COLOSSENCES COMBATENDO AS HERESIAS
A Cidade de Colossos
Colossos era uma cidade importante,
situada nas proximidades do rio Meander, no vale do Licoe, por isso,
acompanhava a principal rota comercial que ligava
as cidades da Frígia, no leste, com
Éfeso, no oeste. Os registros históricos indicam que essa cidade
desfrutava de imensa riqueza e prestígio, nos tempos antigos (anterior a 400
a.C.). Graças a seus interesses comerciais, Colossos havia sido uma cidade
cosmopolita importante, que incluía diferentes elementos religiosos e
culturais. A população judaica devia-se em parte a Antíoco III, que
fixou cerca de dois mil judeus da Mesopotâmia e da Babilônia nessa área, em
torno do ano 200 a.C. Observa G.L. Munn que "ao redor de 62
a.C. os judeus do vale do Lico eram tão numerosos que o governador
romano proibiu a exportação de dinheiro destinado a pagar o imposto do
templo." Conforme Cícero, haveria uns dez mil judeus residentes
naquela área da Frígia.
A importância de Colossos como cidade
diminuiu nos períodos helenístico e romano. Na época do apóstolo Paulo, era a
cidade menos importante da área. Registram os historiadores que ela havia sido
severamente devastada por um terremoto em 61 d.C. e, diferentemente das cidades
vizinhas de Laodicéia (cerca de dezesseis quilômetros a oeste), e Hierápolis (cerca
de vinte e cinco quilômetros),Colossos jamais
foi reconstruída. O local havia sido completamente abandonado em torno
do século oitavo d.C, e até hoje nenhuma obra arqueológica foi
realizada em suas ruínas.
A Igreja em Colossos
Pouco se sabe a respeito da fundação da
igreja colossense. O livro de Atos não registra especificamente uma visita
que Paulo houvesse realizado a Colossos, embora alguns eruditos como BoReicke tenham
sugerido que o apóstolo poderia ter ido a essa cidade e a outras do vale do Lico,
em sua terceira viagem missionária. Teria sido quando Paulo passou
"sucessivamente pela província da Galácia e da Frígia" (18:23) e
"pela estrada do interior" a caminho de Éfeso (19:1). Para Reicke,
isto significa os vales do Lico e do Meander, que teriam sido
acessíveis pela estrada comercial que ligava Colossos à Antioquia da Pisídia.
Se isto for verdade, Paulo poderia ser
considerado o fundador da igreja. Ele conhece vários membros da congregação
(4:7-17; Filemom); os que não o conhecem pessoalmente (2:1) poderiam ser novos
convertidos. As evidências internas da epístola induzem o leitor a crer que os
colossenses haviam ouvido as boas-novas pela primeira vez da parte de Epafras (1:7),
que era de Colossos (4:12), e se tornara um dos colaboradores de Paulo no vale
do Lico (4:13). É possível que Epafras tenha ouvido o
ensino de Paulo em Éfeso, tenha-se convertido ao cristianismo e voltado para
sua terra a fim de fundar ali uma igreja. De acordo com esta reconstrução,
Paulo estaria relacionado — indiretamente — à fundação dessa igreja. Dir-se-ia
o mesmo a respeito de outras igrejas que foram fundadas como resultado de seu
ministério em Éfeso ("de modo que todos os que habitavam na Ásia ouviram a
palavra do Senhor Jesus, tanto judeus como gregos", Atos 19:10).
Os Falsos Ensinos
Os falsos ensinos que estavam ameaçando
a igreja colossense são melhor descritos como um sistema
religioso sincrético, isto é, uma mistura
de elementos religiosos e filosóficos diversificados, provenientes de
culturas orientais, gregas, romanas e judaicas. A Frígia, área em que se
localizava a cidade de Colossos, era a terra de Cibele, a grande mãe e deusa da fertilidade. Certas
descrições das características das heresias colossenses podem relacionar-se às
crenças e costumes dessa seita popular.
