta rude ou impaciente.
d. Uma proclamação inteligente
Não devemos só pregar a palavra, mas também ensiná-la, ou melhor,
pregá-la "com toda a doutrina" (këryxon.
. . en pasë... didachè). C. H. Dodd tornou
clara a distinção entre kérygma edidachè, sendo a
primeira a proclamação de Cristo aos descrentes, com um apelo ao
arrependimento; e a segunda, a instrução ética aos convertidos. A distinção é
prática e importante; contudo, como já sugerido no comentário de 1: 1, ela
pode se tornar rígida e estreita. Pelo menos este versículo nos mostra que o
nosso kèrygma deve conter muito dedidachè. Se a
nossa proclamação pretende antes de tudo convencer, repreender ou exortar, ela
deve ser um ministério de doutrina.
O ministério pastoral cristão é essencialmente um ministério de ensino,
e é por isso que se exige dos candidatos ortodoxia na fé e aptidão para o
ensino (Tt 1: 9; 1 Tm 3: 2). Existe uma necessidade crescente,
especialmente em vista do contínuo processo de urbanização e da elevação dos
padrões de educação, dos ministros cristãos desenvolverem nas pululantes
cidades do mundo um ministério de pregação com exposição bíblica sistemática,
para "pregar a palavra. . . com toda a doutrina". Isto foi exatamente
o que o próprio Paulo fez em Éfeso, como era do conhecimento de Timóteo. Por
cerca de três anos ele ensinou "publicamente e pelas casas .. . todo
o conselho de Deus" (At 20: 20-27; cf. 19: 8-10). Agora é a vez de Timóteo
fazer o mesmo.
Tal é a instrução de Paulo a Timóteo. Ele deve pregar a Palavra
anunciando a mensagem dada por Deus, mas deve fazê-lo com um sentido de
urgência, deve aplicá-la ao contexto da situação presente, deve ser paciente
em seu modo de ser e inteligente na sua apresentação.
2. A base da exortação ( vs. 1, 3-8)
Conjuro-te,
perante Deus e Cristo Jesus que há de julgar vivos e mortos, pela sua
manifestação e pelo seu reino:. . .3Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário,
cercar-se-ão de mestres, segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo
coceira nos ouvidos, 4e se recusarão a dar ouvidos à verdade,
entregando-se às fábulas. 5Tu, porém,
sê sóbrio em todas as cousas, suporta as aflições, faze o trabalho de
evangelista, cumpre cabalmente o teu ministério. 6Quanto a mim, estou sendo já oferecido por libação, e o tempo da minha partida
é chegado. '''Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. 8Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz,
me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua
vinda.
Já se tornou evidente, nos capítulos anteriores desta carta, que Timóteo
era tímido por natureza e que os tempos em que ele vivia e trabalhava eram (na
melhor das hipóteses) desfavoráveis. Ele deve ter estremecido ao ler a solene
exortação do apóstolo para continuar pregando a palavra. A tentação de recuar
diante de tal responsabilidade bem que poderia acontecer. Por isso, além de dar
uma ordem, Paulo inclui incentivos. Pede que Timóteo olhe a três direções:
primeiro para Jesus Cristo, o juiz e rei que retorna; em segundo lugar, ao
cenário contemporâneo; e, em terceiro, a ele, Paulo, o idoso prisioneiro à
beira do martírio.
a. O Cristo que vem (v.1)
Paulo não está dando esta ordem em seu próprio nome ou sob sua própria
autoridade, mas "perante Deus e Cristo Jesus", estando assim
consciente da direção e aprovação divina. Talvez o mais forte de todos os
incentivos à fidelidade seja saber que a ordem foi dada por Deus. Bastava dar a
Timóteo a certeza de que ele é servo do Deus altíssimo e embaixador de Jesus
Cristo, e de que o desafio que Paulo lhe faz é um desafio da parte de Deus,
para que nada pudesse desviá-lo de sua tarefa.
A ênfase maior deste primeiro versículo, contudo, não recai tanto na
presença de Deus, mas na volta de Cristo. É evidente que Paulo ainda crê na
volta pessoal de Cristo. A respeito disso ele escrevera em suas cartas
anteriores, especialmente nas destinadas à igreja em Tessalônica. Agora, mesmo
sabendo que morrerá antes desse evento, ainda assim continua esperando por ele,
no final do seu ministério. Paulo vive à luz desse acontecimento e descreve os
cristãos como aqueles que amam a vinda de Cristo (v.8). Ele está seguro de que
Cristo voltará de forma visível (a palavra é epiphaneia nos
vs. 1 e 8), e que, quando aparecer, "há de julgar os vivos e os
mortos" e consumar o "seu reino" e poder.
Estas três verdades (o aparecimento, o juízo e o reino) devem ser para
nós uma expectativa tão clara e certa quanto foi para Paulo e Timóteo. Elas não
deixam de exercer uma poderosa influência em nosso ministério, porque tanto os
que pregam a palavra, como os que a ouvem, terão de dar contas a Cristo,
quando ele aparecer.
b. O cenário prevalecente (vs. 3-5)
Notemos a palavra "pois" (gar), com que se
inicia este parágrafo. Paulo fornece uma segunda base, sobre a qual apoia a sua
exortação. Há um outro evento futuro, antes da vinda de Cristo, a saber,
dias negros e difíceis. Embora pareça estar prevendo que a situação piorará, é
evidente, a partir deste parágrafo e do que ele escreveu anteriormente, que
para Timóteo tal tempo já começara. É a luz deste cenário prevalecente que
Paulo dá outras instruções.
Como são esses tempos? Uma característica ele destaca, que as pessoas
não podem suportar a verdade. Paulo expressa isso negativa e positivamente, e
declara isso duas vezes: "não suportarão a sã doutrina; pelo contrário,
cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças" (v.3). "E
se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas" (v.4). Em
outras palavras, tais pessoas não podem suportar a verdade e recusam-se a
ouvi-la, buscando, então, mestres que adaptem suas fantasias especulativas,
nas quais estão determinados a andar. Tudo isso tem a ver com os ouvidos
daquelas pessoas, ouvidos que são mencionadosduas vezes. Elas sofrem de
uma condição patológica peculiar, conhecida como "coceira nos
ouvidos", ou "fome de novidades". Tal expressão é uma figura de
linguagem para aquele tipo de curiosidade que está ávido por saber de casos
picantes e interessantes. Além disso, esta coceira é abrandada pelas mensagens
dos novos mestres. Na prática, o que tais pessoas fazem é fechar os ouvidos à
verdade (cf. At 7: 57) e abri-los a qualquer mestre que alivie a sua coceira,
coçando-a.
Notemos que o que rejeitam é a "sã doutrina" (v.3) ou "a
verdade" (v.4), e o que preferem são "as suas próprias cobiças"
(v.3) ou "fábulas" (v.4). Assim, substituem a revelação divina por
suas fantasias. O critério pelo qual julgam os mestres não é (como deveria
ser) a Palavra de Deus, mas o seu próprio gosto subjetivo. Ainda mais, não
ouvem primeiro para depois decidir se o que ouviram é verdade; primeiro
decidem o que querem ouvir e depois escolhem mestres que são obrigados a manter
o padrão por eles exigido.
Como Timóteo deverá reagir a isto? Quase se pode adivinhar que uma
tal situação desesperadora o faria silenciar. Se os homens não podem
suportar a verdade e não querem ouvi-la, seria mais prudente para ele ficar
quieto? Paulo, porém, chega a uma conclusão diferente, porque pela terceira
vez usa aqueles dois pequenos monossílabos su de "TU,
PORÉM" (cf. 3: 10-14). Ele repete sua ordem a Timóteo, ordena-lhe que seja
diferente, não se deixando influenciar pela moda prevalecente.
Agora seguem quatro ordens bem distintas, que parecem ser
deliberadamente concebidas para a situação em que Timóteo se encontra e para o
tipo de pessoas a quem ele foi chamado a ministrar.
1 Por serem pessoas instáveis de mente e conduta, Timóteo deverá
acima de tudo ser sempre "sóbrio". Literalmente nephö significa
estar sóbrio e, figurativamente, "livre de qualquer forma de embriagues
mental e espiritual" sendo, pois, "bem equilibrado,
autocontrolado". Quando homens e mulheres se intoxicam com heresias
inebriantes e novidades reluzentes, os ministros devem conservar-se calmos e
sensatos.
2 Mesmo que o povo não queira dar ouvidos ao seu bom ensino,
Timóteo deve persistir em ensinar, predispondo-se a suportar aflições, por
causa da verdade que ele se recusa a comprometer. Sempre que a fé bíblica se
torna impopular, os ministros são altamente tentados a mudar aqueles elementos
que promovem a maior ofensa.
3 Timóteo deve fazer o "trabalho de um evangelista', porque o
povo é desgraçadamente ignorante a respeito do verdadeiro evangelho. Não está
claro se a referência é feita a um ministério especial, como se pretende nas
duas únicas outras passagens do Novo Testamento onde a palavra ocorre (At 21;
Ef 4: 11). A alternativa é interpretá-la como alguém que prega o evangelho e
testemunha de Cristo. De qualquer forma, é como se Paulo estivesse ordenando
a Timóteo: "Faze da pregação do evangelho a obra da tua vida". As
boas novas não devem somente ser preservadas da distorção; elas devem ser
propagadas.
4 Mesmo que as pessoas abandonem o ministério de Timóteo em favor
de mestres que lhes cocem as ideias fantasiosas, Timóteo deve cumprir o seu
ministério. O mesmo verbo é usado na passagem onde Paulo e Barnabé
cumpriram a obra de assistência em Jerusalém. Lucas escreve que eles
voltaram de Jerusalém, cumprida a sua missão (At 12: 35). Assim também Timóteo
deve perseverar, até que sua tarefa esteja cumprida.
Portanto, as quatro ordens de Paulo, ainda que diferentes nos detalhes,
transmitem a mesma mensagem geral. Aqueles dias, em que era difícil
conquistar ouvidos para o evangelho, não deveriam desencorajar Timóteo; nem
detê-lo em seu ministério; nem induzi-lo a adaptar a sua mensagem ao gosto de
seus ouvintes; nem, menos ainda, silenciá-lo de uma vez; mas antes deveriam
estimulá-lo a pregar ainda mais. Conosco deve acontecer o mesmo. Quanto mais
difíceis os tempos e mais surdas as pessoas, tanto mais clara e
persuasiva deve ser a nossa proclamação, ou, como diz Calvino, "quanto
mais os homens se tornam determinados a desprezar o ensino de Cristo, tanto
mais Melosos devem ser os ministros de Deus em pugnar por ele e tanto mais
ardorosos os seus esforços em preservá-lo incólume e, mais ainda, por sua
diligência devem repelir os ataques de Satanás".
c. O velho apóstolo (vs. 6-8)
O terceiro motivo da exortação tem a ver com um outro evento
no futuro, ou seja, o seu próprio martírio. O elo entre este parágrafo e o
versículo 5, que o precede, é bem claro. O argumento de Paulo poderia ser
escrito da seguinte forma: "TU, PORÉM, Timóteo, tu deves cumprir o teu
ministério porque eu já estou às portas da morte". É de
vital importância que Timóteo continue e complete o seu ministério, uma vez que
a tarefa de toda uma vida do apóstolo Paulo está chegando ao fim. Assim como
Josué sucedeu a Moisés, Salomão sucedeu a Davi e Eliseu a Elias, assim também
agora Timóteo deve suceder a Paulo.
O apóstolo usa duas vividas figuras de linguagem para descrever sua
morte próxima, uma tirada da linguagem do sacrifício e outra (provavelmente)
dos barcos. Em primeiro lugar, "estou sendo já oferecido por libação"
ou "minha vida já está sendo colocada no altar". Ele compara a sua
vida com um sacrifício e uma oferta. Tão perto ele crê estar do martírio, que
fala como se o sacrifício já tivesse começado. E prossegue: "o tempo da
minha partida é chegado". 'Tartida" (analysis) é um
termo que se tornou usual para expressar "morte", mas daí não
precisamos concluir, necessariamente, que sua origem metafórica tenha sido
completamente esquecida. Significa "desatar",
"desamarrar", podendo tanto ser usado no sentido de "levantar
acampamento" (preferido por Lock, por causa da expressão soldadesca,
no versículo seguinte, "combati o bom combate"), como também no de
"libertação" de algemas (mencionado por Simpson), ou "soltar um
bote de suas amarras". A última é certamente a mais pitoresca das três
possibilidades. As duas imagens, pois, combinam-se razoavelmente, porque o fim
desta vida (derramada como libação) é o começo da outra (posta ao mar). A
âncora já foi levantada, as amarras já estão soltas e o barco está prestes a
fazer-se à vela, rumo a outra praia. Ainda, antes do início da grande aventura
de sua nova viagem, Paulo se volta a contemplar o seu ministério de
aproximadamente 30 anos. Ele o descreve (concretamente, sem jactância) com três
expressões concisas.
Primeira: "combati o bom combate". As palavras poderiam
igualmente ser traduzidas por "corri a grande corrida", porque agön denota
qualquer contexto envolvendo esforço, seja uma corrida ou uma luta. Mas, já que
a frase seguinte alude à corrida ou carreira que ele acabou, parece provável
que Paulo esteja combinando, novamente, as metáforas do soldado e do atleta
(como em 2: 3-5) ou, pelo menos, as metáforas da luta romana e das corridas.
Em seguida escreve: "completei a carreira". Alguns anos antes,
falando aos anciãos da mesma igreja em Éfeso, a qual Timóteo estava agora
presidindo, Paulo expressara o desejo de fazer exatamente isto. "Em nada considero
a minha vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e
o ministério que recebi do Senhor Jesus. . ." (At 20-24). Agora Paulo
está em condições de dizer que assim o fez. "O que fora um propósito,
era agora um retrospecto, comenta N. J. D. White. Ele podia usar o tempo
perfeito do verbo nessas três expressões, tal como Jesus o fizera no cenáculo,
porque o seu fim estava tão à vista.
