Ciência e Fé-Isaac Newton
“Em minha opinião, os maiores gênios criativos são Galileu e
Newton, os quais eu considero, de certa forma, como partes de uma unidade. E,
nesta unidade, Newton é aquele que realizou o mais imponente feito no domínio
da ciência. Os dois foram os primeiros a criar um sistema da Mecânica,
fundamentado em poucas leis e dando uma teoria geral dos movimentos, que
representa, em sua totalidade, os acontecimentos de nosso mundo.” Albert Einstein
Quase todos já ouviram falar de Isaac Newton (1642-1727), o
homem que formulou a teoria da gravidade, considerado o pai da Ciência moderna.
Poucos sabem, porém, dos enormes obstáculos que enfrentou nas primeiras fases
de sua vida.
Sua infância e juventude
Desde o princípio, parecia que tudo conspirava contra ele.
Nasceu de parto prematuro, no dia de Natal de 1642 (ano da morte de Galileu),
em Woolsthorpe, Inglaterra. O pai, um rico fazendeiro, havia morrido três meses
antes. Além de quase morrer durante o parto, o menino não pôde ser amamentado
pela mãe, Hanna, que estava muito doente e debilitada. Passou os primeiros dias
em uma caixa de sapatos, atrás do fogão a lenha.
Quando tinha apenas 2 anos de idade, sua mãe casou-se com um
ministro da Igreja Anglicana. Por exigência dele, Isaac foi deixado aos
cuidados dos avós. Estes, por sua vez, trataram-no com desprezo e indiferença
apesar de serem cristãos. Newton apanhava sem motivos e ouvia constantemente
que a morte do pai acontecera por culpa de seus pecados, sendo que ele nem
mesmo havia nascido naquela época. Com isso, o garoto tornou-se introvertido e
solitário. Achava mais felicidade em meditar sobre a natureza do que em
relacionar-se com outros.
Como jovem, não se adaptou bem às obrigações e aos serviços que
ficavam a seu encargo na fazenda. As cercas caíam, e, muitas vezes, ele era
obrigado a pagar multas porque os animais invadiam as propriedades vizinhas.
Fisicamente fraco, não participava dos jogos e brincadeiras de
luta, comuns entre os meninos da época. Só começou a estudar aos 11 anos, mesmo
contra a vontade de seus parentes. Foi nessa época que sua mãe, viúva pela
segunda vez, voltou para a casa na fazenda, onde estavam os pais dela e o
filho.
Devido aos problemas emocionais e traumas, foi classificado como
um aluno fraco, preguiçoso e inativo pelos professores. Passava grande parte do
tempo sozinho, fazendo pipas, relógios de sol e pequenos inventos. Aos 13 anos,
projetou um moinho de vento tão perfeito que deixou todos admirados e logo foi
construído em sua cidade.
Por não acompanhar o desempenho dos outros alunos, foi retirado
da escola. Mas um tio, que não o via há muito tempo, percebeu seu potencial e
prometeu custear seus estudos até que chegasse à faculdade, desde que houvesse
dedicação por parte do menino. Em 1660, conseguiu entrar na Universidade de
Cambridge, onde se formou em 1665.
Um homem de Ciência
Logo após a conclusão do curso, quando estava com 24 anos, a
Universidade entrou em recesso por causa da peste negra que assolava a Europa,
e Newton voltou para a casa de sua mãe em Woolsthorpe. Durante um período de
dois anos de reclusão ali, desenvolveu algumas de suas principais descobertas,
incluindo um conjunto de teorias (como a da gravidade universal) que mudariam o
pensamento das pessoas e sua percepção do mundo. Entretanto, ninguém ainda
imaginava o que aquele jovem distraído e sonhador realmente estava fazendo.
