Ministério
Profético no Antigo Testamento
Palavra
Chave
Profeta: [Do heb. Nabi; do gr. prophetes]. “No
Antigo Testamento, era a pessoa devidamente vocacionada e autorizada por Deus
para falar por Deus e em lugar de Deus”.
Os profetas do Antigo Testamento
inspiram e instruem não somente a Israel, mas a Igreja de Cristo. O Senhor
Jesus Cristo e os seus apóstolos fizeram-lhes referências, reconhecendo a
autoridade espiritual deles. A presente lição objetiva explanar a missão desses
homens de Deus e a abrangência bíblica do termo “profeta”. Seu significado. A
palavra hebraica usada no Antigo Testamento para “profeta” é nābî’. Sua
etimologia é incerta, mas o verdadeiro significado é possível pelo seu uso nas
Escrituras. O diálogo entre Deus e Moisés (Êx 4.14-16) esclarece o sentido do
termo, o qual é “falar em nome Deus”. Por conseguinte, é ser um “porta-voz”, um
“embaixador” (veja a ilustração do ofício com Moisés e Arão em Êxodo 7.1,2).
Deus sabe todas as coisas, conhece o fim desde o princípio; seu conhecimento é
absoluto e perfeito em tudo (Is 46.9,10). Portanto, quem fala em seu nome
anuncia o futuro como se fosse presente. Isso explica o estreito vínculo de
“profetizar” com “prever o futuro” e, ainda, “revelar algo impossível de saber
através de recursos humanos”, ações possibilitadas apenas por Deus.
Sua abrangência. Tanto o substantivo “profeta” como o verbo
“profetizar” têm amplo significado no Antigo Testamento e em nossos dias. O
termo “falso profeta” aparece na versão grega dos setenta, conhecida como
Septuaginta (LXX), e em o Novo Testamento; porém, não existe nas Escrituras
hebraicas. Assim, o termo aplica-se também a adivinhos, falsos profetas e
profetas das divindades pagãs das nações vizinhas de Israel, sendo
identificados como tais pelo contexto (Js 13.22; 1 Rs 22.12; Jr 23.13).
Expressões correlatas. Vidente, por exemplo, possui dois termos
hebraicos que o identifica nas Escrituras: hozeh eroeh (hōzer e rō’eh na transcrição técnica). Ambos apresentam dois
sentidos: ver com os olhos físicos e ver introspectivamente, ou seja, ver com o
espírito, por isso, o profeta é chamado de “homem de espírito” (Os 9.7). Houve
um período na história profética de Israel em que os profetas eram
identificados simplesmente como “videntes” (1 Sm 9.9).
O INÍCIO DO MINISTÉRIO DOS PROFETAS
Contexto histórico (v.24). Nos versículos 11 a 15 do capítulo 11 de
Números, observamos que Moisés, por causa de seu trabalho excessivo, sentiu-se
incapaz de satisfazer plenamente às necessidades do povo, e isso o deixou
frustrado. Todos os homens de Deus passam por experiências similares. Quando
chegamos a esse ponto, Deus vem em nosso socorro (Sl 121.1,2). Foi nesse
contexto que o Senhor, para aliviar a carga de Moisés, repartiu o Espírito que
estava sobre o seu servo entre setenta anciãos de Israel, a fim de ajudar o
grande legislador do povo hebreu a desempenhar o seu ministério (vv.16,17).
Moisés iniciou o ofício profético em Israel
(vv.25,26). O verbo
“profetizar” aparece aqui pela primeira vez nas Escrituras Sagradas: “[...]
quando o Espírito repousou sobre eles, profetizaram” (v.25); “[...] e
profetizavam no arraial” (v.26). Foi com essa congregação de setenta homens dos
anciãos do povo hebreu que Moisés iniciou ao que posteriormente ficou conhecido
como o ministério profético em Israel. Apesar de o verbo ter a sua primeira
menção no livro de Números, a figura do profeta está presente desde a época
patriarcal. Embora não se saiba qual era exatamente a sua função nesse período,
parece-nos incluir a intercessão, visto que Deus disse a Abimeleque acerca de
Abraão: “[...] porque profeta é e rogará por ti” (Gn 20.7).
“Tomara que todo o povo do SENHOR fosse
profeta” (v.29). A resposta de Moisés demonstra que qualquer pessoa podia ser
profeta, desde que tivesse uma chamada divina específica. Essa expressão se
confirma na história do Antigo Testamento, pois os profetas e profetisas como
Débora e Hulda, por exemplo, vieram de diversas tribos, famílias e classes
sociais (Jz 4.4; 2 Rs 22.14). Veja ainda o caso de Amós, que era camponês (Am
7.14). Diferentemente dos sacerdotes, os profetas não precisavam pertencer a
certa família sacerdotal, como a de Arão; tam-bém não havia restrição de idade
nem objeção quanto às condições físicas.
O
MINISTÉRIO
Havia o ministério dos profetas? Há quem negue a existência da escola e do
ministério dos profetas como instituição em Israel nos tempos do Antigo
Testamento. Entendemos que no ministério mosaico iniciou-se a atividade
profética em Israel (Nm 11.25). Entretanto, o profetismo, como movimento,
surgiu séculos depois.
Mais tarde vemos que Samuel
presidia a congregação de profetas em Naiote, região de Ramá, onde residia (1
Sm 7.17; 19.19-23). E adiante, vemos a existência de uma escola dos profetas
composta por “filhos” dos que exerciam o ofício (2 Rs 2.3,5,1 5). É importante
ressaltar que “filho”, na Bíblia, significa também “discípulo, aprendiz” (Pv
3.1,21; 2 Tm 2.1; Fm v.10). Note que o texto sagrado revela a existência de uma
organização de profetas bem estruturada, e Eliseu chegou a ser o mestre deles
(2 Rs 6.1-3).
A corporação profética. O termo original para “ministério, serviço”
não é o mesmo referente à atividade dos profetas. A expressão “ministério do
profeta” ou “dos profetas”, na ARC, como aparece nas leituras diárias desta
lição, significa na verdade “por meio dos profetas”, como registra a ARA. O
vocábulo “ministério” indica o serviço religioso específico e especial,
desempenhado pelos levitas (1 Cr 6.32), pelos sacerdotes (1 Cr 24.3) e pelos
apóstolos (At 1.25). Isso, porém, não é em si mesmo prova da inexistência de
uma corporação profética em Israel (1 Sm 10.5).
Classificação. Os profetas do Antigo Testamento são
categorizados em clássicos, ou profetas escritores, e os conhecidos também como
profetas não-escritores ou orais. Estes últimos são também chamados não
literários, os quais não escreveram seus oráculos, como Samuel, Elias e Eliseu.
Os profetas clássicos são também chamados de literários, os quais escreveram
suas profecias, como Isaías, Jeremias, Ezequiel, dentre outros. Trata-se de uma
classificação simplesmente didática. Ambos os grupos desempenharam o mesmo
ofício, mas em épocas diferentes. Todos falaram em nome do Deus de Israel. As
Escrituras empregam a mesma expressão para ambos os grupos: “veio a palavra do
SENHOR a” ou fraseologia similar (1 Sm 15.10; Is 38.4; Jr 1.2). Todos esses
profetas usavam a chancela de autoridade divina: “assim diz o SENHOR” (1 Sm
15.2; Is 7.7; Jr 2.2).
O profeta e Moisés
“Para um melhor entendimento da
origem divina da instituição profética, a passagem-chave está em Deuteronômio
18.9-22. Em contrapartida à contínua atividade dos adivinhadores e
vaticinadores cananeus, Deus prometeu enviar a Israel seus profetas. Portanto,
Israel não seria compelida a lançar mão de meios humanos para obter informações
sobre a vida e a morte. Antes, a nação deveria dar ouvidos aos profetas que
iriam declarar as verdadeiras Palavras de Deus. Dessa forma, assim como Moisés,
ele seria um mediador entre Deus e a nação. Da mesma forma como o sacerdote
representava o povo perante Deus, também o profeta representava Deus perante o
povo. Entretanto nenhum dos profetas foi uma cópia exata de Moisés. Somente com
a vinda de Cristo, eles conheceram aquele grande Profeta que fora
verdadeiramente representado por Moisés, aquele que conhecia a Deus Pai face a
face (Dt 34.10).
Em Hebreus 3.1-6, existe um grande
contraste entre Moisés e Cristo. Na casa de Deus, isto é, na divina organização
ou dispensação, Moisés era fiel servo, mas Cristo está acima da casa como
Filho. A era do Antigo Testamento, ou Era Mosaica, ficou aqui estabelecida como
testemunha do período do Novo Testamento. Nesse sentido, todo o desígnio
mosaico pode ser considerado como típico e preparatório de uma nova época. E
nesse desígnio de aspecto e preparação, Moisés foi a maior figura, o único que
era realmente parecido com Cristo”.(Dicionário Bíblico Wycliffe. RJ:
CPAD, 2006, p.1607)
O
Ofício Profético — “A Bíblia retrata o profeta como
alguém que era aceito nas câmaras do conselho divino, onde Deus ‘revela o seu
segredo’ (Am 3.7). O texto hebraico de 1 Samuel 9.15 retrata Deus ‘revelando
aos ouvidos’ do profeta. Pelo processo da inspiração divina, Deus revelava o
que estava oculto (2 Sm 7.27), de forma que o profeta percebia o que o Senhor
dissera (Jr 23.18). Esta comunhão com Deus era essencial para que a verdade de
Deus fosse revelada pelo processo de inspiração profética. A Palavra do Senhor
era comunicada ao profeta e mediada ao povo pelo Espírito Santo — com uma
convicção poderosa e precisão exata” (LAHAYE, T. Enciclopédia
Popular de profecia Bíblica. 1.ed. RJ: CPAD, 2008,
p.383).
Os
Profetas —
“A pessoa se tornava profeta ao perceber que Deus estava falando com ela e
precisava então transmitir a mensagem recebida. A consciência disso se
manifestava de várias maneiras e a mensagem era transmitida conforme a
personalidade única do profeta. Jeremias diz simplesmente que a mão do Senhor o
tocou e palavras foram postas em sua boca (Jr 1.9). Outros profetas tiveram
visões e sonhos (1 Sm 28.6,15; Zc 1.8). Algumas vezes a mensagem profética era
dada recapitulando a visão (Is 6), outras vezes contando parábolas ou histórias
(Is 5.1-7), repetindo um oráculo (2 Rs 13.14-19; Ez 4.1-3), ou escrevendo (Is
30.8).
[...] Grupos de profetas
trabalhavam nos centros de adoração (1 Sm 10.5) e se associavam então com os
sacerdotes e levitas (2 Rs 23.2). Em vista de conhecerem os abusos do sistema
de sacrifícios e compreenderem que a vida moral dos adoradores não correspondia
ao cerimonial, eles tendiam a atacar esse. Fizeram o que Jesus fez mais tarde
com a samaritana, quando afirmou que a verdadeira adoração aceitável a Deus é
‘em espírito e em verdade’ (Jo 4.24)” (COWER, R. Uso
e Costumes dos Tempos Bíblicos. 1.ed. RJ: CPAD, 2002,
pp.367,368).
Profetismo —
“Movimento que, surgido no século VIII a.C, em Israel, tinha por objetivo
restaurar o monoteísmo hebreu, combater a idolatria, denunciar as injustiças
sociais, proclamar o Dia do Senhor e reacender a esperança messiânica num povo
que já não podia esperar contra a esperança.Tendo sido iniciado por Amós, foi
encerrado por Malaquias. João Batista é visto como o último representante deste
movimento” (ANDRADE, C. C. Dicionário
Teológico. RJ:
CPAD, p.244).
O
Ministério Profético na Bíblia — a voz de Deus na
terra
Palavra
Chave
Comunicação: Processo de
emissão, transmissão e recepção de mensagens por meio de métodos ou sistemas
convencionais.
Sabemos que Deus falou muitas
vezes e de muitas maneiras através dos seus mensageiros (Hb 1.1). Entretanto,
pouco se estuda acerca da forma como os profetas de Deus recebiam a revelação
divina e como essa mensagem era transmitida ao povo. Assim, o propósito desta
lição é estudar a natureza da atividade profética, ou seja, o modus operandi da transmissão dos oráculos divinos aos
profetas e, por conseguinte, desses ao povo.
AS FORMAS DE COMUNICAÇÃO DE DEUS AOS PROFETAS
“[...] Veio a mim a palavra do SENHOR” (v.4). A expressão “veio a mim a palavra do Senhor”
geralmente serve para introduzir um diálogo (ou uma visão) entre Deus e o
profeta (vv.4,11,13). Essa era a forma usual de o profeta do Senhor demonstrar
que a sua mensagem veio do Todo-Poderoso. Algumas vezes, o homem de Deus
recebia o oráculo divino de maneira íntima e repentina, ocasião em que somente
ele ouvia a voz divina e ninguém mais. São exemplos dessa forma de comunicação
entre o Senhor e o seu mensageiro: o que aconteceu com Samuel quando foi ungir
Davi (1 Sm 16.6,7), e o que sucedeu ao profeta Isaías ao se encontrar com o rei
Acaz (Is 7.3,4).
Revelação divina em forma de diálogo
(vv.6,9,10). Como vimos
na leitura bíblica, o fato de Jeremias recusar a chamada não era desobediência,
mas temor, por causa de sua tenra idade. Entretanto, a situação possibilitou um
diálogo, onde Deus tocou a boca do profeta e disse-lhe: “Eis que ponho minhas
palavras na tua boca” (v.9). Isso simbolizava a comunicação da mensagem divina.
Desde então, Jeremias se tornou um porta-voz de Deus, que conferiu-lhe
autoridade sobre nações e reinos (v.10). Investido dessa autoridade, o profeta
cumpriu a sua missão de extirpar o pecado e a corrupção generalizada do povo e
de anunciar a nova aliança com a vinda futura do Messias (v.16; 23.5,6;
31.31-34; Lc 22.20; Hb 9.14,15).
Visão ou sonho. Duas outras principais formas de Deus
comunicar sua mensagem ao profeta são visões e sonhos (Dn 7.1). A visão
transmitida pelo Senhor é algo visto fora da contemplação ou percepção humana
comum e natural. Já o sonho, sem ser necessariamente uma revelação de Deus, é
apenas uma série de imagens acompanhadas de pensamentos e emoções, que a pessoa
vê enquanto dorme. Diferentemente, o sonho profético era outra maneira de Deus
se revelar aos profetas (Nm 12.6), tal como fez com Daniel: “[...] teve Daniel,
na sua cama, um sonho e visões da sua cabeça” (Dn 7.1).
A comunicação da mensagem divina
através das visões que o profeta Jeremias teve é um exemplo que ilustra essa
forma de o Eterno transmitir seus oráculos:
a) A visão da
vara de amendoeira (vv.11,12). A primeira visão do profeta das lágrimas é
significativa, pois a amendoeira é uma árvore que se renova mais cedo para a
primavera, ou seja, é a primeira a florir. A palavra hebraica para “amendoeira”
ou “amêndoa” é shāqēd, e
significa “o despertador”, uma vez que o povo a via como o “arauto da
primavera”. Assim, visto que o verbo shāqad significa “vigiar, estar de vigília”, havendo
apenas uma sutil diferença entre “amendoeira” e “vigiar”, o nome dessa planta
representa o lembrete de que Deus está atento ao cumprimento de sua palavra
(cf. Jr 31.28; 44.27).
b) A visão da
panela fervendo (vv.13-15). Já a segunda visão dada pelo Senhor a Jeremias
veio algum tempo depois e mostra uma panela fervendo, virada do norte para a
região da Palestina. O “conteúdo” desse caldeirão (algo sinistro e assustador,
pois anunciava o trágico destino da nação judaica devido aos seus pecados)
seria derramado sobre Judá e Jerusalém. Isso era algo assegurado pelo próprio
Deus, que se encarregou de dar a interpretação da visão: “Do Norte se
descobrirá o mal sobre todos os habitantes da terra” (v.14). Qual o real
significado dessa mensagem? Ao norte de Israel estavam a Fenícia, Síria,
Assíria e Babilônia. Porém, ao longo do livro, fica claro que a palavra
profética refere-se especificamente ao reino da Babilônia que dominaria outros
povos.
AS FORMAS DE TRANSMISSÃO DA MENSAGEM DOS
PROFETAS AO POVO
Declaração oral e direta. A forma mais usual e conhecida de transmissão
profética acontece quando o porta-voz divino leva diretamente a alguém a
mensagem. É algo muito comum nos profetas pré-clássicos, por exemplo, os
profetas e videntes Samuel (1 Sm 15.16,17), Natã (2 Sm 7.8-17; 12.7-10), Gade
(1 Sm 22.5), Hanani (2 Cr 16.7) e Elias (1 Rs 21.19-27). Essa forma de
comunicação ocorre também nos clássicos, mas a sua quantidade de ocorrências é
menor (Jr 38.17). A respeito do conteúdo dos oráculos divinos, sabemos que
podem ser de repreensão, advertência, conforto ou ensino. Quanto ao seu
cumprimento, pode ser imediato, no tocante a sua geração, num futuro distante
ou escatológico.