Visto que Paulo não enquadra a heresia colossense de
maneira sistemática, temos que reconstruí-la com base em algumas palavras e
idéias que ele emprega, bem como em nossa compreensão dos sistemas religiosos
de seus dias. Os leitores de Paulo já conheciam os pontos básicos de seu
ensino, pelo que se tornava desnecessário que o apóstolo os descrevesse em
minúcias. É possível que a complexidade do sistema herético teria induzido
os cristãos colossenses a crer que ali estava uma solução melhor para as
esperanças e temores religiosos do povo, em vez do evangelho simples que haviam
ouvido da parte deEpafras.
Os falsos ensinos tinham vários
componentes principais, todos interligados de várias maneiras:
Astrologia. Na carta, Paulo adverte seus leitores a
respeito de "os rudimentos do mundo"(stoicheia tou kosmou, 2:8),
"os principados e as potestades" (2:15), e "culto aos
anjos" (2:18). No pensamento antigo, Moicheia eram os
princípios básicos ou fundamentais do conhecimento e da criação,
constituindo a totalidade do mundo. Sob a influência do sincretismo helenístico,
inclusive a filosofia de Pitágoras, estes "rudimentos do mundo" foram
promovidos ao status de "espíritos", personificados
como governantes cósmicos, e divinizados de acordo com todos os demais corpos
astrais do universo.
Um dos princípios básicos da astrologia
é que existe correspondência entre os movimentos dos deuses lá em cima, e as
alterações que ocorrem aqui em baixo, na terra. As pessoas acreditavam que suas
vidas eram controladas por essas divindades estelares, e por isso procuravam
aplacá-las mediante adoração, ou diminuir-lhes o poder mediante a feitiçaria,
os rituais mágicos, despachos, e assim por diante. Certas crendices e costumes
que Paulo expõe em sua carta relacionam-se à astrologia. Até mesmo o culto aos
anjos pode ter vindo da idéia de que eles são poderes que controlam os destinos
das pessoas (a sorte), e precisam ser venerados. Lohse sugere que em
alguns meandros da especulação judaica, "as próprias estrelas eram
consideradas como um tipo distinto de anjos."
Gnosticismo. Este componente da heresia colossense pode
explicar algumas referências como "filosofias e vãs sutilezas" (2:8),
"tradição dos homens" (2:8), julgamentos "pelo comer, ou pelo
beber" (2:16, 20-22), pessoas enfatuadas "sem motivo algum na sua
mente carnal" (2:18), "humildade fingida" (2:23), e
"severidade para com o corpo" (2:23).
Gnosticismo é o nome que se dá a
um sistema religioso complexo, sincrético, em cujo ensino o conhecimento (gnosis) assume
importância crucial. Visto que o gnosticismo subsiste numa grande
variedade de formas, não há um movimento unificado que possa ser
apropriadamente chamado degnosticismo. Grande parte do debate erudito de hoje
centraliza-se ao redor da datação e das doutrinas desta heresia, que confrontou
a Igreja em seus primórdios históricos.
Pode-se encontrar em Colossenses alguns
traços de cosmologia, soteriologia (teorias concernentes à salvação),
e de ética. Os gnósticos aceitavam a idéia grega de um dualismo
radical entre o espírito (Deus) e a matéria (o mundo). Ensinavam que a
humanidade estaria separada de Deus por uma variedade de esferas cósmicas
(usualmente sete), habitadas e governadas por todo tipo de governadores,
principados e poderes espirituais. Estas são as regiões em que devemos penetrar, se
quisermos obter acesso ao céu.
A salvação, que consiste basicamente da
ascensão da alma da terra ao céu, torna-se possível mediante o gnosis. Este
conhecimento salvífico está a nossa disposição mediante alguns meios,
tais como a instrução doutrinária, ritualismo, a profecia, a iniciação
sacramental e a descoberta de si próprio; tudo isso capacita a pessoa
a voltar ao reino da luz, onde a alma de novo se une a Deus.