Terceira: "guardei a fé". Isto bem pode significar
"guardei a fé no meu Mestre". No contexto desta carta, contudo, que
enfatiza tão fortemente a importância de guardar o depósito da verdade
revelada, é mais provável que Paulo esteja afirmando sua fidelidade neste
sentido. "Guardei, com toda segurança, como bom guardião ou despenseiro,
o tesouro do evangelho confiado aos meus cuidados."
Assim, a obra do apóstolo e, num âmbito menor, de cada pregador
ou ensinador do evangelho, é descrita como enfrentar uma luta,
correr uma corrida, guardar um tesouro. Tais ações envolvem trabalho,
sacrifício e até mesmo perigo. Em todas as três Paulo foi fiel até o fim.
Agora nada lhe resta, senão o prêmio, por ele chamado de "a
coroa" (ou melhor, "a grinalda") da justiça, que lhe "está
guardada" e que lhe será dada no dia da vitória, "naquele dia".
Mesmo sem valor em si, feitas de folhas verdes, em vez de folhas de prata ou
ouro, as grinaldas conquistadas pelos vencedores nos jogos gregos eram
altamente apreciadas. "Muitos vilarejos daqueles dias", assim escreve
o Rev. Moule, "derrubavam uma parte do seu muro branco a fim de que
um seu filho, coroado com a coroa de louros ou do Olímpia, adentrasse por
um portão ainda não usado antes." A coroa a que Paulo se refere
como destinada a si ele a chama de "justiça" (dikaiosynê).Pelo
seu linguajar característico, o sentido mais natural dessa palavra seria
"justificação" mas, talvez, aqui ela tenha uma colocação um
pouco diferente, estando em evidente contraste com a sentença que, a qualquer
hora, um juiz humano lhe dará numa corte humana. O imperador Nero pode declará-lo
culpado e condená-lo à morte, mas logo virá "uma magnífica revogação do
veredicto de Nero", quando "o Senhor, reto juiz", o declarar
justo.
A mesma justificação por Cristo é também para "todos quantos amam
a sua vinda". Isto não é, de maneira alguma, uma doutrina de justificação
por boas obras. É desnecessário enfatizar a contínua convicção de Paulo, de que
a salvação é um presente da graça de Deus, "não segundo as obras, mas
conforme a sua determinação e graça" (1: 9). A coroa da justiça é concedida
a "todos quantos amam a sua vinda", não porque esta seja uma atitude
meritória a ser adotada, mas por ser uma firme evidência da justificação. O
descrente, não justificado, teme a volta de Cristo (caso creia ou simplesmente
pense nela). Não estando preparado para ela, temerá de vergonha perante Cristo,
na sua vinda. O crente, por outro lado, tendo sido justificado, aguarda a volta
de Cristo e se afeiçoou a ela. Achando-se preparado, o cristão terá confiança
quando Cristo aparecer (1 Jo 2: 28). Somente aqueles que adentraram pela
fé nos benefícios da primeira vinda de Cristo aguardam ansiosamente a sua
segunda vinda (cf. Hb 9:28).
Este é, pois, Paulo, o velho, como ele mesmo se chamou, um ou dois anos
antes, em sua carta aFilemon (v.9). Paulo combateu o bom combate,
completou a carreira e guardou a fé. O seu sangue está a ponto de ser
derramado, o seu pequeno barco está a ponto de fazer-se à vela. Ele está
esperando ansiosamente por sua coroa. Estes fatos devem ser para Timóteo um
terceiro estímulo à fidelidade.
Nosso Deus é o Deus da História. Deus está executando o seu propósito
ano após ano. Um obreiro pode cair, mas a obra de Deus continua. A tocha do
evangelho é transmitida de geração a geração. Ao morrerem líderes da geração
anterior, é da maior urgência que se levantem aqueles da geração seguinte e
com coragem tomem os seus lugares. O coração de Timóteo deve ter sido profundamente
tocado por esta exortação do velho guerreiro Paulo, que o levara a Cristo.
Quem levou o leitor a Cristo? Tal pessoa está
envelhecendo?
Quem me levou a Cristo está agora aposentado (mas ainda ativo!). Não
podemos descansar para sempre na liderança da geração que nos precedeu. Chegará
o dia em que deveremos substituí-los e, nós mesmos, tomaremos a liderança. Tal
dia acabava de chegar para Timóteo; a seu tempo chegará para todos
nós.
Assim, pois, em vista de que Cristo vem para julgar, e de que o mundo
tem aversão pelo evangelho, e de que a morte do apóstolo encarcerado é
iminente, a última exortação a Timóteo continha uma nota de solene
urgência: "Prega a Palavra!"
Bibliografia
John R. W. Stott
A
Heresia Colossenses
O erro que perturbava
Colossos envolveu amplamente elementos judeus e pagãos. Sem dúvida, os elementos judaicos eram a ênfase
aos sábados, à circuncisão, à lei, e, provavelmente, as referências à
observância de festivais e dias santos e luas novas; 3:11 e 4:11 também parecem pressupor uma fonte judaica de desacordo.
Indubitavelmente, os
elementos pagãos incluíam uma "filosofia" que dependia de métodos
plausíveis de raciocínio que se baseavam na tradição humana, em vez de numa
demonstração lógica e revelação. A adoração de anjos (diferente da crença
neles, como se apresenta em Jubileus, Tobias e Ascensão de Isaías),
provavelmente, expressa o temor pagão, disseminado, de seres
celestiais, espíritos elementares do universo. De certa forma, o sol, a lua e as estrelas eram corporificações materiais desses
elementos, desses seres. Governando a terra, eles podiam ser aplacados, especialmente em suas
épocas indicadas, por humilhação e devoções rigorosas.
A proibição de certos
alimentos podia ser uma característica judaica, mas a referência à bebida e à
sua associação com repressão ascética do corpo sugere um dualismo pagão, como
também o fazem expressões como "herança na luz", "domínio das
trevas" e "reino do Filho". A ênfase das visões também podia ser
judaica (v.g., o livro de Enoque); mas aqueles de
quem os heréticos se jactavam (2:18) eram essencialmente sensuais, não
espirituais, e pareciam expressar significados ocultos que precisavam de
interpretação. Isto faz lembrar as revelações dadas em transe, e prometidas
nas seitas pagas.
A ênfase dada pelos
heréticos à sabedoria assemelha-se a Provérbios, Sabedoria de Salomão e Siraque; mas o seu exclusivismo (contraditado em 1:26 e ss.; 3:11) e as expressões de menosprezo em 2:4,8 sugerem, pelo
contrário, um intelectualismo gnóstico.
O gnosticismo era um
clima de pensamento tão disseminado quanto a teoria evolucionária
o é hoje em dia. Provavelmente, ele assumiu proeminência no primeiro século,
ou antes, e alcançou o seu zênite no segundo século. Combinava especulação
filosófica, superstição, ritos; semi-mágicos e algumas vezes um
culto fanático e até obsceno. As idéias mais comuns às suas muitas formas são:
salvação mediante o conhecimento (gnosis) — os iluminados são
"cristãos avançados"; dualismo — tudo o que é espiritual é por natureza puro, tudo o que é material é por natureza irremediavelmente
mau, inclusive o mundo e o corpo. Portanto, Deus está longe; a brecha entre ele
e o mundo é preenchida por uma cadeia de seres de espiritualidade descendente.
O corpo, túmulo do espírito, pode ser rigorosamente suprimido ou deixado à
vontade indulgentemente, como irrelevante para a vida do espírito puro.
Sendo extremamente intelectualista, e, portanto, individualista, o gnosticismo cultivou uma elite iluminada, para
quem somente a salvação era possível, e desprezava todas as outras pessoas. O antigo gnosticismo reinterpretou o cristianismo e procurou
"melhorá-lo", oferecendo-se para tornar os crentes
"perfeitos"; mais tarde, o mais amargo antagonismo se desenvolveu.
Indícios adicionais
de idéias gnósticas como estas, em Colossos, são achadas em expressões que deviam tornar-se "palavras-chave"
de sistemas gnósticos posteriores: o "segredo" ou
"mistério", a "plenitude", conhecimento (cinco vezes), e
duas ou três outras. As negações gnósticas da plena encarnação da divindade em
Jesus encontra veemente réplica nos capítulos 1 e 2. Quaisquer sinais de "indiferentismo moral" gnóstico seria
bem respondido pelo conselho abrupto de 3:5ess.
Mas o fato de que
elementos judaicos e gnósticos devessem aparecer interligados em uma única
heresia (veja 2:14 e s.) tem constituído
assunto para debate durante um século. Porque o gnosticismo a respeito do qual
mais informações temos data do segundo século d.C, e era antijudaico, enquanto o judaísmo
ortodoxo resistia veementemente a toda a transigência em relação ao paganismo.
Portanto,
algumas pessoas negam que haja em Colossenses qualquer referência ao
gnosticismo, dizendo que a idéia judaica de que os anjos haviam sido mediadores
da lei expressava apenas extrema reverência pela lei e que as declarações da
superioridade de Cristo em relação aos anjos meramente enfatizavam a sua
superioridade em relação à lei. Mas a adoração de anjos, no capítulo 2, implica
em mais do que isto; e a insistência sobre a superioridade de
Cristo em relação a "tronos, domínios e autoridades" sugere que eles
são seres pessoais, mais próximos do politeísmo e do dualismo gnóstico.
Atos fala de judeus que praticavam a magia (At. 13:6; 19:13 e ss.) e de Simão, o mago considerado, muito depois, como o pai
do gnosticismo. Algumas características da heresia colossense são encontradas
misturadas com judaísmo em Gálatas 4:3,9,10, enquanto traços
delas, em Timóteo, João, I João e Apocalipse, revelam idéias gnósticas nas
fraldas da comunidade judaica na Ásia Menor, durante a segunda metade do
primeiro século.
Em 1875, Lightfoot comparou o erro colossense ao essenismo, que combinava observâncias meticulosas do Tora judaico esabatismo rigoroso com severo asceticismo monástico, adoração do sol e uma elaborada
doutrina de anjos. Abbott pensava que os falsos mestres de Colossos diziam ter
percepção exclusiva em relação ao mundo dos espíritos intermediários, mediante
o favor dos quais (dadasas requeridas austeridade e humilhação
diante dos anjos) novas revelações ("visões") podiam ser obtidas:
"Isso pode ser chamado de judaísmo gnóstico."
C. F. D. Moule (p. 31), semelhantemente, fala de uma "teosofia" do tipo judaico-gnóstico. Bruce (p. 166) parece satisfeito com o fato de incipientes formas de
gnosticismo terem sido comuns dentro do judaísmo no primeiro século d.C. Oscar Cullmann pensa que a heresia colossense tentara misturar especulações filosóficas
manchadas de gnosticismo com o evangelho, pois formas preliminares de
gnosticismo existiram, previamente, no judaísmo helenizado. A. M. Hunter encontra fortes evidências disto no Evangelho de João.
Guthrie cita, com aprovação cautelosa, W. D. Davies em relação às
"muitas características comuns entre a heresia colossenses e a seita de Qumran", e R. M. Wilson, em relação ao caráter dos Rolos como "pré-gnósticos". Qumran pensava
que ser "filho da luz" significava obediência absoluta à lei de
Moisés, em um legalismo que excedia até a tradição dos anciãos. Isto pode iluminar 1:13; 2:14; 2:21 e ss.
Neste clima crescente
de opiniões, não é surpreendente que R. H. Fuller expresse redondamente
a opinião de que a cristologia de Colossenses demonstra tendências contrárias
às idéias gnósticas, que a "filosofia" que se lhe opõe é a mitologia
sincretista do gnosticismo, que as observâncias
de culto referidas lembram hierarquias gnósticas e que as proibições ascéticas
se originam do dualismo gnóstico.
Grande parte desta
discussão se reduz claramente à definição que damos ao gnosticismo. Certamente,
os sistemas gnósticos desenvolvidos, descritos e antagonizados pelos Pais da Igreja foram um fenômeno do segundo século. Mas um gnosticismo
preliminar, umprotognosticismo, era uma atmosfera,
um sincretismo variado e amorfo, muito antes de se tornar um sistema racional;
e as suas principais idéias eram consideravelmente antigas.
Por fim, precisamos
descrever o erro colossense em termos genéricos,
como uma versão da fé cristã distorcida e obscurecida por concepções de tipo
gnóstico, que se haviam infiltrado na igreja por meio de um judaísmo já
heterodoxo.
O seu efeito foi
afrouxar o apego dos homens para com o Cristo, de quem eles haviam sido
ensinados anteriormente (2:19; cf. 2:6,7); obscurecer, e mesmo
negar, a unicidade do Senhor que ascenderá, o único mediador, através de
quem eles haviam uma vez entrado na liberdade. A resposta de Paulo é uma cristologia de proporções
verdadeiramente cósmicas. Ele insiste na plenitude da divindade habitando em
Cristo; na sua precedência e proeminência na criação sobre tronos, domínios e
principados (1:16); no seu senhorio
sobre eles quanto à posição (2:10); e na sua vitória sobre eles no Calvário
(2:15). O seu argumento é que duvidar da plenitude de Cristo é deixar de
entender a plenitude, riqueza e suficiência da vida cristã.
Bibliografia O. White +www.ebareiabranca.com
Inovações e
modismos religiosos
“E puseram
a arca de Deus em um carro novo e a levaram da casa de Abinadabe, que está
em Ceba; e Uzá e Aio, filhos de Abinadabe, guiavam o carro
novo” (2 Sm 6.3).
O mundo
pós-moderno é pleno de inovações. Mas a Igreja de Cristo não precisa de
novidades, e sim, de constante renovação no Espírito Santo.
O tema
deste domingo é algo que estamos vivenciando, de maneira tímida em alguns
lugares e de forma mais ousada em outros, não obstante, é necessário abordá-lo
com embasamento bíblico. A igreja não pode viver de inovações e modismos, mas
precisa ser alimentada pela verdadeira Palavra de Deus. Os modismos - como o
próprio nome indica - vêm e passam, mas a Palavra do Senhor dura para sempre
(Lc 21.33; Jo 6.68; 17.77; Fp 2.16).
Modismo: Aquilo que é transitório e está em moda, tendo, portanto, caráter
passageiro.