Figuras e símbolos proféticos. Outras formas de os arautos proclamarem a
mensagem profética são as figuras e símbolos. Tratam-se de ilustrações
pictóricas utilizadas pelo profeta, cujo objetivo é chamar a atenção do seu
interlocutor para a mensagem, assim como aconteceu com o profeta Aías, que
rasgou um manto em doze pedaços e ofereceu dez deles a Jeroboão I,
comunicando-lhe acerca da divisão do reino de Salomão (1 Rs 11.29-32). O
profeta Jeremias, orientado por Deus, enterrou próximo ao rio Eufrates um cinto
de linho (13.1-11). Semelhantemente, sua ida à casa do oleiro (18.2-6) e o uso
da canga de madeira sobre o seu pescoço (27.2; 28.12), são exemplos dessa forma
de comunicar a mensagem profética.
Casos reais que servem de representação para
comunicar a mensagem. Uma forma
rara de comunicação da mensagem divina é a que envolve casos reais, utilizados
para exemplificar a situação entre Deus e o povo. Chamada em hermenêutica de
“oráculo por ação”, essa forma pode ser exemplificada mediante a experiência do
casamento do profeta Oséias com a prostituta Gomer (Os 1.2,3).
A QUESTÃO EXTÁTICA DO PROFETA
Interpretação naturalista. Os intérpretes naturalistas consideram o
estado de êxtase como um dos aspectos mais característicos da atividade dos
profetas hebreus, mas negam a origem divina de seus oráculos. Eles afirmam que
o fenômeno do êxtase era apenas um estado emocional da pessoa. Tal linha de
pensamento pretende igualar os profetas de Deus aos adivinhos, falsos profetas
hebreus e aos profetas dos deuses das nações vizinhas de Israel. Por
conseguinte, é uma “explicação” que deve ser rejeitada pelos crentes em Cristo
Jesus.
Falácia dos naturalistas. A interpretação naturalista é antibíblica,
porque as Escrituras Sagradas declaram que a fonte dos oráculos proféticos é o
próprio Deus (Os 12.10; 2 Pe 1.21). Há na Bíblia inúmeras evidências
irrefutáveis e indestrutíveis que provam serem os profetas de Israel
embaixadores de Deus enviados ao povo (Ag 1.13). Um embaixador ou mensageiro
não fala em seu próprio nome e nem diz o que quer; ele transmite a mensagem em
nome de quem o enviou, por isso, é muito comum o profeta se expressar
empregando a primeira pessoa nos seus discursos, pois está falando em nome do
Senhor, as palavras que Ele mesmo mandou (Jr 1.9).
A base dos naturalistas e uma refutação. Alguns relatos bíblicos parecem mostrar alguém
profetizando em estado de êxtase como Balaão: “[...] caindo em êxtase e de
olhos abertos” (Nm 24.4,16). Entretanto, antes de mencionar um desses casos e
sua respectiva ressalva, é importante destacar que o termo “êxtase” sequer
aparece no Antigo Testamento com esse sentido. A ARC emprega o termo, em itálico,
para descrever o estado emocional de Balaão enquanto alçava a sua parábola (Nm
24.4,16). O emprego de palavras em itálico no texto bíblico traduzido indica
que não constam explicitamente do texto nas línguas originais. Além do mais,
Balaão pode ter sido inicialmente um profeta, mas depois se desviou. Em nenhum
lugar do Antigo Testamento, ele é chamado de profeta, antes é reconhecido como
“adivinho” (Js 13.22). Deus o usou assim como usou a sua jumenta; bem como usou
a Caifás (Jo 11.49-52). Quanto ao caso que alguns afirmam ter paralelo com o
“êxtase” de Balaão, trata-se de Saul: “[...] e ele também profetizou diante de
Samuel, e esteve nu por terra todo aquele dia e toda aquela noite” (1 Sm
19.24). Contudo, é bom lembrar que Saul, à época dessa experiência, estava
distanciado de Deus (1 Sm 16.14).
A Bíblia revela que é propósito de
Deus, desde Adão, comunicar-se com as suas criaturas racionais para comunhão,
direção, ensino, revelação, exortação e para que possamos entendê-lO. O Senhor
usou várias formas para se comunicar com os profetas, e esses, com o povo, de
modo que a mensagem se tornasse compreensível. Por isso, é de fundamental
importância que os seres humanos também se interessem pelo conhecimento da
vontade de Deus, lendo a sua Palavra e sendo instruídos pelos verdadeiros
servos do Senhor.
Funções da Profecia
Prenunciar. Os
profetas foram os primeiros de todos os prenunciadores e porta-vozes de Deus.
Abraão, quando recebeu e anunciou a aliança que Deus havia feito com ele a
respeito de sua semente, foi um profeta (Gn 12.1-3; 15.1; 22.15ss.). Moisés o
maior de todos os profetas deveria receber a Palavra diretamente de Deus e
transmiti-la a Arão, que era seu porta-voz (Êx 7.1,2). Como Moisés deveria ser
“o deus” do Faraó, o ministério de Arão demonstra perfeitamente o ministério do
porta-voz. Todos aqueles que agem na função de proclamar a Palavra de Deus são
seus porta-vozes. É nesse sentido que o crente do NT pode profetizar, quando
está diretamente habilitado pelo Espírito Santo. Profetizar. Embora
nem todos o fizessem, muitos profetas previam o futuro. Abraão, como o primeiro
homem a receber o nome de profeta, era ao mesmo tempo um prenunciador e um
pressagiador. Ele transmitiu a Isaque e seus descendentes a profecia sobre
Israel, que revelava a promessa da primeira vinda de Cristo como semente (cf.
Gl 3.8,16), e também a instalação de Reino.(Dicionário Bíblico Wycliffe. 1.ed.
RJ: CPAD, p.1599)
O papel da Predição no Ministério
dos Profetas
“[...] Há essencialmente dois
tipos de material nos profetas. Há a predição de visão próxima, de eventos a
acontecer dentro do tempo de vida do ouvinte; e predição de visão distante, de
eventos a acontecerem além do período de vida dos ouvintes. Predições de visões
próximas, como Miqueias, serviram frequentemente como prova de que a
reivindicação da pessoa de falar por Deus era verdadeira. Elas legitimavam o porta-voz
como mensageiro de Deus. Predições para posteridade tinham um propósito
diferente no ministério do profeta aos seus contemporâneos, embora hoje
possamos prosseguir o cumprimento literal de muitas predições que ficaram para
o futuro quando foram proferidas. Predições de visões distantes, que descrevem
eventos por acontecer além do período de vida, transmitem a filosofia da
história da Escritura. Elas descrevem o triunfo final de Deus sobre o mal e o
estabelecimento da justiça na Terra. Elas retratam uma reunião de Israel e a
conversão nacional: um tempo de incomparáveis bênçãos quando todas as promessas
da aliança feitas a Abraão e Davi, e a Nova Aliança, em Jeremias, serão
mantidas. As passagens sublinhadas dessas predições é que Deus é responsável pela
história e que ela se desenvolve inexoravelmente em direção ao Seu intencionado
fim. Essa é uma mensagem de esperança e confiança. Deus conhece o fim desde o
princípio. Nada que acontece na história pode alterar o plano de Deus ou
enfraquecer Seu compromisso com Seu povo escolhido” (RICHARDS, L. O. Guia
do Leitor da Bíblia. 1.ed. RJ: CPAD, 2005,
p.407).
As
funções sociais e políticas da profecia
Palavra
Chave
Política: Conjunto dos fenômenos e das
práticas relativos ao Estado ou a uma sociedade.
A Bíblia
mostra clara e constantemente o interesse divino pelo bem-estar social dos
seres humanos. A justiça social está presente na Lei e nos Profetas, abrangendo
o aspecto político e religioso. Os profetas de Israel combatiam a injustiça
social com o mesmo ímpeto com que atacavam a idolatria. Ainda que muitos deles
não foram ouvidos em sua geração, contudo, preconizaram um modelo ético de alto
nível para a sociedade de Israel e para todos os povos.
. O PAPEL
POLÍTICO E SOCIAL DA PROFECIA NAS ESCRITURAS
O profeta e o povo. Antes da instauração da monarquia em Israel,
os profetas eram vistos como figuras centrais pela sociedade, pois eram os
únicos canais humanos e legítimos de comunicação entre Deus e o povo. Os
arautos de Deus eram líderes não apenas religiosos, mas também políticos, cujas
atividades proféticas cumpriam importantes funções de ordem política e social.
Isso pode ser percebido claramente em Moisés (Dt 34.10-12) e Samuel que,
inclusive, iniciou o seu ministério num período em que a profecia era escassa
(1 Sm 3.1,20,21; 7.15-17).
O profeta e o rei. A partir do reinado de Davi, os profetas
passaram a fazer parte do grupo de conselheiros do rei. Natã e Gade são
exemplos desse período (2 Sm 7.17; 24.18,19). Suas profecias tinham não somente
uma função política, mas também eram importantes para a manutenção da ordem
social.
O profeta marginalizado. No período dos reis de Israel e Judá, os
profetas de Deus ficaram fora dos círculos reais, com exceção de Isaías (39.3).
O ministério do profeta messiânico se estendeu até os dias do rei Manassés que,
segundo a tradição rabínica, mandou serrar Isaías ao meio (Hb 11.37). Com a
decadência espiritual dos monarcas de Israel, os profetas desenvolveram seu
ministério distante do culto central. Dessa forma, se empenharam em mudar a
estrutura social tanto em Samaria como em Jerusalém, diante de tanta corrupção
e injustiça generalizada.
. O PROFETA
É ENVIADO AO REI
O princípio do fim do reino de Judá. Como vimos na leitura bíblica, embora tenha
jurado lealdade e obediência aos babilônios (2 Cr 36.11-14) e, por isso,
reinado onze anos em Jerusalém, o rei Joaquim (que teve o seu nome mudado pelo
rei da Babilônia, o qual passou a chamá-lo de Zedequias) rebelou-se contra o
rei dos caldeus no oitavo ano de seu reinado (2 Rs 24.8-17). Mesmo já estando
Judá sob o domínio babilônio, tal postura ocasionou a destituição do rei
Joaquim por Nabucodonosor em 598 a.C, que mandou levá-lo para a capital do
Império e colocou seu tio, Matanias, em seu lugar.
Profecia dirigida ao rei (v.2). O exército dos caldeus, liderando as demais
tropas dos povos conquistados, estava à volta de Jerusalém esperando o assédio
final. Jeremias já vinha anunciando durante décadas o trágico fim do reinado de
Judá (1.15; 5.15; 6.22; 10.22; 25.9). Mesmo assim, em seus oráculos havia
esperança de livramento da parte de Deus se o povo se arrependesse de seus
pecados e renunciasse às injustiças sociais (7.5-7; 22.3,4). O rei juntamente
com os seus príncipes e a maior parte do povo rejeitaram a mensagem de Jeremias
e a dos demais profetas (2 Cr 36.12,15,16). Agora, cerca de 40 anos depois de
proferir esse discurso, Deus encarrega o próprio Jeremias de comunicar ao rei
que a destruição de Jerusalém é irrevogável: “Eis que eu entrego esta cidade nas
mãos do rei da Babilônia, o qual a queimará” (v.2).
O destino do rei Zedequias é anunciado (v.3). Se quisesse ter paz, o povo deveria se
submeter ao rei da Babilônia, pois Jeremias afirmava em sua mensagem que o
cativeiro haveria de durar 70 anos (25.11-14; 29.4-10). Além disso, segundo a
profecia divina proferida por Jeremias contra o rei Zedequias: este seria
entregue nas mãos do rei de Babilônia (v.3).
Infelizmente,
os contemporâneos deste profeta acreditavam mais na mensagem de um falso
profeta chamado Hananias, que incitava o povo a se levantar contra o rei de
Babilônia, dizendo — mentirosamente — que em dois anos seria quebrado o jugo
dos caldeus (28.11). Por isso, esse profeta era visto com desconfiança, como um
espião em favor dos inimigos, e tido corno traidor (37.13).
A QUESTÃO DE ORDEM SOCIAL
A liberdade dos escravos hebreus (vv.8-10). A legislação hebraica sobre o escravo hebreu
era diferente da do escravo estrangeiro. Por razões de falência econômica, o
israelita se vendia como escravo ao seu irmão, porém, Moisés limitou a
escravidão de hebreus ao período máximo de seis anos, quando este devia ser
liberto (Êx 21.2; Dt 15.1-18). Esse preceito, porém, não era observado (v.14).
Quando Jerusalém estava sitiada pelos caldeus, Zedequias resolveu libertar os
escravos, esperando com isso o livramento divino. Era, infelizmente, tarde
demais e, acima de tudo, tratava-se de uma reação artificial e interesseira.
A alforria dos escravos é cancelada (v.11). O profeta Jeremias anunciou que o rei do Egito
retornaria a sua terra e o cerco da Cidade Santa pelos caldeus recomeçaria (Jr
37.5-8 — Convém salientar que os capítulos do livro de Jeremias não estão em
ordem cronológica). Entretanto, os fatos de Faraó ter vindo em socorro de seu
aliado Judá, o cerco de Jerusalém ter sido suspenso e os caldeus se retirado,
fizeram com que o rei Zedequias e os seus príncipes não acreditassem no profeta
de Deus. Assim, pensando estarem salvos do perigo, revogaram a lei da
libertação dos escravos (v.11).
O pecado
maior deles consistiu em desfazer um concerto religioso feito em nome de Deus e
no Templo: “[...] e tínheis feito diante de mim um concerto, na casa que se
chama pelo meu nome” (v.15). A cerimônia de libertação dos escravos foi um
pacto feito no Templo, quando eles sacrificaram um bezerro, dividindo-o ao
meio, passando em seguida entre as metades (v.18). Esse, aliás, era um método
dos povos antigos de ratificar um tratado (Gn 15.10,17). Esse ritual significa
que a parte que violar o pacto terá o mesmo destino do animal sacrificado.
Assim, este era um ato ignominioso de traição e de deslealdade, acrescido do
perjúrio (Êx 34.18,20).
A indignação divina (vv.16,17). Em vez dos babilônios, foi o próprio Deus quem
liberou a espada para a destruição de Judá. A reação divina contra a atitude
indigna e vergonhosa de Zedequias, de seus príncipes e dos grandes de Judá,
tinha a sua razão de ser. A parte final do capítulo 34 descreve o duro juízo do
Senhor sobre o povo escolhido.
A palavra
dos profetas não foi vã, eles lutaram por uma causa nobre, ainda que, como foi
dito, não foram ouvidos em sua geração. Não obstante, seus ideais atravessaram
os séculos e até hoje impressionam políticos, filósofos, economistas,
intelectuais, religiosos etc. Em frente ao edifício das Nações Unidas, em Nova
Iorque, encontra-se um monumento chamado “Parede de Isaías”, no Parque
Ralph Bunche, onde está escrita a seguinte profecia: “[...] uma nação não
levantará a espada contra outra nação, nem aprenderão mais a guerra” (Is 2.4 —
ARA). Há somente um que tem poder para transformar essa expectativa profética
em realidade, Ele se chama Senhor Jesus Cristo, o Príncipe da Paz (Is 9.6).
Zedequias
Era um
governador fraco e inseguro. Em uma audiência com Jeremias, confessou seus
temores e apelou ao profeta que não comentasse o assunto com quem quer que
fosse (38.14-28). Todavia, aparentemente, ele tomou a iniciativa de persuadir o
povo a que concordasse com a libertação dos escravos hebreus, após o período
legal de sete anos. Deus o recompensara por este ato de piedade,
independentemente de sua motivação.
Escravidão
Em Israel,
esta instituição era diferente da praticada em outras sociedades do mundo
antigo. Um jovem hebreu podia ser comprado, mas somente seria mantido como
escravo por um período de sete anos. Ao final deste tempo, seu senhor deveria
libertá-lo, suprindo-o generosamente com recursos suficientes para iniciar uma
nova vida. Em suma: na lei mosaica, a escravidão era mecanismo social destinado
a proteger o pobre, habilitando-o a alcançar a condição de auto-sustento. Em
Judá, entretanto, a escravidão fora corrompida, pois as pessoas ricas
escravizaram para sempre seus patriotas judeus. A intenção inicial de uma
provisão caridosa ao pobre se desvirtuara ao se transformar numa instituição opressora.(RICHARDS,
L. O. Guia
do Leitor da Bíblia. 1.ed. RJ: CPAD, 2005,
p.469)
“O nosso
próximo é uma pessoa, um ser humano, criado por Deus. E Deus não o criou como
uma alma sem corpo (para que pudéssemos amar somente sua alma), nem como um
corpo sem alma (para que pudéssemos preocupar-nos exclusivamente com seu
bem-estar físico), nem tampouco um corpo-alma em isolamento (para que
pudéssemos preocupar-nos com ele somente como um indivíduo, sem nos preocupar
com a sociedade em que ele vive). Não! Deus fez o homem um ser espiritual,
físico e social. Como ser humano, o nosso próximo pode ser definido como ‘um
corpo-alma em sociedade’. Portanto, a obrigação de amar o nosso próximo nunca
pode ser reduzida para somente uma parte dele. Se amamos nosso próximo como
Deus o criou (o que é mandamento para nós), então, inevitavelmente, estaremos
preocupados com o seu bem-estar total, o bem-estar do seu corpo, da sua alma e
da sua sociedade. [...] É verdade que o Senhor Jesus ressurreto deixou a Grande
Comissão para a sua Igreja: pregar, evangelizar e fazer discípulo. E esta
comissão é ainda a obrigação da Igreja. Mas a comissão não invalida o
mandamento, como se ‘amarás o teu próximo’ tivesse sido substituído por
‘pregarás o Evangelho’. Nem tampouco reinterpreta o amor ao próximo em termos
exclusivamente evangelísticos. Ao contrário, enriquece o mandamento amar o
nosso próximo, ao adicionar uma dimensão nova e cristã, nomeadamente a
responsabilidade de fazer Cristo conhecido para esse nosso próximo” (STOTT, J.
