FALSOS PROFETAS
Sempre
houve no meio do povo de Deus impostores, que falavam falsamente em nome do
Senhor, isto é, aquilo que o Eterno não falara, conduzindo o povo incauto ao
erro. Este assunto é tão atual como o foi nos tempos de Jeremias (Jr 14.14;
23.25; 28.15), de Jesus (Mt 7.15) e dos apóstolos (At 13.6; 20.30; 2 Pe 2.1; 1
Jo 4.1). Que o Senhor, por sua misericórdia, levante homens e mulheres aptos a
defender a Igreja contra os falsos profetas desses últimos dias (Mt 24.11,24; 2
Pe 2.1.
CONCEITOS
Profeta. Na Bíblia, o termo profeta designa aquele que
é chamado por Deus para transmitir a mensagem divina ao povo (Jr 1.5,9; Ez
2.1-7; Dt 18.18). Em outras palavras, os autênticos profetas são porta-vozes de
Deus; o próprio Senhor os chama "meus profetas" (Sl 105.15; Jr 7.25).
Sua responsabilidade é de grande peso (Ez 2.1-7; 3.10,11), uma vez que eles
são, na verdade, "homens de Deus", conforme está dito onze vezes em 1
Reis 4. Estes servos de Deus transmitem a Sua vontade e seus desígnios, além de
desvendar o futuro segundo a inspiração do Espírito Santo. Todavia, a própria
Palavra de Deus nos orienta que devemos nos acautelar dos falsos profetas (Mt
7.15).
Profecia. A profecia, tanto no Antigo como no Novo
Testamento, é primeiramente declarativa e, depois, preditiva. A profecia
preditiva revela-nos o plano divino em relação a Israel, a Igreja, aos gentios
e a plena chegada do Reino de Deus. A maior parte das profecias, porém, é
declarativa, pois é constituída de exortação, admoestação, encorajamento,
promessa, advertência, julgamento, consolo. Em o Novo Testamento, a profecia é
um meio divino de orientar, exortar e edificar a igreja (1 Co 14.3,4).
a)
Aspectos da atividade profética. A profecia
pode ser vista na Bíblia como um ministério permanente recebido de Deus (2 Rs
17.13; Jr 7.25; Lc 16.16; Hb 1.1); um dom ministerial na igreja (Ef 4.11-13;
3.5); e um dom espiritual na congregação (At 2.17,18; 1 Co 12.10; 14.1-4). O
"dom de profecia" é uma capacitação sobrenatural do Espírito Santo
concedida para transmitir a mensagem divina.
b) A
profecia como dom ministerial em o Novo Testamento. A profecia como ministério profético não é uma
pregação comum; é uma mensagem vinda diretamente do Espírito Santo. A pregação
habitual, no entanto, é preparada antecipadamente (1 Tm 5.17). Como precisamos
deste dom hoje na igreja! Ver Provérbios 29.18; Atos 15.32.
O profeta
é um arauto da santidade de Deus; sua missão é expor com unção os padrões da
santidade divina para o povo. O seu espírito ferve com santo zelo para anunciar
a santidade de Deus e de tudo o que é dEle! O profeta de Deus faz os santos
regozijarem-se no Senhor, mas também faz o ímpio estremecer e considerar o seu
mau caminho. Ver Atos 24.24,50.
c) O dom
de profecia (1 Co 12.10; 14.3,31). A profecia é o principal dom espiritual porque
edifica a congregação (1 Co 14.4). Além disso, a profecia é um
"sinal" para a igreja, enquanto as línguas são um "sinal"
para os infiéis (1 Co 14.22).
d) A
natureza da profecia. Devemos
discernir a "profecia da Escritura", a qual é inerrante (2 Pe 1.20),
da profecia da Igreja; esta deve ser julgada e só então acatada (1 Co 14.29). A
manifestação do dom de profecia durante o culto deve ter limite. "Falem
dois ou três profetas" (1 Co 14.29). Isto é, a maior parte do tempo do
culto tem de ser destinada à exposição da Palavra de Deus, porque sendo esta
soberana jamais poderá ser substituída pelo dom de profecia.
A FALSA PROFECIA
Atualmente,
observamos diversas pessoas correndo de igreja em igreja em busca de
"profecias" e de "revelações". Tais "crentes", na
verdade, querem respostas para seus problemas pessoais (2 Tm 4.3). Como já
vimos em 1 Coríntios 14.3, o propósito divino da profecia é consolar, exortar e
edificar. Qualquer profecia que fuja a este propósito não procede de Deus e
jamais se cumprirá (Dt 18.22).
Julgando
as profecias pela Palavra. A profecia
na igreja necessita ser julgada (1 Co 14.29), mas quais os parâmetros para o
seu julgamento? A resposta é a própria Palavra de Deus, que é nosso modelo
áureo e referência plena de fé; o guia da nossa vida, do nosso culto ao Senhor,
e do nosso desempenho no seu trabalho (2 Tm 3.16,17). Qualquer profecia na
igreja que entre em conflito com os ensinamentos e doutrinas bíblicas não pode
vir de Deus.
Os falsos
mestres e profetas, como nos tempos do Antigo Testamento, enganam o povo,
porque são emissários do Diabo (Jo 8.44). Todavia, a Bíblia declara: "Nenhuma
mentira vem da verdade" (1 Jo 2.21). O crente fiel, que sempre ora e lê a
Palavra de Deus, compara aquilo que ouve com o que está escrito na Escritura, a
fim de comprovar a veracidade das profecias enunciadas na igreja.
Julgando o falso profeta pelos frutos. Jesus Cristo nos adverte a respeito de falsos
profetas que se infiltram no meio do povo de Deus. Apesar da aparênciade
piedade, não passam de agentes de Satanás; sua missão: corromper a fé dos
salvos e destruir a unidade da Igreja (Mt 7.15-23). Muitos deles operam sinais
e prodígios (Mt 24.24), mas tudo isto fazem sob a eficácia de Satanás (2 Ts
2.9,10). Como identificá- los? Como saber se estão em nosso meio? A resposta é:
conhecendo a Palavra de Deus e tendo o discernimento pelo Espírito Santo. Além
disso, os seus frutos são uma irrefutável evidência de sua mentira e falsidade
(Gl 5.22,23). A árvore má não pode dar frutos bons (Mt 7.16-20).
ENSINOS FALSOS
Uma
característica dos falsos mestres é ensinar o que as pessoas querem ouvir
independentemente se estão erradas ou não (Jr 5.31; 1 Rs 22.12-14). Deus age de
forma diferente para conosco. Ele fala, não o que gostamos de ouvir, mas o que
precisamos ouvir, e corrige-nos sempre quando estamos errados porque nos ama
(Hb 12.4-13).
A busca do ser humano pela prosperidade. Desde o princípio, o ser humano luta para
adquirir e acumular riquezas, geralmente, de modo ilícito. Atualmente, esta
busca tornou-se uma alucinação. A crise econômica mundial, o anseio por
manter-se a salvo da miséria, o incentivo da mídia por um consumismo cada vez
mais exacerbado e as incertezas do amanhã, formam um ambiente ideal para o
surgimento de falsas doutrinas e profecias. O povo não se satisfaz com o que o
Senhor garante aos seus filhos (Mt 6.25-33; Pv 30.8,9), mas deseja riquezas
que, muitas vezes, são vistas como bênçãos divinas. A Bíblia adverte-nos contra
essa busca insensata pelos bens e contra os que a encorajam mediante os seus
ensinos (1 Tm 6.6-11, 17-19; Sl 62.10).
O menosprezo da glória de Cristo. Os vv.1-3 da "Leitura Bíblica em Classe"
são, em primeiro plano, uma refutação ao gnosticismo, um falso credo que negava
a divindade de Cristo nos primeiros séculos da Igreja. Os ensinos dos gnósticos
negam o sofrimento de Jesus e o valor de seu sacrifício na cruz para expiação
dos pecados e salvação dos pecadores. (1 Pe 2.21-24; Rm 5.5-9; 2 Co 5.21).
O
sofrimento de Cristo na cruz e sua morte sequencial são dois elementos que
comprovam a sua humanidade. Este mesmo Jesus ressuscitou em corpo glorioso e
entrou onde estavam os discípulos reunidos a portas fechadas. Os discípulos que
tocaram nEle após sua ressurreição viram-no ser assunto aos céus, e os anjos
que ali estavam, afirmaram que o Senhor que ascendera aos céus, de lá voltará
(At 1.10,11).
Hoje,
muitos falsos profetas tentam afastar a Igreja do seu alvo descrito nas
Escrituras, mediante a pregação de um evangelho fácil, sem renúncia, sem
compromisso, sem santidade; um evangelho que apregoa apenas o apego pelos bens
materiais. Assim como um marketing empresarial, tal evangelho emprega a mídia
audiovisual com o objetivo de manipular as emoções do homem.
Deus
sempre advertiu seus servos contra os falsos profetas. Portanto, devemos estar
prevenidos contra todo e qualquer ensino ou profecia que não esteja em
consonância com a Palavra de Deus, sabendo que o fim desses promotores da
maldade, que intentam desviar o povo de Deus, é perecer em sua própria
corrupção (2 Pe 2.1-22).
"João
começa com a declaração de que existem falsos profetas, bem como profetas
verdadeiros, e com a ordem aos cristãos para que façam uma distinção entre
eles. Ao mesmo tempo, ele indica qual é o ponto importante em fazer essa
distinção. Não é se o fenômeno sobrenatural está presente, pois o Diabo também
pode realizar milagres. É uma questão de definir a fonte da inspiração do
profeta. Seria Deus? Nesse caso, o profeta é verdadeiro. Se não é Deus, então
ele não deve merecer crédito nem ser seguido, independentemente de quão grande
seja a sua sabedoria ou de quanto impacto sua atividade provoque.
Quando
João diz que muitos falsos profetas virão ao nosso mundo, não necessariamente
está pensando a respeito de sua época. De fato, ele saberia que sempre houve falsos
profetas e que o povo de Deus sempre teve a tarefa de distinguir entre aqueles
que são de Deus e aqueles que falam da parte de si mesmos ou pelo poder do
Diabo."(BOICE, J. M. As epístolas de João. RJ:
CPAD, 2006, p.127).
A Bíblia
nos declara que a intimidade do Senhor é para aqueles que o temem (Sl 25.14).
Infelizmente, observamos nos últimos dias muitos homens e mulheres se
autoproclamando íntimos e detentores dos segredos de Deus. Entretanto, quando
atentamos para a vida deles, constatamos uma total falta de temor. Um dos
termos gregos traduzido como temor (gr. Phobos) significa ter grande respeito pela
majestade e santidade de Deus. Temer a Deus é ter a consciência de quem Ele é,
um Deus santo e justo, que não se deixa escarnecer.
Em
tempos de falsos profetas, é recomendável aos profetas temer a Deus antes de
mais nada, uma vez que falar em nome Dele é algo profundamente sério. E aos
membros do Corpo de Cristo, é imprescindível o discernimento. Talvez nosso
maior problema hoje não seja a secularização da igreja, mas a falsa
"espiritualidade", uma vez que aquela é facilmente identificada, no
entanto, esta somente por intermédio do dom de discernir os espíritos.
Espíritos enganadores
Pelas Sagradas Escrituras, compreendemos que estamos nos últimos
tempos da Igreja na Terra. Todos os sinais que precedem a Vinda de Cristo estão
tendo o seu cumprimento cabal. Entre eles, a apostasia da fé promovida por
Satanás e seus demônios. “Mas o Espírito expressamente diz que, nos últimos
tempos, apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores e a
doutrinas de demônios”, 1Tm 4.1. Dentro da linguagem evangélica, entendemos que
Satanás tem comissionado seus demônios como “espíritos enganadores” que se
intrometem no seio da igreja para enganar. Não temos que adivinhar onde estão e
como operam tais espíritos, porque temos o Espírito Santo, que habita na vida
da Igreja para revelar os ardis e as obras de engano.
Na passagem citada, apóstolo Paulo reforçou o papel do Espírito Santo: “O Espírito expressamente diz...”. O contexto dessa passagem desvenda graciosamente para a Igreja “o mistério da piedade” na pessoa de Jesus Cristo e a Igreja como agente demonstrador desse mistério. Portanto, a Igreja está na Terra para sustentar essa revelação de Jesus Cristo contra os poderes do mal, porque ela é “a coluna e firmeza da verdade”.
Precisamos entender que existem dois mistérios sobrenaturais propagados por agentes humanos: o de Deus e o do Diabo. O mistério de Deus é propagado pela Igreja e o mistério do Diabo é propagado por “espíritos enganadores” influenciados por demônios. O Espírito Santo vive na Igreja de Cristo para torná-la apta a refutar as sutilezas do Diabo.
A expressão espíritos enganadores pode ter uma referência dupla, tanto a demônios literalmente como a homens que se tornam agentes de demônios. A Bíblia os identifica como “homens maus e enganadores... enganando e sendo enganados” (2Tm 3.13; 2Jo 7 e 2Pe 2.1). Existem pessoas que se colocam a serviço de Satanás para propagar e disseminar doutrinas falsas e negar as verdades divinas. Essas pessoas tornam-se, indubitavelmente, “espíritos enganadores”.
“Últimos tempos” equivale à expressão “últimos dias” do apóstolo Pedro em sua mensagem no Dia de Pentecostes (At 2.17). A palavra de Paulo a Timóteo mostra que Satanás opera e manifesta o mistério da iniqüidade nestes últimos tempos, quando se constata a exploração do misticismo em nome do Evangelho de Cristo. “Espíritos enganadores” se intrometem no seio das igrejas e produzem falsos sinais e prodígios para impressionar as pessoas. Aqueles crentes incautos e símplices acabam se deixando levar pelo engano. A Palavra de Deus é torcida e heresias surgem de modo assustador.
Os espíritos de engano envolvem a muitas pessoas, as quais acabam se tornando instrumentos de iniqüidade sob o comando subjetivo de Satanás. Esse tipo de problema tem produzido, também, racionalismo barato e incredulidade quanto aos milagres sobrenaturais. Para deter a operação do espírito do engano, a liderança evangélica precisa ensinar mais a Palavra de Deus ao povo. A liturgia de nossos cultos está sendo sufocada por programações tão extensas e intensas que não há mais espaço para a Palavra de Deus. Somente a Palavra poderá sufocar e deter ao poder dos espíritos enganadores que se intrometem em nossas igrejas.
A palavra apostasia significa negação e abandono da fé cristã. Nos primórdios da Igreja, Paulo já percebia alguns sinais típicos do ataque sorrateiro dos espíritos de engano. O texto faz-nos entender que certas pessoas desqualificadas espiritualmente se deixariam levar por esses espíritos, tornando-se agentes do engano. Essas pessoas produziriam conceitos falsos de salvação, de santidade, de regras sociais. Algumas igrejas e lideranças acabam se desviando das prioridades divinas e aderem à práticas incoerentes com o verdadeiro cristianismo, insuflando falsos conceitos, para dominar os sentimentos e os corações das pessoas por procedimentos antibíblicos. Esses “espíritos enganadores” induzem as suas vitimas ao auto-engano, pois se escravizam a certos comportamentos que ofendem ao Espírito Santo. Nós fomos chamados à liberdade em Cristo, não à escravidão de regras de homens. Normalmente, esses espíritos enganadores enganam-se a si mesmos porque não conseguem praticar suas próprias regras e idéias. Que Deus nos guarde dos espíritos enganadores!
Na passagem citada, apóstolo Paulo reforçou o papel do Espírito Santo: “O Espírito expressamente diz...”. O contexto dessa passagem desvenda graciosamente para a Igreja “o mistério da piedade” na pessoa de Jesus Cristo e a Igreja como agente demonstrador desse mistério. Portanto, a Igreja está na Terra para sustentar essa revelação de Jesus Cristo contra os poderes do mal, porque ela é “a coluna e firmeza da verdade”.
Precisamos entender que existem dois mistérios sobrenaturais propagados por agentes humanos: o de Deus e o do Diabo. O mistério de Deus é propagado pela Igreja e o mistério do Diabo é propagado por “espíritos enganadores” influenciados por demônios. O Espírito Santo vive na Igreja de Cristo para torná-la apta a refutar as sutilezas do Diabo.
A expressão espíritos enganadores pode ter uma referência dupla, tanto a demônios literalmente como a homens que se tornam agentes de demônios. A Bíblia os identifica como “homens maus e enganadores... enganando e sendo enganados” (2Tm 3.13; 2Jo 7 e 2Pe 2.1). Existem pessoas que se colocam a serviço de Satanás para propagar e disseminar doutrinas falsas e negar as verdades divinas. Essas pessoas tornam-se, indubitavelmente, “espíritos enganadores”.
“Últimos tempos” equivale à expressão “últimos dias” do apóstolo Pedro em sua mensagem no Dia de Pentecostes (At 2.17). A palavra de Paulo a Timóteo mostra que Satanás opera e manifesta o mistério da iniqüidade nestes últimos tempos, quando se constata a exploração do misticismo em nome do Evangelho de Cristo. “Espíritos enganadores” se intrometem no seio das igrejas e produzem falsos sinais e prodígios para impressionar as pessoas. Aqueles crentes incautos e símplices acabam se deixando levar pelo engano. A Palavra de Deus é torcida e heresias surgem de modo assustador.
Os espíritos de engano envolvem a muitas pessoas, as quais acabam se tornando instrumentos de iniqüidade sob o comando subjetivo de Satanás. Esse tipo de problema tem produzido, também, racionalismo barato e incredulidade quanto aos milagres sobrenaturais. Para deter a operação do espírito do engano, a liderança evangélica precisa ensinar mais a Palavra de Deus ao povo. A liturgia de nossos cultos está sendo sufocada por programações tão extensas e intensas que não há mais espaço para a Palavra de Deus. Somente a Palavra poderá sufocar e deter ao poder dos espíritos enganadores que se intrometem em nossas igrejas.
A palavra apostasia significa negação e abandono da fé cristã. Nos primórdios da Igreja, Paulo já percebia alguns sinais típicos do ataque sorrateiro dos espíritos de engano. O texto faz-nos entender que certas pessoas desqualificadas espiritualmente se deixariam levar por esses espíritos, tornando-se agentes do engano. Essas pessoas produziriam conceitos falsos de salvação, de santidade, de regras sociais. Algumas igrejas e lideranças acabam se desviando das prioridades divinas e aderem à práticas incoerentes com o verdadeiro cristianismo, insuflando falsos conceitos, para dominar os sentimentos e os corações das pessoas por procedimentos antibíblicos. Esses “espíritos enganadores” induzem as suas vitimas ao auto-engano, pois se escravizam a certos comportamentos que ofendem ao Espírito Santo. Nós fomos chamados à liberdade em Cristo, não à escravidão de regras de homens. Normalmente, esses espíritos enganadores enganam-se a si mesmos porque não conseguem praticar suas próprias regras e idéias. Que Deus nos guarde dos espíritos enganadores!
O falso profeta
Ele não vacila em usurpar a glória devida apenas ao Senhor da
glória
Introdução
Quem já não se defrontou com um falso profeta? Inescrupuloso e arrogante, joga ele a igreja contra o pastor, leva os obreiros à desinteligência e, habilmente, induz os santos à apostasia. Aliás, ele não vacila em usurpar a glória devida apenas ao Senhor da glória.
Certa vez, um desses indivíduos enfrentou Jeremias. Patrocinado pelo estado e contando com a simpatia de boa parte da população, tinha aquele operário de Satanás, como objetivo, perverter os caminhos do Senhor e desviar os filhos de Israel da verdade. Refiro-me ao soberbo e atrevido Hananias. Antes de tecermos outros comentários a seu respeito, vejamos o que é o profeta.
I. O que é o profeta
1. Definição. A palavra profeta vem do hebraico nabbi. Este vocábulo, por seu turno, origina-se do verbo dabar: dizer, falar. O profeta, por conseguinte, é o homem que fala por Deus. O vocábulo grego prophete, do qual veio a palavra portuguesa profeta, significa literalmente aquele que fala em lugar de outrem.
2. A função do profeta. Era a função precípua do profeta proclamar os desígnios e arautos de Deus, a fim de reconduzir o povo à obediência da lei divina (Ez 33.7). Nem sempre revelar o futuro era a sua principal tarefa.
3. A prova de autenticidade do profeta. Se o profeta predisser alguma coisa, e esta se cumprir, será ele reconhecido como autêntico mensageiro de Deus (Dt 21,22). Caso contrário, que seja alijado da comunidade dos santos. Dessa forma determinava o Deuteronômio.
Não basta, porém, a profecia cumprir-se para o profeta ser considerado autêntico (Dt 13.1-5). Isto porque, os enganadores, inspirados pelos demônios, embora não conheçam o futuro, podem, através de ardis e estratagemas, fazer com que o óbvio pareça certeiro cumprimento profético. É por isso que temos de julgar as profecias e discernir os espíritos (1Co 14.29; 1Jo 4.1). Vejamos, pois, o caso de Hananias.
II. O falso profeta Ananias entra em cena
1. Quem era Hananias. Ele era do tipo que impressionava. Falava como profeta, tinha discurso de profeta e vestia-se como profeta. Além do mais, era ele mais dramático que os profetas de Deus.
Falando somente o que o povo queria ouvir, vinha ele, genericamente, profetizando a paz. Mas, agora, eis que se apresenta com uma profecia específica e impressionante.
2. As palavras de Hananias. Foi no auge da crise espiritual e política de Judá que Hananias entra em cena, perturbando o povo e opondo-se tenazmente a Jeremias. Se este exortava Judá a aceitar o jugo babilônico, como Deus o requeria, aquele, sempre politicamente correto, induzia o povo à rebelião contra o Senhor, garantindo-lhe que, passados dois anos, seriam os cativos repatriados e os tesouros do Santo Templo, devolvidos. Sua profecia jamais se cumpriu: no teste do verdadeiro profeta, estava reprovado (Dt 18.22).
Hipocritamente dramático, quebra os jugos de madeira que Jeremias levava aos ombros. Diante de toda aquela presepada, o que restava ao mensageiro do Senhor? Tendo os sacerdotes e os ministros do altar como espectadores, declara Jeremias: “Amém! Que assim faça o SENHOR! Que o SENHOR confirme as tuas palavras que profetizaste e torne ele a trazer os utensílios da Casa do SENHOR e todos os do cativeiro da Babilônia a este lugar” (Jr 28.6).
Hananias profetizou o que o rei queria ouvir, o que povo ansiava escutar e o que todos almejavam viesse a acontecer.
Não foste, ó homem de Deus, chamado para brincares de pregador; convocou-te o Senhor para atuares como pregoeiro da justiça. O teu único compromisso é com a verdade. Se não quiserem ouvir-te, que te não ouçam. No entanto, todos haverão de saber que, entre si, esteve um autêntico mensageiro divino.
3. O castigo de Hananias. Hananias em tudo parecia profeta. A Palavra de Deus, todavia, não estava com ele. E por haver se insubordinado contra o Senhor, foi severamente punido: naquele mesmo ano veio a morrer segundo vaticinara Jeremias (Jr 28.1-17). Este é o destino daquele que, sem temor nem tremor, brinca com o nome de Deus, zombando-lhe da santidade. Lembra-te daquela profetiza que, em Tiatira, induzia os servos de Cristo ao adultério? (Ap 2.20) Ou do profeta Balaão que ensinou Balaque a colocar tropeços diante dos filhos de Israel? (Ap 2.14).
Tens tu o dom profético? Coloca-te à disposição de Deus. Deixa que Ele te use de acordo com as necessidades da Igreja. Jamais queiras abusar do que te não pertence. Sê humilde, reconhecendo sempre, em teu pastor, a autoridade máxima da Igreja.
III. Cuidado com os falsos profetas
Alerta-nos o Senhor Jesus que, nos últimos dias, aparecerão muitos falsos profetas que, se possível, enganarão até os mesmos escolhidos (Mt 24.11). Por isso, temos de manter-nos alertas e vigilantes, a fim de que os lobos não nos arrebatem as ovelhas. Eis alguns cuidados que haveremos de tomar.
1. A procedência do profeta. De onde vem o pregador, o conferencista e o pretenso profeta? Busca saber se tem ele carta de recomendação; não deixes de confirmar a veracidade do documento. Cuidado com os chamados clínicos pastorais que, sob o apanágio da psicologia, se intrometem nas intimidades das ovelhas, induzindo as servas de Deus à imodéstia. Não passam os tais elementos de destruidores de lares. Toma cuidado contra os que, de igreja em igreja, levantam vultosas somas. Não permitas que o lobo te espolie a igreja.
2. A qualidade da mensagem. O mensageiro fala a Palavra de Deus? Ou se acha em nosso meio a instilar o engano e a apostasia? Se vier com outro evangelho, que seja considerado anátema mesmo que tenha cara de anjo (Gl 1.8).
3. A pretensão do profeta. À semelhança de Hananias, que não temeu enfrentar o homem de Deus, muitos são os profetas e profetisas que procuram dominar o pastor, o ministério e a igreja. Não aceites tais manobras! Não te deixes dominar pelas ameaças dessa gente desocupada e orgulhosa. A Igreja é para ser governada pelos dons ministeriais e não pelos dons espirituais. Servem estes apenas como suporte ao processo de edificação do corpo de Cristo. O cajado foi entregue a ti, pastor, e não aos aventureiros que das ovelhas visam apenas a lã e a gordura.
Quem cuida das ovelhas é o pastor. E que o profeta mantenha-se em seu lugar, e respeite o anjo da igreja como a autoridade máxima do rebanho. Neste momento, cai muito bem a recomendação de Paulo: “Se alguém cuida ser profeta ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor” (1 Co 14.37).
Conclusão
Cuidado com os falsos profetas! Não lhes permitamos que nos devorem os rebanhos. Outrossim, não podemos desprezar as verdadeiras profecias (1 Ts 5.20). Pois o Espírito Santo continua a falar através dos dons que distribui à Igreja. Equilíbrio e discernimento! Cada profecia deve ser considerada de acordo com as demandas e reivindicações da Bíblia. Nada, absolutamente nada, pode estar acima da Bíblia Sagrada – nossa única regra de fé e condut
Quem já não se defrontou com um falso profeta? Inescrupuloso e arrogante, joga ele a igreja contra o pastor, leva os obreiros à desinteligência e, habilmente, induz os santos à apostasia. Aliás, ele não vacila em usurpar a glória devida apenas ao Senhor da glória.
Certa vez, um desses indivíduos enfrentou Jeremias. Patrocinado pelo estado e contando com a simpatia de boa parte da população, tinha aquele operário de Satanás, como objetivo, perverter os caminhos do Senhor e desviar os filhos de Israel da verdade. Refiro-me ao soberbo e atrevido Hananias. Antes de tecermos outros comentários a seu respeito, vejamos o que é o profeta.
I. O que é o profeta
1. Definição. A palavra profeta vem do hebraico nabbi. Este vocábulo, por seu turno, origina-se do verbo dabar: dizer, falar. O profeta, por conseguinte, é o homem que fala por Deus. O vocábulo grego prophete, do qual veio a palavra portuguesa profeta, significa literalmente aquele que fala em lugar de outrem.
2. A função do profeta. Era a função precípua do profeta proclamar os desígnios e arautos de Deus, a fim de reconduzir o povo à obediência da lei divina (Ez 33.7). Nem sempre revelar o futuro era a sua principal tarefa.
3. A prova de autenticidade do profeta. Se o profeta predisser alguma coisa, e esta se cumprir, será ele reconhecido como autêntico mensageiro de Deus (Dt 21,22). Caso contrário, que seja alijado da comunidade dos santos. Dessa forma determinava o Deuteronômio.