Os
modismos e desvios doutrinários constituem grandes desafios para a igreja
destes últimos dias, por contrariarem os princípios doutrinários esposados nas
Sagradas Escrituras. É dever de todo crente sincero e temente a Deus, preservar
a sã doutrina.
INOVAÇÕES
DOUTRINÁRIAS
1. O restauracionismo. Trata-se
de uma inovação teológica que procura adaptar, aos dias atuais, os ensinos,
ritos e costumes do antigo concerto entre Deus e Israel. É o velho fermento dos
fariseus e judaizantes (Mt 16.11; 1 Co 5.6,7; Cl 5.9). Eis os seus
principais ensinos:
a) A guarda do sábado. Certos “mestres” ensinam que os
cristãos devem guardar o sábado. Essa prática é uma forma de retorno ao
judaísmo. A guarda do sábado é um “concerto perpétuo” somente para Israel (Êx
31.14-17; Lv 23.31,32; Ez 20.12,13,20). Lembremos que Paulo exortou os
crentes da Galácia sobre o perigo das práticas judaizantes na igreja (Gl 1.6-9;
3.1-3).
b) O ritual da circuncisão. Em Atos
dos Apóstolos, lemos que os cristãos judeus tentaram coagir os cristãos gentios
a circuncidarem-se, conforme a lei de Moisés. Segundo diziam, a salvação
dependia, exclusivamente, desse ato litúrgico (At 15.1). Condicionavam a
salvação em Cristo à observação dos rituais mosaicos, considerados nulos pelo
Novo Testamento (Hb 8.13; 9.15-17; cf. Mt 9.16,17).
Na Nova
Aliança, não há nenhuma necessidade de os crentes circuncidarem-se para serem
salvos. A salvação é dada aos homens gratuitamente, por meio da fé na graça
redentora de Jesus Cristo. Vejamos o que a Bíblia ensina sobre a circuncisão em
Rm 2.28,29; 1Co 7.18,19; Cl 5.6; 6.15.
c) Festas de Israel. Certas igrejas são ensinadas a
celebrar as festas dos Tabernáculos (Lv 23.34; Dt 16.13), da Colheita (Êx
23.16; 34.22) e da Páscoa. Tais celebrações, juntamente com outras quatro
mencionadas na Bíblia, eram consideradas sagradas e específicas do povo judeu.
A igreja
não precisa festejar a páscoa judaica, uma vez que Cristo é a nossa páscoa
(1 Co 5.7). Ela deve, sim, celebrar a Ceia do Senhor, que é uma festa
genuinamente cristã, e que comemora o Novo Pacto inaugurado com o sangue de
Jesus (1 Co 11.20,25; At 2.42).
2. O evangelho da prosperidade material. Os
adeptos deste ensino acreditam que todo crente deve ser rico e jamais adoecer.
Caso contrário, o cristão está em pecado ou não tem fé. Vejamos alguns desses
ensinos:
a) Autoridade espiritual. Essa
falsa doutrina afirma que o crente tem autoridade espiritual porque é a própria
encarnação de Deus, assim como Jesus o foi. Os proponentes desse ensino chegam
ao absurdo de dizer que o cristão não tem um “deus” dentro dele, mas ele mesmo
é “um Deus”. Todavia, aprendemos com a Bíblia que a autoridade que Deus concede
a seus servos deriva-se de sua Palavra, e não daquilo que os homens ensinam à
parte dela.
b) “Pobreza é maldição”. Assim como a riqueza nem sempre é
uma bênção (Mc 19.23; Pv 30.9), pobreza não é maldição (Mt 26.11; Mc
14.7; Dt 15.11; Jo 12.8). Segundo as Escrituras, os que desejam ser ricos caem
em tentação, laço e muitas concupiscências (1 Tm 6.6-10). Todavia, devemos ser
ricos de boas obras (1 Tm 6.18,19), pois Deus escolheu os pobres deste
mundo para serem ricos na fé e herdeiros do Reino (Tg 2.5).
c) Confissão positiva. Segundo os teólogos da prosperidade,
se um crente disser que no prazo de um mês conseguirá um carro zero, isso terá
de acontecer. Afirmam que para ser curado é só dizer que não aceita a doença.
De acordo com essa falsa doutrina, o cristão nunca deve orar pedindo que se
faça a vontade de Deus. No entanto, devemos seguir o exemplo de Jesus (Lc
22.42).
3. A verdadeira prosperidade. Não há
problema em ser próspero. Na Bíblia, há várias promessas de prosperidade e
saúde. Além disso, precisamos ter muito cuidado para não trocarmos a teologia
da prosperidade pela teologia da pobreza. Ambas são nocivas à vida espiritual.
Vejamos algumas formas de prosperidade mencionadas na Bíblia:
a) A prosperidade espiritual. A
prosperidade espiritual deve vir em primeiro lugar (Sl 112.3; Sl 73.23-28).
Entre outras preciosas bênçãos, inclui: a salvação em Cristo; o batismo no
Espírito Santo; o nome escrito no Livro da Vida e a herança com Cristo (Rm
8.17; Ef 1.3).
b) Prosperidade em tudo. As
bênçãos materiais prometidas a Israel no Antigo Testamento estavam
condicionadas à obediência a Palavra de Deus (Dt 28.1-14), e não à “confissão
positiva”. Da mesma forma, o Senhor tem prometido muitas bênçãos à Igreja,
porém, todas elas dependem de nossa submissão às Sagradas Escrituras (Sl 1.1-3;
Dt 29.29). Isso não significa, necessariamente, que o cristão enfermo e que
passe por necessidades materiais seja infiel a Deus, pois a prosperidade não se
restringe aos valores terrestres e passageiros, mas contempla principalmente os
valores eternos (Sl 37.5; Pv 30.7-9).
O restauracionismo e
o evangelho da prosperidade material são inovações perigosas que conduzem ao
erro.
INOVAÇÕES
E MODISMOS MINISTERIAIS
1. A síndrome do “carro novo” (2 Sm 6.1-3). Ao trazer a Arca do Senhor para Jerusalém, Davi não
atentou para um detalhe importante: nada poderia ser modificado ou inovado em
relação ao modo de lidar com aquele objeto sagrado. A despeito disso, a Arca
foi colocada sobre um carro de bois em vez de ser conduzida nos ombros dos
sacerdotes. Por que essa atitude, aparentemente normal, não teve a aprovação de
Deus?
a) A Arca fora conduzida por pessoas não autorizadas. Os que transportavam a Arca do Senhor não eram divinamente chamados
para esse ofício (Nm 1.47-52; 4.1-49). Eleazar, filho de Abinadabe, é que
havia sido separado para esse ministério (1 Sm 7.1b).
b) A Arca fora conduzida de forma errada. De
acordo com a orientação divina, a Arca deveria ser transportada pelos levitas
(Êx 25.14; Dt 31.25; Js 3.3), e não por meio de carros puxados por bois. Aquele
carro de bois não deveria fazer parte do cortejo sagrado (2 Sm6.6,7).
2. O ministério modernizado. Hoje, em
muitos lugares, há aqueles que pregam o evangelho, utilizando-se de “carros de
bois”, inserindo inovações e modismos contrários aos ensinos da Palavra de
Deus. Tais pessoas têm até boas intenções. Todavia, o que elas realmente
desejam é adequar o evangelho à cultura secular. Às vezes, não percebem que
estão misturando o sagrado com o profano.
Devemos
obedecer aos mandamentos das Escrituras de modo irrestrito, sem as muletas da
inovação e dos modismos.
O episódio
da transferência da Arca apresenta-nos duas advertências: o perigo de querer
fazer as coisas sagradas conforme os modismos e o perigo da modernização
ministerial.
INOVAÇÕES
LITÚRGICAS
1. O evangelho do entretenimento. O
evangelho de Cristo não é entretenimento carnal, mas o poder de Deus para a salvação
de todo aquele que crê (Rm 1.16). O “evangelho do entretenimento” exalta o
homem e não a Deus. Prega-se o evangelho, mas sem as suas exigências; ensina a
graça, mas sem a cruz de Cristo (Sl 93.5).
2. A liturgia no culto a Deus. Através
dos salmos de adoração a Deus aprendemos que a liturgia deve ser reverente e
santa. Assevera-nos o salmista: "Adorai ao Senhor na beleza da santidade;
tremei diante dele todos os moradores da terra" (Sl 96.9; 1 Cr
16.29; Sl 29.2).
O culto
deve ser oferecido a Deus de modo santo, reverente e consciente. Não é para o
entretenimento do homem, mas para adorar ao Senhor.
CONCLUINDO
É
necessário discernir em que direção estamos caminhando. A Bíblia fala
de dois caminhos, o da bênção e o da maldição (Dt 11.26), e de duas portas, a
estreita e a larga (Mt 7.13). Cuidado com as inovações, pois o que a
Igreja de Cristo realmente necessita é de uma constante renovação no poder do
Espírito Santo.
“Vento de
Doutrinas. Muitas doutrinas e práticas, em nossos dias, têm surgido depois
de ‘divinas’ visões e revelações, supostos arrebatamentos ao céu ou ao inferno
- individuais ou em grupo -, ‘quedas de poder’, contatos com anjos ou
espíritos, além de outras experiências no mínimo estranhas.
Há crentes
hoje sendo ‘levados em roda por todo vento de doutrina’, porque não aprenderam
a guardar a Palavra de Deus acima de tudo (Ef 4.14). Em Marcos 16.17, está
escrito: ‘E estes sinais seguirão aos que crerem’. Porém, muitos têm agido como
se Jesus tivesse dito: ‘E estes que crerem seguirão aos sinais’. Mas
Paulo ensinou, em suas epístolas, que não devemos ir além do que está escrito
(1 Co 4.6)”.
(ZIBORDI, C. S. Evangelhos que Paulo
jamais pregaria. RJ: CPAD, 2006. p.25.)
O ser
humano tem a propensão de aceitar toda e qualquer inovação. Tudo que foge a
normalidade - uma vez que não nos tire de nossa zona de conforto parece exercer
atração irrestrita. Infelizmente, até mesmo a Palavra de Deus é vilipendiada
pela comunidade cristã que, ávida por mudanças, acaba reproduzindo a dinâmica da
sociedade consumista, anticristã e ateísta.
Sejamos,
porém, como os crentes de Beréia, recebendo a Palavra de Deus de boa vontade,
mas sem deixar de ser criteriosos (At 17.11). Pois, alguns sem conhecimento e
outros de forma premeditada a torcem, reservando para si a perdição (2 Pe
3.16).
Bibliografia E. R. de Lima
A Heresia Colossense
O erro que
perturbava Colossos envolveu amplamente elementos judeus e pagãos. Sem dúvida, os elementos judaicos eram a ênfase aos
sábados, à circuncisão, à lei, e, provavelmente, as referências à observância
de festivais e dias santos e luas novas; 3:11 e 4:11 também
parecem pressupor uma fonte judaica de desacordo.
Indubitavelmente,
os elementos pagãos incluíam uma "filosofia" que dependia de
métodos plausíveis de raciocínio que se baseavam na tradição humana, em vez
de numa demonstração lógica e revelação. A adoração de anjos (diferente da
crença neles, como se apresenta em Jubileus, Tobias e Ascensão de Isaías),
provavelmente, expressa o temor pagão, disseminado, de seres celestiais,
espíritos elementares do universo. De
certa forma, o sol, a lua e as estrelas eram corporificações materiais desses
elementos, desses seres. Governando a terra, eles podiam ser aplacados,
especialmente em suas épocas indicadas, por humilhação e devoções rigorosas.
A
proibição de certos alimentos podia ser uma característica judaica, mas a
referência à bebida e à sua associação com repressão ascética do corpo sugere
um dualismo pagão, como também o fazem expressões como "herança na
luz", "domínio das trevas" e "reino do Filho". A
ênfase das visões também podia ser judaica (v.g., o livro de Enoque); mas
aqueles de quem os heréticos se jactavam (2:18) eram essencialmente sensuais,
não espirituais, e pareciam expressar significados ocultos que precisavam de
interpretação. Isto faz lembrar as revelações dadas em transe, e prometidas
nas seitas pagas.
A ênfase
dada pelos heréticos à sabedoria assemelha-se a Provérbios, Sabedoria de
Salomão e Siraque; mas o seu exclusivismo (contraditado
em 1:26 e ss.; 3:11) e as expressões de menosprezo em 2:4,8 sugerem,
pelo contrário, um intelectualismo gnóstico.
O
gnosticismo era um clima de pensamento tão disseminado
quanto a teoria evolucionária o é hoje em dia. Provavelmente, ele
assumiu proeminência no primeiro século, ou antes, e alcançou o seu zênite no
segundo século. Combinava especulação filosófica, superstição,
ritos; semi-mágicos e algumas vezes um culto fanático e até obsceno.
As ideias mais comuns às suas muitas formas são: salvação mediante o
conhecimento (gnosis) — os iluminados são "cristãos avançados";
dualismo — tudo o que é espiritual é por natureza puro, tudo o que é
material é por natureza irremediavelmente mau, inclusive o mundo e o corpo.
Portanto, Deus está longe; a brecha entre ele e o mundo é preenchida por uma
cadeia de seres de espiritualidade descendente. O corpo, túmulo do espírito,
pode ser rigorosamente suprimido ou deixado à vontade indulgentemente, como
irrelevante para a vida do espírito puro.
Sendo extremamente intelectualista,
e, portanto, individualista, o gnosticismo
cultivou uma elite iluminada, para quem somente a salvação era possível, e desprezava
todas as outras pessoas. O antigo gnosticismo reinterpretou o
cristianismo e procurou "melhorá-lo", oferecendo-se para tornar os
crentes "perfeitos"; mais tarde, o mais amargo antagonismo se
desenvolveu.
Indícios
adicionais de ideias gnósticas como estas, em Colossos,
são achadas em expressões que deviam tornar-se "palavras-chave"
de sistemas gnósticos posteriores: o "segredo" ou
"mistério", a "plenitude", conhecimento (cinco vezes), e
duas ou três outras. As negações gnósticas da plena encarnação da
divindade em Jesus encontra veemente réplica nos capítulos 1 e 2.