A vida ética dos gnósticos tomou
duas direções principais. Alguns partiram para um ascetismo rígido. Por
acreditar que o mundo é mau, separaram-se da "matéria" com o objetivo
de evitar maior contaminação. Todos os apetites do corpo tinham que ser
severamente restringidos. Entretanto, outrosgnósticos praticavam a
libertinagem, raciocinando que à vista de ser o corpo mau por natureza, a
indulgência maior nas práticas imorais não teria quaisquer conseqüências
sérias. Além disso, achavam que possuíam um gnosis sobrenatural
de sua "verdadeira" natureza, pelo que pouco importava o modo por que
viviam.
Os falsos mestres de Colossos
apegavam-se a um sistema rígido de leis e regulamentos que julgavam necessário
para controlar seu comportamento. Tais regras, combinadas com certas formas de
legalismo judaico, explicam "manifesto da liberdade cristã" de Paulo,
em 2:16-23. Basicamente ele ensina que tais dogmas são transitórios (2:17),
causam divisões (2:18), escravizam (2:20), são temporários (2:22) e inúteis
(2:23). Para Paulo, trata-se de "preceitos e ensinamentos dos homens"
(2:22), nada tendo que ver com o verdadeiro evangelho que vem de Cristo (2:8).
Religiões de Mistério. O termo religião de mistério é
nome dado a uma diversidade de credos e práticas que existiram em certa época,
entre o oitavo e o quarto século a.C. Chamam-se de mistérioporque
grande parte de seu ensino e atividades ritualísticas se faziam em segredo.
Em Colossenses, pode haver uma alusão
aos mistérios nas frases "plenitude da divindade" (2:9),
"afetando humildade" e "baseando-se em visões" (2:18). Os
iniciados nos mistérios receberiam conhecimento e visões especiais sobre os
segredos do universo. Isto, por sua vez, separaria tais pessoas dos
não-iniciados, criando divisões na sociedade.
Judaísmo Helenístico. As referências à circuncisão (2:11), a
dias santificados, à festa da lua nova, ao sábado (2:16) e ao culto aos anjos
(2:18), definitivamente são elementos
judaicos. Entretanto, não se trata do judaísmo ortodoxo da Palestina;
antes, é o judaísmo que sofreu o processo dahelenização. Assim, faz parte da
"filosofia" sincrética (2:8) que ameaçava os cristãos de Colossos.
Paulo não seleciona esse elemento judaico, mas ataca-o juntamente com todo o
sistema.
A solução paulina para a heresia colossense encontra-se
na aplicação do hino a Cristo (1:15-20), que estabelece a preeminência de
Cristo no universo (cosmicamente), e na Igreja (eclesiasticamente). Visto ser
Cristo superior a todo e qualquer poder do cosmos (1:15-17; 2:10) e ter,
efetivamente, derrotado esses poderes na cruz (2:15), por que continuariam os
crentes a viver como se ainda se lhes estivessem sujeitos? Os cristãos foram
libertados de tais poderes por causa de sua união com Cristo no batismo (2:20).
Grande parte disso aplica-se à vida
espiritual do crente. O crescimento, a maturidade e a integridade dos membros
do corpo advêm de seu relacionamento com Cristo, a Cabeça (2:19), excluindo o
retorno às regras e regulamentos escravizadoras, legalísticos, que
Cristo anulou mediante sua morte (2:14). O propósito da exortação de 3:1, e
versículos seguintes, é lembrar a esses crentes de que precisam viver
eticamente aquilo que lhes pertence, segundo a teologia, visto serem membros do
Corpo de Cristo.
O Propósito da Carta
Se a razão por que Colossenses foi
escrita liga-se ao relatório de Epafras a respeito dos falsos ensinos
que ameaçavam a igreja, daí se segue que o propósito da carta foi advertir seus
leitores contra essas heresias, e fazê-los lembrar-se da verdade do evangelho
que já haviam recebido, e na qual agora viviam (1:5). Basicamente Paulo está dizendo-lhes que Cristo
derrotou os poderes do mal mediante sua morte na cruz (2:15). Isto
significa que os falsos ensinos e as leis escravizadoras provenientes
da sabedoria humana, e dos espíritos que governam o universo (2:8), nenhuma
autoridade exercem sobre os crentes (2:10); a prisão em que antigamente
atormentavam as pessoas, na forma de débitos não-pagos, foi cancelada (2:14).