Não basta, porém, a profecia cumprir-se para o profeta ser considerado autêntico (Dt 13.1-5). Isto porque, os enganadores, inspirados pelos demônios, embora não conheçam o futuro, podem, através de ardis e estratagemas, fazer com que o óbvio pareça certeiro cumprimento profético. É por isso que temos de julgar as profecias e discernir os espíritos (1Co 14.29; 1Jo 4.1). Vejamos, pois, o caso de Hananias.
II. O falso profeta Ananias entra em cena
1. Quem era Hananias. Ele era do tipo que impressionava. Falava como profeta, tinha discurso de profeta e vestia-se como profeta. Além do mais, era ele mais dramático que os profetas de Deus.
Falando somente o que o povo queria ouvir, vinha ele, genericamente, profetizando a paz. Mas, agora, eis que se apresenta com uma profecia específica e impressionante.
2. As palavras de Hananias. Foi no auge da crise espiritual e política de Judá que Hananias entra em cena, perturbando o povo e opondo-se tenazmente a Jeremias. Se este exortava Judá a aceitar o jugo babilônico, como Deus o requeria, aquele, sempre politicamente correto, induzia o povo à rebelião contra o Senhor, garantindo-lhe que, passados dois anos, seriam os cativos repatriados e os tesouros do Santo Templo, devolvidos. Sua profecia jamais se cumpriu: no teste do verdadeiro profeta, estava reprovado (Dt 18.22).
Hipocritamente dramático, quebra os jugos de madeira que Jeremias levava aos ombros. Diante de toda aquela presepada, o que restava ao mensageiro do Senhor? Tendo os sacerdotes e os ministros do altar como espectadores, declara Jeremias: “Amém! Que assim faça o SENHOR! Que o SENHOR confirme as tuas palavras que profetizaste e torne ele a trazer os utensílios da Casa do SENHOR e todos os do cativeiro da Babilônia a este lugar” (Jr 28.6).
Hananias profetizou o que o rei queria ouvir, o que povo ansiava escutar e o que todos almejavam viesse a acontecer.
Não foste, ó homem de Deus, chamado para brincares de pregador; convocou-te o Senhor para atuares como pregoeiro da justiça. O teu único compromisso é com a verdade. Se não quiserem ouvir-te, que te não ouçam. No entanto, todos haverão de saber que, entre si, esteve um autêntico mensageiro divino.
3. O castigo de Hananias. Hananias em tudo parecia profeta. A Palavra de Deus, todavia, não estava com ele. E por haver se insubordinado contra o Senhor, foi severamente punido: naquele mesmo ano veio a morrer segundo vaticinara Jeremias (Jr 28.1-17). Este é o destino daquele que, sem temor nem tremor, brinca com o nome de Deus, zombando-lhe da santidade. Lembra-te daquela profetiza que, em Tiatira, induzia os servos de Cristo ao adultério? (Ap 2.20) Ou do profeta Balaão que ensinou Balaque a colocar tropeços diante dos filhos de Israel? (Ap 2.14).
Tens tu o dom profético? Coloca-te à disposição de Deus. Deixa que Ele te use de acordo com as necessidades da Igreja. Jamais queiras abusar do que te não pertence. Sê humilde, reconhecendo sempre, em teu pastor, a autoridade máxima da Igreja.
III. Cuidado com os falsos profetas
Alerta-nos o Senhor Jesus que, nos últimos dias, aparecerão muitos falsos profetas que, se possível, enganarão até os mesmos escolhidos (Mt 24.11). Por isso, temos de manter-nos alertas e vigilantes, a fim de que os lobos não nos arrebatem as ovelhas. Eis alguns cuidados que haveremos de tomar.
1. A procedência do profeta. De onde vem o pregador, o conferencista e o pretenso profeta? Busca saber se tem ele carta de recomendação; não deixes de confirmar a veracidade do documento. Cuidado com os chamados clínicos pastorais que, sob o apanágio da psicologia, se intrometem nas intimidades das ovelhas, induzindo as servas de Deus à imodéstia. Não passam os tais elementos de destruidores de lares. Toma cuidado contra os que, de igreja em igreja, levantam vultosas somas. Não permitas que o lobo te espolie a igreja.
2. A qualidade da mensagem. O mensageiro fala a Palavra de Deus? Ou se acha em nosso meio a instilar o engano e a apostasia? Se vier com outro evangelho, que seja considerado anátema mesmo que tenha cara de anjo (Gl 1.8).
3. A pretensão do profeta. À semelhança de Hananias, que não temeu enfrentar o homem de Deus, muitos são os profetas e profetisas que procuram dominar o pastor, o ministério e a igreja. Não aceites tais manobras! Não te deixes dominar pelas ameaças dessa gente desocupada e orgulhosa. A Igreja é para ser governada pelos dons ministeriais e não pelos dons espirituais. Servem estes apenas como suporte ao processo de edificação do corpo de Cristo. O cajado foi entregue a ti, pastor, e não aos aventureiros que das ovelhas visam apenas a lã e a gordura.
Quem cuida das ovelhas é o pastor. E que o profeta mantenha-se em seu lugar, e respeite o anjo da igreja como a autoridade máxima do rebanho. Neste momento, cai muito bem a recomendação de Paulo: “Se alguém cuida ser profeta ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor” (1 Co 14.37).
Conclusão
Cuidado com os falsos profetas! Não lhes permitamos que nos devorem os rebanhos. Outrossim, não podemos desprezar as verdadeiras profecias (1 Ts 5.20). Pois o Espírito Santo continua a falar através dos dons que distribui à Igreja. Equilíbrio e discernimento! Cada profecia deve ser considerada de acordo com as demandas e reivindicações da Bíblia. Nada, absolutamente nada, pode estar acima da Bíblia Sagrada – nossa única regra de fé e condut
Balaão e a Teologia sob demanda
Aquele que se dizia "o profeta dos olhos abertos" era,
na verdade, o teólogo do olho grande e gordo
Balaão era um profeta sagaz e um tanto matreiro. Se fosse apenas
profeta, a desgraça não seria tanta. Acontece, porém, que o filho de Beor era
ainda um teólogo competente. Torcendo um artigo de fé aqui, minimizando uma
proposição doutrinária mais além, ia ele enchendo as algibeiras com o ouro dos
incautos. E os seus arremedos, justiça seja feita, eram capazes de convencer
até os mais avisados.
Embora domiciliado em Petor, às margens do Eufrates, fazia, vez por outra, uns volteios pelo Oriente Médio, a fim de oferecer serviços e préstimos. Ontem, tanto quanto hoje, havia sempre alguém querendo amaldiçoar alguém. E, para isso, estava disposto a pagar-lhe muito bem.
Enfim, o profeta Balaão teologizava sob demanda. Assemelhava-se ao escritor que, certa vez, recebeu a incumbência de escrever um artigo sobre uma polêmica autoridade. Ao receber o dinheiro, perguntou: “A matéria é a favor ou contra?”
Suas mandingas eram bem articuladas e certeiras. Amaldiçoou Balaão alguém? Amaldiçoado está! Foi por isso que Balaque trouxe-o de tão longe e inflacionou-lhe generosamente o cachê. Afinal, o rei moabita estava caído de angústias com a aproximação dos filhos de Israel que, desde o longínquo Sinai, marchavam resolutamente às suas portas. E, pelo ritmo de seu avanço, nenhum exército seria capaz de frear-lhe a andadura. Segundo imaginava, aquela gente, de tão numerosa, lamberia todos os recursos de sua terra. E isso ele jamais haveria de admitir.
Balaque bem sabia que Balaão era venal e sem caráter. Todavia, era competente no que fazia e tinha um preço até razoável. Além de venal, pagável. Não seria difícil contratá-lo.
Já advertido pelo Senhor, o profeta, de início, mostrou alguma refração às propostas do moabita. Como bom teólogo, sabia que é impossível florescer maldições onde as bênçãos já frutificam. Por isso, todas as vezes que armava o cenário para amaldiçoar Israel, acabava por abençoá-lo. E isso começou a impacientar Balaque. Afinal, contratara-o para destruir os hebreus. Mas o feiticeiro, inexplicavelmente, estava virando-se contra o dono do feitiço.
O interessante é que Balaão possuía também um lado poeta e lírico que, elegantemente, deixa transparecer nas profecias que, por três vezes, profere sobre o futuro messiânico de Jacó. Ele sabia trabalhar tão bem as palavras, que Moisés foi inspirado a registrá-las no quarto livro do Pentateuco. Num dos trechos de seu maravilhoso e subido poema, chega a ser autobiográfico: “Então, proferiu a sua palavra e disse: Palavra de Balaão, filho de Beor, palavra do homem de olhos abertos, palavra daquele que ouve os ditos de Deus e sabe a ciência do Altíssimo; daquele que tem a visão do Todo-Poderoso e prostra-se, porém de olhos abertos: Vê-lo-ei, mas não agora; contemplá-lo-ei, mas não de perto; uma estrela procederá de Jacó, de Israel subirá um cetro que ferirá as têmporas de Moabe e destruirá todos os filhos de Sete” (Nm 24.15-17).
A ganância, contudo, veio a ter mais rimas que a poesia. Na verdade, Balaão não estava disposto a perder o ouro de Balaque; oportunidade como aquela não costuma repetir-se. Não é sempre que se tem um Êxodo pela frente, nem um povo grande e abençoado a atravessar-lhe o caminho. Além do mais, ali estava um rei aflito, e prestes a dar-lhe até metade de seus tesouros.
Balaão, segundo suas próprias palavras, era o profeta dos olhos abertos. Mas, para mim, ele era o teólogo do olho grande e gordo: estava sempre disposto a corromper e a ser corrompido. Eis porque resolveu, apesar das relutâncias iniciais, atender à demanda final de Balaque.
Já que não podia levar a maldição a Israel, poderia ao menos trazer até Israel a maldição. A equação era bem simples. Sabendo ele que Deus tem um caráter justo e santo, ensinaria Balaque a tirar proveito dessa proposição. E, para tanto, o rei moabita não precisaria escrever monografia alguma; era só explorar a pornografia que estava ao seu alcance. Mesmo porque, aquele monarca medroso e bufão nenhuma capacidade acadêmica demonstrava ter.
Embora domiciliado em Petor, às margens do Eufrates, fazia, vez por outra, uns volteios pelo Oriente Médio, a fim de oferecer serviços e préstimos. Ontem, tanto quanto hoje, havia sempre alguém querendo amaldiçoar alguém. E, para isso, estava disposto a pagar-lhe muito bem.
Enfim, o profeta Balaão teologizava sob demanda. Assemelhava-se ao escritor que, certa vez, recebeu a incumbência de escrever um artigo sobre uma polêmica autoridade. Ao receber o dinheiro, perguntou: “A matéria é a favor ou contra?”
Suas mandingas eram bem articuladas e certeiras. Amaldiçoou Balaão alguém? Amaldiçoado está! Foi por isso que Balaque trouxe-o de tão longe e inflacionou-lhe generosamente o cachê. Afinal, o rei moabita estava caído de angústias com a aproximação dos filhos de Israel que, desde o longínquo Sinai, marchavam resolutamente às suas portas. E, pelo ritmo de seu avanço, nenhum exército seria capaz de frear-lhe a andadura. Segundo imaginava, aquela gente, de tão numerosa, lamberia todos os recursos de sua terra. E isso ele jamais haveria de admitir.
Balaque bem sabia que Balaão era venal e sem caráter. Todavia, era competente no que fazia e tinha um preço até razoável. Além de venal, pagável. Não seria difícil contratá-lo.
Já advertido pelo Senhor, o profeta, de início, mostrou alguma refração às propostas do moabita. Como bom teólogo, sabia que é impossível florescer maldições onde as bênçãos já frutificam. Por isso, todas as vezes que armava o cenário para amaldiçoar Israel, acabava por abençoá-lo. E isso começou a impacientar Balaque. Afinal, contratara-o para destruir os hebreus. Mas o feiticeiro, inexplicavelmente, estava virando-se contra o dono do feitiço.
O interessante é que Balaão possuía também um lado poeta e lírico que, elegantemente, deixa transparecer nas profecias que, por três vezes, profere sobre o futuro messiânico de Jacó. Ele sabia trabalhar tão bem as palavras, que Moisés foi inspirado a registrá-las no quarto livro do Pentateuco. Num dos trechos de seu maravilhoso e subido poema, chega a ser autobiográfico: “Então, proferiu a sua palavra e disse: Palavra de Balaão, filho de Beor, palavra do homem de olhos abertos, palavra daquele que ouve os ditos de Deus e sabe a ciência do Altíssimo; daquele que tem a visão do Todo-Poderoso e prostra-se, porém de olhos abertos: Vê-lo-ei, mas não agora; contemplá-lo-ei, mas não de perto; uma estrela procederá de Jacó, de Israel subirá um cetro que ferirá as têmporas de Moabe e destruirá todos os filhos de Sete” (Nm 24.15-17).
A ganância, contudo, veio a ter mais rimas que a poesia. Na verdade, Balaão não estava disposto a perder o ouro de Balaque; oportunidade como aquela não costuma repetir-se. Não é sempre que se tem um Êxodo pela frente, nem um povo grande e abençoado a atravessar-lhe o caminho. Além do mais, ali estava um rei aflito, e prestes a dar-lhe até metade de seus tesouros.
Balaão, segundo suas próprias palavras, era o profeta dos olhos abertos. Mas, para mim, ele era o teólogo do olho grande e gordo: estava sempre disposto a corromper e a ser corrompido. Eis porque resolveu, apesar das relutâncias iniciais, atender à demanda final de Balaque.
Já que não podia levar a maldição a Israel, poderia ao menos trazer até Israel a maldição. A equação era bem simples. Sabendo ele que Deus tem um caráter justo e santo, ensinaria Balaque a tirar proveito dessa proposição. E, para tanto, o rei moabita não precisaria escrever monografia alguma; era só explorar a pornografia que estava ao seu alcance. Mesmo porque, aquele monarca medroso e bufão nenhuma capacidade acadêmica demonstrava ter.
Sim, tudo era muito simples. Mas a receita só Balaão possuía. Para
amaldiçoar Israel, Balaque só precisaria espalhar umas prostitutas cultuais
pelo arraial hebreu, e o problema estaria resolvido para os moabitas. Mas, para
os israelitas, estaria só começando.
Foi o que aconteceu. As desavergonhadas, introduzidas sorrateiramente no acampamento do Senhor, puseram-se a induzir os varões hebreus a se prostituírem e a comerem alimentos sacrificados aos ídolos. De repente, aquele povo separado e santo em nada diferia das nações de Canaã. O episódio, que passaria à história como o Caso de Baal-Peor, custaria muito caro aos filhos de Israel. Num só dia, o Senhor matou vinte e quatro mil homens. O fato jamais seria esquecido. Séculos depois, ainda era mencionado pelos santos profetas como advertência à comunidade hebreia.
Balaão não foi o único a fazer teologia, nem a profetizar sob demanda. Seus discípulos e seguidores, igualmente irracionais em seu amor pelo ouro de Balaque, fazem-se moucos até mesmo à voz da jumenta. Não obstante, sempre acabam por encontrar generosos púlpitos e cátedras.
Nos domínios de Acabe, eram liberalmente pagos, a fim de profetizar o que o monarca queria ouvir. Nenhum deles tinha coragem, ou disposição, de dizer que o rei estava nu. Já em Judá, no tempo de Jeremias, achavam-se arrolados na folha de pagamento do funcionalismo público. E, na Igreja Primitiva, além dos imitadores de Balaão, havia também os nicolaitas, que, de paróquia em paróquia, iam teologizando por encomenda. Com mão certeira, semeavam o pecado, a rebeldia e a dissolução entre os santos.
Jesus odiava as obras dessa gente.
Hoje, esses tais obreiros podem ser contados aos milhares. Tanto aqui, como lá fora, comportam-se como os sofistas que, na Grécia antiga, eram tidos como inteligentes e sábios. Eles andejavam por toda a parte, discorrendo sobre os mais variados e ignorados assuntos. Um deles, que não entendia nada de guerra, propôs-se certa vez a ensinar estratégia a um experimentado general. Não é o que ocorre em nossos arraiais? Às vezes, surge, não se sabe de onde, um neófito com ares doutorais e que nunca pastoreou um rebanho, dizendo como se deve tanger o redil e tocar o aprisco. Mas, na verdade, o que mais querem é a lã das pobres e desamparadas ovelhas.
Eles não são nada baratos. Exorbitam nos cachês e carregam nas exigências. Por isso, sempre pregam o que os seus contratantes querem ouvir. Sabem que, se forem verdadeiros no púlpito, poderão sair de muitos templos como mentirosos. E esse risco não querem correr. Assim, deixam de ser homens de Deus para se fazerem homens do povo. Como abismo atrai abismo, também não vêem dificuldade em sustentar a iniquidade, desde que esta encha-lhes os bolsos.
E, assim, passam a vida a produzir uma teologia ímpia, mentirosa e sofismática. Aqui, esvaziam a divindade de Cristo. Ali, tiram a autoridade da Bíblia. Mais além, negam o arrebatamento da Igreja. Ainda, não satisfeitos, espalham entre o os santos costumes exóticos e detestáveis. Terminado o culto, vão embora cheios, deixando atrás de si um rebanho vazio.
Não fomos chamados a fazer teologia sob demanda. Convocou-nos o Senhor a proclamar a sua Palavra. E, para isso, temos de ser íntegros, corajosos e jamais perder o dom do amor. Quem ama, fala a verdade, pois uma mentira, bem trabalhada teologicamente, é bastante para levar todo um rebanho ao inferno.
Graças a Deus, porque temos ainda pregadores que, embora convidados a pregar por todo o Brasil, jamais negociam com a sã doutrina. Eles não temem a Balaque, nem se curvam ao peso de seu ouro. A estes, o meu reconhecimento. São autênticos pregoeiros que, fugindo ao politicamente correto, expõem a Palavra de Deus a tempo e fora de tempo. Sua teologia não é produzida sob demanda, mas nasce de um amor sincero e sacrifical pelo Senhor Jesus e sua Igreja. Antes de oradores, orantes.
Quanto aos que imitam Balaão, demonstram possuir menos inteligência que a jumenta do profeta. Embora não tivesse qualquer formação acadêmica, o animal teve olhos para ver o anjo do Senhor e a espada pronta a desferir o golpe fatal no profeta louco e ganancioso.
Foi o que aconteceu. As desavergonhadas, introduzidas sorrateiramente no acampamento do Senhor, puseram-se a induzir os varões hebreus a se prostituírem e a comerem alimentos sacrificados aos ídolos. De repente, aquele povo separado e santo em nada diferia das nações de Canaã. O episódio, que passaria à história como o Caso de Baal-Peor, custaria muito caro aos filhos de Israel. Num só dia, o Senhor matou vinte e quatro mil homens. O fato jamais seria esquecido. Séculos depois, ainda era mencionado pelos santos profetas como advertência à comunidade hebreia.
Balaão não foi o único a fazer teologia, nem a profetizar sob demanda. Seus discípulos e seguidores, igualmente irracionais em seu amor pelo ouro de Balaque, fazem-se moucos até mesmo à voz da jumenta. Não obstante, sempre acabam por encontrar generosos púlpitos e cátedras.
Nos domínios de Acabe, eram liberalmente pagos, a fim de profetizar o que o monarca queria ouvir. Nenhum deles tinha coragem, ou disposição, de dizer que o rei estava nu. Já em Judá, no tempo de Jeremias, achavam-se arrolados na folha de pagamento do funcionalismo público. E, na Igreja Primitiva, além dos imitadores de Balaão, havia também os nicolaitas, que, de paróquia em paróquia, iam teologizando por encomenda. Com mão certeira, semeavam o pecado, a rebeldia e a dissolução entre os santos.
Jesus odiava as obras dessa gente.
Hoje, esses tais obreiros podem ser contados aos milhares. Tanto aqui, como lá fora, comportam-se como os sofistas que, na Grécia antiga, eram tidos como inteligentes e sábios. Eles andejavam por toda a parte, discorrendo sobre os mais variados e ignorados assuntos. Um deles, que não entendia nada de guerra, propôs-se certa vez a ensinar estratégia a um experimentado general. Não é o que ocorre em nossos arraiais? Às vezes, surge, não se sabe de onde, um neófito com ares doutorais e que nunca pastoreou um rebanho, dizendo como se deve tanger o redil e tocar o aprisco. Mas, na verdade, o que mais querem é a lã das pobres e desamparadas ovelhas.
Eles não são nada baratos. Exorbitam nos cachês e carregam nas exigências. Por isso, sempre pregam o que os seus contratantes querem ouvir. Sabem que, se forem verdadeiros no púlpito, poderão sair de muitos templos como mentirosos. E esse risco não querem correr. Assim, deixam de ser homens de Deus para se fazerem homens do povo. Como abismo atrai abismo, também não vêem dificuldade em sustentar a iniquidade, desde que esta encha-lhes os bolsos.
E, assim, passam a vida a produzir uma teologia ímpia, mentirosa e sofismática. Aqui, esvaziam a divindade de Cristo. Ali, tiram a autoridade da Bíblia. Mais além, negam o arrebatamento da Igreja. Ainda, não satisfeitos, espalham entre o os santos costumes exóticos e detestáveis. Terminado o culto, vão embora cheios, deixando atrás de si um rebanho vazio.
Não fomos chamados a fazer teologia sob demanda. Convocou-nos o Senhor a proclamar a sua Palavra. E, para isso, temos de ser íntegros, corajosos e jamais perder o dom do amor. Quem ama, fala a verdade, pois uma mentira, bem trabalhada teologicamente, é bastante para levar todo um rebanho ao inferno.
Graças a Deus, porque temos ainda pregadores que, embora convidados a pregar por todo o Brasil, jamais negociam com a sã doutrina. Eles não temem a Balaque, nem se curvam ao peso de seu ouro. A estes, o meu reconhecimento. São autênticos pregoeiros que, fugindo ao politicamente correto, expõem a Palavra de Deus a tempo e fora de tempo. Sua teologia não é produzida sob demanda, mas nasce de um amor sincero e sacrifical pelo Senhor Jesus e sua Igreja. Antes de oradores, orantes.
Quanto aos que imitam Balaão, demonstram possuir menos inteligência que a jumenta do profeta. Embora não tivesse qualquer formação acadêmica, o animal teve olhos para ver o anjo do Senhor e a espada pronta a desferir o golpe fatal no profeta louco e ganancioso.
Inferno: Mito ou Realidade
O que diz a Bíblia sobre o inferno.
Você já
percebeu que quase tudo (ou tudo) na vida é constituído de opostos: doce e
amargo, quente e frio, branco e preto, rico e pobre, bem e mal, bonito e feio,
positivo e negativo, justiça e injustiça, homem e mulher, gordo e magro,
santidade e pecado. Assim, se existe um Céu também existe um Inferno, mesmo que
esta verdade incomode muitas pessoas. Negar a realidade do Inferno não muda o
fato de que ele existe.
Nesta artigo estudaremos os ensinos da Bíblia a respeito do
Inferno e veremos que o Inferno é tão real quanto o Céu.
I. DESCOBRINDO A VERDADE
1. Opiniões erradas a respeito do Inferno. Muitas pessoas negam a existência do Inferno considerando-o um mito inventado pelos contadores de história da Grécia antiga. Estes são aqueles que não distinguem perfeitamente a ficção da realidade. Outros afirmam que o Inferno é uma invenção da Igreja Medieval para impedir as pessoas de se rebelarem contra o poder eclesiástico. Estes são aqueles que culpam a igreja pelo medo que as pessoas têm do castigo eterno. Há ainda os que pensam que o Inferno é aqui na terra. São os mesmos que acreditam que “o que aqui se faz aqui se paga”. Todavia, nenhuma dessas pessoas tem autoridade para afirmar ou negar a existência do Inferno.
2. Os ensinos da Bíblia acerca do Inferno. De acordo com a Bíblia o Inferno é um lugar real. Não é ficção, muito menos uma forma de dominação sobre as mentes fracas. Pelo contrário, é um lugar de sofrimento eterno para aqueles que não amam a Deus. Creia na Palavra de Deus quando ela afirma que o Inferno existe. Vejamos algumas afirmações a respeito do Inferno.
a) O rei Davi. Davi foi rei, músico, guerreiro, escritor e poeta. No Salmo 9.17 ele afirma que “os ímpios serão lançados no inferno” (ARC). De acordo com Davi, o inferno é um lugar de tormento e julgamento dos homens maus. Ele falou do Inferno nos Salmos 16.10 e 18.5, como um lugar de angústias, aperto e tristeza.
b) O profeta Daniel. Daniel foi um profeta de Israel levado como prisioneiro pelos babilônicos quando ainda era muito jovem. Ele profetizou a respeito da glória e queda de impérios como a Grécia e Roma. No capítulo 12, versículo 2 de seu livro, ele recebeu uma mensagem de um anjo que lhe disse que “Muitos dos que já tiverem morrido viverão de novo: uns terão a vida eterna [no Céu], e outros sofrerão o castigo eterno e a desgraça eterna [no Inferno].
c) Jesus, o Filho de Deus. Ninguém tem mais autoridade para falar do Inferno do que Jesus, o Filho de Deus. Para desespero de algumas pessoas, Jesus confirmou que o Inferno é um lugar real. Ele disse em Mateus 5.29,30: “Portanto, se o teu olho direito te escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti, pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que todo o teu corpo seja lançado no inferno. E, se a tua mão direita te escandalizar, corta-a e atira-a para longe de ti, porque te é melhor que um dos teus membros se perca do que todo o teu corpo seja lançado no inferno” (ARC). Ainda em Mateus 10.28 Jesus afirmou: “Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo” (ARC). Jesus muito ensinou sobre o inferno em outros textos, segundo Ele o inferno é um lugar de “pranto e ranger de dentes” (Mateus 13.49,50 - ARC), “preparado para o diabo e seus anjos” (Mateus 25.41 – ARC), “onde o seu bicho não morre, e o fogo nunca se apaga” (Marcos 9.43-48 – ARC). Leia o texto de Lucas 16.19-31.
d) João, o Apóstolo. Ele foi o escritor do livro de Apocalipse. Nesta obra, João descreve o inferno como um lugar de tormento eterno com fogo ardente e enxofre (14.10,11; 19.10; 20.11-15). De acordo com a Bíblia “os covardes, os traidores, os que cometem pecados nojentos, os assassinos, os imorais, os que praticam a feitiçaria, os que adoram ídolos e todos os mentirosos” serão lançados no “lago onde queima o fogo e o enxofre” (21.8 – NTLH).
I. DESCOBRINDO A VERDADE
1. Opiniões erradas a respeito do Inferno. Muitas pessoas negam a existência do Inferno considerando-o um mito inventado pelos contadores de história da Grécia antiga. Estes são aqueles que não distinguem perfeitamente a ficção da realidade. Outros afirmam que o Inferno é uma invenção da Igreja Medieval para impedir as pessoas de se rebelarem contra o poder eclesiástico. Estes são aqueles que culpam a igreja pelo medo que as pessoas têm do castigo eterno. Há ainda os que pensam que o Inferno é aqui na terra. São os mesmos que acreditam que “o que aqui se faz aqui se paga”. Todavia, nenhuma dessas pessoas tem autoridade para afirmar ou negar a existência do Inferno.