Quaisquer sinais de "indiferentismo moral" gnóstico seria
bem respondido pelo conselho abrupto de 3:5ess.
Mas o fato
de que elementos judaicos e gnósticos devessem aparecer interligados em uma
única heresia (veja 2:14 e s.) tem constituído assunto para debate
durante um século. Porque o gnosticismo a respeito do qual mais informações
temos data do segundo século d.C, e era antijudaico, enquanto o
judaísmo ortodoxo resistia veementemente a toda a transigência em relação ao
paganismo.
Portanto, algumas pessoas negam que haja em Colossenses qualquer
referência ao gnosticismo, dizendo que a ideia judaica de que os anjos haviam
sido mediadores da lei expressava apenas extrema reverência pela lei e que as
declarações da superioridade de Cristo em relação aos anjos meramente enfatizavam
a sua superioridade em relação à lei. Mas a
adoração de anjos, no capítulo 2, implica em mais do que isto; e
a insistência sobre a superioridade de Cristo em relação a "tronos,
domínios e autoridades" sugere que eles são seres pessoais, mais próximos
do politeísmo e do dualismo gnóstico.
Atos
fala de judeus que praticavam a magia (At. 13:6; 19:13 e ss.) e de Simão, o mago considerado, muito depois, como o pai
do gnosticismo. Algumas características da heresia colossense são
encontradas misturadas com judaísmo em Gálatas 4:3,9,10, enquanto traços
delas, em Timóteo, João, I João e Apocalipse, revelam ideias gnósticas nas
fraldas da comunidade judaica na Ásia Menor, durante a segunda metade do
primeiro século.
Em
1875, Lightfoot comparou o erro colossense ao essenismo, que
combinava observâncias meticulosas do Tora judaico
e sabatismorigoroso com severo asceticismo
monástico, adoração do sol e uma elaborada doutrina de
anjos. Abbott pensava que os falsos mestres de Colossos diziam ter
percepção exclusiva em relação ao mundo dos espíritos intermediários, mediante
o favor dos quais (dadas asrequeridas austeridade e humilhação diante dos
anjos) novas revelações ("visões") podiam ser obtidas: "Isso
pode ser chamado de judaísmo gnóstico."
C. F. D. Moule (p.
31), semelhantemente, fala de uma "teosofia" do tipo
judaico-gnóstico. Bruce (p. 166) parece satisfeito com o fato de incipientes
formas de gnosticismo terem sido comuns dentro do judaísmo no primeiro
século d.C. Oscar Cullmann pensa que a heresia colossense
tentara misturar especulações filosóficas manchadas de gnosticismo com o
evangelho, pois formas preliminares de gnosticismo existiram, previamente, no
judaísmo helenizado. A. M. Hunter encontra fortes evidências disto no
Evangelho de João.
Guthrie cita,
com aprovação cautelosa, W. D. Davies em relação às "muitas
características comuns entre a heresia colossenses e a seita
de Qumran", e R. M. Wilson, em relação ao caráter dos Rolos como
"pré-gnósticos". Qumran pensava
que ser "filho da luz" significava obediência absoluta à lei de
Moisés, em um legalismo que excedia até a tradição dos anciãos. Isto
pode iluminar 1:13; 2:14; 2:21 e ss.
Neste
clima crescente de opiniões, não é surpreendente que R. H. Fuller expresse
redondamente a opinião de que a cristologia de Colossenses demonstra
tendências contrárias às ideias gnósticas, que a "filosofia" que se
lhe opõe é a mitologia sincretista do gnosticismo, que as observâncias de
culto referidas lembram hierarquias gnósticas e que as proibições ascéticas se originam do dualismo
gnóstico.
Grande
parte desta discussão se reduz claramente à definição que damos ao gnosticismo.
Certamente, os sistemas gnósticos desenvolvidos, descritos e antagonizados
pelos Pais da Igreja foram um fenômeno do segundo século. Mas um gnosticismo
preliminar, um protognosticismo, era uma atmosfera, um sincretismo variado
e amorfo, muito antes de se tornar um sistema racional; e as suas principais
ideias eram consideravelmente antigas.
Por fim,
precisamos descrever o erro colossense em termos genéricos, como uma versão da
fé cristã distorcida e obscurecida por concepções de tipo gnóstico, que se
haviam infiltrado na igreja por meio de um judaísmo já heterodoxo.
O seu
efeito foi afrouxar o apego dos homens para com o Cristo, de quem eles haviam
sido ensinados anteriormente (2:19; cf. 2:6,7); obscurecer, e mesmo negar, a
unicidade do Senhor que ascenderá, o único mediador, através
de quem eles haviam uma vez entrado na liberdade. A resposta de Paulo é uma cristologia de proporções verdadeiramente
cósmicas. Ele insiste na plenitude da divindade habitando em Cristo; na sua
precedência e proeminência na criação sobre tronos, domínios e principados (1:16);
no seu senhorio sobre eles quanto à posição (2:10); e na sua vitória sobre eles
no Calvário (2:15). O seu argumento é que duvidar da plenitude de Cristo é
deixar de entender a plenitude, riqueza e suficiência da vida cristã.
Bibliografia
O. White +www.ebareiabranca.com
JA
SUPERSTIÇÃO RELIGIOSA
"Porque eu sei em quem tenho crido e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até àquele Dia" (2 Tm 1.12b).
Superstição religiosa é um conjunto de
crendices apoiadas na ignorância, no desconhecido e no medo. Nada tem a ver com
a fé que professamos.
É provável que você conheça algumas
pessoas que apregoam "certas verdades" baseadas em crenças
infundadas ou que até mesmo utilizem amuletos e usem expressões com o fim de
afastarem maus espíritos. Muitas destas pessoas agem assim por temerem
aquilo que desconhecem ou ignoram, ou seja, são supersticiosas.
Superstições são crenças alicerçadas
sobre sentimentos irracionais, que levam as pessoas, em razão de sua
credulidade excessiva, a temerem o desconhecido, sobrenatural. Quem é
supersticioso acredita em presságios, encantamentos, sinais, ritos
específicos e tantos outros elementos que repousam sobre a fé em coisas
irracionais. A Palavra de Deus reprova vigorosamente as superstições. Atos dos Apóstolos registra um episódio em que Paulo
e Barnabé, quando pelo poder de Cristo curaram a um coxo em Listra, quase foram
idolatrados como Júpiter e Mercúrio pelos habitantes daquele país. Os
servos de Deus protestaram com veemência contra o ato supersticioso. No Antigo
Testamento, eram proibidas as adivinhações (Lv 19.31), a bruxaria, os augúrios
a feitiçaria e magia (2 Rs 21.6). Temos de ter muito cuidado para
que essas práticas não solapem nossa fé e assolem nossas igrejas; tais como
amuletos, pé de coelho, galho de arruda, ferradura de cavalo, dias especiais,
crendices, simpatias e magias.
A superstição está presente em
todas as religiões, novas e velhas. É nociva à fé cristã em razão de levar o
indivíduo a temer coisas inócuas e depositar a fé em coisas absurdas. Quem já
não viu alguém procurar se proteger com um galho de arruda, com ferradura de
cavalo na porta de casa, ou usar uma figa esperando obter sucesso? Os
supersticiosos estão inclinados a acreditar em tudo, menos na Palavra de Deus.
ETIMOLOGIA
1. O termo grego. O substantivo grego empregado no Novo Testamento correspondente à
palavra superstição é deisidaimoniâ. Essa palavra aparece
apenas em At 25.19. De modo semelhante, o adjetivo procedente do original
significa "piedosos, supersticiosos ou religiosos" (At 17.22). O
termo procede de duas palavras gregas cujo sentido é "temor aos demônios,
aos espíritos malignos ou as divindades pagãs". Portanto, o vocábulo
"superstição" designa um sentimento religioso fundamentado na ignorância,
no medo de coisas sobrenaturais e na confiança em coisas ineficazes.
Trata-se, por conseguinte, de uma crendice popular baseada em crenças
infundadas.
2. O termo em nossas versões. A versão Almeida Atualizada e a Tradução Brasileira traduziram os
vocábulos originais por "religião" e "religioso", enquanto
a Almeida Corrigida, por "superstição" e
"supersticioso". Agripa na qualidade de judeu, embora
desconhecendo a natureza da questão sobre a ressurreição de Jesus, jamais
chamaria essas coisas de mera superstição (At 25.19). O apóstolo Paulo, no
areópago em Atenas, como disse alguém, empregou o termo com "amável
ambiguidade" (At 17.22).
3. O termo latino. Jerônimo, na Vulgata Latina, traduziu os referidos termos
por superstitio, (At 25.19) que significa "superstição,
religião, culto, excessivo receio dos deuses, adivinhação, arte de predizer o
futuro" e superstitiosus, "supersticioso" (At
17.22).
4. O termo no mundo romano. Havia diferença entre religião e superstição no mundo romano. O
cristianismo, mais tarde, adotou essa distinção. Segundo Agostinho
de Hipona, o homem supersticioso distingue-se do religioso,
citando Varrão (Marco Terêncio Varrão [Marcus Terentius Varro], 116 a.C. – 27 a.C., filósofo e enciclopedista romano), afirma que o supersticioso teme os deuses como inimigos, e o religioso
reverencia-os como pais. A ideia dessa palavra no mundo romano é uma forma
antiquada de culto, como deterioração ou algo ultrapassado, rejeitado pela
religião oficial. Podemos resumir superstição como a crendice do medo (Jr
10.2).
CARACTERÍSTICAS ANIMISTAS
1. Animismo. Apesar da superstição estar presente em todas as religiões, é
no animismo que ela praticamente se confunde. Animismo é a crença que atribui
vida espiritual ou alma a coisas inanimadas. Os animistas acreditam que plantas
e animais possuem alma, que a natureza está carregada de seres espirituais e
que o espírito dos mortos vagueia pelos lugares onde as pessoas viviam ou
costumavam frequentar (Is 34.14). É consequência da Queda no Éden (Rm 1.23, 25,
28).
2. Fetiches. Os ídolos representam divindades ao passo que o fetichismo se
caracteriza por atribuir propriedades mágicas ou divinas a certos objetos. Em
muitos casos, os fetichistas dispensam, a tais objetos, reverência, adoração,
gratidão e oferendas, esperando receber graças ou vinganças dessas divindades
ou espíritos.
SUPERSTIÇÕES DO COTIDIANO
1. Amuletos e talismãs. É a crença no afastamento dos maus espíritos apenas pelo uso de certos
objetos como galho de arruda, ferradura de cavalo na porta de casa, pé-de-coelho etc. Muitas vezes, são usados como objetos de adornos. O profeta
Isaías incluiu os amuletos na lista de adornos femininos, traduzido por
"arrecadas" na Versão Almeida Corrigida (Is 3.20). A palavra hebraica,
aqui, élahash, também usada para encantamento (Ec 10.11; Jr 8.17).
Talismã consiste em letras, símbolos ou palavras sagradas, nomes de anjos ou
demônios com o objetivo de afastar o mal de quem os usa.
2. Rogos do espirro. "Saúde!", "Deus te crie!", ou, expressão mais
erudita como Dominus caetuml, "o Senhor te
crie!", hayiml, "vida!", em Israel; são
expressões que ouvimos no dia-a-dia
quando alguém espirra. Por que não acontece o mesmo quando alguém tosse? Os
antigos acreditavam que o espírito do homem residia na cabeça, e um bom espirro
era o suficiente para sua fuga e, ao fazer uma pequena prece, ele permanecia
na pessoa que espirrou. Hoje, isso já virou etiqueta social.
3. Sexta-feira 13. O número 13 é tido por alguns como bom agouro e para outros como
infortúnio. Há até edifícios em que passam do 12° para o 14° andar temendo
desgraças. A sexta-feira 13 é considerada um dia de azar. Uns atribuem a
superstição sobre o número 13 aos vikings ou a outros normandos. Há também os
que atribuem ao cristianismo, já que sexta-feira foi o dia em que Jesus morreu
e 13 é uma referência a Judas Iscariotes que, segundo os
supersticiosos, era o décimo terceiro homem da reunião da Última Ceia. Mas, não
há indício algum para confirmar essa versão.
SUPERSTIÇÕES SUPOSTAMENTE BÍBLICAS
1. Segunda-feira azarada. Os judeus não consideram a segunda-feira um bom dia para negócios,
porque no relato da criação, em Gênesis 1, não consta o registro "e viu
Deus que era bom", como aparece nos demais dias. Mas, no dia terceiro,
aparece duas vezes a expressão "e viu Deus que era bom" (Gn 1.10,
12), por isso é o dia tradicional de cerimônia de casamentos e, também, o dia
em que se celebram grandes negócios em Israel. O costume baseia-se na
interpretação incorreta de uma passagem bíblica. A bênção divina para o
sucesso, todavia, não depende do dia em que o evento é realizado, e sim na
confiança em Deus (Sl 37.3-5).
2. Mezuzá. Palavra hebraica que significa "portal, umbral, ombreira" (Êx
12.7). Esse termo é usado hoje para identificar o pequeno tubo metálico que os
judeus usam no umbral direito da porta, seguindo o prescrito na Lei de Moisés
(Dt 6.4-9). Isso não deve ser considerado superstição, pois tem fundamento
bíblico, como não é superstição um cristão colocar em seu lar quadros com
versículos bíblicos e outros motivos cristãos como identificação de sua fé.
Mas os judeus cabalísticos da Idade Média transformaram a mezuzá em
amuletos e talismãs, como objetos de proteção.
3. O perigo da inversão de valores. Não confundir o Cristo da cruz
com a cruz de Cristo. Os hebreus consideravam a simples presença da arca da
aliança na guerra como garantia de vitória (1 Sm 4.4-11). Ainda
hoje, alguns crentes creem estar protegidos de infortúnio e mau augúrio só
porque mantêm a Bíblia aberta no salmo 91. Isso significa transformar a fé viva
no Deus todo-poderoso em mera superstição ou amuleto. A proteção vem da confiança
em Deus e na obediência à Sua Palavra (Js 1.8; 1 Jo 5.4).