De volta à Universidade, tornou-se professor de Matemática e
destacou-se cada vez mais por causa de suas contribuições. Embora não fosse um
excelente comunicador para o público em geral, suas explicações do Universo,
desde o movimento dos planetas, até a oscilação de um pêndulo e a formação de
um arco-íris, impressionaram muito os colegas da Universidade. Algumas de suas
palestras obrigatórias como professor foram feitas diante de auditórios vazios.
Mesmo assim, alcançou fama e grande destaque por causa de suas descobertas,
invenções e teorias.
Unindo, de forma extraordinária, a observação cuidadosa com a
matemática pura, Newton criou a ciência da Mecânica que mudou o conceito do
mundo baseado, até então, na cosmologia de Aristóteles. Newton demonstrou que
era possível escrever equações precisas sobre a força da gravidade sem tentar
explicar exatamente o que era. Essa força misteriosa (e não as esferas vítreas
de Aristóteles) mantinha todos os astros em seus lugares, explicava os
movimentos dos planetas e a velocidade da queda de objetos de tamanhos
diferentes. Explicava também por que a atmosfera permanece junto à Terra
enquanto ela se desloca em altíssima velocidade ao redor do Sol.
Um homem de Teologia
Quando estava no auge de reconhecimento e fama, Newton embarcou
numa curiosa jornada de investigação teológica. Provavelmente motivado pela
exigência de ser ordenado na Igreja Anglicana oficial para poder manter sua
cadeira de Matemática na Universidade, ele iniciou uma longa reflexão sobre as
doutrinas cristãs.
A influência negativa de sua família cristã durante a criação
certamente exerceu um papel importante no pensamento de Newton. Quando era mais
novo, o desejo de que toda a família estivesse trancada em uma casa tomada por
chamas assombrava sua mente. Com o passar do tempo, porém, ele se arrependera
desse sentimento, pois o igualaria aos próprios malfeitores. Em vez de
revoltar-se contra Deus, entregando-se ao ateísmo que crescia na época, Newton procurava
entender como as coisas funcionavam, aceitando sua origem e explicação em Deus.
Em seus longos momentos de solitude e meditação sobre os fenômenos naturais,
teve um encontro com o Criador. Esse período de busca foi aumentando ao longo
de sua vida.
Passou a dedicar boa parte de seu tempo ao estudo detalhado,
ponto por ponto, dos livros proféticos de Daniel e Apocalipse, procurando a
chave para desvendar o que aconteceria no final dos tempos. Estudou, também, a
Bíblia como um todo, lendo os originais grego e hebraico. No fim, escreveu
muito mais sobre questões teológicas do que qualquer outro assunto. Em um dos
manuscritos, sobre o livro de Daniel, Newton chegou à conclusão de que o mundo
deveria acabar por volta do ano de 2060. “Ele pode acabar depois dessa data,
mas não há razão para acabar antes”, concluiu.
Algumas das conclusões teológicas de Newton não foram muito
ortodoxas. Para ele, a posição teológica da Igreja Anglicana representava uma
deturpação completa do cristianismo original, e a doutrina da Trindade era um
engano iniciado por Atanásio no quarto século. Considerava tanto a Igreja
Católica quanto a Anglicana como a grande meretriz do Apocalipse. Ser ordenado
por uma delas seria adorar a Besta e receber sua marca.
Diante de tudo isso, Newton achava que não o aceitariam mais na
Universidade. Mas não foi o que aconteceu. Abriram uma exceção e mantiveram-no
como professor sem precisar da ordenação. Seu interesse por assuntos
teológicos, porém, persistiu e foi tão importante em sua vida quanto a pesquisa
científica.