R. W. Cristianismo
Equilibrado. RJ: CPAD, pp.60-1).
Profecia
e Misticismo
Palavra
Chave
Misticismo: [Do lat. mystica,
espiritual] É uma atitude mental de busca da união intima e direta do homem com
a divindade, baseada mais na intuição e no sentimento do que no conhecimento
racional.
Devido à popularidade que os meios
de comunicação dão às questões espirituais, algumas expressões que antes eram
restritas a grupos específicos, acabaram tornando-se comuns. Um bom exemplo são
os termos “profecia” e “misticismo”. Mas o que de fato significam? Profecia é a
mensagem ou palavra do profeta. Já o misticismo, no sentido em que vamos
enfocar, é a tendência para a união espiritual íntima com seres espirituais
tenebrosos (Ef 6.12). Nessa lição, trataremos das manifestações ocultistas e
esotéricas dos místicos no Antigo Testamento, os quais tentaram imitar a
autêntica experiência dos verdadeiros profetas de Israel. O mesmo acontece hoje
em relação à mensagem do evangelho de Jesus Cristo. Há pessoas que desejam
imitá-lo, sem necessariamente ter conhecimento e compromisso algum com a fé
cristã.
AVALIAÇÃO DA PROFECIA
Os embusteiros (13.1). Quando o texto de Deuteronômio 13.1 fala sobre
“profeta” ou “sonhador”, na realidade está referindo-se a alguém que se
apresenta como tal, e é possível que ele realize perante o povo “um sinal ou
prodígio”. Contudo, tal milagre em si não é garantia de que o seu ministério
seja de origem divina. O reformador alemão, Martinho Lutero, dizia com razão
que o Diabo é o maior imitador de Deus. Jesus afirmou que tais impostores
“farão tão grandes sinais e prodígios que, se possível fora, enganariam até os
escolhidos” (Mt 24.24). E o apóstolo Paulo nos adverte dizendo que até “Satanás
se transfigura em anjo de luz” (2 Co 11.14). Assim, à luz do texto sagrado, é
possível alguém manifestar tais sinais e maravilhas sem necessariamente ser um
servo de Deus.
Como identificar a fonte do milagre? (13.2). A primeira e mais segura regra de autenticação
dos prodígios realizados por alguém é a sua coerência bíblica. É impossível
alguém operar milagres da parte do Senhor e, ao mesmo tempo, adotar uma
teologia contrária à Bíblia, ou seja, quem ensina ao povo a seguir a um deus
estranho está incitando a rebelião contra Deus (Dt 13.5). Jesus disse: “[...]
por seus frutos os conhecereis” (Mt 7.16). O termo “frutos” não diz respeito
apenas ao testemunho pessoal, pois há ateus e praticantes de doutrinas
ocultistas que têm um excelente testemunho junto à família e diante da
sociedade. Ao falar dos “frutos”, o Senhor Jesus Cristo referiu-se mais ao
conteúdo teológico do pregador milagreiro e enganador.
Deus usa o falso profeta para provar os seus
servos (13.3). Como já foi
dito, uma das formas mais simples de avaliação de um falso profeta é o conteúdo
de sua mensagem. Se a cosmovisão religiosa e filosófica do profeta, ou
sonhador, acerca de Deus, do ser humano e do mundo afasta-se das Escrituras,
contrariando a doutrina bíblica, ainda que ele faça descer fogo do céu à nossa
vista e impressione o povo, devemos continuar firmes em nosso lugar, pois tais
manifestações são de fonte estranha. Conforme vimos na leitura bíblica, Deus
permite que essas coisas aconteçam para nos provar (13.3). Isso é ainda mais
válido para os dias atuais com tantos inovadores milagreiros, falsos cristos e
pregadores de “outro Jesus, outro espírito e outro evangelho” (2 Co 11.4).
PRÁTICAS DIVINATÓRIAS
As abomináveis práticas divinatórias (18.9). Moisés enumerou algumas práticas divinatórias
comuns entre os cananeus (Dt 18.14), e o profeta Isaías preveniu o povo sobre
algo semelhante observado pelos egípcios (Is 19.3); todas essas coisas Israel
devia rejeitar. Isso vale também para os cristãos, pois tais práticas existem
ainda hoje na sociedade. Elas abrangem direta ou indiretamente: magia,
astrologia, alquimia, clarividência, tarô, búzios, quiromancia, necromancia,
numerologia, levitação, transe etc. São práticas repulsivas aos olhos de Deus
porque representam uma forma infame de idolatria e demonismo.
Adivinhador, prognosticados
agoureiro, feiticeiro, encantador, necromante e mágico (18.10,11). O “adivinhador” ou “adivinho” é quem pratica a
adivinhação. Como parte da magia, essa prática é uma antiga arte de predizer o
futuro por meios diversificados: intuição, explicação de sonhos, cartas, leitura
de mão etc. O termo “prognosticador” é uma das possíveis traduções do hebraico onen, e
literalmente significa “fazer agouros pela nuvem”. É aquele que pratica mágica,
vaticínio, presságio, prognóstico e tenta prever o futuro por meio de
sortilégios.
O agoureiro é o que pratica
agouros, uma forma de magia especializada em tentar predizer males e desgraças
(2 Rs 17.17). A palavra hebraica empregada para “feiticeiro” é usada também
para “bruxo”; os tais faziam parte do grupo de conselheiros de Faraó, com os
seus sábios e magos (Êx 7.11). O termo hebraico traduzido em nossas versões por
“encantador de encantamentos” denota “amarrar” alguém por meio de mágica. É o
praticante de macumba, de despacho etc. A palavra hebraica usada para “espírito
adivinhante” ou “necromante”, na ARA, tem sentido abrangente: médium, espírito,
espírito de mortos, necromante e também mágico (Lv 19.31; 20.6; Is 8.19; 29.4).
3. Bruxo e bruxaria. Bruxo é o praticante da magia negra que visa
fazer o mal (qualquer forma de adivinhação em si mesma já é um mal). A bruxaria
chegou ao seu apogeu na Idade Média. Hoje, as bruxas são apresentadas, pela
mídia, como heroínas belas para as crianças e adolescentes. Tenha cuidado!
A NECESSIDADE DA PROFECIA BÍBLICA
A voz de Deus na terra. A profecia bíblica é a voz de Deus na terra
para nortear homens e mulheres no caminho seguro para o céu; é também chamada
de a “profecia da Escritura” (2 Pe 1.20). Mesmo com a queda do homem no Éden, o
Senhor nunca deixou de se comunicar com as suas criaturas racionais. Através
dos patriarcas, reis, sacerdotes e profetas, Ele revelou a si mesmo e se propôs
a habitar no meio do seu povo (Êx 25.8; 29.45,46). Na atualidade, a voz do
Senhor pode ser ouvida através da Palavra de Deus, que é pregada ao mundo inteiro
por meio da “igreja do Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade” (1 Tm 3.15).
Revelação dos arcanos divinos. Ao falar sobre o fato de Jesus ser o
cumprimento da mensagem dos profetas, o apóstolo Pedro disse que “agora”, ou
seja, para nós que estamos presenciando a materialização dos vaticínios e
arcanos divinos, precisamos atentar ainda mais para a importância de tais
mensagens, pois cumprem o propósito de servirem como um norte, “até que o dia
esclareça, e a estrela da alva apareça em vosso coração” (2 Pe 1.19).
O contraste entre a verdadeira
profecia e as práticas pagãs. A Leitura
Bíblica em Classe e as demais referências citadas nesta lição revelam a
gravidade das práticas ocultistas e esotéricas, as quais tentam imitar a
profecia bíblica. Elas são demoníacas, portanto, condenadas pela Palavra de
Deus. O objetivo dos adivinhadores, magos, prognosticadores, agoureiros,
necromantes, etc, é o mesmo dos tempos bíblicos: fazer frente à vontade de Deus
e ao evangelho de Jesus Cristo, levando o povo ao desvio do único caminho
certo, à semelhança de Janes e Jambres que “resistiram a Moisés, assim também
estes resistem à verdade” (2 Tm 3.8).
Cada crente em Jesus deve ser
sóbrio e vigilante diante da atual avalanche de crenças e práticas disseminadas
no mundo atual. Tal popularidade ocorre principalmente por causa dos meios de
comunicação (livros, revistas, internet, televisão, esta última principalmente
através de novelas, programas de auditórios, filmes e seriados), os quais fazem
a sociedade encarar tudo como se tais práticas fossem naturais, comuns e
inofensivas. Os formadores de opinião apresentam tais coisas como modismos, mas
aos olhos de Deus são uma abominação (Dt 18.9-12; Ap 9.21; 21.8). Nós temos a
Bíblia, o Senhor Jesus Cristo e o Espírito Santo, portanto, deixemo-nos ser
guiados e ensinados pelo Consolador (Jo 14.26).
Método do paganismo e os
verdadeiros profetas
“Antes de discutir a lei sobre
profetas, Deuteronômio lista diversas técnicas utilizadas pelo paganismo para
obter oráculos divinos (Dt 18.9-14). Tais métodos não serviriam para Israel
ouvir a voz do Senhor. O que esses itens proibidos têm em comum é que todos
caem na categoria da sabedoria e da ingenuidade humanas. Yehezkel Kaufmann, com
muita propriedade, chama a adivinhação de ciência de segredos cósmicos e o
adivinho de cientista que pode dispensar a revelação divina. O Senhor, em
contrapartida, levantaria como seu veículo de revelação um profeta. Tal qual o
rei, ele devia ser oriundo da comunidade israelita (18.15; 17.15). Ele só era capaz
de falar porque Deus punha a palavra em sua boca (17.19). O fato de Deus,
[...], colocar suas palavras na boca de seus profetas explica o porquê de
muitos deles iniciarem seus pronunciamentos com: ‘A palavra do Senhor veio a
mim’ ou ‘Assim diz o Senhor’. Por outro lado, é raro qualquer outra pessoa nas
Escrituras, Antigo ou Novo Testamentos, prefaciar e validar seus comentários
com esta fórmula. Uma coisa é afirmar que as Escrituras foram inspiradas; outra
coisa é entender como Deus a inspirou. Já com os profetas, não restam dúvidas:
Deus os inspirou ao lhes ditar suas palavras, colocando sua palavra em suas
bocas, de forma que as palavras do profeta eram proferidas por Deus”.
(HAMILTON, V. P. Manual do
Pentateuco. RJ:
2.ed. CPAD, 2006, pp.481-2)
Como Identificar a falsa profecia?
DEUTERONÔMIO 18.10-22 - Como é que
os falsos profetas podem ser distinguidos dos verdadeiros?
A MÁ INTERPRETAÇÃO: A Bíblia contém muitas profecias que nos foram
dadas para que nelas creiamos, porque vieram de Deus. Contudo, a Bíblia também
mostra a existência de falsos profetas (Mt 7.15). Na verdade, muitas religiões
e seitas — incluindo as Testemunhas de Jeová e os Mórmons, alegam ter profetas.
Daí, a Bíblia exortar os crentes a “provar” aqueles que se dizem profetas (1 Jo
4.1a). Qual é a diferença entre um falso profeta e um verdadeiro profeta de
Deus de acordo com Deuteronômio 18.10-22?
CORRIGINDO A MÁ INTERPRETAÇÃO: Existem muitos testes para provar um falso
profeta. Vários deles estão listados na passagem bíblica em questão.
Colocando-os em forma de perguntas, os testes são:
1. Eles sempre entregam falsas profecias? Cem por
cento de suas predições em relação ao futuro se cumprem? (Dt 18.21,22)
2. Contatam espíritos de mortos? (Dt 18.11)
3. Utilizam meios de adivinhação? (Dt 18.11)
4. Envolvem médiuns ou feiticeiras? (Êx 20.3,4)
5. Seguem a falsos deuses ou ídolos? (Êx 20.3,4;
Dt 13.1-3)
6. Negam a divindade de Jesus Cristo? (Cl 2.8,9)
7. Negam a humanidade de Jesus Cristo? (1 Jo
4.1,2)
8. As suas profecias desviam a atenção da pessoa
de Jesus Cristo? (Ap 19.10)
9. Defendem a abstenção de certos alimentos e
carnes por razões espirituais? (1 Tm 4.3,4)
10. Criticam ou negam a necessidade do casamento?
(1 Tm 4.3)
11. Promovem a imoralidade? (Jd vv.4,7)
12. Encorajam a renúncia pessoal legalista? (Cl
2.16-23)
Uma resposta positiva a qualquer
das questões acima é uma indicação de que o profeta não está falando por parte
de Deus. Deus não fala e não encoraja qualquer coisa que seja contrária ao seu
próprio caráter e mandamentos conforme registrados nas Escrituras. E com
absoluta certeza, o Deus da verdade não dá falsas profecias (Dt 18.21-23)
(GEISLER, N. L.; RHODES, R.Respostas às Seitas. RJ:
1.ed. CPAD, 2000, pp.65-6).
A
autenticidade da profecia
Palavra
Chave]Autenticidade: Relativo a autêntico. De origem ou
qualidade comprovada; genuíno, legítimo, verdadeiro.
O cumprimento das inúmeras
profecias bíblicas a respeito dos reis Nabucodonosor, Ciro e Alexandre — o
Grande, das nações do Egito, Assíria e Babilônia, das cidades de Tiro e Sidom e
especificamente acerca de Israel e Jerusalém, constitui-se uma prova
incontestável da origem, inspiração e autenticidade divinas dos oráculos dos
antigos profetas hebreus. Isso sem falar no tema principal das profecias
veterotestamentárias — o Senhor Jesus Cristo, em seus dois adventos — do qual
uma grande parte teve cumprimento na vida, obra e ministério terreno do Filho
de Deus. Devido à relevância de tal assunto, nessa lição nos deteremos a
analisar as profecias messiânicas registradas em Isaías 53.
O DESPREZO DO SENHOR
A apresentação do Senhor. Na realidade, a conhecidíssima profecia de
Isaías 53, inicia-se no capítulo anterior, em que o profeta apresenta o Servo
do Senhor da seguinte forma: “Eis que o meu servo operará com prudência”
(52.13). O Novo Testamento confirma terminantemente que o mais messiânico dos
profetas está, incontestavelmente, falando do Senhor Jesus Cristo. Trata-se,
portanto, de uma genuína e autêntica mensagem profética da parte do Senhor Deus
(At 8.28-35).
A mensagem do Senhor. Uma das singularidades do ministério de Nosso
Senhor Jesus Cristo foi exatamente o teor de sua mensagem (Jo 7.46). Não
obstante, o capítulo 53 inicia já com a pergunta: “Quem deu crédito à nossa
pregação?” (v.l), demonstrando que a predicado Messias seria rejeitada. É
contraditório entender o fato de que apesar dos milagres extraordinários
operados pelo Filho de Deus e de sua pregação repleta de autoridade e poder,
muitos não criam nEle (Jo 12.37,38; Rm 10.16). Até mesmo os de sua casa não
compreenderam o seu ministério (Mc 3.21; Jo 7.5).
A aparência e a rejeição do Senhor. Não há como saber os traços físicos de Jesus,
mas é bem possível que a sua aparência física contrarie a de todos os filmes já
produzidos, pois a palavra profética declara que “nenhuma beleza víamos, para
que o desejássemos” (v.2b). A rejeição do Senhor foi tão grande que se iniciou
ainda em seu nascimento! Não havia espaço adequado para o nascimento do Filho
de Deus em Belém e, por isso, sua mãe deu-o à luz em uma manjedoura (Lc 2.7).
Em Isaías 53, duas vezes o versículo três afirma que Ele era “desprezado” e
termina dizendo: “não fizemos dele caso algum”. Tal descortesia cumpre-se de
forma notória nos Evangelhos (Jo 1.10,11).
A PAIXÃO E A MORTE DE NOSSO SENHOR JESUS
CRISTO
O sofrimento sem igual de Jesus. Apesar de todo o desprezo sofrido por Nosso
Senhor Jesus Cristo ao longo de sua vida terrena, os seus últimos dias,
iniciados no Getsêmani, onde a sua agonia foi de tal intensidade que o fez suar
gotas de sangue (Lc 22.44), foram de um sofrimento indescritível. E o que Ele
padeceu a partir de sua prisão? É exatamente assim que o profeta Isaías
descreve o Senhor: Ele era um “homem de dores” (v.3) e que “foi oprimido”
(v.7). Isaías apresenta-o também como um homem impecável e perfeito em tudo,
“porquanto nunca fez injustiça, nem houve engano na sua boca” (v.9). O apóstolo
Pedro, que conviveu com Jesus cerca de três anos, confirma essa profecia (1 Pe
2.22). Sim, Jesus foi “cortado da terra dos viventes” (v.8) como um criminoso e
malfeitor.