4. Fé cristã não é superstição. Os filhos de Ceva, tendo em vista o misticismo de Éfeso, cuidaram fosse
o apóstolo Paulo um mágico com uma nova fórmula: o nome de Jesus (At 19.13).
Mas eles se equivocaram. Ainda hoje há os que transformam elementos cristãos em
superstições. Baseados em lendas de vampiros, muitos supõem que, exibindo uma
cruz, podem expulsar os espíritos maus. Jesus disse: "em meu nome
expulsarão demônios" (Mc 16.17). Ele conferiu essa autoridade aos seus
servos (Mt 10.8). Todos os que usarem o nome de Jesus como amuletos
poderão ter a mesma decepção dos filhos de Ceva (At 19.16).
As superstições, independentemente de
sua origem, são nocivas à fé cristã. Crer em coisas triviais, ou nas
aparentemente bíblicas, é rejeitar a fé em Deus ou acrescentar algo
além dEle. Nós cremos num Deus que pode guardar-nos de todos os males
(2 Tm 1.12).
Não seria o uso de elementos como
galhinho de arruda, sal grosso e copo d'água na liturgia uma volta ao
misticismo medieval, tão condenado pelos reformadores? A teologia da maldição
hereditária não seria um vilipendio à doutrina da graça e uma
superstição religiosa em sua essência? Lamentavelmente, é nítida a existência
de casos de superstição entre evangélicos, mas isso é resultado da ausência de
orientação bíblica. Nas igrejas onde o povo recebe o ensino sistemático e
sadio da Palavra de Deus raramente existe isso.
Alguns casos de supersticiosidade entre
evangélicos são menores, outros são mais graves. Alguns exemplos do primeiro
tipo são deixar a Bíblia aberta no Salmo 91 para afastar desgraças; utilizar a
expressão Tá amarrado!' de forma séria, como uma espécie de precaução
espiritual; abrir a Bíblia aleatoriamente para 'tirar um versículo' que
funciona como a orientação de Deus para tomarmos uma decisão; trocar a leitura
sistemática e regular da Bíblia pela 'caixinha de promessas'; reputar que a
oração no monte tem mais eficácia do que a feita dentro do quarto ou na
igreja; dormir empacotado para que Deus, ao nos visitar à noite, não se
entristeça; e acreditar que objetos ou algum suvenir de Israel (pedrinhas, água
do Rio Jordão, folhas) têm algum poder especial.
O protestantismo foi um dos grandes
catalisadores do fim da superstição da Idade Média, que havia sido implementado
por um catolicismo cada vez mais decadente. É só reexaminarmos a história e
veremos que, antes da Reforma, o mundo medieval era cheio de fantasmas,
duendes, gnomos, demônios, anjos e santos. O povo era ignorante, extremamente
supersticioso e não tinha acesso à leitura. A própria Igreja Católica Romana
fomentava e explorava isso. Foram os evangélicos que combateram tudo
isso, inclusive apoiados pelos humanistas da época.
Um exemplo de caso grave de superstição
é o caso da teologia da maldição hereditária, que declara insuficiente a obra
de Cristo na vida da pessoa, pois afirma que, depois de salvo por Jesus, o
cristão deve desenterrar o seu passado e o de seus familiares para quebrar uma
a uma todas as possíveis maldições que acometeram seus antepassados e que
ainda repousariam sobre ele, se não a libertação não será completa. Além
de não ter base bíblica (2 Co 5.17), essa teologia defende um princípio
quase reencarnacionista, estabelecendo um carma na vida da pessoa a partir
de seus parentes. (...) Fujamos de toda a sorte de superstição. Que nossa fé
seja absolutamente bíblica.
Bibliografia Ezequias Soares,manual de apologetica,2005,cpad,
Falsos
mestres, gálatas inconstantes e a origem do evangelho de Paulo Gl 1.6-10, 11-24
Em todas as outras epístolas, depois de
saudar os seus leitores, Paulo continua orando por eles ou louvando e
agradecendo a Deus. A Epístola aos Gálatas é a única em que não há oração, nem
louvor, nem ação de graças, nem elogios. Em vez disso, o apóstolo vai direto ao
assunto, com uma nota de extrema urgência. Paulo expressa admiração diante da
inconstância e instabilidade dos gálatas, e prossegue queixando-se dos falsos
mestres que estavam perturbando as igreja da Galácia. Daí, então, ele
enuncia um anátema solene e terrível contra aqueles que se atrevem a alterar o evangelho.
1. A Infidelidade dos
Gálatas (v. 6)
Admira-me que estejais passando tão depressa
daquele que vos chamou na graça de Cristo. Note-se que o verbo está na voz ativa e não na passiva, e que o tempo é
o presente, não o passado. Não é "que tenhais sido afastados tão
depressa", mas ''que estejais passando tão depressa", ou, como diz
a Bíblia na Linguagem de Hoje: "Estou muito admirado de
vocês estarem abandonando tão depressa". A palavra grega (metatithêmi) é
interessante. Significa "transferir a fidelidade". É usada com
referência a soldados do exército que se rebelam ou desertam, e a pessoas que
mudam de partido na política ou na filosofia. Um certo Dionísio
de Heracléia, por exemplo, que abandonara os estóicos, tornando-se
membro de uma escola filosófica rivai, isto é, um epicurista, era chamado
de ho metathememos, um vira-casaca".
É disso que Paulo acusa os gálatas.
Eles eram vira-casacas religiosos, desertores espirituais. E estavam
abandonando aquele que os chamara para a graça de Cristo e abraçando um
outro evangelho. O verdadeiro evangelho é, na sua essência, o que Paulo
diz em Atos20:24: "o evangelho da graça de Deus". São as boas novas
de um Deus cheio de graça para com pecadores indignos. Na graça ele deu o seu
Filho para morrer por nós. Na graça ele nos justifica quando cremos. "Tudo
provém de Deus", como Paulo escreve em 2 Coríntios 5:18, significando
que "tudo é de graça". Nada é devido aos nossos esforços, aos nossos
méritos ou às nossas obras; tudo na salvação é devido à graça de Deus.
Mas os gálatas convertidos, que haviam
recebido este evangelho da graça, estavam agora se voltando para um
outro evangelho, um evangelho de obras. Os falsos mestres eram
evidentemente "judaizantes", cujo "evangelho" encontra-se
resumido em Atos 15:1: "Se não vos circuncidardes segundo o costume de
Moisés, não podeis ser salvos." Eles não negavam que era preciso crer em
Jesus para se obtera salvação, mas enfatizavam que também era necessário
circuncidar-se e guardar a lei. Em outras palavras, era preciso deixar que
Moisés completasse o que Cristo havia iniciado. Ou, melhor, nós mesmos
teríamos que completar, através de nossa obediência à lei, o que Cristo havia
começado. Era preciso acrescentar nossas
obras à obra de Cristo. Era preciso concluir a obra inacabada de Cristo.
Essa doutrina Paulo simplesmente não
podia tolerar. O quê?! Acrescentar méritos humanos ao mérito de Cristo e obras
humanas à obra de Cristo? Deus nos livre! A
obra de Cristo é uma obra acabada; e o evangelho de Cristo é o evangelho
da graça livre. A salvação é só pela graça, só pela fé, sem mistura alguma de
obras ou méritos humanos. Ela é totalmente devida à vocação graciosa de Deus,
e não a qualquer boa obra de nossa parte.
Paulo vai ainda mais além. Ele diz que
a deserção dos gálatas convertidos estava relacionada com a experiência e
também com a teologia. Ele não os acusa de desertarem do evangelho da graça
com vistas a um outro evangelho, mas de desertarem daquele que
os chamara na graça. Em outras palavras, teologia e experiência, fé cristã e
vida cristã, andam juntas e não podem ser separadas. Afastar-se do evangelho
da graça é afastar-se do Deus da graça. Os gálatas que se cuidassem, pois
estavam se afastando muito depressa e precipitadamente. É impossível abandonar
o evangelho sem abandonar a Deus. Como Paulo diz mais adiante, em Gálatas 5:4:
"da graça decaístes".
2. A Atividade dos Falsos Mestres (v.
7)
O motivo por que os gálatas convertidos
estavam se afastando de Deus, que os chamara na graça, era claro: há
alguns que vos perturbam (versículo 7b). O verbo grego para
"perturbar" (tarassõ) significa "sacudir"
ou "agitar". As congregações gálatas haviam sido lançadas pelos
falsos mestres em um estado de confusão: confusão intelectual de um lado e
facções de lutas do outro. É muito interessante que o Concilio de Jerusalém, provavelmente organizado
logo após Paulo ter escrito esta epístola, tenha usado o mesmo verbo em sua
carta às igrejas: "Visto sabermos que alguns de entre nós, sem nenhuma
autorização, vos têm perturbado com palavras, transtornando as
vossas almas..." (Atos 15:24).
Esta perturbação era causada por falsa
doutrina. Os judaizantes estavam tentando "perverter" (ERAB), ou
"distorcer" o evangelho. Estavam propagando o que J. B. Phillips
chama de "uma falsificação do evangelho de Cristo". Na verdade, a
palavra grega(metastrepsai) é ainda mais enfática e poderia ser
traduzida por "inverter". Neste caso, eles não estavam apenas
corrompendo o evangelho, mas realmente "invertendo-o", virando-o de
costas e de cabeça para baixo. Não podemos modificar ou fazer acréscimos ao
evangelho sem que alteremos radicalmente o seu caráter.
Assim, as duas características
principais dos falsos mestres eram que eles estavam perturbando a igreja e
alterando o evangelho. Estas duas coisas andam juntas. Falsificar o evangelho
resulta sempre em perturbação para a igreja. Não se pode mexer no evangelho e
deixar a igreja intacta, pois esta é criada pelo evangelho e vive por ele. Na
verdade, os maiores perturbadores da igreja (agora e naquele tempo) não são os
que se lhe opõem de fora, que a ridicularizam e a perseguem, mas aqueles que dentro dela tentam alterar o
evangelho. São eles que perturbam a igreja. Inversamente, a única
maneira de ser um bom membro na igreja é sendo um bom adepto do evangelho. A
melhor forma de servir a igreja é crer no evangelho e pregá-lo.
3. A Reação do Apóstolo Paulo (vs.
8-10)
A esta altura, a situação nas igrejas
da Galácia é evidente. Falsos mestres estavam distorcendo o evangelho, de modo
que os convertidos por Paulo o estavam abandonando. A primeira reação do
apóstolo é de surpresa total: Admira-me que estejais
passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo (versículo
6). Muitos evangelistas de gerações posteriores ficam igualmente admirados e
assustados ao verem com que rapidez e prontidão os convertidos relaxam sua
firmeza para com o evangelho que pareciam ter abraçado com tanta convicção.
Como Paulo escreve em Gálatas 3:1, é como
se alguém os fascinasse ou enfeitiçasse; e é isto que, de fato, acontece.
O diabo perturba a igreja tanto através do erro quanto do pecado. Quando ele
não consegue atrair os cristãos para o pecado, engana-os com falsas doutrinas.
A segunda reação de Paulo é de
indignação com os falsos mestres, sobre os quais ele enuncia uma solene
maldição: Mas, ainda que nós, ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue
evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema. Assim como já
dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que
recebestes, seja anátema (vs. 8 e 9).
A palavra grega duas vezes traduzida
por “anátema" é anathema no original. No
Antigo Testamento grego ela era usada para indicar banimento divino, a maldição
de Deus sobre qualquer coisa ou pessoa que ele destinasse à destruição. A
história de Acã é um bom exemplo disso. Deus dissera que os despojos
dos cananeus estavam sob sua proscrição - estavam
destinados à destruição. Mas Acãroubou e guardou para si o que deveria ter
sido destruído.
Assim o apóstolo Paulo deseja que esses
falsos mestres sejam colocados sob banimento, maldição ou anathema de
Deus. Isto é, ele expressa o desejo de que o juízo de Deus recaia sobre eles.
Nisso está implícito que as igrejas da Galácia certamente não iriam dar
boas-vindas ou atenção a tais mestres, recusando-se a recebê-los ou ouvi-los,
por serem homens rejeitados por Deus (cf. 2 Jo 10,11).
O que temos a dizer acerca desse anathema? Devemos
esquecê-lo como se fosse apenas o resultado de uma explosão de ira? Devemos
rejeitá-lo como se fosse produto de um sentimento incoerente com o Espírito de
Cristo e indigno do evangelho de Cristo? Devemos explicá-lo como sendo palavra
de um homem que era fruto de sua época e não conhecia outra forma de expressão?
Muitas pessoas o fariam; mas pelo menos duas considerações indicam que
esse anathema apostólico não era uma expressão de aversão
pessoal a mestres rivais.
A primeira consideração é que a
maldição do apóstolo, ou a maldição de Deus que ele invoca, é de âmbito
universal. Ela repousa sobre todo e qualquer mestre que distorça a essência do
evangelho e que propague tal distorção. Isto está explícito no versículo
9: “Assim como já dissemos, e agora repito, se alguém vos
prega..." Não há exceções. No versículo 8 ele a
aplica especificamente a anjos e a homens, e então acrescenta
a sua própria pessoa: “...ainda que nós...'". Tão
desinteressado é o zelo de Paulo pelo evangelho que ele até deseja que a maldição
de Deus caia sobre ele próprio, caso venha a
pervertê-lo. Assim, o fato de ele incluir-se a si mesmo livra-o da acusação de
despeito ou animosidade pessoal.
A segunda consideração é que a sua
maldição é deliberadamente enunciada e com uma responsabilidade consciente para
com Deus. Nota-se que ela é enunciada duas vezes (versículos 8 e 9). Como
diz John Brown, comentarista escocês do século XIX: ''O apóstolo a repete para
mostrar aos gálatas que não era uma declaração exagerada, excessiva, produto de
um sentimento apaixonado, mas que era uma opinião calmamente formada e
inalterável." Então Paulo prossegue no versículo 10: Porventura procuro eu agora o favor dos homens, ou o de Deus? ou procuro
agradar a homens? Se agradasse ainda a homens, não seria servo de Cristo. Parece que os seus difamadores o haviam
acusado de oportunista e bajulador, que adaptava a sua mensagem ao auditório.