2. Os ensinos da Bíblia acerca do Inferno. De acordo com a Bíblia o Inferno é um lugar real. Não é ficção, muito menos uma forma de dominação sobre as mentes fracas. Pelo contrário, é um lugar de sofrimento eterno para aqueles que não amam a Deus. Creia na Palavra de Deus quando ela afirma que o Inferno existe. Vejamos algumas afirmações a respeito do Inferno.
a) O rei Davi. Davi foi rei, músico, guerreiro, escritor e poeta. No Salmo 9.17 ele afirma que “os ímpios serão lançados no inferno” (ARC). De acordo com Davi, o inferno é um lugar de tormento e julgamento dos homens maus. Ele falou do Inferno nos Salmos 16.10 e 18.5, como um lugar de angústias, aperto e tristeza.
b) O profeta Daniel. Daniel foi um profeta de Israel levado como prisioneiro pelos babilônicos quando ainda era muito jovem. Ele profetizou a respeito da glória e queda de impérios como a Grécia e Roma. No capítulo 12, versículo 2 de seu livro, ele recebeu uma mensagem de um anjo que lhe disse que “Muitos dos que já tiverem morrido viverão de novo: uns terão a vida eterna [no Céu], e outros sofrerão o castigo eterno e a desgraça eterna [no Inferno].
c) Jesus, o Filho de Deus. Ninguém tem mais autoridade para falar do Inferno do que Jesus, o Filho de Deus. Para desespero de algumas pessoas, Jesus confirmou que o Inferno é um lugar real. Ele disse em Mateus 5.29,30: “Portanto, se o teu olho direito te escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti, pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que todo o teu corpo seja lançado no inferno. E, se a tua mão direita te escandalizar, corta-a e atira-a para longe de ti, porque te é melhor que um dos teus membros se perca do que todo o teu corpo seja lançado no inferno” (ARC). Ainda em Mateus 10.28 Jesus afirmou: “Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo” (ARC). Jesus muito ensinou sobre o inferno em outros textos, segundo Ele o inferno é um lugar de “pranto e ranger de dentes” (Mateus 13.49,50 - ARC), “preparado para o diabo e seus anjos” (Mateus 25.41 – ARC), “onde o seu bicho não morre, e o fogo nunca se apaga” (Marcos 9.43-48 – ARC). Leia o texto de Lucas 16.19-31.
d) João, o Apóstolo. Ele foi o escritor do livro de Apocalipse. Nesta obra, João descreve o inferno como um lugar de tormento eterno com fogo ardente e enxofre (14.10,11; 19.10; 20.11-15). De acordo com a Bíblia “os covardes, os traidores, os que cometem pecados nojentos, os assassinos, os imorais, os que praticam a feitiçaria, os que adoram ídolos e todos os mentirosos” serão lançados no “lago onde queima o fogo e o enxofre” (21.8 – NTLH).
Este terrível lugar foi preparado para o Diabo e seus anjos.
Porém muitas pessoas rejeitam a Jesus, como único e suficiente Salvador e, como
conseqüência, o Filho de Deus também as rejeitará quando chegar o Dia de o
Senhor julgar os homens.
II. COMPREENDENDO A VERDADE
II. COMPREENDENDO A VERDADE
Por meio dos Salmos de Davi, da profecia de Daniel, do ensino de
Jesus e da revelação dada ao apóstolo João aprendemos que o Inferno existe.
Agora, compreenderemos três verdades a respeito do Inferno.
1ª Verdade: O Inferno foi criado para que Satanás e seus demônios recebam o justo castigo pelas suas maldades. O inferno não foi criado para os homens, mas sim para que o Diabo e os demônios recebam a devida punição por suas maldades: “Então, dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos” (Mateus 25.41 - ARC). Saber que o Inferno não foi criado para a criatura humana é uma verdade confortadora, entretanto, as pessoas que rejeitam ao Senhor Jesus serão condôminos com o Diabo nesse lar infernal.
2ª Verdade: O Inferno será o último e definitivo lar daqueles que rejeitam a Jesus e praticam a maldade. Em Mateus 13.40-42 Jesus afirmou que: “Assim como o joio é ajuntado e jogado no fogo, assim também será no fim dos tempos. O Filho do Homem mandará os seus anjos, e eles ajuntarão e tirarão do seu Reino todos os que fazem com que os outros pequem e também todos os que praticam o mal. Depois os anjos jogarão essas pessoas na fornalha de fogo, onde vão chorar e ranger os dentes de desespero” (NTLH).
3ª Verdade: O Inferno é uma manifestação da justiça de Deus, que recompensará os justos com o Céu e castigará os maus com o Inferno. A Bíblia afirma que “Deus é a verdade, e não há nele injustiça; justo e reto é” (Deuteronômio 32.4 – ARC). Ele é justo em todos os seus caminhos e santo em tudo o que faz (Salmos 145.17). Se em nossa sociedade os maus são justamente punidos ao serem encarcerados para que paguem pelos seus erros, assim também os ímpios serão castigados por Deus ao serem lançados no Inferno. Ainda hoje muitas pessoas que praticam o pecado escapam da justiça dos homens e chegam mesmo a prosperar (Salmos 73.3), entretanto jamais fugirão da justiça de Deus, que retribui a cada um segundo suas obras. Os homens se tornaram tão depravados e malignos que receberão um castigo eterno: o Inferno. A Bíblia diz que se “Deus não deixou escapar os anjos que pecaram, mas os jogou no inferno e os deixou presos com correntes na escuridão, esperando o Dia do Julgamento [...] Ele castigará especialmente os que seguem os seus próprios desejos imorais e desprezam a autoridade dele” (2 Pedro 2.4,10 - NTLH).
4ª Verdade: Jesus Cristo é o único que pode livrar o homem da condenação do Inferno.Aquele que tem poder para lançar o homem no Inferno é o mesmo que tem poder para livrar o homem da condenação do Inferno. Em Lucas 12.5 Jesus afirmou: “Tenham medo de Deus, que, depois de matar o corpo, tem poder para jogar a pessoa no inferno. Sim, repito: tenham medo de Deus” (NTLH Leia mais uma vez o texto de 2 Pedro 2.4-10). Jesus venceu a morte e o Inferno através do poder de sua ressurreição. Em Apocalipse 1.18 o Senhor afirma: “Fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre. Amém! E tenho as chaves da morte e do inferno” (ARC). Ter “as chaves” significa ter “autoridade sobre”. Jesus tem autoridade e poder sobre a morte e o inferno. Em 1 Coríntios 15.55, Paulo, depois de compreender o poder de Cristo sobre a morte, disse: “Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória?”. Portanto, Jesus tem poder e autoridade para livrar o pecador da condenação do Inferno. Ele quer livrar o homem desta condenação eterna. Seja fiel ao Senhor Jesus e serás salvo desta terrível condenação.
III. APLICANDO A VERDADE
1ª Verdade: O Inferno foi criado para que Satanás e seus demônios recebam o justo castigo pelas suas maldades. O inferno não foi criado para os homens, mas sim para que o Diabo e os demônios recebam a devida punição por suas maldades: “Então, dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos” (Mateus 25.41 - ARC). Saber que o Inferno não foi criado para a criatura humana é uma verdade confortadora, entretanto, as pessoas que rejeitam ao Senhor Jesus serão condôminos com o Diabo nesse lar infernal.
2ª Verdade: O Inferno será o último e definitivo lar daqueles que rejeitam a Jesus e praticam a maldade. Em Mateus 13.40-42 Jesus afirmou que: “Assim como o joio é ajuntado e jogado no fogo, assim também será no fim dos tempos. O Filho do Homem mandará os seus anjos, e eles ajuntarão e tirarão do seu Reino todos os que fazem com que os outros pequem e também todos os que praticam o mal. Depois os anjos jogarão essas pessoas na fornalha de fogo, onde vão chorar e ranger os dentes de desespero” (NTLH).
3ª Verdade: O Inferno é uma manifestação da justiça de Deus, que recompensará os justos com o Céu e castigará os maus com o Inferno. A Bíblia afirma que “Deus é a verdade, e não há nele injustiça; justo e reto é” (Deuteronômio 32.4 – ARC). Ele é justo em todos os seus caminhos e santo em tudo o que faz (Salmos 145.17). Se em nossa sociedade os maus são justamente punidos ao serem encarcerados para que paguem pelos seus erros, assim também os ímpios serão castigados por Deus ao serem lançados no Inferno. Ainda hoje muitas pessoas que praticam o pecado escapam da justiça dos homens e chegam mesmo a prosperar (Salmos 73.3), entretanto jamais fugirão da justiça de Deus, que retribui a cada um segundo suas obras. Os homens se tornaram tão depravados e malignos que receberão um castigo eterno: o Inferno. A Bíblia diz que se “Deus não deixou escapar os anjos que pecaram, mas os jogou no inferno e os deixou presos com correntes na escuridão, esperando o Dia do Julgamento [...] Ele castigará especialmente os que seguem os seus próprios desejos imorais e desprezam a autoridade dele” (2 Pedro 2.4,10 - NTLH).
4ª Verdade: Jesus Cristo é o único que pode livrar o homem da condenação do Inferno.Aquele que tem poder para lançar o homem no Inferno é o mesmo que tem poder para livrar o homem da condenação do Inferno. Em Lucas 12.5 Jesus afirmou: “Tenham medo de Deus, que, depois de matar o corpo, tem poder para jogar a pessoa no inferno. Sim, repito: tenham medo de Deus” (NTLH Leia mais uma vez o texto de 2 Pedro 2.4-10). Jesus venceu a morte e o Inferno através do poder de sua ressurreição. Em Apocalipse 1.18 o Senhor afirma: “Fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre. Amém! E tenho as chaves da morte e do inferno” (ARC). Ter “as chaves” significa ter “autoridade sobre”. Jesus tem autoridade e poder sobre a morte e o inferno. Em 1 Coríntios 15.55, Paulo, depois de compreender o poder de Cristo sobre a morte, disse: “Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória?”. Portanto, Jesus tem poder e autoridade para livrar o pecador da condenação do Inferno. Ele quer livrar o homem desta condenação eterna. Seja fiel ao Senhor Jesus e serás salvo desta terrível condenação.
III. APLICANDO A VERDADE
A morte e o Inferno são duas realidades presentes no mundo,
assim também como a vida e o Céu. Certa vez um cristão foi vitimado por febre
tifo e, na manhã de sua partida deste mundo, chamou a esposa e disse: “Querida,
preguei muito acerca do céu, tentando descrever a beleza celeste aos homens,
porém nunca sonhei com um céu tão belo como este que agora vejo!” Não temas o
Inferno, mas tenhas vontade de ir morar no Céu com Cristo. Jesus preparou o
Inferno para o Diabo, mas o Céu para aqueles que o amam. Qual das duas opções
você deseja? O Céu. Mas para isto é necessário crer em Jesus como Salvador e
servi-lo fielmente até o fim.
PENSE
Disse Jesus: “Não tenham medo. Eu sou o Primeiro e o Último. Eu sou aquele que vive. Estive morto, mas agora estou vivo para todo o sempre. Tenho autoridade sobre a morte e sobre o mundo dos mortos” (Apocalipse 1.17,18).
PENSE
Disse Jesus: “Não tenham medo. Eu sou o Primeiro e o Último. Eu sou aquele que vive. Estive morto, mas agora estou vivo para todo o sempre. Tenho autoridade sobre a morte e sobre o mundo dos mortos” (Apocalipse 1.17,18).
MDA, M12, G12 e a quebra de paradigmas
Por que igrejas tradicionais e históricas estão adotando modelos de crescimento numérico
Muitas igrejas — inclusive, algumas Assembleias de Deus — têm adotado, nos últimos anos, o modelo da “visão celular”, também conhecido como G12, M12, MDA (Modelo de Discipulado Apostólico), etc. Tal modelo vem sendo apresentado como o mais eficaz meio de “fazer discípulos”. E os seus defensores, que se consideram imitadores da igreja primitiva, afirmam que sua estratégia de discipulado é uma revolução, uma “quebra de paradigmas” e, ao mesmo tempo, um retorno aos princípios da igreja de Atos dos Apóstolos. Não se trata, pois, de mais um programa. A “visão celular” é, modéstia à parte, “o programa” da igreja.
Desde 2006 pesquiso sobre o modelo em apreço e tenho ouvido alguns líderes de igrejas em células, especialmente os que trabalham com a juventude, afirmarem que não seguem padrões éticos, dogmáticos, eclesiásticos de pessoas maduras na fé, experientes ou tradicionalmente respeitáveis. Preferem valorizar as “ministrações específicas” em pré-encontros, encontros, pós-encontros, encontros de líderes, etc. Ninguém está autorizado a descrever o que acontece nessas reuniões secretas. Mas todos concordam: “É tremendo”.
As igrejas em células, em geral, têm os seus próprios cursos e conteúdos pedagógicos. Não investem na Escola Dominical; consideram-na ultrapassada, uma instituição falida. Dizem, sem nenhuma cerimônia, que as igrejas tradicionais ou conservadoras seguem padrões arcaicos e “comem pão amanhecido, seco e duro”. Os adeptos da “visão” desprezam, reprovam, a liturgia tradicional das igrejas que não seguem o modelo celular. Na prática, os líderes que dizem estar “quebrando paradigmas” estão oferecendo aos crentes vários atrativos do mundo, dentro de um contexto pretensamente evangélico.
Mediante a estratégia da “contextualização”, tudo é feito para agradar as pessoas, uma vez que o objetivo primário da “visão” é o crescimento numérico, e não a formação de crentes segundo a Palavra de Deus. Prevalecem nas igrejas em células — às vezes, de maneira camuflada — doutrinas triunfalistas, como a Confissão Positiva, a Maldição Hereditária e a Teologia da Prosperidade. Tudo gira em torno das células, reuniões realizadas em casas de pessoas favoráveis à “visão”.
Há cultos nos templos, mas nenhuma reunião é mais importante que as células, definidas como “a essência da vida da igreja”. Nessas reuniões, ocorre a chamada “oração profética”, recheada com palavras de ordem ao Diabo: “decretamos”, “ordenamos”, “quebramos”, “maniatamos”, etc. Há também espaço para manifestações estranhas, como o “cair no poder” — até as crianças caem. A liturgia das igrejas em células é baseada no princípio “Pregue o Evangelho da maneira que as pessoas querem ouvi-lo, e não da forma que precisam ouvi-lo”. A ordem é não se prender a regras ou princípios.
Empregam-se, nos chamados cultos: danças, coreografias e apresentações teatrais, principalmente como atrativos para a juventude. Tudo começa com um “louvor de guerra”, que dura uns vinte minutos. A oferta é um dos principais momentos e, por isso, merece uns dez minutos. Depois disso, há geralmente uma “oração de guerra” — dez minutos — e uma apresentação teatral de uns quinze minutos. Em seguida, uns 25 minutos de mais apresentação musical...
Quanto tempo para a pregação? Em média, quinze minutos! Segundo os defensores da “visão”, o que um sermão levaria 45 minutos ou uma hora para fazer, consegue-se com uma pequena apresentação musical “ungida”. Por que, então, Jesus e Paulo pregaram tanto, se isso não é tão importante? Por que dois terços do ministério terreno do Senhor foram destinados à pregação e ao ensino da Palavra de Deus? Nada deve substituir a explanação das Escrituras (Rm 10.17; Sl 119.130).
Como a exposição tradicional das Escrituras é considerada longa, cansativa e formalista, os pregadores da “visão” têm linguagem própria e atualizada para cada público em particular. Empregam gírias, expressões em inglês e regionalismos; tudo para agradar o auditório. Adaptam as passagens bíblicas às necessidades comuns do homem de hoje, bem como à realidade existencial da juventude. E as pregações, além de sucintas, costumam ser acompanhadas de peças ou dramatizações. Nas reuniões da “visão”, os participantes batem os pés e gesticulam à vontade, sem restrições, além de marcharem. A ênfase recai sobre as músicas, as danças, as coreografias, etc.
Não há lugar para hinários tradicionais, como Harpa Cristã, Cantor Cristão, etc. em modelos como MDA, M12 e G12. Dizem que cantar hinos ultrapassados é idolatria. Tais hinos, segundo eles, parecem ter sido compostos para um funeral. Há, ainda, nesses “cultos” dirigidos por líderes que “quebram paradigmas”: aplausos, brados, pulos de alegria, faixas, cartazes, balões, bandeirinhas, lenços... As palavras de ordem são: exagerar e extrapolar. “Sentiu vontade de fazer? Faça.” — dizem. — “Se parecer exagero, execute! O Senhor não está interessado se o adoramos de ponta-cabeça, sentados, em pé, deitados, chorando, sorrindo, cantando, falando, gemendo, gritando e até gesticulando o corpo”.
Nas igrejas em células, geralmente, os aspirantes a pregador recebem instruções como: “seja bem-humorado; use termos joviais, expressões em inglês e termos regionais; faça brincadeirinhas; pregue com emoção; não seja um chato”. Os pregadores têm de ser, obrigatoriamente, animadores de auditório. Um influente líder da juventude afirmou: “Se você quer pregar sem se contextualizar, esqueça! Estamos cansados de tanta cerimônia, de tanta opressão, de tanta mesmice”.
Os pregadores da santificação não são bem-vindos. “As pessoas não vão aos cultos para serem repreendidas, mas para buscar soluções para problemas, conflitos, receber alívio para seus sofrimentos; enfim, para satisfazer as suas necessidades.” — dizem os defensores desse evangelho antropocêntrico. À luz das Escrituras, o compromisso do pregador é com o Senhor. Quando Ele mandou Ezequiel profetizar, disse-lhe que o auditório não o ouviria, pois era “casa rebelde” (Ez 2.1-4). O homem de Deus deve pregar, quer ouçam, quer deixem de ouvir, porque o seu compromisso é com Deus (v. 5). Jesus não elogiou ou agradou Nicodemos, mas lhe disse, com franqueza, que era necessário nascer de novo (Jo 3.1-5).
Ademais, a “visão celular” valoriza as estratégias de marketing. Os líderes falam muito aos seus liderados sobre atacado e varejo; o marketing pessoal também é fundamental. “Empreender é como espalhar logotipos. É deixar a marca pessoal em tudo que se realiza. O anonimato, a modéstia são para quem não tem o que mostrar ou fazer” — afirmam. Deus, entretanto, que não dá a sua glória a outrem (Is 42.8), “atenta para o humilde; mas ao soberbo conhece-o de longe” (Sl 138.6). Daí a humildade ser uma característica marcante na vida dos verdadeiros mensageiros do Senhor (Mt 11.28-30; Jo 3.30; Gl 2.20).
CPAD NEWS
Doze
verdades sobre os falsos apóstolos
.
Em recente pesquisa sobre o movimento apostólico no Brasil, o Rev.
Augustus Nicodemus Lopes[1] afirmou que já existem mais de 12 mil apóstolos no
país, reconhecidos nas últimas duas décadas. A grande questão é se os tais, de
fato, são apóstolos nos termos apresentados pela Palavra de Deus. As Escrituras
Sagradas, como nossa única fonte de autoridade dada à Igreja pelo próprio Deus,
deve ser o instrumento por meio do qual podemos discernir o que é falso e
verdadeiro. Somos, portanto, impelidos pelo Espírito Santo a mantermos nossas
interpretações sempre submissas à Verdade de Deus, deixando que a própria
Bíblia verse sobre o assunto, nos atendo apenas à exposição fiel daquilo que o
Senhor revelou pelos seus santos profetas e apóstolos.
Quanto ao tema proposto, antes de discorrermos propriamente sobre os
falsos apóstolos, devemos conhecer o que a Bíblia ensina sobre os verdadeiros;
e ela nos aponta claramente, tanto as credenciais de um apóstolo de Cristo como
a abrangência de sua atuação na história da redenção. Vejamos, então, quais são
as credenciais de um apóstolo.
Em primeiro lugar, um apóstolo de Cristo deve ter sido chamado e
constituído APÓSTOLO pelo próprio Senhor Jesus. É o que se deve concluir dos dois trechos
abaixo:
“E, quando amanheceu, chamou a si os seus discípulos e escolheu DOZE
DENTRE ELES, aos quais deu também o nome de APÓSTOLOS: Simão, a quem
acrescentou o nome de Pedro, e André, seu irmão; Tiago e João; Felipe e
Bartolomeu; Mateus e Tomé; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, chamado Zelote;
Judas, filho de Tiago, e Judas Iscariotes, que se tornou traidor” (Lucas
6.13 e 16).
“Não te envergonhes, portanto, do testemunho de nosso Senhor, nem do
seu encarcerado, que sou eu; pelo contrário, participa comigo dos sofrimentos,
a favor do evangelho, segundo o poder de Deus, que nos salvou e nos chamou com
santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria
determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos
eternos, e manifestada, agora, pelo aparecimento de nosso Salvador Cristo
Jesus, o qual não só destruiu a morte, como trouxe à luz a vida e a
imortalidade, mediante o Evangelho, para o qual FUI DESIGNADO pregador,
APÓSTOLO e mestre.” (2 Timóteo 1.8-11).
Em segundo lugar, um apóstolo de Cristo deve ter sido instruído
pessoalmente pelo Senhor Jesus. Os doze, bem como Matias e Paulo foram orientados pelo próprio
Mestre. Os primeiros, andando com Ele e testemunhando todas as coisas com seus
próprios olhos; e Paulo, como um fora de tempo, segundo ele mesmo o descreve,
recebendo revelações diretas do Senhor. Sobre a escolha de Matias, recomendo a
leitura de um trecho do livro de Abraham Kuyper: A obra do Espírito Santo[2].
Vejamos o que diz os versos abaixo:
“O que era desde o princípio, o que TEMOS OUVIDO, o que TEMOS VISTO
com nossos próprios olhos, o que CONTEMPLAMOS, e as NOSSAS MÃOS APALPARAM, com
respeito ao verbo da vida [...] o que TEMOS VISTO E OUVIDO ANUNCIAMOS também a
vós outros, para que vós, igualmente, mantenhais comunhão conosco. Ora, a nossa
comunhão é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo” (1 João 1.1 e 3).
“Faço-vos, porém, saber, irmãos, que o evangelho por mim anunciado
não é segundo o homem, porque eu não o RECEBI, nem o APRENDI de homem algum,
mas MEDIANTE REVELAÇÃO DE JESUS CRISTO” (Gálatas 1.11-12).
Em terceiro lugar, um apóstolo de Cristo deve ter recebido autoridade
para realizar sinais, milagres e prodígios em Seu nome. Os Evangelhos e o livro de Atos mostram
claramente que o poder de operar milagres, sinais e prodígios em grandes
proporções era prerrogativa apenas de Cristo e dos seus apóstolos, como nos
indicam os versos a seguir:
“Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos
POR INTERMÉDIO DOS APÓSTOLOS.” (Atos 2.43).
“Muitos sinais e prodígios eram feitos entre o povo PELAS MÃOS DOS
APÓSTOLOS. E costumavam todos reunir-se, de comum acordo, no pórtico de
Salomão.” (Atos 5.12).
“Pois as CREDENCIAIS DO APOSTOLADO foram apresentadas no meio de vós,
com toda a persistência, POR SINAIS, PRODÍGIOS E PODERES MIRACULOSOS.” (2
Coríntios 12.12).
E por fim, um apóstolo de Cristo deve ter visto o Senhor Jesus vivo,
morto e ressuscitado, bem como dado testemunho disto diante dos homens. E esta parece ser uma das mais relevantes
dentre todas as credenciais de um apóstolo.
“É necessário, pois, que, dos HOMENS QUE NOS ACOMPANHARAM TODO O
TEMPO QUE O SENHOR JESUS ANDOU ENTRE NÓS, começando no batismo de João, até ao
dia em que dentre nós foi levado às alturas, um destes se torne TESTEMUNHA
CONOSCO DA SUA RESSURREIÇÃO.” (Atos 1.21-22). (Leia sobre a escolha de
Matias[3]).
“Com grande poder, os APÓSTOLOS DAVAM TESTEMUNHO DA RESSURREIÇÃO DO
SENHOR JESUS, e em todos eles havia abundante graça.” (Atos 4.33).
“Antes de tudo, vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu
pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado e ressuscitou
ao terceiro dia, segundo as Escrituras. E APARECEU A CEFAS E, DEPOIS, AOS DOZE.
Depois, foi visto por mais de quinhentos irmãos de uma só vez, dos quais a
maioria sobrevive até agora; porém alguns já dormem. Depois, foi VISTO TAMBÉM
POR TIAGO, mais tarde, POR TODOS OS APÓSTOLOS e, afinal, depois de todos, FOI
VISTO TAMBÉM POR MIM, como por um nascido fora de tempo. Porque eu SOU O MENOR
DOS APÓSTOLOS, que mesmo não sou digno de ser chamado APÓSTOLO, pois persegui a
igreja de Deus. Mas pela graça de Deus, sou o que sou, e a sua graça, que me
foi concedida, não se tornou vã; antes, trabalhei muito mais do que todos eles;
todavia, não eu, mas a graça de Deus comigo.” (1 Coríntios 15.3-10).
Além das credenciais acima expostas, uma verdade crucial e fundamental a
respeito dos verdadeiros apóstolos de Cristo foi registrada pelo Apóstolo João
no livro de Apocalipse:
“E me transportou, em espírito, até a uma grande e elevada montanha e
me mostrou a santa cidade, Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus [...]
A muralha da cidade tinha DOZE FUNDAMENTOS, e estavam sobre estes os DOZE NOMES
DOS DOZE APÓSTOLOS DO CORDEIRO” (Apocalipse 21.10 e 14). – Sobre o nome de
Matias e Paulo leia o texto recomendado anteriormente[4].
Trata-se de uma revelação sobre à consumação dos tempos. Nela o Senhor
mostrou os NOMES APENAS DOS DOZE APÓSTOLOS DO CORDEIRO escritos nos fundamentos
da cidade santa. Isto implica que nenhum outro nome foi escrito, senão os nomes
dos doze verdadeiros apóstolos de Cristo. O que dizer dos que hoje ainda se
intitulam apóstolos? Em que parte das Escrituras eles se encaixam para serem
recebidos pela igreja como tais?
É possível que haja crentes verdadeiros que estejam em posição de falsos
apóstolos? Certamente que sim. Por certo, por terem recebido falsos ensinos a
este respeito e porque foram ou induzidos ou tentados a pensarem que tenham
recebido de Deus tal vocação. No entanto, se verdadeiros crentes ou não, não
deixam de ser falsos apóstolos. Infelizmente a maioria deles são ímpios,
instrumentos de Satanás, movidos pelo e para o engano.
Passemos então, às doze verdades a respeito desses falsos apóstolos.
Considerando que o chamado “ministério apostólico” no Brasil, chegou trazendo
novos ensinos e novas revelações – incluindo aquele referente à “restauração do
ministério apostólico”, aqueles que assim procedem devem ser vistos também como
falsos mestres e falsos profetas. Em nenhum lugar das Escrituras encontramos
base para tal ensino. Vejamos o que a Bíblia diz sobre eles:
1. Falsos apóstolos não são estranhos de fora, mas se levantam entre o
povo de Deus. Não se enganem, eles surgem
entre os salvos, de onde menos se espera. Estão na igreja visível e, em geral,
em cargos de liderança, gozam de relativa autoridade sobre a igreja e até
conseguem enganar a muitos, fazendo-se reconhecidos como líderes de grande
credibilidade, mas não passando de falsos profetas e falsos mestres. A este
respeito o Apóstolo Pedro nos advertiu:
“Assim como, NO MEIO DO POVO, surgiram falsos profetas, assim também
surgirão ENTRE VÓS falsos mestres, os quais introduzirão, dissimuladamente,
heresias destruidoras, até ao ponto de renegarem o Soberano Senhor que os
resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição.” (2 Pedro
2:1).
2. Falsos apóstolos são autodeclarados. Eles se levantam diante do povo de Deus
asseverando terem recebido de Deus tal vocação ou usando a autoridade de outros
apóstolos, também autodeclarados, para que sejam recebidos pela igreja de Deus
como tais. Apocalipse registra casos semelhantes na igreja de Éfeso; homens
maus que se dizem apóstolos sem de fato o serem. Vejam as palavras do Senhor
Jesus à Igreja:
“Conheço as tuas obras, tanto o teu labor como a tua perseverança, e
que não podes suportar homens maus, e que puseste à prova OS QUE A SI MESMOS SE
DECLARAM APÓSTOLOS, E O NÃO SÃO, e tu os achaste mentirosos .” (Apocalipse
2:2).