Harmonizando Ciência e Fé
Apesar de não demonstrar interesse algum pela divulgação dos
próprios trabalhos científicos, Newton adotava um comportamento oposto em
relação a Deus e à sua Palavra, empenhando-se na distribuição de Bíblias para
os pobres. Em contraste com gerações posteriores de cientistas que usaram suas
ideias para construir um modelo mecânico e deísta do Universo, ele sempre
procurou harmonizar a Ciência com a fé em Deus. Em sua obra mais famosa, Principia, escreveu:
“Esse belíssimo sistema do Sol, dos planetas e dos cometas só poderia provir do
plano e da sabedoria de um Ser inteligente e poderoso. (…) Esse Ser rege todas
as coisas, não como a alma do Universo, mas como o Senhor de todas as coisas;
e, em virtude de seu domínio, ele é chamado de Senhor Deus, ou Senhor do
Universo. (…) Nele estão contidas e se movem todas as coisas”.
Esses aspectos da vida de Newton são ignorados ou
malcompreendidos pelos pesquisadores ou biógrafos de hoje. A Enciclopédia Britânica inclui
sua Emenda da Cronologia dos Reis Antigos e
Observações Sobre as Profecias de Daniel e o Apocalipse de São João entre
as cinco obras mais importantes de Newton. Mas os pesquisadores não conseguem
encontrar uma razão para o fato de um dos mais importantes cientistas que já
existiram “desperdiçar” grande parte de seu tempo buscando Deus e estudando a
Bíblia.
Estranhamente, a biografia escrita por Michael White e publicada
pela Editora Globo até cita como fato verdadeiro a queda de uma maçã em sua
cabeça (história tida como fictícia por várias fontes), mas não dedica uma
linha sequer às suas publicações teológicas.
José Luiz Goldfarb, historiador da ciência e professor de
pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP),
observa que não foi “apesar de sua fé” que Newton conseguiu grandes descobertas
cientificas, mas justamente por causa dela. Foram os estudos bíblicos de Newton
que lhe proporcionaram uma sensibilidade mais crítica e moderna. Uma tentativa
de estudar as profecias de forma quase matemática, usando cronologias
detalhadas, abriu as portas para o entendimento dos fenômenos naturais pouco
compreendidos até o seu tempo.
Para muitos cientistas, a fé em Deus desestimula a pesquisa, a
procura de um entendimento cada vez mais acurado das causas naturais, das
explicações por trás dos fenômenos e das soluções para os mais variados
problemas que o homem enfrenta no planeta Terra e no Universo. Se tudo foi
criado por Deus, se ele guarda os mistérios da vida em seu poder, por que
tentar desvendá-los? Newton (entre tantos outros) mostrou definitivamente que
isso não é verdade. Uma das mentes mais produtivas e inquisitivas da História
não sentiu conflito algum entre aceitar um Deus criador, presente e ativo em
todas as esferas da vida, e a intensa busca de um entendimento mais completo do
funcionamento de todas as coisas.
Goldfarb vê indício do interesse bíblico de Newton na própria
formulação da lei da gravidade. “No hebraico bíblico existe a palavra makom, que significa
‘lugar’. Mas, com a evolução do pensamento rabínico, ela passa a designar a
própria divindade. Newton cita essa palavra em seus escritos e parece ter usado
o conceito para explicar como a gravidade atuava à distância – como a gravidade
do Sol atrai a Terra, por exemplo. É como se entre o Sol e a Terra houvesse um makom, que é Deus, o qual
está em todos os lugares”, diz o pesquisador.
Com base em Naum 2.4 (“Os
carros passam furiosamente pelas ruas, e se cruzam velozes pelas praças;
parecem tochas, correm como relâmpago”), Newton entendeu que a
Ciência evoluiria a ponto de desenvolver meios de transporte ainda
inimagináveis à sua geração, e que os carros andariam a mais de 80 km/h.