Paulo quer que seus leitores entendam esta verdade, pelo que os leva a
lembrar-se de que devem andar na luz das tradições que receberam sobre Cristo e
o evangelho.
Este fato explica as muitas referências
à verdade do evangelho (1:5, 6, 25-27; 2:8, 9, 12, 13), e as admoestações
a que se compreenda e se viva tal esperança (1:9, 10, 12, 23, 28; 2:2, 3, 5-7).
As exortações éticas (3:1ss.) constituem um lembrete adicional aos colossenses,
para que vivam em união com Cristo, e sob a autoridade do Senhor exaltado.
Segundo o modo de Paulo entender o
evangelho, não há lugar para nenhum tipo de exclusivismo. Seu conceito do
"mistério" que ele foi chamado para proclamar é que judeus e gentios,
bem como o universo inteiro, foram incluídos no plano de Deus de redenção (1:20,
25-29). Assim é que ele se regozija porque "em todo o mundo este evangelho
vai frutificando" (1:6, 23). O desejo de Paulo é que durante seu
encarceramento — e também depois — ele possa continuar sua proclamação
desse mistério (4:3, 4).
Um dos perigos dos falsos ensinos em qualquer
congregação é que eles distorcem o plano de Deus, transformando-o em
exclusivismo. Os que seguem as "tradições dos homens" colocam-se no
topo, como elite espiritual iluminada, crendo que sua sabedoria e legalismo
tornam-nos diferentes dos demais membros do corpo de Cristo. Em oposição ao
exclusivismo, Paulo é inspirado a escrever que os crentes já foram
circuncidados na união com Cristo (2:11, 12) e, como resultado de tal união,
"não há grego nem judeu" (3:11; observe GNB: "deixa de existir
quaisquer distinções entre gentios e judeus").
Autoria
A autoria paulina de Colossenses foi
aceita universalmente até o erudito alemão E. Meyerhoffvir a questioná-la
em 1893, em grande parte por causa dessa carta depender muito de
Efésios. Seguiu-se-lhe F.C. Baur, que ensinava que a heresia
descrita em Colossenses só poderia pertencer ao segundo século. A partir de
então, alguns eruditos têm entendido que Colossenses é carta paulina, ou se
trata de uma das epístolas deutero-paulinas, isto é, seria uma carta
escrita por alguém que usa o nome de Paulo.
As questões sobre a autoria
centralizam-se nos pontos usuais do vocabulário, estilo e teologia.Colossenses possui um número inusitadamente elevado
de hapax legomema, a saber, contém trinta e quatro palavras que não
aparecem em nenhuma outra parte do NT. Além disso, há vinte e oito palavras que aparecem no NT, não porém nos escritos de Paulo. Certo número de
eruditos questionam se isto poderia ocorrer, não fosse Colossenses obra de
outro autor.
O estilo da carta é algo diferente das
outras atribuídas indiscutivelmente a Paulo. Os eruditos observaram que Paulo
geralmente trata dos problemas teológicos de maneira vigorosa, ou polêmica (cf.
Gálatas, Coríntios, Filipenses). Em Colossenses, o tratamento é amenizado e
menos argumentativo. O estilo possui uma qualidade litúrgica, como se
fosse um hino, e a carta toda mostra uma quantidade considerável de
material tradicional, isto é, ensinamentos cristãos que eram comuns na igreja
primitiva, usados por Paulo e outros escritores do NT.
A despeito das diferenças de
vocabulário e de estilo, entretanto, quase todos os eruditos concordam em que
esses fatores, por si mesmos, não podem decidir a questão da autoria. Alguns
acham que "as circunstâncias especiais do contexto e dos propósitos da
carta" explicam tais diferenças; outros afirmam que por causa da alta
porcentagem de material não-paulino na carta, a saber, material
tradicional, torna-se impossível fazer quaisquer comparações confiáveis com as
demais cartas de Paulo."