O grande problema dos cristãos que fazem parte dos ministérios desses
líderes é que foram ensinados, sob ameaça de maldição, a não colocarem esses
homens à prova, sob o argumento de que não se pode tocar “no ungido do Senhor”.
3. Falsos apóstolos são bons imitadores dos verdadeiros apóstolos. Estes tais têm a capacidade de, por suas
obras fraudulentas, convencerem pessoas de que são apóstolos como os
verdadeiros apóstolos de Cristo. São imitadores baratos, instrumentos de
engano, que muitas vezes enganam até a si mesmos. O Apóstolo Paulo denuncia
estes falsos apóstolos em uma de suas cartas aos coríntios:
“Porque os tais são FALSOS APÓSTOLOS, OBREIROS FRAUDULENTOS,
TRANSFORMANDO-SE EM APÓSTOLOS DE CRISTO. E não é de admirar, porque o próprio
Satanás se transforma em anjo de luz.” (2 Coríntios 11.13-14).
Aqueles que os seguem não tem a coragem de submetê-los ao crivo bíblico
das credenciais apostólicas.
4. Falsos apóstolos reivindicam para si sinais do apostolado verdadeiro. De alguma forma falsos apóstolos conseguem
demonstrar por meio de enganos alguns sinais das credenciais dos verdadeiros
apóstolos e se apresentam diante da Igreja, e até mesmo do próprio Deus,
esperando que seus sinais sejam aceitos e cridos como verdadeiros. A esse
respeito o Senhor Jesus alertou:
“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus,
mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos, naquele
dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! PORVENTURA, NÃO TEMOS NÓS PROFETIZADO EM
TEU NOME, E EM TEU NOME NÃO EXPELIMOS DEMÔNIOS, E EM TEU NOME NÃO FIZEMOS
MUITOS MILAGRES? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci.
Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade.” (Mateus 7:21-23).
Se estes tais não são recebidos por Cristo, ainda que tenham sinais,
também não devem ser recebidos pela igreja.
5. Falsos apóstolos gloriam-se de serem “iguais” aos verdadeiros. Movidos pelo auto-engano e pelo desejo de
terem o maior número de pessoas os seguindo, acreditando e afirmando terem o
poder e a vocação dados aos apóstolos, os falsos se gloriam de serem como os
verdadeiros, apresentando-se deste modo e exigindo que sejam tratados como
tais. Veja o que nos disse o Apóstolo Paulo sobre eles:
“A verdade de Cristo está em mim; por isso, não me será tirada esta
glória nas regiões da Acaia. Por que razão? É porque não vos amo? Deus o sabe.
Mas o que faço e farei é para cortar ocasião àqueles que A BUSCAM COM O INTUITO
DE SEREM CONSIDERADOS IGUAIS A NÓS; NAQUILO EM QUE SE GLORIAM.” (2
Coríntios 11.12-14).
6. Falsos apóstolos tem aparência de manifestações de poder. Uma das características dos falsos apóstolos
é a capacidade de atrair pessoas pelo anúncio e pela realização de “sinais” de
poder, em geral sem chances de comprovação. O fato é que eles impressionam,
cativam e escravizam seus seguidores pregando uma necessidade de experimentar o
“poder” de Deus. O próprio Senhor Jesus avisou aos seus discípulos que estes
tais apareceriam e enganariam a muitos com seus “sinais de poder”:
“Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas OPERANDO GRANDES
SINAIS E PRODÍGIOS PARA ENGANAR, se possível, os próprios eleitos.” (Mateus
24:24).
7. Falsos apóstolos são eficazes na arte de disfarçar suas mentiras e
enganos. Eles são dissimulados,
apresentam-se cheios de promessas vazias, portando-se de tal modo que suas
mentiras não podem ser facilmente descobertas. Seus seguidores ficam tão
extasiados com suas promessas que perdem a capacidade de julgar tudo antes de
reter qualquer coisa. Como não são preparados para identificar falsidades, dão
crédito às mentiras como se fossem verdades. Foi também o Senhor Jesus quem nos
alertou sobre isso:
“Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que VÊM ATÉ VÓS VESTIDOS
COMO OVELHAS, MAS, INTERIORMENTE, SÃO LOBOS DEVORADORES.” (Mateus
7:15).
8. Falsos apóstolos tem aparência de piedade. As pessoas gostam de líderes com aparência de
espiritualidade. Aparência de piedade é um meio eficaz de promover o engano e
cativar pessoas, especialmente àqueles que aprendem sem reter a verdade. Os
falsos apóstolos tem aparência de piedade, mas seu caráter é contraditório:
“TENDO APARÊNCIA DE PIEDADE, mas negando-lhe, entretanto, o poder.
Foge também destes. Pois entre estes se encontram os que penetram
sorrateiramente nas casas e CONSEGUEM CATIVAR mulherinhas sobrecarregadas de
pecados, conduzidas de várias paixões, que aprendem sempre e jamais podem
chegar ao conhecimento da verdade.” (2 Timóteo 3:5-7).
9. Falsos apóstolos são eficazes no uso das palavras. Palavras são o principal instrumento dos
falsos apóstolos. Palavras bonitas e lisonjeiras, porém enganosas, são
eficazmente usadas para atrair as multidões. Em geral as igrejas desses
pretensos apóstolos são cheias. Cheias de pessoas esperando ouvir seus sermões
centrados no homem e carregados de palavras cuidadosamente colocadas como iscas
aos corações ingênuos. Um linguajar espiritualizado, um evangeliquês místico e
“palavras de ordem” que os fazem parecer conectados ao céu. É o Apóstolo Paulo
que de novo adverte a igreja sobre esse perigo:
“Rogo-vos, irmãos, que noteis os que PROMOVEM DISSENSÕES E ESCÂNDALOS
CONTRA A DOUTRINA QUE APRENDESTES; desviai-vos deles. Porque os tais não servem
a Cristo nosso Senhor, mas ao seu ventre; e COM PALAVRAS SUAVES E LISONJAS
ENGANAM OS CORAÇÕES DOS INOCENTES.” (Romanos 16:17-18).
10. Falsos apóstolos são convincentes. Além de palavras serem bonitas, eles possuem
estratégias e métodos convincentes. Associados às suas performances e promessas
de manifestação de poder, conseguem enganar facilmente pessoas crédulas. Foi o
próprio Senhor Jesus quem disse que, se isso fosse possível, até os eleitos
seriam enganados por eles.
“Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas OPERANDO GRANDES
SINAIS E PRODÍGIOS PARA ENGANAR, se possível, os próprios eleitos.” (Mateus
24:24).
11. Falsos apóstolos são sutis na introdução de falsos ensinos. Não podemos nos enganar, acreditando que
falsos apóstolos chegam com ensinos descaradamente absurdos. Em geral eles
aparecem com ensinos atrativos, sutilmente conquistando a confiança do povo e
lançando suas heresias nocivas no meio da igreja. Chega sim um momento que eles
começam a ensinar descaradamente doutrinas absurdas, mas o povo já está tão
cativo, que as recebe sem questionar, especialmente sendo ensinadas que “discípulos
não questionam, discípulos obedecem”.
“Assim como, no meio do povo, surgiram falsos profetas, assim também
surgirão entre vós falsos mestres, OS QUAIS INTRODUZIRÃO, DISSIMULADAMENTE,
HERESIAS DESTRUIDORAS, até ao ponto de renegarem o Soberano Senhor que os
resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição.” (2 Pedro
2:1).
“Tendo aparência de piedade, mas negando-lhe, entretanto, o poder.
Foge também destes. Pois entre estes se encontram os que PENETRAM
SORRATEIRAMENTE NAS CASAS E CONSEGUEM CATIVAR mulherinhas sobrecarregadas de
pecados, conduzidas de várias paixões, que aprendem sempre e jamais podem
chegar ao conhecimento da verdade.” (2 Timóteo 3:5-7).
12. Falsos apóstolos dizem o que o povo quer ouvir. Como o povo está ávido por ouvir o que
desejam, torna-se fácil aos falsos profetas enganá-lo trabalhando em cima de
seus anseios. Os ministérios desses homens e mulheres são voltados aos anseios
humanos, não para a glória de Deus. O profeta Jeremias já alertava o povo de
Deus a esse respeito no Antigo Testamento, quando falsos profetas diziam ao
povo o que o povo queria ouvir. Diziam: "Deus disse" quando Deus na
verdade não disse nada:
“Porque assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: Não vos
enganem os vossos profetas que estão no meio de vós, nem os vossos adivinhos,
nem deis ouvidos aos vossos sonhos, que sonhais; Porque ELES VOS PROFETIZAM
FALSAMENTE EM MEU NOME; não os enviei, diz o Senhor.” (Jeremias
29:8-9).
Diante do exposto, todos nós temos uma postura a tomar como forma de
proteger a igreja de Cristo contra os danos dos falsos apóstolos:
Aos verdadeiros pastores e mestres, cabe o dever de ensinar fielmente a
verdade, alertar os crentes do erro, preveni-los dos perigos, e conduzi-los de
forma que venham a crescer na graça e no conhecimento do Senhor; orando sempre
para que sejam cheios do espírito de sabedoria e entendimento, tendo iluminados
os olhos do coração, para que permaneçam firmem na graça e na fé em Cristo
Jesus.
A todos os crentes, cabe o dever de conhecer as Escrituras, vivendo em
obediência na verdade e sondando sempre os corações e consciências para que não
se deixem enganar por sutilezas; orando sempre para que si lhes abram os olhos
e tenham discernimento para afastarem dos ensinos dos falsos apóstolos.
Aos verdadeiros crentes que se constituíram falsos apóstolos, cabe o
urgente dever de se arrependerem de seus falsos caminhos, voltando-se para
Deus, buscando graça e misericórdia em tempo oportuno; orando com humildade e
temor para que o Senhor os livre do auto-engano e os previna de fazer tropeçar
um daqueles a quem o Senhor ama.
Quanto aos falsos apóstolos, cujos corações são movidos pela impiedade,
sejam os tais guardados para o dia do juízo. Deus não terá misericórdia deles.
___________
Notas:Bereianos.blogspot.com +notas
[1] LOPES, Nicodemus Augustos. Apostolado no Brasil. Voltemos ao
Evangelho, disponível em . Acesso em 02 de Maio de 2014.
[2] KUYPER, Abraham. A Obra do Espírito Santo. São Paulo: Cultura Cristã, 2010. pp. 185-189.
[3] Idem.
[4] Idem.
A Incumbência: Deter os Falsos
Mestres (1.3-11)
Paulo
começa a carta propriamente dita de um modo que não lhe é característico — sem
as costumeiras ações de graças. De suas cartas anteriores, somente em Gálatas
(fato bastante significativo) faltam as ações de graças. A ausência dessa
expressão gratulatória aqui sustenta a observação já feita de que 1 Timóteo
visa, realmente, o benefício da igreja tanto quanto do próprio Timóteo, ou
ainda mais; o que está ocorrendo na igreja não é motivo para dar graças (dar
graças em tudo?).
Ao
invés, Paulo entra de imediato na ocasião e no propósito da carta. Em verdade,
todas as questões cruciais que compõem a estrutura e conteúdo de 1 Timóteo
estão exibidas no parágrafo inicial (vv. 3-7). A igreja corre grande perigo em
virtude de alguns presbíteros que talvez se
julguem mestres da lei (v.
7), mas, com efeito, ensinam outra doutrina (v. 3). Timóteo foi
deixado em Éfeso para conter a maré. Ele não é o "pastor"; antes, foi
deixado para atuar em nome de Paulo enquanto Paulo estiver ausente. Esta carta
autorizará a Timóteo — perante a igreja — a opor-se àqueles enganadores e seus
adeptos. Portanto, o palco está montado: A
carta no seu todo é uma reação à presença dos falsos mestres.
1:3 A
sentença inicial proporciona a ocasião da carta, acrescida de todos os
"atores" significativos — Paulo, Timóteo, a igreja (implícita no em
Éfeso), e os falsos mestres.
Embora
não haja certeza quanto a se Paulo havia estado recentemente em Éfeso, isso
parece estar implícito ao rogar a Timóteo que fique em Éfeso enquanto ele,
Paulo, partia para a Macedônia. Mais adiante (3:14), ficamos sabendo que Paulo
esperara ir para Éfeso em breve; contudo, no caso de demora (o que de fato
aconteceu, dada a evidência de 2 Timóteo), Paulo queria que seu companheiro
mais jovem tivesse "por escrito" o motivo para ele estar ali.
Os
começos da igreja em Éfeso estão muito envoltos em mistério (At 18:19-21;
18:24 - 20:1), embora fique claro do relato de Atos, corroborado por
referências passageiras em 1 Coríntios 16:8-9, 19, e 2 Coríntios 1:8-9, que se
tratava de uma igreja paulina (talvez composta por muitas igrejas-lares; veja 1
Coríntios 16:19). Éfeso era ao mesmo tempo a capital da província e centro
religioso da província da Ásia. Devido ao lodo que o entupia, no
tempo de Paulo, o porto sofria declínio comercial; mas isto ainda era
compensado, contudo, por sua importância passada e pela presença do seu templo
de Artemis (Diana), uma das Sete
Maravilhas do Mundo antigo e atração turística que obviamente
rendia não pequenos lucros líquidos aos audazes vendilhões de lembranças
religiosas (At 19:23-41). O culto de Artemis refletia mistura (sincretismo) religiosa, mas basicamente era um
rito de fertilidade oriental, com práticas sensuais e orgásmicas. A igreja efésia era
muito importante na estratégia missionária de Paulo; daí sua preocupação em
desarraigar o erro neste centro-chave.
Não
há indício algum de que em qualquer das cartas a Timóteo alguns homens que
ensinavam outra doutrina fossem elementos de fora, como no caso ocorrido na
Galácia (Gl 2:4) e em Corinto (p.e., 2 Co 11:4, 12-15). De mais a
mais, o discurso de despedida de Paulo aos presbíteros efésios, conforme
registrado em Atos20:17-35, prediz com clareza que os "lobos cruéis"
que "não pouparão o rebanho" serão alguns homens "dentre vós mesmos" (vv. 29-30). Portanto, que os falsos mestres talvez fossem
presbíteros encontra apoio em diversos trechos de 1 Timóteo: o
presumirem ser "mestres da lei" (v. 7), responsabilidade
essa dos presbíteros (5:17; cp. 3:2); o fato de que foi Paulo quem citou e
excomungou dois deles (1:19-20), e não a igreja, como em 2 Tessalonicenses 3:14
e 1 Coríntios 5:1-5; e o repetido interesse pelos presbíteros nesta carta, quer
quanto à qualificação deles — sem mencionar deveres — em 3:1-7, quer quanto à
disciplina a eles aplicada e evidente substituição em 5:19-25.
A
expressão traduzida por ensinassem outra doutrina aparentemente cunhada aqui e
encontrada depois apenas em escritos cristãos, ao pé da letra significa "ensinar outras coisas", ou "ensinar novidades". É remanescente dos
falsos mestres em Corinto, que pregavam "outro Jesus" e "outro
evangelho" (2 Co 11:4; cp. Gl 1:6). Contudo, "outra
doutrina" (novidades) não são trivialidades inocentes; são perversões
claras do evangelho puro. A finalidade de Timóteo em permanecer ali era, pois,
para advertires a alguns que não ensinassem outra doutrina.
1:4 Timóteo
deve também ordenar aos mestres do erro que não se ocupassem com fábulas ou com genealogias intermináveis. Essas duas
palavras, dentre as poucas encontradas nas cartas a Timóteo que dão alguma
indicação do conteúdo das falsas doutrinas, colocam-se também dentre as mais
enigmáticas. Conforme diz Kelly: "Elas chegam tantalizantemente,
quase revelando o conteúdo da heresia"! Em 4:7 elas são de novo
caracterizadas como "fábulas profanas de velhas". Fenômeno semelhante
também surge em Creta, onde a expressão de Paulo é "fábulas judaicas"
(Tt 1:14); as "genealogias" reaparecem numa lista que inclui
"contendas e debates acerca da lei" (Tt 3:9).
Eruditos
têm afirmado muitas vezes que essas palavras refletem o suposto caráter gnóstico
da heresia, apoiado também por linguagem como " oposições da
falsamente chamada ciência" (6:20) e pelas práticas ascéticas mencionadas
em 4:3 (cp. 5:23). Assim, fábulas e genealogias são consideradas como referindo-se àscosmologias especulativas
dos últimos gnósticos com seus sistemas de eões (seres
espirituais) que emanam de Deus (o Pai de todos), como se encontra em Valentino.
(Esta posição parece refletir-se na Bíblia Viva, que diz: "A idéia que eles têm de poder salvar-se por conseguir
a proteção de uma cadeia interminável de anjos que leva a
Deus".)
Mas
os termos traduzidos por fábulas mythoi e genealogias (genealogiai)
nunca são usados nas descrições desses sistemas gnósticos. Aparecem, contudo,
regularmente no helenismo e no judaísmo helenístico referindo-se a tradições
sobre origens dos povos. O termo mythoi nesta literatura quase sempre
é usado em sentido pejorativo (como por todas as EP), para contrastar o caráter
mítico de muitas dessas fábulas com a verdade histórica.
Portanto,
dada a falta de qualquer consideração verdadeira em 1 e 2 Timóteo
pelas bases caracteristicamente gnósticas, além do fato de que no v. 7 os erros
se relacionavam de modo específico com a lei, é mais plausível que tais fábulas
e genealogias intermináveis reflitam algum tipo de influência judaica, sem
dúvida com alguns revestimentos helenísticos. Porém, não sabemos com precisão o
que eram, embora tenha havido algumas sugestões (como as especulações
que encontramos no Book of Jubilees ou em Questions and Answers on Gênesis,
de Fílon, ou no Book of Biblical Antiquities de um pseudo-Fílon,
e até mesmo na tradição hagádicajudaica [comentário ilustrativo sobre o
AT]). Deve-se, por fim, admitir que não sabemos ao certo por que
Paulo não nos deixou pistas suficientes.
O
que sabemos com certeza é que ele condena ousadamente tais coisas,
não tanto em função de seu conteúdo (embora tais fábulas não tenham relação
alguma com a verdade [4:6-7; 2 Timóteo 4:4], mas porque esse ensino
tem dois efeitos finais: (1) são " discursos vãos" (1:6; cp.
6:20; 2 Timóteo 2:16; 3:7), que (2) resultam em contendas e discórdias (6:3-5;
2 Timóteo 2:14, 23).
É a
absoluta futilidade disso tudo que molesta a Paulo neste ponto. Em verdade, a
palavra traduzida por intermináveis talvez se refira à natureza "exaustiva,
cansativa" daquele ensino. O que
essas "fábulas e genealogias intermináveis" produzem é "especulações" (RSV; lit.,
"busca"), ou controvérsias (NIV e ECA). Dessa maneira, fábulas e
genealogias são tédios intermináveis, que promovem especulações tolas,
"cheias de som e fúria", mas "nada significando".
Além
do mais, essas especulações nada têm que ver com o serviço de Deus o qual é na
fé. A palavra traduzida por serviço, quando empregada em seu sentido literal,
não figurado, refere-se à “administração" da casa de outrem (como em Lucas
16:2-4). Como metáfora, significa ou "uma mordomia confiada por Deus"
(cp. 1Coríntios 9:17; Efésios 3:2), ou como na ECA e NIV, serviço de Deus,
significando "providências de Deus para a redenção do povo". É mais
provável que esta última seja a intenção, visto que a ênfase neste contexto não
parece estar sobre a falha dos falsos mestres em exercer mordomia fiel, mas sobre o evangelho como serviço de Deus,
baseado na fé, ou conhecido na fé, em contraste com a futilidade das
"novidades", ou "outra doutrina".
1:5 Havendo
dado a ocasião para escrever a carta (v. 3), e mais alguma reação ao que os
presbíteros errados estão fazendo (v. 4), Paulo volta agora a ordenar
(advertires) que eles parem (v. 3). O intuito deste mandamento, diz ele, é o
amor. Talvez não seja esta uma afirmação geral a respeito do evangelho, em
contraste com os erros; ao contrário, Paulo está dando o motivo específico para
o envolvimento de Timóteo, a saber, suscitar o amor que procede de um coração
puro. Os falsos mestres estão envolvidos em controvérsias (v. 4) e discursos
vãos (v. 6) cheios de engano (4:1-2) que levam a discórdias e
suspeitas (6:4-5). A finalidade de ordenar-lhes que parem é conduzir a igreja
de volta ao resultado próprio do " serviço de Deus" baseado
"na fé", a saber, o amor de uns
para com os outros. (Observe quantas vezes aparecem juntos fé e amor nas
EP como virtudes verdadeiramente cristãs: 1 Timóteo 1:14; 2:15; 4:12;
6:11; 2 Timóteo 1:13; 2:22; 3:10; Tito 2:2).
A graça cristã do amor brota de um coração puro, de uma boa
consciência, de uma fé não fingida. Essas motivações para amar
ficam em agudo contraste com as dos falsos mestres, que estão enganados e
cheios de engano (4:1-2; 5:24; 2 Timóteo 2:26; 3:13; cp. 1 Timóteo
2:14; 5:15; 2 Timóteo 3:5-7), têm consciências " cauterizadas" (4:2),
"vieram a naufragar na fé" (1:19).
Um
coração puro reflete o pano de fundo bíblico de Paulo (Salmos 24:4; 51:10; cp.
a bem-aventurança de Jesus, Mateus 5:8). O conceito de boa consciência deriva de
seu meio ambiente helenístico. A consciência é a capacidade, ou sede, da
consciência moral, comum a todas as pessoas (Romanos 2:15; 2 Coríntios
4:2). Em cartas anteriores de Paulo (somente Romanos, 1 e 2
Coríntios), a consciência arbitra as ações próprias — e as de outros (esp. 1
Coríntios 8-10). Mas também está claro que ela pode ser informada, quer pelo
passado pagão da pessoa, quer pela presente existência em Cristo. Nas EP, o
termo consciência é muitas vezes, como aqui, acompanhado de um adjetivo descritivo
(boa, pura, cauterizada), implicando que a sede da tomada de decisão foi
"purificada" por Cristo ou "cauterizada" ou
"contaminada" por Satanás (veja disc. sobre 1 Timóteo 4:2 e
Tito 1:15 -16). Deste contexto e de 1:19 fica claro que um coração
puro e uma boa consciência são idéias sinônimas.
A
qualificação da fé como não-fingida (sincera) é comparável à qualificação que
Paulo dá ao amor em Romanos 12:9. Num sentido, nem fé nem amor podem ser assim
qualificados. Ou você tem fé, ou amor, ou não tem. Mas a palavra fé tem amplo
emprego em Paulo, variando desde "confiar em Deus" (o mais comum)
passando por uma virtude cristã que se aproxima muito da idéia de
"fidelidade" (p.e., 1 Tessalonicenses 3:6; 5:8, muito
freqüente nas EP), até o conteúdo da crença cristã (p.e., Gálatas 1:23; também
muito freqüente nas EP). Aqui, fé
não-fingida refere-se à virtude cristã, significa confiar em que Deus está
presente de verdade, em contraste com a natureza enganosa da “fé" dos
mestres do erro.
1:6-7 Agora está claro
que essas fontes do amor cristão estão expressas de modo que contrastem com os
falsos mestres. Alguns, a saber, os falsos mestres se desviaram destas coisas
(isto é, de "um coração puro, uma boa consciência e uma fé sincera"; cp. 1:19).
O conceito de desviar-se de fé (ou a fé) repete-se nas EP, às vezes com este
verbo (6:21; 2 Timóteo 2:18), mas também com diversos outros (rejeitado, ECA,
1:19; "apostatarão", 4:1; "se desviaram", 1:6; 5:15; 6:10;
"recusar", 2 Timóteo 4:4). Esta apostasia por parte tanto dos
presbíteros errados como de seus seguidores é a grande ênfase de 1 Timóteo.
Não
somente se desviaram da verdadeira fé e integridade, mas em seu lugar se
entregaram a discursos vãos. Isto repete os temas do tédio, e das
controvérsias do v. 4. A palavra que representa discursos vãos é um
composto de mataios ("vazio, vão") e logos ("discurso").
Este "discurso" é alhures caracterizado como
"conversas vãs" e "falatórios inúteis" (6:20; 2 Timóteo
2:16).
Paulo
tem uma designação final para os mestres do erro nesta arremetida inicial:
Querem ser mestres da lei. Não é fácil determinar com precisão o que Paulo quer
dizer por mestres da lei (no grego uma palavra composta: nomos,
"lei"; didaskalos, "professor"). A palavra é
estritamente cristã, usada por Lucas (5:17) para referir-se aos rabis, e a Gamaliel,
em Atos 5:34. Aqui talvez seja um epíteto pejorativo (estão meramente assumindo
o papel de rabinos judeus); porém, é mais provável que seja uma descrição do
que os falsos mestres desejavam, na realidade, ser mestres da lei (no sentido
provável de intérpretes das leis, 4:3, e intérpretes especulativos das
histórias e genealogias do AT a respeito dos começos, 1:4).
Em
qualquer dos casos, eles não entendem nem o que dizem, como o próximo
parágrafo elucidará (porque estão cheios de controvérsias e, de discursos vãos)
nem o que com tanta confiança afirmam (o significado das Escrituras). Estão
simplesmente "pontificando sobre o incognoscível". O tema da
"ignorância" ou "tolice" dos heréticos se repetirá, nestas
cartas (6:4,20; 2 Timóteo 2:23; Tito 1:15; 3:9; cp. 2 Timóteo 3:7).
1:8 O
próximo parágrafo (vv. 8-11) parece digressão que leva a uma Segunda digressão
(vv. 12-17; observe como os vv. 18-20 retomam o argumento dos vv. 3-7). Porém,
no sentido típico paulino é uma digressão que confirma de modo
significativo o ponto sob discussão. Em resposta ao uso impróprio que os falsos
mestres fazem da "lei", Paulo lhes expõe o verdadeiro intento da lei,
o qual, conforme expresso aqui, é que ela se destina aos ímpios.
Muito
interessante é o fato de Paulo não lhes dizer como ou por que, a lei é para
eles; mas, em Galatas 3:23-4:7 e em Romanos 7:7-25, ele já havia
tratado desta questão e mencionado dois motivos: pôr um freio no pecado
(Gálatas) e expressar a desesperada pecaminosidade dos pecadores,
levando-os a clamar pela misericórdia de Deus (Romanos). É provável que o
primeiro motivo é que estava na mente de Paulo, ao iniciar este
parágrafo.
A
sentença inicial evolui do v. 7. Os falsos
mestres desejam ser mestres da lei, mas não sabem o que fazem. É claro
que a intenção de Paulo aqui não é argumentar a favor de um uso correto,
cristão, da lei. Em vez disso, ele está ressaltando a insensatez dos falsos
mestres incluindo o fato de que eles nem sequer usam a lei. Que a lei é boa é
repetição de uma assertiva feita em Romanos 7:12-13 e l6 (embora em
contexto diferente). Fica implícito em ambos os casos que ela é boa,
porque reflete verdadeiramente a vontade de Deus. Não obstante, conforme
ressalta Kelly, a lei não é o evangelho,
mas permanece uma espécie de lei. Aqui, a "bondade" da lei
relaciona-se com ser ela usada legitimamente, isto é, tratada como lei (tendo
em mira os sem lei, v. 9) e não usada "ilegitimamente" como fonte de
fábulas e genealogias intermináveis, ou para práticas ascéticas.