O silêncio de Jesus. O profeta compara o Filho de Deus em seu
julgamento e morte ao cordeiro levado ao matadouro e à ovelha muda diante de
seus tosquiadores: Ele “não abriu a sua boca” (v.7). Assim agiu o Senhor diante
do sumo sacerdote no Sinédrio (Mt 26.63) e perante Pôncio Pilatos (Mt
27.12,14). O profeta, pelo Espírito, certamente via as cenas desses
interrogatórios. Portanto, o fato de Jesus não ter cometido nenhum delito e de
as acusações sobre Ele não terem sido provadas demonstram a total
arbitrariedade do julgamento do Mestre, realçando o fracasso da justiça humana.
A crucificação e a sepultura de
Jesus (v.9). Isaías
anuncia de antemão que o Senhor Jesus Cristo “foi contado com os
transgressores”, e reafirma a verdade de que Ele carregou nossos pecados. Os
Evangelhos relatam que Jesus foi crucificado entre dois salteadores (Mt 27.38;
Mc 15.27,28), mostrando, assim, a autenticidade da profecia bíblica. Note que
as palavras de Cristo no alto da cruz: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o
que fazem” (Lc 23.34), foram também preditas por Isaías, quando o profeta diz
que o Messias “pelos transgressores intercedeu” (v.12).
A análise profética fica mais
interessante e rica, quando Isaías prediz que a “sepultura” de Jesus foi colocada
entre a dos “ímpios” (v.9). Isso significa que os opositores de Jesus queriam
dar-lhe um sepultamento vergonhoso e vil como o de um criminoso. Tal coisa era
considerada opróbrio em Israel (Is 14.19). Porém, o plano deles falhou, pois o
profeta diz que o Mestre Jesus foi contado “com o rico, na sua morte” (v.9). Ou
seja: o Filho de Deus foi enterrado honrada e dignamente. Os Evangelhos,
confirmando Isaías, revelam que um homem rico, chamado José, da cidade de
Arimatéia, cedeu um túmulo novo, cinzelado na rocha, para que neste fosse posto
o corpo do Mestre (Mt 27.57,58,60).
LIÇÕES DOUTRINÁRIAS DO SACRIFÍCIO DE CRISTO
As nossas dores e as nossas enfermidades. O profeta, além de preanunciar detalhes da
vida e do sofrimento do Messias, também destacou grandes doutrinas oriundas da
morte expiatória de Cristo. Um dos maiores ensinamentos é a vicariedade de seu
sacrifício. Isto é, Ele padeceu em nosso lugar, tomando sobre si “as nossas
enfermidades e as nossas dores” (v.4). A expiação que o Filho de Deus nos
propicia abrange, além da cura física, a espiritual (v.5), conforme atestamos
pela leitura do Novo Testamento (Mt 8.17; 1 Pe 2.24).
Os nossos pecados. Jesus sofreu não por ter cometido pecado, mas
porque agradou a Deus “moê-lo, fazendo-o enfermar”, colocando a sua “alma [...]
por expiação do pecado” (v.10). Essa foi a vontade de Deus: que o justo
sofresse pelo pecador (vv.10,11b). O profeta mostra tratar-se, como já foi
dito, de uma morte vicária (Rm 3.25; 5.18,19; 2 Co 5.21).
A humildade e o amor de Jesus
Cristo. É digno de
destaque o fato de o Senhor Jesus Cristo ter se despido de toda a sua glória
para tornar-se como um de nós (Fp 2.3-11). Tal humildade e amor benevolente
servem-nos de exemplo para que possamos agir da mesma forma em relação aos nossos
semelhantes (Jo 3.16; 1 Jo 3.16).
Há abundantes evidências em o Novo
Testamento sobre o fiel cumprimento de Isaías 53. A Teologia
Sistemática (CPAD)
de Stanley Horton, na página 91, informa que o professor americano Peter W.
Stoner examinou oito profecias sobre Jesus, no Antigo Testamento, e concluiu
que na vida de uma pessoa, a probabilidade dos oito casos serem coincidências é
de 1 em 1017, ou seja, 1 em cem quatrilhões (100.000.000.000.000.000).
A única explicação racional para o
fiel cumprimento das profecias da Bíblia é que Deus tudo revelou aos seus
profetas. Não se trata, portanto, de manipulações humanas. As profecias
messiânicas já cumpridas mostram-nos a autenticidade da Bíblia e advertem-nos
de que as profecias escatológicas também se cumprirão.
“A história do mundo segundo o
sonho do rei Nabucodonosor
A primeira profecia de Daniel foi
acerca do rei Nabudonosor. Tratava dos detalhes de um sonho que o rei tivera e
de sua interpretação. Daniel disse: ‘[...] darei ao rei a interpretação’ (2.24),
e então interpretou a visão do poderoso monarca sobre uma ‘extraordinária’
(2.31) estátua com a cabeça de ouro, peito e braços de prata, ventre e quadris
de bronze e pernas de ferro (2.32,33). Era um sonho sobre os futuros poderes do
mundo. A cabeça de ouro era a Babilônia; o peito e os braços representavam os
Medos e os Persas. Os quadris de bronze representavam a Grécia, e as pernas e
os pés simbolizavam o Império Romano, em seu auge e declínio. Por fim, surge
uma ‘pedra’. A pedra representava o Messias de Israel, que feriria ‘a estátua
nos pés de ferro e de barro’, esmiuçando-os (2.34). Deus então estabeleceria
seu reino, ‘que não será jamais destruído’, referindo-se ao futuro reino
messiânico de Cristo (2.44). Esta profecia transpôs o âmbito histórico e
mostrou que certas características em cada uma dessas nações levariam ao reino
milenial. ‘Na eternidade, os aspectos temporais irão fundir-se com a criação de
um novo céu e uma nova terra’ (Unger, Commentary, p.
1619). Com o sonho de Nabucodonosor, Deus revelou o propósito de toda a
história através de Daniel. Nenhum outro profeta recebeu uma revelação tão
completa e precisa”.(LAHAYE, T.; HINDSON, E. Enciclopédia
Popular de Profecia Bíblica. RJ: 1.ed. CPAD, 2008,
pp.175,176)
Profetas
Maiores e Menores
Palavra
Chave
Literatura: Conjunto de
trabalhos literários de um país ou época.
Todos os profetas, tanto os
pré-clássicos como os clássicos, têm a mesma autoridade divina e igualmente
falaram em nome do Senhor. Os chamados clássicos são os profetas literários,
divididos em dois grupos: Maiores e Menores. A lição de hoje apresenta um breve
estudo do texto da Leitura Bíblica em Classe e, em seguida, uma explanação
acerca de dois grupos dos livros proféticos em consideração.
OSÉIAS — O PROFETA MENOR
Oséias em o Novo Testamento. É sabido que a “Bíblia” dos tempos do Novo
Testamento consistia exatamente no que hoje conhecemos como o Antigo
Testamento. Por isso, o apóstolo Paulo fundamentava sua pregação e seu ensino
na Lei e nos Profetas e dizia que não pregava outra coisa senão o que “os
profetas e Moisés disseram que devia acontecer” (At 26.22). No texto de Romanos
9, por exemplo, o apóstolo dos gentios cita o nome de Oséias (v.25a) e faz
referência ao texto do profeta (Os 2.23).
Note na Leitura Bíblica em Classe
que, em seguida, o apóstolo Paulo cita outro profeta, Isaías. Algo que chama a
atenção é o fato de o apóstolo citar os dois profetas exatamente na ordem em
que se encontram em nossa Bíblia: Oséias, o primeiro dos Profetas Menores e
Isaías, dos Maiores.
A vocação dos gentios prevista em
Oséias. A história
deste profeta, como já foi dito na segunda lição, é um dos casos raros em que a
condição pessoal do profeta serviu para retratar a mensagem divina; é o que
chamamos de “oráculo por ação”. Sua história dramática é conhecida por todos os
que lêem a Palavra de Deus. Até mesmo os nomes de seus filhos descreviam a
situação do relacionamento entre o Senhor e Israel. Lo-Ami, terceiro filho de
Gomer, mulher do profeta Oséias, era ilegítimo, pois ela havia adulterado (Os
1.8,9). Esse nome significa “não-povo-meu”, isto é, “não és meu filho”.
Assim como o adultério rompe os
laços matrimoniais, Israel, por causa de sua infidelidade a Deus, havia
quebrado o concerto divino firmado no Sinai. Entretanto, a profecia contempla
um fim glorioso para Israel: “[...] a Lo-Ami direi: Tu és meu povo!” (Os 2.23).
É exatamente essa a mensagem que o apóstolo aplica aos gentios que se convertem
mediante o evangelho de Cristo: “Chamarei meu povo ao que não era meu povo” (Rm
9.25).
A interpretação apostólica. Assim como os hebreus desviados dos dias de
Oséias ofereciam sacrifícios aos deuses falsos, os gentios adoravam aos ídolos.
Tais cultos eram, na verdade, oferecidos aos demônios (1 Co 10.20). Entretanto,
Deus mudaria a sorte de “Lo-Ami” (nesse caso, a utilização de seu nome consiste
em uma sinédoque representando Israel), pois “no lugar onde se lhes dizia: Vós
não sois meu povo, se lhes dirá: Vós sois filhos do Deus vivo” (Os 1.10). Da
mesma forma, Paulo interpretou o texto de Oséias, declarando que o Senhor Deus
igualmente mudou a condição dos gentios que se converteram à fé cristã: “Vós
não sois meu povo, aí serão chamados filhos do Deus vivo” (v.26).
ISAÍAS — O PROFETA MAIOR
Explanação apostólica (v.27). O apóstolo Paulo aplica a profecia de Isaías
acerca do remanescente fiel aos judeus de sua geração, porque apenas uma
minoria deles veio a crer em Jesus. A explanação apostólica tem sua razão de
ser. O profeta Isaías, preanunciando a destruição do Reino do Norte pelos
assírios, destaca “os resíduos” de Israel (Is 10.20), que, sendo poupados por
Deus, viriam posteriormente a se converter (v.21). Em outras palavras, a maior
parte daquele povo ia perecer (Is 10.22).
O cumprimento das promessas de Deus (v.28). Na realidade, não somente o versículo 28, mas
toda esta seção (vv.27-29) demonstra que o cumprimento das promessas do Senhor
é um fato. Contudo, este se concretiza no tempo de Deus, e não o contrário.
Assim, a despeito de a rejeição de Israel a Deus ser uma realidade e a
aceitação da mensagem de salvação pelos gentios ser um fato observável, as
promessas do Senhor para os judeus não falharam. O profeta fala de uma parte de
Israel que será salva, ou seja: o remanescente fiel.
A graça de Deus prenunciada por Isaías (v.29). No versículo 29, o apóstolo Paulo volta a
citar o profeta messiânico, fazendo alusão a Isaías 1.9. Ele faz coro com o
profeta, reconhecendo que se não fosse a misericórdia de Deus, o remanescente
de Israel teria desaparecido da terra assim como aconteceu com Sodoma e
Gomorra. O apóstolo Paulo está, com isso, advertindo os judeus a reconhecerem a
graça de Deus e a converterem-se ao Senhor, a fim de serem salvos (Rm
3.9,23,30; Gl 3.22).
CLASSIFICAÇÃO DOS LIVROS PROFÉTICOS
Os Profetas Maiores. É uma designação utilizada para identificar o
primeiro conjunto de cinco livros dos profetas. Eles são chamados de “maiores”
por causa do volume do seu conteúdo literário. Os três mais volumosos são
Isaías, Jeremias e Ezequiel. Apesar de o livro de Lamentações conter apenas
cinco capítulos e o de Daniel doze, ambos pertencem ao grupo dos profetas
maiores.
Os Profetas Menores. São os doze livros que sucedem os profetas
maiores: Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miqueias, Naum, Habacuque,
Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias. Apesar de ser doze o número de livros,
todo o material literário dos profetas menores é considerado como um só livro
no cânon judaico. A designação deve-se ao seu pequeno volume literário em
comparação aos de Isaías, Jeremias e Ezequiel, e não quanto à qualidade da
inspiração divina.
A autoridade do ministério profético do Antigo
Testamento na Nova Aliança. O apóstolo
Paulo citou Oséias e Isaías, reconhecendo a inspiração e a autoridade divinas
de ambos. Eles clara e distintamente ouviram a voz de Deus, tendo plena
consciência da revelação recebida do Senhor por intermédio do Espírito Santo.
Todos eles foram impelidos pelo
Espírito do Senhor para declarar os oráculos divinos ao povo. Alguns dos
profetas menores foram contemporâneos dos maiores, como Oséias, Amós e
Miqueias, que viveram na mesma época de Isaías. Os últimos dias da vida de
Sofonias, por exemplo, coincidiram com os primeiros de Jeremias. Seus temas
foram os mesmos, porquanto profetizaram a respeito do Messias, de Israel, das
nações vizinhas e da justiça social.
As Escrituras Sagradas não fazem
distinção entre os dois grupos. Com exceção de Lamentações, Ezequiel, Obadias e
Sofonias, que não são citados diretamente em o Novo Testamento (apesar de haver
no texto neotestamentário inúmeras reminiscências de tais livros), todos os
demais livros são citados diretamente pelo Senhor Jesus e pelos seus apóstolos.
Seis deles são citados por nome: três Maiores: Isaías (Mt 3.3), Jeremias (Mt
2.17) e Daniel (Mt 24.1.5); e três Menores: Oséias (Rm 9.25), Jonas (Mt
12.39-41) e Joel (At 2.16). Uma curiosidade é que depois do livro dos Salmos,
Isaías é o mais citado em o Novo Testamento.
Os livros dos profetas menores não
são secundários, nem os dos maiores mais importantes. Todos são inspirados
verbal e plenariamente pelo Espírito Santo. Sem eles, jamais viríamos a
entender o plano de Deus para Israel, para os gentios e para a nossa vida em
particular.
“Os Profetas Escritores
Os profetas são divididos entre
‘profetas escritores’, cujas mensagens estão preservadas como livros do AT, e
‘profetas oradores’, cujo ministério é descrito, mas não fizeram nenhuma
contribuição ao cânon. A importância de um profeta na história não pode,
entretanto, ser medida por essas categorias. Elias e Eliseu são profetas
oradores. Contudo, esses dois, com sucesso, resistiram aos vigorosos esforços
de Acabe e Jezabel em substituir Yahweh por
Baal como deidade ‘oficial’ de Israel (1 Rs 16; 2 Rs 10). As obras dos profetas
escritores são divididas em duas categorias. Há os profetas maiores, cujas
obras são especialmente longas e, os assim chamados profetas menores, cujos
trabalhos são menores”.(RICHARDS, L. O. Guia do Leitor da
Bíblia. 1.ed.
RJ: CPAD, 2005, p.405)
Estrutura dos livros
O Antigo Testamento é a primeira das
duas principais partes da Bíblia, e contém 39 livros, classificados em quatro
grupos: Lei, Históricos, Poéticos e Proféticos. Essa ordem é padronizada, aqui,
no Ocidente, pois em outros cânones há alterações, ainda mais nos outros ramos
do cristianismo como os católicos romanos, ortodoxos, armênios, etíopes,
cópticos, siríacos, nestorianos, que incluem os livros apócrifos, e em alguns
casos os pseudígrafos. O Antigo testamento Hebraico não contém os apócrifos,
porém, estão arranjados de forma diferente [vide o arranjo dos livros dos
profetas no cânon judaico no esquema da orientação didática].
Sua Mensagem
O assunto do Antigo Testamento é a
redenção humana. O Antigo Testamento não é um tratado de Teologia Sistemática,
mas a teologia está presente do começo ao fim, nos relatos históricos, nas
poesias, nas profecias, nos preceitos morais e cerimoniais. É, portanto, a
fonte de toda a teologia. Não é também um compêndio sistemático da fé de Israel
em Deus, cujo clímax dessa revelação é Jesus (Jo 1.18). Toda a história do
Antigo Testamento mostra como Deus operou no processo da redenção humana.
Registra o relacionamento de Deus com o homem até que o plano de redenção fosse
realizado na cruz do Calvário.
Como os primeiros cristãos viam o
Antigo Testamento? Era aceito como coletânea de livros inspirados por Deus (2
Tm 3.16). Os cristãos e os judeus preservaram o Antigo Testamento até os nossos
dias. A Igreja usou essa parte das Escrituras para a evangelização no seus
primeiros dias (At 17.2,3; 24.14; 26.22). O fato de esses cristãos serem judeus
justificaria a preservação de suas Escrituras, mas essa preservação não foi só
por isso. Além disso, eles reconheciam-na ainda como o núcleo básico de sua fé
ampliada em Jesus. O Novo Testamento apresenta com muita frequência o Antigo
Testamento como a base para a fé cristã. (SOARES, E. Visão
Panorâmica do Antigo Testamento. RJ: CPAD, 2003,
p.23-4).
: Os
falsos profetas
Palavra
Chave
Falso: Contrário à
realidade; em que há mentira ou dolo; que imita algo ou parece verdadeiro.
Dentre os falsos profetas do
Antigo Testamento encontram-se também os das divindades pagãs. Vamos, porém,
enfocar os falsos profetas de Israel que, por não terem o temor de Deus, usavam
o nome do Senhor para enganar o povo. Há, especialmente, dois casos horrendos
nas Escrituras Sagradas: o relato de Zedequias, filho de Quenaana, e seu grupo
de profetas, que conseguiram impressionar o rei Acabe (1 Rs 22.5-28; 2 Cr
18.4-27), e o falso profeta Hananias.