E. Lohse, que declara com firmeza
que Colossenses é uma carta deutero-paulina, reconhece que os estudos
sobre linguagem e estilo não podem resolver essa questão. Para ele, é o ensino
teológico que coloca Colossenses à parte de Paulo, e leva-nos à conclusão de
que essa carta é obra de uma escola paulina que usa as cartas de Paulo a fim de
dirigir um novo desafio à Igreja.
Em seu minucioso e útil trabalho
intitulado "A Carta aos Colossenses e a Teologia Paulina",Lohse examina
a Cristologia (o ensino sobre Cristo), a Eclesiologia (o
ensino sobre a Igreja), a Escatologia (o ensino sobre o fim dos tempos), e o Sacramentalismo (o
estudo sobre o batismo como sacramento) de Colossenses, e chega à conclusão de
que em todas essas áreas há diferenças substanciais em relação à teologia de
Paulo, conforme o ensino refletido em suas cartas genuínas. É verdade que a
situação histórica precisava de algumas formulações teológicas novas, mas as
diferenças são divergentes demais, segundo Lohse, para dar-se apoio à
autoria paulina.
Entretanto, nem todos os eruditos estão
convencidos de que a teologia de Colossenses não seja paulina. Alguns acreditam
que a ameaça dos falsos ensinos exigia que Paulo declarasse e aplicasse seu
evangelho de modos diferentes, mas negam que o apóstolo o houvesse mudado ou
apresentado uma contradição. G. Cannon acusa Lohse de negligenciar o interrelacionamento dessas
categorias, e deixar de enxergar o fato de que muitas das idéias que ele rotula
de deutero-paulinas podem ser encontradas nas principais cartas de
Paulo, e nas declarações teológicas do material tradicional usado em Colossenses.
Outro argumento a favor da autoria
paulina é a íntima conexão existente entre
Colossenses e Filemom. Visto que a
autoria paulina de Filemom raramente é questionada, segue-se que
Colossenses também veio da mão de Paulo. Ambas as epístolas contêm o nome de
Timóteo (Colossenses 1:1; Filemom 1), e incluem saudações das mesmas
pessoas (Colossenses 4:10-14; Filemom 23, 24). Além disso, Onésimo, assunto da
carta a Filemom, é mencionado como membro do grupo em Colossos (4:9).
Conquanto todas as evidências
contrárias precisem ser avaliadas cuidadosamente, parece razoável concluir com
G. Cannon "que o autor de Colossenses foi Paulo, o apóstolo, e que ele
escreveu às igrejas do vale do Lico a fim de adverti-las a respeito
de ensinos que advogavam costumes que os colocariam numa situação pré-cristã,
ensinos que contradiziam tudo que haviam recebido a respeito de Cristo, no
evangelho, e nas instruções batismais."
Origem
Se Colossenses não foi escrita por
Paulo, deve ter sido produto da escola paulina que provavelmente estava
relacionada com Éfeso. Contudo, se Paulo é seu autor, ela pertence então à
categoria das "cartas do cativeiro." Há três lugares de origem que
normalmente são propostos — Roma, Cesaréia e Éfeso.
Roma. O ponto de vista tradicional, retraçado a
partir do livro de Atos, é que Paulo escreveu as cartas do cativeiro enquanto
estava na prisão em Roma (At 28:16-31; veja-se também a obraEcclesiastical History de
Eusébio, 11.22.1, que identifica o lugar do encarceramento de Paulo em
Colossenses 4:10 como sendo Roma). A relativa liberdade que Paulo usufruía na
prisão, e o companheirismo de seus colaboradores, fazem de Roma um lugar
provável. É muito possível, também, que Onésimo, o escravo fugitivo, teria
procurado o anonimato de uma grande cidade como Roma.