1:9-10 Paulo continua descrevendo o que faz aquele que trata a lei
como lei. O que é verdadeiro em se tratando da lei de Deus, tida como lei, é
naturalmente verdadeiro em se tratando de todas as leis. Ela foi outorgada, não para o justo, mas para os
transgressores e rebeldes os irreverentes e pecadores, os ímpios e profanos.
Ao dizer que a lei não se destinava "ao justo", Paulo repisa um ponto
já apresentado em Gálatas, ou seja, que os que têm o Espírito e produzem o
fruto do Espírito entraram numa esfera de existência na qual a lei já não
desempenha suas funções legais (Gálatas 5:22-23).
A
menção de transgressores da lei, Paulo se lança a uma lista completa de tais
pecadores. Listas de vícios como esta são típicas do apóstolo (veja, p.e.,
Romanos 1:29-31; 1 Coríntios 5:11; 6:9-10; Gálatas 5:19-21; e 2 Timóteo 3:2-4).
O que nos espanta é que nenhum pecado singular é especificamente repetido nelas
(nem nas três cartas anteriores). Em cada caso elas parecem catálogos ad hoc,
embora também pareçam um tanto adaptadas aos contextos. Dos pecados
relacionados nesta lista, os devassos e os sodomitas (v. 10) encontram-se nas
listas anteriores (1 Coríntios 6:9). O mais chocante, porém, é a natureza
bipartida do catálogo. Primeiro, há três pares de classificações gerais:
transgressores e rebeldes, os irreverentes (sem respeito no íntimo) e os
pecadores (exteriormente sem obediência), e os ímpios e profanos. Daí para
a frente o catálogo tem uma coincidência notável com os Dez Mandamentos (do quinto ao nono), muitas vezes dando
expressões mais grotescas desses pecados.
Assim, esses
sem-lei são os parricidas, matricidas (quinto mandamento; e homicidas
(sexto mandamento); os devassos (lit., "fornicadores") e sodomitas,
uma palavra que indica homossexualidade entre homens (sétimo mandamento); roubadores de
homens (oitavo mandamento). Tais coincidências dificilmente podem ser
acidentais. Porém, qual é o motivo para essa lista figurar aqui? Certamente não
é uma referência aos pecados dos falsos mestres, culpados de seus próprios
pecados, mas de outros tipos. É muito provável que essa lista seja um reflexo
consciente da lei mosaica, como lei, e expressa os tipos de pecados, para
proibir os quais foi outorgada a lei. Este,
diz Paulo, é o motivo por que Deus deu a sua lei, não para controvérsias
ociosas e discursos vãos.
Paulo
encerra esta lista de maneira semelhante a Romanos 13:9 é Gálatas 5:21, de
modo que inclui os demais pecados também: para o que for contrário à sã
doutrina. Mas neste caso as palavras de "encerramento" trazem Paulo
de volta uma vez mais às advertências contra os falsos ensinos. A expressão sã
doutrina aparecerá regularmente nessas cartas (6:3; 2 Timóteo 1:13;
4:3; Tito 1:9, 13; 2:2, 8). Trata-se de metáfora médica referente à saúde do
ensino "conforme o evangelho" (v. 11) e se opõe a "ruins
suspeitas" (6:4; NIV, "interesse doentio") dos praticantes do
erro, cujo ensino "corrói como câncer" (2 Timóteo 2:17). Tal
metáfora não se encontra anteriormente nos escritos de Paulo. Sua fonte, como
dispositivo polêmico, com toda a probabilidade é contemporânea dos
filósofos itinerantes, que teriam sido conhecidos dos efésios. Que Paulo tenha
emprestado tal metáfora não é mais surpreendente do que o uso que ele faz da
metáfora do corpo, metáfora política contemporânea bem conhecida, em 1 Coríntios
12, ou o uso que ele faz de imagens do atletismo em 1 Coríntios 9:24-27 e
nestas cartas (1 Timóteo 6:12; 2 Timóteo 2:5; 4:7-8). Nestas epístolas, a
imagem do ensino sadio torna-se uma polêmica eficaz contra os enfermados falsos
mestres. Porém, o cerne da metáfora não visa o conteúdo da doutrina; visa,
antes, o comportamento. O ensino sadio
leva ao comportamento cristão apropriado, ao amor e às boas obras; o
ensino doentio dos heréticos leva a controvérsias, arrogância, abuso e
discórdia (6:4).
1:11 Havendo
mencionado o comportamento " contrário à sã doutrina" , Paulo
conclui descrevendo a verdadeira fonte e medida do ensino sadio. É aquela que
está conforme o evangelho... de Deus. O evangelho, como boas novas de
Deus, em contraposição às más novas da pecaminosidade grotesca da
humanidade, é expressão favorita de Paulo para referir-se à atividade de Deus
em Cristo Jesus a favor dos pecadores. A “sã doutrina" está de acordo com
a mensagem do evangelho, tanto no conteúdo como no comportamento resultante; o
ensino "doente" dos presbíteros transviados não está.
Ao
mencionar o evangelho, Paulo faz duas explicações: ele é descrito como
1. o
evangelho da glória do Deus bendito,
2. o
qual me foi confiado.
O
evangelho é, antes de tudo, o evangelho da glória do Deus bendito (lit. ) Este
tipo de construção genitiva (frase com "de") é particularmente
difícil de fazer sentido na língua portuguesa (e há mais ou menos quatorze
possibilidades para o seu significado em grego). Embora a frase "da
glória" muitas vezes seja usada de modo descritivo no NT (p.e., Efésios 1:17,
"o Pai glorioso"; Colossenses 1:11, "seu glorioso poder";
ou veja GNB aqui," Deus glorioso e bendito"), é muito provável, neste
caso, que a frase descreva, não o caráter do evangelho ("glorioso
evangelho"), mas o seu conteúdo ("evangelho que manifesta a plena
glória de Deus"). O evangelho que Paulo anuncia desvenda a "glória",
ou majestade, do próprio Deus, aqui descrito como o Deus bendito. Esta última
frase, encontrada também em 6:15, não significa tanto que atribuímos
bem-aventurança a Deus, mas que toda a bem-aventurança reside nele e dele
procede.
Este
evangelho, que revela a verdadeira glória de Deus, conclui Paulo me foi
confiado. Isto é tipicamente paulino. Mencionar
o evangelho, a atividade graciosa de Deus a favor dos pecadores, muitas
vezes significa mencionar seu próprio papel como beneficiário e servo, ou
mordomo (cp. 1 Coríntios 9:17; Gálatas 2:7; Efésios 3:2; 1
Tessalonicenses 2:4). Porém, neste caso, talvez Paulo também queira fazer-nos
voltar ao tema; central, a autoridade. Este tema é tão importante que será mais
plenamente desenvolvido no próximo parágrafo.
Assim,
o parágrafo conclui aparentemente a alguma distância do ponto onde começou,
como ligeira digressão sobre o propósito da lei, o qual passou despercebido
pelos mestres da lei. Contudo, esta breve excursão para mencionar o evangelho
como a revelação da majestade de Deus e do relacionamento de Paulo com o
evangelho não está muito longe de seu principal interesse — obstar a divulgação
do falso ensino. E tendo chegado até aqui, Paulo agora se esmerará ainda mais,
novamente não sem propósito contextual.
Bibliografia
D. Fee + www.ebareiabranca.com
Necessidade de Refutar os
Falsos Ensinamentos (1.3-7)
Os
comentadores têm procurado em vão encaixar a viagem de Paulo à Macedônia, aqui
mencionada, nas narrativas do livro de Atos. Primeiramente, Paulo chegou à
Macedônia em resultado de sua visão em Trôade (ver o décimo sexto capitulo do
livro de Atos). Não demorou que Timóteo se tornasse companheiro de viagens do
apóstolo dos gentios, tendo-o acompanhado a Beréia. Entretanto, ameaças de
violência forçaram o apóstolo a apressar-se para ir a Atenas, sendo provável
que ali é que Timóteo se tenha reunido a ele (ver I Ts 3:1 e ss., embora o
trecho de Atos 18:5 pareça dizer algo em contrário). Paulo passou cerca de um
ano e meio em Corinto tendo feito uma viagem a Jerusalém, a Antioquia e às
regiões da Galácia e da Frigia; e então passou cerca de dois anos em Éfeso, e
finalmente voltou à Macedônia. Dessa vez Timóteo foi enviado à frente (ver At 19:22).
Não sabemos dizer onde exatamente, na Macedônia, Paulo se encontrou com
Timóteo; mas, a caminho de volta, Timóteo, juntamente com outros, seguiu à sua
frente para Trôade, onde Paulo veio reunir-se a eles. Isso não deixa
espaço para a viagem mencionada no presente versículo, a menos que tenha tido
lugar enquanto Paulo estava em Éfeso, não sendo episódio registrado no livro de
Atos sob hipótese alguma. Isso é possível, pois, com base no estudo daquele
livro, pode-se afirmar que sua história é fragmentar, precisando ser
preenchida, em muitos pontos, com informes dados nas epístolas de Paulo. E
mesmo assim é perfeitamente possível que Paulo tenha estado em muitos lugares
sobre os quais nada nos é informado. Seja como for, seria difícil explicar se a
viagem ocorreu quando Paulo escreveu a Timóteo (estando o apóstolo em Éfeso), e
quando planejava retornar em breve, podendo entrar em contacto direto com
Timóteo. Essas dificuldades, que impedem que se encaixem as «epístolas
pastorais» dentro do esquema histórico do livro de Atos, têm feito muitos
intérpretes suporem que elas estão completamente fora da narrativa do livro de Atos.
Antes, parece que pertencem a um intervalo entre dois aprisionamentos (no caso
da primeira epístola a Timóteo e da epístola a Tito), e em seguida durante um
segundo período de aprisionamento, depois que Paulo estivera no ocidente, na
Espanha, e entre esse lugar e Roma, na viagem de volta (no caso da segunda
epístola a Timóteo). Essa idéia tem algum apoio nos escritos dos primeiros pais
da igreja.
Não
obstante, há estudiosos que pensam que a tradição inteira de uma suposta quarta
viagem missionária depende totalmente do desejo expresso de Paulo por fazer tal
viagem (ver Rm 15:24), e que essa «tradição», como era costumeiro, foi
esticada a ponto de ser criada uma narrativa inteira para adorná-la. É verdade
que as «tradições» sempre procuram fazer o que é vago tornar-se
«específico», deleitando-se em adornar seus informes; pelo que também, apesar
de conter alguns pontos valiosos, seu testemunho sempre é suspeito. A
referência do terceiro versículo, portanto, permanece vaga, não podendo nós termos certeza
que possuímos a verdade sobre essa questão. Talvez não haja maneira de
recuperarmos a verdade acerca desse particular.
O trecho de 1Tm l:3b-7 apresenta um dos principais temas deste livro. A heresia penetrara na igreja, provavelmente
da variedade gnóstica, com certas nódoas judaicas. Estas três epístolas «pastorais» foram essencialmente
escritas para dar combate à heresia, conferindo aos ministros instruções para
esse combate.
«Apelo
a Timóteo. Que fossem advertidos os falsos mestres de Éfeso que não perdessem
seu tempo com mitos, genealogias e ensinos sobre a lei, com negligência do
verdadeiro alvo espiritual do evangelho. Aqueles indivíduos compreendiam de
forma totalmente errada os autênticos propósitos da lei, conforme vistos à luz
do evangelho. Seu propósito era controlar o pecado, mas o evangelho salva o
pecador; sim, salva até mesmo o principal dos pecadores, e eu (Paulo), recebi o
direito de ser pregador dos evangelho. Portanto, na qualidade de meu
verdadeiro filho, faz teu papel, deixando-te advertir pela sorte que coube a Himeneu e
Alexandre» (Lock, in loc).
1:3:
Como te roguei, quando partia para a Macedônia, que ficasses em Éfeso, para
advertires a alguns que não ensinassem doutrina diversa.
As
palavras «...de viagem, rumo da Macedônia...», mui provavelmente falam de
uma viagem de Paulo, após ter sido liberto de seu primeiro período de
aprisionamento, não coincidindo com o tempo coberto pela narrativa do livro de
Atos.
«...te
roguei...» No grego temos o termo familiar, «parakaleo», que significa «exortar»,
mas que freqüentemente também significa «consolar». Neste ponto, a idéia de
exortar sem dúvida é o sentido tencionado. A forma nominal, «paracleto», é um
dos títulos dados ao Espírito Santo, que o destaca como o «Consolador», como o
«Ajudador», sentido lato que esse vocábulo pode ter. O uso desse verbo, neste
ponto, provavelmente indica certa relutância, da parte de Timóteo, por
permanecer em Éfeso, porquanto mui provavelmente ele queria viajar em companhia
do apóstolo dos gentios. Mas Timóteo tinha em Éfeso certa missão a cumprir.
Todas as pessoas têm uma missão, cada indivíduo é sem-igual, tanto agora como
por toda a eternidade, pois a cada um é dado algo especial para fazer, algo
especial para ser.
«...permanecesses
ainda em Éfeso...» Com base nessas poucas
palavras surgiu a tradição que Timóteo agia como «bispo de Éfeso» e das áreas
circunvizinhas. Aquela área se tornara sua responsabilidade, pelo que
também Paulo ter-lhe-ia escrito a fim de encorajá-lo a resistir aos falsos
ensinamentos, a consagrar pastores devidamente qualificados, e esses são os
dois temas dominantes das «epístolas pastorais». Éfeso se tornara um centro
cristão de primeira grandeza. Antes, fora centro do paganismo religioso. Era a
sede principal da adoração aos imperadores romanos deificados. Ali estava
o famoso templo de Artemisa ou Diana (ver At 19:23 e ss.), sendo
também centro de vários cultos pagãos, de artes mágicas, etc, sendo apenas
natural que ao cristianismo se fizesse amarga oposição naquela localidade. Além
disso, ali florescia a doutrina gnóstica, havendo forte oposição do
gnosticismo, fora e dentro da comunidade cristã, à doutrina cristã. Toda a
literatura que chegou até nossas mãos, vinda de Éfeso, que descreve a situação
religiosa do lugar, subentende a natureza sincretista da religião do lugar.
Para a mente cristã havia ali uma caótica aglomeração de elementos judaicos,
pagãos e cristãos, do que emergiu o gnosticismo tingido de judaísmo, que as
«epístolas pastorais» atacam.
«...
Sempre é bom relembrar que é em seus períodos criativos que a igreja tem
conseguido suas mais significativas declarações de fé, nem inconsciente das
correntes de pensamento de sua época, e nem em mansa conformidade com essas
correntes, mas reagindo e interagindo com elas». (Gealy, in loc).
Éfeso
era igualmente a principal cidade política da Ásia Menor, o centro de seu
governo, a sede do proconsulado da província. Era uma localização que
tendia para a abundância de bens, por ser a extremidade ocidental do grande
sistema de estradas romanas. Paulo, Apolo, Áquila e Priscila trabalharam ali,
sem falarmos em Timóteo. Há quatro
epístolas para Éfeso, a saber, primeira e segunda a Timóteo, Efésios
(embora o destino dessa epístola seja duvidoso, e a epístola de Ap 2:1-7. Uma
possível quinta epístola é a do décimo sexto capítulo da epístola aos Romanos,
o qual, segundo muitos estudiosos, teria sido enviado a Roma, como carta de
apresentação de Febe, mas que veio a ser vinculado à epístola aos Romanos,
maneira como que chegou às nossas mãos. A literatura joanina, isto é, o
evangelho de João e as três epístolas de João, mui provavelmente também
emanou daquela cidade. A primeira epístola de Inácio (escrita em cerca de
110 D.C.) também foi enviada aos crentes daquela cidade. A tradição enriquece a
história dessa cidade, do ponto de vista cristão, afirmando que Timóteo,
João e Maria, mãe de Jesus, foram sepultados ali.
«...admoestarei
a certas pessoas...» No grego temos «paraggelo», que significa «dar ordem»,
«comandar», «instruir», «dirigir», vocábulo usado acerca de todas as classes de
pessoas que exercem autoridade, tanto mundana quanto religiosa, incluindo até
mesmo o Senhor Jesus e seus apóstolos. Nesta primeira epístola a Timóteo é
palavra usada por cinco 5 vezes, a saber, I Tm 4:11; 5:7; 6:13,17 e
aqui. A despeito dos comentários em contrário, por parte de certos intérpretes,
esse vocábulo pertence ao vocabulário paulino, pois é usado em I Ts 2:11;
II Ts 3:4,6,10,12. Também se acha com freqüência no livro de Atos, e por
algumas poucas vezes nos evangelhos.
«... certas pessoas...»
Essas palavras podem ser confrontadas com os trechos de I Tm 1:6; 4:1; 5:15,24
e 6:21, todos os quais falam de modo indefinido, como aqui. Mui provavelmente
Paulo não quis dignificar as heresias ligando-as a nomes específicos. Também é
possível que Paulo usasse essa expressão, «certas pessoas», a fim de
diminuir-lhes a importância. É interessante que os estudiosos que negam a
autoria paulina das «epístolas pastorais» vêem aqui uma outra prova para a sua
opinião, explicando que a maneira «indefinida» de falar se deve à natureza
«fabricada» dessas declarações, pois se Paulo tivesse escrito a Timóteo sobre
essa questão, tê-lo-ia feito com a menção de nomes de pessoas, em uma epístola
pessoal. Porém, não nos olvidemos ser provável que Paulo não conhecia por nome
a nenhuma dessas pessoas, pois o problema inteiro poderia ter surgido após
ter-se ele ido embora de Éfeso, durante a sua longa ausência dali. Seja como
for, Timóteo haveria de compreender a quem Paulo se referia.
«...afim
de que não ensinem outra doutrina...» O restante desta epístola fornece
detalhes acerca do que seria essa «...outra...» doutrina. Tratava-se de um
«outro evangelho», sem qualquer base na autoridade apostólica. Essa afirmativa
pode ser confrontada com o trecho de Gl 1:8,9. O original grego aqui é
verbal, «eterodidaskalein», que literalmente traduzido seria «não ensinar
diferente». Utilizando-se da mesma palavra inicial, «etero», temos nosso termo
moderno «heterodoxo», que significa ensinamento contrário à «doutrina
ortodoxa». Já o termo grego «ortho» vem de «orthos» que significa «direito»,
«reto». O termo grego «heteros» significa «outro de outra espécie»; isso quer
dizer que Paulo se referia a algo que não "ê* «direito», «reto», mas
é justamente o oposto. Tal doutrina era contrária à «sã doutrina» (ver o
décimo versículo deste capítulo). O versículo seguinte, mas também o restante
das «epístolas pastorais», fornecem vários detalhes sobre essa «outra
doutrina», considerada contrária ao evangelho anunciado pelos apóstolos.
As
pessoas apontadas por Paulo se ufanavam em serem mestres da lei e da verdade;
mas, na realidade, eram ensinadores de novidades; destruidores, que
não tinham lugar dentro do sistema cristão doutrinário. O termo «eterodidaskaleo»
é novamente usado em I Tm 6:3, mas essas duas ocorrências esgotam seu uso nas
páginas do N.T. Eusébio (História Eclesiástica iii.32) utiliza-se desse
termo para indicar os «mestres hereges». É possível que o autor das «epístolas
pastorais» tenha cunhado tal palavra. O trecho de Tito 2:3 contém um uso
similar, «kalodidaskalos», que significa «mestres de coisas boas», palavra essa
que também é uma das «hapax legomena» do N.T. Estas «epístolas pastorais»,
a bem da verdade, contêm um grande número de vocábulos que não são usados no
restante do N.T., ainda que encontrem paralelo em outra literatura grega,
mormente do século II D.C. Dentre os novecentos e dois, vocábulos
usados nas «epístolas pastorais», nada menos de trezentos e seis isto é, mais
de um terço, não se encontram nas outras reputadas dez epístolas paulinas, e
cento e setenta e cinco deles não aparecem em qualquer outra porção do N.T. Com
base em fatos assim é que algus duvidam da autoria paulina das
«epístolas pastorais».
Não
há que duvidar que, neste versículo, se faz alusão a alguma forma de
gnosticismo.
1:4:
nem se preocupassem com fabulas e genealogias intermináveis, que antes promovem
discussões do que o serviço de Doas, na fé.
«...nem
se ocupem...» traduzem o verbo grego «prosecho», que quer dizer «voltar a
atenção para», «seguir», «preocupar-se com», «apegar-se-a». (Ver a mesma
palavra em I Tm 3:8; 4:1,13 e 6:3, e comparar com Tt 1:14). Essa
palavra também não se encontra nas «outras» epístolas paulinas. A ordem aqui
baixada dá a entender a grande importância das questões que passam a ser
numeradas, bem como o tempo e a energia dispendidos nas mesmas, mas
que era um desperdício, segundo o parecer de Paulo, visto que não eram
atividades edificantes, mas destrutivas.
«...fábulas...»
No grego temos «muthos», que significa «mito», «fábula». Essa palavra ocorre
nas «epístolas pastorais», aqui e em I Tm 4:7; II Tm 4:4 e Tt 1:14. No
resto do N.T., aparece apenas em II Pe 1:16. Na Septuaginta (tradução do
original hebraico do A.T. para o grego, completada cerca de duzentos anos antes
da era cristã) aparece em Sabedoria de Salomão 17:4 e Eclesiástico 20:19,
sempre nos livros apócrifos. Deve-se observar que, no trecho de Tito 1:14,
a alusão é às «fábulas judaicas». Mas
essa referência, sem qualquer qualificativo, é incerta. Provavelmente Paulo se
referia a histórias fabricadas, supostamente dotadas de valor
religioso e espiritual, baseadas em heróis judeus da fé, como Abraão e os
outros patriarcas da narrativa do A.T. Esse tipo de atividade era bastante
evidente nas várias tradições, proeminente nos «apocalipses judaicos». O «haggada»
(parábolas e anedotas) do Talmude também ilustram as histórias «inventadas»,
cujo desígnio era servir de instrução religiosa. O livro dos Jubileus, que
procura reescrever a história primitiva do ponto de vista da lei, fazendo com
que já fosse conhecida e praticada até mesmo entre os anjos, e então desde o
começo mesmo do livro de Gênesis, fornece várias narrativas míticas. O livro
das Antiguidades Bíblicas (atribuído a Filo), uma crônica lendária da história
do A.T., desde Adão até Saul, datado do primeiro século da era cristã, também
encerra tais fábulas. A alusão a janes e Jambres, em II Tm4,3:8,
mui provavelmente é derivada dessas «haggada» lendárias.
Outros
eruditos têm pensado que os mitos «gnósticos», concernentes à natureza e à
atividade dos «aeons» angelicais é que são aqui aludidos, ou ainda outras
narrativas lendárias de origem pagã. É perfeitamente possível que tanto os
mitos «pagãos» como os mitos «judaicos» sejam aludidos neste versículo, sem que
um exclua ao outro. É provável que Filo tenha descrito corretamente essa
espécie de atividade, de que tanto os mestres gnósticos gostavam, no
tocante a essas fábulas, embora não tenha ele escrito diretamente a respeito
deles.
Necessidade de Refutar os
Falsos Ensinamentos (1.3-7)
Os
comentadores têm procurado em vão encaixar a viagem de Paulo à Macedônia, aqui
mencionada, nas narrativas do livro de Atos. Primeiramente, Paulo chegou à
Macedônia em resultado de sua visão em Trôade (ver o décimo sexto capitulo do
livro de Atos). Não demorou que Timóteo se tornasse companheiro de viagens do
apóstolo dos gentios, tendo-o acompanhado a Beréia. Entretanto, ameaças de
violência forçaram o apóstolo a apressar-se para ir a Atenas, sendo provável
que ali é que Timóteo se tenha reunido a ele (ver I Ts 3:1 e ss., embora o
trecho de Atos 18:5 pareça dizer algo em contrário). Paulo passou cerca de um
ano e meio em Corinto tendo feito uma viagem a Jerusalém, a Antioquia e às
regiões da Galácia e da Frigia; e então passou cerca de dois anos em Éfeso, e
finalmente voltou à Macedônia. Dessa vez Timóteo foi enviado à frente (ver At 19:22).
Não sabemos dizer onde exatamente, na Macedônia, Paulo se encontrou com
Timóteo; mas, a caminho de volta, Timóteo, juntamente com outros, seguiu à sua
frente para Trôade, onde Paulo veio reunir-se a eles. Isso não deixa
espaço para a viagem mencionada no presente versículo, a menos que tenha tido
lugar enquanto Paulo estava em Éfeso, não sendo episódio registrado no livro de
Atos sob hipótese alguma. Isso é possível, pois, com base no estudo daquele
livro, pode-se afirmar que sua história é fragmentar, precisando ser
preenchida, em muitos pontos, com informes dados nas epístolas de Paulo. E
mesmo assim é perfeitamente possível que Paulo tenha estado em muitos lugares
sobre os quais nada nos é informado. Seja como for, seria difícil explicar se a
viagem ocorreu quando Paulo escreveu a Timóteo (estando o apóstolo em Éfeso), e
quando planejava retornar em breve, podendo entrar em contacto direto com
Timóteo. Essas dificuldades, que impedem que se encaixem as «epístolas
pastorais» dentro do esquema histórico do livro de Atos, têm feito muitos
intérpretes suporem que elas estão completamente fora da narrativa do livro de
Atos. Antes, parece que pertencem a um intervalo entre dois aprisionamentos (no
caso da primeira epístola a Timóteo e da epístola a Tito), e em seguida durante
um segundo período de aprisionamento, depois que Paulo estivera no ocidente, na
Espanha, e entre esse lugar e Roma, na viagem de volta (no caso da segunda
epístola a Timóteo). Essa idéia tem algum apoio nos escritos dos primeiros pais
da igreja.
Não
obstante, há estudiosos que pensam que a tradição inteira de uma suposta quarta
viagem missionária depende totalmente do desejo expresso de Paulo por fazer tal
viagem (ver Rm 15:24), e que essa «tradição», como era costumeiro, foi
esticada a ponto de ser criada uma narrativa inteira para adorná-la. É verdade
que as «tradições» sempre procuram fazer o que é vago tornar-se
«específico», deleitando-se em adornar seus informes; pelo que também, apesar
de conter alguns pontos valiosos, seu testemunho sempre é suspeito. A
referência do terceiro versículo, portanto, permanece vaga, não podendo nós termos certeza
que possuímos a verdade sobre essa questão. Talvez não haja maneira de
recuperarmos a verdade acerca desse particular.
O trecho de 1Tm l:3b-7 apresenta um dos principais temas deste livro. A heresia penetrara na igreja, provavelmente
da variedadegnóstica, com certas nódoas judaicas. Estas três epístolas «pastorais» foram essencialmente escritas para dar
combate à heresia, conferindo aos ministros instruções para esse combate.
«Apelo
a Timóteo. Que fossem advertidos os falsos mestres de Éfeso que não perdessem
seu tempo com mitos, genealogias e ensinos sobre a lei, com negligência do
verdadeiro alvo espiritual do evangelho. Aqueles indivíduos compreendiam de
forma totalmente errada os autênticos propósitos da lei, conforme vistos à luz
do evangelho. Seu propósito era controlar o pecado, mas o evangelho salva o
pecador; sim, salva até mesmo o principal dos pecadores, e eu (Paulo), recebi o
direito de ser pregador dos evangelho. Portanto, na qualidade de meu
verdadeiro filho, faz teu papel, deixando-te advertir pela sorte que coube a Himeneu e
Alexandre» (Lock, in loc).
1:3:
Como te roguei, quando partia para a Macedônia, que ficasses em Éfeso, para
advertires a alguns que não ensinassem doutrina diversa.
As
palavras «...de viagem, rumo da Macedônia...», mui provavelmente falam de
uma viagem de Paulo, após ter sido liberto de seu primeiro período de
aprisionamento, não coincidindo com o tempo coberto pela narrativa do livro de
Atos.