A FALSA MENSAGEM PROFÉTICA
A celeste mensagem de Jeremias. No início do reinado de Zedequias, o profeta
Jeremias colocou sobre seu pescoço uma canga de madeira com tiras de couro
(27.1,2; 28.10,12,13) e foi enviado por Deus ajuda e Jerusalém (27.3),
exortando o povo à submissão ao rei de Babilônia (27.6-8). Assim como o boi é
dominado pelo jugo de seu dono, as nações deveriam sujeitar-se ao domínio dos
caldeus, pois seria inútil tentar livrar-se de Nabucodonosor (27.12,13).
O falso profeta Hananias (v.1). No mesmo ano em que o Senhor transmitiu essa
mensagem por meio de Jeremias, surgiu um falso profeta — “Hananias, filho de
Azur, o profeta de Gibeão” (v.1) — para confrontar a mensagem do arauto de
Deus. O falso profeta desafiou Jeremias no Templo de Jerusalém diante do povo e
dos sacerdotes. A Palavra de Deus adverte-nos de que haverá entre nós, na
própria igreja, falsos profetas (2 Pe 2.1,2; Leia ainda At 20.30; 1 Tm 4.1; 1
Jo 4.1).
A mensagem de Hananias (vv.3,4) e
a reação do profeta de Deus. O farsante
Hananias procurava contradizer a mensagem de Jeremias acerca do destino de
Jeconias (nome alternativo de Joaquim, filho de Jeoaquim, também chamado de
Conias [cf. Jr 37.1]) e do fim do cativeiro. O profeta de Deus afirmava ser
impossível Jeoaquim retornar de Babilônia (Jr 22.24-27), o que realmente
aconteceu, pois o rei veio a morrer em Babilônia durante o reinado de
Evil-Merodaque (Jr 52.31-34; 2 Rs 25.27-30). Da mesma forma, os oráculos
divinos anunciavam setenta anos para o domínio babilônio sobre os judeus (Jr
25.11; 29.10), o que, a despeito de o povo israelita ser escolhido de Deus,
também veio a se cumprir (2 Cr 36.22,23; Dn 9.2).
Contudo, o falso profeta Hananias
trouxe uma mensagem que todos queriam ouvir: a volta de Joaquim e o fim do jugo
caldeu em dois anos (Jr 28.2-4). Era, portanto, a palavra dele contra a de
Jeremias, e isso colocava o homem de Deus em desvantagem, pois o povo esperava
uma mensagem de triunfo.
Entretanto, como se pode ver no
capítulo 28 e versículos 5 a 9, Jeremias reitera a Palavra do Senhor, com
destaque para o versículo 6, quando o profeta diz um “amém” irônico, advertindo
o povo a não empolgar nem se entusiasmar com os oráculos de Hananias. Apesar de
um discurso bonito e de uma mensagem agradável, faltava ainda o teste do tempo
como ensina Deuterônomio 18.22. A Bíblia ensina que o profeta só será
reconhecido como tal após suas predições se cumprirem (28.9).
O FALSO PROFETA DESMASCARADO
A arrogância de Hananias. Duas características de um falso profeta são a
audácia e a arrogância. E o falso profeta Hananias apresentava essas más
qualidades. A Palavra de Deus diz que, enquanto o profeta Jeremias representava
a situação futura de Israel usando um jugo no pescoço, Hananias tomou o jugo e,
diante do povo, quebrou-o, reafirmando seu discurso positivista: “Assim
quebrarei o jugo de Nabucodonosor, rei da Babilônia, depois de passados dois
anos completos” (v.11). Era uma situação difícil para Jeremias, que limitou-se
a “tomar o seu caminho”. Para nós, que estamos cientes de que a verdade estava
do lado de Jeremias, é fácil compreender. Todavia, imagine o povo naquela época
assistindo esse embate, com o agravante do falso profeta usara chancela (ainda
que falsa) de uma suposta autoridade espiritual: “Assim fala o SENHOR dos
Exércitos̶ ou “assim diz o SENHOR” (vv.2,4,11). Como discernir o
verdadeiro do falso?
O jugo de madeira é substituído
por um de ferro (vv.13,14). A ousadia
de Hananias acarretou ainda mais a ira divina. Deus mandou Jeremias voltar e
declararão falso profeta: “Jugos de madeira quebraste. Mas, em vez deles, farei
jugos de ferro” (v.13). Dessa forma, a servidão seria ainda pior, pois, agora o
jugo seria de ferro, ou seja, ninguém poderia quebrá-lo (v.14).
O julgamento do falso profeta
Hananias e a confirmação de Jeremias como profeta de Deus (vv.15-17).Como tudo
tem o seu tempo, chegou a hora de o falso profeta Hananias ser desmascarado.
Disse-lhe Jeremias: “[...] não te enviou o SENHOR, mas tu fizeste que este povo
confiasse em mentiras” (v.15). A mensagem do falso profeta, apesar de
agradável, era falsa; não provinha do Senhor. Noutras palavras, era uma mentira
ruinosa que contribuiu para a queda da nação e o exílio do povo.
Hananias pagaria com a própria
vida por sua rebelião contra o Senhor; disse-lhe Deus: “Eis que te lançarei de
sobre a face da terra; este ano, morrerás, porque falaste em rebeldia contra o
SENHOR” (v.16). Essa era a pena que a lei determinava para os falsos profetas
(Dt 18.20). O início do confronto entre o verdadeiro e o falso profeta
aconteceu no “quinto mês” (v.1). Hananias morreu “no mesmo ano, no sétimo mês”
(v.17). Isso mostra que a profecia de Jeremias cumpriu-se em menos de dois
meses. Hananias foi desmascarado e morto; Jeremias, confirmado como profeta de
Deus. Por que o povo não se arrependeu de seus pecados, e continuou a confiar
nas mentiras dos falsos profetas? A resposta é simples: os rebeldes optam por
acreditar apenas naquilo que lhes agrada. Essa é a tendência do ser humano.
O DOM DE
DISCERNIR É O GRANDE INIMIGO DOS FALSOS PROFETAS
O discernimento do povo de Deus. Um dos dons espirituais mais necessários é o
de discernimento. Isto porque o falso profeta, sendo um imitador muito
eficiente, pode confundir o povo de Deus, uma vez que suas mensagens concordam
com aquilo que as pessoas esperam, gostam e sonham. Entretanto, o crente que
teme a Deus tem o discernimento, mediante o Espírito Santo, para distinguir a
verdade do erro. Alguns exemplos bíblicos demonstram que, às vezes, a mentira e
a verdade estão mais que evidentes (Êx 7.12; 1 Rs 22.18,37). Oremos, pois, a
Deus, rogando-lhe o dom de discernimento de espíritos.
A luta da verdade de Deus contra a mentira
diabólica. O apóstolo
Pedro deixou claro que a presença do verdadeiro não é suficiente para impedir a
manifestação do falso. Ao falar dos autênticos profetas hebreus do Antigo
Testamento, o apóstolo ressaltou que “também houve entre o povo falsos
profetas” (2 Pe 2.1). Ao longo dos séculos, percebeu-se que onde há o
verdadeiro, há também o falso. Para cada Moisés, há um Janes e Jambres (2 Tm
3.8); para cada Micaías, há um Zedequias, filho de Quenaana (1 Rs 22.11); para
cada Jeremias, há um Hananias, filho de Azur.
Os discípulos do profeta Hananias. À semelhança de Hananias, muitos falsos
profetas estão por aí causando estragos nas igrejas e trazendo problemas até
para a sociedade. Portanto, estejamos atentos e vigilantes.Os falsos profetas
continuam a arruinar a vida de muita gente. Por causa deles, muitos alteram e
comprometem o plano de Deus para a sua vida e ministério. Outros, afastam-se de
seus familiares e amigos e passam a evitar a igreja, rejeitando os pontos
fundamentais da fé cristã. Que Deus nos livre de tais embusteiros. Fiquemos,
pois, com as palavras de nosso Senhor Jesus Cristo: “Acautelai-vos, que ninguém
vos engane” (Mt 24.4).
A mensagem contemporânea de
Jeremias
"Jeremias iniciou a sua
mensagem com ‘Quanto aos profetas. O meu coração está quebrantado dentro de
mim...’ [capítulo 23] (v.9). Os profetas aos quais ele se referia não eram
aqueles de um deus ou ídolo falso. Não, estes eram profetas de Israel, os
mesmos que falavam em nome de Jeová. Eles eram muito conhecidos e aceitos entre
os crentes, mas Deus lamentava: ‘até na minha casa achei a sua maldade’ (v.11).
Isso partiu o coração de Jeremias. Hoje em dia é diferente? Não, aqueles que
têm uma compreensão do que é verdadeiramente profético podem entender com
facilidade a sua tristeza. Não são falsos profetas os adivinhadores que lêem a
palma da mão, cartas de tarô ou falam segundo as estrelas, que entristecem profundamente
aqueles que anseiam por ver a Deus glorificado. Na verdade, são aqueles que
ministram em nome de Jesus nas nossas igrejas e conferências os que partem o
coração dos justos. Eles se entristecem porque, embora o ministério seja
apresentado no nome de Jesus, não é desempenhado pelo seu Espírito”.(BEVERE, J. Assim
Diz o Senhor? Como saber quando Deus está falando
através de outra pessoa. 1.ed. RJ: CPAD, 2006,
pp.60-1)
Discernimento de Espírito
“[...] O fato é que a palavra
discernimento significa formar um juízo e se relaciona com a palavra usada para
julgar profecias. Envolve uma percepção que é dada de modo sobrenatural, para
diferenciar entre os espíritos, bons e maus, genuínos ou falsos, a fim de
chegarmos a uma conclusão.
João diz que não devemos crer em
todos os espíritos, mas prová-los (1 João 4.1). [...] A Bíblia, na realidade,
fala em três espíritos: o de Deus, o do homem e o do Diabo (com os maus
espíritos ou demônios com ele associados). Na operação deste dom na
congregação, parece que o espírito do homem talvez cause mais problemas. Mesmo
com as melhores intenções, é possível que algumas pessoas tenham a impressão de
que seus próprios sentimentos são a voz do Espírito Santo. Ou por causa do zelo
excessivo ou da ignorância espiritual de como a pessoa se rende ao Espírito
Santo, seu espírito possa intrometer-se” (HORTON, S. A
doutrina do Espírito Santo no Antigo e Novo Testamento. RJ:
CPAD, pp.300-1).
Uma fé racional
“De todos os dons espirituais, um
dos que mais devemos desejar é seguramente o de discernimento. Nós ouvimos
muitas vozes e não podemos seguir todas elas (Gilbert Kirby). [...] a Palavra
de Deus ensina que a nossa razão é parte da imagem divina na qual Deus nos
criou. Ele é o Deus racional que nos fez seres racionais e nos deu uma
revelação racional. Negar nossa racionalidade é, portanto, negar nossa
humanidade, vindo a ser menos do que seres humanos. As Escrituras proíbem que
nos comportemos como cavalos e mulas que são ‘sem entendimento’ e, ao
contrário, ordenam que sejamos ‘maduros’ em nosso entendimento: Sl 32.9; 1 Co
14.20. De fato, a Bíblia nos diz constantemente que cada área da vida cristã é
dependente do uso cristão de nossas mentes. [...] Muitos acham que a fé é
inteiramente irracional. Mas as Escrituras nunca colocam a fé e a razão uma
contra a outra, como sendo incompatíveis. Pelo contrário, fé somente pode
nascer e crescer em nós pelo uso de nossas mentes: 'Em ti confiarão os que
conhecem o teu nome' (Sl 9.10); a confiança deles brota do conhecimento da
fidelidade do caráter de Deus. Novamente, em Isaías 26.3: ‘Tu conservarás em
paz aquele cuja mente está firme em ti, porque ele confia em ti’. Aqui, confiar
em Deus e manter a mente em Deus são sinônimos, e uma perfeita paz é o
resultado” (STOTT J. R. W.Cristianismo Equilibrado. RJ:
CPAD, pp.22,23).
João
Batista — O último profeta do Antigo Pacto
OS ASPECTOS DO REINO DOS CEUS
Presente:Eficaz
somente para os libertos em Cristo (Cl 1.13); Sujeição a Deus (1 Co 4.20);
Conduta íntegra, paz, harmonia com o próximo e alegria no Espírito Santo (Rm
14.17).
Futuro:
Quando o Messias reinar sobre a
terra a partir de Jerusalém (Dt 30.1-10; Sl 89.19-29; Zc 14.9-17); Será
manifesto a todos (Mt 24.27); Virá no tempo determinado por Deus (At 1.6,7).
Palavra
Chave
Personalidade: Qualidade
do que é pessoal; individualidade moral da pessoa.
João Batista é o personagem que
demarca a transição da Amiga para a Nova Aliança e serve de ponte entre o
Antigo e o Novo Testamento. Além disso, foi o precursor do Messias e tinha como
uma de suas principais atividades o batismo em água. De certa forma, acabou
introduzindo o rito, que veio a tornar-se a primeira ordenança da Igreja. Nesta
oportunidade, trataremos da origem, ministério e mensagem de João Batista, o
último profeta veterotestamentário.
A ORIGEM DE JOÃO BATISTA
Sua família. João Batista veio de uma piedosa família,
formada pelo sacerdote Zacarias e Isabel, sua esposa. Seu pai era “da ordem de
Abias” e sua mãe “das filhas de Arão” (Lc 1.5). Na época de Davi, o número de
sacerdotes havia se multiplicado de tal modo que o segundo rei de Israel
resolveu estabelecer o sistema de serviço, do qual a ordem de Abias era a
oitava (1 Cr 24.3-6,10). Os descendentes de Arão continuaram a se multiplicar
tanto que, nos anos que precederam o nascimento de Jesus, o sacerdote só tinha
uma oportunidade na vida de servir no altar (Lc 1.8-10). E foi nesse contexto
que o anjo Gabriel anunciou a Zacarias o nascimento de João Batista (Lc 1.13).
Seu nome e seu nascimento. O anúncio, a escolha do nome e a concepção de
João Batista demonstram que ele teria uma importante missão a cumprir. Tudo
aconteceu em razão de uma intervenção direta de Deus, pois Isabel, sua mãe era
estéril e, além disso, ela e Zacarias “eram avançados em idade” (Lc 1.7), à
semelhança de Abraão e Sara (Gn 11.30; 21.2). Isso prova que algo incomum
estava acontecendo. Até mesmo o nome da criança foi uma escolha divina, pois o
anjo ordenara a Zacarias que pusesse no menino “o nome de João” (Lc 1.13).
Apesar de ser um nome comum
naquela época, não o era na família de Zacarias (Lc 1.59-63). A alcunha de
“Batista” foi dado em função de o seu ministério consistir em grande parte na
prática de batizar. Literalmente, João Batista significa João, o Batizador.
Conforme o anjo ainda comunicara a Zacarias, “muitos” se alegrariam com o
nascimento de João (Lc 1.14,58), pois tal acontecimento era prova inequívoca de
que o Senhor ainda amava Israel (Lc 1.65-80).
Sua estatura espiritual e sua missão. O anjo Gabriel discorre sobre a estatura
espiritual de João Batista, declarando que ele seria “grande diante do Senhor”
e “cheio do Espírito Santo, desde o ventre de sua mãe” (Lc 1.15). Sua missão
era converter os filhos de Israel a Deus e “preparar ao Senhor um povo bem
disposto” (Lc 1.16,17). “Bem disposto” para o quê? Sem dúvida alguma, para o
que o próprio pai, Zacarias, profetizou por ocasião da circuncisão do menino,
afirmando que a criança seria profeta do Altíssimo e precursor do Messias (Lc
1.76).
A PERSONALIDADE DE JOÃO BATISTA
O testemunho de Jesus (v.7a). Pouco tempo após batizar o Senhor Jesus, João
Batista foi preso. Ao ouvir acerca das realizações de Cristo, ele mandou que
dois de seus discípulos fossem até ao Senhor e o inquirisse acerca do
cumprimento de sua missão messiânica (Mt 11.3). Jesus mandou então que
contassem a Batista, na prisão, “as coisas que ouvis e vedes: Os cegos veem, e
os coxos andam; os leprosos são limpos, e os surdos ouvem; os mortos são
ressuscitados, e aos pobres é anunciado o evangelho” (Mt 11.4,5). Isto é, não
havia apenas sinais no ministério do Senhor Jesus Cristo, mas também e,
principalmente, a mensagem do evangelho.
Sua espiritualidade e devoção (v.7b). Após essa resposta, o Senhor Jesus passa a
falar sobre a grandiosidade do ministério de João Batista. O Filho de Deus
revela que o povo não saiu ao deserto para ouvir qualquer pessoa, mas um homem
destemido e cheio do Espírito Santo; um homem que falava a verdade divina,
exortando os pecadores ao arrependimento; um homem que não temia as ameaças dos
poderosos. Era inconcebível pensar que João Batista havia fraquejado por estar
preso, pois ele não era “uma cana agitada pelo vento”, mas um vigoroso cedro
capaz de resistir a fortes tempestades. Ele estava na masmorra de Herodes (Mt
14.10-12), porém, demonstrava um forte compromisso e preocupação com a obra de
Deus.