Mas será que esta condenação sem rodeios dos falsos mestres é a linguagem de
um bajulador? Pelo contrário, nenhum homem pode servir a dois senhores. E,
considerando que Paulo era em primeiro lugar e principalmente um servo de Jesus
Cristo, a sua ambição era agradar a Cristo, e não aos homens. Portanto, é como
"servo de Cristo", responsável diante do seu divino Senhor, que ele
pondera as palavras e se atreve a exprimir este solene anathema.
Vimos, então, que Paulo enuncia o
seu anathema imparcialmente (quem quer que fossem os mestres)
e deliberadamente (na presença de Cristo, seu Senhor).
Mas talvez alguém pergunte: "Por
que ele tem uma reação tão forte e usa uma linguagem tão drástica?" Dois
motivos são bem claros. O primeiro é que a glória de Cristo estava em jogo. Tornar
as obras dos homens necessárias à salvação, ainda que como um suplemento à obra
de Cristo, é derrogante para a sua obra consumada. É o mesmo que dar a entender
que a obra de Cristo foi de certa forma insatisfatória, e que os homens
precisam acrescentar-lhe algo e aperfeiçoá-la. Na verdade, é o mesmo que
declarar a redundância da cruz: "se a justiça é mediante a lei, segue-se
que morreu Cristo em vão" (Gl 2:21).
O segundo motivo por que Paulo sentiu a
questão de maneira tão penetrante é que o bem-estar das almas das pessoas
estava em jogo. Ele não estava escrevendo acerca de alguma doutrina trivial,
mas sobre algo que é fundamental ao evangelho. Nem tampouco estava falando
daqueles que simplesmente têm falsos pontos de vista, mas daqueles
que os ensinam e que desencaminham outros com os seus
ensinamentos. Paulo se importava profundamente com a alma humana.
Em Romanos 9:3 ele declara que preferiria ser ele próprio amaldiçoado
(literalmente, ser anathema), se com isto outros pudessem ser
salvos. Ele sabia que o evangelho de Cristo é o poder de Deus para a salvação.
Corromper o evangelho portanto, era destruir o caminho da salvação,
condenando à ruína almas que poderiam ser salvas através dele. O próprio Jesus
não enunciou uma solene advertência à pessoa que leva outros a tropeçarem,
dizendo que "melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande
pedra de moinho, e fosse lançado no mar" (Mc 9:42)? Parece então que
Paulo, longe de contradizer o Espírito de Cristo, na verdade o estava expressando.
Naturalmente vivemos numa época em que as pessoas que têm opiniões claras e
definidas sobre determinados assuntos são consideradas intolerantes e
bitoladas, quanto maisaquelas que discordam vivamente de todas as outras.
O desejo de que os falsos mestres realmente caiam sob a maldição de Deus e
sejam tratados como tais pela igreja é uma ideia inconcebível para
muitos. Mas eu me atrevo a dizer que, se nós nos importássemos mais com a
glória de Cristo e com o bem da alma humana, também não seríamos capazes de
suportar a corrupção do evangelho da graça.
Concluindo a primeira parte
A lição que se destaca neste parágrafo
é que só existe um único evangelho. A opinião popular alega que existem muitos
caminhos que levam a Deus, que o evangelho muda com o passar dos tempos e que
não devemos condená-lo à fossilização do primeiro século d.C.Mas Paulo não
endossaria tais ideias. Aqui ele insiste em que só há um evangelho e que este
evangelho não muda. Qualquer ensinamento que reivindique ser "um
outro evangelho" não é "um outro" (versículos 6, 7). A fim
de esclarecer este ponto ele usa dois adjetivos: heteros ("outro"
no sentido de "diferente") e allos ("outro"
no sentido de "um segundo"). Poderíamos traduzir este trecho da
seguinte maneira: "Vós estais passando
para um evangelho diferente - não que exista um outro evangelho." Em outras palavras,
certamente existem "evangelhos" diferentes que estão sendo pregados,
mas isto é que eles são: diferentes. Não há um outro, um
segundo; há apenas um. A mensagem dos falsos mestres não era um
evangelho alternativo: era um evangelho pervertido.
Como podemos reconhecer o verdadeiro
evangelho? Suas marcas nos foram apresentadas e referem-se à sua substância (o
que é) e à sua fonte (de onde vem).
a. A substância do evangelho
É o evangelho da graça, do favor livre
e imerecido de Deus. Afastar-se daquele que nos chamou na graça de Cristo é
afastar-se do verdadeiro evangelho. Sempre que os mestres começam a exaltar uma
pessoa, dando a entender que esta pode contribuir com alguma coisa para a sua
salvação através de sua própria moral, religião, filosofia ou respeitabilidade,
o evangelho da graça está sendo corrompido. Este é o primeiro teste. O
verdadeiro evangelho magnífica a livre graça de Deus.
b. A fonte do evangelho
O segundo teste refere-se à origem do
evangelho. O verdadeiro evangelho é o evangelho dos apóstolos de Jesus Cristo;
em outras palavras, é o evangelho do Novo Testamento. Leia novamente os
versículos 8 e 9. A acusação de anathema é declarada por Paulo
contra qualquer pessoa que pregue um evangelho contrário ao que ele pregou, ou
"que vá além daquele que recebestes". Isto é, a norma, o critério
pelo qual todos os sistemas e opiniões devem ser testados, é o evangelho primitivo, o evangelho que os
apóstolos pregaram e que se encontra registrado no Novo Testamento. Qualquer
"outro" sistema "que vá além" (ERAB) ou que seja
"diferente" (BLH) desse evangelho apostólico deve ser rejeitado.
Este é o segundo teste fundamental.
Qualquer um que rejeite o evangelho apostólico, não importa quem seja, será
igualmente rejeitado. Pode até vir na forma de "um anjo do céu".
Neste caso, devemos preferir os apóstolos aos anjos. Não devemos ficar
deslumbrados, como acontece a muitas pessoas, com a personalidade, os dons ou a
posição dos mestres na igreja. Eles podem dirigir-se a nós com grande
dignidade, autoridade e erudição. Podem ser bispos ou arcebispos, professores
universitários ou até mesmo o próprio papa. Mas, se nos trouxerem um evangelho
diferente daquele que foi pregado pelos apóstolos e que se encontra registrado
no Novo Testamento, devem ser rejeitados.
Nós os julgamos pelo evangelho; não julgamos o evangelho por eles. Como disse o
Dr. Alan Cole: "Não é a pessoa física do mensageiro que dá valor à sua
mensagem; antes, é a natureza da mensagem que dá valor ao
mensageiro."
Então, ao ouvirmos as multifárias
opiniões de homens e mulheres da atualidade, sejam
faladas, escritas, irradiadas ou televisionadas, devemos sujeitar cada
uma delas a estes dois rigorosos testes. Tal opinião é coerente com a
livre graça de Deus e com o claro ensinamento do Novo Testamento? Caso
contrário, devemos rejeitá-la, por mais augusto que seja o mestre. Mas, se for
aprovada nestes testes, então vamos abraçá-la e apegar-nos a ela. Não devemos
comprometê-la como os judaizantes, nem desertar dela como os gálatas, mas viver
por ela e procurar torná-la conhecida dos outros.
A origem do evangelho de Paulo
Vimos acima que há um só evangelho, e
que este evangelho é o critério pelo qual todas as opiniões humanas devem ser
testadas. É o evangelho que Paulo apresentou.
A questão agora é: qual é a origem do
evangelho de Paulo para que seja normativo, e para que as outras mensagens e
opiniões sejam avaliadas e julgadas por ele? Sem dúvida é um evangelho
maravilhoso. Lembremos a Epístola aos Romanos, as Epístolas aos Coríntios e as
poderosas epístolas da prisão, como Efésios, Filipenses e Colossenses. Ficamos
impressionados com o majestoso ímpeto, profundidade e a consistência com que
Paulo expõe o propósito de Deus de eternidade a eternidade. Mas de onde ele
tirou essas ideias? Seriam produto de sua própria mente fértil? Ele as
inventou? Ou será que eram material antigo, de segunda mão, sem
autoridade original? Será que as plagiou dos outros apóstolos em
Jerusalém, que os judaizantes evidentemente defendiam, uma vez que tentavam
subordinar a autoridade de Paulo à dos apóstolos?
A resposta dele a estas perguntas pode
ser encontrada nos versículos 11 e 12: Faço-vos, porém, saber,
irmãos (uma fórmula favorita sua de introduzir uma declaração
importante), que o evangelho por mim anunciado não é segundo o homem;
porque eu não o recebi, nem o aprendi de homem algum, mas mediante revelação de
Jesus Cristo. Eis aí a razão por que o evangelho de Paulo era o padrão
pelo qual os outros evangelhos deviam ser medidos. O seu evangelho era
(literalmente, versículo 11) "não... segundo o homem"; não era
"invenção humana" (BLH). "Eu o preguei", Paulo poderia
dizer, "mas não o inventei. Também não o recebi de um homem, como se
fosse uma tradição já aceita, passada de uma geração a outra. Também não
me foi ensinado, como se o precisasse aprender de mestres humanos." Pelo
contrário, ele veio "mediante revelação de Jesus Cristo". Isto provavelmente
significa que ele lhe foi revelado por Jesus Cristo. Alternativamente, o
genitivo poderia ser objetivo, caso em que Cristo é a substância da revelação,
como no versículo 16, e não o seu autor. Seja qual for o caso, o sentido geral
é explícito. Assim como no versículo 1 ele afirmou ser divina a origem de sua
comissão apostólica, agora ele afirma ser de origem divina o seu evangelho
apostólico. Nem a sua missão nem a sua mensagem derivaram de homem algum; ambas
lhe vieram diretamente de Deus e de Jesus Cristo.
A reivindicação de Paulo, portanto, é a
seguinte. O seu evangelho, que estava sendo colocado em dúvida pelos
judaizantes e abandonado pelos gálatas, não era uma invenção (como se a sua
própria mente o tivesse fabricado), nem uma tradição (como se a
igrejalho tivesse transmitido), mas uma revelação (pois Deus é quem o
revelara a ele). Como John Brown diz: "Jesus cristo o tomou sob sua
própria e imediata tutela." Por isso é que Paulo se
atrevia a chamar o evangelho que pregava de "meu evangelho"
(cf. Rm 16:25). Era "seu", não porque ele o criara, mas porque
lhe fora revelado de maneira especial. A magnitude de sua reivindicação é
notável. Ele está afirmando que a sua mensagem não é sua, mas de Deus; que o
seu evangelho não é seu, mas de Deus; que as suas palavras não são suas, mas de
Deus.
Após fazer esta surpreendente
declaração de uma revelação direta de Deus, sem canais humanos, Paulo prossegue
comprovando-a historicamente, isto é, com fatos de sua própria autobiografia.
As situações ocorridas antes, durante e após sua conversão foram tais que ele
sem dúvida recebeu o seu evangelho diretamente de Deus e não de algum homem.
Examinemos essas três situações separadamente.
1. O que Aconteceu Antes de Sua
Conversão (vs. 13, 14)
Porque ouvistes qual foi o
meu proceder outrora no judaísmo, como sobremaneira perseguia eu a igreja de
Deus e a devastava. E, na minha nação, quanto ao judaísmo, avantajava-me a
muitos na minha idade, sendo extremamente zeloso das tradições de meus pais.Aqui o apóstolo descreve a sua situação antes da conversão, quando ele
estava "no judaísmo", isto é, quando ainda era um "judeu
praticante". O que ele fora naquele tempo todos sabiam.
"Porque ouvistes qual foi o meu proceder outrora", diz ele,
pois já lhes falara sobre isto antes. Paulo menciona dois aspectos da sua vida
antes da regeneração: a perseguição à igreja, que ele agora reconhece ser
"a igreja de Deus" (versículo 13), e o seu entusiasmo pelas tradições
dos seus pais (versículo 14). Em ambos, diz ele, era fanático.
Consideremos a perseguição à igreja.
Paulo perseguia a igreja de Deus "sobremaneira" (ERC) ou "com
violência" (BLH). A frase parece indicar a violência, até mesmo
selvageria, com que ele se empenhava na sua atividade sinistra. O que ele nos
conta aqui podemos suplementar com o livro de Atos. Ele ia de casa em casa em
Jerusalém, prendendo todos os cristãos que encontrasse, homens e
mulheres, e arrastando-os para a cadeia (At 8:3). Quando esses cristãos eram
condenados à morte, ele votava contra eles (At 26:10). Ainda não satisfeito
em perseguir a igreja, ele se sentia realmente inclinado
a devastá-la (versículo 13). Estava determinado a acabar com
ela.
Ele fora igualmente fanático em seu
entusiasmo pelas tradições judaicas. "Fui um dos judeus mais religiosos do
meu tempo e procurava seguir com todo o cuidado as tradições dos meus
antepassados", descreve (versículo 14, BLH). Ele fora criado de acordo com
"a seita mais severa" da religião judaica (At 26:5), ou seja, era um
fariseu e vivia como tal.
Esta era a condição de Saulo de Tarso
antes de sua conversão: um fanático inveterado, completamente dedicado ao
Judaísmo e à perseguição de Cristo e da igreja.
Um homem nessa condição mental e
emocional de maneira alguma mudaria de opinião, nem se deixaria influenciar por
outras pessoas. Nenhum reflexo condicionado ou qualquer outro artifício
psicológico poderia converter um homem assim. Apenas Deus poderia alcançá-lo -
e foi o que Deus fez!
2. O que Aconteceu na sua Conversão
(vs. 15, 16a)
Quando, porém, ao que me separou antes
de eu nascer e me chamou pela sua graça, aprouve revelar seu Filho em mim, para
que eu o pregasse entre os gentios... O
contraste entre os versículos 13 e 14, de um lado, e os versículos 15 e 16, do
outro, é dramaticamente abrupto. Vemo-lo claramente nos sujeitos dos verbos.