«...te
roguei...» No grego temos o termo familiar, «parakaleo», que significa
«exortar», mas que freqüentemente também significa «consolar». Neste ponto, a
idéia de exortar sem dúvida é o sentido tencionado. A forma nominal, «paracleto»,
é um dos títulos dados ao Espírito Santo, que o destaca como o «Consolador»,
como o «Ajudador», sentido lato que esse vocábulo pode ter. O uso desse verbo,
neste ponto, provavelmente indica certa relutância, da parte de Timóteo, por
permanecer em Éfeso, porquanto mui provavelmente ele queria viajar em companhia
do apóstolo dos gentios. Mas Timóteo tinha em Éfeso certa missão a cumprir.
Todas as pessoas têm uma missão, cada indivíduo é sem-igual, tanto agora como
por toda a eternidade, pois a cada um é dado algo especial para fazer, algo
especial para ser.
«...permanecesses
ainda em Éfeso...» Com base nessas poucas
palavras surgiu a tradição que Timóteo agia como «bispo de Éfeso» e das áreas
circunvizinhas. Aquela área se tornara sua responsabilidade, pelo que
também Paulo ter-lhe-ia escrito a fim de encorajá-lo a resistir aos falsos
ensinamentos, a consagrar pastores devidamente qualificados, e esses são os
dois temas dominantes das «epístolas pastorais». Éfeso se tornara um centro
cristão de primeira grandeza. Antes, fora centro do paganismo religioso. Era a
sede principal da adoração aos imperadores romanos deificados. Ali estava
o famoso templo de Artemisa ou Diana (ver At 19:23 e ss.), sendo
também centro de vários cultos pagãos, de artes mágicas, etc, sendo apenas
natural que ao cristianismo se fizesse amarga oposição naquela localidade. Além
disso, ali florescia a doutrina gnóstica, havendo forte oposição do
gnosticismo, fora e dentro da comunidade cristã, à doutrina cristã. Toda a
literatura que chegou até nossas mãos, vinda de Éfeso, que descreve a situação
religiosa do lugar, subentende a natureza sincretista da religião do lugar.
Para a mente cristã havia ali uma caótica aglomeração de elementos judaicos,
pagãos e cristãos, do que emergiu o gnosticismo tingido de judaísmo, que as
«epístolas pastorais» atacam.
«...
Sempre é bom relembrar que é em seus períodos criativos que a igreja tem
conseguido suas mais significativas declarações de fé, nem inconsciente das
correntes de pensamento de sua época, e nem em mansa conformidade com essas
correntes, mas reagindo e interagindo com elas». (Gealy, in loc).
Éfeso
era igualmente a principal cidade política da Ásia Menor, o centro de seu
governo, a sede do proconsulado da província. Era uma localização que
tendia para a abundância de bens, por ser a extremidade ocidental do grande
sistema de estradas romanas. Paulo, Apolo, Áquila e Priscila trabalharam ali,
sem falarmos em Timóteo. Há quatro
epístolas para Éfeso, a saber, primeira e segunda a Timóteo, Efésios
(embora o destino dessa epístola seja duvidoso, e a epístola de Ap 2:1-7. Uma
possível quinta epístola é a do décimo sexto capítulo da epístola aos Romanos,
o qual, segundo muitos estudiosos, teria sido enviado a Roma, como carta de
apresentação deFebe, mas que veio a ser vinculado à epístola aos Romanos,
maneira como que chegou às nossas mãos. A literatura joanina, isto é, o
evangelho de João e as três epístolas de João, mui provavelmente também
emanou daquela cidade. A primeira epístola de Inácio (escrita em cerca de
110 D.C.) também foi enviada aos crentes daquela cidade. A tradição enriquece a
história dessa cidade, do ponto de vista cristão, afirmando que Timóteo,
João e Maria, mãe de Jesus, foram sepultados ali.
«...admoestarei
a certas pessoas...» No grego temos «paraggelo», que significa «dar ordem»,
«comandar», «instruir», «dirigir», vocábulo usado acerca de todas as classes de
pessoas que exercem autoridade, tanto mundana quanto religiosa, incluindo até
mesmo o Senhor Jesus e seus apóstolos. Nesta primeira epístola a Timóteo é
palavra usada por cinco 5 vezes, a saber, I Tm 4:11; 5:7; 6:13,17 e
aqui. A despeito dos comentários em contrário, por parte de certos intérpretes,
esse vocábulo pertence ao vocabulário paulino, pois é usado em I Ts 2:11;
II Ts 3:4,6,10,12. Também se acha com freqüência no livro de Atos, e por
algumas poucas vezes nos evangelhos.
«... certas pessoas...»
Essas palavras podem ser confrontadas com os trechos de I Tm 1:6; 4:1; 5:15,24
e 6:21, todos os quais falam de modo indefinido, como aqui. Mui provavelmente
Paulo não quis dignificar as heresias ligando-as a nomes específicos. Também é
possível que Paulo usasse essa expressão, «certas pessoas», a fim de
diminuir-lhes a importância. É interessante que os estudiosos que negam a
autoria paulina das «epístolas pastorais» vêem aqui uma outra prova para a sua
opinião, explicando que a maneira «indefinida» de falar se deve à natureza
«fabricada» dessas declarações, pois se Paulo tivesse escrito a Timóteo sobre
essa questão, tê-lo-ia feito com a menção de nomes de pessoas, em uma epístola
pessoal. Porém, não nos olvidemos ser provável que Paulo não conhecia por nome
a nenhuma dessas pessoas, pois o problema inteiro poderia ter surgido após
ter-se ele ido embora de Éfeso, durante a sua longa ausência dali. Seja como
for, Timóteo haveria de compreender a quem Paulo se referia.
«...afim
de que não ensinem outra doutrina...» O restante desta epístola fornece
detalhes acerca do que seria essa «...outra...» doutrina. Tratava-se de um
«outro evangelho», sem qualquer base na autoridade apostólica. Essa afirmativa
pode ser confrontada com o trecho de Gl 1:8,9. O original grego aqui é
verbal, «eterodidaskalein», que literalmente traduzido seria «não ensinar
diferente». Utilizando-se da mesma palavra inicial, «etero», temos nosso termo
moderno «heterodoxo», que significa ensinamento contrário à «doutrina
ortodoxa». Já o termo grego «ortho» vem de «orthos» que significa «direito»,
«reto». O termo grego «heteros» significa «outro de outra espécie»; isso quer
dizer que Paulo se referia a algo que não "ê* «direito», «reto», mas
é justamente o oposto. Tal doutrina era contrária à «sã doutrina» (ver o
décimo versículo deste capítulo). O versículo seguinte, mas também o restante
das «epístolas pastorais», fornecem vários detalhes sobre essa «outra
doutrina», considerada contrária ao evangelho anunciado pelos apóstolos.
As
pessoas apontadas por Paulo se ufanavam em serem mestres da lei e da verdade;
mas, na realidade, eram ensinadores de novidades; destruidores, que
não tinham lugar dentro do sistema cristão doutrinário. O termo «eterodidaskaleo»
é novamente usado em I Tm 6:3, mas essas duas ocorrências esgotam seu uso nas
páginas do N.T. Eusébio (História Eclesiástica iii.32) utiliza-se desse
termo para indicar os «mestres hereges». É possível que o autor das «epístolas
pastorais» tenha cunhado tal palavra. O trecho de Tito 2:3 contém um uso
similar, «kalodidaskalos», que significa «mestres de coisas boas», palavra essa
que também é uma das «hapax legomena» do N.T. Estas «epístolas pastorais»,
a bem da verdade, contêm um grande número de vocábulos que não são usados no
restante do N.T., ainda que encontrem paralelo em outra literatura grega,
mormente do século II D.C. Dentre os novecentos e dois, vocábulos
usados nas «epístolas pastorais», nada menos de trezentos e seis isto é, mais
de um terço, não se encontram nas outras reputadas dez epístolas paulinas, e
cento e setenta e cinco deles não aparecem em qualquer outra porção do N.T. Com
base em fatos assim é que algus duvidam da autoria paulina das
«epístolas pastorais».
Não
há que duvidar que, neste versículo, se faz alusão a alguma forma de
gnosticismo.
1:4:
nem se preocupassem com fabulas e genealogias intermináveis, que antes promovem
discussões do que o serviço de Doas, na fé.
«...nem
se ocupem...» traduzem o verbo grego «prosecho», que quer dizer «voltar a
atenção para», «seguir», «preocupar-se com», «apegar-se-a». (Ver a mesma
palavra em I Tm 3:8; 4:1,13 e 6:3, e comparar com Tt 1:14). Essa
palavra também não se encontra nas «outras» epístolas paulinas. A ordem aqui
baixada dá a entender a grande importância das questões que passam a ser
numeradas, bem como o tempo e a energia dispendidos nas mesmas, mas
que era um desperdício, segundo o parecer de Paulo, visto que não eram
atividades edificantes, mas destrutivas.
«...fábulas...»
No grego temos «muthos», que significa «mito», «fábula». Essa palavra ocorre
nas «epístolas pastorais», aqui e em I Tm 4:7; II Tm 4:4 e Tt 1:14. No
resto do N.T., aparece apenas em II Pe 1:16. Na Septuaginta (tradução do
original hebraico do A.T. para o grego, completada cerca de duzentos anos antes
da era cristã) aparece em Sabedoria de Salomão 17:4 e Eclesiástico 20:19,
sempre nos livros apócrifos. Deve-se observar que, no trecho de Tito 1:14,
a alusão é às «fábulas judaicas». Mas
essa referência, sem qualquer qualificativo, é incerta. Provavelmente Paulo se
referia a histórias fabricadas, supostamente dotadas de valor
religioso e espiritual, baseadas em heróis judeus da fé, como Abraão e os
outros patriarcas da narrativa do A.T. Esse tipo de atividade era bastante
evidente nas várias tradições, proeminente nos «apocalipses judaicos». O «haggada»
(parábolas e anedotas) do Talmude também ilustram as histórias «inventadas»,
cujo desígnio era servir de instrução religiosa. O livro dos Jubileus, que
procura reescrever a história primitiva do ponto de vista da lei, fazendo com
que já fosse conhecida e praticada até mesmo entre os anjos, e então desde o
começo mesmo do livro de Gênesis, fornece várias narrativas míticas. O livro das
Antiguidades Bíblicas (atribuído a Filo), uma crônica lendária da história do
A.T., desde Adão até Saul, datado do primeiro século da era cristã, também
encerra tais fábulas. A alusão a janes e Jambres, em II Tm4,3:8,
mui provavelmente é derivada dessas «haggada» lendárias.
Outros
eruditos têm pensado que os mitos «gnósticos», concernentes à natureza e à
atividade dos «aeons» angelicais é que são aqui aludidos, ou ainda outras
narrativas lendárias de origem pagã. É perfeitamente possível que tanto os
mitos «pagãos» como os mitos «judaicos» sejam aludidos neste versículo, sem que
um exclua ao outro. É provável que Filo tenha descrito corretamente essa
espécie de atividade, de que tanto os mestres gnósticos gostavam, no
tocante a essas fábulas, embora não tenha ele escrito diretamente a respeito
deles. continua
A Incumbência: Deter os Falsos
Mestres (1.3-11)
Paulo
começa a carta propriamente dita de um modo que não lhe é característico — sem
as costumeiras ações de graças. De suas cartas anteriores, somente em Gálatas
(fato bastante significativo) faltam as ações de graças. A ausência dessa
expressão gratulatória aqui sustenta a observação já feita de que 1 Timóteo
visa, realmente, o benefício da igreja tanto quanto do próprio Timóteo, ou
ainda mais; o que está ocorrendo na igreja não é motivo para dar graças (dar
graças em tudo?).
Ao
invés, Paulo entra de imediato na ocasião e no propósito da carta. Em verdade,
todas as questões cruciais que compõem a estrutura e conteúdo de 1 Timóteo
estão exibidas no parágrafo inicial (vv. 3-7). A igreja corre grande perigo em
virtude de alguns presbíteros que talvez se
julguem mestres da lei (v.
7), mas, com efeito, ensinam outra doutrina (v. 3). Timóteo foi
deixado em Éfeso para conter a maré. Ele não é o "pastor"; antes, foi
deixado para atuar em nome de Paulo enquanto Paulo estiver ausente. Esta carta
autorizará a Timóteo — perante a igreja — a opor-se àqueles enganadores e seus
adeptos. Portanto, o palco está montado: A
carta no seu todo é uma reação à presença dos falsos mestres.
1:3 A
sentença inicial proporciona a ocasião da carta, acrescida de todos os
"atores" significativos — Paulo, Timóteo, a igreja (implícita no em
Éfeso), e os falsos mestres.
Embora
não haja certeza quanto a se Paulo havia estado recentemente em Éfeso, isso
parece estar implícito ao rogar a Timóteo que fique em Éfeso enquanto ele,
Paulo, partia para a Macedônia. Mais adiante (3:14), ficamos sabendo que Paulo
esperara ir para Éfeso em breve; contudo, no caso de demora (o que de fato
aconteceu, dada a evidência de 2 Timóteo), Paulo queria que seu companheiro
mais jovem tivesse "por escrito" o motivo para ele estar ali.
Os
começos da igreja em Éfeso estão muito envoltos em mistério (At 18:19-21;
18:24 - 20:1), embora fique claro do relato de Atos, corroborado por
referências passageiras em 1 Coríntios 16:8-9, 19, e 2 Coríntios 1:8-9, que se
tratava de uma igreja paulina (talvez composta por muitas igrejas-lares; veja 1
Coríntios 16:19). Éfeso era ao mesmo tempo a capital da província e centro
religioso da província da Ásia. Devido ao lodo que o entupia, no
tempo de Paulo, o porto sofria declínio comercial; mas isto ainda era
compensado, contudo, por sua importância passada e pela presença do seu templo
de Artemis (Diana), uma das Sete
Maravilhas do Mundo antigo e atração turística que obviamente
rendia não pequenos lucros líquidos aos audazes vendilhões de lembranças
religiosas (At 19:23-41). O culto de Artemis refletia mistura (sincretismo) religiosa, mas basicamente era um
rito de fertilidade oriental, com práticas sensuais eorgásmicas. A igreja efésia era
muito importante na estratégia missionária de Paulo; daí sua preocupação em
desarraigar o erro neste centro-chave.
Não
há indício algum de que em qualquer das cartas a Timóteo alguns homens que
ensinavam outra doutrina fossem elementos de fora, como no caso ocorrido na
Galácia (Gl 2:4) e em Corinto (p.e., 2 Co 11:4, 12-15). De mais a
mais, o discurso de despedida de Paulo aos presbíteros efésios, conforme
registrado em Atos 20:17-35, prediz com clareza que os "lobos
cruéis" que "não pouparão o rebanho" serão alguns homens "dentre vós mesmos" (vv. 29-30). Portanto, que os falsos mestres talvez fossem
presbíteros encontra apoio em diversos trechos de 1 Timóteo: o
presumirem ser "mestres da lei" (v. 7), responsabilidade
essa dos presbíteros (5:17; cp. 3:2); o fato de que foi Paulo quem citou e
excomungou dois deles (1:19-20), e não a igreja, como em 2 Tessalonicenses 3:14
e 1 Coríntios 5:1-5; e o repetido interesse pelos presbíteros nesta carta, quer
quanto à qualificação deles — sem mencionar deveres — em 3:1-7, quer quanto à
disciplina a eles aplicada e evidente substituição em 5:19-25.
A
expressão traduzida por ensinassem outra doutrina aparentemente cunhada aqui e
encontrada depois apenas em escritos cristãos, ao pé da letra significa "ensinar outras coisas", ou "ensinar novidades". É remanescente dos
falsos mestres em Corinto, que pregavam "outro Jesus" e "outro
evangelho" (2 Co 11:4; cp. Gl 1:6). Contudo, "outra
doutrina" (novidades) não são trivialidades inocentes; são perversões
claras do evangelho puro. A finalidade de Timóteo em permanecer ali era, pois,
para advertires a alguns que não ensinassem outra doutrina.
1:4 Timóteo
deve também ordenar aos mestres do erro que não se ocupassem com fábulas ou com genealogias intermináveis. Essas duas
palavras, dentre as poucas encontradas nas cartas a Timóteo que dão alguma
indicação do conteúdo das falsas doutrinas, colocam-se também dentre as mais
enigmáticas. Conforme diz Kelly: "Elas chegam tantalizantemente,
quase revelando o conteúdo da heresia"! Em 4:7 elas são de novo
caracterizadas como "fábulas profanas de velhas". Fenômeno semelhante
também surge em Creta, onde a expressão de Paulo é "fábulas judaicas"
(Tt 1:14); as "genealogias" reaparecem numa lista que inclui
"contendas e debates acerca da lei" (Tt 3:9).
Eruditos
têm afirmado muitas vezes que essas palavras refletem o suposto caráter
gnóstico da heresia, apoiado também por linguagem como " oposições
da falsamente chamada ciência" (6:20) e pelas práticas ascéticas
mencionadas em 4:3 (cp. 5:23). Assim, fábulas e genealogias são consideradas
como referindo-se às cosmologias especulativas dos últimos
gnósticos com seus sistemas de eões(seres espirituais) que emanam
de Deus (o Pai de todos), como se encontra em Valentino. (Esta posição
parece refletir-se na Bíblia Viva, que diz: "A
idéia que eles têm de poder salvar-se por conseguir a proteção de uma cadeia
interminável de anjos que leva a Deus".)
Mas
os termos traduzidos por fábulas mythoi e genealogias (genealogiai)
nunca são usados nas descrições desses sistemas gnósticos. Aparecem, contudo,
regularmente no helenismo e no judaísmo helenístico referindo-se a tradições
sobre origens dos povos. O termo mythoi nesta literatura quase sempre
é usado em sentido pejorativo (como por todas as EP), para contrastar o caráter
mítico de muitas dessas fábulas com a verdade histórica.
Portanto,
dada a falta de qualquer consideração verdadeira em 1 e 2 Timóteo
pelas bases caracteristicamente gnósticas, além do fato de que no v. 7 os erros
se relacionavam de modo específico com a lei, é mais plausível que tais fábulas
e genealogias intermináveis reflitam algum tipo de influência judaica, sem
dúvida com alguns revestimentos helenísticos. Porém, não sabemos com precisão o
queeram, embora tenha havido algumas sugestões (como as especulações que
encontramos no Book of Jubilees ou em Questions andAnswers on Gênesis,
de Fílon, ou no Book of Biblical Antiquities de um pseudo-Fílon,
e até mesmo na tradição hagádica judaica [comentário ilustrativo
sobre o AT]). Deve-se, por fim, admitir que não sabemos ao certo por
que Paulo não nos deixou pistas suficientes.
O
que sabemos com certeza é que ele condena ousadamente tais coisas,
não tanto em função de seu conteúdo (embora tais fábulas não tenham relação
alguma com a verdade [4:6-7; 2 Timóteo 4:4], mas porque esse ensino
tem dois efeitos finais: (1) são " discursos vãos" (1:6; cp.
6:20; 2 Timóteo 2:16; 3:7), que (2) resultam em contendas e discórdias (6:3-5;
2 Timóteo 2:14, 23).
É a
absoluta futilidade disso tudo que molesta a Paulo neste ponto. Em verdade, a
palavra traduzida por intermináveis talvez se refira à natureza
"exaustiva, cansativa" daquele ensino. O que essas "fábulas e genealogias intermináveis" produzem é "especulações" (RSV; lit.,
"busca"), ou controvérsias (NIV e ECA). Dessa maneira, fábulas e
genealogias são tédios intermináveis, que promovem especulações tolas,
"cheias de som e fúria", mas "nada significando".
Além
do mais, essas especulações nada têm que ver com o serviço de Deus o qual é na
fé. A palavra traduzida por serviço, quando empregada em seu sentido literal,
não figurado, refere-se à “administração" da casa de outrem (como em Lucas
16:2-4). Como metáfora, significa ou "uma mordomia confiada por Deus"
(cp. 1 Coríntios 9:17; Efésios 3:2), ou como na ECA e NIV, serviço de
Deus, significando "providências de Deus para a redenção do povo". É
mais provável que esta última seja a intenção, visto que a ênfase neste contexto
não parece estar sobre a falha dos falsos mestres em exercer mordomia fiel, mas sobre o evangelho como serviço de Deus,
baseado na fé, ou conhecido na fé, em contraste com a futilidade das
"novidades", ou "outra doutrina".
1:5 Havendo
dado a ocasião para escrever a carta (v. 3), e mais alguma reação ao que os
presbíteros errados estão fazendo (v. 4), Paulo volta agora a ordenar
(advertires) que eles parem (v. 3). O intuito deste mandamento, diz ele, é o
amor. Talvez não seja esta uma afirmação geral a respeito do evangelho, em
contraste com os erros; ao contrário, Paulo está dando o motivo específico para
o envolvimento de Timóteo, a saber, suscitar o amor que procede de um coração
puro. Os falsos mestres estão envolvidos em controvérsias (v. 4) e discursos
vãos (v. 6) cheios de engano (4:1-2) que levam a discórdias e
suspeitas (6:4-5). A finalidade de ordenar-lhes que parem é conduzir a igreja
de volta ao resultado próprio do " serviço de Deus" baseado
"na fé", a saber, o amor de uns
para com os outros. (Observe quantas vezes aparecem juntos fé e amor nas
EP como virtudes verdadeiramente cristãs: 1 Timóteo 1:14; 2:15; 4:12;
6:11; 2 Timóteo 1:13; 2:22; 3:10; Tito 2:2).
A graça cristã do amor brota de um coração puro, de uma boa
consciência, de uma fé não fingida. Essas motivações para amar
ficam em agudo contraste com as dos falsos mestres, que estão enganados e
cheios de engano (4:1-2; 5:24; 2 Timóteo 2:26; 3:13; cp. 1 Timóteo
2:14; 5:15; 2 Timóteo 3:5-7), têm consciências " cauterizadas" (4:2),
"vieram a naufragar na fé" (1:19).
Um
coração puro reflete o pano de fundo bíblico de Paulo (Salmos 24:4; 51:10; cp.
a bem-aventurança de Jesus, Mateus 5:8). O conceito de boa consciência deriva
de seu meio ambiente helenístico. A consciência é a capacidade, ou sede, da
consciência moral, comum a todas as pessoas (Romanos 2:15; 2 Coríntios
4:2). Em cartas anteriores de Paulo (somente Romanos, 1 e 2
Coríntios), a consciência arbitra as ações próprias — e as de outros (esp. 1
Coríntios 8-10). Mas também está claro que ela pode ser informada, quer pelo
passado pagão da pessoa, quer pela presente existência em Cristo. Nas EP, o
termo consciência é muitas vezes, como aqui, acompanhado de um adjetivo
descritivo (boa, pura, cauterizada), implicando que a sede da tomada de decisão
foi "purificada" por Cristo ou "cauterizada" ou
"contaminada" por Satanás (veja disc. sobre 1 Timóteo 4:2 e
Tito 1:15 -16). Deste contexto e de 1:19 fica claro que um coração
puro e uma boa consciência são idéias sinônimas.
A
qualificação da fé como não-fingida (sincera) é comparável à qualificação que
Paulo dá ao amor em Romanos 12:9. Num sentido, nem fé nem amor podem ser assim
qualificados. Ou você tem fé, ou amor, ou não tem. Mas a palavra fé tem amplo
emprego em Paulo, variando desde "confiar em Deus" (o mais comum)
passando por uma virtude cristã que se aproxima muito da idéia de
"fidelidade" (p.e., 1 Tessalonicenses 3:6; 5:8, muito
freqüente nas EP), até o conteúdo da crença cristã (p.e., Gálatas 1:23; também
muito freqüente nas EP). Aqui, fé
não-fingida refere-se à virtude cristã, significa confiar em que Deus está
presente de verdade, em contraste com a natureza enganosa da “fé" dos
mestres do erro.
1:6-7 Agora está claro
que essas fontes do amor cristão estão expressas de modo que contrastem com os
falsos mestres. Alguns, a saber, os falsos mestres se desviaram destas coisas
(isto é, de "um coração puro, uma boa consciência e uma fé sincera"; cp. 1:19).
O conceito de desviar-se de fé (ou a fé) repete-se nas EP, às vezes com este
verbo (6:21; 2 Timóteo 2:18), mas também com diversos outros (rejeitado, ECA,
1:19; "apostatarão", 4:1; "se desviaram", 1:6; 5:15; 6:10;
"recusar", 2 Timóteo 4:4). Esta apostasia por parte tanto dos
presbíteros errados como de seus seguidores é a grande ênfase de 1 Timóteo.
Não
somente se desviaram da verdadeira fé e integridade, mas em seu lugar se
entregaram a discursos vãos. Isto repete os temas do tédio, e das
controvérsias do v. 4. A palavra que representa discursos vãos é um
composto de mataios ("vazio, vão") e logos("discurso").
Este "discurso" é alhures caracterizado como
"conversas vãs" e "falatórios inúteis" (6:20; 2 Timóteo
2:16).
Paulo
tem uma designação final para os mestres do erro nesta arremetida inicial:
Querem ser mestres da lei. Não é fácil determinar com precisão o que Paulo quer
dizer por mestres da lei (no grego uma palavra composta: nomos,
"lei"; didaskalos, "professor"). A palavra é
estritamente cristã, usada por Lucas (5:17) para referir-se aos rabis, e a Gamaliel,
em Atos 5:34. Aqui talvez seja um epíteto pejorativo (estão meramente assumindo
o papel de rabinos judeus); porém, é mais provável que seja uma descrição do
que os falsos mestres desejavam, na realidade, ser mestres da lei (no sentido
provável de intérpretes das leis, 4:3, e intérpretes especulativos das
histórias e genealogias do AT a respeito dos começos, 1:4).
Em
qualquer dos casos, eles não entendem nem o que dizem, como o próximo
parágrafo elucidará (porque estão cheios de controvérsias e, de discursos vãos)
nem o que com tanta confiança afirmam (o significado das Escrituras). Estão
simplesmente "pontificando sobre o incognoscível". O tema da
"ignorância" ou "tolice" dos heréticos se repetirá, nestas
cartas (6:4,20; 2 Timóteo 2:23; Tito 1:15; 3:9; cp. 2 Timóteo 3:7).
1:8 O
próximo parágrafo (vv. 8-11) parece digressão que leva a uma Segunda digressão
(vv. 12-17; observe como os vv. 18-20 retomam o argumento dos vv. 3-7). Porém,
no sentido típico paulino é uma digressão que confirma de modo
significativo o ponto sob discussão. Em resposta ao uso impróprio que os falsos
mestres fazem da "lei", Paulo lhes expõe o verdadeiro intento da lei,
o qual, conforme expresso aqui, é que ela se destina aos ímpios.
Muito
interessante é o fato de Paulo não lhes dizer como ou por que, a lei é para
eles; mas, em Galatas 3:23-4:7 e em Romanos 7:7-25, ele já havia
tratado desta questão e mencionado dois motivos: pôr um freio no pecado
(Gálatas) e expressar a desesperadapecaminosidade dos pecadores,
levando-os a clamar pela misericórdia de Deus (Romanos). É provável que o
primeiro motivo é que estava na mente de Paulo, ao iniciar este
parágrafo.
A
sentença inicial evolui do v. 7. Os falsos
mestres desejam ser mestres da lei, mas não sabem o que fazem. É claro
que a intenção de Paulo aqui não é argumentar a favor de um uso correto,
cristão, da lei. Em vez disso, ele está ressaltando a insensatez dos falsos
mestres incluindo o fato de que eles nem sequer usam a lei. Que a lei é boa é
repetição de uma assertiva feita em Romanos 7:12-13 e l6 (embora em
contexto diferente). Fica implícito em ambos os casos que ela é boa,
porque reflete verdadeiramente a vontade de Deus. Não obstante, conforme
ressalta Kelly, a lei não é o evangelho,
mas permanece uma espécie de lei. Aqui, a "bondade" da lei
relaciona-se com ser ela usada legitimamente, isto é, tratada como lei (tendo
em mira os sem lei, v. 9) e não usada "ilegitimamente" como fonte de
fábulas e genealogias intermináveis, ou para práticas ascéticas.