Sua personalidade (v.8). Com as perguntas retóricas — “Que fostes ver
no deserto? [...] Um homem ricamente vestido?” — Jesus estava dizendo que esse
tipo de personalidade não caracterizava João. Pois, os que o ouviram no deserto
podiam estar certos de que, mesmo encarcerado, o Batista continuaria sendo o
mesmo João: um homem santo e destemido que, por opção própria, usava vestes de
pelos de camelo e cinto de couro.
JOÃO BATISTA, O ÚLTIMO PROFETA
“Muito mais que profeta” (v.9). O testemunho público de Jesus confirma o que o
Espírito Santo havia falado por boca de Zacarias: João seria “profeta do
Altíssimo” (Lc 1.76). Cristo foi além; afirmou que João era “muito mais do que
profeta”. Ele declarou ser o Batista um mensageiro enviado por Deus como o
precursor do Messias (v. 10), cumprindo assim a profecia de Malaquias (Ml 3.1).
Jesus acrescentou que dentre os mortais, não houve ninguém maior do que João
(v.11). E isso, por algumas razões: a) Porque os profetas falaram a respeito de
João (Is 40.3; Ml 3.1); b) porque João teve o privilégio de ver o cumprimento
principal dos oráculos proféticos do Antigo Testamento: O Senhor Jesus; c) por
ter sido o precursor do Messias; d) porque batizou o Senhor Jesus nas águas; e)
porque pode participar da salvação que os profetas apenas predisseram; e
finalmente f) porque chegou ao clímax do ministério profético, tal como havia
no Antigo Testamento (Lc 16.16).
O término da dispensação da Lei
(v.13). Pelas
razões acima apresentadas, João é o mais excelente de todos os profetas; com
ele se encerra a Antiga Aliança. João Batista é o único personagem do Novo
Testamento com quem Deus se comunicava da mesma maneira que Ele falava aos
profetas do Antigo Testamento: “[...] veio a palavra de Deus a João, filho de
Zacarias” (Lc 3.2 — ARA; cf. Jr 1.2).
“O Elias que havia de vir” (v.14). Ao comparar o ministério de João Batista ao de
Elias, Jesus confirma o oráculo de Malaquias (4.5,6). Em outras palavras, João
veio na virtude e no espírito de Elias (Lc 1.17), ou seja: exercendo um
ministério igual ao de Elias. E o Senhor Jesus o reafirma em outra ocasião (Mt
17.12,13). Isso, porém, não deve levar ninguém a pensar que João era Elias
reencarnado por duas razões básicas: Elias foi arrebatado vivo para o céu,
portanto, não morreu (2 Rs 2.11). Além disso, reencarnação é algo que não
existe e nem é permitido por Deus (2 Sm 12.23; Sl 78.39; Hb 9.27).
Elias e João Batista tinham as
mesmas características: ambos vestiam-se de pelos e usavam cinto de couro (2 Rs
1.8; Mt 3.4), ministravam no deserto (1 Rs 19.9,10,15; Lc 1.80), e eram
incisivos ao pregarem contra reis ímpios (1 Rs 21.20-27; Mt 14.1-4).
João continua sendo um exemplo de
coragem e humildade que devemos seguir. Essa voz no deserto precisa ser mantida
contra o pecado e contra a corrupção. Oremos para que Deus continue a levantar
homens e mulheres santos, destemidos e cheios do Espírito Santo para a expansão
do Reino de Deus.
João Batista como precursor do
Messias; e a comparação com o profeta Elias
O papel de João Batista como um
precursor do Messias o colocou numa posição de grande privilégio, descrito como
“muito mais do que profeta” (11.9), como não havendo ninguém maior do que ele.
Nenhum homem jamais cumpriu este objetivo dado por Deus melhor do que João.
Ainda assim, no Reino de Deus que está chegando, o menor terá uma herança
espiritual maior do que João, porque ele viu e conheceu a Cristo e a sua obra
concluída na Cruz. João morreria antes que Jesus morresse e ressuscitasse para inaugurar
o seu Reino. Como seguidores de Jesus testemunharão a realidade do Reino, eles
terão privilégios e um lugar maior do que João Batista. Todos os profetas das
Escrituras tinham profetizado a respeito da vinda do Reino de Deus. João
cumpriu a profecia, pois ele mesmo era o Elias que havia de vir (Ml 4.5). João
não era Elias ressuscitado, mas ele assumiu o papel profético de Elias — o de
confrontar corajosamente o pecado e mostrar Deus às pessoas (Ml 3.1).(Comentário
do Novo Testamento, Aplicação Pessoal. Vol.1. RJ: CPAD,
2009, p.76-7)
Jesus
— O cumprimento profético do Antigo Pacto
Palavra
Chave
Cumprimento: Ato ou
efeito de cumprir algo.
O conteúdo do Antigo Testamento
acerca da obra redentora de Deus, em Cristo, é muito rico em detalhes e não se
restringe às profecias. Os escritores do Novo Testamento reconhecem a presença
de Cristo na história da redenção, nas instituições e nas festas sagradas do
Antigo Testamento.
Sobre o nascimento virginal de
Jesus
“Isaías 7, com sua promessa de um
filho que nascerá, é o pano de fundo do nascimento virginal. Muitas
controvérsias têm girado ao redor do termo hebraico 'almah, conforme
usado em Isaías 7.14. A palavra é usualmente traduzida por Virgem, embora
algumas versões traduzam-na por Jovem. No AT, sempre que o contexto oferece uma
nítida indicação, a palavra significa uma virgem com idade para casamento.
Parece que, no contexto dos capítulos 7 e 8 de Isaías, a profecia a respeito de'almah tinha um significado bastante importante para
a época do profeta. Em primeiro lugar, a profecia não fora direcionada somente
ao rei Acaz, mas à totalidade da casa de Davi. O Senhor prometeu um sinal
sobrenatural, não para Acaz, mas para a casa de Davi, sinal este que manteria
sua importância no decurso da História. Note que o nome do menino seria
Emanuel, Deus conosco. O uso de Isaías 7.14, em Mateus 18.22, indica sua grande
importância para a compreensão do nascimento do Senhor Jesus Cristo. O
Evangelho de Mateus relata que a gravidez de Maria foi causada pela ação do Espírito
Santo sobre ele, quando então concebeu Jesus no seu ventre. José, noivo de
Maria, não o acreditou, até o anjo informar-lhe a respeito. Uma vez ocorrida a
concepção, estava claro que se tratava do cumprimento da profecia de Isaías
7.14”.(HORTON, S. M. Teologia Sistemática. CPAD,
2009, pp.323-24)
FIGURAS PROFÉTICAS
As prefigurações. A paixão de Cristo foi prefigurada na
instituição da páscoa, no Egito (Êx 12.3-13). O cordeiro sacrificado
diariamente apontava para Cristo que padeceu durante a comemoração dessa grande
festa judaica (Lc 22.15), pois “Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós”
(1 Co 5.7). Os sofrimentos de Davi, descritos no Salmo 22, prefiguram os
vitupérios e flagelos de Jesus: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”
(Sl 22.1; Mt 27.46; Mc 15.34).
A linguagem profética. Ao retornar do Egito, a sagrada família foi
habitar em Nazaré: “E chegou e habitou numa cidade chamada Nazaré, para que se
cumprisse o que fora dito pelos profetas: Ele será chamado Nazareno” (Mt 2.23).
O profeta Jeremias, por exemplo, predisse que Jesus seria traído conforme lemos
em Mateus 27.9. Leia também o que escreveu Zacarias (Zc 11.12,13). Os profetas,
segundo podemos observar, eram harmônicos entre si, pois todos eram inspirados
por um único Espírito — o Espírito Santo de Deus.
INSTITUIÇÕES
PROFÉTICAS
Israel. Quando José, Maria e o menino Jesus retornaram
do Egito, depois da morte de Herodes, o Grande, Mateus registrou esse fato como
o cumprimento de uma profecia: “Do Egito chamei o meu Filho” (Mt 2.15). Essa
passagem está em Oséias 11.1: “Quando Israel era menino, eu o amei; do Egito
chamei a meu filho”. Qualquer hebreu do mundo pré-cristão, ao ler essa
passagem, logo concluiria tratar-se da saída dos filhos de Israel do Egito, e
não estaria errado, pois o profeta está, de fato, referindo-se ao evento da
libertação do Egito. No entanto, vemos aqui também uma profecia messiânica.
O tabernáculo. Representava a presença de Deus no meio do
povo. Deus mandou Moisés construir o tabernáculo, porque almejava habitar no
meio dos filhos de Israel: “E me farão um santuário, e habitarei no meio deles”
(Êx 25.8). No tabernáculo (Êxodo caps. 25-40) está a figura de Cristo: “E o
Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1.14). Não somente isso, mas cada
peça e utensílio do tabernáculo apontam igualmente para Cristo e sua obra
salvífica (Hb 9.8-10).
O sacerdócio. A ordem de Arão, também conhecida como
sacerdócio levítico, foi instituída por Moisés como o sistema sacerdotal dos
hebreus. Era o exercício do santo ministério no Antigo Testamento. A
consagração de Arão e o seu ministério prefiguram a obra de Cristo; isso está
muito claro na epístola aos Hebreus (Hb 5.4,5). Já no Antigo Testamento, a
palavra profética anunciava a mudança no sistema sacerdotal (Jr 31.31-34; Hb
8.8-12) e a substituição do sacerdócio arônico pela ordem sacerdotal de
Melquisedeque (Sl 110.4; Hb 7.11,17).
PROFECIAS
DIRETAS ACERCA DO NASCIMENTO DE JESUS
A origem humana de Jesus. Imediatamente à Queda do homem, no Éden, Deus
prometeu o Redentor, no entanto, o seu perfil foi sendo revelado por Ele, nas
Escrituras, ao longo do tempo. O Antigo Testamento anunciou de antemão a
divindade absoluta do Messias (Is 9.6; ler também Hb 1.8; Rm 9.5). Quanto à
origem humana de Jesus, Ele é chamado de semente da mulher (Gn 3.15), ou seja,
seria um ser humano nascido de mulher (Gl 4.4), mas sem pecado (Mt 1.20; Hb
4.15).
O descendente dos patriarcas de Israel. Deus prometeu a Abraão, Isaque e Jacó,
ancestrais do povo hebreu, que por meio deles seriam abençoadas todas as
famílias da terra, uma promessa messiânica (Gn 12.3; 17.19; 24.14), que, se
cumpriu em o Novo Testamento (Lc 3.33,34). A palavra profética foi tornando-se
cada vez mais clara e específica, e revelou que Ele viria da descendência de
Judá (Gn 49.10), o que se cumpriu (Hb 7.14). Os profetas disseram que o
Salvador seria um descendente de Davi (Jr 23.5,6) e essa palavra também se
cumpriu (Mt 22.42; Lc 1.32; Jo 7.42; Rm 1.3; Ap 22.16).
Nascido de uma virgem. A palavra profética fala da concepção virginal
de Cristo (Is 7.14). Deus interveio sobrenaturalmente, a fim de que a virgem
concebesse sem haver tido qualquer contato com um homem. No entanto, havia uma
dificuldade natural para que a profecia se cumprisse. Como poderia uma donzela
aparecer grávida numa sociedade crente em Deus e conservadora como a judaica?
Mas Deus tudo providenciou para que a sua palavra se cumprisse. Maria já estava
casada; todavia, ainda não havia coabitado com José, seu marido (Mt 1.18; Lc
1.34,35).
O local de nascimento de Jesus. Quando o anjo Gabriel anunciou a Maria o
nascimento de Jesus, ela vivia em Nazaré (Lc 1.26,27). A palavra profética,
porém, indica a cidade de Belém de Judá como o local do nascimento do Messias
(Mq 5.2). Para isso, Deus mobilizou o próprio imperador romano, César Augusto,
para que baixasse um decreto, obrigando cada pessoa em Israel a alistar-se na
cidade de seu nascimento. Sendo José belemita, foi com Maria para Belém,
ocasião em que ela deu à luz o Salvador (Lc 2.9-11).
5. O massacre das crianças de
Belém. O brutal
assassinato das crianças da região de Belém por ordem de Herodes, o Grande (Mt
2.16), foi o cumprimento de uma profecia de Jeremias (Jr 31.15).
PROFECIAS
SOBRE AS OBRAS DE JESUS
A visão messiânica em Moisés (vv.22,23). O Novo Testamento revela que o povo judeu
aguardava a vinda do Messias, conforme escrevera Moisés: “havemos achado aquele
de quem Moisés escreveu na Lei” (Jo 1.45). O apóstolo Paulo explicou: “dando
testemunho, tanto a pequenos como a grandes, não dizendo nada mais do que os
profetas e Moisés disseram que devia acontecer” (At 26.22). O apóstolo Pedro,
na sua pregação na área externa do Templo, afirma que Moisés anunciou a vinda
do Messias, e que a missão deste seria semelhante à do legislador dos hebreus —
fazer a mediação entre o povo e Deus (1 Tm 2.5).
Sua vida e ministério. O profeta Isaías anunciou que o Messias
haveria de habitar em Naftali, nos confins de Zebulom (Is 9.1-4); o Novo
Testamento o confirma (Mt 4.13). O profeta Zacarias predisse a sua entrada
triunfal em Jerusalém, montado num jumento (Zc 9.9); os Evangelhos registram o
referido acontecimento (Mt 21.1-11). A palavra profética anuncia também a sua
traição; seria traído por um amigo (Sl 41.9), ou seja, por Judas Iscariotes (Mt
26.14-16; Jo 13.2; 17.12).
Seu sofrimento, morte e ressurreição
(vv.18,26). O Antigo
Testamento anunciou com abundância de detalhes a paixão de Cristo,
principalmente o capítulo 53 de Isaías (ver Lição 5). Todavia, Deus prometeu
ressuscitá-lo da morte (Sl 16.10); os Evangelhos narram esse sublime
acontecimento (Mt 28.1-5). O apóstolo Pedro ressalta esse fato e o seu
cumprimento (At 2.25-32), o qual tornou-se o tema principal da mensagem
apostólica (1 Co 15.4-20). Seu retorno ao céu também estava na mensagem dos profetas
(Sl 24) e cumpriu-se 40 dias depois de sua ressurreição (At 1.9-11).
Jesus é o começo e o fim do Antigo
Testamento, cujos livros concentram-se no Messias. Ele é o centro das
Escrituras Sagradas. Tudo o que estudamos na presente lição prova de maneira
consistente e robusta que é impossível a alguém manipular tais circunstâncias,
a fim de forçar o cumprimento das profecias bíblicas.
O
Ministério Profético no Novo Testamento
Palavra
Chave
Predição: Predizer o
futuro mediante inspiração divina.
Já vimos reiteradas vezes que o
autêntico profeta falava em nome de Deus e por Deus. Suas mensagens
contemplavam os elementos mais comuns de uma profecia bíblica, os quais
consistem das revelações quanto ao futuro, bem como de mensagens de
encorajamento, fortalecimento, advertência e repreensão. Assim, apesar de o
Novo Testamento consistir em grande parte de cumprimento profético
veterotestamentário, o elemento preditivo também se acha em suas páginas com
exceção das epístolas a Filemon e de 3 João.
JESUS CRISTO, O PROFETA QUE HAVIA DE VIR
A principal característica do
autêntico profeta. Quais as
funções básicas de um profeta? O autêntico profeta é um porta-voz de Deus. Isso
significa que ele não fala o que quer, mas o que o Senhor lhe ordena. Em
qualquer instância da mensagem profética, e seja qual for o destinatário, o
arauto de Deus falará apenas o que recebeu do Senhor, isto é, nem mais nem
menos.
Jesus Cristo, o Profeta. Jesus, por diversas vezes, falou em nome do
Pai, sendo Ele mesmo verdadeiro Deus (Jo 1.1,14). Contudo, mesmo assim,
observamos que Ele agia e falava segundo a vontade de seu Pai (Jo 4.34; 5.30;
6.38; 14.24). Um exemplo que deve inspirar-nos a exercer com prudência nosso
ministério. Entre as suas profecias que já se cumpriram acha-se o anúncio da
queda de Jerusalém, que se deu no ano 70, e a segunda diáspora dos judeus (Lc
21.24). Nos dias atuais, percebemos que as enunciações de Jesus quanto aos
últimos tempos estão se cumprindo fielmente (Mt 24.5-12). Levemos em conta
também suas proclamações escatológicas (Mt 24.29-31).
A perfeição de Cristo. Sendo verdadeiro Deus, o conhecimento de
Cristo é perfeito e absoluto; Ele sabe todas as coisas (Jo 16.30; 21.17; Cl
2.2,3). O Senhor viu Natanael debaixo da figueira (Jo 1.47,48), e sabia também
que no mar havia um peixe com uma moeda na boca (Mt 17.27). Não havia
necessidade que alguém lhe explicasse o que há no interior do homem, porque
tudo Ele sabe (Jo 2.24,25). Ele sabia também que a mulher samaritana já fora
cinco vezes casada, e que o homem com quem ela vivia não era seu marido (Jo
4.17,18). Onisciente e onipresente, Jesus tudo sabia e tudo sabe. Ele não
precisava de revelações como os profetas e apóstolos. Cristo é o Profeta por
excelência; o testemunho de Jesus é o espírito de profecia (Ap 19.10).