Nos versículos 13 e 14 Paulo está falando de si mesmo: "perseguia eu a
igreja de Deus... e a devastava... quanto ao judaísmo avantajava-me... sendo
extremamente zeloso das tradições de meus pais." Mas nos versículos 15 e
16 ele começa a falar de Deus. Foi Deus, escreve, "que
me separou antes de eu nascer", Deus "me chamou pela
sua graça", e a Deus "aprouve revelar seu Filho em
mim". Em outras palavras, "no meu fanatismo eu me inclinava a perseguir
e destruir, mas Deus (que eu havia deixado fora de minhas cogitações) me
prendeu e alterou meu impetuoso curso. Todo o meu violento fanatismo nada era
diante da boa vontade de Deus."
Observe como a
iniciativa e a graça de Deus são
enfatizadas a cada estágio. Primeiro,
Deus me separou antes de eu nascer. Assim como Jacó foi escolhido antes de nascer, em
preferência ao seu irmão gêmeo Esaú (cf. Rm 9:10-13), e como Jeremias, designado para ser profeta
antes de nascer (Jr 1:5), Paulo, antes de nascer, foi separado para ser
apóstolo. Desta forma, se ele foi consagrado apóstolo antes mesmo do
nascimento, então é evidente que ele nada tem a ver com isso.
Em segundo lugar, essa escolha antes do
seu nascimento levou à sua vocação histórica. Deus me chamou pela sua
graça, isto é, por seu amor totalmente imerecido. Paulo estivera
lutando contra Deus, contra Cristo, contra os homens. Ele não merecia
misericórdia, nem a pedira. Mas a misericórdia fora ao seu encontro e a graça
o chamara.
Terceiro, aprouve (a
Deus) revelar seu Filho em mim. Quer Paulo esteja se referindo
à sua experiência na estrada de Damasco, ou aos dias imediatamente
subsequentes, o que lhe foi revelado foi Jesus Cristo, o Filho de Deus. Paulo
perseguia a Cristo porque cria que este era um impostor. Agora o seus olhos
estavam abertos para ver Jesus não como um charlatão, mas como o Messias dos
judeus, Filho de Deus e o Salvador do mundo. Ele já conhecia alguns dos fatos
acerca de Jesus (ele não declara que estes lhe foram revelados sobrenaturalmente, naquele
ocasião ou mais tarde, cf. 1 Co 11:23), mas agora percebia o seu
significado. Era uma revelação de Cristo para os gentios, pois a Deus
"aprouve revelar seu Filho em mim, para que eu o pregasse entre os
gentios". Fora uma revelação particular a Paulo, mas para uma comunicação
pública aos gentios. (Cf. At 9:15.) E o que Paulo foi encarregado de
pregar aos gentios não foi a lei de Moisés, como os judaizantes estavam
ensinando, mas as boas novas (o significado do verbo "pregar" no
versículo 16), as boas novas de Cristo. Este Cristo fora revelado, diz Paulo,
"em mim" (literalmente). Nós sabemos que foi uma revelação externa,
pois Paulo declara ter visto Cristo ressuscitado (p. ex., 1 Co 9:1; 15:8, 9).
Essencialmente, porém, foi uma iluminação interior de sua alma, Deus
resplandecendo em seu coração "para iluminação do conhecimento da glória
de Deus na face de Cristo" (2 Co 4:6). E esta revelação foi tão íntima,
tornando-se de tal forma parte dele mesmo, que lhe possibilitou torná-la
conhecida aos outros.
A força destes versículos é muito
grande. Saulo de Tarso fora um oponente fanático do evangelho. Mas Deus se
agradou fazer dele um pregador desse mesmo evangelho ao qual ele antes se
opunha tão ferozmente. Sua escolha antes de nascer, sua vocação histórica e a
revelação de Cristo nele, tudo isso foi obra de Deus. Portanto, nem a sua
missão apostólica nem a sua mensagem vinham dos homens.
Contudo, o argumento do apóstolo ainda
não está completo. Considerando que a sua conversão foi uma obra de Deus, o que
se tornou claro na maneira como aconteceu e pelos seus precedentes, não teria
ele recebido instruções depois de sua conversão, de modo que a
sua mensagem fosse proveniente de homens? Não. Isto também Paulo nega.
3. O que Aconteceu Depois de sua
Conversão (vs. 16b-24)
...não consultei carne e sangue, 17 nem subi a Jerusalém para os que já eram apóstolos antes de mim, mas
parti para as regiões da Arábia, e voltei outra vez para Damasco.
18 Decorridos três anos, então subi a
Jerusalém para avistar-me com Cefas, e permaneci com ele quinze dias; 19 e não vi outro dos apóstolos, senão a Tiago, o irmão do Senhor. 20 Ora, acerca do que vos escrevo, eis que diante de Deus testifico que
não minto. 21Depois fui para as regiões da Síria e da Cilícia. 22 E não era conhecido de vista das igrejas da Judéia, que estavam em
Cristo. 23 Ouviam somente dizer: Aquele que antes nos perseguia, agora prega a fé
que outrora procurava destruir. 24 E
glorificavam a Deus a meu respeito.
Neste parágrafo um tanto longo a ênfase
está na primeira declaração, no final do versículo 16: "não consultei
carne e sangue". Isto é, Paulo diz que não consultou nenhum ser humano.
Sabemos que Ananias foi ao seu encontro, mas evidentemente Paulo não discutiu o
evangelho com ele, nem com qualquer dos apóstolos em Jerusalém. Agora ele
faz esta declaração historicamente. Ele apresenta três álibis para provar que
não gastou tempo em Jerusalém e que seu evangelho não foi moldado pelos outros
apóstolos.
Álibi 1. Ele foi à Arábia (v. 17)
De acordo com Atos 9:20, Paulo
ficou algum tempo em Damasco, pregando, o que dá a ideia de que o seu evangelho
já estava bastante definido para que pudesse anunciá-lo. Mas deve ter ido logo
depois para a Arábia. O Bispo Lightfoot comenta: "Um véu muito
espesso cobre a visita de S. Paulo à Arábia." Não sabemos aonde ele foi
nem por que foi para lá. Possivelmente não foi muito longe de Damasco, porque
todo o seu distrito naquele tempo era governado pelo rei Aretas da Arábia. Há
quem diga que ele foi à Arábia como missionário para pregar o
evangelho. Crisóstomo descreve "um povo bárbaro e selvagem"
que vivia ali, o qual Paulo foi evangelizar. Mas é muito mais provável que ele
tenha ido à Arábia em busca de quietude e solidão, pois este é o ponto alto dos
versículos 16 e 17: "...não consultei carne e sangue... mas parti
para as regiões da Arábia." Parece que ele ficou por lá durante três anos
(versículo 18). Cremos que neste período de afastamento, ao meditar sobre as
Escrituras do Antigo Testamento, sobre os fatos da vida e morte de Jesus, os
quais ele já conhecia, e a experiência de sua conversão, o evangelho da graça
de Deus lhe foi revelado em toda a plenitude. Alguém até já sugeriu que
aqueles três anos na Arábia foram uma deliberada compensação pelos três anos de
instrução que Jesus dera aos outros apóstolos, mas que Paulo não recebera.
Agora era como se ele tivesse Jesus ao seu lado durante três anos de solidão no
deserto.
Álibi 2. Ele foi a Jerusalém mais tarde para uma rápida visita (vs. 18-20)
A ocasião provavelmente é a que se
menciona em Atos 9:26, depois que ele foi tirado às escondidas de Damasco,
sendo descido pelo muro da cidade em um cesto. Paulo é totalmente franco acerca
desta visita a Jerusalém, mas lhe dá pouca importância. Nada havia nela de tão
significativo como os falsos mestres estavam obviamente sugerindo. Diversos
aspectos dela são mencionados.
Primeiro, ela aconteceu
"decorridos três anos" (versículos 18). Isto significa quase
certamente três anos depois de sua conversão, tempo em que o seu evangelho já
fora plenamente formulado.
Depois, quando ele chegou a
Jerusalém, avistou-se apenas com dois apóstolos, Pedro e
Tiago. Ele foi para "avistar-se" (ERAB) ou "conhecer"
(BLH) Pedro. O verbo grego (historesai) era usado no sentido
de fazer turismo e significa "visitar com o propósito de conhecer uma
pessoa" (Arndt-Gingrich). Lutero comenta que Paulo foi visitar esses
apóstolos "não porque recebeu tal ordem, mas de sua própria vontade; não
para aprender alguma coisa com eles, mas apenas par conhecer Pedro". Paulo
também conheceu Tiago, que parece estar aqui relacionado entre os apóstolos
(versículo 19). Não viu, porém, nenhum dos outros apóstolos. Pode ser que eles
estivessem ausentes, ou ocupados demais, ou até mesmo com medo de Paulo (cf.
At 9:26).
Terceiro, ele passou apenas
"quinze dias" em Jerusalém. Naturalmente em quinze dias os apóstolos
teriam tido tempo par falar acerca de Cristo. Mas o que Paulo está destacando é
que, quinze dias não era tempo suficiente para ele absorver de Pedro todo o
conselho de Deus. Além disso, não fora este o propósito da visita. Lemos em
Atos (9:28,29) que grande parte daquelas duas semanas em Jerusalém foi ocupada
em pregações.
Resumindo, a primeira visita de Paulo a
Jerusalém deu-se apenas depois de três anos, durou duas semanas, e ele viu
apenas dois apóstolos. Portanto, é ridículo sugerir que tenha recebido o seu
evangelho dos apóstolos em Jerusalém.
Álibi 3. Ele foi para a Síria e a Cilícia (vs. 20-24)
Esta visita ao extremo norte
corresponde a Atos 9:30, onde lemos que Paulo, estando em perigo de vida,
foi levado pelos irmãos à Cesaréia, de onde o enviaram para Tarso, que fica na
Cilícia. Uma vez que ele diz que também foi "para as regiões da Síria",
ele deve ter visitado novamente Damasco e Antioquia a caminho de Tarso. De
qualquer maneira, o que Paulo está destacando é que estava lá no extremo norte,
e não em Jerusalém. Um resultado disso é que ele "não era conhecido de
vista das igrejas da Judéia" (versículo 22). Estas o conheciam apenas de
ouvir falar, e o rumor que ouviam era que o seu perseguidor de outrora se tornara
pregador (versículo 23). Na verdade, ele se tornara pregador "da fé"
que havia aceitado e que anteriormente "procurava destruir". Sabendo
disto, "glorificavam a Deus a meu respeito". Eles não glorificavam a
Paulo, mas a Deus em Paulo, reconhecendo que este era um troféu extraordinário
da graça de Deus.
Só catorze anos mais tarde (2:1),
presumivelmente anos esses após a sua conversão, Paulo tornou a visitar
Jerusalém e teve um contato mais demorado com os outros apóstolos. A essa
altura dos acontecimentos, o seu evangelho já estava totalmente desenvolvido.
Mas durante o período de catorze anos entre a sua conversão e esta entrevista
ele fez apenas uma rápida e insignificante visita a Jerusalém. O restante desse
tempo ele passou na distante Arábia, na Síria e na Cilícia. Seus álibis provam
a independência do seu evangelho.
O que Paulo diz nos versículos 13 a 24
pode ser resumido da seguinte forma: o fanatismo de sua carreira antes da
conversão, a iniciativa divina na sua conversão e depois, o seu isolamento
quase total dos líderes da igreja de Jerusalém, tudo contribuía para provar que
sua mensagem não era humana, mas divina. Além disso, estas evidências históricas
e circunstanciais não poderiam ser contestadas. O apóstolo pode confirmar e
garantir isso com uma solene afirmação: "Ora, acerca do que vos escrevo,
eis que diante de Deus testifico que não minto!" (versículo 20).
Conclusão
Concluindo, retornamos à afirmação que
estes detalhes autobiográficos procuraram estabelecer. Os versículos 11 e 12
dizem: Faço-vos, porém, saber, irmãos, que o evangelho por mim
anunciado não é segundo o homem; porque eu não o recebi, nem o aprendi de
homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo. Tendo
considerado a falta de contato de Paulo com os apóstolos de Jerusalém duranteos
primeiros quatorze anos do seu apostolado, podemos aceitar a origem divina
de sua mensagem? Muitos não aceitam.
Há pessoas que, embora admirem o
intelecto sólido de Paulo, acham que seus ensinamentos são severos, áridos e
complicados; por isso os rejeitam.
Outros dizem que Paulo foi responsável
pela corrupção do Cristianismo simples de Jesus Cristo. Estava na moda, cerca
de um século atrás, estabelecer uma brecha entre Jesus e Paulo. Contudo, de um
modo geral reconhece-se atualmente que não se pode fazer isto, pois todas as
sementes da teologia de Paulo se encontram nos ensinamentos de Jesus. Não
obstante, a "teoria da brecha" ainda tem os seus advogados. Por
exemplo, Lord Beaverbrook escreveu uma pequena vida de Cristo
que ele intitulou The Divine Propagandist (O
Propagandista Divino). Ele nos informa que a escreveu "como um homem de
negócios", e que estava "tentando entender Jesus à luz trêmula de
uma inteligência limitada e uma pesquisa certamente restrita". "Eu
vasculhei os evangelhos e ignorei a teologia", ele diz. Seu tema é que a
igreja tem entendido mal e representado mal a Jesus Cristo. Quanto ao apóstolo
Paulo, a opinião de LordBeaverbrook é que ele foi "incapaz, por
natureza, de entender o espírito do Mestre". Ele “prejudicou
o Cristianismo e deixou suas marcas, eliminando muitos dos traços das pegadas
do seu Mestre". Mas Paulo não pode ter representado mal a Cristo se estava
transmitindo uma revelação especial de Cristo, que é o que ele declara em
Gálatas 1.
Outras pessoas acham que Paulo era um
homem comum, que participava de nossas paixões e nossa falibilidade, de modo
que a sua opinião não é melhor do que a de qualquer outra pessoa. Mas Paulo
diz que a sua mensagem não é segundo os homens, mas vem de Jesus Cristo.
Outros, ainda, dizem que Paulo
simplesmente refletiu a opinião da comunidade cristã do primeiro século. Nesta
passagem, porém, Paulo se esforça para mostrar que a sua autoridade não era
eclesiástica. Ele foi totalmente independente dos líderes da igreja, e recebeu
seus pontos de vista de Cristo, e não da igreja.