1:9-10 Paulo continua descrevendo o que faz aquele que trata a lei
como lei. O que é verdadeiro em se tratando da lei de Deus, tida como lei, é
naturalmente verdadeiro em se tratando de todas as leis. Ela foi outorgada, não para o justo, mas para os
transgressores e rebeldes os irreverentes e pecadores, os ímpios e profanos.
Ao dizer que a lei não se destinava "ao justo", Paulo repisa um ponto
já apresentado em Gálatas, ou seja, que os que têm o Espírito e produzem o
fruto do Espírito entraram numa esfera de existência na qual a lei já não
desempenha suas funções legais (Gálatas 5:22-23).
A
menção de transgressores da lei, Paulo se lança a uma lista completa de tais
pecadores. Listas de vícios como esta são típicas do apóstolo (veja, p.e.,
Romanos 1:29-31; 1 Coríntios 5:11; 6:9-10; Gálatas 5:19-21; e 2 Timóteo 3:2-4).
O que nos espanta é que nenhum pecado singular é especificamente repetido nelas
(nem nas três cartas anteriores). Em cada caso elas parecem catálogos ad hoc,
embora também pareçam um tanto adaptadas aos contextos. Dos pecados
relacionados nesta lista, os devassos e os sodomitas (v. 10) encontram-se nas
listas anteriores (1 Coríntios 6:9). O mais chocante, porém, é a natureza
bipartida do catálogo. Primeiro, há três pares de classificações gerais: transgressores
e rebeldes, os irreverentes (sem respeito no íntimo) e os pecadores
(exteriormente sem obediência), e os ímpios e profanos. Daí para a frente
o catálogo tem uma coincidência notável com os Dez Mandamentos (do quinto ao nono), muitas vezes dando
expressões mais grotescas desses pecados.
Assim, esses
sem-lei são os parricidas, matricidas (quinto mandamento; e homicidas
(sexto mandamento); os devassos (lit., "fornicadores") e sodomitas,
uma palavra que indica homossexualidade entre homens (sétimo mandamento); roubadores de
homens (oitavo mandamento). Tais coincidências dificilmente podem ser
acidentais. Porém, qual é o motivo para essa lista figurar aqui? Certamente não
é uma referência aos pecados dos falsos mestres, culpados de seus próprios pecados,
mas de outros tipos. É muito provável que essa lista seja um reflexo consciente
da lei mosaica, como lei, e expressa os tipos de pecados, para proibir os quais
foi outorgada a lei. Este, diz Paulo, é o
motivo por que Deus deu a sua lei, não para controvérsias ociosas e discursos
vãos.
Paulo
encerra esta lista de maneira semelhante a Romanos 13:9 é Gálatas 5:21, de
modo que inclui os demais pecados também: para o que for contrário à sã
doutrina. Mas neste caso as palavras de "encerramento" trazem Paulo
de volta uma vez mais às advertências contra os falsos ensinos. A expressão sã
doutrina aparecerá regularmente nessas cartas (6:3; 2 Timóteo 1:13;
4:3; Tito 1:9, 13; 2:2, 8). Trata-se de metáfora médica referente à saúde do
ensino "conforme o evangelho" (v. 11) e se opõe a "ruins
suspeitas" (6:4; NIV, "interesse doentio") dos praticantes do
erro, cujo ensino "corrói como câncer" (2 Timóteo 2:17). Tal
metáfora não se encontra anteriormente nos escritos de Paulo. Sua fonte, como
dispositivo polêmico, com toda a probabilidade é contemporânea dos
filósofos itinerantes, que teriam sido conhecidos dos efésios. Que Paulo tenha
emprestado tal metáfora não é mais surpreendente do que o uso que ele faz da
metáfora do corpo, metáfora política contemporânea bem conhecida, em 1 Coríntios
12, ou o uso que ele faz de imagens do atletismo em 1 Coríntios 9:24-27 e
nestas cartas (1 Timóteo 6:12; 2 Timóteo 2:5; 4:7-8). Nestas epístolas, a
imagem do ensino sadio torna-se uma polêmica eficaz contra os enfermados falsos
mestres. Porém, o cerne da metáfora não visa o conteúdo da doutrina; visa,
antes, o comportamento. O ensino sadio
leva ao comportamento cristão apropriado, ao amor e às boas obras; o
ensino doentio dos heréticos leva a controvérsias, arrogância, abuso e
discórdia (6:4).
1:11 Havendo
mencionado o comportamento " contrário à sã doutrina" , Paulo
conclui descrevendo a verdadeira fonte e medida do ensino sadio. É aquela que
está conforme o evangelho... de Deus. O evangelho, como boas novas de
Deus, em contraposição às más novas da pecaminosidade grotesca da
humanidade, é expressão favorita de Paulo para referir-se à atividade de Deus
em Cristo Jesus a favor dos pecadores. A “sã doutrina" está de acordo com
a mensagem do evangelho, tanto no conteúdo como no comportamento resultante; o
ensino "doente" dos presbíteros transviados não está.
Ao
mencionar o evangelho, Paulo faz duas explicações: ele é descrito como
1. o
evangelho da glória do Deus bendito,
2. o
qual me foi confiado.
O
evangelho é, antes de tudo, o evangelho da glória do Deus bendito (lit. ) Este
tipo de construção genitiva (frase com "de") é particularmente
difícil de fazer sentido na língua portuguesa (e há mais ou menos quatorze
possibilidades para o seu significado em grego). Embora a frase "da
glória" muitas vezes seja usada de modo descritivo no NT (p.e., Efésios 1:17,
"o Pai glorioso"; Colossenses 1:11, "seu glorioso poder";
ou veja GNB aqui," Deus glorioso e bendito"), é muito provável, neste
caso, que a frase descreva, não o caráter do evangelho ("glorioso
evangelho"), mas o seu conteúdo ("evangelho que manifesta a plena
glória de Deus"). O evangelho que Paulo anuncia desvenda a
"glória", ou majestade, do próprio Deus, aqui descrito como o Deus
bendito. Esta última frase, encontrada também em 6:15, não significa tanto
que atribuímos bem-aventurança a Deus, mas que toda a bem-aventurança reside
nele e dele procede.
Este
evangelho, que revela a verdadeira glória de Deus, conclui Paulo me foi
confiado. Isto é tipicamente paulino. Mencionar
o evangelho, a atividade graciosa de Deus a favor dos pecadores, muitas
vezes significa mencionar seu próprio papel como beneficiário e servo, ou
mordomo (cp. 1 Coríntios 9:17; Gálatas 2:7; Efésios 3:2; 1
Tessalonicenses 2:4). Porém, neste caso, talvez Paulo também queira fazer-nos
voltar ao tema; central, a autoridade. Este tema é tão importante que será mais
plenamente desenvolvido no próximo parágrafo.
Assim,
o parágrafo conclui aparentemente a alguma distância do ponto onde começou,
como ligeira digressão sobre o propósito da lei, o qual passou despercebido
pelos mestres da lei. Contudo, esta breve excursão para mencionar o evangelho
como a revelação da majestade de Deus e do relacionamento de Paulo com o
evangelho não está muito longe de seu principal interesse — obstar a divulgação
do falso ensino. E tendo chegado até aqui, Paulo agora se esmerará ainda mais,
novamente não sem propósito contextual.
A primeira preocupação de Paulo era substituir altercações pelo
amor. Evidentemente, Timóteo havia-lhe escrito a respeito da situação
perturbadora e talvez dera a entender que desejava ir embora. Esta
não era a primeira vez que ele demonstrara alguma fraqueza, pois Paulo tivera
que mandar Tito a Corinto, para livrá-lo de problemas (II Co 8:6; 12:18).
Desta vez, Paulo não iria permitir que ele se retirasse.
Como te roguei, quando partia para a Macedônia, que ficasses em
Éfeso parece referir-se à visita de Paulo a Éfeso depois da sua
libertação da prisão, pois isto não se enquadra no esquema de Atos, a respeito
da viagem de Paulo (20:1). Contudo, esta passagem é um pouco difícil. Temos,
aqui, um dos familiares anacolutos de Paulo (cf. Rm 2:17 e ss.; 5:12
e ss.; 9:22 e s.; Ef 3:1-14), deixando um pensamento inacabado. Aparentemente,
o que Paulo pretendia dizer era: "Como recomendei a você, quando eu estava
indo para a Macedônia, que ficasse em Éfeso, agora lhe recomendo outra vez que
fique, a fim de..." O verbo recomendar é um verbo forte, quase uma ordem.
A primeira tarefa de Timóteo era advertires a alguns que
não ensinassem doutrina diversa. Paulo não revela o nome deles, embora
pudesse conhecê-los, devido à sua longa associação com Éfeso. Ele
freqüentemente usa uma referência indefinida para mencionar os oponentes. A
palavra heterodidaskalein, traduzida como ensinassem
doutrina diversa, aparece apenas aqui e em 6:3, mas a formação de
componentes com heteros ("qualquer diferente") é
característica de Paulo (cf. heterozugein, entrar em jugo
com outrem, em II Co 6:14).
Este estranho ensinamento inclui fábulas e genealogias
intermináveis. Algumas pessoas têm explicado estas coisas como a
especulação gnóstica a respeito das esferas (aeons) que
rodeiam a terra e são guardadas por poderes demoníacos. Contudo, a referência
explícita a "fábulas judaicas", em Tito 1:14, a referência ao
seu desejo de serem doutores da lei, no verso 7, e a
discussão de Paulo a respeito da lei, nos versos 8 a 11, provam o
caráter essencialmente judaístico do debate. Jeremias tem insistido que fábulas e genealogiasse
referem a especulações a
respeito da narrativa da criação em Gênesis, semelhantes às encontradas em Jubileus e Filo, de Alexandria.Spicq conjetura de acordo com linhas
de pensamento semelhantes, que o interesse deles, provavelmente, se focalizava
em "lendas apócrifas judaicas".
No que concerne à igreja, conclui Paulo, eles produzem... discussões (cf.
6:4; II Tm 2:23; Tt 3:9) Antes... queedificação
para com Deus, que se funda na fé. A palavra grega (oikonomia) traduzida
como edificação, nas obras de Paulo, significa mais exatamente
mordomia (I Co 9:17; Cl 1:25; Ef 3:2) ou o desígnio de Deus
para o homem (Ef 1:10; 3:9). Pode ser que esta última acepção seja a
pretendida aqui.
Ao invés de tais especulações perniciosas, Paulo deseja ver o amor-agapé;
este é o fim (alvo) deste conjunto de ordens. No pensamento de
Paulo, agapé, aquele amor que
coloca o interesse da outra pessoa antes do interesse próprio, propicia
o ponto de referência ao redor do qual todas as relações humanas precisam
encontrar o seu lugar adequado (I Co 13).
De onde vem o agapé? De
um coração puro, de uma boa consciência, e de
uma fé não fingida. (1) A pureza de coração reflete a maneira
hebraica de se encarar a vida. O coração significa o cerne
vital do homem, o seu eu. O santo busca em Deus um coração puro, sem dolo nem
engano. "Bem-aventurados os limpos de coração", disse o próprio
Jesus, "porque eles verão a Deus" (Mt 5:8). (2) Uma boa
consciência (I Tm 1:19) ou pura (3:9; II Tm 1:3; Tt 1:15) reflete
o modo grego de pensar. Consciência aparece apenas duas ou
três vezes no Velho Testamento grego. A não ser nas cartas de Paulo e nos seus
discursos em Atos (23:1; 24:16), esta palavra aparece apenas em Hebreus e
I Pedro. Na fraseologia estóica, consciência se refere ao centro do
comportamento racional e moral. Uma boa consciênciaseria uma
consciência livre de sentimentos de culpa (Kelly), no pensamento de Paulo, sem
dúvida, como conseqüência da graça de Deus. (3) A expressão fé não
fingida, literalmente, fé não hipócrita, aparece apenas aqui e em II
Timóteo 1:5. Certamente, como têm dito alguns críticos, Paulo não precisava
acrescentar esta qualificação. É interessante que ele qualificou o amor da
mesma maneira.
Aqueles que se desviaram deste caminho, Paulo continua dizendo, se
entregaram a discursos vãos. Esses oponentes fazem-no
lembrar-se dos debates rabínicos acerca de coisas triviais, devido ao fato de
quererem ser doutores da lei. Todavia, os judaístas efésios
não eram como os judaizantes gálatas, porque não queriam impor toda a lei
cerimonial aos cristãos (Kelly). Eles não apenas não compreendiam os assuntos
que discutiam, acusa Paulo, mas também nem entendiam o que
estavam dizendo.
Bibliografia G. Hinson
FALSOS PROFETAS
Jd
1.12 Estes são manchas em
vossas festas de caridade, banqueteando-se convosco e apascentando-se a si
mesmos sem temor; são nuvens sem água, levadas pelos ventos de uma para outra
parte; são como árvores murchas, infrutíferas, duas vezes mortas,
desarraigadas;
Jd
1.13 ondas impetuosas do mar,
que escumam as suas mesmas abominações, estrelas errantes, para os quais está
eternamente reservada a negrura das trevas;
Mt 7.15 Acautelai-vos dos falsos
profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são
lobos roubadores.
2Pe 2.1 Assim como, no meio do
povo, surgiram falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos mestres,
os quais introduzirão, dissimuladamente, heresias destruidoras, até ao ponto de
renegarem o Soberano Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos
repentina destruição.
12: Estes são os escolhos em vossos ágapes, quando se banqueteiam convosco, pastores que se apascentam
a si mesmos sem temor; são nuvens sem água, levadas pelos ventos; são arvores
sem folhas nem fruto, duas vezes mortos, desarraigadas;
Algumas
traduções dizem aqui máculas ou manchas, como tradução do termo
grego «spilades»; mas a tradução «rochas» é melhor. Contudo,
ambas as traduções são possíveis para essa palavra grega. Ver Homero, Odisséia iii.298, quanto à palavra aqui usada, ali com o
sentido de «rochas». Não eram meras máculas corruptoras nas «festas de amor» (o «agape», a
Ceia do Senhor),
mas eram ameaças ocultas de destruição, que podem «afundar» a espiritualidade
de qualquer homem, levando uma congregação cristã inteira ao naufrágio. O
trecho de II Pe 2:13 menciona os levantes feitos pelos gnósticos,
por ocasião das «festas de amor». Traziam alcoolismo e imoralidade para essas
ocasiões.
Vários
intérpretes preferem a tradução «máculas», «manchas», neste ponto, porquanto as
festas de amor eram «corrompidas», pelas práticas pecaminosas, como uma
«mancha» estraga a pureza de algo. Seja como for, a lição é clara. Eles não
respeitavam nem mesmo a solenidade da celebração da Ceia do Senhor.
«...banqueteando-se juntos sem qualquer recato...» Com base em I Co 11:22, sabemos
que a Ceia do Senhor (originalmente um banquete seguido pela cerimônia com o
pão e o vinho e o lava-pés), tornou-se desculpa para alguns se embebedarem e
beberem em excesso. Os gnósticos levavam isso mais além, evidentemente ocupando-se
em atos imorais, devido à toxidez alcoólica. É claro
que alguns de seus banquetes, supostamente efetuados em nome de Cristo,
terminavam em orgias sexuais. Glutonaria e partidarismos caracterizavam as suas ações. A
«festa de amor», no caso de alguns dos membros pobres da igreja, provavelmente
era a melhor refeição da semana, e talvez até mesmo a única verdadeira
refeição. No entanto, muitos negligenciavam aos pobres, levando-os a
continuarem famintos, ao passo que eles mesmos comiam gulosamente. Em tudo isso
lhes faltava totalmente a consciência e o temor. Nada
havia de amor fraternal ou de espírito comunitário neles. O fato que podiam
corromper assim à Ceia do Senhor, «sem temerem», mostra a ascendência que tinham ganho sobre certas congregações
locais, além de ser uma reprimenda contra tais igrejas, por permitirem a
continuação de tal situação.
«...pastores que a si mesmos se apascentam...» O termo «pastores»
não se acha no original grego, embora possa ser derivado do verbo. Tais
indivíduos pastoreavam-se a si mesmos, ao mesmo tempo que permitiam que os pobres
continuassem a passar fome. Quando um pastor é autêntico
cuida dos interesses das ovelhas, sobretudo de sua alimentação espiritual. Mas
os falsos pastores cuidam somente de si próprios, tanto quanto ao alimento
literal, por ocasião da Ceia do Senhor, como no tocante a outras questões. Eram indivíduos
egoístas, que buscavam somente aos seus próprios interesses. Nada sabiam acerca
do amor fraternal. Isso pode ser contrastado com a atitude do «Bom Pastor» e
com a atitude de seus subpastores, conforme se vê refletido em Jo 10:11; Ez 34:8; Mt 26:31; I Co 9:7;
Hb 13:20; I Pe 2:25.
«...nuvens sem água...» Das nuvens é que vem o sustento para a
vida vegetal e animal, pois delas é que nos chega o suprimento de água potável,
através da chuva. Os falsos mestres, entretanto,
«prometem» dar vida, mediante seus ensinamentos, mas terminam sem derramar
nenhuma gota de água. A figura de linguagem aqui usada pelo autor sagrado é
extraída dos capítulos dois a cinco do livro de Enoque, onde
se faz o contraste entre os fenômenos constantes da natureza e a instabilidade
dos homens, que se mostram imprevisíveis. Os homens não são «constantes» nos mandamentos
do Senhor. Porém, apesar da figura de linguagem ter sido tomada por empréstimo
do livro deEnoque (com uma aplicação diferente), o significado é o
de Pv 15:14, que diz: «Como nuvens e ventos que não
trazem chuva, assim é o homem que se gaba de dádivas que não fez». (Isso pode
ser confrontado com II Pe 2:17, onde se lê sobre
«fontes sem água», o que certamente é uma adaptação da idéia que encontramos
aqui).
«...impelidas pelos ventos...» As nuvens se reúnem
formando uma massa; prometem a mui necessária chuva. Mas eis que vem um
vendaval e as dispersa rapidamente, e nenhuma chuva cai. Assim também sucedia
com os gnósticos, em suas pretensões, os quais prometiam vida eterna e
bem-estar a seus seguidores, embora suas promessas fossem vazias, secas e estéreis.
Praticavam apenas o engodo; sua conduta era traiçoeira. «Dos mestres esperamos a chuva beneficente da doutrina
e do exemplo: mas esses homens erram como nuvens que não dão chuva e somente
escondem o sol». (Bigg,in loc).
«...árvores em plena estação dos frutos...» Eram aqueles mestres
quais árvores que poderiam ter fruto, mas que se secava antes de provir dali
qualquer bem. Eram «árvores infrutíferas no fim do outono», cuja estação
produtiva viera e se fora sem qualquer resultado positivo. Por ocasião da
estação da «colheita», no outono, quando os homens saem para apanhar frutos,
estavam tais árvores inteiramente despidas de seu fruto, pelo que eram árvores
completamente sem valor. Tal como na metáfora anterior, é salientada a idéia da
«expectação desapontada». O grego original diz aquiphthinoporinos, vocábulo derivado de «phthino», «desperdiçar», e de «opora», «outono». Eram «árvores outonais» que deveriam
estar carregadas de frutas, mas que, na realidade, estavam despidas delas. Eram
«infrutíferas», por natureza.
Algumas
árvores produzem fruto no outono, sendo esse o tempo de ficarem elas
carregadas. Outras árvores dão fruto em período anterior, pelo que, no outono,
elas estão despidas de fruto e parecem mortas. Não há certeza sobre qual figura
de linguagem o autor sagrado queria que compreendêssemos. Seja como for, no
outono, essas árvores estavam sem fruto, sem importar se alguém esperava ou não
encontrar fruto nelas naquela estação do ano.
«...desprovidas...» No grego temos apenas «akarpa», «infrutíferas». Os homens
pensavam em encontrar naqueles mestres fruto espiritual em abundância; no
entanto, tinham de afastar-se desapontados. Nada obtinham naqueles mestres
falsos, porquanto estes nada mostravam da magnificência de Cristo,
o qual é nossa vida; pelo contrário, degradavam de Cristo, substituindo-o por
muitos «aeons», muitos pequenos deuses, salvadores e mediadores. Assim sendo,
nada mostravam do exemplo de Cristo, nem o tinham como o seu grande alvo (ver
Hb 2:10: Ef 1:23; Rm 8:29; II Co 3:18; Cl 1:6 acerca de Cristo como o
«Alfa e o Ômega» da criação).
«...duplamente mortas...» Essa expressão tem provocado várias
interpretações da parte dos estudiosos, a saber:
1. Eles são infrutíferos e parecem mortos, como uma árvore
no fim do outono ou do inverno. É como se o sinal da morte tivesse aparecido
neles. Na realidade, porém, estavam «realmente» mortos, e não só na aparência.
E assim a «segunda morte» já transparecia neles. Esta interpretação tem a
vantagem de preservar o estrito simbolismo da árvore frutífera, que é estéril; mas a
maior parte dos intérpretes se sente justificada por não limitar-se à sugestão
da metáfora da «árvore».
2. Talvez esteja
subentendido que, antes de professarem a Cristo, estavam «mortos», em
transgressões e pecados (a primeira morte). Desde que o professaram, visto não
se terem verdadeiramente convertido, e estando agora na apostasia, estavam novamente «mortos», o que
seria uma confirmação da primeira morte. Essa interpretação salienta que estão
realmente mortos agora, tendo abandonado o único meio de vida.
3. O autor sagrado talvez
queira dizer que antes estavam espiritualmente mortos, antes de sua conversão,
tendo recebido vida verdadeira, em Cristo, por ocasião de sua conversão;
subseqüentemente, porém, na apostasia, eles tinham abandonado essa vida,
morrendo novamente.
4. É certo, pelo menos, que
o autor sagrado está descrevendo o fim natural dos apóstatas. (Ver Hb 6:4-6;10:26,27; Ap 20:14,15 e 21:8 quanto a
idéias paralelas, embora com o uso de outros termos). Quando abandonam a
Cristo, «morrem», embora, de certa feita, tenham realmente vivido. Essa
«primeira morte» é seguida pela «segunda morte», a do julgamento eterno (ver Ap 20:14). A segunda morte é
o resultado da primeira, a qual é causada pela rejeição a Cristo. Aqueles que
rejeitam a vida de Cristo, estando mortos, entram no ambiente da morte
espiritual. (Ver Cl 3:6 quanto ao significado da morte e do juízo espiritual).
Essa morte consiste essencialmente de ser o indivíduo barrado do verdadeiro
destino do homem, o qual é a participação no próprio «tipo de vida» de Deus, ou
seja, a participação em sua natureza e atributos. Esse é o verdadeiro alvo do
homem; e, se chegar a falhar nisso, então tornar-se-á espiritualmente morto,
sem importar o que Deus, em sua misericórdia, faça por ele. (Ver II Pe 1:4; Cl 2:10; II Co 3:18
quanto a esses conceitos).
5. Alguns pensam que essas
palavras são adverbiais, como se dissessem que eles estão completamente mortos,«duplamente mortos»,
realmente mortos nos seus pecados, porque têm abandonado a Cristo, a origem de
toda a vida real.
«...desarraigadas...» Tais árvores estavam mortas; ocupavam o
espaço inutilmente. Tinham de ser arrancadas. Isso
pode ser comparado com a metáfora usada por Jesus, acerca da vinha e dos ramos.
Aqueles ramos que perdem o contacto vital com a vinha, que dá a seiva de vida,
logo se ressecam e morrem. Então são cortados e lançados no fogo(ver Jo 15:1-6).
Permanecer na vinha dá vida; isso indica a comunhão mística com Cristo,
mediante o Espírito Santo, o qual nos infunde a vida divina. Cristo é a raiz
que confere vida à árvore. Mas o tronco deve ter conexão vital com o ramo.
13: ondas furiosas do mar,
espumando as suas próprias torpezas; estrelas errantes, para as quais tem sido
reservado para sempre o negrume das trevas.
«...ondas bravias do mar...» As ondas bravias são
traiçoeiras, destruindo e espalhando sujidades(Qualidade ou estado de sujo), mas também representam
a instabilidade. (Isso pode ser comparado com Tg 1:6: «...pois o que duvida é semelhante à onda do mar,
impelida e agitada pelo vento». Os falsos mestres não têm fé
firme, que possa ser aprovada por Deus, mas vivem em constante agitação, tornando-se
destruidores.
«Mas
os perversos são como o mar agitado, que não se pode aquietar, cujas águas
lançam de si lama e lodo. Para os perversos, diz o meu Deus, não há paz» (Is 57:20,21).
«...espumam as suas próprias sujidades...» A turbulência e agitação
dos falsos mestres resulta no fato que propalam atos e palavras impuros, a
imundícia da carne, atos desonrosos, tal como a força das ondas sobre uma praia
faz espumar toda a espécie de imundície.
«As
duas ilustrações anteriores, os escolhos e as nuvens, referem-se à profissão
falsa dos libertinos e o engodo que provocam; e a terceira ilustração, a das
árvores mortas, salienta a condição miserável deles; a quarta e a quinta
fornecem-nos excelente descrição de sua impiedade e falta de vergonha, bem como
seu destino eventual. A frase 'agriakumata' (ondas bravias) encontra-se em Sabedoria
xiv. 1. A palavra rara, 'epaphridzo' (espumar) é usada acerca do mar, em Mosco v.5. Refere-se à
vegetação marinha e outros restos trazidos pelas ondas e lançados nas
praias, com o que se compara a produção abundante da
impiedade (ver Sl 17:4), ao mesmo tempo que tais indivíduos
transformam a graça de Deus em uma capa para sua licenciosidade (ver o quarto
versículo)». (Mayer, in loc).
«...estrelas errantes...» O autor sagrado se refere
a uma crença dos antigos, segundo a qual os «planetas»
(palavra essa que significa «vagabundos») seriam estrelas que errariam pelo
firmamento, pois, contrariamente às demais estrelas, estariam em movimento,
mudando constantemente de posição. Não tinham consciência que os planetas não
têm luz própria, estando em órbita ao redor do sol, o que explica seu percurso
pelo firmamento. Os antigos, por misturarem aangelologia e a astrologia com sua
incipiente e errônea astronomia, supunham que as estrelas fossem os corpos
físicos de grandes seres espirituais, ou, então, os lugares onde habitavam
esses seres. As «estrelas errantes» (planetas) seriam esses seres espirituais,
ou mesmo seus lugares de habitação, que se teriam tornado culpado de agir
contrariamente à ordenança de Deus, passando a errar pelo firmamento. O trecho
de Enoque 18:12-16, que reflete essa crença, fala sobre o
julgamento dessas estrelas (seres angelicais), devido a esse tipo de curso
errante. «E para além do abismo vi um lugar que não, tinha firmamento nos céus
acima, e nem terra firmemente fixada abaixo... era um lugar desértico horrível.
Vi ali sete estrelas, como grandes montanhas em fogo, e quando interroguei a
respeito, o anjo me disse: 'Este lugar é o fim dos céus e da terra: tornou-se
uma prisão para as estrelas... E as estrelas que rolam por sobre o fogo são
aquelas que transgridem os mandamentos do Senhor no começo de seu surgimento,
porque não surgem no tempo determinado».