A ATIVIDADE
PROFÉTICA EM O NOVO TESTAMENTO
A revelação pelo Espírito (v.10a). O mesmo Deus que se revelou aos profetas
hebreus também se deu a conhecer na plenitude dos tempos aos apóstolos: “Deus
no-las revelou pelo seu Espírito”, afirma Paulo (v.10a). Assim, entendemos que
a natureza da atividade profética em o Novo Testamento revela a mesma fonte
divina: o Espírito Santo. Não é a expressão “veio a palavra do Senhor”, tão
comum nos textos do Antigo Testamento, que caracteriza a profecia do Novo
Testamento, mas a ação inspiradora e direta do Espírito Santo (At 10.19;
16.6,7; 20.23) tal como ocorria na Antiga Aliança.
O Espírito Santo conhece as
profundezas de Deus (vv.10b,11). O apóstolo
lembra que o Espírito Santo é Deus, dizendo que “o Espírito penetra todas as
coisas, ainda as profundezas de Deus” (v.10b) e continua, afirmando que
“ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus” (v.11b). Assim a
Bíblia atesta de maneira inconfundível e incontestável a deidade absoluta da terceira
Pessoa da Trindade (Ver 1 Pe 1.10-12).
A superioridade da revelação
apostólica (v.12). A revelação
que os apóstolos receberam era superior a que foi dada aos patriarcas, reis,
sábios, sacerdotes e profetas do Antigo Testamento (2 Co 3.5-11). Isto porque,
os apóstolos viveram o clímax da revelação em Jesus (Hb 1.1) e desfrutaram da
dimensão do Espírito Santo em uma época em que sua atuação não era mais
esporádica, mas plena e abundante.
O EXERCÍCIO PROFÉTICO DOS APÓSTOLOS
A plenitude dos tempos. Muitos foram os profetas do Antigo Testamento
quando comparados ao número de apóstolos do Novo.
Em relação ao período profético, o
ministério apostólico foi relativamente curto. Assim como o volume da produção
profética do Antigo Testamento quando comparada ao do Novo Testamento é muito
maior. O importante, porém, é saber que todas as coisas ocorreram segundo o
programa de Deus.
Não obstante, com o nascimento de
Cristo no período do Novo Testamento, deu-se o cumprimento máximo das profecias
do Antigo Testamento. A esse evento Paulo denomina de a “plenitude dos tempos”
(Gl 4.4).
Profecias de Paulo. O apóstolo dos gentios ensinava em nome de
Jesus como seu embaixador (2 Co 5.20) e dessa forma anunciou coisas futuras.
Profetizou acerca do surgimento de falsos mestres e de seitas (At 20.29,30; 1
Tm 4.1). Quanto ao futuro, predisse pelo Espírito o arrebatamento da Igreja e a
ressurreição dos mortos (1 Ts 4.13-17); a manifestação do Anticristo e o
período da grande tribulação (2 Ts 2.3-11); o galardão dos justos (1 Co
3.12-15; 2 Co 5.10) e outras profecias. A eleição e a restauração de Israel,
importante assunto profético que ocupa três capítulos de Romanos e demonstra a
atualidade da promessa divina aos patriarcas, saíram de sua pena inspirada pelo
Espírito Santo (9-11). De todas as suas epístolas, apenas Filemon não traz
qualquer profecia.
Profecias de Pedro e as predições através de
João. O apóstolo
Pedro escreveu duas epístolas. Temos também suas pregações registradas em Atos,
grandes compêndios proféticos, que estão a nortear a vida da Igreja até hoje.
Como o apóstolo Paulo, também profetizou o aparecimento dos heresiarcas (2 Pe
2.1-3), dos escarnecedores no fim dos tempos (2 Pe 3.3,4), a vinda de Jesus, o
fim do mundo e a eternidade dos salvos (2 Pe 3.7-18). Seu companheiro de
ministério, o apóstolo do amor, inspirado pelo Espírito Santo, escreveu o
Evangelho que leva o seu nome — João —, o qual contém dezenas de profecias, quase
todas pronunciadas pelo Senhor Jesus. O livro de Apocalipse, também escrito por
João, é essencialmente profético. É a conclusão de todas as Escrituras e lança
luz sobre as profecias do Antigo Testamento, principalmente as de Ezequiel,
Daniel e Zacarias, de Jesus em Mateus 24, 25 e do apóstolo Paulo (1 Ts 4-5; 2
Ts 2). Quanto às suas epístolas, apenas a terceira não contém profecias.
O cumprimento das profecias da
Bíblia Sagrada é uma das evidências de sua origem divina. Nestas escrituras,
todas inspiradas pelo Espírito Santo de Deus, temos um seguro guia em nossa
jornada para o céu. O seu cumprimento é tão certo quanto à sucessão dos dias e
das noites; por isso, todos devemos esperar nas fiéis promessas de Deus feitas
por meios de seus profetas e apóstolos.
Os profetas na Igreja
“Os profetas continuaram a
desempenhar um papel importante na Igreja no NT. Havia homens conhecidos como
‘profetas’ especialmente escolhidos para o constante e regular ministério da
profecia (Ef 4.11). Depois dos próprios apóstolos, eles eram os ministros que
ocupavam a mais elevada posição na Igreja primitiva (1 Co 12.28). Tais profetas
permaneceram em evidência ao longo do livro de Atos. Seu ministério era
geralmente duplo: o de pronunciar (proclamar), e o de prever (prenunciar). O
trabalho de dois outros profetas era exortar (ou ‘consolar’) e fortalecer os
irmãos (At 15.32), e era semelhante às funções da profecia relacionadas em 1
Coríntios 14.3, isto é, edificação, exortação e consolo. Em uma reunião da
Igreja, um profeta poderia receber uma revelação que seria compartilhada com os
crentes reunidos (1 Co 14.30). Em primeiro lugar, a mensagem de um profeta deve
ser julgada pelos outros profetas presentes (1 Co 14.29), e depois pelos demais
crentes. Este julgamento é feito comparando a mensagem do profeta com os
ensinos dos apóstolos, que são depositários absolutos da Palavra de Deus”.(Dicionário
Bíblico Wycliffe. RJ: CPAD, 2006, p.1610)
Paulo, o profeta — “Em suas epístolas, o apóstolo Paulo escreveu
extensivamente sobre muitos assuntos proféticos, de uma forma literal e
histórica. Seus comentários extremamente práticos tratavam das preocupações de
seus leitores da época. Dentre os tópicos tratados, havia a apostasia
religiosa. Apesar de alguns estudiosos discordarem, Paulo claramente profetizou
sobre uma apostasia religiosa perto do fim da era da Igreja (2 Ts 2.3)”
(LAHAYE, T. Enciclopédia
Popular de profecia Bíblica. 1.ed. RJ: CPAD, 2008,
p.203).
Jesus,
o Profeta — “Jesus via
sua própria mensagem como uma continuação dos escritos proféticos e avaliou a
geração de seu tempo à luz daquelas profecias. Muitas vezes, citava Jeremias e
Zacarias, aplicando suas profecias tanto ao juízo que estava por vir sobre
Jerusalém em 70 d.C, como também ao Juízo Final. Na ‘purificação do Templo’,
por exemplo, Jesus citou Jeremias 7 (que alude à ameaça de violação do Templo,
logo após o sermão de Jeremias sobre o Templo), como textos de Isaías e
Zacarias (que dizem respeito à situação futura do Templo). O discurso de Jesus
sobre o monte das Oliveiras também coloca o Templo em um contexto escatológico.
Quando ouvem a profecia de Jesus sobre a destruição do Templo, os discípulos
aparentemente a vinculam à vinda do Messias no fim dos tempos e perguntam sobre
um sinal. O ‘sinal’ dado por Jesus foi a abominação da desolação de Daniel (Mt
24.15). Isto, portanto, seria uma indicação de que a nação de Israel se
aproximava de sua libertação e restauração pelas mãos do Messias, pois a
profanação do Templo dará início à perseguição do povo judeu (ou seja, a
‘grande tribulação’; Mt 24.16-22). Somente o próprio Messias seria capaz de
salvá-los de seus inimigos” (LAHAYE, T.Enciclopédia Popular de Profecia
Bíblica. 1.ed.
RJ: CPAD, 2008, pp.16-7).
O
Dom Ministerial de Profeta e o Dom de Profecia
Palavra
Chave
Dom: [Do lat. domum], dádiva,
presente de Deus.
O assunto desta lição diz respeito
a um dos aspectos decisivos da vida da igreja: a profecia no contexto
neotestamentário. Tais manifestações devem passar pelo crivo das Escrituras
Sagradas para que cumpram a sua finalidade: exortar, edificar e consolar (1 Co
14.3). Em 1 Coríntios 12, o apóstolo Paulo tratou do assunto, considerando os
dois tipos de dons de profecia. Aquele que pode ser concedido pelo Espírito a
qualquer crente (1 Co 12.10), e o outro destinado a crentes com chamada
específica para esse ministério (1 Co 12.28).
OS DONS MINISTERIAIS
Distinção entre o colégio apostólico e o dom
ministerial de apóstolo. É
importante que façamos uma distinção entre o apóstolo, como dom ministerial, e
os doze apóstolos de Cristo — os apóstolos do Cordeiro (Ap 21.14). Estes
formavam um grupo distinto na Igreja Primitiva (Lc 6.12-16) e, por haverem
recebido revelações especiais de Deus (Ef 3.5; Jd v.17), foram os responsáveis
pelo alicerce doutrinário da Igreja (At 2.42; Ef 2.20). Quanto aos apóstolos
dados à igreja, por intermédio do dom ministerial e cuja função é de
“embaixador” (cf. 2 Co 8.23) e “enviado” (cf. Fp 2.25), são estes igualmente
imprescindíveis à obra de Deus.
Uma consideração acerca dos dons ministeriais.
a) Apóstolos. Quando o Senhor Jesus Cristo proferiu uma de
suas mais célebres afirmações “[...] edificarei a minha igreja” (Mt 16.18), não
revelou como a edificaria. Em 1 Coríntios 3.10-14, Paulo menciona que, como
sábio arquiteto, pôs o “fundamento, e outro edifica”. O apóstolo dos gentios
referia-se ao trabalho seqüencial de edificação da igreja de Corinto que, na
realidade, era fruto de seu labor missionário e da assistência pastoral dos
líderes que passaram a atender àquele rebanho. A edificação da Igreja se dá
através de homens a quem o Senhor Jesus qualificou para isso (1 Co 3.6-8).
b) Evangelistas. A igreja sempre necessita do dom de
evangelista; trata-se de um pregador cheio do Espírito Santo e da Palavra,
enviado à seara do Senhor (At 21.8; 2 Tm 4.5). Ele auxilia os pastores na
expansão da igreja local, ganhando almas para Cristo.
c) Pastores e doutores. Alguns expositores do Novo Testamento entendem
“pastores e doutores” como um só ministério. Talvez porque o texto não diz “e
outros, doutores”. Pastores e doutores são distintos, porém, não díspares;
tratam-se de ministérios que se complementam. A tarefa do pastor é alimentar e
proteger o rebanho; a do doutor, instruir a Igreja, assistindo os membros com a
elucidação de questões doutrinárias e preservando a fé genuína. A
responsabilidade de ambos, portanto, é cuidar do rebanho de modo que cada
membro seja instruído e guiado e, por meio do ensino e do exemplo, mantenham a
unidade da igreja, tendo a plenitude de Cristo como medida (Ef 4.13).
Objetivo dos dons ministeriais (Ef 4.12-14). É importante entender que o Senhor Jesus deu
esses dons à igreja a fim de equipar os crentes para a obra do ministério (Ef
4.12). Dessa forma, o ensino bíblico constante e progressivo, sob a unção de
Deus, atuará em suas vidas com o objetivo de impedi-los de serem levados por
“todo o vento de doutrina” (Ef 4.14).
“OUTROS PARA PROFETAS” (Ef 4.11a).
1. A importância do tema. Apesar de o termo “profeta” haver sido
devidamente abordado nas lições anteriores, dado o seu caráter especial no
contexto neotestamentário, é imprescindível considerá-lo à parte. Faz-se
necessário entender que o seu emprego em o Novo Testamento é ainda mais amplo
do que nas Escrituras veterotestamentárias.
2. A distinção entre apóstolo
profeta e profeta. O emprego
do termo profeta em Efésios 4.11 apresenta sentido distinto daquele encontrado
anteriormente nos textos de 2.20 e 3.5. Nessas duas passagens, trata-se de um
mesmo grupo: os apóstolos-profetas. Paulo afirma, porém, em Efésios 4.11, que o
Senhor Jesus “deu uns para apóstolos, e outros para profetas” deixando claro
que se trata de ministérios diferentes. O contexto mostra que essa passagem (Ef
4.11) refere-se a pregadores irresistivelmente cheios do Espírito Santo, que
cooperavam na edificação da Igreja (At 13.1), dedicando-se ao ensino e à
interpretação da Palavra de Deus. Eles também dedicavam-se a explicar o
cumprimento das profecias do Antigo Testamento, e punham-se a exortar, edificar
e consolar a Igreja de Cristo.
As principais funções do profeta. Assim como no Antigo Testamento, o profeta do
Novo não tem como função primária predizer o futuro. Sua atuação é, antes de
tudo, atender às necessidades da igreja, uma vez que transmite a mensagem de
Deus em tempos de crise (1 Co 14.3).
O DOM DE PROFECIA
A promessa do dom de profecia. O Senhor Deus, através do profeta Joel,
prometeu derramar abundantemente do seu Espírito sobre os seus servos (Jl
2.28-32). Tal promessa, que iniciou o seu cumprimento a partir do Dia de
Pentecostes e inclui especificamente o dom de profecia (Jl 2.28-32; At
2.16-21). Qualquer crente salvo pode ter o dom de profecia na nova dispensação
(1 Co 14.24), independentemente de idade, sexo, status social e posição na
igreja (At 2.17,18), tal como vemos nas quatro filhas de Filipe “que profetizavam”
(At 21.9).
Definição. O dom de profecia, aqui abordado, é uma
manifestação momentânea e sobrenatural do Espírito Santo, como um dos dons
espirituais prometidos, e não um ministério. 0 maior valor da profecia é que
ela, sendo de Deus, ao contrário das línguas estranhas, uma vez proferida,
edifica a coletividade e não unicamente o que profetiza (1 Co 14.3-5).
Características. A Bíblia ensina que a profecia deve ser
julgada na igreja e que o profeta deve obedecer ao ensino bíblico (1 Co 14.29-33).
Não podemos esquecer que a profecia, nesse contexto, não se reveste da mesma
autoridade da dos profetas e apóstolos das Sagradas Escrituras. Ninguém mais,
depois deles, recebeu igual autoridade divina. O dom de profecia, na presente
era, não é infalível e, portanto, é passível de correção. Pode acontecer de o
profeta receber a revelação do Espírito Santo e, por fraqueza, imaturidade e
falta de temor de Deus, falar além do que devia. Quem profetiza, portanto, deve
ter o cuidado de falar apenas o que o Espírito Santo mandar, não alegando estar
“fora de si” ou “descontrolado”, pois “os espíritos dos profetas estão sujeitos
aos profetas” (1 Co 14.32).
O nosso Deus nunca deixou de se
comunicar com o seu povo. Ele continua a falar conosco, inclusive por meio do
dom de profecia. O Senhor sempre cuida do progresso e edificação de sua Igreja.
Por essa razão, Jesus deu à sua Noiva, apóstolos, profetas, evangelistas,
pastores e doutores.
“No contexto de uma unidade
mantida portais expressões de amor como humildade, mansidão, longanimidade e
tolerância, são exercidos os dons distribuídos por Cristo, e se cumprem os
objetivos de Cristo em seu corpo e a favor do seu corpo (4.7-10).
Surpreendentemente, estes objetivos não se cumprem nos líderes que Cristo dá à
igreja, mas nos leigos. Os líderes são servos cujo papel é equipar o povo de
Deus para sua ‘obra do ministério’. Por meio dos esforços de todos os seus
membros, o corpo de Cristo é edificado (4.11-13). E por meio da participação
ativa em um corpo que cresce, e que ministra de forma constante, o crente
amadurece individualmente (4.14-16). Quer os líderes tenham grandes áreas de
responsabilidade (apóstolos, profetas, evangelistas) ou somente
responsabilidades locais (pastores e doutores), eles são ordenados para servir
os leigos”.(RICHARDS, L. O. Comentário
Histórico-Cultural do Novo Testamento. RJ: CPAD, 2007,
pp.423,425)
O
tríplice propósito da profecia
Palavra
Chave
Dons espirituais: [Do lat. donum + spirituale] dádiva,
presente relativo ao espírito. Recurso extraordinário que o Senhor Jesus deixou
a disposição da igreja.
A profecia, em si mesma, é uma
revelação divina, pois trata-se de um oráculo vindo da parte de Deus. Quem
profetiza está falando em nome do Senhor e, portanto, transmitindo ao povo a
vontade divina. Os dons espirituais são para a edificação, exortação,
consolação e santificação da Igreja.