Lembra-se de Voltaire, o inimigo declarado da Bíblia? Veja o que
ele escreveu sobre esta conclusão de Newton: “Vejam vocês a que ponto pode
chegar o cérebro deste homem que descobriu a gravidade e nos revelou maravilhas
admiráveis. Ao ficar velho e caduco, Newton começou a estudar esse tal livro
que chama de Sagrada Escritura e, para mostrar fé no fabuloso absurdo deste
livro, afirma que devemos acreditar que o conhecimento humano aumentará a tal
ponto que seremos capazes de viajar a 80 km/h. Isso é ridículo!” Agora cabe a
você decidir quem é o caduco e ridículo. Voltaire, que desacreditava na Bíblia,
ou Newton, que era um crente convicto? (Rodrigo P. Silva em Eles criam em Deus, Casa
Publicadora Brasileira).
Contribuições científicas de Isaac Newton
Com pouco mais de 20 anos de idade, Newton já havia assimilado
por completo o trabalho de todos os matemáticos notáveis do mundo. Foi então,
depois de esgotar todo o conhecimento comum, que começou a desenvolver seus
próprios teoremas e métodos para criar os fundamentos matemáticos de seu
trabalho científico. Uma das primeiras coisas que fez foi encontrar a resposta
para um problema que vinha desafiando os matemáticos há tempos, usando o
teorema que mais tarde se tornaria conhecido como o binômio de Newton.
Posteriormente, começou a trabalhar naquilo que produziria o
maior desenvolvimento na história da Matemática — o cálculo. Hoje, tanto o
famoso binômio quanto o cálculo são usados em programas de computação, enquanto
engenheiros espaciais os empregam para ajudar a resolver problemas matemáticos
complexos, tais como aqueles destinados a garantir a chegada dos foguetes à
Lua, a mais de 380 mil quilômetros de distância, e o retorno à Terra em
segurança.
Projetou-se na vida pública por meio de seu livro Principia (Princípios
Matemáticos da Filosofia Natural) – o mais influente livro já escrito sobre
Matemática e Física, servindo como base para outros estudos por mais de 100
anos. Nele, descreve a lei da gravidade universal e as três leis de Newton (da
dinâmica), além de muitas outras descobertas que determinaram o momento
culminante da revolução científica. Mas, na época da publicação, ninguém
conseguia compreender o que fora escrito. Um aluno da universidade, apontando
para Newton, disse: “Aí está o homem que escreveu um livro que ninguém
compreende, nem ele próprio!”
Deixou vários manuscritos inacabados sobre química. Fez
ponderações acerca da estrutura da matéria, sobre a qual dizia que se
constituía por partículas móveis que possuíam uma força inimaginável (o que
levou mais de 200 anos para ser comprovado por Einstein).
Foi o primeiro cientista a receber o titulo de Cavaleiro da
Coroa Inglesa. Em uma pesquisa promovida pela renomada instituição Royal
Society, Newton foi considerado o cientista que causou maior impacto na
história da Ciência.
“Talvez, a maior das contribuições de Newton tenha sido as leis
da mecânica, capazes de explicar como as forças agem sobre os corpos em repouso
ou em movimento. E, aplicando essas leis a qualquer sistema mecânico, é
possível prever o efeito que uma força terá sobre qualquer objeto. Essas leis
são usadas, em conjunto, em todas as áreas da Ciência – do desenho de carros e
barcos à previsão do curso das naves espaciais enviadas à Lua; da fabricação de
motores de avião à produção de patins aerodinâmicos. Newton também desenvolveu
a teoria da gravidade para explicar como os planetas viajam em volta do Sol. A
mesma teoria explica por que não flutuamos, mas sim permanecemos firmemente
presos à Terra. Newton dedicou-se ainda a muitas outras áreas da Física. Suas
teorias sobre a luz ajudaram cientistas e engenheiros a projetar melhores
telescópios e microscópios, óculos e câmeras. Suas descobertas no campo da
ótica levaram a invenções tais como a televisão e o laser. Armadas com essas
teorias, gerações e gerações de físicos puderam desenvolver os conceitos de
Newton em máquinas e aparelhos utilizados atualmente por todos nós” (Isaac
Newton
· NOTAS REVISTA IMPACTO
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