Judas
faz aqui alguma modificação, pois, em lugar do fogo, ele fala sobre a comum
expressão judaica trevas inferiores,uma alusão ao hades, as regiões obscuras
debaixo da terra, que servem de prisão para as almas perdidas, angelicais ou
humanas. Algumas pessoas se surpreendem ao ver essa astronomia errônea,
misturada com conceitos astrológicos eangelológicos, nas Escrituras
Sagradas, desculpando-as e dizendo que o próprio autor sagrado não cria em tais
tolices, mas tão-somente as usou como base da expressão de suas idéias ou como
linguagem simbólica. Mui provavelmente, porém, o autor sagrado realmente cria
em tais idéias, tendo-as empregado para finalidades espirituais. Seja
como for, a questão não é importante. Ele ensina verdades espirituais, sem importar os
defeitos de sua ciência e de sua metafísica. Não obstante, foi devido ao uso
desse material que antigos pais da igreja, melhor informados científica e
metafisicamente, não permitiram que esta epístola de Judas ocupasse lugar no
«cânon» das Escrituras. No entanto, não nos devemos preocupar exageradamente
acerca dos «veículos» de expressão, pois um homem naturalmente reflete as
crenças de sua época. O que importa é a verdade espiritual assim transmitida.
Neste caso, a verdade é que os falsos mestres que se afastam das linhas
estabelecidas por Deus, e fazem do próprio «eu» seu deus e guia, não
podem escapar a um severo julgamento.
O
trecho de Is 14:12 encerra uma alusão ao pecado dos planetas. Tal
passagem compara Satanás, o filho da manhã, com a estrela da manhã, Vênus,
porquanto o diabo caiu devido ao orgulho, e, tal como um planeta, afastou-se da
órbita divina.
«...negridão das trevas...» As estrelas errantes, por terem desafiado
a ordem estabelecida por Deus, por terem rejeitado sua autoridade, ao invés de
terminarem em fogo (conforme diz a passagem de Enoque, acima citada, e que é seguida de
maneira geral), são confinadas ao obscuro mundo exterior, abaixo da superfície
da terra, o «sheol» ou hades. Provavelmente a alteração feita, naquilo que
diz o livro de Enoque, não foi arbitrária, mas tornou-se a base do trecho de Is
14:9-15, acerca de Lúcifer, a «estrela da manhã», o qual, devido à sua altivez,
desceu ao «sheol», ao «recesso do abismo».
Os
mestres são apresentados como «luzes» no mundo (ver Fp 2:14,15; Mt 5:14-16; 6:23; Lc 16:8 e Jo 5:35). Aqueles
que se recusam a operar assim, espalhando trevas, ao invés de luz, merecem o
juízo das trevas exteriores, porquanto isso se adapta a seu caráter. Judas advertia que a
apostasia haverá de incluir, finalmente, um julgamento amargo. As «estrelas»
erravam; os apóstatas são vagabundos espirituais, que não guiam outros a
nenhuma pátria certa, a nenhuma vitória espiritual, a nenhum triunfo moral, e
nem à salvação final. Pelo contrário, são «estrelas caídas», as quais, tendo-se
destacado da ordem determinada por Deus, finalmente deixam sua luz e a luz de
seu universo e chegam a ser lançados na prisão das trevas. O simbolismo é muito
vivido e instrutivo, embora com base em algumas idéias astronômicas símplices e
errôneas.
As
interpretações que pensam que essas «estrelas» seriam «cometas» ou «estrelas
cadentes» (meteoritos) se originaram da ignorância dos antigos, os quais
denominavam os planetas de «estrelas errantes», e esse é o sentido inerente ao
vocábulo «planeta». O termo grego «planao» significa «errar», «vaguear». Bengel,
entretanto, leva muito longe o simbolismo do termo «planeta», supondo que o
autor sagrado sabia que os planetas não têm luz própria, pelo que não são,
realmente, corpos luminosos, mas antes, tomam por empréstimo a luz que
refletem. E isso seria excelente aplicação aos falsos mestres, os quais não
possuem luz própria. Todavia, tal explicação é um refinamento exagerado do
texto, porquanto dificilmente teria estado na mente do autor sagrado.
Bibliografia Normam r.Champlin,enciclopedia de teologia e filosofia,2010
Judas
combate os falsos mestres
12,
13. Estes homens são como rochas submersas, em vossas festas de
fraternidade, diz Judas numa diatribe veemente e brilhante. Agapais, "festas
de caridade" ou "festas de amor cristão" é, sem dúvida alguma, o
texto certo aqui(cf. a nota sobre 2 Pe 2:13), e vossas é
preferível a "deles". Pode haver uma lição em estes homens
são, pois a mesma frase volta a ocorrer nos vv. 16 e 19. E
possível que Judas esteja pensando nas profecias acerca da apostasia, que se
acham na literatura apócrifa do Antigo Testamento, ou nas profecias cristãs
primitivas, e dizendo que estes homens as cumprem. As festas de amor cristão
forneciam o meio-ambiente para a Santa Ceia na Igreja Primitiva, e dentro de
bem pouco tempo demonstraram-se passíveis a abusos mediante a gula, a desordem
e a imoralidade (1 Co 11:20 ss.). A imoralidade na festa de amor cristão
irrompera na comunidade à qual 2 Pedro era endereçada, e parece que
acontecerá aqui, também. Estes libertinos nas festas de amor cristão eram como
recifes submersos, esperando para naufragar osincautelosos. De fato, foi neste
recife que a Agape realmente foi ao fundo no século
II. Há alguma dúvida quanto ao significado de spilades, visto
tratar-se de uma palavra rara, que ocorre somente aqui no Novo Testamento. No
grego secular, significa "rochas" ou "rochas submersas",
mas no quarto século já viera a significar "manchas" (ver
ARC).Assim ficaria um paralelo estreito com spiloi, "nódoas"
em 2 Pedro 2:13, mas o significado mais antigo deve ser preferido
nesta passagem que está cheia de símiles notáveis.
Se sem
qualquer recato for interpretado com a cláusula anterior, o
significado será "enquanto festejam temerariamente"; se for com a
cláusula seguinte, o significado será "enquanto descaradamente cuidam de
si mesmos". As duas interpretações oferecem um bom sentido.
Em
"rochas submersas" vemos o perigo que esta gente representa; em
"festejando descaradamente", vemos sua arrogância. A frase seguinte, a si mesmos se apascentam, sublinha seu egoísmo. Ficam sendo pastores
para si mesmos, o que faz lembrar Ezequiel 34:8: "Os meus pastores... se
apascentam a si mesmos, e não apascentam as minhas ovelhas." Ao invés de
cuidar dos outros, os desviaram. Ao invés de perder as suas vidas, e assim
ganhá-las, procuraram salvar suas vidas — e assim as perderam (Mc 8:35).
Judas
continua amontoando a invectiva em quatro metáforas marcantes. São as nuvens,
as árvores, as ondas, e as estrelas. "O céu, a terra e o mar são
rebuscados à procura de ilustrações destes homens" (Moffatt).
Em
primeiro lugar, são como nuvens que trazem a promessa de
chuva, mas não dão uma gota sequer à terra sedenta; meramente servem para
ocultar o sol. Estas nuvens são levadas adiante pelo vento, e a terra embaixo
não recebe benefício algum (ver Pv 25:14 nosso texto áureo). Aqui temos um exemplo pitoresco da inutilidade do
ensino que é supostamente "avançado" e "iluminado" mas nada tem para oferecer ao cristão comum para nutrir
sua vida espiritual. Acho que esta é uma advertência solene para aqueles
que, como eu mesmo, somos teólogos profissionais. Devemos constantemente perguntar a nós mesmos se
nossos estudos e o nosso conhecimento estão sendo de benefício para qualquer
pessoa.
Em
segundo lugar, são como árvores frutíferas estéreis. Há muita
discussão acerca do significado preciso dephthinopõrinos. Bigg favorece
"do outono", sendo que o significado literal dos componentes da
palavra é o "fim da fruição"; a estação em que o crescimento cessou
e os galhos são desnudos. Mayor queixa-se que, se este for o caso,
como as árvores poderiam ser culpadas por não dar frutos? Pensa que significa
"que dão frutos no outono". Pode, na realidade, simplesmente
significar isto, e a culpa ser concentrada na palavra akarpa —
são desprovidas de frutos; embora também seja possível que a palavra signifique
que seus frutos se secam antes de ficarem maduros. De qualquer maneira, estes mestres tinham vidas estéreis, quando
deveriam ter sido frutíferos. Eram como a figueira estéril da parábola
de Jesus (Lc 13:6-9). Tinham se esquecido das palavras de Jesus: "pelos seus frutos vós os conhecereis" (Mt7:20).
Pedro tinha uma queixa semelhante para fazer acerca dos seus leitores. Cessaram
de crescer (2 Pe 1:8; 3:18). São chamados duplamente
mortas e desarraigadas porque, no passado, tinham
estado "mortos nos delitos e pecados" (Ef 2:1) e agora estavam
mortos de novo, no sentido de terem sido cortados da sua raiz vivificante,
Jesus Cristo (contrastar Cl 2:7). O conteúdo daquilo que Judas está dizendo
foi além dos limites da metáfora, conforme parece; embora, com um pouco de insistência,
seja possível considerar a árvore uma vez morta por ser estéril, e duas vezes
morta por ter sido desarraigada. O desarraigar das árvores é uma metáfora veterotestamentária predileta
do julgamento (SI 52:5; Pv 2:22).
Em
terceiro lugar, são como ondas bravias do mar, que espumam as suas
próprias sujidades, i.e., suas ações vergonhosas. Sem dúvida, Isaías 57:20 está
por detrás desta linguagem figurada, ao fazer pensar na inquietude dos ímpios e
sua produção contínua de escuma suja, tal como se acha espalhada nas praias
depois de a maré recuar-se. A palavra epaphrizõ ("espumejar")
é muito rara. O poeta Mosco a emprega acerca das algas e do lixo
carregados na crista da onda, e depois depositados na praia.
Finalmente,
são como estrelas errantes, cuja condenação é serem
aprisionadas nas trevas para sempre. Judas está pensando, não em planetas, mas,
sim, em estrelas cadentes que caem do céu e estão engolfadas nas trevas — para
o desgosto daqueles que as observam. Para esta metáfora, ele volta
mais uma vez ao Livro de Enoque (xviii. 14 ss.)
onde o anjo mostra a Enoque "uma prisão para as estrelas do
céu”. Mais tarde, vê estrelas ligadas juntas, e é informado: "estas são as
estrelas que transgrediram... e esta é a prisão dos anjos em que estão
guardados para sempre" (xxi.2,6,10). Sugere-se assim que Judas está
pensando na condenação dos anjos caídos (da qual falara no v. 6), quando fala
da condenação reservada para as estrelas errantes. Esta conclusão é reforçada
pelo fato de que passa a citar Enoque no versículo
seguinte. Fingem ser luzes, mas se desviaram tristemente, e a
condenação os aguarda (há provavelmente um jogo de palavras entre planétai,
errantes e plane, erro, no v. 11). A alusão a Enoque é
especialmente apropriada, conforme indicou Irineu. Pois ao passo que os anjos
maus perderam seu lar celestial por desobedecerem a Deus, e caíram para a
destruição, Enoque conquistou o céu por meio de obedecer a Deus, e
foi salvo.
Nestes
dois versículos, pois, Judas evocou um quadro rápido e marcante dos homens que
está fustigando. Sãoperigosos como rochas submersas, egoístas como pastores
perversos, inúteis como nuvens sem chuva, mortos como árvores estéreis, sujos
como o mar que espumeja, e com condenação tão certa como a dos anjos caídos.
A
profecia de Enoque aplica-se a eles (14-16).
14,15. Judas
agora confirma esta análise final dos seus oponentes com uma profecia de
julgamento inescapável, o julgamento que acompanhará a volta de Cristo. Cita o
Livro de Enoque (i.9) para enfatizar seu argumento. Em nenhuma
parte do Antigo Testamento, aliás, Enoque é chamado o sétimo
depois de Adão (embora isto pudesse ser inferido de Gn 5), mas é
chamado assim em Enoque lx. 8; xciii. 3.
Sétimo é importante, pois sete é o número perfeito no pensamento
hebraico, e enfatiza a estatura deste homem Enoque que andava com
Deus (Gn 5:24). Uma profecia, para Judas, decide o assunto. Nada mais há que possa ser dito acerca da condenação
dos mestres do erro. É interessante que Judas aplica esta profecia de
muito tempo antes à situação dos seus próprios dias, assim como os homens de Cunrã aplicavam
os escritos de Habacuque ao seu próprio tempo e situação. Embora só tenhamos
uma terça parte do texto de Enoque em grego, possuímos
este fragmento, e Judas segue o original bem de perto. Ao passo queEnoque estava
pensando no Senhor como Deus vindo no julgamento, para Judas,
naturalmente o kuríos é o Senhor Jesus, e Sua vinda
é a parusia; os santos que o acompanham para o julgamento
são os anjos (cf. Mt 25:31) e o julgamento é exercitado sobre os
ímpios no que diz respeito tanto às suas palavras e às suas ações.
Se
ele considerava Enoque como sendo inspirado, ou não, está fora
do assunto, pois está citando um livro que tanto ele quanto seus leitores
decerto conheciam e respeitavam. Fala-lhes numa linguagem que facilmente
entenderão, e este permanece sendo um dos elementos mais importantes na
comunicação da verdade cristã.
16.
Judas completa seu quadro dos hereges em termos que M. R. James pensa
terem sido tirados do capítulo 7 (do texto latino) da Assunção de
Moisés, mas que Chaine, com maior probabilidade, vê como uma
aplicação da profecia deEnoque. Destarte, murmuradores e descontentes dão
mais pormenores dos pecados de palavras que tinham cometido ("as palavras
insolentes que... proferiram contra ele", 15), ao passo que andando segundo
as suas paixões refere-se aos seus pecados de ação ("todas as
obras ímpias que impiamente praticaram", 15). Depois, enlevado pela
indignação, Judas acrescenta mais uma frase em cada categoria para completar o
versículo.
Para murmuradores,
Judas emprega a palavra deliciosamente onomatopaica, gongustês; Paulo
a usara para descrever o descontentamento ardente dos israelitas no deserto (1 Co
10:10). Sempre que um homem fica fora de contato com Deus a probabilidade
é que ele começará a queixar-se dalguma coisa. Resmungar e
lamentar-se é uma das marcas que distinguem o homem sem Deus (cf. Fp
2:14). No caso dos homens aqui descritos, provavelmente estava queixando-se
tanto de Deus quanto dos líderes da igreja. Esta resmungação estendia-se,
também, à sua situação na vida. Sempre estavam amaldiçoando o seu azar (este é
o significado literal de mempsimoiros, descontente). O mempsimoiros era
uma personalidade grega padronizada, como Zé do Boné no Jornal da
Tarde. "Não estais satisfeitos
com nada que vos acontece; vós, vos queixais de tudo. Não desejais o que
tendes, e anseias por aquilo que não tendes. No inverno, desejais que fosse
verão, e no verão, que fosse inverno. Sois como os doentios, difíceis de
agradar, e mempsimoiros!"(Luciano, Cínico, xvii). Infelizmente, estas palavras se adaptam a muitos
cristãos. Este espírito inteiro de queixumes é condenado severamente em
Tiago 1:13. E insultar o Deus que nos dá todas as coisas; é esquecer-nos
que, seja o que nos acontece, nada pode nos separar do Seu amor, nem privarnos daquele
tesouro mais precioso de todos, a presença do Senhor em nossas vidas
(Rm 8:34-39; Hb 13:5, 6).
Depois,
Judas reitera sua observação, que alguém poderia ser perdoado por sentir que já
enfatizara demasiadamente, de que o comportamento dele é governado, não pela
vontade de Deus, mas, sim, pelos seus próprios desejos, andando segundo
as suas paixões. A autodisciplina e o altruísmo estão desvalorizados;
o próprio-eu é o que conta. Recebe respeitabilidade intelectual da parte de
Nietzsche, Sartre, Camus, e muitos dos teatrólogos modernos, e afetou o homem
comum mais do que ele quer reconhecer, com sua expressão popular: "Eu estou bem, João; você que se dane" —
uma atitude de flagrante egocentrismo. "Basta pensarmos como o mundo
seria se todos os homens fossem assim, para vermos que completo caos se
resultaria" (Barclay). É lógico que na realidade estes falsos mestres eram
dignos de dó. Olhe a estocada final de Judas: A sua boca vive
propalando grandes arrogâncias; são aduladores dos outros, por motivos
interesseiros. São, ao mesmo tempo, bombásticos, barulhentos, cheios
de si mesmos, entre aqueles que esperam impressionar; e também estão dispostos
a lisonjear aqueles que consideram importantes, de modo que obterão alguma
vantagem disto! Sobre esta questão de bajulação, Mayor diz muito
bem: "Assim como o temor a Deus expulsa o medo aos homens, assim também o
desafio a Deus tende a colocar o homem no lugar dEle, como fonte principal
do bem ou do mal aos seus companheiros.'' No fim de todos os raios com trovão
que Judas despencou do arsenal de Deus contra estas pessoas, descobrimos que
estão à mercê dos seus próprios temores daquilo que os homens lhes farão.
Realmente ficam podadas bem embaixo. Hitler, o grande valentão, era um covarde
no fim.
Os
comentaristas procuram achar paralelos para a expressão incomum thaumazein prosõpa, "tendo
as pessoas dos homens em admiração" (aduladores dos outros), na Assunção
de Moisés v. 5 ("mirantes personas locupletum etaccipientes munera") mas
a idéia era comum no judaísmo (Gn 19:21 LXX; Dt 10:17, etc), onde era odiado o favoritismo (Lv 19:15;
Pv 24:23; Am 5:12). É interessante que tanto Judas como Tiago tenham
achado necessário ecoar este ódio tradicional judaico contra a praxe de
lisonjear.
Bibliografia
M. Green +www.ebareiabranca.com
Judas
combate com rigor os falsos profetas
Judas
alerta os destinatários de sua carta, em todos os tempos e lugares, sobre a
intromissão dos falsos crentes no seio da Igreja de Cristo. O sacro escritor
diz-nos que, sem serem membros genuínos da igreja, se vestem de santos e
participam da vida da igreja até mesmo nas celebrações mais reservadas, como a
Ceia do Senhor. Judas utiliza-se de diversas figuras de linguagem para
identificá-los e caracterizá-los: pastores que a si mesmos se apascentam,
nuvens sem água, árvores sem frutos, ondas inconstantes e estrelas errantes. Essas
figuras exprimem a ausência dos frutos e da verdadeira natureza cristã;
elementos esses, que devem caracterizar os autenticamente "nascidos de
novo".
Se
não vigiarmos como a Palavra de Deus nos ordena, os ímpios se introduzirão de
tal forma entre os santos, que viremos a perder todas as características de
povo de Deus.
Judas
identificou os falsos irmãos descrevendo-os em termos metafóricos, ou seja, com
sentido figurado.
a)
"São nuvens sem água" (v.12). Como nuvens que não dão chuva, não
trazem benefícios a ninguém.
b)
"Levadas pelos ventos" (v.12). Denota instabilidade de caráter.
c)
"árvores murchas infrutíferas (v.12). "Árvores em plena estação de
frutos, destes desprovidos" (ARA). Denota natureza infrutífera.
d)
"Duas vezes mortas" (v.12). O termo salienta o fato que nem na
primavera haveria esperança de vida nova. Em relação aos falsos crentes estas
duas vezes mortas no sentido espiritual pode significar: antes da sua profissão
de fé, estavam mortos e também na sua vida nominalmente cristã permanecendo
mortos.
e)
"Ondas impetuosas do mar, que escumam as suas mesmas abominações"
(v.13). Os falsos irmãos, como o bravo mar, nunca têm paz, e como as
encapeladas ondas que lançam espuma, plantas marinhas e destroços na superfície
do oceano, estes homens espraiam-se em coisas vergonhosas (Is 57.20).
Vejamos
o que Judas tem a dizer acerca desses joios que crescem entre o trigo.
O
ALERTA DE JUDAS QUANTO AOS FALSOS CRENTES
Judas
faz-nos um grave alerta quanto aos ímpios que, sob o disfarce de abalizados mestres e doutores, intrometem-se
em nossas festas e reuniões solenes. O apóstolo tacha-os de manchas, nuvens sem
água, árvores murchas, ondas impetuosas e estrelas errantes (Jd 12).
1. Quando
os ímpios se banqueteiam. A expressão grega spílos, traduzida como
mancha, é usada também para descrever um vento sujo, lamacento e
tempestuoso. Era um fiel retrato daqueles que se imiscuíam nos ágapes e outras festas dos crentes
primitivos, com o intuito de banquetear-se a si mesmos, e deturpar a comunhão
dos santos. Sutilmente, iam eles comprometendo a singeleza das reuniões
cristãs, tirando destas toda a santidade e induzindo os néscios às mais
grosseiras abominações (2Tm 4.6,7).
Fritz Rienecker aprofunda-se
na exegese dessa passagem de Judas: "O significado aqui é que os falsos
mestres eram responsáveis pela destruição da fé e do comportamento decente de
seus companheiros cristãos, assim como recifes submersos podem afundar
navios". Quantas igrejas não tem ido a pique em conseqüência da
falta de vigilância e de rigor na aplicação da Palavra de Deus!
2. Quando
os ímpios mercadejam com o rebanho de Cristo. Muitos são os que fazem do rebanho de Cristo um simples mercado (2Pe 2.3).
Visando lucros cada vez mais brilhante, vão juncando nossas searas de
apostasias, cismas e mentiras. E o que dizer daqueles que, no ocaso de suas carreiras mundanas, transformam os púlpitos em
palcos; e, os fiéis, em fãs abobalhados? Através de seus shows
irreverentes, acabam eles por comprometer a adoração e a reverência dos cultos.
Não bastasse, espoliam as igrejas com pesados cachês e outros encargos.
Desgraçadamente, o que recusamos à Obra Missionária, entregamos aos
aventureiros e mercenários.
3. Quando
nossos modelos são trocados. Através de suas palavras e ações, os falsos
doutores e mestres estão a induzir nossos jovens a uma vida fútil e
descompromissada com Deus (Ap 2.14).
Tenho
saudades do tempo em que os modelos de nossos jovens eram John Wesley, Charles Spurgeon,
Daniel Berg e Billy Graham (Tt 2.17). Hoje, são jogadores e artistas que,
embora se digam filhos de Deus, recusam-se a abandonar a cultura do príncipe
das trevas. Não estou dizendo que não haja convertido entre eles; o que quero
deixar bem claro é que, aquele que está em Cristo, nova criatura é (2Co 5.17).
A
FALSA APARÊNCIA DOS ÍMPIOS
Eles
têm muita aparência (2Tm 3.5). Demonstram estar sempre cheios. Mostram-se às vezes mais crentes que os próprios
crentes. No entanto, são nuvens sem água. Dão a impressão de estarem
carregados de unção, mas não chovem boas obras nem virtudes. São nuvens sem
água levadas pelos vendavais das circunstâncias (Jd 12).
1. Quando
as nuvens são inúteis. Judas apresenta os ímpios como nuvens arrastadas de
um lado para outro, frustrando, com a sua inconstância, a expectativa dos que
esperam pelas chuvas (Tg 5.7). Rienecker avança em sua exegese:
"A sugestão é que os praticantes do erro são, todos, sombra e não
substância; eles não têm nada para dar aos que são tolos o bastante para
dar-lhes atenção". Leia Jd 10.
2. Quando
os ímpios encontram guarida em nosso meio. Infelizmente, vêm os ímpios
encontrando generosas guaridas em nossas igrejas. Promovem eles cultos de
libertação, shows e até reuniões de avivamento. Cuidado! Não nos deixemos enganar! Você sabia que esses
indivíduos são os que mais se esforçam por destruir a Escola Dominical? O
sangue de Jesus tem poder!
Eles
não podem suportar uma igreja edificada na doutrina dos apóstolos e dos
profetas. Se lhes resistirmos com a Palavra de Deus, certamente fugirão de
nosso meio (Tg 4.7).
A
VIDA INFRUTÍFERA DOS ÍMPIOS
Eles
existem, mas não têm vida. São duas vezes mortos (Jd 12). Além de estéreis,
acham-se fossilizados. A expressão usada pelo apóstolo - fthinoporinós -
retrata as árvores no final do outono: secas, desfolhadas, minguadas em seu
crescimento.
Infrutuosos,
buscam exaurir-nos o fruto de nossa comunhão com o Espírito Santo, e drenarnos a
seiva do serviço que santificamos ao Senhor Jesus Cristo (Gl 5.22). Eles não
têm frutos. Se não se arrependerem, em breve serão lançados na fornalha de fogo
ardente (Mt 3.10).
A
IMPETUOSIDADE DOS ÍMPIOS
Os
falsos movimentos fazem grandes alardes, e chegam a impressionar até os mais
precavidos. Entretanto, não passam de "ondas impetuosas do mar, que escumam
as suas mesmas abominações" (Jd 13).
Recentemente,
a igreja no Brasil foi surpreendida por um movimento que causou estragos
irreparáveis em vários rebanhos. Mas, à semelhança das ondas referidas pelo
apóstolo, acabou por se desfazer na rocha da sã doutrina (Jr 23.29).
Infelizmente,
alguns estragos ainda não puderam ser reparados. Mas o Senhor a tudo
presenciou. Em seu Tribunal, seremos chamados a prestar contas dos escândalos
não evitados, das heresias não debeladas e das ovelhas não arrancadas aos lobos.
Não
nos impressionemos com o som dessas ondas. Provemos se os espíritos procedem de
Deus, ou se do príncipe deste século (1Jo 4.1). O Senhor Jesus alertou que
os falsos mestres e profetas enganarão, se possível, os mesmos
escolhidos (Mt 24.24).
O EFÊMERO BRILHO DOS ÍMPIOS
Nunca
brilharam no mundo evangélico tantas estrelas! Vivemos a era do incremento do
marketing pessoal. Já não se é atraído
pela unção do mensageiro, mas por seu desempenho diante da mídia.
Consagração, hoje, é sinônimo de performance. Quando se convida um pregador, já
não se pergunta se tem ele comunhão com Deus, mas se tem intimidade com as
câmeras. Não queremos saber se ele fala com Deus, mas se tem desembaraço para
falar ao microfone.
Deixamo-nos,
assim, arrastar por homens e mulheres destituídos da graça de Deus. Os tais só
perseguem a glória humana. São como Demas que, por amar o presente
século, abandonou a Paulo, tornando-se um astro errante (2 Tm 4.10).
Quanto
aos astros e estrelas que, por intermédio de seu mau exemplo, fazem errar os
que buscam o Cristo de Deus, está-lhes reservada "a negrura das
trevas" (Jd 13). Aí haverá choro e ranger de dentes. Esta imagem de Judas
deveria ser considerada por todos os que atuam no ministério cristão. Não fomos
chamados para ser estrelas, mas a fim de brilhar como aqueles astros
referidos pelo profeta (Dn 12.3).
CONCLUSÃO
De acordo com algumas pesquisas, os evangélicos no Brasil já superaram a casa dos 30 milhões. Se, por um lado, alegramo-nos com o avanço do evangelismo pátrio, por outro, não podemos ignorar a ameaça daqueles que já nos rodeiam interessados no mercado que representamos ou na quantidade de votos que possuímos.
De acordo com algumas pesquisas, os evangélicos no Brasil já superaram a casa dos 30 milhões. Se, por um lado, alegramo-nos com o avanço do evangelismo pátrio, por outro, não podemos ignorar a ameaça daqueles que já nos rodeiam interessados no mercado que representamos ou na quantidade de votos que possuímos.
Não
haveremos de perder nossas características. Somos povo de Deus. E, como tais,
permaneceremos. Não vamos permitir que os ímpios, e principalmente os falsos
mestres e profetas, mercadejem com a igreja de Cristo. Muito cuidado!
Bibliografia Pr A.
Gilberto +www.ebareiabranca.com
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