Este, portanto, é o nosso dilema. Vamos
aceitar as palavras de Paulo quanto à origem de sua mensagem, apoiadas como
estão por sólidas evidências históricas? Ou será que vamos preferir nossa
própria teoria, embora não tenha o apoio de qualquer evidência histórica? Se
Paulo está certo ao dizer que o seu evangelho não veio de homens, mas de Deus
(cf. Rm 1:1), então rejeitar Paulo é rejeitar a Deus.
Bibliografia J. R. W. Stott+ www.ebareiabranca.com
A APOSTASIA
DOS GÁLATAS (1:6-10)
6. Admira-me: no
lugar das ações de graças usuais o apóstolo dá vazão a uma expressão
irrestrita de assombro, chamando a atenção para um assunto sobre o qual seus
sentimentos eram claramente profundos.
tão depressa: parece que a referência diria respeito
à rapidez com que os gálatas estavam aceitando um evangelho falso, e neste caso
o evento referido deve ser o começo do falso ensino. É possível, naturalmente,
identificar o evento como sendo a ocasião em que se converteram, e a causa do
assombro de Paulo seria então a rapidez com que abandonaram o evangelho
verdadeiro. A referência pode estar também ligada à última visita do apóstolo.
Mas a primeira destas interpretações se enquadraria melhor no contexto
estejais passando: o verbo é pitoresco, usado tanto para
uma revolta militar quanto para uma mudança de atitude. O apóstolo pensa nos
leitores em termos de quem mudou de partido. Era um caso sério de apostasia.
Outro evangelho estava exigindo uma lealdade que deveria ter sido exclusiva do
evangelho verdadeiro. O assombro de Paulo diante de tal acontecimento é
facilmente entendido.
daquele que
vos chamou: não resta praticamente dúvida de que esta frase se refere a Deus Pai. O
partido da oposição entre os gálatas certamente teria ficado surpreso ao ficar
sabendo que na verdade estava se afastando do próprio Deus. Seu entusiasmo
centralizava na lei de Deus; como, pois, era possível dizer que estavam
desertando dEle? Paulo teria compreendido isto muito bem, porque ele mesmo imaginara estar prestando um serviço a
Deus enquanto perseguia a Igreja. Este tipo de ilusão é um dos mais
difíceis de lidar porque contém um forte elemento de convicção piedosa. Mas no
momento em que se reconheça que o entusiasmo religioso para com a lei de Deus
pode acabar transformando-se numa deserção do próprio Deus, há esperança de que
a verdadeira natureza do evangelho venha a ser discernida.
na graça
de Cristo: alguns manuscritos omitem "de Cristo", mas quase toda
evidência o apoia. De qualquer maneira, a palavra "graça" subentende
uma ligação com Cristo. A escolha da palavra "graça" por Paulo,
pretende provavelmente contrabalançar a ênfase dada à "lei"
pelos apóstatas. Eles devem aprender que Deus os chamou pela graça e não pela
lei. Sua falha em compreender isto fora um erro fundamental. A preposição (en) pode
ser entendida como sendo instrumental (= por meio de), embora isto não esgote o
significado aqui. Pode também sugerir a esfera em que a chamada torna-se
efetiva, ou até referir-se à entrada numa nova condição. Neste último
caso en representaria eis, mas esta
possibilidade é mais artificial que as demais. Uma vez que o apóstolo estava
pensando na mudança de posição dos gálatas, certo significado local em en se
adaptaria melhor ao contexto. A implicação é que os gálatas, com seu evangelho
diferente, estavam saindo da graça para dentro da qual tinham sido chamados.
para outro
evangelho: o adjetivo expressa uma diferença de tipo, e, portanto, diferencia o
evangelho dos falsos mestres daquele pregado por Paulo. Mas em que sentido o
evangelho deles é diferente? Não há evidência de que houvesse qualquer disputa
quanto aos fatos do evangelho. A diferença consistia na variação das
aplicações desses fatos. Sem dúvida, os falsos mestres acreditavam firmemente
que sua posição representava na verdade o evangelho, mas Paulo indica que a
aplicação do mesmo feita por eles representa, na realidade, um
evangelho essencialmente diverso.
7. o qual
não é outro: parece que Paulo se corrige aqui, como se
reconhecesse repentinamente que aquilo que acabara de dizer pudesse dar a
impressão de que estava disposto a atribuir a palavra "evangelho" a
qualquer outra forma de ensino. Na realidade, não pode haver outro evangelho,
se "evangelho" for entendido como descrição do caminho divino da
salvação em Cristo. Aquilo que estas
outras pessoas estão ensinando é uma perversão (Duncan). Paulo tem
uma idéia clara daquilo que queria dizer com "evangelho",
mas não se deve supor que fosse uma noção particular sua, pois neste caso, suas
palavras não teriam peso. Com toda probabilidade, havia uma
definição geralmente aceita daquilo que era básico ao conceito. A Igreja
moderna tornou-se menos clara quanto à natureza do evangelho, mas faria bem em
meditar a importância que Paulo atribui
aqui às distinções entre o evangelho verdadeiro e o falso.
há alguns
que vos perturbam: em outras ocasiões Paulo se refere aos oponentes sem mencioná-los pelo
nome (cf. Gl 2:12; 1 Co 4:18; 2 Co 3:1; 10:2). Os leitores os identificariam
imediatamente. A palavra usada aqui para "perturbar" (tarassontes) pode
referir-se à agitação física, distúrbio mental, ou atividade subversiva. Usada
em conjunto com a metáfora de deserção, o último destes três sentidos é
preferível.
perverter: o termo (metastrephõ) significa
transferir para uma opinião diferente, daí, mudar o caráter essencial de uma
coisa. A palavra não precisa subentender degeneração, mas onde aquilo que é
mudado é bom, a mudança deve envolver a idéia da perversão, como
aqui. Não se trata de uma simples distorção do evangelho; mas, sim, de dar-lhe
uma ênfase que virtualmente o transformava em outra coisa. Desta maneira,
Paulo demonstra sua compreensão magistral dos princípios por detrás da
política dos falsos mestres. Uma salvação dependente da circuncisão; e, por
implicação, das observâncias legais, não era de modo algum um evangelho
verdadeiro, mas uma perversão. Vale a pena notar que Paulo coloca sobre os
falsos mestres a responsabilidade pela anomalia, ao demonstrar que eles mesmos
querem (thelontes) perverter.
o evangelho
de Cristo: posto que no grego o artigo é usado com o nome de Cristo, o genitivo
deve ser considerado uma definição do evangelho num senso específico. Era o
evangelho que pertencia ao Messias, mas aqueles que o pervertiam professavam
serem zelosos pelas suas reivindicações messiânicas ao insistirem numa
aplicação essencialmente judaística. O genitivo também poderia ser
entendido como uma descrição do evangelho que Cristo proclamava (i.
e., um genitivo subjetivo, cf. Williams), mas a primeira interpretação
está mais em harmonia com o contexto.
8. Mas,
ainda que nós, ou mesmo um anjo vindo do céu: Paulo está
antecipando aqui uma objeção. Os falsos
mestres poderiam alegar que aquilo que acaba de descrever como sendo o
evangelho de Cristo realmente é o evangelho de Paulo. É bem possível
terem dito aos gálatas não haver razão para o evangelho de Paulo estar certo e
não o deles, especialmente no caso de estarem alegando tratar-se do mesmo
evangelho. Mas o apóstolo assevera com forte ênfase que o único evangelho
autêntico é aquele originalmente pregado por ele. Nem o próprio Paulo nem um
anjo poderia alterá-lo. O evangelho não era de Paulo, mas de Cristo. Este fato
o tomava imutável.
que vá
além: ou "contrário a" (RSV), não é a única interpretação das palavras
gregas (par’ho), embora seja quase certamente correta aqui.
Paulo está pensando nas afirmações dos falsos mestres, como sendo
absolutamente contrárias à verdade do evangelho. Isto é expresso de modo ainda
mais enfático do que a referência à perversão no versículo anterior. As
palavras podem significar "além de", e neste caso o anátema seria
contra acréscimos ao evangelho puro, como, por exemplo, nas tradições dos
homens. Alguns dos primeiros protestantes interpretavam assim a expressão na
sua denúncia do apelo católico romano à tradição eclesiástica, como sendo
equivalente à Bíblia. Num certo sentido, Paulo talvez estivesse pensando na
exigência da circuncisão, feita por estes mestres, como sendo um acréscimo ao
evangelho originalmente pregado aos gálatas, mas a forte acusação sugere que
Paulo considera as ações deles como sendo a antítese direta do evangelho
verdadeiro.
anátema: a palavra anathema é relacionada
com o hebraico herem, usado para aquilo que era dedicado a
Deus, usualmente para a destruição. Alguns
têm suposto que a palavra era usada entre os judeus para expressar a excomunhão (assim
Williams). No usoneotestamentário é uma expressão forte, indicando
separação de Deus. Ela subentende a desaprovação de Deus. Realmente,
"anátema" é o contraste máximo com a graça de Deus. Seu uso aqui como
uma asseveração contra os que pervertem o evangelho, reflete a avaliação de
Paulo quanto à gravidade do ponto de vista deles. Não se tratava de uma
explosão irada pelo fato de estarem abandonando aquilo que Paulo pregara. Não
era uma questão de prestígio pessoal, mas a própria essência do evangelho
estava em jogo. Se os falsos mestres estavam diretamente contradizendo o
evangelho da graça de Cristo, não haveria qualquer possibilidade de evitarem
incorrer no forte desagrado de Cristo. É de certo modo estranho que Paulo se expressasse
tão violentamente antes mesmo de delinear a natureza da perversão, mas isso
demonstra a intensidade das apreensões do apóstolo acerca do problema. Na
Igreja primitiva o caráter sagrado do evangelho era mais plenamente apreciado
do que tem sido frequentemente o caso na história subsequente da Igreja. Nos tempos modernos tem havido uma forte tendência no
sentido de confundir as personalidades com o conteúdo do evangelho, mas a inclusão
do próprio Paulo ou mesmo de um anjo na possibilidade de um anátema torna
indisputavelmente clara a superioridade da mensagem sobre o mensageiro.
Para o uso semelhante de um anátema, cf. 1 Co 12:3; Rm 9:3.
9. Assim
como já dissemos...: este versículo é quase uma repetição
exata do v. 8. Mas, por que Paulo se repete? Ele não poderia deixar de
impressionar os leitores com um senso de solenidade ao pronunciar o
anátema duas vezes. A única mudança é a substituição de "que
recebestes" por "que vos tenhamos pregado". O enfoque muda,
portanto, dos mensageiros para os ouvintes. Os dois juntos refletem o aspecto
cooperativo da origem de cada nova comunidade de crentes. Paulo não só pregou
pessoalmente o evangelho, mas este foi também plenamente reconhecido por
aqueles que o receberam. A palavra proeirèkamen pode referir-se
àquilo que fora dito por Paulo na sua última visita às igrejas da Galácia
(assim Duncan), ao invés de à declaração do versículo anterior. Diz-se que esta
última interpretação é excluída pelo uso de arti (agora) na
frase seguinte (e agora repito), visto que a declaração deste
versículo pareceria estar separada por um intervalo daquilo que Paulo dissera
previamente (Lightfoot). Se isto for correto, os gálatas não têm desculpa
alguma. Sabiam que um evangelho contrário envolveria um anátema, mas persistiram
na sua atividade subversiva.
daquele que
recebestes: o verbo usado aqui expressa a comunicação do ensino cristão autorizado.
O próprio Paulo já estivera na situação de recipiente neste processo,
conforme 1 Coríntios 15:3ss. deixa claro, a despeito
daquilo que diz no v. 12 (veja o comentário abaixo). É preciso mais do que
pregar o evangelho, ele precisa ser recebido. O processo da transmissão é
completo somente quando os homens reconhecem que a mensagem pregada é o
evangelho de Deus, e uma vez que isto tenha sido feito, não têm desculpa para
desviar-se dele.
10. Porventura
procuro eu agora o favor dos homens? O "agora"
desta declaração reforça o "agora" no v. 9. Subentende que Paulo está
respondendo a uma acusação de que seus motivos se alteraram desde a primeira
ocasião em que pregou a eles. Sua pergunta retórica sugere que a acusação de
procurar proveito próprio estava sendo feita contra Paulo, sem dúvida com a
intenção de desacreditá-lo e, portanto, refutar sua influência. "Procurar
favor" (peithō) significa, no contexto,
"conciliar", e a ideia parece ser que Paulo, ao afrouxar a exigência
da circuncisão para os convertidos gentios, estava facilitando a entrada dos
interessados no cristianismo. Em resumo, ele procurava agradar ao povo.
ou o
de Deus? Talvez pareça estranho que Paulo declarasse como segunda alternativa a
ideia de procurar ganhar o favor de Deus, se é que o verbo deve ser entendido
neste sentido. É melhor tomar por certo que esta segunda parte da pergunta
significa: Estou procurando a aprovação de Deus? Parece haver uma pressuposição distinta de que o ser humano tem uma
escolha direta entre agradar a homens ou agradar a Deus, e os que fazem a
primeira opção não podem fazer também a segunda. Era da máxima importância para Paulo
demonstrar que estava nesta última categoria.
ou procuro
agradar a homens? A primeira das perguntas retóricas é repetida para ênfase adicional,
com uma mudança significativa do verbo, de "conciliar" para
"agradar" (areskein). É mais do que repetição que
está envolvida. O primeiro verbo refere-se a tornar simples para os homens
aceitarem o evangelho, ao passo que este verbo sugere o emprego da lisonja
tendo em vista a obtenção da popularidade.
Se... não seria
servo de Cristo: a ideia de Paulo como interesseiro pode ser imediatamente refutada por
um apelo à sua experiência. A escravidão a Cristo tinha a probabilidade de
levar à popularidade? A palavra usada (doulos) sugere tal
servidão a Cristo que qualquer ideia de popularidade seria totalmente estranha.
Paulo usa a mesma descrição da sua categoria na saudação da Epístola aos
Romanos (cf. também Tt 1:1).
fonte www.ebdareiabranca.com
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