OS DONS ESPIRITUAIS
A situação em Corinto. Ao falar sobre os dons espirituais em 1
Coríntios 12 a 14, o apóstolo Paulo não introduz nenhum ensino novo na Igreja;
a manifestação dos dons já era bem comum no meio do povo de Deus. Mas, posto
que ocorresse abuso na prática dos dons espirituais, devido à inexperiência
daquela igreja, que ainda enfrentava problemas de altivez espiritual (4.7,18) e
dissensão (11.18), entre outros, o apóstolo foi constrangido e inspirado pelo
Espírito a escrever aos irmãos coríntios, para que tais distorções fossem
corrigidas.
Paulo trouxe um ensino muito
importante sobre o assunto, esclarecendo as manifestações sobrenaturais do Espírito
Santo. Ele conscientiza a igreja que todos os que receberam dons espirituais do
Senhor podem e devem administrá-los com sabedoria, prudência e humildade.
Conceito (vv.4-6). Estamos diante de um assunto de extrema
relevância para a edificação da Igreja e, por essa razão, ninguém deve
desconhecer o tema ou sentir-se como os coríntios — ignorantes (12.1). A
expressão grega que aparece em 1 Coríntios 14.1 é traduzida como “as coisas
espirituais” e, no versículo 4, o apóstolo Paulo chama de charisma — dom — ou de ministério, no versículo 5, e de
operação, no versículo 6. Isso revela a diversidade dessas manifestações,
todavia, sempre mostrando que a fonte é uma só: Deus, o Pai, o Filho e o
Espírito Santo, que formam a Santíssima Trindade (12.4-6). As manifestações dos
dons não devem ser usadas para ostentação, como vinha acontecendo em Corinto,
pois “a manifestação do Espírito é dada a cada um para o que for útil” (12.7).
A lista dos dons e uma ilustração. Os versículos da Leitura Bíblica em Classe mencionam
nove dons: palavra da sabedoria, palavra da ciência, fé, dons de curar,
operação de maravilhas, profecia, discernimento de espíritos, variedade de
línguas e interpretação de línguas. Havendo intérprete, as línguas podem até
ser uma forma de manifestação profética, cf. 14.5. Outros dons aparecem no
versículo 28 e em Romanos 12.6-8.
Em seguida, a Bíblia ressalta que
o Espírito opera segundo a sua vontade na distribuição desses dons (12.11).
Ainda nesse mesmo capítulo (vv.12-27), o apóstolo ilustra o uso desses dons na
Igreja, comparando a sua boa e ordeira utilização ao corpo humano, no qual cada
membro tem uma função diferente e, mesmo assim, um depende do outro, sendo
todos igualmente importantes. Na Igreja, que é o corpo de Cristo — “vós sois o corpo
de Cristo e seus membros em particular” (v.27) —, não deveria ser diferente. O
capítulo 12 encerra-se, ensinando aos crentes a buscarem os “melhores dons”.
Nesse momento, Paulo introduz o tema do capítulo seguinte, o amor, que ele
chama de “caminho mais excelente” (12.31).
A IMPORTÂNCIA DO AMOR
A relação entre a caridade e os dons (14.1). A maneira como Paulo escreve parece indicar
que havia em Corinto uma competitividade na busca e utilização dos dons
espirituais entre os crentes desta igreja (12.29,30). O capítulo 14 inteiro
trata de dois deles: línguas e profecia. Em torno de ambos, havia muita
indisciplina no culto.
Os coríntios tinham de entender
que é Deus quem concede os dons, e cada um desses tem a sua importância no
Corpo de Cristo. Portanto, eles não tinham de que se gloriar. Paulo,
entretanto, incentiva os crentes a buscar os dons espirituais: “Segui a
caridade e procurai com zelo os dons espirituais, mas principalmente o de
profetizar” (14.1). A busca pelos dons, porém, deve ser feita com amor, não
tendo como motivação a disputa; tudo tem de ser feito com decência e ordem.
A nulidade dos dons sem caridade. Os dons espirituais devem ser buscados com zelo
e colocados em prática com amor. Profetizar, ou exibir qualquer das
manifestações do Espírito Santo sem a prática do amor em nada resulta, afirma o
apóstolo em 1 Coríntios 13.1-3.
A perenidade do amor. O amor é mais importante que os dons
espirituais, pois ele nos acompanhará até mesmo no céu, ao passo que os dons
espirituais são transitórios (13.8-10,13). Eles cessarão com o fim das
atividades da Igreja de Cristo na terra.
O DOM DE
PROFECIA (14.3)
1. Edificação. Todas as profecias devem ser devidamente
julgadas à luz da Bíblia, a fim de que não venham causar confusão à igreja nem
abalar a fé dos mais fracos. Há certos grupos que, sem o conhecimento do
pastor, reúnem-se em casas e põem-se a profetizar segundo o seu bel prazer, com
o intuito de manipular a fé dos imprudentes. Não podemos esquecer-nos de que um
dos principais objetivos da profecia é a edificação dos fiéis.
Exortação. A palavra original aqui para “exortação” é paraklēsis, de onde
procede o substantivo parákletos — “defensor, advogado, intercessor,
auxiliador, consolador, conselheiro” — que Jesus empregou para referir-se ao
Espírito Santo (Jo 14.16,26; 15.26; 16.7). O referido termo também é empregado
para o próprio Cristo e traduzido por “advogado” (1 Jo 2.1). Todos esses
significados revelam a missão da profecia, pois o Espírito inspira o profeta a
animar, despertar, alertar e falar palavras de encorajamento tanto à Igreja
como a alguém em particular.
3. Consolação. A consolação pelo Espírito fortalece a fé,
produz nova expectativa, renova a esperança e elimina os temores. Isso ajuda no
fortalecimento e edificação da Igreja. Esse tríplice propósito do dom de
profecia demonstra porque o apóstolo insiste e incentiva os crentes a buscarem
essa dádiva celestial.
Problemas no exercício do dom de
profecia na igreja são recorrentes; existem desde os dias apostólicos. Isso, no
entanto, não é motivo para se desprezar a manifestação do Espírito Santo. O
apóstolo Paulo, que lidou com tais problemas, nunca deixou de incentivar a
busca do referido dom. Por conseguinte, não devemos desprezar as profecias (1
Ts 5.20). Que o Senhor nos abençoe e conceda-nos graça para vivermos nos
domínios inefáveis do Espírito. Contudo, que todas as coisas sejam feitas “com
decência e ordem”, segundo a doutrina bíblica (1 Co 14.39,40).
“O problema que Paulo precisou lidar era o
abuso das línguas sem interpretação. Ele sabia que o Espírito quer usar a
manifestação dos dons para edificar a assembléia local espiritualmente e em
número. Assim, ele contrasta as línguas não interpretadas com a profecia.
Quando as línguas não são interpretadas, só Deus as entende. Nesse sentido
aquele que fala em línguas ‘não fala aos homens, se não a Deus’. (Por
conseguinte, ninguém na congregação entende o que é dito ou aprende algo.)
Ainda que o espírito humano seja suscetível ao Espírito de Deus, e o que fala
em línguas esteja sendo edificado, tudo o que é dito permanece em ‘mistérios’
(verdades secretas, verdades do evangelho; cf. 1 Co 2.7-10; Rm 16.25).Por outro
lado, a profecia está na língua que as pessoas entendem e apresenta uma
mensagem espontânea, dada pelo Espírito, que as edifica (as fortalece
espiritualmente, desenvolve e confirma a fé), as exorta (despertando-as e
ajudando-as a avançar em fidelidade e amor) e as consola (alegra, aviva e
produz esperança e expectativa)”.(HORTON, S. I & II
Coríntios: Os
problemas da Igreja e suas soluções. RJ: 1.ed. CPAD, 2003,
pp.130-1)
O amor na vida cristã
“V22. Mas o fruto do Espírito é
amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade. É notável a
formulação desta frase em relação ao versículo 19. A mudança de ‘obras’ para
‘fruto’ é importante porque remove a ênfase do esforço humano. É significativo
que Paulo use o singular ‘fruto’ e não o plural ‘frutos’.
Encabeçando a lista está ágape que
aparece sempre ao final dos catálogos das virtudes e manifesta deste modo como
princípio e fundamento de todas as demais virtudes. Este amor foi derramado em
nossos corações com o Espírito Santo e se manifesta na fé enquanto amor ‘meu’.
Ele dirige-se a Deus (Rm 8.28; 1 Co 2.9), a Cristo e ao próximo (Rm 13.8,10; Gl
5.13,14). O amor de Cristo Jesus está dentro dos nossos corações, tendo sido
derramado pelo Espírito Santo que atua como força vital divina que funde todos
os carismas, é invariável e permanente” (SOARES, G. Comentário
de Gálatas. 1.ed.
RJ: CPAD, 2009, p.134).
A
missão profética da Igreja
Palavra
Chave
Missão: [do lat. missio] Transmissão consciente e
planejada das Boas Novas.
No período do Antigo Testamento, a
voz de Deus na terra era manifesta através dos profetas, sendo a nação de
Israel o seu receptáculo. Em o Novo Testamento, o Senhor continua a falar com e
por meio de seus mensageiros. Essa percepção indica-nos que a missão profética
da Igreja consiste em levar o evangelho de Jesus Cristo a todos os povos, pois
é através desta que Deus ainda fala.
A
PERSEGUIÇÃO
Os primórdios da igreja em uma
cidade. A missão da
Igreja é proclamar de modo persistente e incessante a obra redentora do
Calvário a todos os povos. Jesus disse: “[...] e ser-me-eis testemunhas tanto
em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até os confins da terra” (At
1.8). Entretanto, apesar dessa ordem e de já haver recebido o Espírito Santo no
Pentecostes, a Igreja permaneceu limitada a Jerusalém, pelo menos até ao
martírio de Estevão.
A dispersão dos discípulos (v.4). Após a morte de Estevão (primeiro mártir da
Igreja), houve “uma grande perseguição contra a igreja que estava em Jerusalém”
(8.1), de tal modo que os crentes tiveram que se dispersar. Os que “andavam
dispersos iam por toda parte anunciando a palavra” (v.4).
A expressão “por toda parte”
incluía regiões como a Fenícia, Chipre e Antioquia, muito além dos termos de
Israel (At 11.19). Isso indica que a determinação do Mestre começou a ser
cumprida segundo os termos da Grande Comissão. Certamente Deus permitiu tal
perseguição com o intuito de retirar os discípulos do seu comodismo e inércia.
Deus pode tornar o mal em bem. Assim como a diáspora judaica serviu para
propagar o judaísmo, a dispersão dos discípulos contribuiu para uma ampla e
contínua disseminação do evangelho. Como afirma a Palavra de Deus: “[...] todas
as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8.28).
OS SAMARITANOS
A ordem de Jesus derruba barreiras étnicas. Após a sua ressurreição dentre os mortos, o
Senhor Jesus Cristo mandou seus discípulos pregar o evangelho em todas as
partes, inclusive em Samaria (At 1.8).
Samaria (v.5). Inicialmente, tratava-se do monte de Israel
que Onri, pai do rei Acabe, comprara de Semer, de onde vem o nome “Samaria” ou
“Samária” (1 Rs 16.24). No período romano, a cidade era conhecida pelo nome de
Sebaste (venerável), nome dado por Herodes, o Grande. A mistura étnico-religiosa
dos moradores da região começou a se dar a partir de 722 a.C, quando os
assírios levaram as dez tribos do Norte para o cativeiro (2 Rs 17.26,29,33).
Judeus e samaritanos. A animosidade no relacionamento entre judeus e
samaritanos nos dias de Jesus era algo muito marcante (Lc 9.52,53; Jo 4.9). No
entanto, o motivo para as desavenças era mais uma questão religiosa (Jo 4.20)
do que política, pois, na verdade, ambos tiveram uma origem comum. Apesar desse
clima tenso, Jesus amava-os, e seu encontro com a mulher samaritana resultou na
conversão de toda aquela aldeia para o Reino de Deus (Jo 4.39-42).
O EVANGELHO EM SAMARIA
“Descendo Filipe à cidade de Samaria, lhes
pregava a Cristo” (v.5). Filipe era
um dos sete homens escolhidos para servir como diácono. Não demorou muito para
que ele tornasse pública a sua vocação de evangelista (At 21.8). Seu
companheiro Estevão, também um dos sete (At 6.5), fora assassinado,
sucedendo-se uma perseguição feroz liderada por Saulo (8.3). Naquela ocasião,
Filipe obedeceu ao ensino de Jesus Cristo, seguindo para outra cidade (Mt
10.23), a saber: Samaria.
A presença divina (vv.6,7). Os milagres que os discípulos realizavam em
nome de Jesus evidenciavam a presença de Deus entre os crentes. Não há como
fugir: religião sem o sobrenatural é mera filosofia. O próprio ministério de
Jesus era baseado na trilogia: pregação, ensino e milagres (Mt 4.23). Ele
conferiu essa autoridade à sua Igreja (Mt 10.7,8), e reiterou essa verdade
diversas vezes em Atos (8.15,17-19,39) e também em Marcos 16.17-20.
Nasce a igreja dos samaritanos (v.12), e os
apóstolos Pedro e João dão sequência ao trabalho (vv.14,15).O tema
central do evangelho é Jesus Cristo. E Filipe foi fiel a isso, pois “pregava
acerca do Reino de Deus e do nome de Jesus Cristo” (v.12). Como a mensagem
genuinamente evangelística e cristocêntrica resulta em bênçãos divinas e
conversões, havia muita alegria na cidade (v.8). A pregação de Filipe era
acompanhada de cura e libertação, por isso, atraiu toda a população de Samaria.
Muitos se converteram ao evangelho e, como aconteceu em Jerusalém no Dia de
Pentecostes, foi realizado um batismo em água, que marcou o início da igreja
naquela localidade.
Ora, a pregação da Palavra e a
“colheita de almas”, se não forem seguidas pelo ensino da Palavra (Mc 16.15; Mt
28.19,20), produzem crentes anêmicos. Portanto, quando a igreja de Jerusalém
tomou conhecimento da evangelização de Samaria, enviou de imediato Pedro e João
para discipular os novos irmãos. O mesmo João que desejava fazer cair fogo do
céu para consumi-los (Lc 9.54), é um dos enviados para ajudá-los (At 8.14). A
ajuda foi fundamental, uma vez que, além de encorajar os novos convertidos com
o ensino da Palavra, os apóstolos foram usados por Deus para levar os irmãos a
receberem o batismo no Espírito Santo: “[...] tendo descido, oraram por eles
para que recebessem o Espírito Santo” (At 8.15,17).
A missão da Igreja é levar as
boas-novas de salvação e, justamente, por essa razão, o evangelho contempla
todas as etnias; desconhece fronteiras. Onde quer que ele chega, os
preconceitos são removidos e o Espírito Santo começa a operar. O Senhor Jesus
eliminou as barreiras entre judeus e samaritanos e entre judeus e gentios. A
Bíblia classifica a humanidade em três grupos de povos: os judeus, os gentios e
a Igreja (1 Co 10.32,33). Temos o grande privilégio de fazer parte do último, porém,
temos o dever de anunciar aos demais a Palavra do Senhor. Cumpramos, pois,
integralmente, a missão profética da Igreja de Cristo.
“Tendo descido, oraram por eles
para que recebessem o Espírito Santo (8.15).
Lucas acrescenta uma nota de
explicação porque este é um evento extraordinário, e não um padrão do século I
ou de hoje. Eles oraram e impuseram as mãos sobre eles ‘porque sobre nenhum
deles [o Espírito Santo] havia ainda descido’ (8.16,17). Por que aqui, e
somente aqui, a oração e a imposição de mãos estão associadas com a descida do
Espírito Santo sobre os crentes em Jesus?
Devemos nos lembrar de que a
hostilidade profundamente enraizada e a competição religiosa haviam existido
entre os judeus e os samaritanos durante muitas gerações. Ao dar o Espírito
Santo por intermédio de Pedro e João, o Senhor deixou claro (1) que a igreja
era uma só, e (2) que os apóstolos eram seus líderes autorizados. Sem esta
evidência de unidade e autoridade, os samaritanos poderiam perfeitamente bem
ter iniciado um movimento dissidente. E sem ela, os cristãos judeus poderiam
não estar dispostos a aceitar os samaritanos como membros, juntamente com eles,
do Corpo de Cristo”.(RICHARDS, O. L. Comentário
Histórico-Cultural do Novo Testamento. RJ: CPAD, 2007,
p.262)
O Ministério da Igreja
“A Igreja é o estandarte da
reconciliação entre a humanidade e Deus, e dos seres humanos entre si. [...] O
ministério à Igreja inclui o compartilhar da vida divina. Só temos a dinâmica
daquela vida à medida que permanecermos nEle e continuarmos repassando a sua
vida uns aos outros dentro do Corpo. Esse processo de edificação é descrito por
Paulo como relacionamentos de mútua confiança: pertencermos uns aos outros,
precisamos uns dos outros, afetamos uns aos outros (Ef 4.13-16). Essa mútua
confiança inclui abnegação para ajudarmos a suprir as necessidades uns dos
outros. Não somos um clube social, mas sim, um exército que exige mútua
cooperação e solicitude ao enfrentarmos o mundo, negarmos a carne e resistirmos
ao diabo” (HORTON, S. M. (ed). Teologia
Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. RJ:
12.ed. CPAD, 2009, pp.600-1).
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