Todavia, há alguns fatores que pesam
contra a aceitação demasiado rápida de Roma como a origem da carta aos
Colossenses. Por um lado, a distância entre Roma e Colossos é de cerca de mil e
novecentos quilômetros. Teria Onésimo tentado uma viagem tão longa, havendo tão
grande risco de ser apanhado? Por outro lado, de acordo com Filemom
22, Paulo esperava ser libertado logo, a fim de visitar Colossos. Seu pedido que
se lhe apronte um quarto deixa a impressão de que essa libertação está bem
próxima. R.P. Martin observa também que uma viagem de Roma na direção do leste,
para Colossos, representaria uma mudança na estratégia missionária de Paulo
que, segundo Romanos 15:28, significaria partir para o ocidente, para a
Espanha.
Cesaréia. Depois de Paulo ser preso em Jerusalém
(At 21:27ss.), ele passou dois anos na prisão de Cesaréia, antes de ser
levado a Roma (At 23:33-26:32). Bo Reicke, que é um dos principais
proponentes deste ponto de vista, argumenta que Cesaréia é o lugar mais
propício como origem dessa carta.
Há vários argumentos que apóiam esta
opinião. Primeiro, o número de amigos que acompanharam Paulo a Jerusalém, e que
estiveram com ele na prisão na Ásia (At 20:4; 24:23; cf. Cl 4:7-14 e Fm
23,24). Segundo, as atividades missionárias que Paulo planejava, ao escrever
Colossenses e Filemom, e a remessa dessas cartas para Colossos, por meio de Tíquico, fazem
sentido se o ponto de partida é Cesaréia. Terceiro Onésimo teria vindo a
Cesaréia porque tinha amigos dessa área, e teria voltado, depois, a Colossos
com Tíquico. Estas considerações, ao lado de outras, induziram Bo Reicke a
entender que "Filemom e Colossenses foram enviadas de Cesaréia a Colossos cerca
de 59 d.C."
Éfeso. Os argumentos segundo os quais houve um
encarceramento de Paulo em Éfeso, de onde o apóstolo teria escrito certas
cartas como a dirigida aos Colossenses, em grande parte são
argumentos derivados do silêncio. Atos não registra nenhuma prisão do
apóstolo em Éfeso. Tudo que se pode dizer é que as lutas que Paulo sofreu em Efeso (At 19:23-41)
podem ter-se refletido na correspondência dele com os Coríntios (1 Co 4:9-13; 2
Co 1:8-10; 4:4-12; 6:4,5; 11:23,25). A referência a uma luta contra
"bestas selvagens" em Efeso (1 Co 15:32) pode ser uma
expressão metafórica indicativa de confronto verbal com seus adversários, em
vez de luta de caráter físico com animais, como ocorria na arena dos
gladiadores. Para Bo Reicke, "trata-se de pura imaginação
falar-se de um cativeiro paulino em Éfeso."
A despeito de falta de evidências
diretas, um número surpreendente de eruditos apóia a tese do encarceramento efésio,
e uma origem efésia para Colossenses. A proximidade entre Éfeso e
Colossos, a forte probabilidade de os colaboradores de Paulo (mencionados na
carta aos Colossenses e em Filemom) estarem com o apóstolo em Éfeso,
mais a gravidade do tumulto ocasionado pela pregação de Paulo, são mencionados
como fatores merecedores de consideração. R.P. Martin examinou a maior parte
das teorias atuais e concluiu que a carta aos Colossenses "pertence àquele
período tumultuado da vida de Paulo, representado em Atos 19-20, quando seus
labores missionários foram interrompidos momentaneamente por um período de prisão,
como détenu [prisioneiro] perto de Éfeso."
Embora todas estas sugestões a respeito
da origem de Colossenses contenham pontos fortes e pontos fracos, não parece
haver nenhuma evidência decisiva que nos leve a abandonar a
opinião tradicional: Roma. O encarceramento em Éfeso é hipotético e inconclusivo;
tal fato, aliado à cristologiacósmica adiantada de Colossenses, fazem que
fique mais plausível que a carta tenha surgido num período posterior da vida de
Paulo (cerca de 60 d.C), e de um ambiente como o de Roma.
Bibliografia G. Patzia
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